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  • Artigo OriginalRev. Latino-Am. Enfermagem21(Spec):[08 telas]jan.-fev. 2013www.eerp.usp.br/rlae

    Endereo para correspondncia:

    Alacoque Lorenzini ErdmannUniversidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitrio Joo Davi Ferreira LimaBairro TrindadeCEP: 88040-970, Florianpolis, SC, BrasilE-mail: [email protected]

    A ateno secundria em sade: melhores prticas na rede de servios

    Alacoque Lorenzini Erdmann1

    Selma Regina de Andrade2

    Ana Lcia Schaefer Ferreira de Mello2

    Livia Crespo Drago3

    Objetivo: compreender a organizao das prticas de sade, a partir das interaes no nvel da

    ateno secundria, e analisar como as aes e servios nesse nvel de ateno tm contribuido

    para o desenvolvimento de melhores prticas em sade. Mtodo: trata-se de abordagem qualitativa,

    apoiada no mtodo da Teoria Fundamentada nos Dados. Os dados obtidos em entrevistas individuais,

    com gestores, profissionais de sade e usurios, comps o grupo amostral, representativo do nvel

    de ateno secundria. Formulou-se o modelo terico a partir de quatro categorias, analisadas com

    base nos elementos da modelagem de rede de ateno sade. Resultados: a organizao das

    prticas de sade, no nvel secundrio, est em processo de consolidao e vem contribuindo para

    o desenvolvimento de melhores prticas em sade no local estudado. Concluso: a ampliao do

    acesso a consultas e procedimentos especializados e articulao dos pontos da rede so aspectos

    desse nvel de ateno, considerados imprescindveis para a resolubilidade e integralidade do

    cuidado. Este estudo contribui para a anlise das prticas em sade na perspectiva da modelagem

    de redes, a partir das interaes da ateno secundria e dos demais pontos do sistema de sade,

    que se mostram em processo de consolidao no local estudado.

    Descritores: Prtica de Sade Pblica; Sistema nico de Sade; Sistemas de Sade; Rede de

    Cuidados Continuados de Sade.

    1 PhD, Professor Titular, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.2 PhD, Professor Doutor, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.3 Mestranda, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. Bolsista da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES).

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    Secondary Health Care: best practices in the health services network

    Objective: to understand the organization of health practices, based on the interactions at the

    secondary care level, and to analyze how the actions and services at this level of care contribute

    to the development of best practice in health. Method: a qualitative approach, based in Grounded

    Theory. Data was obtained from individual interviews, with managers, health care professionals

    and health service users making up the sample group representing the secondary level of

    healthcare. The theoretical model was formulated based on four categories, analyzed based in the

    elements of the network modeling of health care theoretical framework. Results: The organization

    of health practices at a secondary level is in the process of consolidation and is contributing to

    the development of best practices in the locale studied. Conclusion: The broadening of access to

    consultations and specialized procedures, and the articulation of the networks points, are aspects

    of this level of care which are considered essential for care which is effective and integral. This

    study contributes to the analysis of health practices from the perspective of network modeling,

    based on the interactions between secondary care and the health systems other health facilities,

    which are shown as going through a process of consolidation in the locale studied.

    Descriptors: Public Health Practice; Unified Health System; Health Systems; Delivery of Health

    Care.

    La atencin secundaria en salud: mejores prcticas en la red de servicios

    Objetivo: Comprender la organizacin de las prcticas de salud, desde las interacciones en el nivel

    de la atencin secundaria y analizar cmo las acciones y servicios en este nivel han contribuido al

    desarrollo de mejores prcticas en salud. Mtodo: Enfoque cualitativo, apoyado en la Teora

    Fundamentada en los Datos. Se realizaron entrevistas con gestores, profesionales de salud y

    usuarios, que conforman el grupo muestral de la atencin secundaria. Resultados: Se formul

    el modelo desde cuatro categoras, analizadas con base en los elementos del modelado de red de

    atencin a la salud. La organizacin de las prcticas en el nivel secundario se encuentra en proceso

    de consolidacin y ha contribuido al desarrollo de mejores prcticas en salud en el local estudiado.

