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,\ .J I~ ~o I - .I')I~ 1 '; ,,,Ágo/&!'t/1981 , Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Sem i-Árido (CPATSA) .. \. ,. A complexidade do Nordeste Semi- -Árido, com seus quase 100 milhões de hectares, é um permanente desafio às instituições responsáveis pelo desenvolvimento rural da região. À Pesquisa, particulannente, impõe-se uma também complexa missão: a de gerar conhecimentos capazes de viabilizar tecnologias coerentes com as diferentes situações agroecológicaç e socioeconômicas nordestinas, tendo em vista o desenvolvimento regional. Foi essa complexidade que inspirou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) a criar, em 1975, o Centro de.Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Arido (CPATSA), implantado no ano seguinte, no eixo, Petrolina (PE)-Juazeiro (BA). Este Centro tem como objetivo estudar alternativas que possibilitem maximizar o aproJ'eitamento racional dos recursos naturais e socioeconômicos do denominado "Polígono das Secas", região que, ainda hoje, debate-se com seculares problemas de diferentes origens, dentre os quais o da instabilidade climática. J - . I I \. JORNAL DO SEMI-ÁRIDO v.1, n.001, AGO 1981. 111111111\111111111\1111111111111111111111111111111111\\111\111111111111111 39827 - 1 ... EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Vinculada ao Mininério da Agricultura Após cinco anos de atuação, o CPATSA já apresenta resultados promissores obtidos tanto nas estações experimentais como a nível de propriedade rural, onde algumas tecnologias voltadas para zonas semi-áridas estão sendo testadas, para uma avaliação mais realista, não somente no aspecto técnico, mas também em tennos socioeconômicos. Tais resultados, somados à significativa contribuição de outras Unidades da EMBRAPA, das Empresas Estaduais de Pesquisa, Universidades e da própria Extensão Rural, vêm fortalecer, cada vez mais, as ações do Governo Federal nesta região. . O JORNAL DO SEMI-ARIDO nasce com o propósito de contribuir, de alguma forma, para a disseminação desses conhecimentos junto a entidades vinculadas ao setor rural, e, ao mesmo tempo, torná-los acessíveis ao leitor em geral. Renival Alves de Souza Chefe do CPATSA - Comparada à forma tradicional de exploração de vazantes, a técnica desenvolvida pelo CPA TSA, quando testada a nível de produtor, proporcionou aumento de 192% na produção de batata-doce e de 92% na de milho. pág. 12 j ... . . ,

Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico ... · Vinculada ao Mininério da Agricultura Após cinco anos de atuação, o CP ATSA já apresenta resultados ... através

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I~ ~o I - .I')I~1'; ,,,Ágo/&!'t/1981

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Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Sem i-Árido (CPATSA)

.. \.

,.A complexidade do Nordeste Semi-

-Árido, com seus quase 100 milhões dehectares, é um permanente desafio àsinstituições responsáveis pelodesenvolvimento rural da região. ÀPesquisa, particulannente, impõe-se umatambém complexa missão: a de gerarconhecimentos capazes de viabilizartecnologias coerentes com as diferentessituações agroecológicaç esocioeconômicas nordestinas, tendo emvista o desenvolvimento regional.

Foi essa complexidade que inspirou aEmpresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (EMBRAPA) a criar, em1975, o Centro de.Pesquisa Agropecuáriado Trópico Semi-Arido (CPATSA),implantado no ano seguinte, no eixo,Petrolina (PE)-Juazeiro (BA). Este Centrotem como objetivo estudar alternativasque possibilitem maximizar oaproJ'eitamento racional dos recursosnaturais e socioeconômicos dodenominado "Polígono das Secas", regiãoque, ainda hoje, debate-se com secularesproblemas de diferentes origens, dentre osquais o da instabilidade climática.

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JORNAL DO SEMI-ÁRIDO

v.1, n.001, AGO 1981.

111111111\111111111\1111111111111111111111111111111111\\111\111111111111111

39827 - 1

...

EMBRAPAEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Vinculada ao Mininério da Agricultura

Após cinco anos de atuação, oCPATSA já apresenta resultadospromissores obtidos tanto nas estaçõesexperimentais como a nível depropriedade rural, onde algumastecnologias voltadas para zonassemi-áridas estão sendo testadas, parauma avaliação mais realista, não somenteno aspecto técnico, mas também emtennos socioeconômicos.

Tais resultados, somados à significativacontribuição de outras Unidades daEMBRAPA, das Empresas Estaduais dePesquisa, Universidades e da própriaExtensão Rural, vêm fortalecer, cada vezmais, as ações do Governo Federal nestaregião. .

O JORNAL DO SEMI-ARIDO nascecom o propósito de contribuir, de algumaforma, para a disseminação dessesconhecimentos junto a entidadesvinculadas ao setor rural, e, ao mesmotempo, torná-los acessíveis ao leitor emgeral.

Renival Alves de SouzaChefe do CPATSA

-

Comparada à forma tradicionalde exploração de vazantes, a

técnica desenvolvida pelo CPATSA,quando testada a nível de

produtor, proporcionou aumentode 192%na produção de

batata-doce e de 92% na de milho.

pág. 12

j... ..,

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NORDESTINOS NO CCI

o Chefe do CPATSA,RenivalAlvesdeSouza, foi um dos eleitos para a composi-ç[o do Conselho Consultivo Interno-CCI,do Sistema Cooperativo de PesquisaAgro-pecuâria, vinculado ao Ministérioda Agri-cultura, conforme comunicaç[o feita:pelopresidente da Embrapa, Eliseu Roberto,através da}>ortarian~119/81, de 04.09.81

O CCI tem duas atribuições básicas:a) opinar sobre assuntos de natureza téc-nica ou administrativa que lhe forem sub-metidas pelo Presidente e pelos demaismembros da Diretoria Executiva da Embrapa; b) estudar e propor, à DiretoriaExecutiva eáo Presidente da Emb}:apa,medidas que visem à solução de proble-mas relacionados com..as atividades deapoio técnico-administrativo aos órgãosdescentralizados da empresa e 'demaisinstituições integrantes do Sistema Coope-rativo de Pesquisa Agropecuâria, coorde-nado pela Embrap:t e constituído pormais 14 empresas e t,rês Programas Inte-gradosde Pesquisa.

Além do Chefe do CPATSA, forameleitos, do Nordeste, os presidentes dasempresas estaduais de pesquisa da Paraí-ba (EMEPA), Abdon Soares de Miranda;do Ceará (EPACE),Arthur SilvaFilho; doRio Grande do Norte (EMPARN),Bene-dito Vasconcelos Menezes; e de Pernam-buco (IPA), Diógenes'Cabraldo Vale.

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Centro de Pesquisa AgI:opecuâriado Trópico Semi-Árido

Chefe:Renival Alves de Souza

Chefe Adjunto Técnico:-José Ribamar Pereira

Chefe Adjunto de Apoio:Pedro Maia e Silva

Editoria Responsável:Assessoria de Imprensa e

Relações PúblicasR. Presidente Dutra, 160

Fone: (081) 961-0122Petrolina-PE

Composição e Impressão:GRAFSET LTDA_

Rua Vigolvino Wanderley, 245Fone: (083) 321.2090

Campina Grande - Paraíba

Tiragem:3.000 exemplares

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'~~, ~..-iit' ~ '" \ . ,,', , '. ".i4'__,g1?c-..8.b ~.. "f. ... ~ .-.-_Membros da ADESG em visita aos campos experimentais do CPATSA

ADESG VISITA CPATSA

Uma comitiva da Associação dos Diplomados da EscolaSuperior de Guerra-ADESG,Delegacia do Ceará, coordenada pelo Agrônomo Francisco José da Silva, esteve emPetrolina e Juazeiro nos dias 14, 15 e 16 de setembro, numa viagem de estudos queinclui,! visita aos campos experimentais do Centro de PesquisaAgropecuâria do TrópicoSemi-Arido.

Os 20 integrantes da comitiva, constituída de executivos dos governos federal,estadual e municipal, além de empresârios, participavam do X Ciclo de Estudos sobreSegurançae Desenvolvimento,realizado em Fortaleza-CE.

A visita ocorreu no dia 14, pela manhã, e à tarde, os visitantes assistiram a umaconferência proferida pelo Chefe.do CPATSA,Renival Alves de Souza, sobre PesquisaAgropecuâria no Trópico Semi-Arido, detendo-se nas ações de pesquisa coordenadase/ou executadas pelo Centro.

.Nas dias seguintes, houve visitas aos,projetos de irrigação da Codevasf (Bebedouro,Maniçobae Tourão) e ao Complexo Hidroelétrico de Sobradinho.

NORDESTE SEMI-ARIDO

DISCUTIDO EM PATOS

'Promovida pela Empresa Brasileira deAssistênciaTécnica e Extensão Rural-EM-BRATER, em Patos-PB, no período de06 a 10.06.81, a Reuni[o Técnica sobreAlternativas de Exploração de Peque!lase MédiasPropnedades da RegiãoSemi-Ari-da do Nordeste tem tudo para ser lembra-da, no futuro, tal a sua importância.

