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i Universidade de Aveiro 2019 Departamento de Línguas e Culturas Qi Zang Polissemia no Português L2: o caso dos aprendentes chineses

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Universidade de Aveiro

2019 Departamento de Línguas e Culturas

Qi

Zang

Polissemia no Português L2: o caso dos aprendentes

chineses

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Universidade de Aveiro

2019 Departamento de Línguas e Culturas

Qi

Zang

Polissemia no Português L2: o caso dos aprendentes

chineses

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos

requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Português Língua

Estrangeira/Língua Segunda, realizada sob a orientação científica da Doutora

Sara Pita, Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Letras da

Universidade de Coimbra.

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Aos meus pais, pelo apoio incondicional

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o júri

Presidente: Doutor Carlos Manuel Ferreira Morais

Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro

Doutora Sara Micaela Pereira Carvalho Professora Adjunta da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda - Universidade de

Aveiro (arguente)

Doutora Sara Topete de Oliveira Pita Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

(orientadora)

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agradecimentos

Agradeço sinceramente à Professora Doutora Sara Pita, orientadora da

dissertação, pela orientação cuidadosa, pela sua paciência e compreensão.

Ao Professor André Santos, pela sua ajuda a recolher os dados dos alunos

chineses da unidade curricular de História da Europa do DLC da UA.

À Professora Doutora Rosa Lídia Coimbra, pela sua ajuda a recolher os dados

dos alunos chineses da unidade curricular de Gramática e Comunicação II do

DLC da UA.

Aos meus amigos, pela sua amizade e apoio ao longo do tempo.

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palavras-chave

Palavras polissémicas, aprendizagem de PLE, aprendentes chineses

resumo

Com o desenvolvimento da globalização, a China e os países lusófonos

têm cada vez mais contactos e comunicações ao nível de cultura, política,

turismo, economia e especialmente de comércio. Considerando que

muitos alunos chineses pretendem ter a Língua Portuguesa como

instrumento de trabalho, nomeadamente como tradutores, é crucial que

possuam um conhecimento alargado da carga semântica das palavras.

Nesse sentido, foram realizados alguns testes para verificar o domínio de

algumas palavras polissémicas e entender os motivos para as dificuldades

sentidas, de modo a apresentar ideias para as solucionar em contexto de

sala de aula. Os dados da investigação conduzida com alunos chineses que

frequentam a Universidade de Aveiro mostram que uma grande parte dos

alunos chineses que aprendem Português como Língua 2.ª (PL2) têm

dificuldades na compreensão das palavras polissémicas em casos

específicos. Além disso, desconhecem os significados das palavras

polissémicas de uso menos comum ou de baixa referência e revelam

problemas para expressar com precisão os significados solicitados em

português. Mediante os resultados, sugere-se conhecer a cultura

portuguesa, formar um pensamento português, alterar a atitude passiva

da aprendizagem e procurar métodos adequados e eficazes para melhorar

o português.

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keywords

Polysemic words, learning of PLE, Chinese learners

abstract

As the development of globalization, China and the Portuguese-speaking

countries have more and more contacts and communications at the areas of

culture, politics, tourism, economy, especially trade. Considering that many

Chinese students intend to have Portuguese as their working language, in

particular, those want to be a translator, it is critical that they have a thorough

understanding of the semantic knowledge of words. In this sense, it is important

to make some tests to verify the mastery of some polysemic words, to

understand the motivations for the difficulties they are having and to present

some ideas to solve them in the classroom context. The research data from

Chinese students attending University of Aveiro show that a large proportion of

Chinese students learning Portuguese as Second Language (PL2) have

difficulties in understanding polysemic words in specific cases, and their main

difficulties are unaware of the meanings of polysemic words of less common or

low reference use and lack of ability to accurately express the meanings

requested in Portuguese. Conforming the analysis of the results the author

provides some solutions of the problems. Through the results, it is suggested to

know the Portuguese culture, to form a Portuguese thought, to change the

passive attitude of learning, and to seek adequate and effective methods to

improve Portuguese.