    Conclusin: La ampliacin del acceso a consultas y procedimientos especializados y la articulacin

    de puntos de la red son aspectos de este nivel considerados imprescindibles para la integralidad

    del cuidado. Este estudio contribuye para el anlisis de las prcticas en salud en la perspectiva del

    modelado de red, desde las interacciones de la atencin secundaria y los otros puntos del sistema

    de salud, que se presentan en proceso de consolidacin en el contexto estudiado.

    Descriptores: Prctica de Salud Pblica; Sistema nico de Salud; Sistemas de Salud; Prestacin

    de Atencin de Salud.

    Introduo

    Como integrantes de um sistema, as organizaes

    de sade formam uma complexa rede, cuja constituio

    inclui atributos de populao e territrio, estrutura

    logstica e modelos assistenciais e de gesto. A definio,

    limites e objetivos de um sistema de sade so especficos

    para cada pas, de acordo com seus prprios valores e

    princpios. Tais sistemas definem o contexto dos servios

    de sade, que podem ser caracterizados sob diferentes

    formas com relao integrao em rede(1).

    A reestruturao do Sistema nico de Sade (SUS),

    na perspectiva de rede de ateno(2), uma estratgia de

    superao do modo fragmentado de operar a assistncia e

    a gesto em sade. No Brasil, o modelo de ateno sade

    vem sendo continuamente ajustado para o atendimento

    integral ao usurio, com incluso e ampliao de servios.

    Para seu desenvolvimento, busca-se horizontalidade nas

    relaes entre pontos de ateno, que se encontram

    articulados, tanto para a recuperao da sade quanto

    em medidas preventivas e de promoo(3).

    Rede de ateno sade (RAS) constituda por um

    conjunto de organizaes que prestam aes e servios,

    de diferentes densidades tecnolgicas, com vistas

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    Tela 3Erdmann AL, Andrade SR, Mello ALSF, Drago LC.

    integralidade do cuidado. Essas organizaes interagem

    por meio de sistemas de apoio tcnico, logstico e de

    gesto(2,4-5).

    A operacionalizao da RAS se d pela interao de

    trs principais elementos: populao e regio de sade

    definidas, estrutura operacional e sistema lgico de

    funcionamento, determinado pelo modelo de ateno(2,4-5).

    Na rede de sade, a ateno secundria formada

    pelos servios especializados em nvel ambulatorial e

    hospitalar, com densidade tecnolgica intermediria

    entre a ateno primria e a terciria(2), historicamente

    interpretada como procedimentos de mdia complexidade.

    Esse nvel compreende servios mdicos especializados,

    de apoio diagnstico e teraputico e atendimento de

    urgncia e emergncia.

    O acesso s aes e a qualidade do cuidado oferecido

    aos cidados so princpios do sistema de sade que

    refletem as prticas realizadas. Boas prticas consistem

    em um conjunto de tcnicas, processos e atividades,

    entendidas como melhores para realizar determinada

    tarefa, consistente com os valores, objetivos, evidncias

    da promoo da sade e entendimento do ambiente no

    qual se desenvolve a prtica(6).

    No mbito dos programas e servios de sade,

    melhores prticas incluem, alm da aplicao de

    conhecimento em situaes e contextos especficos, sua

    realizao com o emprego adequado de recursos para

    o alcance de resultados. Aliada eficcia e eficincia

    tecnolgica, se junta a efetividade da prtica, com o sentido

    de contribuir para o desenvolvimento e implementao de

    solues adaptadas a problemas de sade semelhantes

    em outras situaes ou contextos(7).

    Assim, ao associar referenciais de melhores prticas

    ateno secundria, potencializam-se respostas positivas s

    demandas dos usurios em um espao estruturante da RAS.

    Com base nesse pressuposto, e considerando os

    componentes para os elementos constitutivos da rede

    de ateno(4-5), esta pesquisa norteou-se pela seguinte

    pergunta: de que modo as aes e servios no mbito da

    ateno secundria contribuem para o desenvolvimento

    de melhores prticas em sade? Busca-se, portanto,

    compreender a organizao das prticas de sade, a

    partir das interaes no nvel da ateno secundria.