Dessa reuni[o resultou a defmição desistemas de exploração para propriedadesde 10, 3O,60 e 100 hectares, levando emconta que, segundo o INCRA (1972),84% dos imóveis rurais do Nordeste s[ode até 100 ha.

Aléin da EMBRATER,participaram dareuni[o o Centro de PesquisaAgropecuá-ria do Trópico Semi-Árido (CPATSA),aEMBRAPA-Sede, Centros Nacionais dePesquisa de Algod[o e de Caprinos, Uni-versidades Federais da Paraíba (UFPb-Nu-peârido) e do Ceará (CCA-UFC),Empre-sas Estaduais de PesquisaAgropecuâria daParaíba (EMEPA) e do R.G. do Norte(EMPARN), técnicos do BNB, Banco doBrasil, Projeto Sertanejo, DNOCS eprodutores rurais.

Flexibilidade - Os modelos propostoscontemplam todos os segmentos da pro-priedade rural. inclusive o familiar, e são

bastante flexíveis, servindo de subsídiospara as ações de planejamento agrícola,bem como para as decisõeslocais a seremtomadas entre técnicos e produtores.

Inicialmente, a EMATER-PBe a EMA-TER-RN selecionarão propriedades que,com a introduç[o dessessistemas,v[o ser-vir de Unidades de Observação; à medidaque resultados positivosforem ratificados,passar[o a ter o caráter de Unidades deDemonstraç[o.

PIAUIENSES CONVOCAM

CPATSA

"Alternativas Tecnológicaspara a Agri-cultura no Nordeste Semi-Árido" é o te-ma do.painel que o CPATSAapresentaráno dia 13 de outubro, em Teresina,comoparte do I Encontro de EngenheirosAgrô-nomos do Estado do Piauí, a se realizarde 12 a 14 do próximo mês, sob o patro-cínio da Associação dos EngenheirosAgrônomos desseEstado.

O convite foi feito pela coordenaç[odo Encontro e, no painel, pesquisadoresdo CPATSA abordarão aspectos da Agri-cultura de sequeiro, produç[o animal,manejo de solo e água e mecanizaçãoagríçola a traç[o animal no Trópico Se-mi-Arido, bem como será discutida umaestratégia metodológica para a difusão dasalterna tivas exis tentes.

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No coracão-

da caatingaEm plena caatinga, no sertão pernambucano,um Centro de Pesquisa busca novasalternativas para a agropecuárianordestina.

o NordesteSemi-Árido distingue-sedasdemaisregiõesbrasileirasporumaspectofundamental,nemsempreconsiderado,seriamente,emtodaa suadimensão:estaregiãopossuilimitaçõesepotencialidadestão particularesquedesaconselham,eatéinviabilizam,intervençõescalcadasemconceitoseexperiênciasadequadasexclusivamentea outrasregiões.

A crescentenecessidadedeampliaroconhecimentotécnico-científic,osobre(epara)a regiãoinspiroua'EMBRAPAacriar,em 1975,o CentrodePesguisaAgropecuáriadoTrópicoSemi-Arido(CPATSA),LocalizadonoeixoPetrolina(pE)-Juazeiro(BAL NoSistemaCooperativodePesquisa

.Agropecuária,doMinistériodaAgricultura,o CPATSAclassifica-secomoum CentrodeRecursos,por sedestinara pesquisarosdiferentesrecursosnaturaisesocioeconômicosdaregiãoenãoapenasprodutosespecíficos- tarefaatribuídaaos'CentrosNacionaisdePesquisadeProdutosea outrosórgãosdepesquisa.

Implantadonodia 18dejunho de1976,.0CPATSAvemsolidificandoasbasesdeúmaatuaçãosistêmicadaPesquisanoSemi-Arido,contemplandotrabalhospertinentesa diferentescamposcientíficos,comohidrologia,climatologia,botânica,fitotecnia,fitopatologia,manejoesanidadeanimal,entomologia,ecologia,dentreváriosoutros.Comisto,visapossibilitarumaabordagemsistêmicadosproblemasagropecuáriosregionais,como objetivodeapresentarnãoalternativasisoladas,esim,soluçõesintegradas,consideranéloosdiversosaspectosdo espaçoruralnordestino.

SEQUEIRO,O DESAFIO

Emboratambémdesenvolvapesquisasparaáreasirrigadas,o CPATSAtem,nosproblemasafetosàagriculturadesequeiro,o seumaiordesafio.Afinal, aszonasáridase serni-áridasrepresentamaproximadamente59%do Nordeste,ou10%do território brasileiro.E é nessasáreasqueseacentuamosmaioresproblemasruraisda região.

Comoestruturarumapropriedaderural noSemi-Árido?Comoconvivercoma instabilidadeclimática,caracterizadamaispelapéssimadistribuiçãodaschuvasdo quemesmopeloseuvolume?Quefatores,alémdosclimáticos,interagemeinfluenciamaagriculturadesequeirono Nordeste,tornands-adetãoalto risco?

E nabuscade respostasparaestaseoutrasinterrogaçõesqueatuamosS9pesquisadoresdo Centro.E essabuscaéorientadapelaestruturaorganizacionaldapesguisano CPATSA,alicerçadanosseustresProgramasNacionaisdePesquisa(PNPs):

* PNPdeAVALIAÇÃO dosRecursosNaturaiseSocioeconômicosdoTrópicoSemi-Árido;

* PNPdeAPROVEITAMENTOdosRecursosNaturaiseSocioeconômicosdo TrópicoSemi-Árido;

* PNPdeSISTEMASDEPRODUÇÃOparao TrópicoSemi:Árido.

NOVOSMETODOS

A procuradetécnicasetecnologiascapazesdepermitira estabilidadedaproduçãoagropecuáriaexi~einformaçõescircunstanciadassobreo nlvel eavariabilidade(no tempoeno espaço)dosrendimentosculturaisnaregião

semi-árida.Renttimentoentendidocomoo resultadodasinteraçõesclima/solo/planta/técnicasculturais.Eessasinformações,por suavez,exigemmétodosnãotradicionaisdepesquisa,adaptadosà complexidadedo espaçoruralnordestino.Estaé umadaspreocupaçõesbásicasdo PNPdeAvaliação.

Atualmente,o CPATSAvemdesenvolvendoalgunsmétodosdepesquisaagropecuária,na regiãodeOuncuri-PE,atravésdosquaisé possívelidentificare hierarquizarosfatoresecondiçõesquelimitam a produtividadedasculturas,cujosresultadosiniciaisserãoabordadosemediçõesposterioresdestejornal.

Segundoo ecólogoEvaristoEduardodeMiranda,Coordenadordo PNPdeAvaliação,"os métodosvêmpermitindoidentificarosproblemaspassíveisdesoluçãotécnica,sem,contudo,reduziroproblemadaprodutividadea questõesestritamenteagronômicas".

- Essaidentificação,dizo dr. Miranda,seguidadeumahierarquização,tendeaalimentarostrabalhosdepesquisaanível decamposexperimentaiselaboratórios.Osmétodosfestadoseconfirmadossãoestendidosàsinstituiçõesregionaiseàsempresasestaduaisdepesquisado Nordeste.

NA CAATINGA

o município dePetrolina,ondeestáimplantadaa maiorpartedoscamposexperimentaisdo PNPdeAproveitamento,coordenadopelodr.JoséRibamarPereira,localiza-senumadaszonasmaisáridasdo Nordeste,comumamédiapluviométricaanualde400mme umapéssimadistribuiçãodaschuvas(nesteano,por exemplo,choveu503mm noperíodode 10a28 demarço,enquantoquenosoutrosmesesforamregistradasprecipitaçõesbastantereduzidaseesparsas).

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EsobessascondiçõesclimáticasqueserealizamaspesquisasnasáreasdeproduçãovegetaleanimalnoSemi-Aridoevitandoantigasdistorções,quandoamaioriadaspesquisasvoltadasparaoNordestelocalizavam-se,emgeral,nazonalitorânea,comorevelouodocumento"ProduçãoCientíficanoSetorAgrícolado Nordeste",publicadoem1976,peloMINTER,MEC,SUDENE,UniversidadeFederaldo Cearáe outrasinstituições.

Emplenacaatinga(ondeestásendoconstruídaa própriasededo CPATSA),a45 kmdazonaurbanadePetrolina,testam-sediferentesespéciesvegetaistolerantesà seca,comomilheto,feijãoguandu,guar,sorgo,capiflll'buffel,palmaforrageira,camaratuba,mororó,eucalipto,leucena,algaroba,sabiá,dentreoutras.

Tambémestãosendodesenvolvidossistemassimplesparapequenairrigação,equipamentosdemecanizaçãoagrícolaatraçãoanimal,alémdeoutrosexperimentosconduzidosemcondiçõesdesequeiro,o queaumentaa probabilidadedeaproveitamentodessastécnicasnummaiornúmeroderegiõesnordestinas.

