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Psicopatologia I LOUCURA E DOENÇA MENTAL

Psicopatologia I LOUCURA E DOENÇA MENTAL. Esta apresentação tem como referência de Michel Foucault sobre a constituição histórica da noção de doença mental

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Psicopatologia I

LOUCURA E DOENÇA MENTAL

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• Esta apresentação tem como referência de Michel Foucault sobre a constituição histórica da noção de doença mental tal como apresentada no livro Doença mental e psicologia (FOUCAULT, M. Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975).

• Com vistas a manter a estética da apresentação não utilizamos as normas de referências da ABNT.

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LOUCURA E CULTURA

• Texto de referência: FOUCAULT, M. Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975, p. 71-98.

Introdução

• Foucault trabalha, ai, as condições de surgimento da doença mental. Para ele, estas condições não estão na evolução orgânica, na história psicológica ou na história individual: “[...] é noutra parte que o desvio patológico tem, como tal, suas raízes” (FOUCAULT, 1975, p. 71).

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Foucault aponta que a doença mental só tem realidade dentro de uma cultura que a reconhece como doença, e este fato de reconhecer algo, ou um certo modo de ser, como doença, revela que este olhar é algo que surge em determinado momento da história de uma cultura, não é algo que está ai desde sempre.

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De acordo com a visão positivista (representada, neste caso, por Durkhein), o patológico passa a ser visto como tudo aquilo que se afasta da média.

Quando esse afastamento está situado abaixo da média, estaria apontando etapas já superadas de um desenvolvimento, de uma evolução que é a normal; e quando o afastamento é para um valor acima da média, estaria apontando as próximas fases que estão se estruturando.

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A doença, neste caso, é vista, apenas, em seus aspectos negativos e virtuais.

Negativos porque é definida com relação ao afastamento, ao desvio, com relação à média (e o positivo seria a adequação à média).Virtuais porque expõe virtualidades que, embora não sejam patológicas em si mesmas, apontam, também, para um desvio.

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Por exemplo: se o nível de inteligência mediano de um adulto for 100, quem estiver com este valor está ok, quem estiver abaixo está atrasado intelectualmente, e quem estiver acima estaria mostrando o valor para onde a média tende a se deslocar (mas que neste momento ainda é um desvio).

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Ainda que esses desvios/afastamentos apontem aspectos presentes no campo do humano, apontá-los como a própria natureza da doença, e sua classificação como anormalidade, mostra como nossa sociedade não quer se reconhecer no doente (e nem reconhecer nele outras formas possíveis de ser).

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Tudo o que é afastamento e desvio da média fica entendido como anormal e tudo o que há de positivo nesse modo

de ser, agora classificado como doença, é deixado de lado, é anulado e

desqualificado.

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Enfim, Foucault afirma que, embora algo da própria sociedade se exprima na loucura, trata-se de aspectos que a sociedade não quer reconhecer.

Logo, ela não se reconhece no louco, ela o rejeita e também não o reconhece como um sujeito que deve ser ouvido e considerado em suas reivindicações (a questão da invalidez e da incapacidade se colocam ai).

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O louco passa a ser visto como irresponsável pelos seus atos, incapaz de tomar decisões e de fazer e escolhas, logo, entende-se que alguém deve decidir e escolher por ele, alguém deve se responsabilizar por ele...os direitos e a cidadania ficam como que excluídos para estes sujeitos.

Daí Foucault lança a questão: como nossa cultura chegou a esta noção em relação à doença mental?

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A constituição histórica da doença mental

Com relação a este ponto, Foucault fala que a doença mental foi uma noção que se constituiu historicamente.

• Até o século XV a loucura circulava livremente na sociedade, era polimorfa e aceita, mesmo porque não era vista como doença, não causava a estranheza que hoje causa.

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Embora desde a Grécia existissem certos aspectos considerados como patológicos e

certas práticas de cura ligadas à loucura, isso acontecia em setores localizados e era algo

restrito, limitado a certas formas ou manifestações da loucura, não alterando o

quadro de liberdade e inserção dos loucos na vida social.

