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Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA ANO II - NÚMERO 3 - JUN/JUL/AGO'2005 01 ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN 07 NANOTECNOLOGIA: A ÚLTIMA FRONTEIRA TECNOLÓGICA MÁRIO RICARDO GONGORA RUBIO E ANTÔNIO CARLOS SEABRA 14 A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E A AGENDA ESQUECIDA RICARDO CORRÊA COELHO 18 PARCERIAS EM EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL JOAQUIM RODRIGUES 22 E-GOVERNMENT COMO FERRAMENTA DE COMBATE À CORRUPÇÃO NORBERTO A. TORRES 28 REPENSANDO A BIOÉTICA GLÁUCIA RITA TITTANEGRO 31 A GESTÃO PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL TARCILA REIS URSINI E GIULIANA ORTEGA BRUNO 34 PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS PARA TRATAMENTO DE ÁGUA E EFLUENTES JOSÉ CARLOS MIERZWA 38 PRODUÇÃO MAIS LIMPA GARANTE SUSTENTABILIDADE MARIO HIROSE 42 NORMAS ISO 9000 EM EMPRESAS DE EMBALAGENS PET MILENA YUMI RAMOS 48 ATITUDE COMUNICATIVA DAVI MACHADO 51 A ANSIEDADE DO CONSUMIDOR MODERNO NUNO MANOEL MARTINS DIAS FOUTO 53 A TECNOLOGIA COMO MEIO DE DIFUSÃO DA CULTURA E DA ARTE MOACYR GODOY MOREIRA

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Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIAANO II - NÚMERO 3 - JUN/JUL/AGO'2005

01 ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN

07 NANOTECNOLOGIA:A ÚLTIMA FRONTEIRA TECNOLÓGICAMÁRIO RICARDO GONGORA RUBIO E ANTÔNIO CARLOS SEABRA

14 A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIORE A AGENDA ESQUECIDA RICARDO CORRÊA COELHO

18 PARCERIAS EM EDUCAÇÃO CORPORATIVANO BRASIL JOAQUIM RODRIGUES

22 E-GOVERNMENT COMO FERRAMENTADE COMBATE À CORRUPÇÃONORBERTO A. TORRES

28 REPENSANDO A BIOÉTICAGLÁUCIA RITA TITTANEGRO

31 A GESTÃO PARA A RESPONSABILIDADESOCIAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELTARCILA REIS URSINI E GIULIANA ORTEGA BRUNO

34 PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS PARATRATAMENTO DE ÁGUA E EFLUENTESJOSÉ CARLOS MIERZWA

38 PRODUÇÃO MAIS LIMPA GARANTESUSTENTABILIDADE MARIO HIROSE

42 NORMAS ISO 9000 EM EMPRESAS DEEMBALAGENS PET MILENA YUMI RAMOS

48 ATITUDE COMUNICATIVADAVI MACHADO

51 A ANSIEDADE DO CONSUMIDOR MODERNONUNO MANOEL MARTINS DIAS FOUTO

53 A TECNOLOGIA COMO MEIODE DIFUSÃO DA CULTURAE DA ARTE MOACYR GODOY MOREIRA

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 1

Se, como empresário e homem ligado à tecnologia, grangeou grande sucesso, como colecionador de livros,

amigo e incentivador dos intelectuais e artistas brasileiros,principalmente do século XX,ele praticamente não

encontra rival em tempo algum no Brasil.Além de ter criado a maior biblioteca particular do País – com mais de

cem mil exemplares –, talvez se lhe deva a maior contribuição que a Universidade de São Paulo (USP) já recebeu

de um particular: toda a coleção de livros raros que constituem a sua brasiliana pessoal.E que ele, juntamente com

sua esposa,doaram à USP.Filho de imigrantes russos,este brasileiro (atualmente membro do Conselho Diretivo

da Fundação Vitae) desfrutou a amizade de Carlos Drummond de Andrade,de Érico Veríssimo,de Paulo Duarte,

já falecidos, mas também de José Saramago, prêmio Nobel de Literatura. Na entrevista que se segue, concedi-

da a Enio Squeff para a revista da FAT, fala de sua trajetória, principalmente pelo intrincado e apaixonante mis-

ter de garimpeiro de livros raros, à qual junta suas opiniões de homem público e de cidadão.

ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN

O bibliófilo José Mindlin, 91 anos, é uma das lendas vivas do Brasil. Advogado, empresário desucesso – foi durante anos o condutor da Metal Leve, uma das grandes empresas de ponta queo Brasil já teve na área de metalurgia –, mas sobretudo homem ligado à cultura, José Mindliné um caso raro, inclusive, no mundo.

COM A PALAVRA,JOSÉ MINDLIN,O BIBLIÓFILO DO BRASIL.

Por Enio Squeff

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2 JUN/JUL/AGO' 2005

Comecemos por uma de suas grandes

paixões: o senhor tem ido a concertos?

Sim, tenho ido, principalmente à

Sala São Paulo,aos concertos da So-

ciedade de Cultura Artística.

Quando é que começou esse amorpelos livros, já que o senhor é tidocomo o maior bibliófilo do Brasil emtodos os tempos?

Cresci num ambiente eminente-

mente cultural. Meu pai gostava

de artes plásticas e tinha uma

biblioteca, não de livros raros, mas

de leitura corrente. Lia-se muito

em nossa casa.

De que origem eram seus pais?

De origem russa. Vieram para o

Brasil em 1910. Meu pai e minha

mãe saíram da Rússia em 1905. O

interessante é que,na Rússia,eram

apenas amigos, e saíram do país

por caminhos diferentes, perde-

ram-se de vista, para se encontra-

rem em Nova York, em 1910. Foi

quando vieram para o Brasil.Minha

mãe tinha uns irmãos em São Paulo.

Daí que todos nascemos e cresce-

mos aqui em São Paulo. Meu pai

era um dos melhores dentistas do

seu tempo na cidade.Os dois apren-

deram muito rapidamente o por-

tuguês,tanto que a nossa língua em

casa era o português.Meus pais fala-

vam russo apenas entre si. Só que

o irmão de papai veio para São

Paulo com os filhos em 1919, e

então eles aprenderam o português

conosco e nós o russo, com eles.

No mais, tivemos uma governanta

russa, que falava francês perfeita-

mente,de modo que o francês ficou

sendo a nossa segunda língua.

Quanto aos livros, acho que herdei

a paixão que o papai tinha pelas

artes plásticas, só que dirigida

também para os livros. Assim, já

aos 13 anos comecei a formar uma

biblioteca.Mas esse não era o plano.

Não pensava em formar qualquer

biblioteca.Comecei,porém,a ler e

a biblioteca resultou de leitura, ou

seja, ela não foi planejada. Aliás, o

acaso teve um papel muito impor-

tante na minha vida, porque como

eu falava muito, diziam que eu ia

ser advogado. Bom, acabei sendo

mesmo advogado – não que eu ti-

vesse planejado –, mas advoguei

durante 15 anos e aí me tornei em-

presário,de novo por acaso.Nunca

pensei também em ser empresá-

rio, assim como nunca me imagi-

nei secretário de Cultura, como

aconteceu por um curto período.

Mas por que o senhor nunca pensouem ser empresário?

Porque clientes meus formaram

uma empresa, preparei a docu-

mentação e, no fim, acabei aderin-

do ao empreendimento.

Que clientes eram esses?

Eram refugiados da Alemanha e da

Áustria, do tempo do nazismo.

Eles chegaram em 1936. Eu era

advogado deles.Como tinham uma

oficina de recondicionadores de

motores e aí veio a guerra, come-

çaram a faltar peças. Então, eles

resolveram fabricá-las. Na época,

eles tinham o apoio da Klabin,que,

no entanto,à última hora desistiu do

negócio.E como eu tinha redigido

uma opção para uma firma alemã

especializada, que também desis-

tiu, porque seus diretores não ti-

nham conseguido o capital, pen-

sei:“Isto aqui é uma coisa tão boa,

talvez eu consiga entrar no negó-

cio”. E já que o problema era o

capital, falei com um amigo meu,

que entrou com o capital e eu aca-

bei entrando no grupo como fiador

do meu amigo para os meus clien-

tes e dos clientes para o meu amigo,

tornando-me assim sócio da empresa.

Desde então o senhor a dirigiu?

Éramos um grupo de seis,cada um

fazia uma coisa, mas sempre em

harmonia. Não havia um presi-

dente,pelo menos não naquela oca-

sião. A empresa começou muito

pequena, mas foi crescendo.

E o segundo acaso que o senhormencionou e que foi ser secretáriode Cultura, como aconteceu?

O então governador era Paulo Egydio

Martins, que era meu amigo. Ele

veio a minha casa e me convidou

para ser seu secretário de Cultura,

Ciência e Tecnologia. Respondi-

lhe que não queria participar,

porque era um governo nomeado

pela ditadura militar e eu era contra.

O senhor, ao que se sabe, já tinhaprotegido um correspondente francêsdo Le Monde, que estava sendo per-seguido pela polícia da ditadura.Essa história é verdadeira?

É verdadeira, sim. Ele foi me entre-

vistar na Metal Leve e da portaria

vieram me avisar que havia agen-

tes do DOPS para prendê-lo.

ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN

Já aos 13 anoscomecei a formaruma biblioteca.

Mas esse não era oplano. Não pensavaem formar qualquer

biblioteca.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 3

O Fábio Comparato era, na época,

diretor da empresa. Eu o chamei e

lhe disse que nós não podíamos

admitir que um jornalista fosse

preso dentro da nossa empresa.

Então fizemos com que ele saísse

por um outro lado da Metal Leve,

de modo que o pessoal do DOPS

ficou umas três ou quatro horas

esperando. Vivia-se uma época

muito difícil no Brasil. Lembro-me

de que houve também um repór-

ter de um outro jornal francês, o

Le Figaro, que começou a conver-

sa sobre a questão de tortura. Mas

aí eu lhe disse: “Olha, vamos ser

claros, existe tortura sim no Brasil,

mas ela não tem a aprovação po-

pular. Nós estamos numa ditadura

sim e há um grupo radical que pra-

tica a tortura. Não vou negar que

exista, mas insisto que não tem

apoio popular. Além disso, esse

negócio de tortura não é uma in-

venção brasileira. Os senhores na

França e na Argélia tiveram muitas

experiências sobre isso”. Aí ele

parou por um momento e disse:“O

senhor tem razão, não vamos falar

mais nisso”. E a partir de então a

entrevista correu sobre temas gerais.

Ao longo desses anos, o senhordesfrutou a amizade de muitos inte-lectuais brasileiros, que hoje sãoreverenciados, tais como o poetaCarlos Drummond de Andrade. Comoo senhor o conheceu?

Conheci o Carlos Drummond pri-

meiro por correspondência, quan-

do fiz um fac-símile da revista de

Antropofagia, publicada pelo pes-

soal da Semana de Arte Moderna

de 1922. Foi como parte das co-

memorações dos 25 anos da Metal

Leve. Enviei um exemplar para o

Drummond e ele então me escre-

veu pedindo que enviasse um

exemplar para o Pedro Nava,o que

naturalmente eu fiz. Mais tarde

comecei a encontrá-los, a ele e ao

Pedro Nava,na casa do Plínio Doyle,

que fazia um encontro semanal de

intelectuais no Rio, denominado

“Sabadóyle”. Ou seja, no sábado a

gente sempre ia para lá. Era um

lugar interessante porque reunia

intelectuais com opiniões bas-

tante conflitantes.

Quem as freqüentava?

Havia desde gente favorável aos

militares até pessoal de esquerda,

mas política era assunto proibido.

Só se falava de literatura, de coisas

amenas. Com tudo isso, quando o

governador Paulo Egydio Martins

me convidou para ser secretário

de Cultura, Ciência e Tecnologia,

que era como a secretaria se cha-

mava na época, eu disse que acha-

va que não dava para aceitar. Mas

ele insistiu: “O presidente Geisel

quer promover a abertura, já está

havendo um começo”. Então con-

sultei uns amigos, entre eles o

Antonio Cândido, o Décio de Al-

meida Prado,o Celso Lafer,a Renina

Katz, o Paulo Emílio Gomes e eles

me disseram que eu devia aceitar.

Se quem queria a abertura se re-

cusasse a assumir,o cargo acabaria

sendo ocupado por alguém que

não quereria a abertura. Fiquei no

cargo por quase um ano.

Mas, e os livros?

É na garimpagem de livros que o

acaso entra numerosas vezes. Por

exemplo, eu e minha mulher

fomos certa vez ao Chile,aos lagos

do Sul e tivemos de comprar as

passagens que ficariam prontas à

tarde,naquele mesmo dia. Ao lado

da agência havia uma livraria que

tinha uma porta de vidro e estava

fechada.Quando mais tarde fui bus-

car os bilhetes, avistei uma pessoa

dentro da livraria e me dirigi a ela

perguntando se tinha coisas sobre

o Brasil. Ela respondeu que não,

que era uma livraria de literatura

francesa, de teatro, mas enquanto

conversava, vi no alto da estante a

gramática guarani do Montoya. Aí

eu disse: “Aquilo é de interesse

brasileiro, publicado pelo Antônio

Augusto de Varnhagen,visconde de

Porto Seguro”. A pessoa respon-

deu que, de fato, aquele era um

resto da biblioteca de um diplo-

mata brasileiro, um tal de Porto

Seguro. Aí eu perguntei: “Mas onde

estão esses livros?” Ela respondeu:

“Estão aqui”. É claro que no dia

seguinte eu saí com uma pilha de

livros. Explica-se. O Varnhagen era

casado com uma chilena e morreu

em Viena. A biblioteca dele foi para

o Itamaraty,mas o que ele tinha no

escritório, provas que não foram

publicadas, uma série de edições

raras, foram para o Chile,em 1878.

E não é que quase cem anos

depois eu resgato isso?

E o que havia nessas edições?

Havia um exemplar da sua

História do Brasil feita com uma

porção de anotações que não cons-

ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN

Se quem queria aabertura serecusasse a

assumir, o cargoacabaria sendo

ocupado poralguém que não

quereria a abertura.

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4 JUN/JUL/AGO' 2005

tam das outras edições. Eram pu-

blicações raras – ele costumava

fazer um folheto, anos depois fazia

o número 2, depois o número 3,

assim por diante,e então consegui

encontrar tudo isso por puro acaso.

É, mas isso só aconteceu porque osenhor tem olho de garimpeiro...

Tenho, mas eu jamais poderia

imaginar que iria encontrar essas

raridades. A gramática do Anchi-

eta, sobre o tupi-guarani, eu tam-

bém a comprei por acaso. Recebi,

um dia, um telegrama de um

livreiro amigo, holandês, me ofere-

cendo preferência na aquisição.

Isso porque da primeira edição da

gramática de Anchieta só se conhe-

cem dez ou doze exemplares,todos

em grandes bibliotecas. Respondi

que infelizmente eu não poderia

recusar – digo infelizmente,porque

era meio caro, mas não podia re-

cusar e comprei. Então veio pelo

correio. As histórias são muitas e

até hoje me acontecem coisas do

tipo. Recentemente, por exemplo,

recebi da livraria Cosmos uma

relação de documentos da Guerra

Cisplatina, a luta entre Portugal e

Espanha pelo domínio da Colônia

de Sacramento, que uma hora era

de Portugal, outra hora era da

Espanha.Na verdade,era uma docu-

mentação que pertencia a um por-

tuguês que morava no Uruguai,

mas ele queria o pagamento à

vista. Não tive dúvidas, fui para

Montevidéu e no último momento

soube que os documentos esta-

vam encadernados.Quando cheguei

lá eram 180 volumes. Voltei com

quatro malas, 92 quilos de peso.

Era uma documentação original

das autoridades portuguesas,

brasileiras e algumas argentinas.

Porque a guerra começou entre

Espanha e Portugal e depois entre

Brasil e as Províncias Cisplatinas e,

na verdade, foi a certidão de nasci-

mento do Uruguai. Como não

havia arquivo naquela época, os

descendentes de um dos protago-

nistas, que era tenente, venderam

para o tal português chamado

Assunção,que era um grande cole-

cionador e que tinha uma bibliote-

ca fantástica.Mas ele foi vendendo

as suas preciosidades e, quando

estive lá, ele já tinha 95 anos e

estava de cama.

E de Portugal, o que é que o senhortem?

Portugal e Inglaterra são os

lugares de que tenho mais coisas.

Tenho a primeira edição de

Camões, uma camoniana com

uma série de estudos sobre Os

Lusíadas. Há uma variante da

primeira edição de Os Lusíadas

que tem um pelicano à direita do

leitor, outra que está à esquerda.

Enfim, uma difere da outra com

pequenas variantes, mas a edição

do pelicano à esquerda do leitor é

muito mais rara que a primeira.

Dela se conhecem 18 exemplares.

Eu acabei tendo as duas edições.

Uma comprei em Portugal e a

outra adquiri de uma biblioteca

particular. Procuro ter bons exem-

plares do que foi o livro desde o

século XV até o século XX.

Possuo, por exemplo, três obras

publicadas no século XV – uma é

a primeira edição ilustrada de

Petrarca de 1488. Ademais, tenho

uma crônica de Nurenberg que é

uma história universal, publicada

em 1493 e foi o livro mais ilustra-

do até a sua saída – tem 1.800 ilus-

trações, é um grande livro que

serve à história do mundo.Tenho

dois gravadores deste período que

foram dois mestres em seu tempo.

Os que os publicaram foram

grandes professores alemães.

Detalhe:entre 1455,quando saiu a

Bíblia de Gutenberg, e 1500 foram

publicados mais de 35 mil livros

para uma população da Europa

ocidental que não chegava a 100

milhões de habitantes. Ora, neste

tempo as tiragens médias eram de

300 exemplares, já que as popula-

ções eram analfabetas na sua maio-

ria, mas foi uma revolução, com-

parada à revolução da informática.

O senhor tem muitos manuscritos?

Tenho alguns.Um que é o Livro de

Horas de 1480, escrito em perga-

minho,que é um dos exemplos do

que foi o livro. Mas, enfim, com a

invenção dos tipógrafos, com o

Gutenberg iniciando a impressão do

livro,abriram-se novos horizontes.

E com a Metal Leve, como foi a suaexperiência?

Procuramos inovar sob todos os

pontos de vista, buscando tec-

nologia própria, sem nunca que-

rer substituir a tecnologia estran-

geira, como aconteceu com a Lei

de Informática – com ela nós aca-

bamos parando no tempo. E isso

não se deve fazer nunca.

Procuro ter bonsexemplares do quefoi o livro desde oséculo XV até o

século XX.

ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 5

o momento em que o país assiste perplexo à crise política, em que

instituições e valores éticos e morais são colocadas à prova, é mais

que necessário acreditar que a mudança desse quadro é possível.

É preciso recuperar os valores éticos e morais que norteiam as nossas instituições.

É preciso tornar as instituições fortes o suficiente para resistir à tentação e

não se desviarem dos propósitos para os quais tenham sido criadas, pois é

através do fortalecimento das instituições que se pode alcançar e manter a

solidez da democracia.

A Revista da FAT tem orientado a sua linha editorial visando estimular o

debate sobre assuntos que afetam o dia-a-dia das nossas instituições, por meio

da divulgação de matérias,muitas das quais baseadas em ações desenvolvidas

pela FAT através de cursos, pesquisas e prestação de serviços de assessoria.

Nesta edição, os assuntos são apresentados em três grandes blocos:

tecnologia, responsabilidade social e ética & educação.

Em tecnologia abordamos, entre outros, assuntos relacionados à nanotec-

nologia; ao e-government como ferramenta de combate à corrupção e às

perspectivas tecnológicas para tratamento de águas e efluentes.

Na questão da responsabilidade social, os temas estão relacionados à gestão

para a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável, à bioética e

à Produção Mais Limpa.

No eixo educação, tratamos da reforma do ensino superior e da educação

corporativa.

Não poderíamos deixar de mencionar

a excelente entrevista com José

Mindlin, com ênfase na sua grande

paixão,os livros.

A FAT mais uma vez procura, por meio

de sua revista, levar informações ricas

e atualizadas, fruto do trabalho de pro-

fissionais que com ela e para ela atuam,

produzindo conhecimentos como forma

de contribuição ao desenvolvimento social,

tecnológico e econômico do Estado de

São Paulo e do Brasil. Estamos procu-

rando fazer a nossa parte.

Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA

EDITORIAL

N

CÉSAR [email protected]

Diretor-presidente da FAT, professor da Fatec São Pauloe consultor na área de gestão empresarial.

EXPEDIENTEDIRETORIA EXECUTIVA

Diretor PresidenteProf. César Silva

Diretor AdministrativoProf. Francisco Scarfoni Filho

Diretor TécnicoProf. Luiz Roberto Vannucci

CONSELHO DE CURADORESProf. Dirceu D’Alkimin TellesProf. Francisco Antonio Pinto ÉboliProf. Almério Melquiades de Araújo Profa. Yolanda SilvestreProf. Victor SonnenbergProfa. Silvia Regina LuccaProf. Remo Alberto FevoriniProfa. Rosana Maria Siqueira

Presidente do Conselho de CuradoresProf. Kokei Uehara----------------------------------------------------------CONSELHO EDITORIALProf. Dr. Angelo Albiero Filho (CIESP)Prof. Dr. Claudio Felisoni de Angelo (FIA-USP)Prof. Dr. Dirceu D´Alkmin Telles (FATEC-SP)Enio SqueffProf. Dr. Guilherme Ary Plonski (IPT)Prof. Dr. Ivanildo Hespanhol (POLI-USP)Prof. Luiz Carlos Moraes Rego (FGV)Prof. Dra. Marisa Eboli (FEA-USP)Marcus Vinicius Sinval (Sebrae-SP)Ricardo Young (UniEthos)Prof. Dr. Roberto Sbragia (PGT/USP)----------------------------------------------------------Editor/ Jornalista ResponsávelLuiz da Silva de Nogueira Mtb 15.61211 9639-6850

PublicidadePolimidia - tel.: 11 [email protected]

Revisão de textos Hebe Ester [email protected]

Projeto Gráfico Ronie Prado

Direção de Arte e Produção GráficaTelma Cavalieri Design [email protected]

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Ilustrações Telma Cavalieri, Walkiria Barone

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Tiragem 2.000 exemplares----------------------------------------------------------Produção e ComprasAlecsanda A. Moraes [email protected]

JurídicoDrª Ana Flávia [email protected]

AssinaturasNagila de Carvalho [email protected] - tel:11-3313 1200---------------------------------------------------------Revista da FAT - Publicação TRIMESTRALda Fundação de Apoio à TecnologiaAno II - Número 3 - JUN/JUL/AGO’2005ISSN - 1807-9687Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom RetiroSão Paulo - SP - CEP 01123-001Telefones: (11) [email protected] os direitos reservados. É proibida a reproduçãodo conteúdo desta revista em qualquer meio decomunicação, eletrônico ou impresso, sem autorizaçãoprévia. Os conceitos emitidos em artigos assinadossão de exclusiva responsabilidade dos autores.

A Revista da FAT tem o formato fechado: 208 x 273 mm, formato aberto: 416 x 273 mm.Número de páginas: 48, incluindo capa. Acabamento: lombada canoa, verniz de máquina capa/contra-capa.Papel do miolo: Couché opaco 70 g, capa: Couché opaco 150 g. Impressão: Offset, 4x4 cores.