ESTRUTURANDOA PROPRIEDADE

Nasmesmascondiçõesemquesedesenvolveo PNPdeAproveitamento,umaáreaespecíficasimulaumapropriedaderural:é nelaquecomeçamaserrealizadosostestesdecamp.oqueintegramo PNPdeSistemasdePr,oduçãoparao TSA,soba coordenaçãododr.AntônioSimões.Apósaprovadasa~ronomicamenteedeforma isolada,astecnicasgeradaspeloPNPdeAproveitamentosãoestudadasemconjunto,a fim deseverificaremasinteraçõesentreelasea rentabilidadepotencial,numestudotécnico-econômico.

A análisedessesexperimentosemescalaoperacionaltemumaduplafinalidade:a) realimentaro PNPdeAproveitamento,parao desenvolvimentodenovaspesquisas;e b) alimentaroProgramadePesquisaa NíveldeProdutor,comastécnicasaprovadasanível decampoexperimental.

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pr.-~-,,"(,,~. I,'" "!"~~'-No. Vale do S. Francisco, a possibilidade depeSquisar para áreasirrigadas.

CONTRASTESNORDESTINOS

A regiãodelineadaedenominadapelaSUDENE,em 1958,como"PolígonodasSecas"tambémpossuiseusoásis.E o casodo ValedoSãoFrancisco,comumgrandepotencialparaumaexploraçãoagrícolaintensa,atravésdeirrigação.

A localizaçãodoCPATSA- emplenacaatingaepróximoaoSub-MédioSão

, ,

Francisco- possibilita-lheumaversatilidadetambémnesseaspecto,pois,alémdaspesquisasparaaagriculturadesequeiro..desenvolveexperimentosemáreasirrigadas.

No CPATSA,umaequipedeespecialistasemirrigação,salinidade,drenagemetc,vemintensificandopesquisasnoValedoSãoFrancisco,visandoà maximizaçãodousodosrecursoshídricoseedáficosdestaregião,bemcomoà diversificaçãodasatividadesagrícolasemoutrasáreas.irrigáveis.

CRIANDORMzES

OcaráterregionaldoCPATSAnãosignificaqueesteCentrotenhaexclusividadenaspesquisasparaoTrópicoSemi-Arido.Alémdele,asEmpresasEstaduaisdePesquisa,asUnidadesdeExecuçãodePesquisadeÂmbito Estadual(UEPAEs)deTerezinaeAracaju,asUniversidades,dentreoutrasinstituições,integram-senabuscadesoluçõesparaosinúmerosproblemasregionais.

Ao ladodessasinstituiçõesdepesquisa,daExtensãoRurale deoutrosórgãosgovernamentais,o CPATSAvaiconsolidandoe,certamente,ampliarámaisainda,aabrangênciadesuafilosofiaesuametodologiadepesquisavoltadasparao Semi-Arido.

SEMENTES#

BASICASA Embrapa iniciará, a partir do próximo ano, em Petro-

lim-PE, a produção de aproximadamente 1.800 toneladasde sementes básicas, abrangendo 12 produtos, com a finali-dade de aumentar a disponibilidade desses insumos para osprodutores de sementes.

algodão, feijão vigna, a"oz, alface, alho, cebola, ervilha efeijão vagem. Atualmente, o SPSB já produz, no Vale doSão Francisco, sementes básicasde milho, feijão, sorgo ealface.

o Serviço de Produção de Sementes Básicas-SPSB, Ge-

rência Local de Petrolim contemplará, nessa programação,os seguintes produtos: milho, feijão phaseolus, sorgo, soja,

Segundo o agrônomo Carlos Lopes, Gerente do SPSB,haverá duas safras de sementes básicas a partir de 1982 - aprimeira no período das chuvas e a segunda na época seca,o que será posslvel através de irrigação.

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o simplesfato de uma técnica apresen-tar resultados positivos a nível de campoexperimentalnem sempre atesta sua viabi-lidade para todo o Nordeste Semi-Árido.A heterogeneidade do espaço rural nor-destino geralmente limita essa extrapola-ção. Por outro lado, as características daregião suscitam, também, a necessidadeda formulação e étdaptaqão de modelosagropecuários flexíveis, que ofereçam,às propriedades rurais, diferentes alterna-tivas para resistência aos efeitos das es.tiagensperiódicas.

Em ambos os casos - das técnicasiso-ladas e dos modelos -, toma-se imperati.va uma avaliação criteriosa, a nível depropriedades situadas .em locais estraté-gicos e que possuam características co-muns a um gtande número de imóveisrurais da região, passíveis de se benefi-ciarem com os resultados obtidos. Istopermite não apenas eventuais ajustes,mas também, e sobretudo, um parecerconsubstanciado da Pesquisa, da Exten-são e do Produtor sobre a validade ounão de técnicas e/ou modelos propostos,de acordo com cada situação específica.

Esses estudos já estão sendo ~ealiza-dos sistematicamente, em oito Estadosdo Nordeste, através do Programa dePesquisa a Nível de Produtor - um dossegmentos do PROJETO SERTANEJO-, sob a coordenação técnico-científicado Centro de Pesquisa Agropecuária doTrópico Semi-Árido(CPATSA).

Iniciado no ano agrícola de 79/80, oPrograma desenvolve-se, atualmente, em20 propriedades localizadas nos núcleosdo SERTANE,J0deCaic6-RN, Iguatu-CE,Santa Luzia é Picuí-PB, Jaicós e ~alen-ça-PI, Irecê-BA,Poço Redondo-SE, SerraTalhada e Ouricuri-PE e, a partir do se-gundo semestre deste ano, em Santanado Ipanema-AL.

A execução dos trabalhos está a cargodas empresas estaduais de pesquisa e dasUEPAEs Terezina e Aracaju, com exce-ção dos reali2adosem Ouricuri, s'óba rêS.-ponsabilidade direta do CPATSA. Essadescentralização tem a vantagem de per-

PESQUISA A N(VELjDE PRODUTOR

Na práticaa teoria

é outra?

,-,

,.o modelo original do Multicultor CPATSA(foto) está sendo aperfeiçoado, após testes an(vel de produtor.

mitir que as tecnologias sejam ajustadasàs condições agroecológicas e sócioeco.nômicas específicas de cada Estado, como acompanhamento permanente das uni-dades estaduais de pesquisa.

PALAVRADO PRODUTOR

Pesquisadores e extensionistas ruraisestão vivenciando uma experiência enri-quecedora: é a participação do produtorrural, que, inserido efetivamente noprocesso, tem contribuído de forma deci-siva para as adaptações necessárias dastécnicas e modelos testados em seu labo-ratório natural- o próprio campo.

Esse feedback já foi proporcionado emvárias ocasiões, testemunhando a validadedo Programa. A partir de sugestões dosagricultorE*>,a pesquisa já pôde efetuarajustes importantes em algumas tecnolo-gias, como nô barreiro para "irrigações

QUANDO CONTROLAR A CIGARRINHA VERDE?

Nas áreas irrigadas do NE, a cigarrinha verde é uma daspragas que mais prejudicam a cultura do feijão-de-corda,também conhecido como feijão macassar ou caupi, especi-almente durante os meses,mais quentes e secos. A reduçãoda produtividade pode cnegar a 60%, quando a populaçãodesse inseto atinge níveis muito elevados.

Pesquisa realizada pelo CPATSA, em área irrigada, com avariedade Pitiúba, indicou que a época oportuna para seiniciar o controle dessa praga é aos 25 dias após a germina-

de salvação" e no Multicultor CPATSA(temas de futuras reportagens) o que, nacerta, ampliarão as probabilidades de ado-ção por parte de um maior númelv deprodutores.

As propriedades selecionadas para odesenvolvimento das pesquisas servem, aprincípio, de Unidades de Observação,transformando.se em Unidades de De-monstração à medida que as tecnologiastestadas tenham seus resultados ratifica-dos. Nesse momento será iniciada a difu-são massal e, nesse estágio do pro.cesso,novamente será valiosa a intervenção doprodutor, com o seu testemunho, funda-mentado em sua experiência ao longo dostestes.

TEMPOVALORIZADO

O Programa de Pesquisa a Nível deProdutor tem o mesmo enfoque sistêmi-co da pesquisano CPATSA;considerandotodos os segmentos da propriedade rural,como um todo indissociável.Assim,técni.cas voltadas para a produção agrícola,produção animal e de interesse específicodo segmento familiar são contempladasnesses estudos, com base nos resultadosalcançados por diferentes instituições depesquisa.

A análise das interações decorrentes daintrodução de diferentes técnicas nummodelo de produção agrícola não podeser marcada pelo imediatismo, tal a com-plexidade da tarefa. Para o dr. RenivafAlves de Souza, Chefe do CPATSA, oPrograma de Pesquisaa Nível de Produtor"não é um serviço de pronta entrega,com tempo marcado para captar e anali.sar integralmente os resultados. A deman-da de tempo para a obtenção dessas res-postas não pode ser considerada 'perda detempo'. Ao contrário, o período suficien-te para as definições será compensado namedida em que as alternativas devidamen-te adaptadas, possam ser incorporadas ao~tema produtivo do agricultor, evitandoações incompatíveis com a sua realidade- o que representaria, isto sim, desperdí-cio de tempo".

