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Psicossomática

Psicossomática - Portal IDEA...Histórico Psicossomática: termo introduzido na Medicina em 1818 por Helmholtz com o sentido, naquela época, de designar as doenças somáticas que

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  • Psicossomática

  • Histórico

    Psicossomática: termo introduzido na

    Medicina em 1818 por Helmholtz com o

    sentido, naquela época, de designar as

    doenças somáticas que surgiam tendo

    como fator etiológico os aspectos mentais.

  • Denominações

    somatose (um fenômeno clínico que se expressa no corpo),

    psicossomática,

    doença psicossomática,

    conversão somática,

    manifestação somática,

    manifestação somatoforme,

    transtorno somatoforme,

    distúrbio psicossomático,

    psicopatologia somática.

  • DSM-IV

    Transtornos Somatoformes : Sugerem uma condição médica geral, porém não são completamente

    explicados por uma condição médica, pelos efeitos

    diretos de uma substância ou por um transtorno mental.

    -Transtorno de Somatização

    -Transtorno Somatoforme indiferenciado

    -Transtorno Conversivo

    -Transtorno Doloroso

    -Hipocondria

    -Transtorno Dismórfico

    -Transtorno de Somatição sem outra especificação

  • Transtorno de Somatização

    Critérios Diagnósticos: Uma história de muitas queixas físicas com início antes dos 30

    anos, que ocorrem por um período de vários anos e resultam em

    busca de tratamento ou prejuizo significativo no funcionamento

    social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do

    indivíduo.

    Cada um dos seguintes critérios deve ter sido satisfeito, com os

    sintomas individuais ocorrendo em qualquer momento durante o

    curso do distúrbio:

    1) Quatro sintomas dolorosos : uma história de dor relacionada a pelo menos quatro locais ou funções diferentes.

    2) Dois sintomas gastrintestinais: deve haver uma história de

    pelo menos dois sintomas gastrintestinais

  • 3) Um sintoma sexual: Deve haver uma história de pelo menos

    um sintoma sexual ou reprodutivo outro que não dor.

    4) Um sintoma pseudoneurológico: deve haver também uma

    história de pelo menos um sintoma, outro que não dor, sugerindo

    uma condição neurológica.

    C) 1) ou 2):

    1) Após investigação associada, nenhum dos sintomas no

    Critério B pode ser completamente explicado por uma condição

    médica geral conhecida ou pelos efeitos diretos de uma substância

    2) Quando existe uma condição médica geral relacionada, as

    queixas físicas ou prejuízo social e ocupacional resultante excedem

    o que seria esperado a partir da história, exame físico ou achados

    laboratoriais.

    D) os sintomas inexplicáveis no Transtorno de Somatização não

    são intencionalmente produzidos ou simulados (como no

    Transtorno Factício ou na Simulação).

  • CID 10

    F45 – Transtornos Somatoformes : Apresentação repetida de sintomas físicos juntamente com solicitação persistentes de solicitação de investigações medicas, apesar de repetidos achados negativos e de reasseguramento pelos médicos de que os sintomas não têm base física.

    F45.0 – Transtorno de Somatização

    Os aspectos principais são sintomas físicos múltiplos, recorrentes e freqüentemente mutáveis os quais em geral tem estado presentes por vários anos antes que o paciente seja encaminhado para o psiquiatra.

  • Diretrizes Diagnósticas

    A) Pelo menos dois anos de sintomas físicos

    múltiplos e variáveis para os quais nenhuma

    explicação adequada foi encontrada;

    B)Recusa persistente de aceitar a Informação ou o

    reasseguramento de diversos médicos de que não

    há explicação física para os sintomas;

    C) Certo grau de comprometimento do

    funcionamento social e familiar atribuíveis à

    natureza dos sintomas e ao comportamento

    resultante.

  • Psicossomática: estudo da pessoa como

    ser histórico, que é um sistema único

    constituído por três subsistemas: corpo,

    mente e social.

  • A Psicossomática tem seus pilares

    assentados sobre os conhecimentos da

    Fisiologia (em especial da Psicofisiologia),

    da Psicologia Social, da Patologia Geral,

    das Psicologias Dinâmicas (notadamente,

    a Psicanálise) e das concepções

    holísticas. (Rodrigues & Gasparini, 1992)

  • O fenômeno da somatização está em

    correlação negativa com a projeção. A

    somatização denota dificuldade na

    elaboração projetiva, elaboração esta que

    remete às funções relacionais e à

    repressão que incide sobre a função do

    imaginário, definida pelo sonho e seus

    equivalentes. (Sami-Ali, 1993)

  • Alexitimia (escola americana): características comuns e freqüentes quanto à maneira de lidar com as emoções.

