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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU” DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE PORTADORES DE RETARDO MENTAL Autor: ADRIANA GALHARDO DE CASTRO Orientador: Mary Sue Pereira Rio de Janeiro, julho de 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO VEZ DO MESTRE

PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE

PORTADORES DE RETARDO MENTAL

Autor: ADRIANA GALHARDO DE CASTRO

Orientador: Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro, julho de 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO VEZ DO MESTRE

PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE

PORTADORES DE RETARDO MENTAL

Monografia apresentada à

Universidade Cândido Mendes,

como exigência parcial para

obtenção do título de pós –

graduação em Psicomotricidade.

Rio de Janeiro, julho de 2004

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AGRADECIMENTO

Agradeço à minha família, principalmente

ao meu namorado, Alfredo, que

colaborou para que atingisse meu

objetivo.

Aos meus amigos de turma, em especial:

Shirlei, Daniele e Elaine pela colaboração

e amizade nos momentos de

dificuldade.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus e a meus

familiares e amigos.

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RESUMO

CASTRO, Adriana Galhardo de

Psicomotricidade no Desenvolvimento de Portadores de Deficiência Mental

Este trabalho tem como objetivo marcar a abordagem da

Psicomotricidade com a clientela de indivíduos portadores de retardo mental,

analisando a interferência ocorrida quando aplicamos os conhecimentos da

Psicomotricidade no desenvolvimento de indivíduos com retardo mental.

A psicomotricidade vai estar atuando no tratamento mais especializado,

promovendo o bem estar, a saúde, prevenindo doenças e incapacidades para

assim, conseqüentemente, melhorar a qualidade de vida.

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6METODOLOGIA

Este trabalho foi feito tendo-se como recurso referências bibliográficas,

resgatando e comparando alguns conceitos básicos e teóricos importantes,

tendo como objetivo demarcar a importância da Psicomotricidade na clientela

do portador de retardo mental, com a finalidade de aproveitar ao máximo o

potencial do indivíduo, fazendo com que o mesmo tenha uma vida

independente e saudável, junto à sociedade.

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SUMÁRIO

Introdução .....................................................................................................8

Capítulo I

Conceitos.......................................................................................................9

Capítulo II

Características..............................................................................................16

Capítulo III

Prevenção.....................................................................................................21

Capítulo IV

A Psicomotricidade e o Portador de Deficiência Mental.........................22

Conclusão ...................................................................................................29

Bibliografia ..................................................................................................30

Atividades Culturais ...................................................................................32

Índice ...........................................................................................................33

Folha de avaliação ......................................................................................55

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INTRODUÇÃO

Ao observar e lidar com indivíduos portadores de Retardo Mental,

percebo o quão diferente se dá seu desenvolvimento, quando comparado aos

primeiros anos de vida de uma criança “normal”, onde o desenvolvimento da

inteligência, da afetividade, das relações sociais é rápido e sua realização

poderá determinar, em grande parte, suas capacidades futuras.

Com esses dados em mente, me questiono se a Psicomotricidade (neste

caso em que estamos estudando, a Educação e / ou Terapia Psicomotora)

poderia influenciar positivamente, e de que maneira, no desenvolvimento de

indivíduos portadores de Retardo mental.

Daí é que surgem as pesquisas, tendo-se como auxílio, recursos

Bibliográficos a fim de que consiga chegar a uma resposta aos meus

questionamentos, como veremos ao longo deste trabalho.

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CAPÍTULO I

1 – CONCEITOS

Definição

Retardo Mental é caracterizado por um funcionamento intelectual

significativamente inferior à média (Critério A ), acompanhado de limitações

significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes

áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades

sociais / interpessoais, uso de recursos comunitários, auto-suficiência,

habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança ( Critério B ). O

início deve ocorrer antes dos 18 anos ( Critério C ). O Retardo Mental possui

muitas etiologias diferentes e pode ser visto como uma via final comum de

vários processos patológicos que afetam o funcionamento do sistema nervoso

central.

O funcionamento intelectual geral é definido pelo quociente de

inteligência ( QI ou equivalente ) obtido mediante avaliação com um ou mais

testes de inteligência padronizados de administração individual ( por ex.,

Escalas Weschler de Inteligência para Crianças – Revisada, Stanford-Binet,

Bateria Kaufman de Avaliação para Crianças ). Um funcionamento intelectual

significativamente abaixo da média é definido com um QI de cerca de 70 ou

menos. Cabe notar que embora possa variar de instrumento para instrumento (

por ex., um QI de 70 na escala Wechsler é considerado como representando

uma faixa de 65-75 ). Portanto, é possível diagnosticar o Retardo Mental em

indivíduos com QI entre 70 e 75, que exibem déficits significativos no

comportamento adaptativo. Inversamente, o Retardo Mental não deve ser

diagnosticado em um indivíduo com QI inferior a 70, se não existirem déficits

ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo. A escolha dos

instrumentos de testagem e a interpretação dos resultados devem levar em

conta fatores capazes de limitar o desempenho no teste ( por ex., a bagagem

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10sócio-cultural do indivíduo, língua materna e deficiências comunicativas,

motoras e sensoriais associadas ). Caso haja uma dispersão significativa nos

escores dos subtestes, o perfil de capacidades e deficiências, ao invés dos

resultados matemáticos do QI de escala plena, reflitirá com maior acuidade as

capacidades de aprendizagem do indivíduo. Quando existe uma discrepância

acentuada entre os escores verbal e de desempenho, fazer a média para

extrair um escore de QI de escala plena pode levar a incorreções.

