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Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Residente: Fabricio T. Valente (R1)
Orientadora: Dra. Fernanda Ferreira
• V.L.B.S, feminino, 67 anos, natural do RJ, reside em Cabo Frio, do lar, espírita.
• QP: “ emagrecimento e dificuldade para comer”
• HDA: • Paciente relata início de disfagia de condução progressiva para
sólidos associada a perda ponderal (18kg) há 6 meses.
• Feito diagnóstico de acalasia em jan/2017, sendo submetida a DPC com melhora parcial dos sintomas.
• Seguiu acompanhamento pelo ambulatório do Esôfago, havendo nova piora dos sintomas a partir de maio/2017 associada a plenitude, fadiga, tonteira, hiporexia e perda de mais de 5Kg.
• V.L.B.S, feminino, 67 anos, natural do RJ, reside em Cabo Frio, do lar, espírita.
• QP: “ emagrecimento e dificuldade para comer”
• HDA: • Paciente relata início de disfagia de condução progressiva para
sólidos associada a perda ponderal (18kg) há 6 meses.
• Feito diagnóstico de acalasia em jan/2017, sendo submetida a DPC com melhora parcial dos sintomas.
• Seguiu acompanhamento pelo ambulatório do Esôfago, havendo nova piora dos sintomas a partir de maio/2017 associada a plenitude, fadiga, tonteira, hiporexia e perda de mais de 5Kg.
EMN pré-DPC: PEEI 34, relax. ausentes (100%),
aperistalse DPC: balões 30 e 35 mm
com lacerações leves EMN pós-DPC: PEEI 25,4,
relax. ausentes (84%)
• Solicitada EDA (17/05/17): esôfago com luz virtual a 40 cm dos lábios, corpo gástrico com pregas hipertrofiadas, enantema difuso com áreas de sufusões hemorrágicas – sugestivo de linite. Bx: gastrite crônica com MI incompleta e atrofia, Hp-.
• Nova EMN (05/2017): PEEI 29,8 mmHg com relax. ausentes (100%), aperistalse.
• TC de tórax (07/2017) – fora HU: estrias fibróticas nos lobos
superiores dos pulmões, discreto espessamento pleuroapical, discretas áreas de infiltrado em vidro fosco; imagens nodulares hipodensas de até 0,6 cm justapleural no LI pulmão direito; dilatação do esôfago proximal.
• Nova EDA (4/8/17): redução concêntrica da luz do esôfago no terço distal (35 cm dos lábios), não permitindo a passagem do aparelho, realizada dilatação com velas de Savary de 11 e 12,8 mm com lacerações moderadas; estômago com hipertrofia e espessamento do pregueado, pouca distensibilidade .
ESTENOSE DE ASPECTO SUBEPITELIAL NO ESÔFAGO DISTAL
NEOPLASIA GÁSTRICA ?
• Neste momento, internação hospitalar para melhor
esclarecimento diagnóstico.
• TC de tórax (08/08/17): Espessamento parietal circunferencial do esôfago difusamente, com redução da luz nos terços médio e distal, onde há maior espessamento parietal. Associa-se obliteração dos planos gordurosos periesofageanos habituais no terço médio por tecido com densidade de partes moles, nos níveis da carina e subcarinal, envolvendo a aorta descendente em cerca de 50% de sua circunferência.
• TC de abdome (08/08/17): estômago pouco distendido, notando-se espessamento parietal difuso, sobretudo na submucosa nas regiões do antro e piloro.
• ECOEDA (11/2017): espessamento discreto das camadas da parede do esôfago distal, porém sem perda ou fusão das estruturas. Parede gástrica com espessamento hipoecogênico e heterogêneo das camadas da mucosa e submucosa com fusão das mesmas e perda da estrutura da parede de todo o órgão. Ausência de linfonodomegalia.
– Linfoma? Linite? PAAF: inconclusiva.
• Nova EDA (12/2017) com realização de macrobiópsia:
• Bx: mucosa fúndica com edema e acúmulo focal de cel. epitelióides sem atipias nucleares grosseiras na submucosa.
• Imuno-histoquímica: Ck pool +/Ck7 +/Estrogênio + CARCINOMA METASTÁTICO COMPROMETENDO PAREDE GÁSTRICA – SÍTIO PRIMÁRIO MAMA – CARCINOMA LOBULAR INFILTRANTE
• ECOEDA (11/2017): espessamento discreto das camadas da parede do esôfago distal, porém sem perda ou fusão das estruturas. Parede gástrica com espessamento hipoecogênico e heterogêneo das camadas da mucosa e submucosa com fusão das mesmas e perda da estrutura da parede de todo o órgão. Ausência de linfonodomegalia.