çi[o, caso o sintoma do ataque seja realmente evidente,repetindo-se a aplicaçãoapós a extinção do poder residualdo inseticida, caso as folhas novas ainda apresentem o mes-mo sintoma. O controle pode ser feito com produtos à basede FOSFAMIDON,MEVINFÓS e ENDOSULFAN.

-Até que se obtenha resultadosexperimentais com outrasvariedadesde feijão-de-corda,recomenda-seque a proteçãoda cultura, contra o ataque da cigarrinhaverde,seja iniciadaalguns dias antes da floração e prolongada até a formaçãodas sementes.

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Zoneamento Agroecológicoo Piauí procura conhecer-se melhor, para desenvolver-se mais rápido.

Com orientaçãocientífico-metodológi-cado CentrodePesquisaAgropecuáriadoTrópico Semi-Árido, estáserealizandooZoneamentoAgroecológieodo Piauí. Oobjetivo dessetrabalho é gerarconheci-mentos científicos sistematizados,quepossamservir de subsídioseficazesparauma melhorutilizaçãoe conservaçãodosrecursosnaturais renováveisdo Estado.

O zoneamentovem sendoexecutadopelaSecretariada Agricultura do Piaui,atravésda ComissãoEstadualde Planeja-mento Agrícola - CEPA-PI,com apoiodeoutrasentidades.

Iniciadosemjaneirodesteano,osestu-dos,quandoconcluidos,vãopossibilitaradeterminaçãocircunstanciada,no tempoe no espaço,dasbasesecológicasdo de-senvolvimentorural do Estado,atravésdeum zoneamentoagroclimático e fito-ecológico, que começarána escalade1/1.000.000,tendo em vistaos dados,otempo,osrecursosdisponíveise aaplica-ção eminentementeagrícoladessetraba-lho.

AÇÃO CONJUNTA

A participaçãodo CPATSAfoi defini-da desde22 de outubro do ano passado,em reuniãorealizadaem Petrolina, entreo Chefedo Centro,RenivalAlvesdeSou-za,o Coordenadordo ProgramaNacionalde Pesquisade Avaliaçãodos RecursosNaturaise Sócioeconômicosdo irópicoSemi-Árido (PNP027) EvaristoEduardode Miranda,o Secretárioda Agriculturado Piaui,OdairSoares,e o Diretor-Presi-dentedaCEPA-PI,PauloSobral.

Além do CPATSA,outras entidadescooperamcom açõesespecíficasna exe-cução do zoneamento,dentre elas, aSUDENE, atravésdo DepartamentodeRecursosNaturais- DivisãodeHidrome-teorologia. No momento, estão sendomantiaosentendimentoscomoutrasinsti-tuições,quepoderãoparticipardo traba-lho, como o Instituto NacionaldePesqui-sasEspaciais,a UniversidadeFederaldoPiaui eo CentrodePesquisasEconômicaseSociaisdo Piaui.

TREINAMENTO

Além da orientaçãometodológicaquevem prestando,atravésdo Coordenadordo PNP027, o CPATSAtambémpartici-pa da capacitaçãodos técnicosexecuto-

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res,mobilizand'opesquisadoresdasáreasde ecologia,hidrologia,climatologia,bo-tânicaeestatística.

Nesteano, técnicosda CEPA-PIjá re-ceberamtreinamento em fitoecologia ezoneamento ecológico, ministrado emPetrolinae naregiãodeOuricuri-PE,ondeo CPATSA concentrapartedasaçõesdoPNPdeAvaliação.

Outra equiperecebeutreinamentonaáreadeclimatologiaapliçada.Foramela-boradosmodelosestatísticoscomvistasadeterminaros padrõesespaciaisdaspreci-pitaçõesno Estadodo Piaui, utilizando-seo logicial informático da EMBRAPA.

PRIMEIROSRESULTADOS

A primeira atividade orientada peloCPATSA foi o levantamentoe a caracte-rizaçãoda redepluviométricado Estado.Constatou-seque,.em vez deapenas22postos,comosesupunhaemdezembrode1979,o Piauí dispõede450,passiveisdeutil ização,sendoque 205 estãono pró-prio Estado.

Ao lado, o Secretário da Agricultura doPiau(, OdairSoares (de óculos), Presidente

da CEPA-PI, Paulo Sobral (centro) eChefe do CPArsA, Renival Alves, num dos

campos experimentais do Centro.

Abaixo, tf!cnicos da CEPA recebendotreinamento nas áreas de

hidrologia/geomorfologia, em Ouricuri-Pe.

Em seguida,constituiu-seum ficháriode base,atualizadoe homogeneizadoparamaisde400 postos,cujasmedidasforamsimuladaspara65anosdechuva.

Outro trabalhoconcluído foi a deter-minaçãode padrõesespaciaisde chuva,atravésde quatro modelossimplesquepermitemestimara precipitaçãode qual-quer localidadedo Estado, partindo-seunicamentedos seusparâmetrosde loca-lizaçãoespacial.Por outro lado,estáemfasede conclusãoo mapade isoietasdoEstado,emescalade1/1.000.000.--- - -

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Salvando a LavouraNo sertão sergipano, 400 pessoas viram "irrigação de salvação':

Nodia 25deagostopassado,osefeitosdasecaLáseevidenciavamnosertãosergi-pano.Naosomentepeloaspectodavege-tação nativa como tambémpelosdadosde produção: EdidelsonAlves Feitosa,proprietário da FazendaSão Caetano,município de CanindédeSãoFrancisco,plantara,em três hectares,20 kg de fei-jão e colheraos mesmos20 kg. Ele temsete filhos e, no ano passado,para ali-mentá-Ios,teve que comprar feijão aopreçodeCr$ 9 mil o saco.

No mesmodia25 deagosto,namesmapropriedade,numa áreamenor (1,5 ha),400 pessoas,en.treprodutoresrurais,téc-nicose autoridadesdo setoragrícolaser-gipano,viram Edidelsonapresentarlavou-ras de milho e feijão garantidase assegu-rar que "o feijãovai dar parao sustentoda família e ainda para plantar em82".

Foi isto quea EMATER-SE,a Unidadede ExecuçãodePesquisadt!Ambito Esta-dJal.UEPAEde Aracaju e b PROJETOSERTANEJO,Núcleo de Poço Redon.do-SE,procuraramenfatizar,no "Dia deCampo"sobreIrrigaçãodeSalvação.quepromoveramnaqueladata.

COMOFUNCIONA

Canalizandopara um barreiro a águadechuvaqueescoasobreum terrenoemdeclive, o agricultor pode utilizá-Iaposteriormente,para irrigar, por gravida-

PEQUENA IRRIGAÇAO

Foi realizada nos dias 11, 12 e 13de agosto, em Brasília,a Reuniã'oTécnicasobre Pequena Irrigaçã'o, patrocinada pe-los Ministériosdo Interior e da Agricultu-ra, Associaçã'o Brasileira de Irrigaçã'o eDrenagem e Instituto Interamericano deCiênciasAgrícolas.

o CPATSA apresentou o trabalho"Pequena Irrigaçã'o para o TrópicoSCllÚ-Árido:técnicase estratégiade ex-

t Na área em quecolheu feijão,o produtor faza primei rai rrigação no50rgorecém--plantado.

d!),parteda lavouraplantadaasuajusan-te. Istà só é feito quandoocorremeleva-dosdeficitshídricosduranteo ciclovega-tativo dasculturas- fato comumnoNor-desteSemi-Arido-, daí o termo "irriga-çãodesalvação".

O sistemacompleto,desenvolvidopeloCPATSA,consisteem áreade captação,tanque de armazenamento(barreiro) eáreade plantio, ondedevemserexplora-das,preferencialmente,culturasalimenta-

ploração", no qual sugeriu algumasalter-nativas para maximizar o uso dos re-cursos hídricos da região.

Ainda participaram a EMBRAPA-Sede,SUDENE, DNOCS,Bancos Oficiais e em-presas privadas, que também adicionaramsubsídios para a fOffilUlaçã'ode uma estra-tégia de exploraçã'o da pequena irrigaçiJó.

Em sua participaçã'o, o CPATSA, argu-mentou que "a heterogeneidade de situ~~ões intra e inter-regionais, no NordesteSemi-Árido, exige, no planejamento da

res. Essesistemaestásendointroduzidoem propriedadesonde se desenvolveoProgramadePesquisaa NíveldeProdutor- ul11(;Iossegmentosdo PROJETOSER-TANEJO-, coordenadopeloCPATSAeexecu~ado',pelas unidadesestaduaisdepesquisa.

NOVASCOLHEITAS

A surpresade quemvisita a FazendaSão Caetanonão é apenascom osgrãosde feijão e milho armazenados:na áreaonde cultivara feijão, EdidelsonFeitosaplantousorgoforrageiro,queseráirrigadocom o restantedaáguaquecontinuaar-mazenadano barreiro.OsorQOservirápa-ra reduzir o deficit de alimentaçãoparao rebanho, problema graveque fez oprodutor pagarCr$ 33 mil por trêsmesesde aluguelde umapastagem,noutrapro-priedadepara20cabeças.