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Índice

Introdução .................................................................................................................... 1

Capítulo I. Enquadramento Teórico .......................................................................... 3

1.1 Linguística Cognitiva ........................................................................................ 3

1.2 Metáfora e metonímia ....................................................................................... 5

1.3 Polissemia e homonímia ................................................................................... 8

Capítulo II. Metodologia ........................................................................................... 11

2.1. Seleção da amostra ......................................................................................... 11

2.2. Composição da amostra ................................................................................. 12

2.3. Construção do inquérito ................................................................................. 13

2.4. Distribuição do inquérito ............................................................................... 14

2.5. Tratamento dos dados .................................................................................... 15

Capítulo III. Análise dos inquéritos ......................................................................... 17

3.1 Perfil dos alunos inquiridos ............................................................................ 17

3.1.1 Distribuição dos alunos de cada grupo por idade, sexo e nacionalidade

........................................................................................................................ 17

3.1.2 Línguas .................................................................................................. 18

3.1.3 Aprendizagem da língua ....................................................................... 19

3.2 Análise dos exercícios do inquérito ................................................................ 25

3.2.1 Análise do exercício I ............................................................................ 25

3.2.1.1 Análise dos resultados da palavra “nota” .................................... 25

3.2.1.2 Análise dos resultados da palavra “cartão” ................................. 26

3.2.1.3 Análise dos resultados da palavra “doce” ................................... 27

3.2.1.4 Análise dos resultados da palavra “deixar” ................................. 27

3.2.1.5 Análise dos resultados da palavra “terminar” ............................. 28

3.2.2 Análise do exercício II .......................................................................... 29

3.2.2.1 Análise dos resultados da palavra “casa” .................................... 29

3.2.2.2 Análise dos resultados da palavra “banco” ................................. 30

3.2.2.3 Análise dos resultados da palavra “chave” ................................. 31

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3.2.2.4 Análise dos resultados da palavra “ver” ...................................... 32

3.2.2.5 Análise dos resultados da palavra “abandonar” .......................... 32

3.2.3 Análise do exercício III ......................................................................... 33

3.2.3.1 Análise dos resultados de exercícios ........................................... 33

3.2.3.2 Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III . 37

3.2.4 Reflexões preliminares.......................................................................... 39

Capítulo IV. Conclusão das Análises ........................................................................ 41

4.1 Análise dos erros comuns................................................................................ 41

4.2 Problemas e resoluções ................................................................................... 45

Conclusão .................................................................................................................... 51

Bibliografia ................................................................................................................. 53

Anexos ......................................................................................................................... 57

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Índice de gráficos

Gráfico 1 - Distribuição dos inquiridos por faixa etária .............................................. 17

Gráfico 2 - Distribuição dos inquiridos por sexo ......................................................... 18

Gráfico 3 - Distribuição dos inquiridos por língua que usa mais na vida quotidiana .. 19

Gráfico 4 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por tempo do estudo de português

...................................................................................................................................... 20

Gráfico 5 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por permanência em Portugal .... 20

Gráfico 6 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por tempo do estudo de português

...................................................................................................................................... 21

Gráfico 7 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por permanência em Portugal .... 21

Gráfico 8 - Distribuição dos inquiridos por nível de proficiência da língua ............... 22

Gráfico 9 - Distribuição dos inquiridos por profissão a seguir .................................... 23

Gráfico 10 - Distribuição dos inquiridos por métodos utilizados para aprender novas

palavras ........................................................................................................................ 24

Gráfico 11 - Distribuição dos inquiridos por dificuldade em compreender palavras

polissémicas ................................................................................................................. 24

Gráfico 12 - Resultados do exercício I. 1. Nota ........................................................... 26

Gráfico 13 - resultados do exercício I. 2. Cartão ......................................................... 26

Gráfico 14 - Resultados do exercício I. 3. Doce .......................................................... 27

Gráfico 15 - Resultados do exercício I. 4. Deixar........................................................ 28

Gráfico 16 - Resultados do exercício I. 5. Terminar .................................................... 29

Gráfico 17 - Resultados do exercício II. Casa ............................................................. 30

Gráfico 18 - Resultados do exercício II. Banco ........................................................... 31

Gráfico 19 - Resultados do exercício II. Chave ........................................................... 31

Gráfico 20 - Resultados do exercício II. Ver ................................................................ 32

Gráfico 21 - Resultados do exercício II. Abandonar .................................................. 33

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Índice de tabelas

Tabela 1 - Representação gráfica dps MCIs................................................................... 4

Tabela 2 - Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III ................. 38

Tabela 3 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “nota” ............................... 41

Tabela 4 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “cartão” ............................. 42

Tabela 5 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “doce” ............................... 43

Tabela 6 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “deixar” ............................ 43

Tabela 7 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “terminar” ......................... 43

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Introdução

Com o desenvolvimento da globalização, a China e os países lusófonos têm cada

vez mais contacto ao nível de cultura, política, turismo, economia e especialmente do

comércio, portanto aprender português como língua segunda é uma escolha prudente e

útil. Para a eficácia desta comunicação, dominar as palavras polissémicas portuguesas

é condição essencial.