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Publicação da FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIAANO II - NÚMERO 3 - JUN/JUL/AGO' 2005

ÍNDICE

01 ENTREVISTA JOSÉ MINDLIN

05 EDITORIAL CÉSAR SILVA, diretor-presidente da FAT

07 NANOTECNOLOGIA:A ÚLTIMA FRONTEIRA TECNOLÓGICAMÁRIO RICARDO GONGORA RUBIO E ANTÔNIO CARLOS SEABRA

14 A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E A AGENDA ESQUECIDARICARDO CORRÊA COELHO

18 CARACTERÍSTICAS DAS PARCERIAS EM EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO BRASILJOAQUIM RODRIGUES

22 E-GOVERNMENT COMO FERRAMENTA DE COMBATE À CORRUPÇÃONORBERTO A. TORRES

28 REPENSANDO A BIOÉTICAGLÁUCIA RITA TITTANEGRO

31 A GESTÃO PARA A RESPONSABILIDADE SOCIALE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELTARCILA REIS URSINI E GIULIANA ORTEGA BRUNO

34 PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS PARA TRATAMENTO DE ÁGUA E EFLUENTESJOSÉ CARLOS MIERZWA

38 PRODUÇÃO MAIS LIMPA GARANTE SUSTENTABILIDADEMARIO HIROSE

42 IMPACTOS ORGANIZACIONAIS DA ADOÇÃO DE NORMAS ISO 9000EM EMPRESAS DE EMBALAGENS PET PARA BEBIDASMILENA YUMI RAMOS

48 ATITUDE COMUNICATIVA: OUVIR FAZ PARTE DO NEGÓCIODAVI MACHADO

51 A ANSIEDADE DO CONSUMIDOR MODERNONUNO MANOEL MARTINS DIAS FOUTO

53 A TECNOLOGIA COMO MEIO DE DIFUSÃO DA CULTURA E DA ARTEMOACYR GODOY MOREIRA

55 SUGESTÃO DE LEITURAGESTÃO DA INOVAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

56 AGENDAEVENTOS MUNDIAIS EM GESTÃO TECNOLÓGICA - 2005

NOSSA CAPAObra do artista plástico Alfredo Volpi

“Composição 1976”, 1976óleo sobre tela, 68 x 136 cm

Acervo Pinacoteca do Estado de São PauloDireitos autorais gentilmente cedidos por Maria Eugênia Volpi

Foto - Acervo Pinacoteca

6 JUN/JUL/AGO' 2005

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 7

NANOTECNOLOGIA:A ÚLTIMA FRONTEIRATECNOLÓGICA

Por MÁRIO RICARDO GONGORA RUBIOe ANTÔNIO CARLOS SEABRA

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8 JUN/JUL/AGO' 2005

No Quadro 1 apresenta-se uma comparação de diversas

escalas dimensionais que permitem visualizar a escala

nanométrica. O marco inicial da nanotecnologia se dá

numa palestra realizada em 1959 pelo físico Richard

Feymann no California Institute of Technology, onde ante-

cipou as oportunidades científicas e tecnológicas se mate-

riais pudessem ser manipulados e fabricados em escala

atômica ou molecular [Ref. 1].

A nanotecnologia pode ser realmente considerada como

uma nova revolução, como a industrial ou a da tecnologia

da informação. No entanto, diferente destas, a percepção

do que é essa nova revolução não é tão clara: produtos da

nanotecnologia podem ser encontrados em nosso passado

distante, como nanopartículas em vasos cerâmicos da

Dinastia Ming ou em argilas do Egito Antigo.O que devemos

considerar nesses casos é que as civilizações que utilizavam

esses materiais não sabiam que estavam trabalhando com nano-

partículas e muito menos eram capazes de modificar suas

características de maneira previsível. Em outras palavras, a

nanotecnologia realmente surge quando a nanociência evolui

a ponto de permitir prever o comportamento e projetar as

características de um produto desejado.

Nanociência e Nanotecnologia (N & N) tornam-se,assim,total-

mente entrelaçadas e impossíveis de avançar independente-

mente.No Quadro 2 verificam-se algumas aplicações da nano-

tecnologia em áreas onde seu impacto será sentido em curto prazo.

Nanotecnologia refere-se a qualquer aplicação da Ciência que utilize ele-mentos menores que 100 nanômetros e que sejam determinantes nas cara-cterísticas de desempenho dessa aplicação. A dificuldade em classificar eentender a nanotecnologia vem da própria origem do termo,pois “nanotecno-logia”refere-se apenas ao tamanho físico dos objetos,enquanto que a espetaculargama de aplicações da nanotecnologia certamente não pode ser confinada auma única definição ou área do conhecimento.

QUADRO 1 - A ESCALA NANOMÉTRICA

Para ilustrar qual é a dimensão de um nanômetro, apresenta-se a seguir uma seqüência de fotografias que podem ser

encontradas no site do CERN (http://microcosm.web.cern.ch/microcosm), onde sucessivamente diminui-se a escala em

potências de dez. Assim, vemos um jardim e uma mosca numa folha (10 -1); um detalhe da mosca (10 -2); o olho da

mosca e detalhes deste órgão, lembrando um favo (10 -4); o olho da mosca, esta constituído por centenas de olhos facetados (10 -5);

um detalhe de pêlo sensor na superfície do olho (10 -6); a base deste sensor (10 -7); material genético da mosca (10 -8) e

aglomerados atômicos nanométricos (10 -9).

10 cm

Macro, Micro e Nano - escalas. Fonte: CERN (http://microcosm.web.cern.ch/microcosm)

1 µm

1 cm

100 nm

100 µm

10 nm

10 µm

1 nm

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 9

Uma característica importante da nanoescala é que há uma

diferença marcante no comportamento dos materiais nes-

sas dimensões quando comparado a outras escalas (como

a microescala). Nessa escala tem-se, proporcionalmente,

uma superfície muito grande em relação ao volume (massa)

do material, o que implica que nenhum átomo está muito

longe de uma interface e,portanto,está sujeito a interações

com o mundo exterior. Além disso, os efeitos quânticos

passam a dominar o comportamento dos materiais nessa

escala, refletindo diretamente nas suas propriedades ópti-

cas, elétricas e magnéticas.

Na nanoescala os materiais podem ser produzidos em uma

dimensão (como filmes finos para coberturas,veja Quadro 3),

em duas dimensões (como nanofios e nanotubos,veja Quadro 4)

ou em três dimensões (como nanopartículas, veja Quadro 5).

Como mencionado anteriormente,embora exista uma gama

gigantesca de aplicações, algumas áreas têm-se destacado

como portadoras de futuro dentro da nanotecnologia: os

nanomateriais em si, a nanometrologia,a nanoeletrônica (ou

eletrônica molecular),a nanobiotecnologia e a nanomedicina.

Em todas elas, certamente, aas ciências básicas (chamadas

nesse contexto de nanociências), como física, química e

biologia, são as grandes propulsoras.Além disso, existe um

movimento científico no sentido de se chegar a uma unifica-

ção científica e principalmente tecnológica. São as chamadas

tecnologias convergentes, cujo desenvolvimento futura-

mente poderão trazer conseqüências para na sociedade e

o meio ambiente, como demonstra o Quadro 6.

Certamente essas áreas tornam-se campos férteis para a

imaginação: tomando a nanomedicina como exemplo,

podemos imaginar medicamentos que, ministrados a um

paciente, sejam capazes de liberar a droga apenas quando

detectarem um determinado vírus ou bactéria, agindo

assim apenas nos organismos invasores e não atacando os

organismos do ser humano.Podemos imaginar nanorrobôs

deslocando-se na corrente sanguínea e reparando órgãos

lesados, como o próprio coração.

Para criar essas nanoestruturas podemos pensar em duas

abordagens distintas.Primeiramente,podemos partir de um

bloco de material e esculpi-lo até tomar a forma nanoscó-

pica desejada. Isso é o que estamos acostumados a fazer

em esculturas e mesmo na microeletrônica, e é conhecida

como abordagem “top-down”. Alternativamente, podemos

construir as nanoestruturas átomo a átomo, molécula a

molécula, como a natureza está acostumada a fazer, e ainda

estamos engatinhando na sua utilização. Essa abordagem é

conhecida como abordagem “bottom-up” (veja Quadro 7).

QUADRO 2 - ALGUMAS APLICAÇÕES DA NANOTECNOLOGIA

• Indústria de plásticos

Materiais mais leves, pneus mais duráveis, plásticos não

inflamáveis. Nanomateriais termoelétricos transformam o

radiador do carro em gerador de energia.

• Indústria eletrônica e de comunicações

Armazenamento de dados, telas planas, aumento na velo-

cidade de processamento da informação, dispositivos MEMS,

sistemas de comunicação wirelesss.

• Indústria química

Catalisadores mais eficientes, processos otimizados de

micro e nanorreação, novos processos de fabricação.

• Indústria de plásticos

Nanocompósitos substituirão produtos plásticos descar-

táveis convencionais; nanocompósitos resistentes a fogo,

rígidos e flexíveis que poderão substituir metais.

• Indústria têxtil

Tecidos inteligentes podem superar os sintéticos com

aplicações biomédicas; tecidos que repelem manchas em

tecidos, reduzem a absorção de umidade e são antiestáticos.

Nanotubos de carbono, junto com tecidos convencionais,

permitem a elaboração de têxteis que podem ser usados para

roupas leves e à prova de bala.

• Indústria farmacêutica

Novos medicamentos baseados em nanoestruturas,

nanopartículas contra alergias, kits de autodiagnóstico.

• Biotecnologia e biomedicina

Lipossomas e nanopartículas poliméricas para adminis-

tração de fármacos, arranjos protéicos para diagnóstico,

microarranjos para sistemas de análise de DNA, materiais

para regeneração de ossos e tecidos, implantes totalmente

biocompatíveis, novos métodos de limpeza de dentes, novos

sistemas de visualização não invasivos.

• Setor energético

Armazenamento de hidrogênio, células de combustível,

novos tipos de bateria, fotossíntese artificial, economia de

energia ao utilizar materiais mais leves e circuitos menores.

• Meio ambiente

Membranas seletivas para remoção de contaminantes,

novas possibilidades de reciclagem, camada nanocerâmica

que aumenta a resistência à corrosão em superfícies de

metálicas, pesticidas aplicados via nanoencapsulamento que

causam menos dano ao ecossistema.

• Defesa

Detectores de agentes químicos e orgânicos, circuitos ele-

trônicos mais eficientes, sistemas de observação miniaturi-

zados, tecidos mais leves e rígidos, vidros resistentes a fogo.

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Embora esta última seja fascinante e não devamos poupar

esforços em desenvolvê-la,devemos sempre considerar qual

deve ser utilizada,dependendo do tipo de aplicação desejada.

Como exemplo, existem áreas em que a abordagem

humana se mostra mais eficiente do que a abordagem da

natureza: a velocidade com que qualquer microproces-

sador moderno é capaz de processar números e ordens de

grandeza maior que a velocidade de uma rede neural bio-

lógica consegue fazê-lo. Assim, para certas tarefas, como

somar números,ordenar palavras,etc., a tecnologia atual se

mostra mais eficiente. Esse panorama certamente deverá

mudar conforme desvendemos os mecanismos pelos quais

a natureza age e possamos inclusive melhorá-los.

N&N no Brasil

A partir de 2000 o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT)

começou a configurar um programa nacional aglutinando

pesquisadores da área e, em 2001, lançou um edital para a

constituição e consolidação de “Redes Cooperativas Inte-

gradas de Pesquisa Básica e Aplicada em Nanociências e

Nanotecnologias”.

Quando comparados com outros países,os investimentos

no Brasil na área de (N & N) ainda são muito modestos,mas

mesmo assim já foram feitos avanços importantes na estru-

turação de quatro redes nacionais em Nanotecnologia,além

QUADRO 3 - NANOSENSORES MAGNÉTICOS

O SQUID (Superconducting Quantum Interference Device

– Dispositivo Supercondutor de Interferência Quântica) é,

na atualidade, o dispositivo transdutor mais sensível para

medidas de variação de fluxo magnético. Sua difusão se torna

cada vez mais comum na metrologia e seu potencial de apli-

cação inclui dispositivos lógicos ultra-rápidos, ressonância

magnética nuclear (NMR) e computação quântica, entre outros.

Um SQUID pode ser fabricado por meio da tecnologia top-

down e emprega, para sua operação, dimensões nanométricas,

como mostrado na (Figura a seguir). Ele é construído em mate-

riais supercondutores, como o nióbio, e opera em tempe-

raturas extremamente baixas (o SQUID da figura opera abaixo

de 10 K). Nessas condições, ao se injetar uma corrente elé-

trica no dispositivo (chamada de corrente de polarização),

ela se divide entre os dois ramos do anel. Se essa corrente for

maior que um valor conhecido como corrente crítica, produz-

se uma tensão entre os terminais do SQUID. Por outro lado,

se dentro do anel do SQUID passar um fluxo magnético (pro-

duzido, por exemplo, por um magneto), observa-se que a cor-

rente crítica varia de forma periódica com a variação do fluxo

magnético, conforme a ilustração à direita. O período dessa

variação está relacionado à menor quantidade de fluxo

magnético que se consegue obter, chamada de quantum de

fluxo magnético. Um quantum de fluxo é um valor extrema-

mente pequeno, cerca de 0,00005 tesla (o campo magnético

da Terra produz esse fluxo magnético em um círculo de

7 mm de diâmetro). Em essência, o SQUID é um trans-

dutor ultra-sensível de fluxo magnético para tensão. Para

se ter uma idéia, um SQUID pode medir a energia neces-

sária para levantar em 1 mm um único elétron no campo

gravitacional da Terra (10-32 joule)!

Em uma pesquisa sendo desenvolvida conjuntamente pela

Escola Politécnica da USP, pelo Instituto de Física da USP

e pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF – Rio de

1µm

Josephson junctions

Particle

B Ilustração de um SQUID edo comportamento da ten-são entre seus terminaisem função da quantidadede fluxo magnético que oatravessa. Esse dispositi-vo é capaz de medir varia-ções no fluxo magnético me-nores que um quantumde fluxo.

120

110

100

90

80

70

60

5040-0.2 0.2 0.4 0.6 0.80

P' P A B

Janeiro), o objetivo é construir e empregar microSQUIDs para

se estudar o comportamento magnético de nanopartículas

magnéticas (1-10 nm de diâmetro). Para isso, essas partículas

devem ser colocadas sobre um dos ramos do microSQUID,

causando um desbalanceamento no fluxo magnético detecta-

do, que é função das propriedades magnéticas da nano-

partícula. A Figura a seguir apresenta os primeiros micro-

SQUIDs fabricados durante essa pesquisa. Note que o anel

envolvendo esses microSQUIDs atua como uma bobina

magnética. O microSQUID em si possui braços com estrei-

tamentos de aproximadamente 100 nm x 100 nm.

MicroSQUID fabricado para investigação das propriedades magnéticas denanopartículas. (a) MicroSQUID (centro) circundado por anel (bobina) de ouro.Os quadrados em ouro são terminais de contato. (b) Anel do MicroSQUID(4 mm x 4 mm) mostrando constrições de 100 nm x 100 nm.

10 MAR/ABR/MAI' 2005

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de várias sub-redes temáticas e três Institutos do Milênio,mo-

bilizando pesquisadores e pós-graduandos em todo o país.

Em 2004 criou-se um grupo de trabalho para obter subsí-

dios para o Programa de Desenvolvimento da Nanociência

da Nanotecnologia do PPA 2004-2007 [Ref. 2] . Em 2005 o

MCT criou a Rede BrasilNano, cuja finalidade é fomentar o

avanço da ciência e da tecnologia, com vistas à formação

de recursos humanos, à geração de empregos qualificados

e à elevação do patamar tecnológico da indústria nacional,

por meio das redes de pesquisa focadas em (N & N). Para

essas ações o MCT reservou R$ 79 milhões para o orça-

mento 2004/2007 [Ref. 3].

É importante ressaltar que a microtecnologia,braço fundamen-

tal da (N & N),não possui um programa nacional para o seu

desenvolvimento e sedimentação. Por isso, o MCT passou a

apoiar também a microtecnologia no seu programa de (N & N).

A comunidade científica brasileira apresenta resultados

expressivos em nanociência e alguns em nanotecnologia.

O governo está apoiando esse esforço,dentro de suas possi-

bilidades,mas,e os empresários? Como estão se posicionando

diante dessa nova realidade?

Em julho deste ano,foi realizado,em São Paulo,o primeiro

Congresso Internacional de Nanotecnologia - Nanotec 2005,

juntamente com a exposição internacional de projetos,pro-

dutos e materiais nanotecnológicos. Pela primeira vez um

congresso da área de nanotecnologia na América Latina pro-

move um encontro entre a comunidade científica das univer-

sidades,os institutos de pesquisa e a indústria. Esse congres-

so foi um marco para o Brasil e mostrou que para a indústria

nacional ter a possibilidade de competir internacionalmente

com novos produtos e processos inovadores, comparáveis a

suas contrapartes internacionais, deverão investir forte-

mente em (N & N).

QUADRO 4 - NANOTUBOS DE CARBONO

Os nanotubos de carbono são formados por folhas de

átomos de carbono, em um arranjo hexagonal, que se enrolam

para formar um tubo com diâmetro tipicamente entre 1 e

2 nanômetros e comprimentos da ordem de micrômetros.

Os principais métodos usados para a fabricação dos

nanotubos de carbono são: descargas por arco, ablação via

Laser e deposição por vapor químico.

Seu comportamento mecânico, ótico, elétrico e magnético

é diferenciado, tornando-os uma fonte de inovações nano-

tecnológicas.

Uma aplicação de suas propriedades mecânicas é a aglo-

meração texturizada de nanotubos para a obtenção de

materiais mais leves e mais resistentes que os metais.

Dentre as aplicações dos nanotubos de carbono em eletrô-

nica, podemos destacar: a obtenção de condutores balísti-

cos, a implementação de vias de interconexão (veja figura

a seguir), de transistores, de displays planos, de sensores

e de atuadores. São utilizados também como fonte de

elétrons e em sistemas de armazenamento de hidrogênio.

Vários grupos universitários brasileiros estudam os méto-

dos de fabricação e as aplicações dos nanotubos de carbono.

Nanotubos de carbono e possíveis aplicações em circuitos eletrônicos

QUADRO 5 - MICRO E NANOENCAPSULAÇÃO

A micro e a nanoencapsulação de princípios ativos encontraampla aplicação farmacêutica, principalmente para melho-rar a estabilidade de um fármaco, ou modificação de suabiodistribuição por meio de alteração das característicasde sustentabilidade de liberação ou de farmacocinética.

Os métodos mais utilizados para a fabricação de sistemasmicro ou nanoestruturados envolvem geralmente extração,evaporação de solvente ou separação de fases, com etapasde formação de emulsões simples ou múltiplas.

A produção de emulsões usando dispositivos microfluídi-cos é uma alternativa tecnológica para superar limitaçõeshoje encontradas em processos convencionais de produçãode sistemas micro e nanoestruturados, em que a produçãode emulsões é etapa crucial, afetando característicasimportantes do produto como estabilidade, dispersão granu-lométrica e taxa de encapsulação.

A figura a seguir apresenta uma simulação CFD de micro-misturados e dispositivos fabricados para a obtenção demateriais micro e nanoencapsulados.

Micromisturadores para micro

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 11

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Durante o evento, a Fiesp e o Iedi organizaram o seminário

“O Brasil diante da Nanotecnologia”,realizado em 5 de julho

último, com a presença de quatro palestrantes, represen-

tando países distintos – Estados Unidos, Inglaterra, Israel e

Brasil –, para analisar as implicações da (N & N) no setor

industrial. Deste encontro, apresentou-se à sociedade a

carta de São Paulo, em que se mostrou o engajamento das

empresas nacionais nas nanotecnologias.

Os desafios são inúmeros. A inserção da (N & N) no projeto

de desenvolvimento sustentável e competitivo no Brasil re-

quer a construção de uma visão compartilhada para a ino-

vação nesta área, com o estabelecimento de parcerias estra-

tégicas, que articulem a cooperação efetiva entre governo,

empresas, universidades e institutos de pesquisa.

Como principais vantagens téc-nico-econômicas dessa aborda-gem, temos: a eliminação deforças mecânicas para misturade fluidos e formação de emul-sões, baseando-se em princí-pios de microfluídica; o aumentoda portabilidade e a diminui-ção do volume do equipamento

de mistura e operação contínua, em comparação a siste-mas mecânicos convencionais (tanques agitados); a dimi-nuição de custos de materiais (insumos de fabricação) emanutenção do equipamento; a introdução de um proces-so contínuo, com conseqüente facilidade de escalonamentopara a produção industrial devido à possibilidade de inte-gração de um número suficiente de micromisturadorespara um dado volume de produção; e a facilidade de pro-dução asséptica de sistemas nano e microencapsulados.

QUADRO 6 - TECNOLOGIAS CONVERGENTES

Nas primeiras déca-das do século XXI tere-mos um movimento deunificação da ciência eda tecnologia por meio,da combinação da nano-ciência e da nanotecno-logia, da biotecnologia, datecnologia da informaçãoe das ciências cognitivas.Prevê-se que os aspectossociais, éticos e meio -ambientais ganharão gran-de relevo.

Essa convergência tecnológica, quando adequadamentecoordenada, poderá levar a uma melhoria na capacidadefísica humana, a resultados na integração social de minoriase a um aumento de qualidade de vida da população.

O IPT propõe integrar essa temática junto ao ProgramaNacional de Nanociência e Nanotecnologia, articulandopesquisadores em humanidades para constituição de umarede brasileira de pesquisa em nanotecnologia, sociedade emeio ambiente (Renanosoma).

Cogno

Info

Nano

Bio

Convergência Tecnológica

GLOSSÁRIO

Electrônica molecular

Sistema eletrônico com dimensão nanométrica, fabricado com molé-culas, não com materiais contínuos como os encontrados nos semi-condutores atuais. Dependem do comportamento eletrônico em estru-turas que contém moléculas organizadas espacialmente.

Microtecnologia

A Microtecnologia, conhecida principalmente devido à Microele-trônica, é uma estratégia que utiliza as técnicas de Microfabricação,com dimensões típicas de 0,1 a 100 mm, para integrar e miniaturizardispositivos, componentes e microssistemas, para aplicações em:acústica, biomedicina, biotecnologia, eletrônica, magnetismo, mecâ-nica, ótica, processos químicos, processos térmicos, etc. Esses dispo-sitivos são fabricados por meio de microprocessos de fabricação comdiversos materiais, como: silício, vidro, cerâmica e polímeros.

Molécula

A menor quantidade de matéria que retém todas as suas proprieda-des químicas. Está composta de átomos. O átomo é a menor entidadequímica. Está composto de prótons, nêutrons e elétrons.

Nanobiotecnologia

Multidisciplinar por natureza, a nanotecnologia, quando aplicada àsciências da vida, recebe o nome de nanobiotecnologia. Desta forma,será possível a invenção de dispositivos nanoscópicos que, a partir dosconhecimentos da biologia e da engenharia, devem examinar, manipularou imitar os sistemas biológicos.

Nanociência

Seu objetivo é entender e explicar os fenômenos que ocorrem na escala de0,1–100 nanômetros. Esta, se diferencia-se da nanotecnologia, cujo objetivoé a manipulação e controle das estruturas moleculares nesta escala.

Nanômetro

A nanotecnologia parte de medidas extremamente pequenas, dado quese ocupa de estruturas atômicas. Um nanômetro equivale à bilionésimaparte de um metro. Ex.: o diâmetro de um cabelo humano é de 10.000nanômetros.

Nanopartículas

São tipicamente produzidas em tanques agitados, com uma das fases(geralmente oleosa ou uma emulsão água/óleo pré-formada) sendodispersa na segunda fase (geralmente aquosa, contendo emulsifican-tes) por variações de pressão ou forças de cisalhamento para gerarpequenas gotas esféricas pela ação da tensão interfacial.