Outro fato poderáchamarmaisaten.ção ainda: No sertãosergipano,sãoco-munsas"chuvasde trovoada",quegeral-menteocorrementredezembroejaneiro,màsnão é comumos produtoresplanta-rem nesseperíodo,pois não confiamnadistribuiçãodaschuvasnaregião.Comosresultadospositivos obtidos atravésdairrigaçãode salvação,EdidelsonFeitosagaranteque vai aproveitaressaschuvaspara plantar, "pois agoratenho certezade que vou colher", e não descartaapossibilidade de obter duas colheitas"seo invernofor normal".

pequena irrigação, uma estratégia paraotillÚzar o uso dos recursos hídricos dis-poníveis, considerando os tipos de fontesd'água, os métodos de irrigaçã'o,a épocade utilizaçã'o, os módulos irrigáveise asnecessidadestotais da propriedade."

Endossando as proposições do CPA TSAe acrescentando a experiência positiva dealgumas de suas associadas, a EMBRA-TER, através do seu Presidente, GlaucoOlinger, apresentou o trabalho "Sistemade convivência com a Seca na Pequena eMédiaPropriedade do Nordeste."

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A SECA NÃO MATOU ESTE CAPIM

As últimas secas ocorridas no Nordeste ratificaram que o capim Buffel é,

também,um forte. E o seu sucesso nas pastagens cultivadas do

Semi-Árido fortalecem as esperanças da pecuária regional.

Em todos os anos de estiagem prolon-gada, a caatinga seca, exaurida, se~e depano de fundo a um espetáculo chocante,no qual definhados animais contracenamsobre o solo gretado dos sertões, no repe-titivo drama da fome, decorrente da es.cassez de pastagens. Em milhares de pro-priedades rurais do Nordeste Semi-Árido,é comum assistir-se a cenas semelhantes.Mas, o enredo dessa história pode mudar.E o capim Buffel, devidoà sua fácil adap-tação às regiões secas, com ch).lvasmaldistribuídas - como é o caso nordestino-, certamente terá decisiva participaçãonesse processo, ao lado de outras forra-geirastolerantes à seca.

Não é para menos: em campos experi-mentais implantados em diferentes re-giões do Nordeste, o capim Buffel temapresentado produtividades que variamde 8 a 12 tlhalano de matéria seca e suacapacidade de suporte (1 a 2 ha para cadaanimal) é, aproximadamente, oito vezessuperior à da pastagem nativa, a caatinga.E mais: além do seu emprego no pastejodireto, pode ser utilizado, também, paraprodução de feno de alta palatabilidade,ati."I.gindocerca de 2.250 kg/ha, com 54%de massa'foliar e 10,6% de proteína, istoem corte dado em 35 dias de crescimento,no período chuvoso.

o Centro de PesquisaAgropecuária doTrópico Semi-Árido (CPATSA), que de-tém a coordenação regional do Programade Melhoramento e Manejo de Pastagens(PROPASTO), vem desenvolvendo umasérie de estudos sobre essa gramínea,cujos resultados preliminares já se apre-sentam bastante positivos.Essestrabalhos

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estão sendo realizados na própria estaçãoexperimental do CPATSA, em Petroli-na-PE, e em vários estados, com a partici-pação direta das Unidades Descentraliza-das da EMBRAPA(UEPAE's de Terezinae Aracaju) e das Empresas Estaduais dePesquisa do Ceará, Pemambuco, Mara-nhão e Bahia.

GADOFORTE NA SECA

Se sobreviver a contínuos anos de secaé tarefa dificllima para bovinos no Nor-deste, Semi-Árido, ganhar peso nesses pe-ríodos é algo surpreendente. Mas, isto épossível. Em Quixeramobim-CE, porexemplo, novilhos de corte em pastagemde capim Buffel, num total de 280dias entre período chuvoso e período se-co, ~haram em média 471/g/cabeça/dia,equiva'tendo a um aumento de 149%sobre o ganho na pastagemnativa, que foide 189 g/dia.

Resultados sobre o desempenho de no-

vilho de çorte, obtidos em condições depastejo contínuo, com ou sem adubaçãofosfatada, e com os animais recebendoapenas suplementação mineral, apresen-taram ganhos de peso variando de 356a 616 g/cabeça/dia. Os maiores ganhos,por hectare, ocorreram em locais de so-los mais férteis, como Pedras-PE(578 g) ePalmas de Monte Alto-BA (513 g/dia)(Ver Tabela I).

No Relatório Técnico Anual do PRO-PASTO/NORDESTE,nl?4 vol. 2, editadoem julho passado pelo CPATSA, estãocontid()S diversos resultados obtidos em21 Unidades Experimentais, distribuídasem seis estados. Tal publicação está dis-ponível às instituições interessadas, no Se-tor de Informação e Documentação doCentrQ.

COMOESTABELECER

Comprovada a' adaptação do capim

TABELA 1 - Desempenho de novilhos de corte em p""tage!1S de capim Buffel, adubadas ou não com superfosfalo simples, emdiferentes localidades do Nordeste brasileiroa

Precipitação Adubaçãono Lotação Periodode Ganh0de pesodiário Produçãode Carne

Local AnualMédia plantio pcslejo (kg) (arroba)

(nun) kg/ha ha/animal (dias) P/animal P/ha P/animal P/lia

Independéneia,CEb 660 125 2.0 281 0,448 O.24 4.2 2.I

Quixeramobim-CEc 750 125 1.6 280 0.471 0.236 4.4 2.8Pedra.PEe 550 1.0 360 0.578 0.578 6.9 6.9Carira.SEc 800 1.1 330 0.356 0,320 3.9 3.5Carira.SEc 800 300 0.9 330 0.428 0.4'71 4.7 5.2SantaTerelinha.BA: 600 - 1,7 295 0.427 0.285 4.2 2.5SanldTerezinh:rBAe 600 150d I.3 295 0.451 0.376 4.4 3.4Palmasde MonteAllo-BAc 700 - I.3 198 0.616 0.513 4.1 3.2

a FONTE:RelatórioTécnicoAnualdo PROPASTO/NE 1978/1979.b Médiade doisanos.c Médiade I anod EmSla. Tere7jnhaa adubaçãolemsido feita acada doisanos.

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Buffel às condições nordestinas, a Pesqui-sa busca, agora, fornecer informaçõesmais precisas aos produtores, sobre diver-sos aspectos de clima, solo, métodos deestabelecimento, manejo e práticas deconservação, que permitam elevar os ní-veis de produtividade dessa forrageira.

Em Petrolina-PE, no campo experi-mental do CPATSA/EMBRAPArealizou-se, em 1979, um trabalho visando deter-minar o melhor método de plantio para a:região. Foram testados desmatamentosmanual e mecânico, com ou sem aração egradagem, ambos combinados com plan-tio em covas, cobrindo-se ou não as se-mentes, e com semeio a lanço.

Observou-se que o rllétodo com des-matamento manual + aração e gradagem+ semeadura em cova aberta apresentouno período chuvoso, 3 meses após oplantio, uma produtividade àe 3.120kg/ha, representando um aumento de32% em relação ao segundo melhormétodo (desmatamento manual + araçãoe gradagem + semeadura a lanço), queproduziu 2.106 kg/ha, e de 39% sobre oterceiro (desmatamento manual + araçãoe gradagem + semeadura em cova fecha-da), que produziu 1.916 kg/ha (VerTabela 2).

Não é apenas o método de plantio queinflui na formação de uma pastagem decapim Buffel e na manutenção de sua)rodutividade, como acentua o pesqui-

sador Martiniano Oliveira, na CircularTécnica ne;> 5, "O Capim Buffel nasregiões secas do Nordeste" (CPATSA,junhó, 1981). Por isso,toma-se, necessáriaa continuidade das pesquisas nesse cam-po, a fim de serem identificadas as intera-ções dos diversos fatores que influem nocomportamento do Buffel.

E A CAATINGA?

A viabilidade do capim Buffel para apecuária nordestina não deve transformar-se num canto de sereia,a ponto de sugeriro desmatamento indiscriminado de áreasde caatinga para a formação e pastagem.Isto, certamente, causaria um problemabem mais grave, no futuro, do que mes-mo a escassez de pastagens para os reba-nhos, devido ao inevitável desequihbrioecológico. Além disso a pastagem nativapossui espécies de expressivo valor nutri-tivo, ainda não phmamente aproveitadaspor falta de maiores informações sobreo assunto.

No CPATSA, vários estudos estão sen-do realizados no sentido de identificar eavaliar espécies nativas forrageiras, com oobjetivo de possibilitar um manejo inte-grado das pastagens nativas e cultivadas,em bases conservacionistas. Tal manejo,na certa, contribuirá para o desenvolvi-mento da pecuária, evitando, ao mesmotempo, a degradação da vegetação nativanordestina.

TABELA2 - Produtividade do capim Buffel (kglha de matéria seca) sob diferentesmétodos de estabelecimentoa.

-a Estes dados são de um único corte realizado um ano após o plantio.