Prejuízos no funcionamento adaptativo, em vez de um baixo QI,

geralmente são os sintomas visíveis no indivíduo com Retardo Mental. O

funcionamento adaptativo refere-se ao modo como os indivíduos enfrentam

efetivamente as exigências comuns da vida e o grau em que satisfazem os

critérios de independência pessoal esperados de alguém de seu grupo etário,

bagagem sócio-cultural e contexto comunitário específicos. O funcionamento

adaptativo pode ser influenciado por vários fatores, incluindo educação,

motivação, características de personalidade, oportunidades sociais e

vocacionais e transtornos mentais e condições médicas gerais que podem

coexistir com o Retardo Mental. Os problemas na adaptação habitualmente

estão mais propensos a apresentar melhora com esforços terapêuticos do que

o QI cognitivo, que tende a permanecer como um atributo mais estável.

Em geral é útil obter evidências dos déficits no funcionamento adaptativo

a partir de uma ou mais fontes independentes confiáveis ( por ex., avaliação do

professor e história médica, educacional e evolutiva ). Diversas escalas foram

criadas para medir o funcionamento ou comportamento adaptativo ( por ex.,

Escalas de Comportamento Adaptativo de Vineland e Escala de

Comportamento Adaptativo para o Retardo Mental da Associação Psiquiátrica

Americana ). Essas escalas em geral oferecem um escore clínico abreviado,

que é um composto do desempenho em diversos domínios de habilidades

adaptativas. Cabe notar que os escores para certos domínios específicos

podem variar consideravelmente, em termos de confiabilidade. Na avaliação do

funcionamento intelectual, deve-se considerar a adequação do instrumento à

bagagem sócio-cultural, educação, deficiências associadas, motivação e

cooperação do indivíduo. Por exemplo, a presença de deficiências significativas

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11invalida muitas normas da escala adaptativa. Além disso, comportamentos que

normalmente seriam considerados mal-adaptativos ( por ex., dependência,

passividade ) podem evidenciar boa adaptação no contexto vital de

determinado indivíduo ( por ex., em alguns contextos institucionais ).

1.1 Níveis de Gravidade do Retardo Mental

O Retardo Mental é classificado em quatro níveis de gravidade,

conforme o atual nível de prejuízo intelectual. São eles: Retardo Mental Leve (

nível de QI 50-55 a 70 aproximadamente ); Retardo Mental Moderado ( nível

de QI 35-40 a 50-55 aproximadamente ); Retardo Mental Severo ( nível de QI

20-25 a 35-40 aproximadamente); Retardo Mental Profundo ( nível de QI

abaixo de 20-25 ); e Retardo Mental – Gravidade Inespecificada ( pode ser

usado quando existe uma forte suposição de Retardo Mental, mas a

inteligência da pessoa não pode ser testada por métodos convencionais – por

ex., em indivíduos com demasiado prejuízo ou não-cooperativos, ou em

bebês).

O Retardo Mental Leve equivale, basicamente, ao que costumava ser

chamado de categoria pedagógica dos “educáveis”. Este grupo constitui o

maior segmento ( cerca de 85% ) dos indivíduos com transtorno. Em seu

conjunto os indivíduos com este nível de Retardo Mental tipicamente

desenvolvem habilidades sociais e de comunicação durante os anos pré-

escolares ( dos 0 aos 5 anos ), têm mínimo prejuízo nas áreas sensório-

motoras e com freqüência não são facilmente diferenciados de crianças sem

Retardo Mental até uma idade mais tardia. Ao final da adolescência, podem

atingir habilidades acadêmicas equivalentes aproximadamente à sexta série

escolar. Durante toda a vida adulta, geralmente adquirem habilidades sociais e

profissionais adequadas para um custeio mínimo das próprias despesas, mas

podem precisar de supervisão, orientação e assistência, especialmente quando

sob estresse social ou econômico incomum. Com apoios apropriados, os

indivíduos com Retardo Mental Leve habitualmente podem viver sem

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12problemas na comunidade, de modo independente ou em contextos

supervisionados.