    Alm disso, procura-se analisar de que modo as aes e

    servios nesse nvel de ateno vm contribuindo para o

    desenvolvimento de melhores prticas em sade.

    Mtodo

    Utilizou-se abordagem qualitativa, norteada pelo

    mtodo da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD). Os

    procedimentos da TFD tm por finalidade identificar e

    relacionar conceitos, a partir dos dados investigados,

    comparados entre si e analisados de maneira sistemtica,

    apresentando como produto um modelo terico-explicativo

    do fenmeno(8).

    O estudo foi desenvolvido em Unidades de Pronto

    Atendimento (UPA), Servio de Atendimento Mvel de

    Urgncia (SAMU), Policlnicas, Centro de Especialidades

    Odontolgicas (CEO) e Centro de Ateno Psicossocial

    (CAPS), espaos de prticas de sade que integram a

    ateno secundria, no municpio de Florianpolis, Brasil,

    bem como setor de regulao em sade da gesto municipal.

    Vale ressaltar que, nesse municpio, a gesto da ateno

    hospitalar no municipalizada, mas operada sob gesto da

    Secretaria de Estado da Sade de Santa Catarina.

    Participaram do estudo cinco gestores, quatro

    profissionais e trs usurios desses servios, que

    constituram o quinto Grupo Amostral da pesquisa

    intitulada Sistema de cuidado sade: melhores prticas

    organizacionais no contexto das polticas pblicas de sade,

    financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientfico e Tecnolgico (CNPq) Processo n558425/2008-

    9. Esse grupo se destacou pela necessidade de incluso do

    nvel de ateno secundria na abordagem do sistema de

    cuidado sade, sob a perspectiva da rede de ateno. A

    anlise dos dados relativos aos quatro primeiros grupos(9)

    amostrais levou formulao do questionamento que deu

    origem a esse quinto grupo: como se organizam as prticas

    de sade na ateno secundria e de que modo as aes e

    servios prestados nesse nvel contribuem para a melhoria

    das prticas na rede de sade?

    Os dados foram obtidos no primeiro trimestre de

    2011, por uma das autoras, por meio de entrevistas

    realizadas em encontros individuais, em locais

    definidos pelos entrevistados, seguindo-se um roteiro

    semiestruturado, cujas falas foram gravadas e transcritas.

    Para anlise seguiram-se as etapas de codificao dos

    dados, formulao das categorias, reduo, integrao e

    identificao da categoria central.

    Os cdigos foram organizados de acordo com os

    elementos que compem a modelagem da Rede de

    Ateno(4-5), adaptados para este estudo: Populao/

    Regio/Territrio, Sistema Operacional (Apoio Diagnstico,

    Assistncia Farmacutica e Logstica) e Modelo de Ateno

    (Assistencial e de Gesto). Foi utilizado o software NVivo

    8.0 para organizao e tratamento dos dados.

    O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit

    de tica em Pesquisa da Universidade Federal de Santa

    Catarina (Parecer n257/08). Aos sujeitos da pesquisa foi

    assegurado o direito de acesso aos dados e anonimato e

    solicitado o consentimento por escrito.

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    Tela 4Rev. Latino-Am. Enfermagem jan.-fev. 2013;21(Spec):[08 telas]

    Resultados

    O processo de anlise dos dados permitiu elaborar

    um modelo terico, cuja categoria central denominada

    A ateno secundria no sistema de cuidado em sade:

    estrutura e organizao das prticas na rede de ateno.

    Foram identificadas quatro categorias de anlise, que do

    suporte formulao do modelo terico: identificando a

    estrutura e organizao da ateno secundria na rede de

    ateno sade; elencando dificuldades na organizao

    das prticas de sade no nvel da ateno secundria;

    caracterizando melhores prticas no nvel da ateno

    secundria para estruturao da rede de ateno sade e

    contribuio da ateno secundria para melhores prticas

    em sade. A Figura 1 representa, esquematicamente, a

    inter-relao entre as categorias de anlise.