Observa-sena Tabela 2 que o método nl? 1 (df'smatamento manual + aração egradagem + semeadura e cova aberta) apresentou uma produtividade de 3.120 kglha,representando um aumento de 32% em relação ao ptétodo nl?2 (desmatamento manual+ aração e gradagem + semeadura a Lanço) que produziu 2.106 kglha e 39% sobre ométodo nl?3 (desmatamento manual + aração e gradagem+ semeadura em cova fechada)que produziu 1.916 kglha.

PLANTANDO, DA...

Cebo.la, feijão., to.mate, uva, melão.,melancitz, milha... O Vale do. São. Franeis-co. pro.duz tudo. isto. e tem po.tencitzl paraa explo.ração. de diversas o.utro.spro.duto.s.Aspargo., par exemplo.. Resultadas de pes-quisas inicitzdas em 1979, pelo. CPA TSA,indicam que a região.po.de pro.duzir aspar-go., inclusive para expo.rtação., co.m umapro.dutividade de 10 a 15 to.neladas/hecta-re/ano., cerca de 10 vezes mais do. que amédia o.btida na região. de Pelo.tas-RS -atualmente responsável par to.da a pro.du-ção. brasileira. Além disso., no. Vale, é Po.s~s(vel efetuar-se a primeira co.lheita ao.s10meses após o. plantio., quando. no. sul do.país isto. só o.co.rreao.sdo.is ano.s.

Segundo. o. pesquisado.r Jo.ão. Jo.sé deOliveira, o. clima quente do. No.rdeste éum das fato.res principais para o. sucesso.dessa cultura na região..

Atualmente, as custos de implantação.de um hectare de aspargo.estão. estimadasem Cr$ 250 mil, afo.ra o.equipamento. deirrigação.. Cama as custos, após o.primei-ro.ano., são.apenas co.m manutenção. - emto.mo. de Cr$ 60 mil -, o. investimento.po.derá ser co.berto.a curto. prazo., uma vezque esses custas diluem-se mais ainda,pais a cultura do. aspargo. permanece pro-dutiva por um lo.ngo.perío.do. (em Pelo.taschega a 20 ano.s).

O Brasil expo.rta 90% de sua pro.dução.de aspargo., que é de apenas 4 mil to.nela-das, apro.ximadamente, vo.lume pequeno.em relação. a Fo.rmo.sa, que atinge a 150mil to.neladas anuais. Mas, o. mercado. ex-terna, especitzlmente o. euro.peu, o.ferecebo.as perspectivas, uma vez que o.produto.brasileiro. tem bo.a aceitação., par ter umpadrão. de qualidade superio.r ao. chinês.

* * *PRAGAS E DOENÇAS

o CPATSA promoveu, de 14 a 19 desetembro, em Petrolina-PE,o Curso sobreControle de Pragas e Doenças. dasprincipaisculturas do Trópico Semi-Arido,do qual participaram técnicos das EMA-TER's de todo o Nordeste e da ASTER--Roraima, do Projeto Sertanejo, da Code-vasf, Ministério da Agricultura e Serviçode Produção de Sementes Básicas, numtotal de 40 participantes.

O curso foi ministrado pelos pesquisa-dores Gilberto Moraes (Entomologia),Jaime Maia (Nematologia) e MenhazChoudhury (Fitopatologia), todos doCPATSA, além dos professores FranciscoMariconi, do Departamento de Zoologiada Escola Superior de Agricultura Luiz deQueiroz-ESALQ, de São Paulo, SantinGravena, da Faculdade de Ciências Agrá-rias e Veterinárias de Jaboticabal-SP, eTadashi Yamashiro, do Instituto Biológi-co de S. Paulo.

A capacitação de técnicos da ExtensãoRural e de diferentes instituições ligadasao setor agrícola nordestino é, também,uma das preocupações do CPATSA, quevem promovendo freqüentes eventos paratransmitir infonnaçõcs ~ásicas e resul-tados de pesquisa, passíveis de utilizaçãopelos produtores rurais.

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Método de Aração Produti-Desmatamento e SemeaduraEstabe- Gradagem vidade

lecimento Cova CovaLanço

kglhaManual Mecânico Sim Não Aberta Fechada

1 x x x 3.1202 x x x 2.1063 x x x 1.9164 x x x 1.5545 x x x 1.3866 x x x 1.2837 x x x 3448 x x x 3179 x x x 260

l{) x x x' 23011 x x x 22812 x x x 169

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ARIDEZ MENTAL: problema

Mais grave que a aridez das te"os é a

aridez das mentes (em todos os níveis).Naquelas, a falta de um manejo

adequado e o desres~ito à harmoniados fatores ambientais podem dejlagrar

um processo de desertijicação capazde exaurir sua fertilidade natural

e tomar impossível a vida organizada

dos vegetais e animais. Nestas, a poucasensibilidade e a falta de vontade,

de conhecimento, de consciênciil, de

de decisão de educação..., podemdesencadear um processo de alienação

capaz de fazer abortar idéiils de progressoe de levar o homem a permanecer num

caminhar estéril para o nada.Por mais férteis que sejam as terras,mentes estéreis jamais conseguirão

dinamizar a exploração racionaldo seu potenciill.

Muitos, leigos e técnicos, já afir-maram que o Nordeste é inviávelpor suacondição de semi-aridez.Quantos desses,todavia, ousariam afirmar serem inviáveis55% das terras do Globo? Sim, porque.considerando-se somente a precipitaçãopluviométrica, 55% da área continental(79.750.000 Km2) do Planeta são cons-tituídos de zonas áridase semi-áridas.

Há, ainda, os que, precipitaáamente,analisam a semi-aridez do Nordeste semuma reflexão mais profunda sobre oscasos de outros países que, inclusive,estudam o problema há muito maistempo que nós. Além do fato da semi-aridez não ser exclusividadedo Nordestedo Brasil, esse fenômeno ocorre, emoutras regiões do mundo,' não só deforma mais drástica mas, também, emáreas mais extensas do que aqui.

Na superficialidade de seus ques-tionamentos, os que dessa forma seposicionam conseguem apenas revelar afragilidade de seusconhecimentos sobre aaridez no Nordeste e no Mundo. Desco-nhecem, por exemplo, uma análise maissintétic.a sobre a região semi-árida doNordeste brasileiro, que, segundo Guima-rães Duque no seu "Curso sobre Semi-Aridez e Lavouras Xeróf1las", apresentacondições físicas, climáticas e sociais"suigeneris" não enquadráveis nas classifica-ções dos padrões ecológicos de outrasregiõessecasou semi-áridasda Terra.

"Situado na Zona Tropical, com tem-peratura do ar variando entre limitesestreitos, coberto com uma atmosfera deuma camada de ar seco de 3.000 metrosde altura, com 2.800 horas de luz solarpor ano, com chuvas irregulares e va-riáveis no tempo e espaço, com os solosde formação granítica - gneisseca esedimentar - ondulados, sem gran-des planícies, com vegetação da caatingaformando a floresta seca e rica de espéciesvegetais, o Nordeste não tem similar nomundo árido onde predominam osdesertos, o frio à noite, a escassez devegetação e o nomadismo da população."

Ainda existem os que, influenciadospor uma formação acadêmica calcada emconceitos e experiências de regiõestemperadas, ouveme dizem que o Brasiléum "País Tropical" apenas porque 92%do seu território localizam-se entre osTrópicos de Câncer e de Capricómio.Necessitariam, porém, considerar que, noNordeste, a faixa tropical conjuga-secoma semi-aridezda região, o que lhe conferepeculiaridades suficientes para justificarum tratamento diferenciado em todos

os campos de atividades. EXi~tem,apro-ximadamente, 7.900.000 km de terrastropicais no Brasildas quais 936.993 km2estão no "Polígono das Secas", áreadefinida pela Lein? 1.348, de 10.02.1951,e que correspondem a cerca de 59% daárea do' Nordeste. Essa substancial faixade terra, portanto, no que diz respeito aoseu setor primário, suscita não o simplesdesenvolvimento de uma agricultura tro-pical mas sim o desenvolvimento de umaagricultura tropical semi-árida.

,Sabe-se que um dos fatores maislimitantes da ocupação das regiõesáridas e semi-áridas em todas as partesdo mundo é a água, senão o maior deles.Nos dizeres do mestre da ecologianordes-tina, Vasconcelos Sobrinho, "a vidagerou-se na água e existe na dependênciada água por tal forma que toda estruturaviva é um depósito de água no qual se di-luem substâncias minerais e orgânicasem graus diversos de concentração."Muitos há que, considerando isolada-mente essa importância indiscutível dorecurso água e pensando que a expressão"Polígono das Secas" traduz uma homo-geneidade do quadro físico da região,imputam à escassez do precioso líquidoa responsabilidade do atraso do de-senvolvimento agrícola do Nordeste Se-mi-Árido. Essa visão unilateral de pro-blema tão complexo revela a ignorânciade que, com a disponibilidade do ins-trumental científico atual, a água, osrecursos naturais n[o s[o mais, obrigato-riamente, os fatores decisivos do desen-

maior

José de Souza Silva

volvimento econômico, como aconteceunos séculos passados. Estudos de solos,flora e observações meteorológicas doNordeste indicam que esta parte do Brasiln[o é uniforme nas suas condições físicas;há diferenciações em grupos de f.1unicí-pios que formam ambientes ecológicoscom suas nuanças acentuadas.