Nanotecnologia

É o estudo, projeto, criação, síntese, manipulação e aplicação de materiais,dispositivos e sistemas funcionais pelo controle da matéria em nano-escala e da exploração dos fenômenos e propriedades da matéria emnanoescala.

Nanoencapsulamento

Nanopartículas de biopolímero para sistemas de liberação controladade remédios (5000x)

12 MAR/ABR/MAI' 2005

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 13

ANTÔNIO CARLOS [email protected]

Escola Politécnica da Universidade deSão Paulo, EPUSP

QUADRO 7 - “TOP-DOWN” VERSUS “BOTTOM-UP”

As técnicas de nanofabricação podem ser agrupadas deduas formas: a abordagem “top-down”, que usa um blocode material e retira partes deste até obter a forma desejada,e a abordagem “bottom-up”, que envolve a agregação deátomos e moléculas para obter-se uma estrutura maior.

A mudança da Microtecnologia (dimensões típicas de 0,1a 100 mm) para a Nanotecnologia (dimensões típicas de0,1 a 100 nm) coloca um desafio para a técnica “top-down”,que é a geração de estruturas cada vez menores com pre-cisão suficiente.

Por outro lado, para a técnica “bottom-up” o desafio é a ne-cessidade de realizar estruturas suficientemente grandes ecom qualidade adequada para serem usadas como materiais.

Esses métodos evoluíram separadamente, chegando-se auma situação em que a dimensão dos materiais e disposi-tivos gerados é similar, permitindo uma integração muitodesejável. No gráfico a seguir mostra-se que a açãointegrada dessas duas abordagens pode levar a dispositivose materiais com novas funcionalidades e desempenho mel-horado, a médio prazo.

TOP-DOWN

BOTTOM-UP

Duas formas diferentesde nanofabricação

1mm1mm

1mm

1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030

TOP-DOWN

Diminuição da escala

Microtecnologia Desempenho melhorado

Novas funções

BOTTOM-UP

Aumento de escala

Química, Biologia e Física

Convergência das técnicas“Top-down” e “Bottom-up”

Nanotubos

Os nanotubos compõem-se de uma ou várias lâminas de grafite ououtro material enroladas sobre si mesmas. Alguns nanotubos estãofechados por médias esferas de fullerenos e outros não. Existem nano-tubos de parede única (um tubo só) e de múltiplas paredes (váriostubos colocados um dentro do outro).

SQUID (Superconducting Quantum Interference Device)

Dispositivo supercondutor de interferência quântica. É, na atualidade,o dispositivo transdutor mais sensível para medidas de variação defluxo magnético.

BIBLIOGRAFIAFEYNMAN, R. (1959). There’s plenty of room at the bottom.www.its.caltech.edu/~feynman/plenty.html

“DESENVOLVIMENTO DA NANOCIÊNCIA E DA NANOTECNOLOGIA,Proposta do Grupo de Trabalho criado pela Portaria MCT como subsídioao Programa de Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecno-logia do PPA 2004-2007. Washington D.C., May, 2004.(Disponível em http://www.mct.gov.br/Temas/Nano/prog_nanotec.pdfem 05 de Dezembro de 2004).

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?ar-tigo=010165041222

NALWA, H.S. Encyclopedia of Nanoscience and NanotechnologyAmerican Scientific Publishers, 2004., ISBN: 1-58883-001-2

TOMA,Henrique.O Mundo Nanométrico: A Dimensão do Novo SéculoOficina de Textos, 2004, 104 p. ISBN: 85-86238-34-1

Sites no Brasil:

d www.comciencia.br

d www.mct.gov.br/temas/nano/

d www.inovacaotecnologica.com.br

d www.fapesp.br

d www.pgmat.ufsc.br/nano/

d http://lqes.iqm.unicamp.br/

Sites no exterior:

d www.smalltimes.com/

d www.foresight.org

d www.nanotechbriefs.com

d www.cientifica.com/html/Reports/publications.htm

MÁRIO RICARDO GONGORA [email protected]

Instituto de Pesquisas Tecnológicasdo Estado de São Paulo, IPT

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14 JUN/JUL/AGO' 2005

A REFORMADA EDUCAÇÃO SUPERIORE A AGENDA ESQUECIDA

A reforma da educação superior encontra-se em discussão, devendo resul-tar em Projeto de Lei a ser encaminhado pelo Executivo ao CongressoNacional nos próximos meses.As razões para reformar o sistema de educaçãosuperior no Brasil são diversas,vêm de longe e têm aumentado com o tempo.Resumidamente, pode-se dizer que a necessidade de reforma resulta de umacomplexa combinação entre aumento da procura por ensino superior, insu-ficiência no atendimento da demanda e deficiência nos seus mecanismos definanciamento, alimentada por uma persistente insatisfação dos servidoresdas instituições federais e por uma clara mudança de perfil da educaçãosuperior em todo o mundo. Por RICARDO CORRÊA COELHO

Candidatos fazem prova da Fuvest na Escola Politécnica da USPno primeiro dia da segunda fase. (São Paulo, SP, 05.01.2003, 14h00. Foto de Juca Varella/Folha Imagem)

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 15

A insatisfação nas Federais é revelada pelo elevado número

de greves nos últimos 25 anos. Afora as paralisações dos

seus servidores técnico-administrativos, as Federais conhe-

ceram nada menos que 14 greves de docentes, entre 1980

e 2003. Essas greves buscavam não apenas conquistar me-

lhores salários ou condições de trabalho, mas também

impedir mudanças propostas pelos governos que se suce-

deram. Seus resultados foram modestos em termos de ga-

nhos para a categoria, mas bem-sucedidos ao barrar toda

tentativa de reforma do sistema.

As mudanças nos processos produtivos das últimas

décadas levaram um número cada vez maior de pessoas a

procurar o ensino superior na tentativa de encontrar uma

colocação no mercado de trabalho. Entre 1980 e 2003, o

número de inscritos no vestibular triplicou, e ainda que a

oferta de vagas tenha quintuplicado, esse aumento não foi

capaz de satisfazer a demanda, devido às deficiências no

sistema de financiamento. Nas instituições mantidas pelo

poder público,onde o ensino é gratuito,a competição pelo

ingresso é acirrada e faltam vagas, ocorrendo o inverso nas

instituições privadas, que são pagas. Em 2003, havia, nas

Federais, 10,9 candidatos inscritos por vaga, enquanto nas

instituições particulares essa relação era de apenas 1,3. Do

total de vagas oferecidas, apenas 0,7% não foi preenchido

nas Federais, enquanto que 45,6% delas sobraram nas par-

ticulares. Portanto, faltam vagas de um lado e sobram de

outro, o que mostra o desequilíbrio do sistema.

Tomando a educação superior em seu conjunto, obser-

va-se uma clara tendência à diferenciação das instituições

(universidades, centros universitários, faculdades, centros

tecnológicos de educação superior, etc.) e à diversificação

dos cursos e seus correspondentes títulos, diplomas e cer-

tificados (diplomas para bacharelado, licenciatura, cursos

tecnológicos, mestrado e doutorado; e certificados para

concluintes de cursos seqüenciais, de extensão e de pós-

graduação lato sensu).

Essas mudanças compõem um quadro que não é mais

passível de ser gerido com os instrumentos e conceitos

vigentes. No entanto, se a necessidade de reforma é prati-

camente consensual, não há consenso algum quanto à sua

forma, sentido e alcance. Além disso, algumas questões-

chave têm passado ao largo da discussão. São essas que eu

gostaria de abordar aqui, ainda que brevemente.

EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA E NÃO UNIVERSITÁRIA

Embora a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, tenha

aberto espaço para a educação superior não acadêmica e

um grande número de instituições de ensino superior não

universitárias tenha surgido desde então, segue domi-

nante, no Brasil, a idéia de que a educação superior é fun-

damentalmente universitária. A confusão entre os termos

“educação superior” e “universidade” não domina apenas

entre os leigos, mas também no governo e na comunidade

acadêmica. Em 2003, o Ministério da Educação (MEC) pro-

moveu um seminário para discutir os rumos da educação

superior chamado “Universidade XXI” e, em 2004, empu-

nhou a bandeira da reforma sob o lema da “Reforma

Universitária”. Foi apenas em 2005 que o MEC adotou a

denominação de “Reforma da Educação Superior”. Apesar

da correção, o viés universitário permaneceu na segunda e

mais recente versão do anteprojeto de lei da reforma. No

seu primeiro capítulo, a confusão aparece com clareza. No

Inciso VII, do Art. 4º, a finalidade da educação superior é

definida como “a promoção da extensão, como processo

educativo, cultural e científico que busca a articulação do

ensino e da pesquisa a fim de viabilizar a relação transfor-

madora entre universidade e sociedade”. No entanto, a

Constituição é clara ao precisar que “as universidades” – e

apenas essas, e não as demais instituições de educação

superior – “obedecerão ao princípio de indissociabilidade

entre ensino, pesquisa e extensão” (Art. 207).

O padrão universitário encontra-se arraigado nas mentali-

dades, inibindo a expansão da educação superior no país.

Os sindicatos das Federais sempre encararam o fim do seu

monopólio como um atentado à qualidade do ensino.

Manifestantes acorrentados protestam na frente de um dosportões do prédio da reitoria na Cidade Universitária pelaadoção do sistema de cotas para negros na USP. (São Paulo - SP, 01.03.2004. Foto de Lalo de Almeida/Folha Imagem)

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16 JUN/JUL/AGO' 2005

Entretanto, se realmente se busca a expansão, não há

como consegui-la dentro dos estritos padrões univer-

sitários, que são caros e nem sempre necessários. A

pesquisa científica é, sem dúvida, necessária ao desenvolvi-

mento de qualquer país. No entanto, por ser cara e exigir

grande quantidade de cérebros e de recursos materiais e

financeiros, ela se desenvolve concentrada em alguns cen-

tros de excelência. É assim em todo o mundo, e no Brasil

não seria diferente. Por isso, a estratégia de expandir a edu-

cação superior pela via da expansão do sistema univer-

sitário é contraproducente, pois pulverizará os recursos

disponíveis ao invés de concentrá-los em torno de projetos

bem definidos. A discussão atual sobre a reforma sequer

tangencia a questão crucial do tamanho e do perfil do sis-

tema universitário necessário ao desenvolvimento do país.

Tampouco a reforma aponta os cursos mais diretamente

voltados para o mercado de trabalho e de mais curta

duração, oferecidos por instituições não necessariamente

universitárias (como os de tecnólogos), como caminho

para a expansão da educação superior no país. Esses cur-

sos, no entanto, são, geralmente, mais baratos que os

acadêmicos e possibilitam uma inserção mais rápida dos

formandos no mercado de trabalho.Mas a educação profis-

sional aparece apenas marginalmente na discussão da

reforma. Os Centros Federais de Educação Tecnológica

(CEFETS) foram completamente esquecidos na redação do

artigo 15 do anteprojeto, que trata das instituições de edu-

cação superior, figurando apenas como um tipo de centro

“universitário”, no artigo 23.

INSTITUIÇÕES PÚBLICAS X INSTITUIÇÕES PRIVADAS

E ENSINO PAGO X ENSINO GRATUITO

Outro tema que não vem recebendo o devido tratamen-

to é o do papel e definição das instituições públicas e pri-

vadas no conjunto do sistema. O último anteprojeto inova

ao tentar romper com a dicotomia público-privado, classi-

ficando as instituições em públicas,comunitárias e particu-

lares. No entanto, ao definir a instituição comunitária, o

texto é impreciso, descrevendo-a como “de direito privado

[...] que inclui, em suas instâncias deliberativas, significati-

va participação da comunidade local ou regional” (Art. 14,

Inciso II). Neste ponto, pecou-se por não ousar enfrentar a

associação entre ‘público’ e ‘estatal’, ignorando toda a dis-

cussão, já acumulada, que cinde a esfera pública entre

estatal e não estatal. As comunitárias poderiam ser incluí-

das nesta última, abrindo caminho para, quem sabe, se

cruzar um outro círculo de fogo que impede a expansão

do ensino superior no país: o que associa ensino público a

PAÍSES

Austrália AlemanhaEstados Unidos FrançaArgentinaBrasilMéxico

EDUCAÇÃO SUPERIORPROFISSIONAL E/OUDE CURTA DURAÇÃO

(ISCED 5B)*

11109

125

n/d(2)3

SUPERIOR ACADÊMICAOU DE LONGA DURAÇÃO

(ISCED 5A) EPÓS-GRADUAÇÃO (ISCED 6)*

201329129(1)8(1)2

TOTAL(ISCED 5A, ISCDE 5B

e ISCED 6)*

3123382414(1)8(1)6

Candidata faz a primeira prova da segunda fase da Unicamp(Universidade de Campinas), com o exame de portuguêse de biologia, em Campinas (Campinas, SP, 11.01.2004. Foto: Marcos Ribolli / Folha Imagem)

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 17

ensino gratuito. Para romper esse círculo, não seria sequer

preciso alterar a Constituição, que obriga a “gratuidade do

ensino público em estabelecimentos oficiais” (Art. 207),

mas não em estabelecimentos não estatais, que tampouco

são impedidos de oferecer ensino público.

As vantagens da criação de uma esfera pública não

estatal seriam muitas: no plano simbólico, estenderia o

caráter de ensino público ao oferecido por instituições

(cujo estatuto jurídico teria de ser bem definido na legis-

lação) que desempenham papel de relevante interesse

público; no plano financeiro, reduziria o ônus sobre o

Tesouro da expansão do sistema e estenderia às comu-

nitárias as linhas de financiamento à pesquisa e à extensão,

hoje exclusivas das Federais. No entanto, o cavalo de bata-

lha que se criou em torno do mote “ensino público e gra-

tuito” baniu da reforma essa discussão.

AUTONOMIA X ISONOMIA

Conceitualmente, uma instituição autônoma é aquela

gerida por normas próprias, que se financia com seus

próprios recursos e persegue os objetivos que se auto-

atribui, observando as regras estabelecidas pelo Poder

Público, mas sem a ingerência deste.As universidades pri-

vadas sempre funcionaram assim e as estaduais paulistas

ganharam autonomia há mais de uma década,com todos os

seus ônus e bônus.As Federais nunca foram autônomas e

dependem do MEC para quase tudo.

O anteprojeto de reforma concede às Federais uma

pequena margem de autonomia em relação ao MEC, esta-

belecendo um orçamento global a ser transferido em

duodécimos mensais, o que representa um avanço, mas

está longe de configurar autonomia propriamente dita.

Segundo a proposta, as Federais teriam assegurados recur-

sos para a sua manutenção, mas seguiriam dependentes do

MEC para contratar e estabelecer carreiras para seus

docentes e funcionários. A oposição intrínseca entre a

autonomia e a isonomia, que é tabu para os sindicatos das

Federais, é que está obstruindo o caminho para uma

autonomia efetiva.

A isonomia entre as Federais repousa sobre planos de

carreira e de salários unificados e na manutenção da univer-

sidade como modelo único de instituição de ensino supe-

rior, ainda que poucas Federais façam jus a essa denomi-

nação.Sua quebra implicaria o fim dos sindicatos nacionais de

docentes e funcionários.Não há como dar autonomia às Fede-

rais sem romper com a isonomia.É uma questão de escolha.

MESTRES E DOUTORES PARA QUÊ?

Ao exigir das universidades um mínimo de 1/3 de mestres

e doutores entre seus docentes, a LDB induziu ao aumento

da titulação observado no país. No entanto, ao não estabe-

lecer os quantitativos de uns e de outros,a exigência acabou

por produzir um efeito perverso:a substituição,nas univer-

sidades privadas,de doutores por mestres,que ganham menos.

O anteprojeto de reforma complementa a LDB ao determinar

que universidades e centros universitários deverão ter um mí-

nimo de 1/4 e 1/9 de doutores entre seus docentes, respec-

tivamente.Apesar disso,a questão central continua sem ser en-

frentada:de quantos mestres e doutores precisamos e para quê?

A resposta não é simples e depende da definição do papel

e do tamanho do sistema universitário na educação superior

do país.A quantidade de doutores teria de ser pensada em

função dos núcleos de pesquisa que se pretende desenvolver

ou criar,conforme um plano estratégico de desenvolvimento

científico para o país;e a de mestres,de acordo com a neces-

sidade de expansão do ensino superior.Atualmente,o título

de mestre ocupa apenas uma posição intermediária entre o

de doutor e o de bacharel na hierarquia acadêmica,sem que

um significado preciso lhe seja conferido. Seria, portanto,

oportuno que na reforma se pensasse na quantidade e

finalidade desejáveis para cada um dos títulos superiores.

Sem isso, continuaremos a desperdiçar recursos, formando

doutores demais e tecnólogos de menos.

José Eduardo Krieger, 43, diretor do Laboratório de Genéticae Cardiologia Molecular do Incor (Instituto do Coração) da Faculdadede Medicina da USP, posa para fotos no laboratório do instituto,em São Paulo (SP). (São Paulo, SP, 17.09.2004. Foto: João Wainer/Folha Imagem)

RICARDO CORRÊA COELHO [email protected]

Doutor em Ciência Política pela USPé especialista em Políticas Públicas

e Gestão Governamentalda Administração Pública Federal.

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CARACTERÍSTICAS DAS PARCERIAS EMEDUCAÇÃO CORPORATIVANO BRASIL Por JOAQUIM RODRIGUES

As parcerias entre Empresas e Escolas para capacitação de pessoal não con-figuram um fenômeno novo,mas sim uma prática antiga que vem sendo revitali-zada nos últimos anos, paralelamente à disseminação do conceito de RH competi-tivo. Ao que tudo indica, as experiências pioneiras em parcerias remontam a1876,nos EUA,com a criação das primeiras escolas pelas indústrias,no sentido derealizar a formação dos seus empregados, seguindo-se daí o surgimento de todauma rede educacional voltada para o ensino profissional.

18 JUN/JUL/AGO' 2005

Na década de 1950, o ensino profissional americano

evoluiu para a criação de estruturas de ensino mais sofisti-

cadas, que passaram a ser conhecidas como Universidades

Corporativas, contextualizadas em um conceito mais abran-

gente de capacitação profissional denominado “Educação

Corporativa”.

Segundo Meister (1999, p. XXVII), o conceito de

Universidade Corporativa (UC) surgiu nos EUA, em 1955,

com o lançamento da Crotonville, pela General Electric.

Porém, foi somente a partir da década de 1980 que o mer-

cado americano assistiu a um aumento considerável do

número de UCs, como recurso estratégico utilizado pelas

empresas no gerenciamento do aprendizado e desenvolvi-

mento dos seus funcionários. Segundo a autora, no estudo

“Diretrizes futuras da Universidade Corporativa 1999”,

publicado pela Corporate University Xchange (CUX) em

1998, constatou-se a existência de 400 Universidades

Corporativas nos EUA, sendo que em 2000 já havia cerca

de 2 mil.Dados estimativos apontam para o fato de que em

2010 esse número ultrapassará o número de Universidades

Tradicionais naquele país, estimado no ano de 1999 em

cerca de 4 mil.

No Brasil, conseguiu-se identificar,no início de 2003,por

meio de pesquisa, cerca de 64 casos de empresas que afir-

mavam possuir Universidades Corporativas, sendo provável

que já existisse um número bastante superior.Atualmente,

segundo a mídia especializada, estima-se a existência de

quase 500 UCs (Accurso, 2005).

Entre as empresas instaladas no Brasil que declaram possuir

Universidades Corporativas pode-se citar o Bank Boston,

Accor Brasil,Ambev (antiga Brahma),Carrefour,McDonald’s,

Unimed, Petrobrás, Banco do Brasil, Motorola, Fiat, CEF,

Sabesp, Leader Magazine,Abril e TAM, entre outras.

IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DE PARCERIAS EXTERNAS

PARA O SUCESSO DAS EMPRESAS

Sobre este ponto, com relação ao mercado americano,

Meister (2000) diz que:“As parcerias de sucesso entre em-

presas e universidades têm se transformado em verda-

deiras alianças entre clientes e fornecedores, ancoradas

numa concepção comum sobre as necessidades de qualifi-

cação da força de trabalho...”.

Ainda segundo essa autora, verifica-se claramente que,

no contexto dos EUA, as novas parcerias entre empresas e

o ensino superior estão ativamente envolvidas em garantir

que as necessidades de formação e qualificação da força de

trabalho do futuro sejam preenchidas (Meister, 1998).

No contexto brasileiro, Eboli (2002) associa a Educação

Corporativa ao desenvolvimento de competências essenci-

ais ao sucesso das empresas, identificando a realização de

parcerias como um dos princípios fundamentais para esse

fim. Segundo a autora, esse princípio envolve “...realizar

parcerias com universidades, instituições de nível superior

ou até mesmo clientes e fornecedores que tenham com-

petência para agregar valor às ações e aos programas edu-

cacionais corporativos,ancoradas numa concepção comum

sobre as necessidades de qualificação da força de trabalho...”.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 19

RESULTADOS DA PESQUISA

Características das empresas da amostra quanto

à realização de parcerias

Inicialmente, a tabulação dos dados da amostra resultou

na composição de quatro subgrupos ou categorias,num total de

45 empresas,classificadas em:(1) Empresas que afirmaram não

possuir nem Universidade Corporativa nem parcerias com Uni-

versidades Tradicionais; (2) Empresas que afirmaram possuir

tanto Universidade Corporativa como parcerias com Univer-

sidades Tradicionais; (3) Empresas que afirmaram possuir so-

mente Universidade Corporativa, sem realizar parcerias com

Universidades Tradicionais; (4) Empresas que afirmaram rea-

lizar parcerias com Universidades Tradicionais, sem, no en-

tanto, possuir Universidade Corporativa. Essas categorias

encontram resumidas no gráfico a seguir:

As empresas e suas respectivas Universidades Corporativas

Das 45 empresas da amostra, aproximadamente 44%

declararam possuir Universidade Corporativa, totalizando

20 empresas. Estas encontram-se listadas abaixo com a

identificação da respectiva UC, lembrando que algumas

delas não possuem um nome específico: •

Quando se iniciaram as parcerias

Apenas uma parceria foi iniciada antes da década de 1990,

havendo, a partir de então, uma busca crescente por parte

das empresas da amostra,conforme se verifica no Gráfico 2.

Quem são as instituições parceiras

As parceiras mais citadas pelas empresas são as universi-

dades classificadas como sendo de “primeira linha”, figuran-

do no topo da lista a Fundação Getúlio Vargas, seguida pela

Fundação Dom Cabral e pela Universidade de São Paulo.Na

seqüência aparecem a Universidade Federal do Rio de Janeiro

e as Pontifícias Universidades Católicas, aqui agrupadas sob

a marca PUC. As universidades internacionais foram incluídas

para evidenciar a concorrência estrangeira nesse mercado.

A abrangência das parcerias

O objeto das parcerias apresentou-se bastante variado.

Entretanto, percebe-se que o que as empresas mais procu-

ram é a alocação de professores, com 38% das indicações,

seguida do Design de cursos e do uso de instalações e/ou

equipamentos, com 25% das indicações cada.