A loucura era amplamente representada nas artes e mesmo na cultura, havendo festas e

comemorações ligadas a ela;

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No fim do século XV, surge o temor da morte e da loucura; é a época do renascimento e quando começam a surgir estabelecimentos para loucos. Porém, até 1650 a loucura continua sendo aceita e a cultura ocidental continua hospitaleira a esta forma de experiência; (esta a data em que se impõe, na cultura ocidental, a visão racionalista de René Descartes, trazendo a noção do homem como se definindo pela sua racionalidade, ou seja, definindo a razão como característica essencial do humano e também como fundamento do conhecimento);

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-  É só ai, meados do século XVII que acontece uma súbita e brusca mudança: o mundo da loucura passa a ser o mundo da exclusão;

- Acontece a “Grande internação”, que é quando pobres, prostitutas, criminosos, portadores de doenças venéreas, loucos, etc., todos aqueles que, em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, dão mostras de alteração, são enclausurados nos hospitais gerais (abrem-se os hospitais de Bicètre e la Salpetrière na França)

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- Estes hospitais, em sua origem, são como hospedarias, não têm vocação nem intenção médica, não são para tratamento. São instituições de assistência social, filantrópica, e recolhem quem não pode, não deve ou não quer fazer parte da sociedade;

- Foucault aponta como este ‘grande internamento’ não põe a doença em questão, mas sim a sociedade e aquilo que esta aceita ou não, aquilo que ela reconhece ou não como fazendo parte de si;

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• Nesta internação aparece o trabalho forçado como prática, para cobrir custos e para controle moral, pois, na sociedade burguesa em constituição, a ociosidade passa a ser um grande pecado e quem não pode tomar parte na produção é excluído;

• Fica claro como a internação, em sua origem, está ligada não a aspectos das doenças, mas sim à necessidade de reestruturação do espaço social;

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- Esta internação da loucura deixa duas conseqüências importantes:

1- A loucura é silenciada, escondida, sai do cenário social. A partir daí vamos (os psiquiatras, os psicólogos) passar a falar dela mas ela não vai mais poder falar de si mesma. A fala do louco passa a ser desqualificada, desvalorizada; e, 2- No imaginário social, a loucura ganha parentesco com o crime, a libertinagem, etc., tudo o que gera culpa moral e social. Criam-se condições para o surgimento do mito da periculosidade, até hoje bastante associado à loucura;  

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• Após 1789, ano da revolução francesa, há, uma crítica a este internamento sem critérios, a esta exclusão e aos maus tratos praticados.

• Propõe-se a assistência à pobreza, mas em casa, sem internamento. Assim, aqueles que estavam nos hospitais gerais são libertados. Porém, os loucos ficam. A partir daí permanecem nos hospitais somente os loucos, pois são considerados perigosos para si e para os outros.

- O internamento (que, a partir daí, é só para loucos) ganha caráter médico e finalidade de tratamento.

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- Na França Pinel assume o hospital; na Inglaterra é Tuke e na Alemanha são Riel e Wagnitz que assumem esse papel. Na história da psiquiatria estes são os personagens que aparecem como símbolo do humanismo que vai livrar a loucura dos tratamentos bárbaros e também como representantes de uma ciência finalmente positiva, a psiquiatria.

Lembrar do contexto histórico: renascimento – iluminismo/revolução francesa/ nascimento das ciências, positivismo, etc. Auguste Comte (1798-1857): é quem fala das ciências positivas, de onde deriva o termo positivismo. Sua teoria prega a reforma social a partir da ordem, ordem que, na sua visão, leva ao progresso.

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• Para Foucault, estes primeiros psiquiatras não podem ser vistos como libertários, pois se ‘soltam as correntes’ que prendiam os loucos dentro de salas ou leitos, eles, ao mesmo tempo, estreitam a internação em torno do louco, justificando sua exclusão da sociedade a partir do saber “científico” produzido pela psiquiatria.

• E é a partir desse saber que tudo o que era valorizado e aceito antes, passa a ser classificado como sinal da doença, passa a ser negativizado (por exemplo, as vozes ouvidas que, em outro momento foram consideradas como um dom de ouvir/falar com os deuses, agora são reduzidas apenas a sintomas). As significações morais se elevam, as barreiras e as práticas de exclusão ganham legitimidade.

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- O diagnóstico passa a permitir a partilha, a definição de quem é ou não normal, autorizando intervenções sobre os loucos e sua exclusão.

- O olhar, a partir daí, se dirige para a doença mental. Não se olha, não se vê mais e não se procura ouvir diretamente a pessoa que sofre por um modo de ser diferente.

- O objeto da psiquiatria passa a ser a doença. - O doente não tem mais lugar ou palavra;

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-O louco passa a ser culpabilizado e infantilizado, pois ele está em desvio moral e atrasado no desenvolvimento normal.

