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Ao longo dos últimos anos, tem sido frequente uma queixa dos candidatos em relação às provas discursivas tanto as sobre temas da atualidade, como a do TSE, realizada pela Consulplan, em 2012, quanto as de recorte mais técnico, como a do MPU, elaborada pelo CESPE, 2013. Os candidatos dizem que, mesmo dominando o tema e elaborando o que julgavam ser um bom plano de redação, ou tiraram notas bem abaixo da expectativa; ou foram eliminados do certame. Natural se perguntar, portanto, o que tem ocorrido: se as Bancas têm cometido equívocos na correção ou se os candidatos não têm conseguido captar adequadamente o desejo destas? Quando as provas discursivas foram introduzidas nos concursos públicos, era muito comum os candidatos encontrarem temas bastante abertos, que admitiam diversas abordagens, sem que uma fosse melhor ou pior que a outra. Em 2004, por exemplo, no concurso para o STJ, realizado pelo CESPE, a Banca apresentou um tema-pergunta: A REDUÇÃO DA IDADE PENAL É A SOLUÇÃO PARA DESVIOS DE CONDUTA DE ADOLESCENTES INFRATORES? Numa prova como essa, o candidato poderia se posicionar a favor ou contra a redução da idade penal e, desde que apresentasse um bom conjunto de argumentos, poderia obter boa nota seguindo por um ou por outro caminho. Naquele contexto, o importante era posicionar-se claramente na introdução com a apresentação de dois ou três argumentos por meio de conectivos lógicos. Em seguida, bastava retomar os argumentos da introdução em dois parágrafos de desenvolvimento, ampliando o quadro de análise, com novos conectivos. Por fim, o candidato precisava fazer uma conclusão reafirmando a tese, ou propondo uma solução para a questão apresentada ou, ainda, combinar essas duas estratégias. Havia, portanto, muito mais liberdade para a construção do texto. Ocorre que, se, por um lado, essa liberdade possibilitava uma variedade de recortes, por outro, ocasionava uma boa margem de subjetividade na correção, porque determinadas abordagens nem sempre eram bem recebidas pelas Bancas. Talvez, por isso, ao longo da última década, houve um nítido processo de mudança, que tornou os temas mais técnicos e específicos. Mesmo nos temas da atualidade, estabeleceram-se roteiros - implícitos ou explícitos - para a confecção dos textos. DISCURSIVAS: UMA DÉCADA DISCURSIVAS: UMA DÉCADA DE MUDANÇAS DE MUDANÇAS http://www.professordino.com.br/saiba-mais/dicas-interessant... 1 de 4

PROVAS DISCURSIVAS

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Ao longo dos últimos anos, tem sido frequenteuma queixa dos candidatos em relação às provasdiscursivas tanto as sobre temas da atualidade,como a do TSE, realizada pela Consulplan, em2012, quanto as de recorte mais técnico, como ado MPU, elaborada pelo CESPE, 2013.

Os candidatos dizem que, mesmo dominando otema e elaborando o que julgavam ser um bomplano de redação, ou tiraram notas bem abaixo

da expectativa; ou foram eliminados do certame. Natural se perguntar, portanto, o que tem ocorrido: se as Bancastêm cometido equívocos na correção ou se os candidatos não têm conseguido captar adequadamente odesejo destas?

Quando as provas discursivas foram introduzidas nos concursos públicos, era muito comum os candidatosencontrarem temas bastante abertos, que admitiam diversas abordagens, sem que uma fosse melhor ou pior que aoutra. Em 2004, por exemplo, no concurso para o STJ, realizado pelo CESPE, a Banca apresentou umtema-pergunta: A REDUÇÃO DA IDADE PENAL É A SOLUÇÃO PARA DESVIOS DE CONDUTA DEADOLESCENTES INFRATORES?

Numa prova como essa, o candidato poderia se posicionar a favor ou contra a redução da idade penal e, desde queapresentasse um bom conjunto de argumentos, poderia obter boa nota seguindo por um ou por outro caminho.Naquele contexto, o importante era posicionar-se claramente na introdução com a apresentação de dois ou trêsargumentos por meio de conectivos lógicos.

Em seguida, bastava retomar os argumentos da introdução em dois parágrafos de desenvolvimento, ampliando oquadro de análise, com novos conectivos. Por fim, o candidato precisava fazer uma conclusão reafirmando a tese,ou propondo uma solução para a questão apresentada ou, ainda, combinar essas duas estratégias. Havia, portanto,muito mais liberdade para a construção do texto.

Ocorre que, se, por um lado, essa liberdade possibilitava uma variedade de recortes, por outro, ocasionava umaboa margem de subjetividade na correção, porque determinadas abordagens nem sempre eram bem recebidaspelas Bancas. Talvez, por isso, ao longo da última década, houve um nítido processo de mudança, que tornou ostemas mais técnicos e específicos. Mesmo nos temas da atualidade, estabeleceram-se roteiros - implícitos ouexplícitos - para a confecção dos textos.

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Nesse novo contexto, as provas discursivas aproximaram-se muito de uma espécie de questionário, a serrespondido numa sequência lógica estabelecida pela Banca. Não é que os textos deixaram de ter introdução,desenvolvimento e conclusão, mas o candidato passou a encontrar uma pergunta a ser respondida em cada umdos momentos do texto. Restringiram-se, claramente, a liberdade e a criatividade nas provas sobre temas daatualidade, e passou-se a cobrar temas com roteiros bem específicos nos temas mais técnicos.