17Não possuem SEC nem Parc

Possuem SEC e Parc

Possuem só SEC

Possuem só Parc

17

9

5

Gráfico 1: Distribuição das Empresas da Amostra nos Subgrupos

ORD EMPRESA NOME DA UNIVERSIDADE CORPORATIVA1 VOLVO Legos de Treinamento e Desenvolvimento 2 XEROX Learning Center 3 SPRINGER CARRIER Programa de Educação 4 SCHINDLER Centro de Treinamento Técnico 5 GRUPO VOITH Voith Engineering Academy e Project Management Academy 6 UNISYS Unisys University 7 JANSSEN CILAG FARMAC (Não preenchido) 8 BOMPREÇO Universidade Bompreço 9 BANKBOSTON Boston School 10 ALCATEL Alcatel University 11 UNILEVER (Não preenchido) 12 BRASKEM Centro de Desenvolvimento por Competências Braskem 13 O GLOBO (Não preenchido) 14 NATURA* Educação Corporativa Natura (nome sugerido)15 EBERLE Educação e Cidadania 16 MCDONALD´S Universidade do Hambúrguer17 BANCO REAL ABN AMRO (Não preenchido) 18 EDITORA ABRIL Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas – NPD19 VALEO (Não preenchido) 20 MOTOROLA Leadership, Learning & Performance - Motorola University

1

9

13

20

10

0ANTES DA DÉC. DE 90 NA DÉC. DE 90 A PARTIR DE 2000

Gráfico 2 - Distribuição das Empresas Segundo o Tempo de Parceria

Quad

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20 JUN/JUL/AGO' 2005

O percentual de participação da parceira no total de

programas e/ou ações de T&D das empresas

Em aproximadamente 70% das empresas que possuem

parcerias, sua participação atinge no máximo 20% do total

de ações e programas de T&D.

Por outro lado, verifica-se que existe uma tendência de

crescimento dessa participação, evidenciada pela intenção

de ampliação das parcerias, declarada por 96% dos respon-

dentes, contra apenas 4% que não desejam ampliá-la.

A tendência de aumento da disseminação das parcerias

também se evidencia no grupo das empresas que não as

possuem atualmente, em que se verifica um interesse de-

clarado de cerca de 48%.

Os públicos atendidos pelas parcerias

Os públicos citados pelas empresas foram: funcionários,

clientes, fornecedores, concessionários, familiares, for-

madores de opinião, público em geral, setores afins e estu-

dantes/bolsistas.

A freqüência da distribuição dos públicos atendidos

pelas parcerias concentra-se, entretanto, nos funcionários

(67%),nos clientes (11%) e nos familiares (8%).Os demais públi-

cos dividem os restantes 14% das incidências de treinamentos.

Isso parece indicar uma priorização de investimento na

capacitação dos funcionários, tendo em vista um custo apa-

rentemente elevado da parceria,conforme veremos na análise

das desvantagens das parcerias, mais adiante. Quanto ao

investimento em familiares, observando-se mais criteriosa-

mente, percebe-se que esse é um fenômeno exclusivo das

empresas que possuem Universidade Corporativa.

Principais vantagens e desvantagens das parcerias

As vantagens percebidas pelos respondentes se concen-

tram em torno da qualidade do ensino e do acesso a conhe-

cimento de ponta, com ênfase na capacidade e na confia-

bilidade dos professores. Palavras como “competência”,

“atualidade” e “credibilidade” marcaram as opiniões sobre

as vantagens, o que demonstra a confiança das empresas

nas instituições com as quais mantêm parcerias.

Por outro lado, no que diz respeito às desvantagens,

ficou bastante evidente a falta de contato com a prática em-

presarial, a falta de flexibilidade e a morosidade na customi-

zação dos programas,bem como o custo elevado da parceria.

Palavras como “academicismo” e “padronização” marcaram

a descrição dos conteúdos oferecidos pelas parceiras.

Isso deixa evidentes dois pontos importantes a ser re-

pensados pelas parceiras quanto aos serviços que vêm

oferecendo às empresas. Primeiro, as empresas confiam na

capacidade das parceiras em oferecer o serviço do qual

precisam, com a qualidade que elas esperam. Segundo, as

empresas esperam que as parceiras sejam capazes de cus-

tomizar a prestação do serviço para adaptá-lo à sua reali-

O gerente de marketing e vendas da Sony, Eduardo Tubosaka, que fez MBA na London Business School (Inglaterra). (São Paulo, SP, 24.01.2003. Foto de João Wainer/Folha Imagem)

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 21

dade cultural e do seu negócio, com a rapidez requerida

por um mercado altamente competitivo.

As modalidades de parceria

Quanto à modalidade de parceria adotada pelas empresas

da amostra, os resultados da pesquisa apontam de forma

homogênea para a flexibilidade de realização de múltiplas

parcerias (92%), com parceiras da educação tradicional

consideradas até mesmo concorrentes entre si.

Conforme ficou evidenciado, na medida que caminha-

mos da década de 1990 para o tempo presente, o número

de empresas que não possuem UC e que realizam parcerias

permanece estabilizado,enquanto a quantidade de empresas

que realizam parcerias e possuem UC apresenta um aumen-

to de mais de 90%.Este é,portanto,o primeiro indicativo de

que não só a Educação Corporativa tem influência sobre a

realização de parcerias,mas revela o sentido dessa influência

como sendo estimulador.

Algumas outras variáveis não se mostraram tão promisso-

ras para corroborar essa inferência, como por exemplo, o

número médio de parcerias por empresa,que em ambos os

grupos permaneceu muito semelhante, girando em torno

de 2,5 parcerias por empresa.

Entretanto, empresas que possuem UC são mais propen-

sas a realizar parcerias que as demais.O estudo revelou que

78,95% das empresas que possuem UC também realizam

parcerias,contra 34,62% das que não possuem UC.A análise

desse dado revela uma diferença de mais de 40% em favor

das empresas que possuem UC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo pretendeu analisar as parcerias entre

Universidades Corporativas e universidades tradicionais

realizadas pelas empresas instaladas no Brasil, pertencen-

tes aos rankings de melhores desempenhos e reconheci-

mento por parte dos funcionários. Trata-se de um estudo

com caráter exploratório acerca da realidade atual dessas

parcerias, com o objetivo de produzir informações que

possam servir como base de sustentação teórica para futuras

investigações sobre o tema.

Constatou-se que o crescimento e o fortalecimento das

parcerias entre as empresas da amostra que possuem

Universidades Corporativas e as universidades tradicionais

constituem uma tendência segura para os próximos anos,

o que pode ser evidenciado pelo fato de esse crescimento

e fortalecimento estar sendo sustentado e estimulado pela

Educação Corporativa.

A pesquisa aponta, entretanto, um descompasso entre o

ritmo das empresas e o ritmo das universidades tradicio-

nais,que são percebidas como lentas em produzir as soluções

objetivadas nas parcerias.

A correção desse problema pode ser considerada uma

tarefa um tanto difícil, já que a constatação de “academicis-

mo”por parte das empresas fala-nos de um jeito de ser das

universidades tradicionais que possui raízes profundas na

cultura dessas instituições e que pode significar um grande

obstáculo à mudança organizacional.

Muito embora os resultados do presente estudo, por

imposição das limitações metodológicas, não possam ser

generalizados para o universo das empresas brasileiras, a

seriedade da questão merece consideração por parte das

Universidades Tradicionais que estão oferecendo ou que

pretendem oferecer algum tipo de serviço às empresas,

voltados à capacitação de pessoas, já que se trata de um

mercado importante para a captação de recursos finan-

ceiros essenciais à sua sobrevivência.

BIBLIOGRAFIAACCURSO,Beth.Quase 500 universidades corporativas no Brasil.Obtidono endereço http://www.elearningbrasil.com.br/home/noticias/clipping.asp?id=2348, acesso em 22 jul.2005.

ALLEN,Mark.The Corporate University Handbook:Designing,Managing,and Growing a Successful Program. Mark Allen Editor, 2002.

ALPERSTEDT,Cristiane.As Universidades Corporativas no Contexto do EnsinoSuperior. 2001.Tese (Doutorado em Administração) - Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo.

EBOLI,Marisa et al.Coletânea Universidades Corporativas:Educação Paraas Empresas do século XXI. São Paulo: Schmukler Editores, 1999.

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FISCHER, André L.; ALBUQUERQUE, Lindolfo Galvão de. Relatório FinalDELPHI-RH 2010:Tendências na Gestão de Pessoas.São Paulo:FEA-USP,2000.;

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____________. Corporate Universities: Lessons in Building a World-ClassWork Force. New York: McGraw-Hill, 1998.

____________.Lessons in How to Set Up a Corporate Universities.HumanResource Management International Digest. March/April 1999, pp. 35-36.

JOAQUIM [email protected]

Mestre em Administração pela FEA-USP,professor universitário,

consultor em Administração.

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22 MAR/ABR/MAI' 2005

E-GOVERNMENTCOMO FERRAMENTADE COMBATE À CORRUPÇÃOPor NORBERTO A. TORRES

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 23

A DEMANDA POR NÍVEIS DE EXCELÊNCIA NO ATENDIMENTO

À SOCIEDADE E O PAPEL FUNDAMENTAL DA TECNOLOGIA DE

INFORMAÇÃO

A crescente exigência,por parte da sociedade,pela busca

constante da excelência na administração pública,demanda

ações de modernização que objetivam atender aos anseios

de uma comunidade que prestigia e valoriza a eficiente

administração dos recursos públicos.

Alcançar um estado de eficiência,agilidade, transparência

e otimização dos recursos é um dos principais desafios que

qualquer país hoje precisa enfrentar,até para que as organi-

zações privadas possam competir internacionalmente e

operar de forma ágil nos mercados locais.

Esse desafio passa pela adequada adoção de soluções

relacionadas ao universo da tecnologia da informação,assim

como a conseqüente capacitação dos quadros envolvidos

na operacionalização dos processos em questão na adoção

de novas soluções de alto impacto.

Isso exige a absorção, o desenvolvimento e a implemen-

tação de novas técnicas e processos administrativos e de

gestão, suportados por novas tecnologias, demandadas em

níveis ainda mais altos que nas empresas privadas; passa a

ser fundamental equipar o governo como um parque de

tecnologia da informação capaz de oferecer a absoluta

integração no universo de informações, a simplificação de

procedimentos e a eliminação da dependência de manipular

informações por meios físicos (papel).

As enormes transformações provocadas pelo mundo aberto

de informações e sistemas, calcados na tecnologia da Inter-

net, trazem imensas oportunidades para que as estruturas

governamentais tornem-se muito mais eficazes e orientadas

ao atendimento à sociedade.

A T.I.traz imensas oportunidades para que o governo se torne

muito mais eficaz e orientado ao atendimento à sociedade.

Novas tecnologias podem ser adotadas, com um salto

sobre as gerações tecnológicas passadas,podendo promover

uma ampla reformulação de processos em governo.

O Governo do Estado de São Paulo é um exemplo bem-

sucedido de exploração dos recursos do Governo Eletrô-

nico, focalizando a prestação de serviços ao cidadão (e-

administração),o fomento à extensão dos processos demo-

cráticos (e-democracia) e a dinamização dos processos internos

e de elaboração de políticas públicas (e-governança).

A DESFRONTEIRIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Estamos, certamente, vivendo um momento especial na

história, em que está em curso uma total redefinição dos

limites de uma organização.

O que parecia, em um passado relativamente recente, ser

uma utopia,na qual cadeias completas de valor poderiam ser

integradas em processos que transcendem as organizações,

agora está se tornando possível, em decorrência, especial-

mente,das novas arquiteturas abertas e orientadas a serviços

(SOA – Service Oriented Architectures) e a processos (BPM

– Business Process Management Systems).

Estamos começando a entrar em um mundo de novas e

mais abrangentes formas de relacionamentos; muito do que

aprendemos sobre gestão está em um profundo processo

de mudança, mais ainda quando focalizamos os organismos

públicos e seu relacionamento com a sociedade,requerendo

uma nova forma de pensar sobre as organizações.

A nova organização,pública ou privada,precisará ter suas

operações suportadas por processos inteiros e integrados,

na maior parte das vezes transcendendo seus limites (dei-

xam de ser processos de uma organização para se transfor-

marem em processos de cadeias inteiras de relacionamento

entre organizações,e a desfragmentação de processos passa a

ser vital para operar com performance e alto nível de serviços).

Os diversos estágios ou níveis de e-government trazem excelentes opor-tunidades para o combate à corrupção, às fraudes e aos desvios nosorganismos de governo. Este artigo resume alguns aspectos fundamentaisdo governo eletrônico e focaliza a importância dos mecanismos associadosao fluxo de informações e serviços entre o governo e a sociedade, bemcomo do controle dos processos de governo no combate à corrupção.

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24 JUN/JUL/AGO' 2005

Poderíamos dizer que estamos entrando em uma nova

era,a da nova rede mundial de organizações inter-relacionadas,

em que perde o sentido a definição de fronteiras ou limites

organizacionais:

Segundo Peter Fingar (2004), estamos, agora, no que se

poderia denominar “terceira onda da gestão orientada a

processos”;a primeira remonta aos anos 1920,e foi dominada

pela teoria e os princípios formulados por Frederick Taylor;

a segunda onda se estabeleceu a partir do final dos anos

1980 e durante toda a década passada, em que predomi-

naram a busca pela otimização de processos, por meio da

reengenharia de Michael Hammer e outros autores impor-

tantes dessa época.

Na terceira onda,os processos precisam ser tratados de “ponta

a ponta”, se estendendo além das fronteiras da organização.

Mal estamos entrando neste novo mundo de possibilidades

e oportunidades!

Isso é verdade para uma companhia privada, mas ainda

mais para organismos de governo, por que as múltiplas

relações cruzadas são ainda mais amplas, e se um governo

fracassa em operar com agilidade e eficiência, o impacto é

muito mais profundo.

Nesta nova “onda”, mesmo o conceito tradicional de go-

verno eletrônico fica desatualizado, pois perde o sentido a

separação do que é um processo de governo como um todo

e o que é governo eletrônico.

AS GERAÇÕES DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO

Um dos aspectos mais significativos na análise do atraso

do país em relação à modernização dos processos de gover-

no está na ainda incsipiente adoção de novas tecnologias

nesses processos.

A figura a seguir ilustra e indica algumas das grandes

transformações tecnológicas ocorridas nas últimas décadas,

configurando o que,para efeito desta análise,denominamos

gerações de tecnologias de informação:

A quarta geração de tecnologias de informação traz

enormes possibilidades de reestruturação de processos,

com altos impactos sobre eficiência, reduções de custos e

muito maior agilidade e produtividade, sem que sejam

necessários investimentos muito elevados, que caracteri-

zavam os sistemas integrados propostos na década de 1990,

que muitas vezes se inviabilizaram.

TENDÊNCIAS

Estamos vivendo um período de profundas transforma-

ções na forma de os organismos públicos operarem, com

conseqüências de alto impacto sobre o atendimento ao cida-

dão, redução de custos operacionais e maior agilidade nos

processos administrativos, entre outras grandes mudanças.

Novas tecnologias e sistemas poderão transformar pro-

fundamente as ações governamentais,possibilitando a reali-

zação de papéis muito mais estratégicos.

Poderemos ter,dentro de poucos anos, se ações proativas

forem realizadas, a “máquina pública” completamente

reconfigurada,muito mais capaz de atender às demandas da

sociedade,com menores custos operacionais e muito maior

efetividade.

A figura a seguir indica os principais temas que a tecnolo-

gia de informação aplicada aos organismos de governo dev-

eria focalizar, de modo a efetivamente promover transfor-

mações de alto impacto que podem repercutir em enormes

benefícios para a sociedade como um todo, desde melhor

gestão de recursos, melhor atendimento ao cidadão, maior

transparência e credibilidade nas ações governamentais,

entre tantos outros:

Figura 1A desfronteirizaçãodas organizações

• Banco de dados• Redes internas. Primeirossistemas integrados• Sistemas internosrelativamente integrados• Melhorias operacionaisde médio impacto• Sistemas ainda difíceisde construir e manter

• Internet• Workflow• Comunicações etrabalho em grupo• Sistemas internosbastante integrados• Melhorias operacionaisde médio impacto• Sistemas mais fáceisde construir e manter

• Conceito "Lego" paracomponentes de sistemas• Componentes Web(web services)• Orientação a processose não a sistemas • BPMS Business ProcessManagement Systems -processos integram tudo(processos externos einternos)• Automação operacionalem larga escala• Sistemas integradosde gestão• Integração de todasas redes•Transformaçõesoperacionais de altoimpacto

• Sistemas em mainframe• Alta dependência técnica• Sistemas internos isolados• Melhorias operacionaisde baixo impacto• Sistemas difíceis de construire manter

1ª GERAÇÃO DE T.I. (60'S e 70's) 2ª GERAÇÃO DE T.I. (60'S) 3ª GERAÇÃO DE T.I (90's)4ª GERAÇÃODE T.I. (00's)

Figura 2 Gerações de tecnologias de informação

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 25

O governo é um dos campos mais promissores de uso de

tecnologia de informação no sentido mais amplo, além dos

conceitos tradicionais de governo eletrônico, e na direção

de um novo conceito de processos inteiros integrados.

Primeiro, pela participação que o setor público tem no

produto nacional. No Brasil, atualmente, o setor público

consome, direta ou indiretamente, mais de 40% dos recur-

sos totais existentes; logo, qualquer esforço de racionaliza-

ção de uso desses recursos e de agilização de processos

tem enormes impactos, ainda mais se considerarmos que há

uma grande repetição de tipos de processos. Por exemplo,

praticamente todos os municípios operam de forma semelhan-

te,o mesmo ocorrendo com secretarias de Estado de mesma

natureza, mas o que se vê é uma proliferação de diferentes

formas de trabalhar e de soluções tecnológicas, em geral de

muito baixo nível, para suportar os processos envolvidos.

Segundo,pelo significativo atraso relativo que os organismos

públicos no Brasil apresentam no uso da tecnologia de in-

formação,em relação a outros países ou à iniciativa privada,

criando-se, assim, um enorme espaço de oportunidades

para projetos de reestruturação baseados em novos mode-

los organizacionais,mais flexíveis,ágeis e de menores custos

operacionais, suportados por novas tecnologias.

Terceiro,porque,ao se adotar modelos operacionais e orga-

nizacionais mais ágeis – o que sempre demanda novas tec-

nologias –, ganhamos em melhores serviços aos cidadãos,

menores custos governamentais e maior poder de compe-

tição para as empresas privadas no mercado internacional.

Finalmente, e talvez mais importante ainda, é a possibili-

dade muito maior de controle sobre as operações do governo,

na medida em que os sistemas de informações se integram.

IMPORTÂNCIA DE E-GOVERNMENT NO COMBATE A FRAUDES,

DESVIOS E CORRUPÇÃO

Vejamos como cada estágio do e-government pode auxiliar

no combate a fraudes, desvios e corrupção.

Tradicionalmente,consideram-se cinco os estágios de e-gover-

nment, isto é, estágios que um organismo de governo pode

explorar, por meio da Internet:

1º Estágio: Informação, disseminação, conteúdos de interesse

No 1º Estágio, o que se promove, basicamente, é o acesso

e disseminação de informações e conteúdos de interesse;

é o estágio em que ainda se encontra uma grande parte dos

organismos públicos no Brasil.

Neste estágio, a disseminação de notícias, de licitações do

governo, de cargos públicos a serem preenchidos, entre tantos

outros exemplos, já cria uma primeira base de transparência

que qualquer organismo público pode utilizar.

2º Estágio: Comunicação bidirecional

No 2º Estágio, já ocorre a comunicação bidirecional, permi-

tindo a interação entre o governo e a sociedade (cidadãos e

organizações), seja na forma de perguntas e respostas, fóruns

de discussão, solicitação e preenchimento de formulários, etc.

Este estágio possibilita aos cidadãos e às empresas um

grau de interação que promove, de um lado, maior conheci-

mento das ações governamentais, e, de outro, a comunicação

de retorno, em que o governo pode, muito mais facilmente,

identificar fatos relevantes que apontem para fraudes, desvios

e corrupção; serviços como o “disque denúncia” levados à

Internet, podendo ser acessados sem que a origem seja iden-

tificada, criam condições para que o governo possa ter muito

mais informações relevantes.

A Internet, que pode ser acessada sem identificação, a partir de

qualquer “cyber café”, pode ser um excelente canal de comuni-

cação para o governo na identificação de fraudes e corrupção.

Infelizmente, ainda há uma tendência, no Brasil, dos orga-

nismos públicos exigirem que a origem de informações pres-

tadas pela Internet seja identificada, o que constrange a maior

parte dos cidadãos a fornecer informações que poderiam ser

relevantes, por medo de qualquer tipo de sanção. Seria muito

mais acertado aceitar a não-identificação e promover um

serviço de triagem do que filtrar na origem, restringindo enorme-

mente as possibilidades de acesso a informações relevantes.

3º Estágio: Serviços e transações financeiras

No 3º Estágio, passam a ser oferecidos serviços e transações�

ATENDIMENTOAO CIDADÃO

DISPONIBILIZAÇÃODE INFORMAÇÃO

PARA A SOCIEDADE

INSERÇÃO DIGITALDO CIDADÃO

E DO MUNICÍPIO

INTEGRAÇÃOGOVERNO/SOCIEDADE

AUMENTARRECURSOS

DISPONÍVEIS

EFICIÊNCIAOPERACIONAL E

OTIMIZAÇÃODE RECURSOS

MAIORPARTICIPAÇÃO

DO CIDADÃONAS DECISÕES

PAPÉISESTRATÉGICOS

DA T.I. NOGOVERNO

CUMPRIMENTODA EGISLAÇÃO

GESTÃO EFICAZDA MÁQUINA

PÚBLICA

PROJETOS DELONGO ALCANCE

Figura 3 Focos estratégicos para a tecnologia de informação no governo

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26 JUN/JUL/AGO' 2005

Um dos sistemas mais importantes para qualquer empresa

ou organismo é sua contabilidade, não só pelos registros ali

contidos, mas pela obrigatoriedade de, para cada lançamen-

to, ter-se contrapartida;a soma final de todos os saldos deve ser

zero – se não o for,há erros ou falhas de lançamento.

Da mesma forma, se tivéssemos processos completa-

mente integrados,as ocorrências de desvios e fraudes pode-

riam ser mais facilmente percebidas, por meio de desbalan-

ceamentos nos fluxos entre esses processos,sejam esses flu-

xos financeiros,materiais ou de quaisquer outras naturezas.

Com a integração de processos,é possível ter um grau de

transparência muito elevado, pois, à medida que orga-

nismos governamentais deixam de operar estritamente seus

processos internos,integrando-se a processos de outros orga-

nismos de governo, a bancos, empresas e estendendo esses

processos até o relacionamento com o cidadão, as fraudes,

os desvios e a corrupção tornam-se muito mais vulneráveis,

eventualmente impossíveis de ser realizados sem que

algum ponto do processo como um todo detecte,por meio

de “desbalanceamentos operacionais”, anomalias indicado-

ras desses desvios.

A figura a seguir mostra o que ocorre com uma organização

excessivamente fragmentada: processos que exigem cons-

tante intervenção humana,porque são especializados demais,

necessitam de grande esforço de supervisão e controle.

Numa situação desse tipo, grande parte do trabalho humano

é utilizada para “administrar”a outra parte que efetivamente

produz, e as possibilidades de não ser identificados focos

de desvios financeiros, que estão por trás da maior parte

dos casos de corrupção, são grandes.

ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL TRADICIONAL

Já em processos integrados e desfragmentados, como

ilustra a figura a seguir, o que se tem é uma estrutura muito

mais leve e ágil, operando com ciclos de tempo muito mais

curtos, com menor carga de supervisão e controle e, mais

importante, no caso de governo, processos menos sujeitos

a manipulações fraudulentas.

ORGANIZAÇÃO DESFRAGMENTADA

A desfragmentação de processos exige que grande parte

da “inteligência”necessária à operação dos mesmos,em geral

tratadas fora deles, por trabalho humano, seja internalizada

nesses processos. Isso também limita ou impede operações

fraudulentas.

Atualmente vivemos a convergência de todas as tecnolo-

gias orientadas a processos e integração, que se unem para

formar novas e revolucionárias plataformas de processa-

mento, capazes de tornar a integração em larga escala e a

automação de processos uma tarefa, antes praticamente

impossível, relativamente simples, suportada por padrões e

ferramentas poderosas.