    Pensamento Operatório (escola francesa): características comuns e freqüentes quanto à forma de pensamento.

  • Os portadores de pensamento operatório têm um mundo interno pobre e investem intensamente na realidade externa. São aquelas pessoas que quando sofrem problemas existenciais, buscam no trabalho ou outras atividades o seu refúgio.

    Já o termo "alexitimia" significa "ausência de palavras para nomear as emoções". Tais indivíduos têm dificuldade de descrever e até de sentir suas emoções. Não há negação das emoções, mas ausência de sentimento.

  • Segundo Kristal (1973), o psicossomático tem

    dificuldade para cuidar de si mesmo, pois

    quando criança o ato de interiorizar o objeto

    materno (que traria segurança) seria sentido

    como sujeito a castigo. Kristal afirma que ocorre

    um bloqueio no desenvolvimento dos afetos,

    levando a uma paralisação do desenvolvimento

    afetivo normal.

  • As representações ou percepções carregadas de afeto são afastadas da mente e as tensões físicas não encontram caminho para o psíquico, permanecendo no campo físico.

    No pensamento operatório a palavra serve para descarregar uma tensão, mas ela não permanece em suspenso o tempo o suficiente para ser articulada num processo egóico defensivo ou na produção de sonhos ou fantasias. (Silva & Caldeira, 1992).

  • O simbólico na Psicossomática

    Escola de Psicossomática da Sociedade

    Psicanalítica de Paris os fenômenos da

    psicossomática não teriam sentido;

    neurose atual (Freud)

  • O simbólico na Psicossomática

    Atual ausência de mediação simbólica;

    O mecanismo de formação dos sintomas em jogo nas

    neuroses atuais seria sintomático e não simbólico;

    Não significa, pura e simplesmente, uma descarga da

    tensão no corpo, mas a impossibilidade, total ou parcial,

    de sua elaboração e transformação em afeto;

    Por isso, diz-se que o sintoma ocorre sem nenhum

    propósito aparente não se sabe qual seria sua

    intenção;

  • O simbólico na Psicossomática

    Importância da relação mãe-filho: mãe simbólica

    da significados às mensagens corporais do

    bebê;

    Carência de atividades de representação

    aparelho psíquico precariamente estruturado

    impossibilidade de elaboração da excitação

    através dos recursos psíquicos do indivíduo

    energia pulsional liberada diretamente no corpo;

  • O simbólico na Psicossomática

    Mundo interno pobre investem na realidade

    externa;

    O que ocorre não tem significado para o sujeito

    é independente de si, algo externo;

    Dificuldade de descrever suas emoções e

    mesmo de senti-las “isto é tudo” doença

    não teria uma explicação seria externa a ele;

  • Características das

    manifestações psicossomáticas:

    Não se encontra uma explicação física/biológica

    para o sintoma.

    É desencadeada por um acontecimento da ordem

    da perda ou equivalente (“bem tolerado”).

    Carência na representação psíquica.

    Expressa representações que não podem ser

    conscientes (angústia produzida).

  • Características das

    manifestações psicossomáticas:

    Expressa uma comunicação desconhecida do

    sujeito.

    Solução de conflitos intrapsíquicos.

    Pode ser revertido através da palavra.

    Discurso típico (equívocos, contradições, etc.).

    Correlação temporal com determinados

    acontecimentos e datas.

  • Clínica psicanalítica para as

    doenças psicossomáticas

    Possibilitar a palavra ao paciente, criando um

    campo de produção de significações.

    Analista como uma presença

    questionadora/ativa (dificuldade de atribuição de

    sentidos mesmo na associação livre)

  • “Corpo: envelope psíquico

    da dor”

    Lenice Pimentel Cabral

    (UFAL)

  • CASO CLÍNICO

    Mulher de 62 anos, casada, atividades

    domésticas, natural de Pernambuco, 9

    filhos, 2º ano primário, católica,

    recomendada por dermatologista

    Terapia psicanalítica por 2 anos

    Queixa principal: crises de erisipela* nos

    membros inferiores, com febre e

    dificuldade de se locomover *infecção de pele e tecido subcutâneo com o

    comprometimento dos linfáticos

  • Crises mais freqüentes de uns tempos para cá” os filhos se tornaram independentes e o marido teve aposentadoria antecipada

    “Vejo meu marido em casa, sentado na cadeira fazendo carinhos na gata; os filhos trabalhando e eu nessa mesmice”