No concurso mais recente do MPU, Apoio Jurídico - Especialidade: Direito, a Banca apresentou três questões, asaber: 1) PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA COMPETÊNCIA DO MP PARA PROMOVER ATIVIDADESINVESTIGATIVAS; 2) POSICIONAMENTO DO STF ACERCA DA MATÉRIA; e 3)MODO DE APLICAÇÃO DADOUTRINA DOS PODERES IMPLÍCITOS PELO STF.

Ainda antes da divulgação dos resultados, uma aluna nos interpelou dizendo que havia errado a primeira questão,embora tivesse acertado as outras duas. Queria saber se ter errado a primeira a levaria necessariamente àreprovação. Ora, se prevalecesse a estrutura tradicional de introdução, desenvolvimento e conclusão, seria de seesperar que a candidata fosse reprovada, pois um texto com introdução errada colocaria em risco odesenvolvimento e a conclusão.

Todavia, como dissemos à candidata naquela oportunidade, a prova seria corrigida como um questionário e, se elativesse respondido as duas outras questões de forma adequada, não seria eliminada do certame.

Não deu outra: a planilha de correção apresentada pelo CESPE trouxe, respectivamente, a nota zero, para aprimeira questão que valia 8 pontos, e 11,25 para as outras duas, do total de 15. Em 40 pontos possíveis, acandidata obteve 24,5 no conteúdo, mas acabou caindo para 24,24, porque cometeu três de natureza gramatical.

Essa experiência é de fundamental importância para a preparação no caso das provas discursivas, porque, comotemos ensinado aos nossos alunos, hoje estas foram praticamente transformadas num velho e bom questionário.Portanto, os candidatos, precisam estar muito atentos às questões formuladas pelas Bancas e respondê-Ias deforma objetiva, partindo das palavras-chave da própria pergunta.

A tendência de aproximar as provas discursivas de um questionário também se revela em provas sobre temas daatualidade. O CESPE costuma apresentar os tópicos a serem tratados ou na forma de perguntas explícitas, ou naforma de itens que podem e devem ser transformados em questões.

Outras Bancas, como a Consulplan, por exemplo, às vezes, apresentam um comando em que há um roteiro, ouconjunto de questões, a ser seguido pelo candidato. No concurso do TSE, em 2012, a Banca demandou que oscandidatos discorressem sobre “A PARTICIPAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DO VOTO, INSTRUMENTO PRÁTICO DECIDADANIA, TENDO EM VISTA OS DIREITOS E OS DEVERES DO ELEITOR E DO ELEITO”.

Ora, fica bastante claro que havia diante do candidato um conjunto de perguntas que o obrigavam a seguir umroteiro de forma bastante rígida. Na introdução, o candidato precisava posicionar-se sobre a questão maior, ou seja,se o voto era, ou não, ou instrumento prático de cidadania. Precisava, também, sustentar esse posicionamento comdois ou três argumentos, de causa, efeito ou finalidade, por exemplo.

No desenvolvimento, o roteiro dos dois parágrafos estava bastante claro: no primeiro, era preciso falar dos direitos edeveres do eleitor, e, no segundo, dos direitos e deveres dos eleitos. O único momento de maior liberdade para ocandidato era a confecção da conclusão, que poderia ser feita por meio da retomada dos argumentos principais dotexto.

Sem dúvida, hoje as provas discursivas têm recorte bastante diferente quando comparado a certames de uma

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década atrás. Algumas Bancas ainda seguem o modelo tradicional de temas abertos, mas hoje há uma claratendência de se tratarem as provas discursivas como um questionário ou roteiro a ser seguido de forma rigorosapelo candidato, em temas tanto da atualidade quanto mais específicos.

Exemplo de redação com nota acima de 8/10, com retoquesRedação TSE 2012A participação dos cidadãos no processo eleitoral ocorre por meio do voto. Esse é o instrumento que legitima opovo como detentor do poder e não os agentes políticos que se elegeram graças a vitória nas eleições, segundo ostermos da Constituição Federal de 1988 – CF.

Para exercer a capacidade eleitoral ativa – o direito de votar – a pessoa deve cumprir os requisitos constitucionais,são eles: ser brasileiro nato ou naturalizado; ter mais que dezoito anos e menos de setenta e ser alfabetizado.Essas são as condições que dão à pessoa o direito e o dever de comparecer as urnas periodicamente.A Constituição legitima além do direito de se alistar e votar, o de ser parte nas propostas de Projeto de Lei deIniciativa Popular, que serão apresentadas pela Câmara dos Deputados ao Congresso Nacional, desde quepreencham os requisitos estabelecidos pela CF.No que se refere à capacidade eleitoral passiva – ser votado – o candidato ao cargo eletivo deve cumprir osrequisitos constitucionais para elegibilidade, entre eles: ser brasileiro nato ou naturalizado, ter a idade estabelecidapara o cargo que deseja pleitear e estar em dia com os direitos políticos.Deve ser, também, domiciliado há pelo menos um ano no domicílio eleitoral, além de estar filiado a um partidopolítico há um ano. Depois de eleito, o agente político deve respeitar a CF, o Regimento Interno da Casa, osprincípios que regem o exercício do mandato, para que honre com o cargo e observe a vontade do povo, verdadeirodetentor do poder.Diante dos direitos e deveres, cabe ao cidadão exercer seu papel de eleitor observando as propostas apresentadaspelos candidatos, assim como o histórico deste para que possa decidir pelo melhor, com base na soberanianacional.Aos candidatos eleitos cabe cumprir e fazer cumprir os termos da Constituição Federal, sem se esquecerem de queo povo os elegeu para serem representantes nas Casas Legislativas e trabalharem em favor de todos e não debenefícios próprios.

Exemplo de redação MPU com nota 39,8/40

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