Essa nova disciplina, que agrega diversas tecnologias es-

pecíficas, é o BPM - Business Process Management, com fer-

ramentas integradas em BPMS - Business Process Management

� financeiras entre o governo e a sociedade, tais como com-

pras eletrônicas feitas pelo governo, pagamento eletrônico de

taxas e tributos pelos cidadãos e pelas empresas, concessão

de licenças e autorizações, registro eletrônico de autoria e patentes,

entre tantos outros serviços possíveis.

Este estágio possibilita que todas as transações realizadas,

por meio eletrônico sejam disponibilizadas para conhecimento de

qualquer cidadão ou empresa, tornando muito mais difícil

encobertar operações irregulares. Além disso, na medida em

que se promove o acesso de quaisquer interessados em operar

com o governo, muito maior atenção é dada a essas operações,

o que, por si só, dificulta ou mesmo impede ações fraudulentas.

4º Estágio: Integração vertical e horizontal no governo

No 4º Estágio, ocorrem transformações de outra natureza,

relacionadas à integração vertical e horizontal de processos no

governo, inclusive as integrações com a sociedade.

É neste estágio que se insere a questão anteriormente dis-

cutida a respeito da desfronteirização. É, também, neste estágio,

que existem as maiores possibilidades de uso do governo

eletrônico no combate à corrupção.

Figura 4 A organização desfragmentada

UNIDADESDE TRABALHO

WORKFLOW

Regras paraos processosentre componentes

Pessoas,tecnologiase processos Especialista

Figura 5 A organização fragmentada

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 27

Systems, que propõe toda uma nova forma de tratar a orga-

nização e suas relações com o seu meio, através de proces-

sos, altamente suportados por tecnologia.

Com essa abordagem,poder-se-á chegar ao que se poderia

denominar “gestão automática dos processos operacionais”.

Por meio de tecnologias orientadas a processos, tudo o

que for relevante a um processo passa a ser tratado de

forma integrada (ocorrências, históricos, documentos asso-

ciados, decisões tomadas, projetos gerados, pendências re-

gistradas e controladas, etc.), além de viabilizar a cobrança

automática de ações a responsáveis pelas mesmas, a partir

de critérios como datas-limite, condições de exceção, etc..

EXEMPLO DE POSSIBILIDADE DE INTEGRAÇÃO

➧ CONTRATOS / OBRAS

CONCLUSÃO: ISTO MUDA TUDO !!

A possibilidade de integração abrangente de processos que

as novas tecnologias trazem muda completamente as referên-

cias que temos hoje dos processos de governo, proporcio-

nando maior transparência,muito maior agilidade,redução de

fraudes,desvios e descontrole;isto é,por exemplo,o que se con-

seguiu na estrutura de relacionamento integral entre os bancos.

Com processos inteiros,mudam os serviços aos cidadãos e às

empresas.O governo eletrônico se transforma em governo ba-

seado em processos eletrônicos integrados com a sociedade e

para ela orientado,e não para o benefício daqueles que governam.

CONTRATO

CAMPOGESTÃOAUTOMÁTICA DE

PROCESSOS

VISÃOGEOINFORM.

P/ GESTÃOGED

CONTABILIDADEORÇAMENTO

OBRA/ PROJETO

Figura 7 Exemplo de integração: contratos <-> projetos/obras <-> gestãofinanceira <-> orçamento/contabilidade

5º Estágio: Participação política do cidadão e das empresas nas

ações do governo

No 5º Estágio, é promovida a participação política do cida-

dão e das empresas nas ações do governo, como, por exemplo,

plebiscitos eletrônicos, orçamentos participativos, etc.

Este é o estágio em que a sociedade passa a poder auditar

e efetivamente ser partícipe das ações governamentais.

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NORBERTO A. [email protected]

Professor Titular da Escola de Administraçãode Empresas de São Paulo e Coordenador

do TecGov – Centro de Estudos em Tecnologiade Informação para Governo (FGV).

Presidente da Unicomm Integração de Negócios,Processos e Sistemas Ltda.

A figura a seguir ilustra a abrangência da integração possível com as novastecnologias, na área de Contratos/ Projetos/ Obras, que é sempre um dos focosde maior atenção necessária em qualquer esfera do governo, e onde costumamocorrer quase todosos casos de corrupção, desvios e fraudes:

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28 JUN/JUL/AGO' 2005

REPENSANDOA BIOÉTICA Por GLÁUCIA RITA TITTANEGRO

Além de questões políticas,econômicas, sociais, culturaisou religiosas, o avanço da técnicatambém se mostra como um gran-de ponto de interrogação para aconduta ou o comportamento doser humano.Justamente este ladohumano parece ter se perdidoou,pelo menos,deixado de ladoem vista dos avanços técnicos.

Mar AdentroDirigido por Alejandro Amenábare com Javier Bardem no elenco.

Vencedor do Oscar de MelhorFilme Estrangeiro.

O filme retrata a luta do marinheiroRamón Sampedro para pôr fimà sua vida.

O TERMO

É possível que jamais se tenha falado tanto em Ética como

em nossos dias atuais.Crises de governo,descrédito das insti-

tuições,corrupção,falta de compromisso com os eleitores,etc.,

são motivos mais que evidentes para uma renovada reflexão

sobre os valores,sobre os princípios que regem as sociedades.

Como uma tendência que nos é natural,decidimos encontrar

um culpado – o famoso bode expiatório – para esta situação.

E decretamos que por uma visão mecanicista ou cartesiana

nos transformamos em meros técnicos. Daí surge a necessi-

dade de uma volta ao Humanismo.

A Bioética emerge nessa volta ou reviravolta ou revolta.No

início dos anos 1970, um bioquímico oncologista chamado

Van Rensselaer Potter cunhou o termo Bioética em seu arti-

go “The science of survival”, e no ano seguinte no livro

Bioethics: bridge to the future. Preocupado com os perigos

de uma guerra fria que corria vertiginosamente para a cons-

trução de armas mais poderosas e novas bombas, assim

como com a destruição sempre mais acelerada do planeta

por seus habitantes, Potter procurou mostrar que o cami-

nho para reverter este processo seria a retomada do humano,

a junção,ou melhor, a conjunção entre um bios e um ethos.

A conjunção é Ética da Vida ou Bioética.

SEPARAÇÃO E DIFERENÇA

Esta conjunção reacende a dialética entre o individual e o

universal e, sobretudo, desperta a singularidade para a sua

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 29

responsabilidade. No nosso século o sujeito kantiano indi-

vidual e autônomo foi substituído pelo grupo social ou por

um partido político, e de sujeito livre transformou-se em

pseudo-sujeito. Substituindo-se a liberdade subjetiva pela

liberdade do coletivo,geraram-se vários problemas,dos quais

o primeiro é “a questão da diferença entre a responsabilidade

ética e a responsabilidade política”,como diria Michel Renaud.

A conjunção e não aponta para uma dissolução de um

termo no outro, como estamos acostumados a entender a

união, mas para a diferença. O bios – toda a vida em si

mesma – e o ethos – que é a vivência ética e,portanto,mais

básica do que qualquer vivência social, cultural, política ou

econômica, é uma relação originária. É como se Potter

tivesse tido a chance de remexer no baú da vovó, vasculhar

as cavernas do início da civiliza-

ção, voltar-se para o que estava no

início e, assim, para o que estava

além da realidade.Voltar às origens

significa redescobrir o que de

antemão não estava separado.

Trata-se do grande movimento da

existência ética: continuar carte-

sianamente separando – porque na

separação está a diferença –, mas ao mesmo tempo voltar à

conjunção, isto é, redescobrir o humano na técnica, o

humano como técnico e humano ou como humano e técnico.

A ponte que Potter buscava construir é justamente a con-

junção de termos,ambos permanecem o que são: diferentes

outros,ou seja, a diferença faz a diferença. É preciso que se

perceba isso para que o discurso de um novo ou renovado

Humanismo não se perca em retórica.

Hoje, o humano não pode se desfazer da técnica – pro-

dução humana por excelência.Ao mesmo tempo em que é

refém, é também fruição. Cada uma das ações humanas

pode ter o duplo efeito e, sobretudo, cada uma das pro-

duções do ser possui esta ambigüidade.Viver eticamente é

perceber esta equivocidade inerente e con-viver com ela.

A vida em sociedade é linguagem e, por conseguinte, erros,

enganos, dissimulação, mentiras e verdades.

INÍCIO – REVOLVENDO AS IDÉIAS

A Bioética é um movimento de idéias ou uma nova disci-

plina que assumiu proporções surpreendentes. Muitos

foram os centros de pesquisa que se formaram, os autores

que escrevem sobre o argumento, as tendências de pensa-

mento sobre este assunto, as comissões, os cursos, etc.

Certamente,a Bioética é um argumento que está na pauta

do dia, sobretudo, quando temas como a eutanásia são,

tanto na ficção como na vida real, abordados pela indústria

cinematográfica e pela imprensa. Não seria demais lembrar

que os filmes Menina de Ouro e Mar Adentro foram contem-

plados com o Oscar em sua última premiação (2005). O

primeiro é uma história fictícia, o segundo é sobre a vida do

espanhol Ramón Sanpedro,um dos principais casos estuda-

dos em Bioética. Ramon resta tetraplégico após um aciden-

te de juventude e permanece ligado a uma cama diante de

uma janela com vista para o mar. Sua luta pelo direito de

morrer dura quase 30 anos,direito este negado pela própria

justiça espanhola. Ao final, depois de um plano meticu-

losamente elaborado, consegue o seu objetivo. E nos deixa

com a questão: qual é o sentido da vida?

Um outro caso que nos fez mergu-

lhar de novo no problema: a ameri-

cana Terri Schiavo.A decisão de reti-

rar os tubos de alimentação que a

mantinham em vida ofereceu à mídia

uma constante fonte de notícias e ao

público, talvez a sensação de ter de

participar do processo decisório.

Em Potter, a Bioética já é uma pos-

tura, uma decisão, uma vocação. Somos chamados a cuidar

da vida, a protegê-la, a promovê-la. O chamado vem da

urgência da própria fragilidade da vida. É como se vivêsse-

mos por um fio. Certamente, esta é uma das preocupações

em forma de apelo nos escritos de Potter, que foi consider-

ado algumas vezes como o pai da Bioética. Se não podemos

concordar diretamente com a paternidade, podemos, sim,

aceitar que este é o início mais aberto da reflexão bioética.

Na realidade,o ponto de início ainda é motivo de discussão

entre os chamados bioeticistas. Chamamos de início aberto

o momento em que o termo começa a ser usado,e este uso

é compartilhado por Andre Hellegers do Instituto Kennedy,que

é indicado por alguns como o verdadeiro “genitor”da Bioética.

O SACRIFÍCIO DO OUTRO

Quem sabe, poderíamos identificar o início um pouco mais

atrás, na experiência de aniquilação sofrida por muitos

seres humanos nos campos de concentração da Alemanha

nazista. Este é o momento em que a racionalidade humana

se vê em xeque.A racionalidade deixa de ser uma definição

para se tornar um desejo do humano. O sofrimento inútil –

ou o sacrifício – de milhões de pessoas demonstra o fracasso e

ao mesmo tempo o perigo da concepção que identifica

Van Rensselaer PotterDoutor em Bioquímica,pesquisador e professor na áreade Oncologia no LaboratórioMcArdle da Universidade deWisconsin/ EUA.

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30 JUN/JUL/AGO' 2005

vontade e razão. E esta situação aponta para uma nova defi-

nição de liberdade: prevenção do momento da animalidade

ou da irracionalidade.A vida depende dessa prevenção,visto

que se manifesta na locução: enquanto-ainda-há-tempo.

Enfim, queremos mostrar aqui que a Bioética é muito mais

que uma discussão sobre os dilemas acerca do início ou do

final da existência, da possibilidade do humano de decifrar

códigos genéticos e da iminência da clonagem, da possibi-

lidade de superar os limites da natureza na geração de outros

seres,etc. A Bioética é uma postura. A composição deste vo-

cábulo em bio e ética parece já querer indicar onde recai o peso

maior.Viver a ética é preservar o que se encontra por um fio – Bios.

O SACRIFÍCIO DO MESMO

Nas últimas décadas, o estudioso francês René Girard

analisou a questão do sacrifício religioso nas civilizações

antigas e demonstrou como essa idéia está presente em

nossa economia de sociedade. Para o

autor, o sacrifício possui uma certa

ambivalência:de um lado ele é a “coisa

mais santa” e do outro, um ato “crimi-

noso”.É criminal porque se trata do assas-

sínio da vítima que é sagrada;ao mesmo

tempo,a vítima só é sagrada se for imo-

lada ou assassinada.

O sacrifício protege a comunidade de

sua própria violência ao polarizar, como diz Girard,“sobre a

vítima germes de discussão por toda parte derramados e ele

as dissipa propondo-lhe uma saciedade parcial”. Assim a

função purificadora do sacrifício consiste em restaurar a

comunidade de todas as rivalidades e de toda inveja que

envolvem os seus elementos.Neste sentido,o sacrifício fun-

ciona como o pharmakos da comunidade, impedindo a

propagação da violência ou a contaminação da comu-

nidade. O sangue versado da vítima é um sangue impuro,

isto é, que contagia ou que torna impuro tudo aquilo que o

toca e que por ele é tocado.O sangue da vítima do ato crim-

inoso desencadeia a violência, pois clama por vingança,

enquanto que o sangue da vítima sacrifical pode apaziguar

este desejo que brota da violência no interior das socie-

dades. Mesmo que o sacrifício se mostre um pharmakon

pouco possante para extirpar toda violência da existência

humana, ele funciona como um remédio eficaz evitando a

sua epidemia.Assim, diria Girard que “a contaminação é um

perigo terrível ao qual, na verdade, só os seres já impregna-

dos de impureza, já contaminados,não hesitam em se expor.

Se todo contato, mesmo fortuito, com um ser impuro torna

impuro, convém da mesma forma, a fortiori, com todo con-

tato violento, hostil”. Por conseguinte, o sacrifício tem um

caráter preventivo, já que a violência voluntária ou vin-

gança é, de certa maneira, vista como uma doença, ou seja,

a própria epidemia ou o surto de agravação dessa endemia

que é a violência.

O sacrifício protege a comunidade de sua própria violência.

Essa proteção é bem mais uma prevenção ou substituição,

uma pré-visão do perigo.Ao tomar sobre si a responsabili-

dade por tudo e por todos,o mesmo inverte este movimen-

to circular que é a violência e reconhece-se uma prenda

envenenada,como um ser capaz de assassínio.Assim sendo,

o eu se descobre livre de uma liberdade que consiste justa-

mente em prever para poder evitar o mal.

A liberdade vista desta forma é muito mais do que o Prin-

cípio da Autonomia,excessivamente proposto pela Bioética

em nossos dias. E talvez o grande escândalo no Ocidente

seja realmente colocar em xe-

que a liberdade do humano.

O grande desafio para a pre-

servação da vida não é tanto o

desrespeito dos direitos huma-

nos, mas a inconsciência gene-

ralizada quanto ao dever de pre-

venção e de cuidado.

Cuidar é um dever que não pode esperar pela deliberação

ou pelo engajamento livre do sujeito.Cuidar é já acolher nas

entranhas: eis a tradução do termo misericórdia.

Num mundo em que se questiona se é mais justo salvar

baleias ou alimentar e abrigar crianças vítimas da miséria,da

Aids ou das guerras,cuidar do lixo ou favorecer a dignidade

da vida e da morte humanas,e todos os dilemas que se apre-

sentam, a Bioética se apresenta como um discurso face-a-

face em que tudo é infinitamente urgente. Somos respon-

sáveis por tudo e por todos, enquanto ainda há tempo. O

cuidado ou a hospitalidade – eis o desafio do humano ou a

própria humanidade do humano.

René Girard

O sacrifício tem um caráter preventivo, já que a violênciavoluntária ou vingança é,de certa maneira, vista comouma doença.

GLÁUCIA RITA [email protected]

Doutora em Filosofia pela PontifíciaUniversidade Gregoriana – Roma

Coordenadora do Curso de Filosofiae do Curso de Especialização em Bioética

do Centro Universitário São Camilo

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 31

A questão da responsabilidade social tem sido tema recor-

rente no mundo dos negócios. Há uma crescente preocu-

pação por parte das empresas brasileiras em compreender

seu conceito e dimensões e incorporá-los à sua realidade.

Muitas empresas já se mobilizaram para a questão e estrutu-

raram projetos voltados para uma gestão socialmente

responsável, investindo na relação ética, transparente e de

qualidade com todos os seus públicos de relacionamento.

Essas iniciativas, apesar de apresentarem resultados posi-

tivos, representam, na maioria das vezes, ações pontuais e

desconectadas da missão, visão, planejamento estratégico e

posicionamento da empresa e, conseqüentemente, não

expressam um compromisso efetivo para o desenvolvimen-

to sustentável. Em muitos casos, as empresas brasileiras

acabaram por associar responsabilidade social à ação social,

seja pela via do investimento social privado,seja pela via do

estímulo ao voluntariado. Esse viés de contribuição, embo-

ra relevante, quando tratado de maneira isolada, coloca o

foco da ação fora da empresa e não tem alcance para influ-

enciar a comunidade empresarial a um outro tipo de con-

tribuição, extremamente importante para a sociedade: a

gestão dos impactos ambientais, econômicos e sociais

provocados por decisões estratégicas,práticas de negócio e

processos operacionais.

Para que se compreenda esta abordagem mais ampla,que

podemos chamar de sustentabilidade empresarial, é

necessário que se conheça previamente o conceito de

desenvolvimento sustentável. A definição mais comumente

aceita é a criada em 1987, na Comissão Brundtland, que

determina que o desenvolvimento sustentável é aquele que

A GESTÃO PARA ARESPONSABILIDADE SOCIALE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Por TARCILA REIS URSINI e GIULIANA ORTEGA BRUNO

Alunos da Apae-Cotia trabalham comaparas de madeira doadas pela fábricade armários Ornare. (São Paulo - SP, 16.12.2003. Foto de Fernando Moraes/Folha Imagem)

“É comum e compreensível o empresário indagar: o que devo fazer? Pelaprópria natureza da situação, não é provável que a resposta mais criativaseja alguma ação específica, mas talvez um posicionamento diferente, oua adoção de uma nova forma de ver a situação e fazer escolhas em outras bases”(William Harman e John Hormann. O Trabalho Criativo: O Papel Construtivo dos Negócios numa Sociedade em Transformação).

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32 MAR/ABR/MAI' 2005

“satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a

capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas

próprias necessidades”. Já a sustentabilidade empresarial,

segundo o Instituto Ethos , consiste em "assegurar o suces-

so do negócio a longo prazo e ao mesmo tempo contribuir

para o desenvolvimento econômico e social da comuni-

dade,um meio ambiente saudável e uma sociedade estável".

O conceito de sustentabilidade empresarial pressupõe,

então, que a empresa cresça, seja rentável e gere resultados

econômicos,mas também contribua para o desenvolvimen-

to da sociedade e para a preservação do planeta.Trata-se do

conceito do Tripple Bottom Line, que determina que a

empresa deve gerir seus resultados, focando não só no

resultado econômico adicionado,mas também no resultado

ambiental e social adicionado. O conceito de responsabili-

dade social empresarial traz, ainda, a questão da relação da

empresa com seus diversos públicos de interesse,conforme

expresso na definição do Instituto Ethos: “Responsabili-

dade social empresarial é a forma de gestão que se define

pela relação ética e transparente da empresa com todos os

públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabeleci-

mento de metas empresariais compatíveis com o desen-

volvimento sustentável da sociedade, preservando recursos

ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando

a diversidade e promovendo a redução das desigualdades

sociais”.Dito de outra maneira, espera-se cada vez mais que

as organizações sejam capazes de reconhecer seus

impactos ambientais, econômicos e sociais e, a partir desse

pano de fundo, construam relacionamentos de valor com

os seus diferentes públicos de interesse,os chamados stake-

holders – público interno,fornecedores,clientes,acionistas,

comunidade,governo e sociedade,meio ambiente,entre outros.

Embora já haja diversos exemplos de práticas de gestão

socialmente responsável, a inserção da sustentabilidade e

responsabilidade social às práticas diárias de gestão ainda

representa um grande desafio para grande parte da comu-

nidade empresarial brasileira. A associação desses con-

ceitos à gestão dos negócios deve necessariamente expres-

sar o compromisso efetivo de todos os escalões da empre-

sa, de forma permanente e estruturada. O compromisso do

público interno traduz a qualidade da inserção do tema na

cultura organizacional.Em outras palavras,uma organização

não consegue ratificar a sua identidade sem que seu públi-

co interno – seus colaboradores mais diretos – o faça em

suas relações cotidianas.É por conta disso que a sustentabi-

lidade e a responsabilidade social empresarial não pode ser

atribuída apenas em nível institucional, mas precisa ser ra-

tificada pelo público interno que reconstrói um contexto

organizacional mais inclusivo.A educação corporativa e os

sistemas de gestão têm um papel essencial nisto.

Essa nova visão pressupõe um processo de profunda

mudança na cultura organizacional e, conseqüentemente,

nos processos, produtos e, em última análise, nos modelos

de negócio. Em muitos casos, a alta direção está compro-

metida com a sustentabilidade empresarial,mas não encon-

tra mecanismos para fazer com que seu público interno

assimile este conceito e mude sua postura.Por outras vezes,

a lógica de mercado, que pressiona pela minimização de

custos e maximização de resultados no curto prazo, impede

uma reflexão maior sobre a função social de cada negócio.

Em última análise, o ideal seria que as empresas de medica-

mentos fossem, na realidade, empresas de saúde; as empre-

sas automobilísticas, empresas de transporte e mobilidade,

e assim sucessivamente. Cada negócio encontraria sua ver-

dadeira função social, em um mundo em que as relações de

poder e consumo devem ser repensadas.

Há algumas iniciativas que podem ajudar a corporação a

caminhar rumo a esta mudança. As empresas podem, por

exemplo,provocar momentos de formação sobre o tema da

responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável,

convidando seus públicos de interesse a refletirem sobre

sua atuação em relação a essas questões. Esse processo de

educação para a sustentabilidade é fundamental para que se

compreenda o contexto e a necessidade de mudança.

Nove funcionários da pequena empresa de galvanização Pro-gal,na Vila Prudente (zona leste de SP). A equipe conta com detentos emregime semi-aberto, egressos e funcionários sem antecedentes criminais.(São Paulo, SP, 22.09.2004. Foto: Fernando Moraes/Folha Imagem)

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 33

Outro passo importante seria a realização de um diagnós-

tico abrangente sobre as oportunidades e ameaças para

uma gestão sustentável. Com base nesse diagnóstico, a

empresa implementaria medidas corretivas para processos

que estivessem indo contra a sustentabilidade empresarial.

Por outro lado, a empresa melhoraria outros processos, de

forma a potencializar sua atuação para a sustentabilidade,

inserindo este novo olhar em cada estratégia e cada ação,

sejam elas de comunicação, de produção, de desenvolvi-

mento de novos produtos ou de parcerias com organiza-

ções da sociedade civil. Para o sucesso dessa empreitada,os

stakeholders seriam envolvidos ao longo de todo o proces-

so, tornando-os parceiros neste desafio.

Para que o processo se estruture de maneira sólida,ele deve

estar integrado aos rituais de planejamento da empresa. O

diagnóstico das oportunidades e ameaças em sustentabili-

dade empresarial deve alimentar o diagnóstico de planeja-

mento estratégico da empresa e as ações e medidas a serem

implementadas devem ser planejadas simultaneamente às

ações designadas nesse planejamento estratégico. Para que

a mudança na organização seja efetiva, o processo deverá

estar totalmente integrado aos processos já existentes e não

correr no paralelo.