- Tuke, na Inglaterra, trabalha com técnicas que visam o controle social e moral ininterruptos, objetivando reinculcar o sentimento de dependência, de humildade e culpa nos pacientes. Os meios para isso são as ameaças, humilhações e privações.

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- Pinel coloca o asilo como instância perpétua de julgamento onde o louco é vigiado em todos os seus gestos, rebaixado nas suas pretensões, ridicularizado no erro. Por esta lógica, a todo desvio deve ser seguida uma sanção; sendo que o controle que se busca é mais moral que terapêutico.  

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Todas as práticas que existiam antes e que eram voltadas à cura (ex: duchas frias que serviam para resfriar o sangue, o espírito ou as fibras) passam a ser usadas como técnicas de punição, controle e disciplinarização;

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-  A loucura, até então vista como algo relativo ao corpo e à alma (por isso se devia resfriar o sangue, por exemplo) passa a ser vista como algo relativo apenas à alma, à individualidade, à interioridade (lembrar que também é este o momento histórico em que se constrói a noção de família nuclear, de infância, etc). A loucura passa a ter estrutura e significação psicológicas.

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- Para Foucault, o que acontece nesse momento histórico é um movimento, uma operação social profunda que, a partir de um sistema de valores e de repressões morais, desloca a loucura para o campo da doença, dando-lhe o caráter de regressão que a aparenta com a infância, que a torna imoral, gerando culpa e necessidade de castigo/punição.

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É esta nova visão que tornará possível a emergência da psicologia como

“ciência” ou teoria(s) que fala(m) da interioridade, porém, a psicologia

seria apenas o aspecto mais superficial dessa operação social.

 

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- É essa leitura que permite a Foucault dizer que a psicologia não poderá nunca chegar à verdade da loucura pois é a sua verdade que está na loucura.

Isso porque o que ele aponta é que foi apenas a partir do momento em que se isola a loucura e que se começa a trabalhar nele considerando-a como erro é que se torna possível uma análise ‘psicológica’ desse fenômeno.  

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- O homem só se torna um ‘espécie psicologizável’ a partir desse momento em que se entende que é necessário conhecer sua interioridade e os desvios que esta pode apresentar.

- Daí vem, também, a afirmação de que a psicologia só se tornou possível a partir das análises das manifestações patológicas que passaram a ser isoladas, excluídas da vida social em determinado momento histórico.

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A LOUCURA, ESTRUTURA GLOBAL

 Foucault inicia lembrando que sua crítica não vai no sentido de dizer que é inútil buscar entender os fenômenos da loucura e construir táticas de cura.

O que ele quer apontar é que o que é inútil seria tentar explicar o ‘todo’ da loucura, sua essência e natureza, a partir de seus mecanismos psicológicos, pois, como ele descreveu nos capítulos anteriores, a loucura, tal como a entendemos hoje, não é algo natural (ou seja, algo que sempre foi assim, que sempre teve essa ‘essência’ de doença, desvio e erro), logo, para entendê-la e para lidar com ela, temos que considerar, sempre, estes outros fatores determinantes (os fatores históricos e sociais);

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- É importante atentar para alguns pontos que Foucault destaca:

* o que conhecemos como ‘doença mental’ é apenas ‘loucura alienada’, ou seja, todo o estudo da loucura teve início e se deu a partir – e depois – da exclusão social a que as pessoas que vivem esta experiência foram submetidas.

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* Conhecemos teoricamente – na psicologia e na psiquiatria – apenas a loucura internada, ou seja, a loucura já com interferência e já modificada e determinada pelos efeitos da exclusão. Não tivemos acesso à loucura que podia conviver socialmente, que podia achar um meio de se conduzir no social...

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A psicologia, assim como a psiquiatria, já surgem do pressuposto de que se trata de algo a ser corrigido, já surgem após o momento de desqualificação da louco e de todas as suas possibilidade de fala, de participação social...

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- Foucault destaca que há algo na loucura que fala da diferença, que chama à diferenciação, mas aponta como essa diferença foi logo incluída como erro, desvio, anormalidade...

 -  Porém, também lembra que essa diferença é algo que tem

relação com a essência do humano, ou seja, trata-se de algo que nos lembra que algo estranho e diferente, que escapa ao nosso entendimento racional e ao nosso controle, habita também em nós (embora todo esse movimento social e cultural tentem nos fazer crer que se trata de algo que concerne apenas a alguns, apenas aos ‘doentes mentais’);

 

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-         É nesse sentido que ele lembra que tudo o que hoje é desvalorizado e colocado como sintoma, já foi valorizado e aceito em outras épocas da história, o que mostra que toda e cada cultura – e todo e cada momento histórico - tem um limiar que permite definir quem ou que comportamentos falam de algo patológico, de algo louco.