    Figura 1 Organizao das prticas de sade na rede de ateno, a partir das interaes no nvel da ateno

    secundria: categorias de anlise

    Policlnica/CEO

    UPA

    SAMU

    Hospital cirurgias AS

    CAPS

    Populao/Territrio

    Sistemas de Apoio

    Sistema Logstico

    Modelo Assistencial

    Modelo de Gesto

    Identificando a estrutura e organizao da

    ateno secundria na rede de ateno sade

    Elencando dificuldades na organizao das prticas de

    sade no nvel da ateno secundriaCaracterizando melhores prticas no nvel da ateno

    secundria para estruturao da rede de ateno sade

    Contribuio da ateno secundria para melhores prticas

    em sade

    A ateno secundria no sistema de cuidado em sade: estrutura e organizao das prticas na rede de ateno

    Identificando a estrutura e organizao da ateno

    secundria na rede de ateno sade

    Esta categoria compreende as subcategorias: pontos

    de ateno; estrutura e organizao das prticas de sade

    na ateno secundria.

    Os pontos de ateno em nvel secundrio so

    espaos e estruturas da RAS, constitudos pelas seguintes

    unidades assistenciais no municpio de Florianpolis:

    UPA, Policlnica, CEO, CAPS e SAMU, e seus respectivos

    recursos de prestao de servio, equipamentos, materiais

    e recursos humanos.

    A estrutura e organizao das prticas de sade

    na ateno secundria dizem respeito ao modo como

    esto estabelecidas as prticas de ateno sade,

    contemplando as polticas, princpios e normas que regem

    seu funcionamento. Incluindo rotinas de trabalho, em

    termos de quantidade e durao das consulta/dia, jornada

    de trabalho e oferta de especialidades.

    Os tipos de atendimentos realizados na ateno

    secundria compreendem consultas ambulatoriais de

    especialidades mdicas e odontolgicas, atendimentos

    de urgncia e emergncia, atendimentos em sade

    mental, certos tipos de exames laboratoriais e de imagem

    e cirurgias. A realizao dessas prticas viabilizada

    pelo uso de pronturio eletrnico, agenda informatizada

    e transporte de pessoas em situao de risco (SAMU e

    ambulncia da UPA).

    A organizao da demanda traduz o acesso dos

    usurios a esse nvel de ateno: demanda livre para

    atendimentos de urgncia, utilizando classificao de

    risco, e demanda regulada pelo Sistema de Regulao

  • www.eerp.usp.br/rlae

    Tela 5Erdmann AL, Andrade SR, Mello ALSF, Drago LC.

    do SUS (Sisreg), orientando o fluxo de atendimentos

    ambulatoriais, referenciados pela ateno bsica. Os

    servios oferecidos no nvel da ateno secundria podem

    ser contratados, conveniados e/ou, ainda, pactuados com

    outros municpios.

    Considerando o referencial sobre modelagem das

    redes de ateno sade(3-4), as trs categorias de anlise

    que seguem sero descritas segundo os elementos

    que a compem: Populao/Regio/Territrio, Sistema

    Operacional (Apoio Diagnstico, Assistncia Farmacutica

    e Logstica) e Modelo de Ateno (Assistencial e de

    Gesto).

    Elencando dificuldades na organizao das prticas

    de sade no nvel da ateno secundria

    Em relao ao elemento populao/territrio ainda

    h falta de clareza quanto ao tipo de servio prestado nos

    pontos de ateno do nvel secundrio, principalmente no

    que se refere s Unidades de Pronto Atendimento (UPA).

    No raras vezes os usurios se referem s Policlnicas

    quando, na verdade, esto se reportando ao servio

    oferecido pela UPA, utilizado por eles em situaes de

    emergncia. Destacam-se, assim, a indefinio dos

    limites de acesso UPA e a incompreenso da populao

    em relao funo e aos servios da ateno secundria,

    situados em uma mesma unidade predial.