A estruturação da empresa para essa mudança exige

esforços de toda a corporação, porém, torna-se cada vez

mais evidente que esses esforços resultam em recompensas

para a organização. Entre os dirigentes organizacionais,

cresce a percepção de que a incorporação dos conceitos de

responsabilidade social nas relações com os diversos públi-

cos de interesse pode implicar melhorias no desempenho

empresarial.Com relação ao público interno – a grande van-

tagem competitiva das empresas –, pode-se observar um

maior nível motivacional, menores índices de turnover e

atração de novos talentos. Com relação à cadeia de forneci-

mento,há possibilidade de geração de parcerias duradouras,

de longo prazo,criando uma visão compartilhada do negócio.

Uma empresa ambientalmente responsável tem potencial

de redução, reutilização e reciclagem de materiais, o que

impacta significativamente na eco-eficiência e suscita ambi-

entes participativos e mais criativos, com o uso de alterna-

tivas inteligentes de consumo. Além disso, uma gestão

socialmente responsável pode agregar valor à marca, que

vai além do produto tangível, associando a ela valores posi-

tivos, gerando relacionamentos mais duradouros com con-

sumidores e impactando em imagem e vendas.

A idéia central da iniciativa é construir, gradualmente,

uma rede de relações capaz de agregar um valor diferenciado

à empresa e a seus diversos públicos, ao mesmo tempo em

que considera questões relevantes para a sociedade con-

temporânea.Trata-se de construir uma gestão que envolva

os diferentes níveis hierárquicos da organização com o com-

prometimento de minimizar causas e impactos de questões

que afligem a sociedade contemporânea (no caso brasileiro

– geração de empregos, melhoria na distribuição de renda,

erradicação do trabalho infantil, educação, dentre outras),

contribuindo para a formulação e o controle de políticas

públicas, integrando grupos de trabalho com diversos outros

atores sociais e contribuindo de forma complementar a partir

do conjunto de competências corporativas disponíveis.

A mudança nada mais é que fazer tudo aquilo que já se faz,

mas de um jeito diferente, sustentável.

Angélica, 17, que trabalha em uma indústria de próteses dentáriasque prioriza a contratação de portadores de necessidades especiaise jovens em busca do primeiro emprego. {São Paulo - SP, 16.12.2003, 17h32. Foto de Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem. Digital)

TARCILA REIS URSINI [email protected]

Gerente de Pesquisa do Uniethos - braço educacionale de pesquisa do Instituto Ethos, com mestrado em

Desenvolvimento, pela Universidade de Londres e graduadaem Economia, pela FEA/USP e em Direito, pela PUC/SP.

GIULIANA ORTEGA [email protected]

Coordenadora de Pesquisa do Uniethos, graduada emAdministração de Empresas pela FEA/USP.

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34 JUN/JUL/AGO' 2005

PERSPECTIVAS TECNOLÓGICASPARA TRATAMENTO DEÁGUA E EFLUENTESPROCESSOS DE SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS

Por DR. JOSÉ CARLOS MIERZWA

Os atuais problemas vivenciados nas grandes regiões metropolitanas do Brasil, princi-

palmente no que se refere à qualidade de água para abastecimento e tratamento de eflu-

entes, trazem grandes incertezas sobre a capacidade das tecnologias atualmente em uso

para assegurar a saúde da população e a qualidade do meio ambiente.

Uma alternativa aos sistemas convencionais de tratamento são os processos de sepa-

ração por membranas, incluindo a microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração, osmose

reversa e troca iônica. Contudo, em razão das membranas utilizadas nesses processos

ainda não serem fabricadas no Brasil, o que é conseqüência da baixa demanda, são cria-

dos alguns paradigmas infundados sobre a viabilidade de aplicação desta tecnologia.

Estação de tratamanto de água,da Sabesp, que fica no Alto da Boa Vista.(São Paulo, SP, 23.07.2004. Foto Marlene Bergamo/Folha Imagem)

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 35

Os avanços tecnológico e industrial vivenciados nas últimas

décadas propiciaram uma grande melhoria na qualidade de

vida dos seres humanos. Esse fato é inquestionável quando se

avalia a imensa quantidade de bens e

produtos desenvolvidos para facilitar as

nossas atividades e possibilitar a expansão

da nossa expectativa de vida.

Por outro lado, quando as necessidades

básicas relacionadas à saúde e ao bem-

estar da população e a qualidade do am-

biente no qual esta população está inse-

rida são consideradas prioridades secun-

dárias, há o risco dos avanços tecnoló-

gico e industrial apresentarem um efeito

contrário àquele que se poderia prever.

Como exemplo, podemos considerar

a influência dos avanços obtidos com o

desenvolvimento tecnológico e industrial

sobre a composição dos efluentes líquidos

lançados no meio ambiente e, conseqüen-

temente, sobre a qualidade dos nossos

mananciais de água.

Um primeiro aspecto a ser considerado

diz respeito à quantidade de substâncias

que, potencialmente, podem estar presentes em um eflu-

ente líquido, seja de origem doméstica ou industrial.

De acordo com dados do Serviço de Compêndio de

Substâncias Químicas (Chemical Abstract Service), atual-

mente, o número de substâncias químicas orgânicas e

inorgânicas com registro neste órgão supera a marca de 25

milhões, das quais mais de oito milhões estão disponíveis

no mercado (CAS,2005).Essas substâncias são utilizadas na

formulação de uma ampla gama de produtos utilizados no

nosso dia-a-dia, o que significa que apresentam grande

potencial para atingir o meio ambiente.

O segundo aspecto a ser considerado diz respeito às tec-

nologias amplamente utilizadas para o tratamento de eflu-

entes e de água para o abastecimento humano, que no

Brasil, na maioria dos casos, foram desenvolvidas no início

do século XX,com algumas inovações ocorridas ao longo do

tempo, e que, possivelmente, não aten-

dem às necessidades de regiões especí-

ficas,como é o caso das grandes regiões

metropolitanas. Duas condições básicas

podem justificar esta afirmativa.

A primeira condição está relacionada

às incertezas envolvidas na eficiência

dos sistemas de tratamento disponíveis

para a remoção das várias substâncias

potencialmente presentes na água ou

efluentes na atualidade. A segunda con-

dição está diretamente relacionada à

área necessária para a implantação dos

sistemas convencionais de tratamento,

bem como para a disposição dos resí-

duos gerados durante o tratamento.

Uma alternativa aos sistemas conven-

cionais de tratamento para regiões que

apresentam condições desfavoráveis para

a sua aplicação são os processos de sepa-

ração por membranas, cujo desenvolvi-

mento tecnológico teve uma evolução acelerada a partir do

fim da década de 1950 (CHERYAN, 1998).

PROCESSOS DE SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS

Os processos de separação por membranas, muitas vezes

designados de forma incorreta como processos de filtração,

envolvem a utilização de membranas porosas e semiperme-

áveis para promover a separação dos contaminantes de uma

fase líquida ou gasosa. Algumas características que dis-

tinguem os processos de separação por membranas da fil-

tração são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Características que distinguem os processos de

separação por membranas da filtração.

Dentre os mitos criados sobre os proces-sos de separação por membranas pode-se destacar a alegação de que este é umprocesso de custo muito elevado. Issoresulta principalmente da associação dedois fatores: baixa competitividade entreos fornecedores de equipamento e deman-da reduzida, o que implica a ausência decritérios para a formulação de preços nomercado nacional.

Em países onde a tecnologia de sepa-ração por membranas está amplamentedifundida, como é o caso dos EstadosUnidos, o que se observa é que os custosde sistemas de tratamento que utilizammembranas são competitivos se com-parados com os custos das tecnologiasconvencionais de tratamento.

Essa condição leva a uma reflexão acercada condução de novas pesquisas sobre odesenvolvimento e a aplicação dosprocessos de separação por membranas paratratamento de água e efluentes no Brasil.

CARACTERÍSTICA FILTRAÇÃO PROCESSOS DE SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS

Modo de operação Intermitente Contínuo

Fluxo da corrente a ser processada Perpendicular ao meio filtrante Tangencial à membrana

Capacidade de separação Sólidos em suspensão Sólidos em suspensão, sólidos dissolvidosorgânicos e inorgânicos

Força motriz para promover Pressão hidráulica Pressão hidráulica, atividadea separação química e diferença de potencial elétrico

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36 JUN/JUL/AGO' 2005

Os processos de microfiltração,ultrafiltração,nanofiltração e

osmose reversa utilizam a pressão hidráulica como força

motriz para promover a separação dos contaminantes pre-

sentes na água, enquanto o processo de eletrodiálise utiliza

um campo elétrico. Outra distinção entre o processo de ele-

trodiálise e os demais é que na eletrodiálise os contami-

nantes é que migram através das membranas.

A capacidade de separação de contami-

nantes nos processos de separação por mem-

branas depende das características das mem-

branas, das propriedades físico-químicas da

corrente que será submetida ao tratamento e

das condições de operação do sistema.

Na Figura 1 está esquematizada a eficiên-

cia de alguns processos de separação por

membranas em função da pressão de ope-

ração e características das membranas.

Em relação ao processo de eletrodiálise, o

seu campo de aplicação fica restrito às correntes que apre-

sentam espécies iônicas em solução, sendo que a presença

de material particulado e compostos orgânicos pode resul-

tar na perda da eficiência de separação ou degradação da

membrana.

Operacionalmente os processos de separação por mem-

branas são bastante simples, devendo-se ressaltar que a efi-

ciência e a durabilidade das membranas dependem da uti-

lização correta da membrana para a aplicação a que esta se

destina.Por exemplo,membranas de osmose reversa são indi-

cadas apenas para a separação de espécies dissolvidas,sendo

que a presença de material em suspensão na corrente de ali-

mentação do sistema pode resultar na perda da membrana.

Embora os processos de separação por membranas sejam

amplamente difundidos e utilizados em muitos países,no Brasil eles

ainda são pouco conhecidos,o que resulta no estabelecimento de

paradigmas infundados sobre a viabilidade de utilização dos mesmos.

Um exemplo de paradigma associado aos processos de sepa-

ração por membranas é o seu elevado custo em comparação com

as tecnologias disponíveis atualmente.

Isso,por sua vez,é resultado da combi-

nação de dois fatores que estão intima-

mente relacionados.

Em primeiro lugar, o Brasil não pos-

sui tecnologia para fabricação de mem-

branas em escala,o que se deve basica-

mente à baixa demanda por este tipo

de produto. Como conseqüência, os

equipamentos disponíveis no mercado

nacional são trazidos por empresas que

representam fabricantes internacionais.

A baixa competitividade no mercado interno, associada à baixa

procura por sistemas de separação por membranas, resulta na

ausência de critérios na formulação de preço dos equipamentos

comercializados.

Essa situação não é observada em mercados que apresentam

demanda elevada,uma vez que isso gera uma maior competição

entre os fornecedores, resultando em uma política de preços

favorável à disseminação da tecnologia.

Como exemplo,na Figura 2 são apresentados dados compara-

tivos sobre os custos de tratamento de água nos Estados Unidos uti-

lizando-se tecnologias diversas (US Department of Interior,2001).

Os valores apresentados na figura foram atualizados para o mês de

agosto de 2004.

Analisando-se os dados apresentados na Figura 2, verifica-

se que os processos de separação por membranas, se com-

parados com as opções atualmente utilizadas para

Os processos de separação por membra-nas que podem ser utilizados para o trata-mento de água e efluentes são divididosem cinco categorias distintas (AWWA, 1996;CHERYAN, 1998 e MULDER, 2003):

• microfiltração;

• ultrafiltração;

• nanofiltração;

• osmose reversa;

• eletrodiálise e sua variante eletrodiálisereversa.

Osmose Reversa

Pressão (ar)Diâmetro do poro (mm)

15 -150

5 -35

1 -10

1 ≤ 20

< 0,001

< 0,001

0,001 - 0,1

0,1 - 5

Nanofiltração

Ultrafiltração

Microfiltração

Água

Sais dissolvidos

Lactose

Proteínas

Bactérias e gorduras

Alimentação Membrana Concentrado

Permeado

Figura 1 - Representação da capacidade dos processos de separação por mem-branas em função da pressão de operação e características das membranas.

2,00

1,80

1,60

,.40

1,20

1,00

0,80

0,60

0,40

0,20

10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00

CUST

O (U

S$/M

)3

CAPACIDADE (L/s)

Figura 2 - Comparativo do custo de tratamento de água nos Estados Unidos,utilizando-se tecnologias diversas.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 37

tratamento de água em regiões altamente urbanizadas,onde

tem sido estudada a utilização de sistemas combinados de

tratamento convencional, carvão ativado e oxidação com

ozônio, podem vir a se tornar competitivos, isso sem levar

em consideração os demais custos associados à implantação

dos sistemas como, por exemplo, o custo de aquisição do

terreno em áreas altamente valorizadas.

Conclusões

Uma avaliação dos problemas relacionados à evolução

tecnológica e industrial, sem a devida preocupação com os

aspectos de saúde pública e meio ambiente, permite con-

cluir que é necessária uma reavaliação das tecnologias de

tratamento de água e efluentes amplamente utilizadas em

grandes regiões urbanas.

Dentre as opções existentes, os processos de separação

por membranas podem contribuir para a redução dos pro-

blemas que estão se estabelecendo.

No entanto, a baixa demanda por este tipo de tecnologia

e a falta de capacidade para a produção de membranas inter-

namente conduzem a uma completa ausência de critérios

para a formulação de preços dos sistemas de separação por

membranas importados, resultando em um panorama desfa-

vorável à sua aplicação.

Avaliando-se as condições estabelecidas em mercados

competitivos, pode-se constatar que os processos de sepa-

ração por membranas podem ser considerados uma opção

economicamente viável.

Este panorama estabelece condições favoráveis ao desen-

volvimento de pesquisas e iniciativas para a produção de

membranas no Brasil para viabilizar técnica e economica-

mente a sua aplicação.

Técnico trabalha no laboratório da Sabesp (Companhia deSaneamento Básico do Estado de São Paulo), que realiza análisesde água. (São Paulo, SP, 31.03.2004. Foto de Ciete Silvério/Folha Imagem.)

REFERÊNCIASAWWA (1996).Water treatment membrane process.American Water WorksAssociation Research Foundation. Lyonnaise des Eaux, Water ResearchComission of South Africa. Editorial Group Joël Mallevialle; Peter E.Odendaal and Mark R.Wiesner. McGraw-Hill.

CAS (2005). The latest CAS registry number and substance count.Chemical Abstract Service. http://www.cas.org/cgi-bin/regreport.pl, aces-sado em 02/03/2005.

CHERYAN, M (1998). Ultrafiltration and microfiltration handbook.Second edition. CRC Press.

MULDER, M. Basic Principles of Membrane Technology. Second Edition.Kluwer Academic Publishers. Reprinted, 2003. 564 p.

U.S. Department of Interior (2001).Total plant costs for contaminant factsheets. Bureau of Reclamation, Technical Service Center – Water treat-ment engineering and Research Group, D8230.

DR. JOSÉ CARLOS MIERZWA [email protected]

Professor do Departamento de EngenhariaHidráulica e Sanitária da Epusp

e Coordenador de Projetos doCentro Internacional de Referência

em Reuso de Água (Cirra)

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O documento Agenda 21 Global foi um dos mais impor-

tantes produzidos na Conferência das Nações Unidas para o

Desenvolvimento e o Meio Ambiente, realizada no Rio de

Janeiro em 1992 (ECO-92).

Seus 40 capítulos e quatro seções desenvolvem e forta-

lecem conceitos tais como o de desenvolvimento sustentável,

permeando todos os temas em dimensões sociais e econômicas

(seção 1), Conservação e manejo dos recursos para o desen-

volvimento (seção 2),Fortalecimento dos papéis dos grupos

principais (seção 3) e Meios de implementação (seção 4).

Este programa de ação internacional, que está sendo tra-

balhado em mais uma centena de países,busca implementar

padrões de desenvolvimento que conciliem proteção ambi-

ental, eficiência econômica e justiça social.

PRODUÇÃO MAIS LIMPAGARANTE SUSTENTABILIDADE

Por MARIO HIROSE

Funcionário na linha de produção da cervejariaAMBEV em Jacareí (SP). (Jacareí, SP, 04.03.2002, 18h.Foto de Juca Varella/Folha Imagem. Digital)

Durante a década de 1970, as sociedades industriais passaram por sériastransformações, advindas basicamente da tomada de consciência, por partedos governos e da sociedade civil,dos impactos ambientais por elas causados.

38 JUN/JUL/AGO' 2005

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 39

É neste panorama que encontramos presentes as ações de

prevenção à poluição, poluição esta que se configura como,

uma ameaça social,sanitária e econômica para todos os países,

industrializados ou não.

Desde a Conferência de Estocolmo de 1972 (Primeira Con-

ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano),

quando foi produzido o documento “Nosso Futuro Comum”,

começou-se a trabalhar questões de desenvolvimento sus-

tentável.Dessa preocupação com a qualidade de vida e a so-

brevivência do planeta, vem a consciência de que é melhor

prevenir do que remediar.

A questão da mudança dos padrões de consumo é tratada

em diversos pontos da Agenda 21,em especial nos que abordam

energia, transportes, resíduos e transferência de tecnologia.

O item 4.5 desta Agenda destaca:“Especial atenção deve

ser dedicada à demanda de recursos naturais gerada pelo

consumo insustentável, bem como ao uso eficiente destes

recursos,com o objetivo de reduzir ao mínimo o esgotamen-

to destes recursos e de reduzir a poluição”.

Ao longo desses anos, os agentes industriais e comerciais

rapidamente perceberam que a melhor maneira de reduzir a

poluição é fazendo mudanças diretamente nas fontes polu-

idoras, em vez de trabalhar com tratamento de resíduos e

disposição final dos mesmos.

Em 1985, foi criada nos Estados Unidos a Mesa Redonda

Nacional de Prevenção à Poluição (NPPR - National

Pollution Prevention Roundtable), organização sem fins

lucrativos,que se dedica à discussão e incentiva a implemen-

tação de modelos de gestão ambiental com ênfase na

redução na fonte, ao contrário dos modelos denominados

“fim-de-tubo”, que são a remediação, o controle e a disposi-

ção final dos resíduos.

Na década de 1990,outros grupos se formam,em diversos

países, para incentivar as práticas de prevenção à poluição,

que recebem o nome de “Produção Mais Limpa”.

Assim, por exemplo, são formados: em 1994, a Mesa

Européia de Produção Mais Limpa (ERCP); em 1996 a Mesa

Redonda de Produção Mais Limpa da Ásia e do Pacífico

(APRCP);em 1997 a Mesa Redonda Canadense de Prevenção

à Poluição (CPPR), organizada pelo Centro Canadense de

Produção Mais Limpa (C2P2); em 1998 a Mesa Redonda das

Américas de Produção mais Limpa; em 2000 a Mesa

Redonda para Prevenção da Poluição no México,e em 2001

a Mesa Redonda Paulista de Produção Mais Limpa.

Existem Centros para Produção mais Limpa em dezenas

de países,estimulando as ações de prevenção à poluição nos

setores industriais e de serviços,desenvolvendo ferramentas

educacionais e de capacitação em matéria de produção mais

limpa e realizando projetos piloto demonstrativos em dife-

rentes ramos industriais com sucesso.

No Estado de São Paulo, desde 1997 a CETESB

(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) tem

desenvolvido projetos pilotos demonstrativos em indústrias

de diversos ramos, como o têxtil, o metalúrgico, o metal-

mecânico, a farmacêutica, a química, entre outros.

As práticas de Produção Mais Limpa e Prevenção à

Poluição são importantes para todo tipo de indústria, em

especial para as médias e pequenas empresas em fase de

consolidação de seu sistema de gestão empresarial.

Entendemos que na gestão empresarial são encontrados

vários sistemas, como o de gestão do pessoal, de gestão da

informação, de gestão da produção, etc. Todos são muito

importantes e desempenham seu papel específico na efi-

ciência da empresa.

Dentre esses sistemas, a gestão ambiental é uma das que

mais fornecem vantagem competitiva em relação à concor-

rência, pois seus efeitos se fazem sentir diretamente na

relação da empresa com seus clientes e fornecedores.

Compreensivelmente, a gestão de resíduos, por exemplo,

após eles terem sido produzidos,leva a maiores gastos do que

instalar um procedimento de reduzi-los na fonte.

As práticas de Produção Mais Limpa podem envolver uma

ou mais das seguintes mudanças: de processo industrial, de

matérias-primas,de produto e de práticas de housekeeping.

Muitas vezes uma simples mudança de layout ou uma

melhor organização de um almoxarifado leva a economias

que, se contabilizadas, mostram a eficácia da prevenção.

A reciclagem interna, dentro do próprio processo produ-

tivo, obtendo novos subprodutos ou aumentando a quanti-

dade de produto manufaturado, é mais uma alternativa a ser

considerada na implantação de práticas de Produção Mais Limpa.

Evidentemente, toda empresa tenta realizar economias,

mas nem sempre estas são contabilizadas corretamente. Por

exemplo, há empresas que não contabilizam de modo per-

manente a economia de energia realizada em troca de lâmpadas

mais eficientes.Também nem todos percebem que neste caso

estão atuando na preservação dos próprios recursos natu-

rais.

Uma economia que utiliza matéria-prima mais pura ou de

melhor qualidade leva a uma redução significativa na pro-

dução de subprodutos indesejáveis. Pesquisas realizadas

mundo afora, em diversos tipos de empresa, mostram

primeiramente que a qualidade do produto não é afetada

pela introdução das práticas de Produção Mais Limpa, e, em

seguida,que a prevenção à poluição está freqüentemente rela-

cionada com ganhos e raramente com maiores gastos.

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40 JUN/JUL/AGO' 2005

De acordo com o manual de implementação de um pro-

grama de prevenção à poluição da CETESB,“investimentos

em prevenção à poluição podem afetar os custos relaciona-

dos ao atendimento da legislação ambiental, imagem da

empresa, saúde e segurança do trabalhador, prêmios pagos

às seguradoras, custos indiretos e outros relacionados ao

gerenciamento da empresa como um todo, trazendo benefí-

cios indiretos de difícil mensuração a curto prazo,mas signi-

ficativos à empresa como um todo a médio e longo prazos”.

Os custos de introdução de um programa de prevenção

àápoluição acabam sendo financiados pelas próprias econo-

mias realizadas no processo, calculando seu retorno finan-

ceiro que, em geral, é rápido.

Assim, uma empresa que muda as condições de seu

processo atuando diretamente na fonte, introduzindo

matérias-primas mais puras, diminuindo a toxicidade dos

materiais envolvidos, ou ainda usando de modo mais efi-

ciente recursos como água e energia, estará se transforman-

do em uma empresa ecoeficiente.

Em vez de lutar contra os sintomas da poluição,a empresa

irá mudar as condições na fonte, ou seja, na própria origem

da geração de resíduos, estes muitas vezes problemáticos.

Além de reduzir seus riscos,ela estará dando o exemplo de

como melhorar a relação com as partes interessadas e

mostrando à comunidade seu envolvimento com a questão

ambiental. O mais interessante de tudo isso,para a empresa,

é que ela estará efetivamente realizando economias significativas.

De todo o exposto acima, vemos como é pertinente às

preocupações empresariais a definição de Produção Mais

Limpa que o Programa Ambiental das Nações Unidas

(UNEP) colocou há mais de dez anos:“é a melhoria contínua

dos processos industriais, produtos e serviços, visando

reduzir o uso de recursos naturais, prevenir na fonte a po-

luição do ar,da água e do solo e reduzir a geração de resíduos

na fonte, visando minimizar os riscos aos seres humanos e

ao meio ambiente”.