– Linfoma? Linite? PAAF: inconclusiva.
• Nova EDA (12/2017) com realização de macrobiópsia:
• Bx: mucosa fúndica com edema e acúmulo focal de cel. epitelióides sem atipias nucleares grosseiras na submucosa.
• Imuno-histoquímica: Ck pool +/Ck7 +/Estrogênio + CARCINOMA METASTÁTICO COMPROMETENDO PAREDE GÁSTRICA – SÍTIO PRIMÁRIO MAMA – CARCINOMA LOBULAR INFILTRANTE
• HPP:
• Passado de CA mama lobular (dx: 2004), submetida a mastectomia a esquerda com QT e RT adjuvantes, seguida de HT por 5 anos;
• Histerectomia em 1995 (mioma).
• H. fisiológica: nada digno de nota.
• H. familiar: 2 filhos saudáveis, 2 irmãos saudáveis, pai falecido por complicações de DM2 aos 89 anos.
• H. social: ex-tabagista (10 maços-ano, parou há 2 anos).
Introdução
• Pseudoacalasia: obstrução mecânica rara do esôfago que se assemelha a acalasia primária nos achados manométricos, radiográficos e endoscópicos.
• Foi reconhecida pela primeira vez por Ogilvie em 1947 como uma forma de acalasia devido ao envolvimento da região da cárdia por adenocarcinoma gástrico.
• É uma entidade rara: 2,4–4,0% dos pacientes com achados sugestivos de acalasia.
• Geralmente mimetiza a acalasia idiopática imperfeitamente por relaxamento parcial e/ou peristaltismo em algumas deglutições.
Campo SMA et al. Pseudoachalasia: a peculiar case report and review of the literature. World J Gastrointest Endosc., 2013; 5(9): 450-4
Portale G et al. Pseudoachalasia: not only esophago-gastric cancer. Dis Esophagus., 2007; 20(2): 168-72
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Etiologia
• O adenoCA da junção esofagogástrica é a causa maligna mais comum.
• Apenas 6% são secundários a doença metastática.
• Outras causas não neoplásicas: • Pseudocisto pancreático; • Amiloidose; • Sarcoidose; • Neurofibromatose; • Histiocitose das células de Langerhans; • Aneurisma aórtico; • Pseudo-obstrução intestinal idiopática crônica; • Cirurgias (vagotomia, bariátrica, fundoplicatura de Nissen).
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Campo SMA et al. Pseudoachalasia: a peculiar case report and review of the literature. World J Gastrointest Endosc., 2013; 5(9): 450-4
Portale G et al. Pseudoachalasia: not only esophago-gastric cancer. Dis Esophagus., 2007; 20(2): 168-72
Etiologia
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Portale G et al. Pseudoachalasia: not only esophago-gastric cancer. Dis Esophagus., 2007; 20(2): 168-72
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
• Uma pesquisa usando o PubMed - de junho de 1968 a junho de 2012 - o assunto “pseudoacalasia”.
• Identificadas 155 publicações relatando dados de 302 pacientes diagnosticados com pseudoacalasia.
• As malignidades se originaram principalmente do pulmão e mama.
• Causas benignas incluiam tumores mesenquimais, amiloidose secundária e neuropatia periférica.
Patogênese
• Padrões de envolvimento tumoral descritos:
• Estenose maligna da cardia que atua como uma barreira física à
passagem do alimento (mais comum).
• Infiltração submucosa por células tumorais com
comprometimento secundário de neurônios inibitórios do plexo
mioentérico esofágico.
• Fatores tumorais, anticorpo nuclear antineuronal interação
com plexo mioentérico, degeneração do nervo vago (síndrome
paraneoplásica).
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Campo SMA et al. Pseudoachalasia: a peculiar case report and review of the literature. World J Gastrointest Endosc., 2013; 5(9): 450-4
Diagnóstico
• Raridade da doença + dificuldade de diagnóstico atraso no
diagnóstico definitivo de pseudoacalasia.
• Combinação de idade avançada (>50 anos), duração mais
curta dos sintomas (<1 ano) e perda de peso significativa (>6,8
Kg) alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico.
• No entanto, raridade do doença gera um baixo valor preditivo
positivo de 18% utilizando estas três características clínicas.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Paulsen JM et al. Pseudoachalasia secondary to metastatic breast carcinoma. Dig Dis Sci., 2010; 55(4): 1179-81
Diagnóstico
• EDA é a primeira modalidade diagnóstica.
• Na síndrome semelhante à acalasia pode mostrar massa, nodularidade, mucosa irregular, úlcera ou apenas maior resistência na JEG.