Os alunos de Português como L2 sentem, por vezes, dificuldades na

compreensão integral das frases, em virtude da existência de palavras polissémicas.

De facto, algumas palavras portuguesas possuem vários significados e nem sempre os

alunos os dominam a todos, o que causa problemas tanto na interpretação como na

produção textual. A polissemia pode, portanto, ser definida como a atribuição de mais

do que um significado a um mesmo determinante (Bechara, 2010, p. 551). Por isso,

possuir um conhecimento alargado da carga semântica das palavras é imprescindível

para os alunos chineses que pretendem ter a Língua Portuguesa como instrumento de

trabalho.

A polissemia tem vindo a ser discutida em alguns trabalhos, como por exemplo a

tese sobre aprendizagem da polissemia por parte de alunos eslavos de Barbeiro (2009),

o estudo de Silva (2003) intitulado “O Poder Cognitivo da Metáfora e da Metonímia”

ou a tese de mestrado sobre verbos Polissémicos de Matos (2006), entre outros.

Porém ainda não existem trabalhos sobre o estudo da polissemia com alunos chineses

de Português como L2. Posto isto, considera-se pertinente desenvolver um estudo

com estudantes chineses.

Com este trabalho de investigação, pretende-se verificar o domínio de algumas

palavras polissémicas por parte de aprendentes chineses; identificar as palavras

polissémicas que geram dificuldades aos alunos chineses; compreender os motivos

para a dificuldade na identificação do sentido da palavra no seu contexto; e, por fim,

esboçar soluções pedagógicas para ultrapassar as dificuldades sentidas. Com este fim

em vista, desenvolver-se-á um teste para aplicação com estudantes chineses a

frequentar a Universidade de Aveiro, de modo a observar as suas dificuldades na

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perceção do significado de algumas palavras em contextos específicos e na aplicação

aquando da produção de textos.

A presente dissertação está dividida em 4 capítulos. No primeiro capítulo,

Enquadramento Teórico, apresenta-se o conceito de polissemia na perspetiva da

Linguística Cognitiva. No segundo capítulo, dá-se conta da metodologia seguida para

a realização do estudo, nomeadamente a seleção e composição da amostra, a

construção do inquérito, a distribuição do mesmo e o processo de tratamento dos

dados. No terceiro capítulo, Análise dos inquéritos, apresentam-se os resultados dos

inquéritos, por meio de gráficos e tabelas para os analisar de forma mais objetiva.

Estes dados consideram-se o fundamento para a identificação dos problemas e das

dificuldades dos alunos chineses de Português como Língua Estrangeira (PLE) nesta

área. No último capítulo, destacam-se os erros comuns nos exercícios, os problemas

sobre a compreensão e expressão das palavras polissémicas e algumas sugestões

destinadas aos alunos chineses de PLE. Neste ponto, far-se-á alusão à diferença

registada nos dados de alunos chineses com tempos de permanência diferentes em

Portugal.

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Capítulo I. Enquadramento Teórico

Neste capítulo apresentam-se alguns conceitos teóricos acerca da Linguística

Cognitiva, destacando-se a importância do estudo da polissemia nesta perspetiva.

Também se introduz o conceito de metáfora e metonímia e a diferença entre

polissemia e homonímia.

1.1 Linguística Cognitiva

Linguística Cognitiva é um estudo recente, que surgiu nos finais da década de 70

e princípios da de 80. De acordo com Silva (1997, p. 59), “Linguística Cognitiva é

uma abordagem da língua perspetivada como meio de conhecimento e em conexão

com a experiência do mundo.” A linguística cognitiva não é uma teoria linguística

única, é um termo geral para uma variedade de teorias linguísticas cognitivas, em

geral, caracterizada pela experiência cultural, social e individual como base do uso da

linguagem. É uma ligação de cognição, conhecimentos e enciclopédia com a língua.