Observamos também que essa definição está totalmente

alinhada com os quesitos das normas de Gestão Ambiental,

pois estas colocam em destaque o comprometimento com a

melhoria contínua e com a prevenção à poluição.

A abordagem preventiva da gestão ambiental pressupõe o

melhor gerenciamento ambiental por um processo tecno-

logicamente mais limpo e eficiente.

A implementação de práticas de Produção Mais Limpa

otimiza o uso de insumos disponíveis e, além de reduzir os

custos envolvidos no tratamento de resíduos, fazem a

empresa operar de forma ambientalmente segura e respon-

sável, aumentando o bem-estar da comunidade e preservan-

do recursos naturais para as próximas gerações.

É neste momento que queremos demonstrar como a

Produção Mais Limpa se alinha com os preceitos do desen-

volvimento sustentável, que prega a manutenção dos recur-

sos e insumos disponíveis para as futuras gerações.

O CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo,

através do seu presidente Cláudio Vaz, assinou a Declaração

Internacional de Produção Mais Limpa na III Conferência

Paulista de P+L, no período de 12 a 14 de setembro de 2005,

posicionando-se como parceiro do PNUMA - Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente.

A CIESP, por meio de sua rede formada por 35 Diretorias

Regionais, 4 Diretorias Distritais e 2 Diretorias Municipais,

utilizando toda a sua estrutura, seus instrumentos de divul-

gação, sua influência e sua capilaridade no interior, fomen-

tará a implementação da Produção Mais Limpa no Estado

de São Paulo.

Técnicos da Cetesb e da Promotoria de Meio Ambiente de Jaguariúnaobservam o aterro de detritos industriais Mantovani, em Santo Antôniode Posse (SP).(Santo Antônio de Posse, SP, 13.06.2001. Foto: Marcos Peron/Folha Imagem)

MARIO HIROSE [email protected]

Diretor do Departamento de MeioAmbiente – DMA CIESP – Centro das

Indústrias do Estado de São Paulo

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Atendimento diferenciado de cada projeto de assessoria, ensino,

pesquisa e treinamento. A partir do conhecimento e análise dos problemas

e das necessidades da organização, a FAT propõe, desenvolve e implanta

soluções específicas para cada caso, desenvolvendo projetos sob encomenda.

A FAT posiciona-se, assim, na vanguarda do conhecimento técnico e

tecnológico, estando capacitada para desenvolver estudos e prestar serviços

nas mais variadas áreas do conhecimento: educação, saúde, indústria e meio

ambiente, entre outras.

• Cursos - Especialização, Atualização e Capacitação

• Prestação de Serviços nas áreas da Educação, Saúde, Meio

Ambiente, Transportes e Indústria, entre outras

• Concursos - Vestibular, Vestibulinhos e outros

• Apoios a Eventos e Publicações

FAT • FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA

Rua Três Rios, 131 - cj. 42 - Bom Retiro - São Paulo - SP - CEP 01123-001 Telefones: (11) 3311-2660 / 3311-2661

[email protected]

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42 JUN/JUL/AGO' 2005

IMPACTOS ORGANIZACIONAISDA ADOÇÃO DE NORMAS ISO 9000EM EMPRESAS DE EMBALAGENSPET PARA BEBIDAS Por MILENA YUMI RAMOS Ilu

stra

ção:

Walki

ria B

aron

e

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 43

INTRODUÇÃO

Os objetivos deste artigo são caracterizar, por um lado, os

principais indutores da adoção de tal padrão (motivações e

necessidades), dificuldades enfrentadas durante sua imple-

mentação, lacunas identificadas e iniciativas similares ou com-

plementares adotadas após a certificação; e, por outro, as

mudanças estratégicas, gerenciais e operacionais associadas

mais importantes, assim como nos relacionamentos com forne-

cedores e clientes, especialmente no que tange às funções

Tecnológica e Qualidade.

A investigação dessas questões baseou-se nas hipóteses de

Quadros (2002), Humphrey e Schmitz [2001] e Nadvi e

Wältring (2001), de que a difusão de normas de processo em

garantia da qualidade poderia contribuir para o aperfeiçoa-

mento organizacional e o fomento à capacitação tecnológica

de fornecedores de insumos, partes e componentes, possibi-

litando à indústria ampliar e intensificar relacionamentos externos.

Mais especificamente, Nadvi e Kazmi (2001) indicaram os

processos de fornecimento e de pesquisa e desenvolvimento

(P&D) como aqueles em que os efeitos da difusão de normas

ISO 9000 seriam mais significativos e variados: desde a

redução na intensidade de colaboração interorganizacional na

área de produção, envolvendo apenas a contratação limitada

de fornecimento, até o aprofundamento da colaboração entre

empresas para além da área de produção,englobando as áreas

de design,desenvolvimento,marketing e distribuição.

À luz dessas hipóteses e tendo em vista a atuação de fatores

intervenientes ambientais e setoriais, nomeadamente o elo da

cadeia de valor a que a empresa pertence e a nacionalidade

da matriz, respectivamente relacionados à estrutura de go-

vernança da cadeia, e ao contexto socioeconômico e à infra-

estrutura institucional de apoio disponível no seu entorno,

duas proposições para investigação foram formuladas:

a) a contribuição da adoção do padrão normativo ISO 9000

para o aperfeiçoamento produtivo, tecnológico e organiza-

cional pode ser afetada, dependendo da estrutura de gover-

nança da cadeia e do contexto socioeconômico e infra-estru-

tura institucional de apoio,pelo elo a que a empresa pertence

e pela nacionalidade da matriz, respectivamente;

b) a contribuição da adoção do padrão normativo ISO 9000

para o aprofundamento dos relacionamentos com parceiros

diretos da cadeia de valor, seja em aspectos técnico-produtivos,

seja em atividades-chave da cadeia (tais como marketing, design,

P&D e distribuição) pode ser afetada,dependendo da estrutura de

governança da cadeia e do contexto socioeconômico e infra-

estrutura institucional de apoio, pelo elo a que a empresa per-

tence e pela nacionalidade da matriz, respectivamente.

O universo sobre o qual recaiu a análise de tais proposições

foi o das empresas industriais que pertencem à cadeia de

embalagens PET para bebidas instaladas no Brasil, conforme

descrito na seção 2 a seguir.A mesma seção destaca os princi-

pais resultados do estudo,evidenciando a dinâmica do proces-

so de adoção do padrão normativo ISO 9000 nas empresas

investigadas e alguns dos impactos intra e interorganiza-

cionais mais importantes decorrentes. Na seção 3, os resulta-

dos apresentados na seção anterior são sumarizados e, a par-

tir deles, tecem-se recomendações a futuros estudos nesse

tema,bem como à prática empresarial.

METODOLOGIA E RESULTADOS

O estudo envolveu a análise de dois casos – um produtor

de resina e outro de pré-formas/garrafas PET instalados no

Brasil, ambos de grande representatividade em termos de vo-

lume de produção e de participação relativa no mercado

brasileiro (Quadro 1). Ambas as empresas detinham certifica-

do ISO 9000 válido no momento da coleta dos dados,e forne-

ciam insumos diretos ou indiretos para produtores de bebidas

de marcas globais,em que a concorrência é pela marca e pela

qualidade.

A análise comparativa dos casos revelou, em geral, diferen-

tes perfis de adoção da ISO 9000: enquanto o fabricante de

resina PET revelou a busca por melhorias em aspectos inter-

nos da empresa, nomeadamente a adequação da política de

qualidade, a construção de um ambiente e de infra-estrutura

compatíveis e a capacitação de recursos humanos em garan-

tia da qualidade como principais indutores da adoção do referi-

do padrão normativo, o fabricante de pré-formas/garrafas PET

buscou manter a competitividade no mercado brasileiro por

meio do alinhamento com padrões internacionais para con-

quistar a confiança de novos clientes (Gráfico 1).

Fabricante de Fabricante deresina PET pré-formas e

garrafas PET

Certificado ISO ISO 9001: ISO 9002:9000 válido 2000 2000

Capacidade de 200 mil ~1 bilhão de produção t/ano garrafas/ano

Nº de empregados 424 455

Receita líquida ~R$ 900 milhões ~R$ 200 milhões

de vendas (total)

Receita líquida de ~20% -vendas (exportações)

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44 JUN/JUL/AGO' 2005

Com relação às dificuldades percebidas para a obtenção do

certificado ISO 9000, ambas as empresas pesquisadas, com

diferentes graus de intensidade, relataram que, em função da

reorganização do trabalho e das novas competências exigidas,

a resistência à mudança e o esforço de busca e aprendizagem

requeridos constituíram-se em barreiras internas de difícil

transposição (Quadro 2).Essas empresas demonstraram,ainda

nesse aspecto, diferenças significativas em termos da dificul-

dade com os custos envolvidos, bem maior no caso do fabri-

cante de pré-formas/garrafas relativamente ao de resina PET.

Neste ponto, cabe lembrar que a receita líquida de vendas

deste último é quase cinco vezes superior ao do primeiro, o

que pode ter afetado tal percepção.

A - Orientação estratégica B - Melhora da imagem da empresa C - Melhora da eficiência dos processos e dos serviços prestados D - Agregar valor aos produtos e atividades da empresa E - Melhoria da qualidade dos produtos F - Aumento da flexibilidade dos processosG - Melhora da competitividadeH - Instrumento para permanecer integrada na cadeia I - Busca de novos mercadosJ - Pressão de clientesK - Obrigação imposta pelo governo L - Ampliação da capacidade de inovação da empresa

0369

AB

CD

E

FG

H

IJ

K

L

Fabricante de pré-forma/garrafa PET

Fabricante de resina PET

Gráfico 1 – Principais indutores da adoção do padrão normativo ISO9000 nos casos dos fabricantes de resina e de pré-formas/garrafas PET

Grau (decrescente)

Fabricante de resina PET Fabricante de pré-formas/garrafas PET

Mudanças estratégicas requeridas 1 ...Mudanças organizacionais requeridas 2 1Mudanças nas relações sociais dentro da empresa 3 ...Mudanças operacionais requeridas 4 2Capacitação técnica/tecnológicaem nível gerencial e operacional 5 ...Envolvimento da alta administração 6 ...Mudança nas relações com fornecedores, clientes e concorrentes 7 ...Custos envolvidos no processo de implantaçãode sistemas de gestão da qualidade,de certificação e manutenção do certificado 8 3

DIFICULDADES

Legenda: (1) motivo mais importante; (2) segundo motivo mais importante, e assim por diante.

Em termos de lacunas identificadas no sistema de garantia

da qualidade após a implementação do padrão ISO 9000,

tanto o fabricante de resina quanto o de pré-formas/garrafas

PET apresentaram perfis similares:nos dois casos foi indicada a

necessidade de melhorias na gestão das demandas e aten-

dimento das expectativas dos clientes. Note-se, aqui, que o

tratamento desses assuntos ultrapassa as fronteiras da norma,

cabendo à empresa definir a política de gestão de relaciona-

mentos com clientes.Assim, isoladamente, o padrão normati-

vo ISO 9000 não é capaz de abarcar todas as dimensões da

garantia da qualidade,mas integrado a um programa de quali-

dade ampliado, pode afetar positivamente atividades que estão

fora do seu escopo direto.

Finalmente,quanto à absorção dos princípios fundamentais

da ISO 9000 pelas empresas, estas apresentaram perfis dís-

pares: o fabricante de resina PET, por um lado, mostrou, por

meio da adoção de padrões e práticas complementares em

garantia da qualidade (OHSAS 18001:1999,obtido em 2004;

Programa 5S; uso de Ferramentas da Qualidade; e programas

de educação para a qualidade,via treinamentos técnicos),que

a adoção do padrão ISO 9000 integrou uma política de quali-

dade que objetiva a melhoria contínua para a qualidade total,

bem como a existência de uma cultura para a qualidade dis-

seminada por toda a empresa;e o fabricante de pré-formas/gar-

rafas PET, por outro lado, não revelou qualquer esforço adi-

cional às normas ISO 9000 para gerir a qualidade na empresa,

revelando dispor de um ambiente ainda imaturo no que con-

cerne à garantia da qualidade.

Tendo em vista essa dinâmica de adoção das normas ISO

9000 pelos fabricantes de resina e pré-formas/garrafas PET

pesquisados, investigaram-se os impactos internos e externos

associados, percebendo-se semelhanças (quanto aos fatores

afetados) e diferenças (quanto à amplitude e intensidade das

mudanças percebidas) entre as duas empresas.

Em ambos os casos, a reavaliação do papel da qualidade na

estratégia de negócios da empresa foi apontada como um dos

fatores mais importantes afetados pela decisão de adoção das

normas ISO 9000 (Gráfico 2). Este resultado era esperado,

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 45

uma vez que um dos requisitos da implementação desse

padrão normativo é a promoção de um sério comprometi-

mento de toda a empresa,desde o nível hierárquico mais ele-

vado até o nível operacional, com sua implementação e

manutenção, traduzido na inserção estratégica da qualidade

na organização.

Também no que concerne à função tecnológica, perfis

semelhantes de mudanças percebidas como vinculadas à ado-

ção das normas ISO 9000 foram observados: ambos os fabri-

cantes apontaram para um aumento na especialização e na

capacitação tecnológica disponível e para uma maior propen-

são a cooperar com parceiros da cadeia de valor (Quadro 3). Neste

aspecto, pode-se ponderar, e foi efetivamente confirmado

pelas empresas pesquisadas, que a detenção de um certifica-

do ISO 9000 indica que a empresa possui um nível mínimo de

capacitação e de confiabilidade para participar de atividades

técnicas e tecnológicas desenvolvidas em conjunto com

fornecedores e clientes, a exemplo da definição conjunta de

especificações do produto e da gestão integrada da qualidade

ao longo da cadeia de valor, visando a satisfação plena do

cliente final (no caso,engarrafadores).

Mudanças internas decorrentes da adoção do padrão ISO 9000

Reavaliação e alteração de práticas/procedimentospós-fabricação

Revisão e alteração de práticas/procedimentos decontrole de produtos não-conformes

Reorganização da estrutura e dos processos de administração e sistemas organizacionais

Reformulação da política de qualidade

Alteração das práticas de planejamento, controle e análise de contratos e projetos

Reformulação dos procedimentos de elaboração e controle de documentos

Modificação nas práticas/processos de aquisição;inspeção, ensaios e testes

Reavaliação do papel da qualidade na estratégia de negócios da empresa

Fabricante de resina PET Fabricante de pré-forma/garrafa PET

16

22

35

41

5

67

13

84

Gráfico 2 – Principais mudanças internas em gestão da qualidadepromovidas para a obtenção do certificado ISO 9000 nos casos dosfabricantes de resina e de pré-formas/garrafas PETLegenda: (1) mudança mais importante; (2) segunda mudança mais importante, e assim por diante.

Qualificação da mudança

Fabricante de resina PET Fabricante de pré-formas/garrafas PET

A) NA FUNÇÃO TECNOLÓGICAAperfeiçoamento de tecnologias Aperfeiçoamento de tecnologias

Opção estratégica dominadas pela empresa dominadas pela empresaGrau de compartilhamento da atividadede inovação tecnológica Ampliou AmpliouPortfólio de projetos tecnológicos Alterações não significativas Alterações significativasModo de oficializar relacionamentosde caráter tecnológico com parceiros Cooperação informal ...Esforços (gastos e recursos humanos)em atividades de inovação tecnológica Ampliaram AmpliaramNível de capacitação tecnológica Melhorou MelhorouGrau de especialização tecnológica Aumentou AumentouDesempenho da empresa, em sua(s) especialidade(s), em relação aos concorrentes ... Melhorou

B) NA POLÍTICA DE RELACIONAMENTOSCapacidade de cumprir as tarefas Capacidade de cumprir as tarefas que

Preocupação central em relação aos parceiros que lhes foram atribuídas lhes foram atribuídasNúmero de fornecedores Reduziu AumentouNúmero de clientes Aumentou AumentouTipo de relacionamento Estável, de longo prazo, mas Estável, de longo prazo, mas

mantendo a independência dos mantendo a independência dos parceiros parceiros

Modo de formalizar o relacionamento Cooperação formal ContratoObjetivo central do relacionamento Desenvolver novas competências Aperfeiçoar atuais competências da empresaCapacidade de gestão dos relacionamentos Melhorou Melhorou

Gráfico 3 – Principais mudanças na função tecnológica e na política de relacionamentos dos fabricantes de resina e de pré-formas/garrafas PET comfornecedores e clientes, após a obtenção do certificado ISO 9000

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46 JUN/JUL/AGO' 2005

A despeito das similaridades anteriormente apontadas, o

fabricante de resina PET demonstrou apresentar uma ativi-

dade de cooperação técnica mais intensa com seus parceiros,

o que pôde ser inferido tanto a partir das funções organiza-

cionais envolvidas nas atividades cooperativas quanto a partir

das questões tratadas nos acordos de cooperação e dos

esforços de relacionamento empreendidos. Enquanto o fabri-

cante de resina PET envolve as funções técnicas, tais como

Assistência Técnica, Logística, Qualidade, inclusive uma das

atividades-chave da cadeia de valor (Desenvolvimento de

Embalagem), além de funções comerciais (Suprimentos,

Compras, Vendas, etc.) nos acordos de cooperação técnica

estabelecidos com parceiros da cadeia de valor, o fabricante

de pré-formas/garrafas PET envolve apenas as funções

Qualidade e Comercial. Ainda a esse respeito,o primeiro,dife-

rentemente deste último,além de aspectos técnicos do produ-

to,trata de questões relativas a ações conjuntas em marketing,

formação e coordenação de redes de trabalho e cooperação

informal (troca de conhecimentos tácitos).

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Tratou-se, neste artigo, da dinâmica do processo de adoção

do padrão normativo ISO 9000 e de alguns dos principais

impactos organizacionais decorrentes no âmbito do setor de

embalagens PET para bebidas no Brasil.Os resultados obtidos a

partir de dois estudos de caso indicaram claros impactos po-

sitivos da adoção do padrão ISO 9000 sobre aspectos internos

da empresa, especialmente na esfera produtiva,mas também,

embora em menor intensidade,em aspectos tecnológicos.De

fato, tanto o fabricante de resina quanto o de pré-formas/gar-

rafas PET conheceram mudanças significativas na estrutura,

organização,gestão e,sobretudo,operação do sistema da qua-

lidade nas empresas investigadas. Essas mudanças parecem tê-

las capacitado melhor,de modo que passaram a cooperar mais,

especialmente em aspectos técnico-operacionais, com

fornecedores e clientes,mas não sinalizam um efetivo aprofun-

damento dos laços de cooperação em áreas-chave como P&D,

design,marketing e distribuição.

Assim, foi possível verificar que as proposições assumidas

neste estudo confirmaram-se parcialmente, dependendo, em

algum grau, da relevância atribuída a aspectos internos quan-

do da decisão de adoção e dos processos de implantação e

gestão da ISO 9000,por um lado,e do elo da cadeia de emba-

lagens PET a que as empresas pertencem e da nacionalidade

de suas matrizes,por outro.

Faz-se necessário destacar, aqui, que esses resultados estão

condicionados a limitações intrínsecas às variáveis analisadas

e aos métodos utilizados. No que se refere às primeiras, são

complexas e sujeitas à atuação de fatores intervenientes ambi-

entais e setoriais, que inspiram cuidados na leitura, interpre-

tação e utilização posterior dos resultados.Já quanto ao méto-

do utilizado, caracterizado por uma pesquisa qualitativa, de

caráter exploratório, realizada por meio de estudo de dois

casos, utilizando formulário eletrônico do tipo survey para a

coleta de dados, apesar de ser considerado o mais adequado

para este estudo, é contestado por diversos pesquisadores

quanto à sua confiabilidade .

Os casos investigados neste estudo representaram uma

parcela considerável, em termos de volume de produção e

participação de mercado, dos respectivos elos da cadeia de

valor de embalagens PET para bebidas no Brasil. Ainda que

não apresente representatividade estatística, este trabalho

contribuiu para o melhor delineamento de futuros estudos

sobre o tema. Nesse sentido, recomendam-se dois tipos de

abordagens: estudos de caso exploratórios similares com um

conjunto maior (quatro a dez casos) e mais heterogêneo (em

termos de tamanho, origem do capital controlador, elo da

cadeia de valor, geografia de mercados atendidos, etc.) de

empresas e utilização de questionários abertos; ou o uso de

métodos baseados em análise estatística aplicada a uma amostra

grande e representativa da população a ser investigada.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 47

Com relação às variáveis intervenientes, recomenda-se ana-

lisar fatores reconhecidamente importantes, como caracterís-

ticas do setor e da natureza do produto, que poderiam for-

necer indícios relevantes de semelhanças e diferenças entre

grupos distintos de empresas de um mesmo setor e de setores

diferentes.

No que tange às implicações do estudo para a prática

empresarial, cabe destacar, considerando importantes

restrições em função de especificidades associadas à organi-

zação e seu entorno,que:

a) não existem variadas “versões” de sistemas de gestão da

qualidade construídos com base na ISO 9000,de modo que a

diferenciação em relação aos concorrentes que as empresas

buscam ao adotar um padrão normativo como esse aqui abor-

dado não depende exclusivamente dele, mas sim do modo

como se insere no ambiente organizacional (está integrado a

uma política de qualidade ampliada, que conta com outros

instrumentos e práticas para a gestão da qualidade? Existe

uma cultura para a qualidade disseminada por toda a empre-

sa que favoreça sua implantação e manutenção? Os parceiros

da cadeia de valor valorizam adequadamente o certificado de

maneira a intensificar e diversificar ações conjuntas?).

b) de forma similar, a flexibilidade em relação às mudanças

no mercado pretendida pelas empresas que decidem adotar

um padrão normativo como o ISO 9000 não depende exclu-

sivamente dele, mas também do modo como são entendidas

e utilizadas essas normas na empresa: se apenas como regras

que exigem excessiva documentação formal dos processos

organizacionais, tornando morosa a resposta a mudanças no

mercado; ou como regras explícitas que disciplinam os sis-

temas organizacionais e gerenciais sob os quais a empresa

funciona,reduzindo a dependência hierárquica nas operações

(menor necessidade de supervisão), facilitando o processo de

formação de memória organizacional (melhor codificação do

conhecimento) e, portanto, aumentando a velocidade de

reação a mudanças no mercado.

Em conclusão,não se pode afirmar que os impactos organi-

zacionais da adoção das normas ISO 9000 são estritamente

positivos ou negativos. Como foi preliminarmente constata-

do, existem vários fatores endógenos e exógenos que interfe-

rem tanto no processo de adoção quanto nos impactos asso-

ciados.Cabe a cada empresa,observando as características e limi-

tações próprias e do seu entorno,construir um ambiente inte-

grado e propício,em termos de estratégia e políticas, cultura e

recursos humanos, infra-estrutura e modo de operação, ao

bom aproveitamento da certificação ISO 9000.

BIBLIOGRAFIAHUMPHREY, J. & SCHMITZ, H. How does insertion in global value chainaffect upgrading in industrial clusters? In: Research Project “TheInteraction of Local and Global Governance”: Implications for IndustrialUpgrading, [2001], Brighton. Output of the... Brighton: University ofSussex. Institute of Development Studies, [2001], 16 p. Disponível em:<http://www.ids.ac.uk/ids/global/pdfs/JHHSRegStudies25jun02.pdf>.Acesso em: 16 jun. 2003.

NADVI,K.& KAZMI,S.Global standards and local responses. In:Workshopon the Impact of Global and Local Governance on Industrial Upgrading,13-17 feb. 2001, Brighton. Draft for... Brighton: University of Sussex.Institute of Development Studies, 2001, 50 p. Disponível em:<http://www.ids.ac.uk/ids/global/pdfs/khalidsajid.pdf>. Acesso em: 16jun. 2003.