O Retardo Mental Moderado equivale ao que costumava ser chamado

de categoria dos “treináveis”, em termos pedagógicos. Este termo ultrapassado

não mais deve ser usado, pois implica, erroneamente, que as pessoas com

Retardo Mental Moderado não podem beneficiar-se de programas

educacionais. Este grupo constitui cerca de 10 % de toda a população de

indivíduos com Retardo Mental. A maioria dos indivíduos com este nível de

Retardo Mental adquire habilidades de comunicação durante os primeiros anos

da infância. Eles beneficiam-se de treinamento profissional e, com moderada

supervisão, podem cuidar de si mesmos. Eles também podem beneficiar-se do

treinamento em habilidades sociais e ocupacionais, mas provavelmente não

progredirão além do nível de segunda série em temas acadêmicos. Estas

pessoas podem aprender a viajar independentemente, em locais que lhe sejam

familiares. Durante a adolescência, suas dificuldades no reconhecimento de

convenções sociais podem interferir no relacionamento com seus pares. Na

idade adulta, a maioria é capaz de executar trabalhos não qualificados ou

semiqualificados sob supervisão, em oficinas protegidas ou no mercado de

trabalho gera, e adaptam-se bem à vida na comunidade, geralmente em

contextos supervisionados.

O grupo com Retardo Mental Severo constitui 3-4 % dos indivíduos com

Retardo Mental. Durante os primeiros anos da infância, estes indivíduos

adquirem pouca ou nenhuma fala comunicativa. Durante o período da idade

escolar, podem aprender a falar e ser treinados em habilidades elementares de

higiene, mas se beneficiam apenas em um grau limitado da instrução em

matérias pré-escolares, tais como familiaridade com o alfabeto e contagem

simples, embora possam dominar habilidades tais como reconhecimento visual

de algumas palavras fundamentais à “sobrevivência”. Na idade adulta, podem

ser capazes de executar tarefas simples sob estreita supervisão. A maioria

adapta-se bem à vida em comunidade, a menos que tenham uma deficiência

associada que exija cuidados especializados de enfermagem ou outra espécie

de atenção.

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13 O grupo com Retardo Mental Profundo constitui aproximadamente 1-2

% dos indivíduos com Retardo Mental. A maioria dos indivíduos com este

diagnóstico tem uma condição neurológica identificada como responsável por

seu Retardo Mental. Durante os primeiros anos da infância, apresentam

prejuízos consideráveis no funcionamento sensório-motor. Um

desenvolvimento mais favorável pode ocorrer em um ambiente altamente

estruturado, com constante auxílio e supervisão e no relacionamento

individualizado com alguém responsável por seus cuidados. O

desenvolvimento motor e as habilidades de higiene e comunicação podem

melhorar com treinamento apropriado. Alguns desses indivíduos conseguem

executar tarefas simples, em contextos abrigados e estritamente

supervisionados.

O diagnóstico de Retardo Mental, Gravidade Inespecificada, aplica-se

quando existe uma forte suposição de Retardo Mental, mas o indivíduo não

pode ser adequadamente testado pelos instrumentos habituais de medição da

inteligência. Isto pode ocorrer no caso de crianças, adolescentes ou adultos

que apresentam demasiado prejuízo ou falta de cooperação para serem

testados, ou com bebês, quando existe um julgamento clínico de

funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, mas os testes

disponíveis não fornecem valores de QI. Em geral quanto menor a idade, mais

difícil é a avaliação da presença de Retardo Mental, exceto nos casos com

prejuízo profundo.

1.2 Características e Transtornos Associados

Não existem aspectos específicos de personalidade e de

comportamento associados unicamente com o Retardo Mental. Alguns

indivíduos com Retardo Mental são passivos, plácidos e dependentes,

enquanto outros podem ser agressivos e impulsivos. A falta de habilidades de

comunicação pode predispor a comportamentos diruptivos e agressivos, que

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14substituem a linguagem comunicativa. Algumas condições médicas gerais

associadas com Retardo Mental se caracterizam por certos sintomas

comportamentais ( por ex., o comportamento auto-agressivo intratável

associado com síndrome de Lesch-Nyhan). Os indivíduos com Retardo Mental

podem mostrar-se vulneráveis à exploração por outros ( por ex., sendo física e

sexualmente abusados ) ou ter negados seus direitos e oportunidades. Os

indivíduos com Retardo Mental têm uma prevalência de transtornos mentais

comórbidos estimada em três a quatro vezes aquela da população geral. Em

alguns casos, este pode ser o resultado de uma etiologia compartilhada,

comum ao Retardo Mental e ao transtorno mental associado ( por ex.,

traumatismo craniano pode resultar em Retardo Mental e em Alteração da

Personalidade Devido a Traumatismo Craniano ). Todos os tipos de transtornos

mentais podem ser vistos, e não existem evidências de que a natureza de

determinado transtorno mental seja diferente em indivíduos com a condição. O

diagnóstico de transtornos mentais comórbidos, entretanto, é complicado pela

possibilidade de a apresentação clínica ser modificada pela gravidade do

Retardo Mental e por deficiências associadas. Os déficits nas habilidades de

comunicação podem resultar em incapacidades de oferecer uma história

adequada ( por ex., o diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior em um

adulto não-verbal com Retardo Mental em geral baseia-se primeiramente em

manifestações como humor depressivo, irritabilidade, anorexia ou insônia,

observados por outros ). Com maior freqüência do que ocorre com indivíduos

sem Retardo Mental, pode ser difícil optar por um diagnóstico específico e,

nesses casos, pode-se usar a categoria apropriada de Sem Outra

Especificação ( por ex., Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação ). Os

transtornos mentais associados mais comuns são Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade, Transtornos do Humor, Transtornos Invasivos do

Desenvolvimento, Transtorno de Movimento Estereotipado e Transtornos

Mentais Devido a uma Condição Médica Geral ( por ex., Demência Devido a

Traumatismo Craniano ). Os indivíduos com Retardo Mental Devido à

síndrome de Down podem estar em maior risco para o desenvolvimento de

Demência do Tipo Alzheimer. As alterações patológicas do cérebro associadas

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15com este transtorno geralmente desenvolvem-se à época em que esses

indivíduos estão na casa dos 40 anos, embora os sintomas clínicos de

demência sejam evidentes apenas mais tarde.