    No sistema operacional, a inexistncia e/ou falta

    de manuteno de equipamentos e a inaplicabilidade de

    normas de segurana so apontadas como barreiras para a

    prestao de servio de melhor qualidade. No componente

    logstica, no que se refere ao transporte - a distncia

    dos servios e o inadequado sistema de transporte para

    os pontos de ateno - e ao sistema de comunicao -

    rudo interno ou via Sisreg tm dificultado o acesso da

    populao ateno secundria, gerando, muitas vezes,

    ndice significativo de absentesmo.

    As dificuldades identificadas no elemento modelo

    de ateno, no componente assistencial, dizem respeito

    direo das interaes e articulaes entre a ateno

    bsica e a ateno secundria. A falta de resolutividade

    da ateno bsica, a existncia de demanda reprimida,

    a restrio de acesso, a falta de agilidade aos servios

    de referncia, a indefinio de fluxos de referncia e

    contrarreferncia e a no implementao de linhas de

    cuidado apresentam-se como limitaes de um servio

    em rede, comprometendo o seu funcionamento. J no

    componente gesto, foram apontados, como fatores que

    dificultam a organizao das prticas de sade, a carncia

    de qualificao e de capacitao dos profissionais para

    atuar nesse nvel de ateno; o incipiente processo de

    planejamento dos servios e de rotinas de trabalho; a

    escassez de recursos financeiros para ateno secundria

    e a inadequao da infraestrutura de alguns servios.

    Caracterizando melhores prticas no nvel da ateno

    secundria para estruturao da rede de ateno

    sade

    Esta categoria descreve as prticas eleitas como as

    melhores pelos entrevistados, j implementadas ou em

    vias de implementao.

    As boas prticas no elemento populao/territrio

    foram interpretadas como o fornecimento de atendimento

    de boa qualidade: consultas com horrio agendado,

    profissionais atenciosos e garantia de retorno em alguns

    dos pontos de ateno.

    No elemento sistema operacional, componente

    logstico, a utilizao do sistema de informao (pronturio

    eletrnico e Sisreg) considerada uma boa prtica, por

    possibilitar o registro de procedimentos e informaes

    eletronicamente e produzir a continuidade do cuidado. O

    transporte de pacientes em situao de risco pelo SAMU

    tambm foi citado como uma boa prtica.

    Os entrevistados apontam as consultas e os

    atendimentos realizados na ateno secundria ou de

    suporte ateno primria como boa prtica, no elemento

    modelo de ateno, componente assistencial. Apontam

    tambm que uma ateno primria resolutiva traz

    consequncias positivas para toda a rede, j que diminui

    a demanda nos demais nveis de ateno. Sistemas de

    referncia e contrarreferncia organizados e a definio de

    pontos de contato entre a ateno primria e secundria

    favorecem a integrao e a troca de experincia entre

    profissionais. Essa interao facilita o planejamento do

    acesso e os fluxos de atendimento aos usurios, em

    conjunto com a ateno primria.

    Servios bem estruturados e organizados como, por

    exemplo, os da UPA, diminuem a demanda na emergncia

    hospitalar e facilitam o encaminhamento para a ateno

    terciria. A iniciativa de utilizao de um mtodo comum

    de classificao de risco pelos pontos de ateno, sob

    gesto municipal e estadual, foi caracterizada tambm

    como boa prtica.

    O processo de planejamento das aes e servios em

    conjunto com as diretorias do nvel central da secretaria

    municipal, quer na definio de prazos quer na avaliao das

    aes em busca de melhoria contnua, foi o elemento de maior

    destaque na descrio de melhor prtica de gesto. Ainda

    no componente gesto, os entrevistados assinalam como

    direcionamento para melhores prticas a oferta de servios

    em maior nvel de densidade tecnolgica, o estabelecimento

    de normas de funcionamento da UPA e o cumprimento das

    diretrizes ministeriais pelo SAMU municipal.