• No caso de esôfago de aparência normal à EDA em paciente idoso e perda de peso significativa considerar TC e USE.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Roushan N et al. Pseudoachalasia: a diagnostic challenge. Med J Islam Repub Iran., 2014 ;28:54
Diagnóstico
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Paulsen JM et al. Pseudoachalasia secondary to metastatic breast carcinoma. Dig Dis Sci., 2010; 55(4): 1179-81
Diagnóstico
• TC: pode mostrar espessamento de parede assimétrico do
esôfago distal e até uma massa bem definida.
• USE: define com precisão as camadas da parede esofágica e
qualquer tecido anormal; tamém é usada para aquisição de
tecido por PAAF, quando as biópsias endoscópicas são
inconclusivas.
• Exploração cirúrgica (laparoscopia ou laparotomia) é
obrigatória se o diagnóstico ainda é incerto.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Roushan N et al. Pseudoachalasia: a diagnostic challenge. Med J Islam Repub Iran., 2014 ;28:54 Portale G et al. Pseudoachalasia: not only esophago-gastric cancer. Dis Esophagus., 2007; 20(2): 168-72
• Estudo retrospectivo: 333 pacientes com acalasia idiopática – 18 foram diagnosticados com pseudoacalasia.
• Objetivo: identificar os fatores de risco que sugerem a presença de pseudoacalasia associada à malignidade.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Ponds FA et al. Diagnostic features of malignancy-associated pseudoachalasia. Aliment Pharmacol Ther., 2017; 45(11): 1449-1458
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Ponds FA et al. Diagnostic features of malignancy-associated pseudoachalasia. Aliment Pharmacol Ther., 2017; 45(11): 1449-1458
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Ponds FA et al. Diagnostic features of malignancy-associated pseudoachalasia. Aliment Pharmacol Ther., 2017; 45(11): 1449-1458
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
• Conclusão:
• Os resultados sugerem que, para excluir pseudoacalasia, investigações adicionais são necessárias quando os pacientes com acalasia têm dois ou mais fatores de risco.
• Os métodos diagnósticos convencionais para acalasia não são úteis para diferenciação.
Ponds FA et al. Diagnostic features of malignancy-associated pseudoachalasia. Aliment Pharmacol Ther., 2017; 45(11): 1449-1458
Tratamento
• Depende da causa base.
• Tratamento da neoplasia (cirurgia/QT/RxT) Remoção da obstrução (objetivo do tratamento em alguns casos) Muitas vezes permite o retorno do peristaltismo normal ao esôfago.
• As anormalidades motoras do esôfago podem permanecer, mesmo depois de um tratamento radical da neoplasia.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Campo SMA et al. Pseudoachalasia: a peculiar case report and review of the literature. World J Gastrointest Endosc., 2013; 5(9): 450-4
Tratamento
• Em casos de alterações fibróticas no esôfago distal por neoplasia, a miotomia cirúrgica pode ser uma opção para paliação da disfagia.
• Stents metálicos expansíveis: terapia paliativa em pacientes não adequados a cirurgia.
• O prognóstico está relacionado com a doença de base.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Campo SMA et al. Pseudoachalasia: a peculiar case report and review of the literature. World J Gastrointest Endosc., 2013; 5(9): 450-4
Portale G et al. Pseudoachalasia: not only esophago-gastric cancer. Dis Esophagus., 2007; 20(2): 168-72
Câncer de mama
• O câncer de mama é o tumor mais comum entre as mulheres.
• No Brasil chega a 28,1% e responsável por 19% das mortes por câncer.
• O tipo lobular é menos frequente, porém é o que mais leva metástases
para TGI.
• As manifestações GI surgem após uma média de 9 e até 20 anos do
diagnóstico inicial.
• Qualquer região do TGI pode estar envolvida, porém a orofaringe e
esôfago com queixa de disfagia é incomum.
• O estômago é o local mais comum de envolvimento gastrointestinal por
câncer de mama metastático, com uma incidência de até 15%.
• A apresentação habitual mimetiza a linite plástica e é tipicamente
devida ao carcinoma lobular.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Portale G et al. Pseudoachalasia: not only esophago-gastric cancer. Dis Esophagus., 2007; 20(2): 168-72
Conclusão
• Pseudoacalasia é uma condição rara e de diagnóstico difícil.
• Causas malignas são as mais comuns.
• Deve ser suspeitada em todos os pacientes com acalasia e
“sinais de alarme”.
• O tratamento depende da causa base.
Pseudoacalasia: desafio diagnóstico
Voltando ao caso...
• Foi encaminhada ao INCA, sendo feito diagnóstico de recidiva tumoral na mama esquerda com metástase gástrica.
• Está em QT.
• Mantém peso, consegue se alimentar.