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CAPÍTULO II

2 – Fatores Predisponentes do Retardo Mental

Os fatores etiológicos podem ser primariamente biológicos ou

primariamente psicossociais, ou alguma combinação de ambos. Em

aproximadamente 30-40 % dos indivíduos vistos em contextos clínicos, não é

possível determinar qualquer etiologia para o Retardo Mental, apesar de

extensos esforços de avaliação. Os principais fatores predisponentes incluem:

Hereditariedade ( aproximadamente 5% ). Este fator inclui erros inatos do

metabolismo, herdados, em sua maior parte, através de mecanismos

autossômicos recessivos ( por ex., doença de Tay-Sachs), outras

anormalidades em gene único com herança mendeliana e expressão variável (

por ex., esclerose tuberosa) e aberrações cromossômicas ( por ex., síndrome

de Down por translocação, síndrome do X frágil ).

Alterações precoces do desenvolvimento embrionário

(aproximadamente 30 % ). Esses fatores incluem alterações cromossômicas (

por ex., síndrome de Down devido à trissomia 21 ) ou dano pré-natal causado

por toxinas ( por ex., consumo materno de álcool, infecções ).

Problema da gravidez ou perinatais ( aproximadamente 10%). Esses

fatores incluem desnutrição fetal, prematuridade, hipóxia, infecções virais e

outras e trauma.

Condições médicas gerais adquiridas no início da infância

(aproximadamente 5 %). Estes fatores incluem infecções, traumas e

envenenamento ( por ex., devido ao chumbo ).

Influências ambientais e outros transtornos mentais

(aproximadamente 15-20 %). Estes fatores incluem privação de afeto e

cuidados, bem como de estimulação social, lingüística e outras, e transtornos

mentais severos ( por ex., Transtorno Autista ).

Achados laboratoriais associados. À exceção dos resultados dos

testes psicológicos e do comportamento adaptativo, necessários para o

diagnóstico de Retardo Mental, não existem achados laboratoriais associados

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17unicamente a ele. Os achados laboratoriais diagnósticos podem estar

associados com uma condição médica geral específica concomitante ( por ex.,

achados cromossômicos em várias condições genéticas, fanilalanina

sangüínea elevada na fenilcetonúria ou anomalias no sistema nervoso central ).

Achados ao exame físico e condições médicas gerais associadas. Não existem

aspectos físicos específicos associados com o Retardo Mental. Quando ele faz

parte de uma síndrome específica, os aspectos clínicos desta estarão

presentes ( por ex., as características físicas da síndrome de Down ). Quanto

mais grave o Retardo Mental (especialmente quando severo ou profundo ),

maior a probabilidade de condições neurológicas ( por ex., convulsões ),

neuromusculares, visuais, auditivas, cardiovasculares e outras.

Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero. O

profissional deve ter o cuidado de assegurar-se de que os procedimentos de

testagem intelectual refletem uma atenção adequada à bagagem étnica ou

cultural do indivíduo. Isto geralmente é conseguido mediante o uso de testes

nos quais as características relevantes do indivíduo são representadas na

amostra de estandardização do teste, ou pelo emprego de um examinador

familiarizado com aspectos da bagagem étnica ou cultural do indivíduo. A

testagem individualizada é sempre necessária para o diagnóstico de Retardo

Mental. A prevalência de Retardo Mental devido a fatores biológicos

conhecidos á similar entre crianças de classes sócio-econômicas superiores e

inferiores, exceto pelo fato de certos fatores etiológicos estarem ligados à

situação sócio-econômica mais baixa ( por ex., envenenamento por chumbo e

partos prematuros). Em casos nos quais não é possível identificar qualquer

causa biológica específica, as classes sócio-econômicas inferiores são super

representadas, e o Retardo Mental geralmente é mais leve, embora todos os

níveis de gravidade estejam representados. Considerações evolutivas devem

ser pesadas na avaliação do prejuízo nas habilidades adaptativas, uma vez

que certas áreas de habilidades são menos relevantes em diferentes idades (

por ex., uso de recursos comunitários ou emprego, em crianças em idade

escolar ). O Retardo Mental é mais comum no sexo masculino, com uma razão

de aproximadamente 1, 5:1.

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2.1 - Prevalência

A taxa de prevalência do Retardo Mental é de aproximadamente 1 %,

conforme estimativas. Entretanto, diferentes estudos relatam diferentes taxas,

dependendo das definições usadas, dos métodos de determinação da

população estudada.