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    Tela 6Rev. Latino-Am. Enfermagem jan.-fev. 2013;21(Spec):[08 telas]

    Contribuio da ateno secundria para melhores

    prticas em sade

    Nesta categoria so apresentadas as perspectivas

    dos entrevistados para a melhoria contnua na ateno

    secundria, no contexto da modelagem de redes de

    ateno sade. Nesse sentido, orientar e esclarecer a

    populao quanto ao funcionamento da rede, especificando

    a funo dos servios prestados em cada nvel de ateno,

    so contribuies descritas para o elemento populao/

    territrio. A oferta suficiente e de qualidade dos servios

    em nvel secundrio tambm contribui para a promoo

    da integralidade na rede de ateno.

    As contribuies do componente logstico do elemento

    sistema operacional, destacadas pelos entrevistados,

    incluem o estabelecimento de fluxos de acesso bem

    delineados e investimentos para a capacitao dos

    profissionais e para a implantao de uma central de

    regulao de leitos.

    No modelo de ateno, componente assistencial, as

    contribuies desse nvel para melhores prticas na rede

    elencadas foram: articulao interna (entre os diferentes

    pontos de ateno nesse mesmo nvel), articulao

    externa (entre a ateno secundria e os demais

    nveis de ateno) e ampliao do acesso a consultas e

    procedimentos especializados. No componente gesto,

    teve nfase a valorizao do processo de planejamento

    e de avaliao contnua, com a definio de objetivos

    e metas e o estabelecimento de protocolos. Foram

    mencionadas tambm as potenciais contribuies

    advindas do adensamento das estruturas componentes

    da rede de ateno, da educao permanente em sade

    e do debate sobre o papel da ateno secundria na

    rede. A Figura 2 sintetiza as dificuldades, as prticas

    consideradas melhores e as contribuies para melhores

    prticas, comparativamente aos elementos componentes

    da modelagem para a RAS.

    Figura 2 - Dificuldades, melhores prticas e contribuies da ateno secundria, segundo os elementos componentes

    da modelagem para a RAS

    Componentes para modelagem da RAS

    Dificuldades Melhores prticasContribuies

    para a RAS

    Populao/territrio

    Indefinio dos limites de acesso dos pontos de atenoIncompreenso da funo e dos servios da ateno secundria

    Consultas com horrio agendado,ateno profissionalGarantia de retorno em alguns dos pontos de aten.

    Esclarecimento da populao quanto ao funcionamento da RASPromoo da integralidade na RAS

    Sistema operacional

    Inexistncia e/ou falta de manuteno de equipamentosInaplicabilidade de normas de seguranaInadequado sistema de transporteRudos no sistema de comunicao

    Uso de pronturio eletrnicoUso do SisregTransporte de pacientes em situao de risco

    Fluxos de acesso bem delineadosInvestimentos para educao permanente e implantao de central de leitos

    Modelo de ateno

    Componente assistencial

    Falta de resolutividade da ateno bsica, demanda reprimidaRestrio de acessoIndefinio de fluxos de referncia e contrarrefernciaNo implementao de linhas de cuidado

    Ateno primria resolutivaSistemas de referncia e contrarreferncia organizadosDefinio de pontos de contato entre a ateno primria e secundriaMtodo comum de classificao de risco

    Articulao internaArticulao externaAmpliao do acesso a consultas e procedimentos especializados

    Modelo de asteno

    Componente de gesto

    Carncia de qualificao e de capacitao dos profissionais;Incipiente processo de planejamento dos servios e de rotinas de trabalho;Escassez de recursos financeiros;Inadequao da infraestrutura.

    Processo de planejamento das aes e servios em conjunto com as diretorias da Secretaria MunicipalOferta de servios num maior nvel de densidade tecnolgicaEstabelecimento de normas de funcionamentoCumprimento das diretrizes

    Valorizao do processo de planejamento e de avaliao contnua

    Discusso

    O acesso aos servios de ateno secundria tem

    sido apontado como um dos entraves para a efetivao

    da integralidade no SUS. Esse nvel de ateno

    caracterizado como o gargalo na efetivao da RAS(10-11).