A cognição e a linguagem fundem-se na experiência da realidade. Por um lado, a

cognição precede e determina a linguagem, é a base da linguagem; por outro lado, a

linguagem pode promover o desenvolvimento e o domínio da cognição.

Conhecimento enciclopédico, protótipos, modelos cognitivos e modelos culturais são

partes importantes da linguística cognitiva.

Um Modelo Cognitivo Idealizado (MCI) corresponde aos conhecimentos

armazenados na nossa mente, mais ou menos estáveis; é uma compreensão idealizada

da experiência e do conhecimento de um domínio particular num contexto cultural

específico. A MCI pode ser usada para explicar a universalidade, a representatividade

e algum conteúdo específico, pode variar de pessoa para pessoa, de lugar para lugar,

etc., pode ser conhecida por ambas as partes ou pode ser conhecida na comunicação

atual. Eles podem mudar frequentemente em situações específicas, e podem

constantemente reabastecer, fortalecer, ajustar e até mudar o conhecimento de fundo

das duas partes e a situação atual de comunicação, o que pode ser usado para explicar

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fenómenos específicos com mudanças especiais, por exemplo:

Tabela 1 - Representação gráfica dps MCIs

As duas tabelas de MCI Doença e MCI Guerra mostram que os modelos

cognitivos idealizados são estruturas estáveis, mas não rígidas, podendo ser

modificadas de acordo com o contexto da situação e ligadas a novos domínios, por

exemplo as expressões: ataque fraco, conquistar doença, estratégia de tratamento,

etc.

De acordo com Silva (2004, p.2), a língua é parte integrante da cognição, é

resultado de processos cognitivos, interação social e culturais e deve ser estudada no

seu uso e no contexto da conceptualização, do processamento mental, da interação e

da experiência social e cultural. A categorização é uma das competências cognitivas

fundamentais, a função dela é identificar, classificar e nomear diferentes entidades

como membros de uma mesma categoria; ela depende de determinado conhecimento

da experiência, a qual é formada nas culturas diferentes e nos grupos sociais

diferentes, mas trata-se de um conhecimento individualmente idealizado, isto é, de um

modelo cognitivo. Por isso, a categoria linguística pode variar de acordo com os

respetivos modelos cognitivos e culturais. A categorização linguística processa-se,

geralmente, na base de protótipos, isto é, de exemplares típicos mais representativos.

Os membros de uma categoria possuem diferentes graus de saliência, uns são

prototípicos e outros periféricos, e os limites entre si são frequentemente imprecisos.

O agrupamento dos seus elementos faz-se por similaridades parciais e não por

MCI Doença

dor

disposição

hospital

medicina

sentir-se mal

médicos

palidez

fraco

MCI Guerra

armas

batalhas

vitória

morte

derrota

adversário

estratégia

ataque

conquistar

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propriedades comuns, como por exemplo: a categorização “aves”, inclui pardal,

pinguim, avestruz. Pardal é um membro prototípico, porque tem penas e voa, ao

contrário de pinguim e avestruz que não podem voar e o pinguim não tem penas

percetíveis, etc. (Silva, 1997, pp.65-66). Portanto, estes seriam membros periféricos.

A categorização tem vantagens de flexibilidade, uma vez que permite integrar

novos conceitos como membro mais ou menos periférico e adaptar os que são usados,

e de estabilidade, permitindo interpretar novas experiências através dos protótipos

existentes. Dado que as experiências podem ser abordadas a partir de perspetivas

diferentes mediante a cultura, os modelos culturais são, consequentemente, díspares,

levando à formação de palavras específicas. Porém, os aspetos comuns do ambiente

quotidiano permitem compreender a estrutura semântica em diferentes contextos

culturais.

As palavras polissémicas também têm significados prototípicos e periféricos,

eles são contextualmente construídos, são flexíveis e dinâmicos, ativam o domínio de

conhecimentos armazenados. O léxico tem origem numa compreensão natural de si

mesmo e do espaço (incluindo localização, direção, movimento, etc.), e expande-se

através da imaginação e da metáfora.

1.2 Metáfora e metonímia

As metáforas e metonímias desempenham um papel crucial na formação da

polissemia, pois através delas conceptualizamos domínios abstratos em termos de

domínios concretos e familiares por uma analogia sistemática e coerente, gerando

significados diferentes de uma palavra.