2.2 - Curso

O diagnóstico de Retardo Mental exige que o início do transtorno ocorra

antes dos 18 anos. A idade e o modo de início dependem da etiologia e

gravidade do Retardo Mental. O retardo mais severo, especialmente quando

associado a uma síndrome com fenótipo característico, tende a ser

precocemente identificado (por ex., a síndrome de Down geralmente é

diagnosticada ao nascer). Em comparação, o Retardo Mental Leve de origem

desconhecida em geral é percebido mais tarde. No Retardo Mental mais severo

resultante de uma causa adquirida, o prejuízo intelectual desenvolve-se mais

abruptamente ( por ex., retardo após encefalite ). O curso do Retardo Mental é

influenciado pelo curso das condições médicas gerais subjacentes e por fatores

ambientais ( por ex., oportunidades educacionais e outras, estimulação

ambiental e adequação do manejo ). Se uma condição médica geral subjacente

é estática, o curso tende a ser mais variável e dependente dos fatores

ambientais. O Retardo Mental não é necessariamente um transtorno vitalício.

Indivíduos que tiveram Retardo Mental Leve em um momento anterior de suas

vidas, manifestado por fracasso em tarefas de aprendizagem escolar,

desenvolvem, com treinamento e oportunidades apropriadas, boas habilidades

adaptativas em outros domínios, podendo não apresentar o nível de prejuízo

necessário para um diagnóstico de Retardo Mental.

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2.3 Diagnóstico Diferencial

Os critérios diagnósticos para o Retardo Mental não incluem um critério

de exclusão; portanto, o diagnóstico deve ser feito sempre que são satisfeitos

os critérios diagnósticos, independentemente da presença de um outro

transtorno. Nos Transtornos da Aprendizagem ou Transtornos da Comunicação

( não associados com Retardo Mental ), o desenvolvimento em uma área

específica ( por ex., leitura, linguagem expressiva ) está prejudicado, mas não

existe um prejuízo generalizado no desenvolvimento intelectual e

funcionamento adaptativo. Um Transtorno de Aprendizagem ou um Transtorno

da Comunicação pode ser diagnosticado em um indivíduo com Retardo Mental

se o déficit específico for desproporcional à gravidade do Retardo Mental. Nos

Transtornos Invasivos do Desenvolvimento existe um prejuízo qualitativo no

desenvolvimento da interação social recíproca e no desenvolvimento da

interação social recíproca e no desenvolvimento de habilidades de

comunicação social verbal e não-verbal. O Retardo Mental, freqüentemente

acompanha os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento ( 75-80% dos

indivíduos com um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento também têm

Retardo Mental ). Alguns casos de Retardo Mental iniciam após um período de

funcionamento normal, podendo qualificar-se para o diagnóstico adicional de

demência. Um diagnóstico de demência exige que o prejuízo de memória e

outros déficits cognitivos representem um declínio significativo a partir de um

nível anteriormente superior de funcionamento. Uma vez que pode ser difícil

determinar o nível anterior de funcionamento em crianças muito pequenas, o

diagnóstico de demência pode não ser apropriado até que a criança esteja com

4 a 6 anos de idade. Em indivíduos com menos de 18 anos, o diagnóstico de

demência em geral é feito apenas quando a condição não é caracterizada

satisfatoriamente apenas pelo diagnóstico de Retardo Mental. A expressão

Funcionamento Borderline descreve uma faixa de QI superior à do Retardo

Mental ( geralmente 71-84 ). Como discutido anteriormente, um escore de QI

pode envolver um erro de medição de aproximadamente 5 pontos, dependendo

do instrumento de testagem. Portanto, é possível diagnosticar Retardo Mental

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20em indivíduos com escores de QI entre 71 e 75, desde que eles apresentem

déficits significativos no comportamento adaptativo que satisfaçam os critérios

para Retardo Mental. A diferenciação entre Retardo Mental Leve e

Funcionamento Intelectual Borderline exige criteriosa consideração de todas as

informações disponíveis.

2.4 – Critérios Diagnósticos para Retardo Mental

• Funcionamento intelectual significativamente inferior à média: um QI de

aproximadamente 70 ou abaixo, em um teste de QI individualmente

administrado ( para bebês, um julgamento clínico de funcionamento

intelectual significativamente inferior à média ).

• Déficits ou prejuízos concomitantes no funcionamento adaptativo atual (

isto é, a efetividade da pessoa em atender aos padrões esperados para

sua idade por seu grupo cultural ) em pelo menos duas das seguintes

áreas: comunicação, cuidados pessoais, vida doméstica, habilidades

sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, independência,

habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança.

• Início anterior aos 18 anos.

• Codificar com base no nível de gravidade refletindo nível de prejuízo

intelectual:

F 70.9 – 317 Retardo Mental Leve Nível de QI de 50-55 a

aproximadamente 70.

F 71.9 – 318.0 Retardo Mental Moderado Nível de QI de 35-40 a 50-55.