    O mapeamento da rede de servios de sade, por gestores

    e profissionais da sade, constitui o primeiro passo para

    o estabelecimento de referncia para populao adscrita,

    seguida pela definio de critrios de fluxos e contrafluxos

    de atendimento. Na modelagem da RAS, esses elementos

    correspondem aos componentes populao/territrio e

    sistema operacional(3-5) que representam a definio dos

    limites de acesso e fluxos aos pontos de ateno.

    Especialmente no nvel da ateno secundria, o

    mapeamento e caracterizao da rede de servios de

    sade so teis aos gestores municipais e regionais

    para melhor organizao da RAS(10,12). O princpio da

    integralidade, embora parcialmente abordado pelos

    entrevistados, merece um olhar especial, visto que aes

  • www.eerp.usp.br/rlae

    Tela 7Erdmann AL, Andrade SR, Mello ALSF, Drago LC.

    articuladas, tanto no mbito da poltica de sade quanto da

    organizao dos servios e da reorganizao do processo

    de trabalho, em todos os nveis do sistema de sade,

    esto intrinsecamente vinculadas operacionalidade da

    ateno secundria na RAS(11).

    A falta de integrao entre diferentes pontos de

    ateno, a insuficincia de fluxos formais para ateno

    terciria e a desarticulao das polticas que normatizam

    a ateno secundria so entraves garantia do cuidado

    integral, tornando incompleto esse processo na rede(13).

    Nesta pesquisa, os entrevistados reportaram a importncia

    do estabelecimento de mecanismos comuns de referncia

    e contrarreferncia, como componente assistencial do

    modelo de ateno(4-5), seguindo um mesmo padro de

    classificao de risco nas instituies de gesto municipal

    e estadual. A classificao de risco em servios de

    pronto atendimento objetiva atender, prioritariamente,

    o paciente em maior risco ou agravo de sade ou nvel

    de sofrimento, segundo a gravidade clnica, ao invs de

    atender a demanda por ordem de chegada(10,14).

    As principais estratgias para a integrao dos

    nveis assistenciais incluem a criao e fortalecimento

    de estruturas regulatrias no interior das Secretarias

    Municipais de Sade, com descentralizao de funes em

    nvel local, organizao dos fluxos, implantao de sistema

    de informao com pronturio eletrnico e ampliao da

    oferta de servios especializados municipais(11,13). Em um

    sistema integrado de sade, o fornecimento dos servios

    especializados deve se dar no lugar mais apropriado,

    preferencialmente em ambientes extra-hospitalares(1).

    Um dos principais instrumentos para integrar ateno

    primria e secundria, em Florianpolis, foi a implantao

    de centrais informatizadas de regulao e marcao de

    procedimentos desde os centros de sade Sisreg(13),

    corroborado pelos entrevistados desta pesquisa. Outra

    estratgia que ampliou o acesso ateno especializada

    e integrao da rede municipal foi a criao de servios

    com base territorializada. Em Florianpolis, a criao de

    estruturas de regulao da ateno especializada recente,

    e foi impulsionada pela expanso de cobertura da Estratgia

    Sade da Famlia (ESF) e pela adeso ao Pacto pela Sade,

    que delimitou responsabilidades em ateno secundria(13).

    O aumento da resolubilidade na ateno primria

    depende do acesso a consultas e procedimentos disponveis

    na ateno secundria. A boa relao entre a ateno

    primria e secundria um dos fatores condicionantes

    dessa resolutividade(11), o que foi possvel identificar no

    presente estudo. Investimentos em ateno secundria

    potencializam a resolubilidade da ateno primria. Por

    outro lado, a baixa resolubilidade da ateno primria

    aumenta a demanda para a ateno secundria(13), o que

    tambm foi relatado pelos entrevistados desta pesquisa.

    Ao mesmo tempo, relataram a necessidade de a ateno

    secundria atender devidamente as situaes de urgncia,

    para que a ateno primria possa se voltar para as suas

    demandas programadas.