A idéia de um Nordeste igualmentesemi-árido n[o resiste, pois, a examesmais criteriosos e muitos erros foramcometidos em nome da aridez generali-zada como o da "solução hidráulica" queruiu porque a águanão é o fator limitantedo progresso geral de uma região. Gui-mar[es Duquejá argumentava, questionan-do "por que o Ceará semi-seco é maisdesenvolvido do que o Maranhão chuvo-so? Por que a Islândia, com maior área,mais recursosnaturais, melhor clima, etc.,tem renda per capita inferior à Dinamar-ca, de clima gelado, solos pobres, emenos recursos naturais? Por que naFrança com mesmo clima, leis, governo,mesma gente, a Bretanha com menosrecursos naturais ultrapassa, em produti-vidade per capita, a Gasconha?" Osubdesenvolvimento é um fenômenouniversal. Ele existe entre continentes,Europa versus África: entre países domesmo continente, Brasil versus Para-guai; entre regiões do mesmo país,Centro-Sul do Brasil versus Nordes-te do Brasil.

Na atualidade, o fator poderoso quepode impulsionar o progresso é a vontadedo povo, de trabalhar, de melhorar, devencer os obstáculos, de triunfar sobrelimitações; é a decisão de aprender mais,de renovar conhecimentos, de cooperar,de poupar para formar capital; é a cons-ciência de empregar bem os investimen-tos, de zelar pelos interesses coletivos; é,sobjetudo, a educação da massa, paramelhorar constantemente, mantendo-abem informada s2pre os processos eavanços tecnológicos através de umaequipe numerosa, sensibilizada e bemqualificada, de extensionistas, pesquisa-dores e outros técnicos, pois o homemignorante é perdulário do tempo, dinheiroe esforços. O progresso,na verdade, exige,dos homens, atitudes de progresso.

SQbre a seca no Nordeste, ocorreum fato particularmente interessante: n[osão poucos os que se surpreendem comsua chegada e que pensam, comentam,planejam ou agem sobre ela como se fosseum fenômeno extraordinário. Conside-rando toda a região Nordeste, a secaocorre de forma localizada ou generaliza-da e, na verdade, somente dois em cadadez anos, aproximadamente, são total-

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mente regulares para a agricultura. Ogeógrafo Manoel Correia de Andrade daUniversidade Federal de Pernasnbucoexplica que a variação das taxas pluvio-r.nétricas e de distribuição das chuvas,mais ou menos concentradas em deter-minados períodos, é conseqüência tantoda ação das massas de ar, responsãveispela umidade e pelas precipitações - aEquatorial Continental, formada ao Nortedo Equador, e a Tropical Atlântica,originãria do Atlântico Sul, assim comoda progressão para o Norte, da MassaPo-lar Antártica - como também das condi-ções topográficas e geográficas.O mestreGuimarães Duque, ainda-no seu "Cursosobre Semi-Arideze Lavouras Xeróftlas",esclarece que: "se o verão de janeiro amarço apresentar intensas.,.e contínuas"passagens" da "Frente Polar" no Sul doBrasil, as mudanças atmosféricas serão,também, contínuas no Nordeste, cominundações graves (como sucedeu em1924, 1947, por exemplo), e isso será ti-do como um "bom inverno"; se, por ou-tro lado, o verão for muito quente noSul do Brasil, com reduzidos e rarosavanços da "Frente Polar", a "Frente- Tropical" permanecerá retida no Atlânti-co Norte, trazendo ao Nordeste forteseca (como sucedeu em 1877, 1915,1932, por exemplo), e isso será tido co-mo um "mau inverno". "Duquevai maisalém, delineando como realizar um prog-nóstico de tais fenômenos, que se resumeem prever com antecedência de três a seismeses a "Pressão nos Açores" (o métodofoi desenvolvido por Adalberon Serra e écitado por Otomar de Carvalhono "PlanoIntegrado para o Combate Preventivo aosEfeitos das Secas no Nordeste" como ométodo de previsão que apresenta maiorconsciência científica e maior grau decerteza probabilística). Segundo Serra, "apressão será elevada em janeiro nos Aço-res, trazendo, portanto, seca pàr~ o Nor-dt>ste,quando em julho do ano anteriorforem observadas:

1. Pressões baixas na Groelândia, Islân-dia, Atasca, Havaí, Estados Unidos,(ndia, Somoa, Buenos Aires e IlhasArcadas.

2. Pressões altas em Zanzibar, Port Dar-win e CapetoWIl.

3. Temperaturas baixas na Groelândia eno Japão.

4. Temperaturds altas no Havaí, :fudia,Dacar, Somoa e Santa Helena."

Quando ocorrer o oposto, o ano seráde boas chuvas, acrescenta Duque e justi-fica: "nos anos de secas, a Frente Tropicalpermanece no Atlântico Norte que assimapresentará, de janeiro a março, um qua-dro "isobãrico" idêntico ao normalmenteverificado em julho, portanto com eleva-da pressão nos Açores, dominados por"anticiclone quente" bastante intenso; jános anos de grandes chuvas no Nordeste,as freqüentes invasõesde ar frio no Sul doBrasil, acompanhadas de outras nos Esta-dos Unidos, destroem aquele "anticiclonequente",. trazendo aos Açores pressõesmuitos baixas."

Não há dúvidas, pois, que a seca é umfenômeno normal no Nordeste e, comotal, não pode ser combatido, restando-nos

estudá-lo e compreendê-lo em sua essên-cia para, definitivamente, encontrarmosfonnas locais consoantes com suas pecu-liaridades, para uma convivência racionalonde os mais gravesdos seus efeitos sejamneutralizados ou reduzidos nas suas con-seqüências.

A respeito de muitos ~os efeitos da se-ca - a falta d'água para o consumo huma-no, animal e vegetal e a escassez de ali-mentos e pastagem, para a família e o re-banho, respectivamente, por exemplo -há quem se posicione afirmando serempraticamente inevitáveis, de difícil solu-ção e, por isso, ou se acomodam ou bU$-cam sofisticadas técnicas alienígenas parao mister. Deixam, pois, de observar oóbvio: as soluções já adotadas por al-guns produtores, umas. mais recentesmas, algumas de existência secular, co-mo as cisternas que coletam a água dechuva dos telhados das casas. Não obri-gatoriamente aquelas de alvenaria, lu-xuosas, sugeridas, em 1877, numa dasmemoráveis sessões do Instituto Poli-técnico do Rio de Janeiro, conformeEuclides da Cunha registra em seu "OsSertões", mas de um tipo sempre ade-quado à situação da faml1ia e da pro-priedade. Poderia, até mesmo, ser do ti-po mais rústico como o das que encontrao tenente holandes Jugens Reijbach, no

Sendo a seca um fenômeno natural,

resta-nos estudá-Io e compreendê-lo em

sua essência, para encontrannos

fonnas de conviver com ele e

neutralizar os seus mais graves efeitos.

dia 18 de março de 1645, e que, confor-me o alagoano Adalberto Cavalcanti linsem seu "O Tigre dos Palmares", assimestá registrado no "diãrio de viagem":"no dia 18, homens do tenente Reijbachencontraram o "velho" Palmares aban-donado pelos negros, havia três anos(1642), por insalubre. Este Palmares ti-nha meia milha de comprido e duas por-tas: a rua era da largura de uma braça,havendo no centro duas cisternas..."

Na verdade,"os que conhecem de fatomuitas propriedades situadas nas regiõessecas de diferentes estados do Nordeste jáobservaram algumas atividades sendo su-cesso isoladamente mas sem, com isto,promover o progresso da propriedade co-mo um todo. Numa propriedade, há umacisterna captando água do telhadó da casae assegurando o consumo familiar, mas oaçude, apesar de muita água espalhada,seca nos anos de estiagens prolongadas,deixando de saciar o rebanho; noutra fa-zenda, há um pequeno ou médio açudecom um "caixão" bastante amplo e pro-fundo que nunca secou porque, nos dize-res do produtor, ali, a maior parte da águaestá "escondida do sol", mas não temuma cisterna para oferecer água potávelpara a família; noutro imóvel, há uma re-serva de palma forrageira ou tem capimBuffel que sustenta o rebanho na época

"I

da escassez de pastagem nativa, mas nãotem alimento suficiente para a famíliaporque o agricultor nlo explora ou nlo 1sabe explorar convenientemente a vazan-te do seu açude; noutra propriedade, háquantidade razoável, e às vezes abundan-te, de alimento para a família, provenien-te da exploraçlo adequada da vazante doaçude ou rio, mas nlo há uma reserva ali-mentar para o rebanho e o produtor obri-ga-se a vender barato parte do gado ou acomprar ração concentrada ou palma for-rageira, que na época de escassezdas pas-tagens alcança preços astronômicos. Uma 'anãlise simples, restrita apenas a estespoucos exemplos (existem inúmeros), ésuficiente para suscitar estes questiona-mentos, entre tantos outros:

. ~)

1. Por que os produtores !1ão conse-'guem reunir, na mesma fazenda, es-tas e outras práticas que já são su-cesso noutras propriedades, mesmo,~na época da seca? }

2. O que impedeamuitos,planejadores'e executores, contemplarem a inte-":'gração destas e de outras atividades;nas açõesde intervençãoparao meio_11

rural, quando a finalidade for a for-imação de uma infra-estruturade re-~

sistência aos efeitos da seca?