F 72.9 – 318.1 Retardo Mental Severo Nível de QI de 20-25 a 35-40.

F 73.9 – 318.2 Retardo Mental Profundo Nível de QI abaixo de 20 ou 25.

F 79.9 – 319 Retardo Mental, Gravidade Inespecificada: quando existe

forte suposição de Retardo Mental, mas a inteligência da pessoa não

pode ser testada por instrumentos padronizados.

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CAPÍTULO III

3 – Prevenção

Nos últimos 30 anos, vários avanços científicos têm ajudado a prevenir

muitos casos de retardo mental. Estima-se que nos Estados Unidos são

prevenidos a cada ano:

250 casos de retardo mental por fenilcetonúria, graças ao teste do

pezinho e ao conseqüente tratamento dietético adequado.

1000 casos de retardo mental por hipotireoidismo, graças ao teste do

pezinho e ao conseqüente tratamento hormonal adequado.

1000 casos de retardo mental pelo uso de imunoglobulina anti-Rh, que

previne a doença por incompatibilidade Rh entre mãe e feto, reduzindo a

icterícia severa no recém-nascido.

5000 casos de retardo mental causados por infecção pelo Haemophilus

influenzae tipo B, graças ao uso rotineiro de vacina contra Haemophilus nas

crianças.

4000 casos de retardo mental devidos à encefalite pelo sarampo, graças

à vacinação das crianças.

Um número desconhecido de casos de retardo mental devidos à rubéola

cogênita, graças à vacinação das crianças.

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CAPÍTULO IV

4 – Psicomotricidade no Desenvolvimento do Portador de

Retardo Mental

Definições

Gª Núñez y Fernández Vidal ( 1994 ):

“A Psicomotricidade é a técnica ou grupo de técnicas que tendem a

interferir no ato intencional significativo, para estimular ou modificá-lo, usando

como mediadores a atividade corporal e sua expressão simbólica. O objetivo,

por conseguinte, é aumentar a capacidade de interação do sujeito com o

ambiente.”

Berruezo ( 1995 ):

“A Psicomotricidade é um foco da intervenção educacional ou terapia

cujo objetivo é o desenvolvimento da capacidade motriz, expressivas e criativas

a partir do corpo, o que leva centrar sua atividade e se interessar pelo

movimento e o ato, que é derivado de: disfunções, patologias, excitação

(estímulos ), aprendizagem etc.”

Muniáin (1997 ):

“A Psicomotricidade é uma disciplina educativa / reeducativa /

terapêutica. Concebeu como diálogo que considera o ser humano como uma

unidade psicossomática e que atua sobre sua totalidade por meio do corpo e

do movimento no ambiente, por meio de métodos ativos de mediação

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23principalmente corporal, com o propósito de contribuir a seu desenvolvimento

integrante.”

De Lièvre y Staes ( 1992 ):

“A Psicomotricidade é a posição global do sujeito. Pode ser entendido

como a função de ser humano que sintetiza psiquismo e motricidade com o

propósito de permitir ao indivíduo adaptar de maneira flexível e harmoniosa ao

meio que o cerca. Pode ser entendido como um olhar globalizado que percebe

a relação entre a motricidade e o psiquismo como entre o indivíduo global e o

mundo externo. Pode ser entendido como uma técnica cuja organização de

atividades possibilite à pessoa conhecer de uma maneira concreta seu ser e

seu ambiente de imediato para atuar de maneira adaptada.”

Jaques Chazaud

“A Psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades, dos

gestos, das atitudes e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e

representativo do “ser-em-ação” e da “coexistência” com outrem.”

A Psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo, que

represente suas necessidades e permitem sua relação com os demais. É a

integração psiquismo-motricidade.

De uma maneira estática, a motricidade pode ser definida como o

resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura, como resposta à

estimulação sensorial.

Psiquismo poderia ser considerado como o conjunto de sensações,

percepções, imagens, pensamentos etc.

A função psicomotora, no entanto, não pode ser estudada senão como

uma unidade onde se integram a incitação, a preparação, a organização

temporal, a memória, a motivação, a atenção etc.

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24 Cada elemento da motricidade deve ser considerada no conjunto e na

história que lhe dá significação.

O mundo psicomotor surge na escola. O mesmo material – corda – libera

a expressão afetiva, seja da agressividade, disputa e luta, seja da busca da

interação, do contato dual afetivo e prazeroso.

No momento da verbalização, o grupo se expressa, as crianças sentam-

se relaxadas, juntas umas das outras, livres posturalmente, relacionando-se

com o professor de uma maneira.

Na sala de aula, cria-se um espaço para o corpo: o movimento, o

dinamismo e a liberdade são vividos intensamente pelas crianças.

A inibição e o bloqueio psicomotor podem levar ao isolamento, a criança

se torna “observadora” do mundo ativo e espontâneo dos companheiros.

4.1 – A Psicomotricidade no Desenvolvimento da Criança

O movimento, assim como o exercício, é de fundamental importância no

desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança. Estimula a

respiração e a circulação, de modo que, nutre as células e promove a

eliminação de detritos celulares.