    Uma hierarquizao verticalizada do sistema de sade

    engessa os fluxos de utilizao dos servios. A organizao

    do sistema em rede, com relaes horizontais, a partir da

    lgica das necessidades dos usurios(12), constitui uma boa

    prtica ao inserir os servios de ateno secundria como

    ponto de ateno no sistema(4-5). Deve-se considerar que

    a ateno secundria concentra parcela importante dos

    recursos necessrios para garantir a integralidade da ateno

    sade. Entretanto, na realidade dos entrevistados, o

    escasso financiamento, a restrita incorporao tecnolgica,

    a falta de manuteno dos equipamentos existentes,

    profissionais pouco capacitados, para atuar nesse nvel de

    ateno, so elementos que necessitam enfrentamento por

    parte dos gestores do SUS. A superao desses desafios,

    que no se restringem apenas ao mbito econmico,

    qualifica a insero da ateno secundria na rede e

    contribui para melhores prticas em sade.

    Nesse sentido, a definio adotada de boas prticas,

    como o conjunto de tcnicas, processos e atividades

    entendidas como melhores para realizar determinada

    tarefa(6-7), permitem relacionar as prticas descritas pelos

    entrevistados, considerando cada um desses elementos.

    Assim, a realidade deste estudo mostra que o conjunto

    de tcnicas no nvel da ateno secundria envolve

    o uso de pronturio eletrnico, sistema de regulao

    em funcionamento e classificao de risco comum aos

    servios de sade que compem a rede. A oferta de

    consultas com horrio agendado e em maior nvel de

    densidade tecnolgica constitui boa prtica no mbito das

    atividades assistenciais, assim como o estabelecimento

    de normas de funcionamento e cumprimento de diretrizes

    organizacionais so assim consideradas nas atividades de

    gesto. Finalmente, em relao aos processos incluem-se

    os fluxos de referncia e contrarreferncia, garantia de

    retorno, transporte eficiente de pacientes, planejamento

    das aes e servios e a resolubilidade na ateno primria.

    Consideraes finais

    Este estudo contribui para a compreenso das prticas

    em sade no nvel da ateno secundria, propondo

    analis-las sob a perspectiva da modelagem de redes

    difundida pela Organizao Pan-Americana de Sade. Alm

    de contribuir para a operacionalidade da poltica de rede

    em sade, avana na produo de conhecimento nesse

    mbito especfico da ateno, ainda escassa na literatura.

  • www.eerp.usp.br/rlae

    Tela 8Rev. Latino-Am. Enfermagem jan.-fev. 2013;21(Spec):[08 telas]

    Como citar este artigo:

    Erdmann AL, Andrade SR, Mello ALSF, Drago LC. A ateno secundria em sade: melhores prticas na rede de

    servios. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. jan.-fev. 2013 [acesso em: ___ ___ ___];21(Spec):[08 telas].

    Disponvel em: ______________________________________

    Recebido: 29.7.2012

    Aceito: 1.10.2012

    A ateno secundria desempenha papel

    imprescindvel na resolubilidade e integralidade do

    cuidado, com ampliao do acesso a consultas e

    procedimentos especializados, articulando os pontos da

    RAS que tradicionalmente encontravam-se distantes.

    A identificao de dificuldades nos elementos que

    compem a modelagem da RAS permitiu localizar os atuais

    problemas do nvel da ateno secundria em relao

    populao/territrio, sistema operacional e modelo de

    ateno, que constituem desafios a serem superados.

    H que se aprimorar ferramentas de planejamento,

    estabelecer protocolos e melhorar a capacidade dos

    servios, em termos de acesso e variabilidade de oferta.

    Na mesma linha, foi possvel apresentar uma srie de

    prticas que consolidam a melhoria contnua do sistema

    de cuidado sade, com foco nesse nvel de ateno.

    O estabelecimento de fluxos e contrafluxos organiza o

    caminhar do usurio pela rede, proporcionando acesso e

    garantia de cuidados contnuos. Os servios de urgncia e

    emergncia, quando bem articulados na rede, fortalecem

    a ao da ateno primria. Os sistemas de informao

    permitem melhor integrao dos servios.

    A organizao das prticas de sade, a partir das

    interaes no nvel da ateno secundria mostra-se

    em processo de consolidao e vem contribuindo para o

    desenvolvimento de melhores prticas em sade no local

    estudado.

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