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QUADROS, R. Global quality standards, chain governance and the techno-logical upgrading of Brazilian auto-components producers. IDS WorkingPaper, Brighton: Institute of Development Studies, n. 156, may 2002.Disponível em: <http://www.ids.ac.uk/ids/bookshop/wp/wp156.pdf>.Acesso em: 02 jun. 2003.

MILENA YUMI [email protected]

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estadode São Paulo (FAPESP). Assessora Técnica

- Diretoria da Presidência

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48 JUN/JUL/AGO' 2005

De fato,quem não tem dúvidas sobre a eficácia da comuni-

cação empresarial? Até quem faz e vive de comunicação em-

presarial,com alguma seriedade,tem dúvidas sobre sua eficácia.

Um dos motivos para isso é que não descobrimos, ainda, fer-

ramentas eficazes e confiáveis para medir seus resultados.

Como mensurar o quanto os boletins internos,seja utilizando

qual mídia for,contribuem para a melhoria do ambiente interno

e para o fluxo de comunicações que acabam por repercutir

no aumento ou na melhoria da qualidade da produção ou das

vendas? Quem tem essa régua? Quanto as ferramentas de

comunicação empresarial contribuem para a construção e a

valorização da marca? Há muito de subjetivo na comunicação,

o que abre espaço para muitas suposições e poucas certezas.

Pessoalmente, só considero efetivas as ferramentas de co-

municação empresarial quando estão a serviço da chamada

“atitude comunicativa”.

ATITUDE COMUNICATIVA:OUVIR FAZ PARTE DO NEGÓCIO

Por DAVI MACHADO

Durante a década de 1970 do século passado, as sociedades industriais pas-saram por sérias transformações, advindas basicamente da tomada de cons-ciência,por parte dos governos e da sociedade civil,dos impactos ambientaispor elas causados.

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Comunicação,antes de mais nada,é uma atitude,e vale para

pessoas e organizações. Se pessoas e empresas não têm pos-

tura comunicativa, as ferramentas de comunicação serão pro-

dutos vazios de significado,desperdício de tempo e dinheiro.

Ter postura comunicativa significa estar aberto ao diálogo.

Dialogar não é apenas falar, mas principalmente ouvir. É

necessário que haja troca para que o entendimento seja cons-

truído e dele surjam a confiança e o comprometimento. Isso

vale para os públicos interno e externo.

Tanto para empresas como para pessoas, o diálogo muitas

vezes é difícil,pois ele também expõe o conflito e isso é algo

com que a maioria de nós não sabe lidar muito bem.Daí que

muitas pessoas e empresas optem pelo sistema comunica-

cional de mão única, despejem informação por todos os

canais disponíveis (jornais internos, impressos e eletrônicos,

intranet, internet, murais físicos e eletrônicos, videojornal on-

line, rádio jornal on-line, etc.), gastem pequenas fortunas e

imaginem que estão se comunicando.Até mesmo o café da

manhã com o presidente ou com os diretores fica esvaziado

se esse espaço de comunicação for utilizado num único sen-

tido. Ao final fica aquela sensação de que esse negócio de

comunicação corporativa custa caro e não funciona.Não sem

razão,pois quantas pessoas estão dispostas a realmente partic-

ipar da vida da empresa se não há canais para que elas possam

dizer o pensam? Quando não há ambientes confiáveis onde as

pessoas possam ouvir e ser ouvidas com confiança e tranqüili-

dade,elas vão aos poucos se afastando e não demoram muito pa-

ra apertar famoso botão “dane-se”(a verdadeira palavra é outra).

A falta de atitude comunicativa é freqüente entre pessoas –,

são marido e mulher,pais e filhos,colegas de trabalho,profes-

sor e aluno que não se entendem. A frase mais comum é sempre

“você não entende o que eu digo!”. Como as empresas são

basicamente grupos de pessoas trabalhando em conjunto

com o mesmo objetivo (?), nada mais natural que as dificul-

dades de comunicação pessoal sejam reproduzidas com força

nas organizações.

OUVIR FAZ PARTE DO NEGÓCIO

Se há uma coisa difícil nessa tal de comunicação é aprender

a ouvir. Fácil fosse, todos faríamos. James Hunters , consultor-

chefe da J.D.Associados,autor de um livro sobre liderança que

está bombando nas livrarias, ops!, perdão, autor do best-seller

O monge e o executivo,que está na lista dos mais vendidos há

semanas, destaca:“ouvir é uma das habilidades mais impor-

tantes que um líder pode escolher para desenvolver”. E com-

plementa: “o ouvir ativo requer esforço consciente e disci-

plinado para silenciar toda a conversação interna enquanto

ouvimos outro ser humano. Isso exige sacrifício, uma doação

de nós mesmos para bloquear o mais possível o ruído interno

e de fato entrar no mundo de outra pessoa, mesmo que por

poucos minutos.”.

Para complicar,Dee Hock,fundador e CEO emérito da VISA,

em Nascimento da Era Caórdica, põe mais lenha nessa

fogueira: “Dá para aprender muito com o que as pessoas

dizem, mas é revelado mais ainda com o que elas não dizem.

Ouça com o mesmo cuidado o silêncio e o som.”.

Antes que alguém me acuse de ficar apenas na literatura

estrangeira ou de auto-ajuda,recorro a Paulo Freire na conver-

sa,para quem “a comunicação verdadeira não parece estar na

exclusiva transferência ou transmissão do conhecimento de

um sujeito a outro, mas sua co-participação no ato de com-

preender a significação do significado”, melhor dizendo, “a

comunicação implica numa reciprocidade que não pode ser

rompida”.

FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 49

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50 JUN/JUL/AGO' 2005

Esse negócio de ouvir acontece de várias formas,por exem-

plo, no método de trabalho ringi, muito utilizado por várias

empresas japonesas e que causa arrepios e urticárias nos

executivos ocidentais. Exposto por Gareth Morgan em

Imagens da organização,“ringi é um processo de tomada de

decisões coletivas no qual um documento passa de gerente

para gerente antes da aprovação. Se alguém não concordar

com aquilo que foi apresentado por qualquer um dos ge-

rentes, o documento volta a passar um a um novamente. Isso

torna o processo de decisão lento,mas quando ela é tomada,

há convicção de que a maior parte dos erros foi detectada e

corrigida e que aquela decisão carregará consigo o compro-

metimento de todos os envolvidos (grifo meu). O ringi é

muito mais um processo de explorar e reafirmar valores do

que um processo para definir um rumo”.

Aqui já vamos misturando conceitos como comunicação,

participação, tomada de decisão e comprometimento e não é

por acaso. Nas organizações saudáveis eles estão sempre pre-

sentes e contribuem para a formação do senso de comu-

nidade,de princípios e de valores.De novo me apóio em Dee

Hock, fundador da VISA:“Quando uma organização perde sua

visão,seus princípios,seu senso de comunidade,seu significa-

do e seus valores, já está em processo de decadência e dis-

solução,mesmo que mantenha por algum tempo a aparência

externa de sucesso”. (Nascimento da Era Caórdica, pág. 119).

As organizações que têm consciência disso,não demoram em

encontrar na comunicação organizacional uma forte aliada

para manter vivos e ativos esses conceitos.

Pesquisa de comunicação interna realizada pela

Associação Brasileira de Comunicação Empresarial em 2001

mostrou que 37% das empresas que fazem uso de ferramen-

tas de comunicação corporativa consideram a área de comu-

nicação estratégica, mas apenas em 16% das empresas a

comunicação é estimulada pela alta direção e planejada de

forma integrada com outras áreas.

A leitura livre que faço dessa pesquisa é que apenas 16%

dos líderes das empresas que utilizam comunicação empre-

sarial têm efetivamente uma atitude comunicativa. De uma

forma simples (ainda que correndo todos os riscos de ser sim-

plista), são pessoas que sabem ouvir e sentir no varejo e uti-

lizam as ferramentas de comunicação organizacional para

responder e buscar o comprometimento no atacado.

Muitas empresas se auto-intitulam low-profile e se dizem

avessas à comunicação. Com freqüência por trás disso está

uma certa confusão entre comunicação e publicidade.

Comunicação é troca, é atitude. Publicidade é divulgação. É

perfeitamente possível ser low-profile e estimular a criação de

sistemas comunicacionais de troca e de trabalho em grupo.

Isso também é conhecido como gestão do conhecimento.

Mesmo nesses casos a comunicação corporativa pode con-

tribuir, de forma estratégica, para estimular a participação e

difundir valores internamente.

Finalizo com um trecho do livro Transformação Orga-

nizacional, de Paulo Roberto Mota, professor da Fundação

Getúlio Vargas, consultor de empresas e especialista em

processo de mudanças, que de certa forma sintetiza o que

aqui se procurou mostrar: “Maior acesso à informação provo-

ca a mente, aguça o interesse pela novidade e gera desejo de

fazer diferente e melhor. Assim, comunique-se, pergunte,

explique, busque informações, responda e, sobretudo, ouça.

Dê aos colegas de trabalho a oportunidade de conhecer os

fatos que afetam a organização – tanto os agradáveis quanto

os desagradáveis. Sabendo mais e melhor,as pessoas estabele-

cerão novas relações e despertarão para novas formas de

decidir e agir”.

Quando as empresas entendem a importância da atitude

comunicativa, a implantação de ferramentas de comunicação

organizacional acorre naturalmente, de forma integrada e

estratégica.

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DAVI MACHADO [email protected]

Jornalista, gerente de Comunicação do SEBRAE-SP,especialista em Comunicação Organizacional pela

ECA/USP e em Tecnologias da Informação eComunicação Aplicadas à Educação, pela Universidade

de Mondragon, Espanha.

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 51

A busca incessante da diferenciação aos olhos do cliente e a

fuga da estrutura de competição perfeita provocam uma pro-

fusão de marcas,modelos e inovações em praticamente todos os

bens e serviços oferecidos em mercados com razoável com-

petição. São conhecidos exemplos desse fenômeno em quase

todas as categorias de bens e serviços presentes no mercado de

consumo, como computadores, máquinas fotográficas,

roupas, pastas de dentes, iogurtes, queijos, pães, planos de

previdência privada,cortes de cabelo, tratamentos de pele,

ginástica e ativos financeiros, entre outros. Na esteira dos

bens e serviços, as empresas investem um elevado volume

de recursos em propaganda,merchandising,ofertas e suges-

tões na tentativa de comunicar melhor seu posicionamen-

to e, no mínimo, manter seus clientes.

No mundo das opções de consumo, liberdade de escolha e competição

crescente pela atenção do consumidor, as empresas competitivas tentam

aumentar o ritmo e o grau de inovação dos seus produtos e serviços na ten-

tativa de servir adequadamente determinados grupos de consumidores con-

siderados alvo das suas estratégias de negócios.

A ANSIEDADE DO Por NUNO MANOEL MARTINS DIAS FOUTO

CONSUMIDOR MODERNO

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52 JUN/JUL/AGO' 2005

Do seu lado, o consumidor tem à disposição um número

razoavelmente grande de opções de produtos e serviços

para praticamente toda a atividade que resolver executar.

Isso significa que a todo instante o consumidor é levado a

escolher produtos e serviços que freqüentemente não tem

condições de analisar em todo o seu domínio de modelos,

marcas,e atributos específicos. Além do número crescente

de opções àa sua escolha,o consumidor em geral tem cada

vez menos tempo para analisar as diferentes opções ofere-

cidas pelo mercado. Essa liberdade de escolha, associada à

incapacidade de análise da oferta diversificada do varejo

atual, tende a provocar uma sensação de ansiedade no con-

sumidor. O fato de muitos simplesmente ignorarem as

novidades e manterem seus perfis de compra, com seus

modelos e marcas historicamente determinados, pode

atenuar, mas não resolve o problema.As opções não anali-

sadas e a constatação de que outros consumidores com-

pram esses produtos acentuam o sentimento de ansiedade

devido à sensação de estar deixando de tomar as decisões

mais apropriadas de consumo para sua maior satisfação.

A intuição pouco ajuda nesse cenário porque a intuição

na tomada de decisão está baseada nas experiências pas-

sadas, num domínio de produtos ofertados muito diferente

do atual. A percepção de que a intuição pode ter falhado

pode reforçar ainda mais a ansiedade na tomada de decisão

de consumo. O consumidor ancora suas decisões nas refe-

rências do passado e do presente. A ancoragem nos atos

dos outros, ou seja, a constatação de que outras pessoas

estão fazendo escolhas diferentes das suas reforça a

desconfiança deem sua capacidade de escolher correta-

mente. Não surpreende, portanto, quando em pesquisa

recentemente realizada pelo Provar, o consumidor de alta

renda diz que luxo é poder comprar por impulso. O con-

sumidor não está apenas dizendo que luxo é comprar o

que der vontade, quando der vontade, mas pode estar

querendo dizer que luxo é poder decidir por um produto

sem ter de se preocupar se sua decisão foi a mais acertada

naquele momento.

Uma oportunidade de diferenciação pelo atendimento

abre-se nesse cenário de tempo exíguo e de incapacidade

de análise das opções oferecidas para consumo. E a utiliza-

ção da tecnologia pode representar um elemento de van-

tagem competitiva nesse caso. Há situações em que a

máquina pode substituir completamente o contato

humano no consumo. As ATMs bancárias, máquinas de

venda e o auto-serviço com self check-out são alguns

exemplos de relativo sucesso com essa característica. Mas

há a estratégia mais difícil de copiar, que consiste emde

aliar a tecnologia à excelência do atendimento pessoal no

ponto-de-venda. Podem-se utilizar os recursos e a capaci-

dade de armazenagem,recuperação,análise e apresentação

de grande volume de dados e informações possibilitados

pela tecnologia, associados à preparação do profissional de

vendas para o atendimento ao consumidor com um maior

conhecimento dos aspectos cognitivos do seu comporta-

mento. Essa união homem-tecnologia no ponto-de-venda

poderá reduzir o grau de incerteza que assombra o consu-

midor moderno e colaborar para atenuar a sua ansiedade,

além de diferenciar-se da concorrência pela qualidade e

nível de atendimento que presta aos seus clientes.

Consumo através de crediário: Fabiano Severino da Silva,office-boy do hotel Caesar Park, ao lado de seus cinco pares detênis, entre eles um Nike que comprou em três prestações.(São Paulo - Fabiano Accorsi/Folha Imagem )

NUNO MANOEL MARTINS DIAS [email protected]

Coordenador de Cursos, Pesquisae Consultoria. Provar FIA

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 53

No Museu Carnavalet,de história francesa,

crianças um pouco maiores, já na faixa dos

10 anos, olhavam abismadas as maquetes

dos grandes edifícios franceses em momen-

tos de destaque da rica história recente

daquele país. Corriam algumas de um lado

para outro, outras atentamente ouviam as

explanações da professora, outras ainda

mostravam aos amiguinhos armas e mos-

quetes que certamente foram utilizados por

D’Artagnan e seus amigos, sendo transporta-

dos aos variados períodos históricos através

dos objetos ali dispostos.

A TECNOLOGIA COMO MEIODE DIFUSÃO DA CULTURAE DA ARTE Por MOACYR GODOY MOREIRA

Em recente visita a Paris, chamou-me bastante a atenção a maciça pre-sença de crianças nos museus. No Centro Pompidou, museu dedicado àarte do século XX,grupos de crianças muito pequenas – de 4,5 anos no má-ximo – eram apresentados a obras de grande riqueza em cores,como algunsquadros de Kandinsky e Miró. Percebia-se o planejamento pedagógico de

mostrar aos pequenos jus-tamente aqueles quadros.A abundância de vermelhose azuis e amarelos fazia da-quilo elementos próximosde seus sentidos explodin-do de curiosidades.Algunspais acompanhavam a visita,orgulhosos,monitorando oprimeiro contato dos filhoscom o mundo das artes.

"Reflexão 2", de Raquel Kogan,na exposição "Cinético_Digital",no Itaú Cultural, em São Paulo (SP). (São Paulo, SP, 01.07.2005. Foto de Marlene Bergamo/Folha Imagem)

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54 JUN/JUL/AGO' 2005

O mesmo pude notar em outros museus:D’Orsay,Picasso,

Cluny, Marmotan, Louvre. Faz parte do dia-a-dia das escolas

francesas aproveitar o acervo da cidade em nome do proces-

so educativo.No Museu Rodin,cruzei com uma excursão de

estudantes italianos, adolescentes atentos, outros tipica-

mente dispersos, mas ali, contemplando a história e a arte

com bastante naturalidade.

As inovações tecnológicas vêm sendo acusadas de afastar

ainda mais os jovens da cultura e da arte.Discordo,em parte,

dessa condenação sumária. Num país em que o hábito de

apreciar objetos artísticos não é a voga, não é o video-game

ou o computador que afastam a juventude de Renoir ou de

Villa-Lobos. Se numa pesquisa junto a estudantes do ensino

médio fosse perguntado sobre Brueguel ou Rodin, a respos-

ta seria o espanto, caso houvesse resposta.Na cidade de São

Paulo, por exemplo, a iniciativa adotada pelas escolas de

Paris poderia aproximar um pouco o jovem da arte brasileira

e internacional. O acervo do MASP e o da Pinacoteca do

Estado (instalada num edifício extraordinário, diga-se) estão

entre os mais privilegiados do mundo.Museus como o MAC

(na USP) e o MAM,com seus acervos permanentes,somados

às mostras temporárias, já dariam uma pequena prévia para

uma educação e sensibilização artística a nossos pequenos.

A aproximação com a história poderia ser feita no Museu do

Imigrante ou no monumental Museu do Ipiranga.

Com o interesse crescente pelo computador,acredito que

os meios tecnológicos podem servir também como forma

de aproximação da arte e da cultura para as faixas etárias em

formação. Entidades privadas e governamentais têm agido

com grande eficácia neste terreno. O Instituto Itaú Cultural,

por exemplo, tem apresentado uma programação diversifi-

cada de espetáculos e atividades culturais conjugando públi-

co e artistas com elementos tecnológicos de primeira linha.

As unidades do SESC também são de vital importância para

uma construção efetiva de um ambiente cultural e tec-

nológico, possibilitando o que se tem chamado de inclusão

digital, trazendo jovens a suas sedes pelo fascínio da utiliza-

ção de equipamentos de alta modernidade e oferecendo

shows,peças de teatro e oficinas,e seduzindo os internautas

a iniciar um caminho artístico e cultural que não seria

acessível a eles de outra maneira. Uma medida oficial que

também criou este espaço antes quase inexistente foram os

CEUs,unidades providas de teatro (para apresentações cêni-

cas e sessões de cinema), centros de informática e uma pro-

posta de trazer não só os jovens, mas também as famílias ao

centro dos acontecimentos artístico-culturais.

Há outros exemplos, mas ainda é pouco. Em contra-

posição a esforços isolados vêm a público episódios como o

das cartilhas de São Bernardo do Campo, livros repletos de

erros e de qualidade pedagógica condenada por especialis-

tas,porém utilizadas amplamente por serem produzidas por

uma empresa de propriedade de um membro do alto

escalão do governo da cidade. É urgente um investimento

maciço em educação, tanto em tecnologia quanto em con-

teúdo, se não quisermos, em 20 anos, ser uma sociedade

completamente insustentável, que marcha já para um

avançado estado de auto-destruição.

Imagino que a implementação de meios tecnológicos

em escolas, comunidades, ONGs e institutos, com respon-

sabilidade e seriedade, pode, além de viabilizar e capacitar

os jovens para o mercado de trabalho do século XXI, apre-

sentar-lhes obras e elementos artísticos. E, principalmente,

aproximá-los das manifestações nacionais e estrangeiras

que possam contribuir para a formação de cidadãos mais

sensíveis, articulados, cultos e um pouco mais preparados

para o mundo repleto de apelos eletrônicos, porém, ainda

calcado em elementos humanos e originais, que fazem

toda a diferença.

MOACYR GODOY MOREIRA [email protected]

Médico e escritor, autor dos livrosLâmina do tempo e República das bicicletas,

ambos publicados pela Ateliê Editorial.Atualmente cursa pós-graduação em

Literatura Brasileira (USP-SP).

"Reflexão 2", de Raquel Kogan,na exposição "Cinético_Digital",no Itaú Cultural, em São Paulo (SP). (São Paulo, SP, 01.07.2005. Foto de Marlene Bergamo/Folha Imagem)

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FUNDAÇÃO DE APOIO À TECNOLOGIA 55

O setor de telecomunicações, conside-

rado estratégico para o crescimento do

país na década de 1960, sempre se desta-

cou no Brasil, sendo um dos grandes re-

ferenciais para o direcionamento de re-

cursos destinados a fomentar o desenvol-

vimento tecnológico. Em meados da

década de 1990, ele começa a ser rees-

truturado e,por meio da privatização dos

serviços e da entrada de novos atores,

passa a atrair ainda mais a atenção da aca-

demia,do governo e do meio empresarial.

Este livro é uma coletânea de estudos

sobre a gestão da inovação tecnológica

no setor de telecomunicações. Trata-se

dos resultados de pesquisas realizadas no

âmbito do Projeto GICEG (Gestão da Inovação para a Competitividade Empresarial Brasileira), apoia-

do pela FAPESP, na forma de projeto temático, e pelo CNPq, no âmbito do PRONEX - Programa de

Apoio a Núcleos de Excelência.

O livro tem como foco as empresas do setor de telecomunicações, em suas diversas camadas,

desde os fornecedores de equipamento até os provedores de serviços, segundo modelo próprio ado-

tado. Está organizado em nove capítulos, iniciando-se com um panorama do setor, passando pelas

políticas públicas atreladas ao comportamento inovador das empresas e culminando em alguns

temas ligados à gestão propriamente dita da inovação tecnológica.A expectativa, do lado acadêmico,

é que o estudo, vindo a público com esta publicação, propicie um entendimento da dinâmica da ino-

vação tecnológica no setor e suscite o surgimento de novos estudos e pesquisas. Do lado prático,

espera-se que políticas sejam revistas e implementadas e que práticas de gestão ganhem lugar de

destaque no âmbito das empresas que compõem o setor.

LEIT

URA

RECO

MEN

DADA

LEITURARECOMENDADA

ROBERTO SBRAGIAE SIMONE V. V. R.GALINAPublicação PGT/USP, 333 páginas, R$ 30,00Venda e Informações 3091-5969

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SOBRE OS AUTORES

ROBERTO SBRAGIA é professor titular da FEA/USP e coordenador científico do PGT/USP

SIMONE VASCONCELOS RIBEIRO GALINA é professora doutora do departamento de administração da

FEA-RP/USP - nas áreas de gestão da produção e inovação tecnológica.

GESTÃO DA INOVAÇÃO NO SETOR DE

TELECOMUNICAÇÕES

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2001

2002

2003

2004

2005

56 JUN/JUL/AGO' 2005

AGENDA Eventos Mundiais emGestão Tecnológica

ALTEC 2005 – XI Seminário da Altec

Asociación Latino-Iberoamericana de Gestión Tecnológica

25 a 28 de outubro de 2005

Salvador, Brasil

Informações:d http://www.fia.com.br/pgtusp/altec

VIII ENGEMA

Encontro Nacional Sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente

9 a 11 de novembro de 2005

Rio de Janeiro, Brasil

Informações: d http://www.fia.com.br/engema/

7º Congresso de Tecnologia

7º Simpósio de Iniciação Científica e Tecnológica

4 a 8 de outubro de 2005

São Paulo, Brasil

Informações:d http://www.fatecsp.br

15th International Conference on Management of Technology – IAMOT 2005

Tema: East Meets West – Challenges and Opportunities in the Era of Globalization

22 a 26 de maio de 2006

Beijing, China

Informações:d http://www.iamot.org

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