O movimento permite à criança explorar o mundo exterior através de

experiências concretas, sobre as quais são construídas as noções básicas para

o desenvolvimento intelectual.

É a exploração que desenvolve na criança a consciência de si mesmo e

do mundo exterior.

O desenvolvimento é contínuo. A criança se desenvolve de maneira

contínua, desde os primeiros dias de vida.

A harmonia do desenvolvimento com todos os seus componentes é tão

importante quanto a aquisição de tantas performances numa determinada

idade, ou de tantos centímetros. Não se trata para a criança de realizar uma

corrida de obstáculos, o mais rapidamente possível, mas desenvolver seu

corpo e sua mente de maneira equilibrada. Entretanto, no momento em que

certas aquisições, tais como a linguagem, por exemplo, se desenvolvem

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25rapidamente, os progressos em outras áreas estacionam: é preciso

compreender que a criança não pode centrar seus esforços em todos os

setores ao mesmo tempo.

Cada criança é única. E quando falamos de Crianças Especiais, neste

caso que apresentam única. E quando falamos de Crianças Especiais, neste

caso que apresentam Retardo Mental, falamos de crianças que,

provavelmente, não se enquadrarão em regras de desenvolvimento, mas que

necessitam e muito de estímulos, e precisam ser respeitadas quanto ao seu

tempo de desenvolvimento.

Desta maneira, julgar um bom desenvolvimento de uma criança é muito

mais complexo do que parece: não é suficientemente apreciar, baseado num

manual, a conformidade ou não de referenciais indicados, é preciso ter em

vista o conjunto da criança e de suas condições de vida familiar e não se

preocupar com uma anomalia isolada.

4.2 – Observação do Desenvolvimento e Comportamento da

Criança

O que caracteriza uma criança inadaptada, seja qual for o tipo ou

inadaptação, é a falta por razões constitucionais, acidentais, afetivas etc, de

certas etapas de elaboração de seu Ego corporal.

A educação deve ser pensada em função da criança, de sua idade,

necessidades e interesses e não tendo em vista apenas um objetivo particular,

por exemplo, a aprendizagem da leitura e da escrita; ou em função de uma

filosofia e ainda menos em função de uma tradição.

As necessidades e interesses da criança podem ser estabelecidos

através da observação objetiva dos estágios de desenvolvimento e do

comportamento nas diferentes idades.

A determinação do estágio de desenvolvimento da criança são

indispensáveis para que se estabeleçam as condutas educativas que poderão

favorecer os diversos aspectos de desenvolvimento e do conhecimento e,

portanto, simplificar a adaptação da criança ao meio em que vive.

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26 O meio ambiente terá de ser favorável para que a criança tenha uma

maturação o mais normal possível, fazendo com que sua inteligência seja

desenvolvida ao máximo.

É muito importante saber que a escola irá recebê-la para implantar e

reforçar a sabedoria, mas que o bom desempenho da criança dpenderá de

como ela foi preparada anteriormente no meio familiar.

Nos primeiros anos de vida, os principais educadores são os pais, ou

aqueles que, às vezes, os substituem. Os pais devem estar conscientes da

importância da influência do meio sobre a evolução de seus filhos.

4.3 – Áreas Psicomotoras

• Coordenação motora fina: envolve pequenos músculos; coordenação

óculo-motora; coordenação facial; coordenação digital; prevalência do

sistema piramidal na motricidade fina voluntária.

• Coordenação motora ampla: envolve grandes pares musculares;

envolve as atividades de arrastar, rolar, engatinhar, andar, correr,

saltar; prevalência do sistema extrapiramidal.

• Equilíbrio: quando a criança consegue manter-se em bom equilíbrio

estático e dinâmico, conseguindo manter-se normalmente sobre um pé,

durante algum tempo. Trepa, pula, salta e sofre bem poucas quedas.

Pode acontecer da criança ter enorme deficiência postural de equilíbrio

estático e dinâmico. Não conseguindo manter-se sobre um pé só,

pular, saltar e sofrer várias quedas contínuas.

• Lateralidade: a lateralidade é importante na evolução da criança, influi

na idéia que a criança tem de si mesma, na formação do seu esquema

corporal, na percepção da simetria de seu corpo; contribui para

determinar a estruturação espacial, percebendo o eixo do seu corpo; a

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27criança percebe também seu meio ambiente em relação a esse eixo –

o banco está do lado da mão que desenha; a lateralidade pode ser

homogenia ( a criança é destra ou canhota do olho, da mão e do pé),

cruzada ( a criança é destra da mão e do olho e canhota do pé ),

ambidestra ( a criança é tão forte e destra do lado esquerdo quanto do

lado direito )

• Dominância lateral: uma criança cuja lateralidade não está bem

definida encontra problemas de ordem espacial, não percebe diferença

entre a esquerda e a direita, é incapaz de seguir a direção gráfica

(leitura começando pela esquerda); igualmente não consegue

reconhecer a ordem de um quadro.