    Diz sentir falta dos tempos de namoro com o marido

    Em relação à “ser a gata” “Não tenho mais idade. Hoje são meus filhos que namoram. Acho bonito namorar”

    Sua vida girava em torno do marido, dos 9 filhos e da casa

  • Sua preocupação agora é porque as crises de erisipela estão mais freqüentes; sente febre e as pernas ficam muito vermelhas;

    “Aí eu não posso andar”; “meu corpo fica muito quente”

    Através da pele, essa paciente expressa seus conflitos, seus desejos “quentes”, de uma sexualidade ainda ativa, mas ambígua na sua expressão

  • “ „escolhia‟ a pele, este envelope

    psíquico que recobre o corpo, e que

    guarda em si uma história” (Ester

    Bing, 1991)

    “A pele, como rosas vermelhas, se

    abria para deixar passar a dor de um

    desejo silenciado. Desejo ardente,

    carente de reconhecimento, capaz de

    incendiar ao simples toque”

  • Comentários do caso

    Crises dermatológicas associadas às tensões vividas na família

    As crises se agravaram quando os filhos começaram a se tornar independentes e foram saindo de casa; o marido, doente do coração, foi aposentado

    “Parada, não andando para lá e para cá, em busca do que fazer, ela se deixava observar/tocar pelos familiares” seu corpo “transportava” nas pernas o desejo que não mais se deslocava As feridas “abriam” caminho para o olhar do Outro

  • Com a terapia...

    Ganhos secundários com as crises

    “É incrível, mas acho que a minha tristeza tem também um pouco de inveja. Vejo minhas filhas, sobretudo elas, namorando, se divertindo, indo para festas, dançando, e eu aqui, sozinha. O marido, adoentado, perdeu um pouco o fogo”

    Representação-coisa representação-palavra

    Nomeação, simbolização

    “A maior tristeza que eu tive foi quando descobri que tinha parado de sonhar” (chora)

    Supletivo, outras realizações

  • “Parece que não estou tendo tempo nem

    para ficar doente”

    Ela recobrou sua auto-estima

    Ao se dirigir para o mundo externo pôde

    aumentar sua capacidade de se perceber

    no papel de dona-de-casa e ressignificar o

    espaço doméstico com o seu olhar

    Antes as pernas não a deixavam andar;

    agora elas lhe transportam para o mundo

    “Imagine, passeamos de mãos dadas

    como se fôssemos namorados. Sabe, até

    chorei de emoção”

  • O acompanhamento medicamentosos foi

    gradativamente sendo dispensado, à

    media que ela ia usando a linguagem para

    expressar o seu psiquismo

    Do foco inicial, restaram apenas algumas

    manchas nos membros inferiores

    Seu ego bastante saudável e sua

    estrutura mental foram muito importantes

    para que o tratamento tivessem esse

    resultado

    Terapia com efeitos duradouros na vida

    da paciente

  • Perspectivas

    Freud (1905): “Toda enfermidade é intencional”, pois o sujeito, de uma forma ou de outra, adquire ganhos secundários com as enfermidades

    - o sintoma é um enigma que precisa ser decifrado, com valor de comunicação para quem decifra

    Cabral: no caso apresentado, a dor somática foi a via para o encontro com a dor psíquica; “na dor, densa, surda e muda, a paciente descobriu os gemidos de sua alma que ansiava por vida”

  • Guyton (1992): a dor como algo que invade o soma para proteger o indivíduo

    Joyce McDougall (1991): no corpo da paciente estava se encenando toda uma história de vida que havia se distanciado da fala

    Uma grande dor surge sempre de um transtorno do eu (fibromialgia, erisipela, etc)

  • Lacan: A lesão de órgão é devida à função paterna (emassamento de S1 e S2) – foraclusão da função paterna, ou função paterna mal-constituída; no caso, a dificuldade da paciente em metaforizar, em deslocar, em quebrar a bolha de isolamento narcísico que a relação com a mãe estabelecia, que a distanciava do mundo e da experiência da cultura dificuldade em se constituir enquanto ser de desejo

    - a comunicação na somatose é um ato, um fazer no corpo

  • Joyce McDougall: somatoses despertar para si e para os limites (físicos, psíquicos); adoecer para alcançar a sensação de existir, ter limites e poder se cuidar sozinho

    O diálogo de surdos entre soma e psique é o que define o corpo psicossomático

    PSICANALISTA: representar as palavras que faltam e tentar fazer com que a lesão seja nomeada; fazer com que o analisando retome a palavra de algo compacto, que simbolize a lesão, que encontre um sintoma novo no seu lugar.