3. Se já existem algumas soluções, nãoestariam faltando, para integrá-Ias eimplementá-las, algumas decisões en-tre os Produtores, Extensionistas,Pesquisadores, Autoridades, lideran-ças?

Ressalve-se que a Empresa Brasileirade Assistência Técnica e Extensão Rural(EMBRATER)já promoveu, em Patos-PBde 06 a 10.07.81, uma Reunião Técnicapara definição de sistemas e estratégiasde exploração de pequenas e médias pro-priedades da região semi-ãridacom a par-ticipação de pesquisadores,extensionistase produtores, bancos oficiais(BNBe BB),Universidades (CE e PB), DNOCSe PRO-JETO ~ERTANEJO, na qual o CPATSA--EMBRAPAesteve presente e considerou,a iniciativa e seus resultados, extrema-mente importantes para subsidiar o "en-foque sistêmico" que deve ser adotadoem quaisquer ações dirigidas para asunidades de }?rodução localizadas noTrópico Serni-Arido. Espera-se, apenas,que, ao contrário do que já ocorreu nopassado com outras iniciativas, os resul-tados de tão expressiva reunião recebamo apoio interinstitucional, político e fi-nanceiro necessários para sua implemen-tação, a nível de planejamento e de exe-cução.

Nesta análise, que nunca conseguiriaser acabada, uma conclusão está delineadaem toda sua extensão: no Brasil, muitossabem um pouco sobre a aridez do Nor-deste e de outras regiões do mundo, mas,poucos sabem muito a respeito das nuan-ças que o fenômeno assume nos diferen-tes pontos de sua ocorrência. E, infeliz-mente, esse conhecimento, particular-mente no que tange ao Nordeste brasilei-ro, representa um dos dentes ausentesna engrenagem do nosso desenvolvimen-to. Até quando? A que preço?

o agrIJnomoJosé de Souza Silva é Coordena-dor de Difusão de Tecnologia do CPATSA.

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Page 12: Publicação do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico ... · Vinculada ao Mininério da Agricultura Após cinco anos de atuação, o CP ATSA já apresenta resultados ... através

Agricultura de Vazante

NOVA TECNICA MUL TIPLlCA PRODUTIVIDADE

A exploração agrícola de vazantes não. é apenasuma das alternativasmais seguras

.' para a prqdução de alimentos no Nordes-Lte Semi-Arido. É, também, "um modelo;' agronômico tipicamente nordestino': na" expressão do agrônomo Paulo Guerra. Es-",se modelo consiste na utilização dos solos

potencialmente agricult'aveis, que foram,cobertos pelas águas dos açudes, rios e~ilagos, durante a época das chuvas. Nessas: vazantes são cultivados, geralmente, fei-"jão, milho, arroz e batata-doce,principal-'mente por pequenos e médios agriculto-ores.

~ No entanto, tal exploração,como feitatradicionalmente, apresenta sérias /imita-ções. Ainda hoje, faz-se o plantio elll co-vas abertas diretamente no solo, quando oteor de umidade está próximo da satura-ção, ou mesmo completamente encharca-do. Isto prejudica sensivelmente o desen-volvimento das plantas, concorrendo parao registro de produtividades muito infe-riores às que podem ser obtidas nessasáreas.

Mas, já existe wna técnica simples quesupera as limitações atuais, possibilitandosignificativos aumentos de produtividadedas lavouras. Foi desenvolvida peloCPATSA e consiste no cultivo em sistemade sulcos e camalhões, em curvas de nível.

VANTAGENS

As vantagens dessa técnica são muitoexpressivas:os camalhões, pelo seu efeitodrenante, propiciam maior aeraçã'o dossolos, permitindo o pleno desenvolvimen-to de plantas susceptíveis ao encharca-mento e minimizando a reduçã'o da pro-duçã'o, em casos de baixa fertilidade dosolo; os sulcos, por estarem em curvasde nível, possibilitam a aplicaçã'ode irri-gações suplementares nos camalhõesmais distanciados, quando a umidadedo solo diminui excessivamente, bastan-do, para tanto, o uso de um pequenoconjunto motobomba.

No experimento conduzido pelo CPA-TSA epl um açude particular, situado àmargem esquerda da BR 116 (Petrolina--Pe/Lagoa Grande-Pe), km 17, evidenci-ou-se a grande superioridade da novatécnica em relaçã'o à tradicional: foramcolhidas 16,08 t/ha de batata-doce contra5,50 t/ha obtidas com a técnica tradicio-nal, representando um aumento relativode produçã'o de 1920/0;na cultura do mi-lho, a produtividade alcançou 4.65 t/ha,92% a mais do que a conseguidano siste-ma do produtor, que foi de 2.42 t/ha.

A vazante onde se executou o trabalhoera nova - o açude fora construído há

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apenas 2 anos - e a fertilidade do solo foiconsiderada baixa. Por isso, fez-seneces-sária uma adubaçã'o básica: aplicou-se afórmula recomendada para a regi[o (60kg de N/ha, 60 kg de P20s/ha e'30 kg deK20/ha, na forma de sulfato de amônio,superfosfato simples e cloreto de potás-sio, respectivamente). No entanto, resul-tados obtidos posteriormente demons-traram que culturas como milho, feij[o esorgo geralmente não respondem àaplicaçã'o de potássio no Trópico Semi--Arido. Assim, está se recomendando quea adubaçã'o para áreas de vazante sejabaseada na análise química do solo.

"OVO DE COLOMBO"

Atualmente, o Serviço de Extensã'oRural já está difundindo essa técnica emtodo o Nordeste. E n[o sã'o apenas osdados de produçã'o fornecidos pela pes-quisa que têm despertado a atenção dosprodutores: um aspecto decisivo para aadoção da técnica é a simplicidade. Porexemplo, para o traçado dos sulcos ecamalhões em curvas de nível sã'odispen-sáveis, até, os instrumentos tradicionaisutilizados para este fim. Nada mais ele-mentar: parte-se da premissa de que onível das águas paradas é o mais exatoque existe: Este é o ponto de referênciafundamental. Colocam-se piquetes espa-çados de. 10m entre si, aproximadamen-te, na linha de água que limita a área secacom a bacia hidráulica.Alinha de piquetesestá em curva de nivel, depOIsque a águaarmazenada diminui. Os sulcos sã'oaber-tos a enxada, segúindo a linha de pique-tes; o primeiro sulco serve de linha básicaa abertura dos demais, paralelos ao inicial.

Cmn os sulcos em curvas de nível tor-na-se muito fácil a aplicação de irrigaçõessuplementares, utilizando a água do pró-prio reservatório (açude, rio ou lago).Contudo, isto somente é feito quando oscamalhões mais afastados da bacia hidráu-lica começam a perder a umidade sufici-ente para o desenvolvimento normal dasculturas.

O requerimento dágua geralmente émuito pequeno e o custo com equipa-mentos para aplicação das irrigações,tam-bém. Por exemplo, no trabalho realizadopelo CPATSA foram feitas apenas duasirrigações na cultura da batata-doce (a domilho nã'o necessitou), sendo bastanteuma lâmina de 40mm em cada vez. Usou-se um pequeno conjunto motobomba de3,5 HP e a água ecoou facilmente até umadistância de 200 metros ao longo dos sul-cos, o que ratificou a importância destesestarem em curvas de nível.

Piquetes colocados na linha d'água...

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facilitam confeccionar sulcos e camalhõesam curvasde nlvel...

... para irrigações suplementares.

POTENCIALSUBAPROVEITADO

Há, no Nordeste, cerca de 150.000hectares propícios à exploraçã'o de vazan-tes, computando-se os aproximadamente100 mil açudes, públicos e privados exis-tentes no Nurdeste. Mas este potencial es-tá subaproveitado, desperdiçando-se exce-lentes áreas para a produção de alimentos,a baixos custos.

Tarclzio Oliveira e Jo[o Batista Silva,do Departamento de Difusão de Tecnolo-gia da EMBRAPA, fizeram a seguinte aná-lise sobre o assunto:

"Tomando-se por base uma média de2 ha por faml1ia, sendo 1 ha exploradocom milho e outro com feijão, e conside-rando-se a área potencial de 150.000 hapara a exploraçã'o de vazantes, utilizan-do-se essa técnica, a produção potencialseria da ordem de 300 mil toneladas demilho e 112,5 mil toneladas de feij[o,com significativos incrementos na rendabruta dos produtores".