 

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Além desse limiar que permite dizer, definir, quem é louco e quem não é, cada cultura e cada momento histórico têm uma tolerância com o desvio e com a loucura.

O que é aceito (tolerado) em determinado lugar e em determinado momento, pode não ser em outros.

Assim, antes do século XIX, já havia uma percepção da loucura, porém, essa percepção não implicava em exclusão, o que passa a acontecer a partir daí.

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-  O que acontece é que isso que já era percebido como loucura passa a ser encarado como doença, como doença mental, e todo um campo de saber passa a legitimar práticas de exclusão, agora com respaldo científico vindo de disciplinas (entre elas a psicologia e a psiquiatria) que pretendem deter a verdade completa sobre a loucura (e é a esse ponto que Foucault coloca suas objeções).

 

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- O poder relacionado a esses saberes, a essas disciplinas fica claro quando lembramos que são as supostas verdades deles derivadas que passam a ditar todo um campo de práticas e de possibilidades – e impossibilidades – para a vida das pessoas definidas, agora, como doentes mentais;

 

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- Finalmente Foucault aponta que a loucura tem, também, valor de linguagem, denunciando aspectos ocultos do social. Assim, a suposta regressão de desenvolvimento que aparece na loucura (e/ou nos retardos) denunciariam o fato de nossa sociedade ter construído a noção de infância afastada da vida adulta, ter construído para a criança um mundo irreal na sua grande distância da vida adulta (por exemplo, a suposta inocência das crianças, o fato delas não poderem participar de certos assuntos e fatos, etc., a própria forma de educação e das instituições pedagógicas que apresentam este mundo irreal, cheio de sonhos e fantasias, quando se vai, mais tarde, exigir do adulto um realismo e uma crueza totalmente contrastantes com tudo isso);

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Também a história individual, com seus conteúdos, traumas, etc., passou a constituir a ‘dimensão psicológica’ da doença, quando muito do que aparece ai é, também, parte da realidade humana e social, como por exemplo, os sentimentos ambivalentes (amor e ódio, as tendências solidárias e agressivas, etc.).  

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Esses aspectos aparecem como sintomas, de origem emocional (logo, psicológicos e privados), mas podemos ver que são parte das contradições inerentes à organização social ocidental (capitalista e cristão), onde se fala de ‘igualdade, liberdade e fraternidade’, em solidariedade e amor ao próximo, mas que solicita e promove a competitividade e o individualismo por exemplo (p.93-94): “Só no imaginário pode encontrar o status fraternal onde suas relações sociais encontrarão sua estabilidade e coerência [...]” (FOUCAULT, 1975, p.94); 

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-  Vemos ai, que todos esses conflitos são nomeados como sendo parte própria dos fenômenos da doença mental, do patológico, ou seja, são enviados ao mundo privado da pessoa doente, anulando-se todos os seus aspectos concretos e coletivos;

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-  Foucault lembra que não se referiu, nessa discussão aos aspectos biológicos que possam estar presentes na questão da loucura e aponta que, se estas dimensões biológicas – assim com as psicológicas – não podem ser esquecidas, negligenciadas, devido à existência de determinantes externos, sociais, culturais e econômicos, políticos, etc., elas também não devem se pretender ou se colocar cientificamente como causas únicas, exclusivas, detendo a verdade da ‘doença’;

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- O que ele coloca é que todos estes determinantes devem se situar no interior do modo de relação que o homem ocidental estabeleceu consigo mesmo desde o início do século XX (relação na qual todos os problemas são individualizados, interiorizados e psicologizados/medicalizados, apagando-se as incidências coletivas, sociais, econômicas, políticas, éticas, etc.).

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-  “Esta relação que funda filosoficamente toda

psicologia possível só pode ser definida a partir de um momento preciso na história de nossa civilização: o momento em que o confronto da Razão e da Desrazão deixou de se fazer na dimensão da liberdade e em que a razão deixou de ser para o homem uma ética para tornar-se uma natureza.” (FOUCAULT, 1975, p. 98).

Ou seja, a partir do momento em que se passou a ter a razão como essência da natureza humana, o que faz com que aqueles que não se organizam apenas e exclusivamente de modo racional sejam vistos como anormais e, logo, excluídos.