• Esquema corporal: a formação do “eu”, da personalidade da criança,

isto é, o desenvolvimento do esquema corporal, a criança toma

consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por

meio desse corpo; função de ajustamento ( adaptação ao mundo

exterior); exploração do corpo – ligadas a experiências afetivo-

emocionais; corpo entra como objeto global na relação; experiências

motoras vividas globalmente (ainda em bloco); consciência do corpo,

da relação das partes entre si, das possibilidades de movimento, com

referência aos dados do mundo exterior.

• Imagem corporal: percepção e o sentimento que o indivíduo tem de

seu próprio corpo; ligada a aspectos relacionais e envolve experiências

interiores, expectativas sociais e emoções; a imagem é tudo aquilo que

foi vivido.

• Noção espaço – temporal: a maneira como a criança se localiza no

espaço que a circunda; a orientação temporal diz respeito como a

criança se situa no tempo; os problemas quanto à orientação espacial

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28e orientação temporal, como por exemplo a noção “antes – depois”,

acarretam, principalmente confusão na ordenação dos elementos de

uma sílaba. A criança sente dificuldade em reconstruir uma frase cujas

palavras estejam misturadas, sendo a análise gramatical uma quebra-

cabeça para ela. Uma má organização espacial ou temporal acarreta

fracasso em matemática. Para calcular, a criança deve ter pontos de

referência, colocar números corretamente, possuir noção de “fileira”, de

“coluna”, deve conseguir combinar as formas para fazer construções

geométricas.

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29

CONCLUSÃO

Diante das exposições feitas neste trabalho, procurando verificar

se a Psicomotricidade interferia positivamente no Desenvolvimento de

Indivíduos Portadores de Retardo Mental, percebemos que tal instrumento de

trabalho se aplicaria perfeitamente no que diz respeito às mudanças trazidas

por esta clientela.

Ao nos reportarmos às principais dificuldades apresentadas por

indivíduos portadores da patologia estudada ( “limitações significativas no

funcionamento adaptativo em áreas como comunicação, autocuidados, vida

doméstica, habilidades sociais / interpessoais, uso de recursos comunitários,

autosuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança” ),

e ao cruzarmos com as questões trabalhadas pela Psicomotricidade,

percebemos quão íntima é esta relação.

Não devemos esquecer jamais que cada indivíduo é único e que deve

ser visto e tratado desta forma, pois cada um deles trará questões particulares,

histórias de vida e famílias diferentes umas das outras, que implica em uma

necessidade de abordagem diferente de indivíduo para indivíduo, até porque

cada um apresentará níveis diferentes de Retardo Mental, que poderão trazer

Transtornos Associados, também com características variáveis de indivíduo

para indivíduo.

Portanto com uma avaliação bem feita, respeitando-se o indivíduo em

primeiro lugar, percebemos que a Psicomotricidade pode e muito auxiliar este

tipo de clientela.

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30

BIBLIOGRAFIA

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Médicas, 1995.

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ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de Janeiro:

WAK, 2003.

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Manole, 1989.

AUCOUTURIER, De Empinet. A prática psicomotora – reeducação e terapia.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

CHAZAUD, J. Introdução à psicomotricidade. São Paulo:Editora Manole, 1976.

COSTE, J. C. A psicomotricidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

FONSECA, V. e MENDES, N. Escola, escola, quem és tu? Porto Alegre: Artes

Médicas, 1983.

GUILLARME, J. J. Educação e reeducação psicomotora. Porto Alegre: Artes

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LE BOULCH, Jean. Rumo a uma ciência do movimento humano. Porto Alegre:

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31ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos.

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BOMTEMPO, Edda. Aprendizagem e brinquedo. São Paulo: Epu, 1987.

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Atividades Culturais

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ...................................................................................................8

CAPÍTULO I .......................................................................................................9

CONCEITOS.......................................................................................................9

1.1 – Níveis de Gravidade do Retardo Mental ...............................................11

1.2 - Características e Transtornos Associados ...........................................13

CAPÍTULO II ....................................................................................................16

CARACTERÍSTICAS.........................................................................................16

2.1 – Prevalência .............. ............................................................................18

2.2 – Curso ....................................................................................................18

2.3 – Diagnóstico Diferencial .........................................................................19

2.4 – Critérios Diagnósticos para Retardo Mental ........................................ 20

CAPÍTULO III ................................................................................................... 21

PREVENÇÃO....................................................................................................21

CAPÍTULO IV .................................................................................................. 22

A PSICOMOTRICIDADE E O PORTADOR DE RETARDO MENTAL .............22

4.1 - A Psicomotricidade no Desenvolvimento da Criança .............. 24

4.2 – Observação do Desenvolvimento e Comportamento da Criança

..................................................................................................... 25

4.3 – Áreas Psicomotoras ................................................................ 26

CONCLUSÃO ...................................................................................................29

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................30

ATIVIDADES CULTURAIS................................................................................32

ÍNDICE ..............................................................................................................33

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................34

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu” Título da monografia: Psicomotricidade no Desenvolvimento de Portatores de Deficiência Mental Data da Entrega: ________________________________________________ Avaliado por: _________________________________ Grau______________. ________________________, ______ de _____________________ de 2004.