Tradicionalmente, a metáfora tem sido considerada um uso figurativo da

linguagem, isto é, um mecanismo retórico de ornamentação da língua frequentemente

usado na literatura ou na linguagem poética. Contudo, estas formas não são só usadas

na produção literária ou noutras formas de criação linguística, elas também são

empregues quotidianamente, como defendem Lakoff e Johnson (2003, p. 3).

De acordo com Saeed (2009, pp. 361-364), as metáforas apresentam quatro

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características: convencionalidade, sistematicidade, assimetria e abstração.

A primeira característica, convencionalidade, refere-se às palavras que os falantes

utilizam sem terem consciência da sua natureza metafórica, bem como à aceitação de

novas significações ou de novos termos. Analisando-se este último ponto de uma

perspetiva sincrónica, tal significa que se adiciona um novo significado a uma palavra

e, portanto, se está perante um caso de polissemia. Por exemplo, a associação de

“cima” e “baixo” à metáfora dos valores (bom e mau) ou do poder, ou seja, o uso de

expressões como “classe alta/baixa” ou “classificação alta/baixa”.

A segunda característica é a sistematicidade. Quando uma determinada expressão

é utilizada metaforicamente com frequência, há uma associação entre os conceitos

alvo e fonte. Por exemplo, a metáfora “A VIDA É UMA VIAGEM” pode ser utilizada

para fazer referência ao nascimento de uma criança ou aos desafios colocados durante

a vida, isto é, os esquemas cognitivos associados ao conceito de viagem são

transpostos para estas realidades. Num outro exemplo de Lakoff & Johnson(2003, p.

4), “DISCUSSÃO É GUERRA”, aproximam-se dois domínios que têm componentes

comuns: os participantes de uma discussão correspondem aos adversários de uma

guerra. Podemos ver que o processo é semelhante, já que ao domínio concreto, ou seja,

o domínio-origem, da GUERRA, é conceptualizado e, posteriormente, associado e

projetado no domínio abstrato, domínio-alvo, da DISCUSSÃO.

A terceira característica é a assimetria ou, por outras palavras, o seu carácter

unidirecional. De facto, não é possível dizer que “A VIAGEM É UMA VIDA”.

A última característica é a abstração, a qual mostra que a metáfora é um

mecanismo linguístico que liga o domínio concreto ao abstrato. Ainda tomando como

exemplo a metáfora da vida, verifica-se que as experiências reais do quotidiano

(domínio concreto) permitem conceptualizar as categorias abstratas, nomeadamente a

evolução da vida, os obstáculos, etc.

Na perspetiva da Linguística Cognitiva estes exemplos mostram que a metáfora

não só é uma transferência semântica de uma categoria para outra categoria de um

domínio diferente, mas envolve uma analogia sistemática e coerente entre a estrutura

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interna de dois domínios da experiência (Lackoff and Johnsen, 2003,p.13). Na

semântica cognitiva, a metáfora tem um papel importante na criação de palavras

polissémicas.

A metonímia expressa a relação de contiguidade entre duas realidades,

permitindo-nos representar uma entidade através de outra. Este mecanismo pode

retratar a representatividade da parte pelo todo (a), do produtor pelo produto (b), do

objeto pelo utilizador (c), da instituição pela pessoa responsável (d), do recipiente

pelo conteúdo (e), da causa pelo efeito (f).

(a) Não empregamos cabelos compridos.

Há muitas boas cabeças na nossa universidade.

(b) Recebi umas Nike no meu aniversário.

Bebeu Compal no almoço.

(c) O patrão não gosta daquele casaco vermelho

(d) Tem de falar com a faculdade sobre a tua nota.

(e) Depois do trabalho ele gosta de beber copos com amigos.

(f) A cara dela está vermelha.

Em virtude deste mecanismo, também é possível usar algumas características

físicas para representar coisas ou pessoas (velho, gordo, etc.). Trata-se de uma

diferença entre as culturas portuguesa e chinesa que pode provocar alguma estranheza

nos alunos asiáticos. Por exemplo, um aluno chinês que ouve um português a pedir

um “fino” num bar ou restaurante não associa o termo de imediato à bebida, mas sim

à característica física (fino (adj.) – delgado, magro, etc.). Outro exemplo é o uso dos

nomes dos animais para representar carnes diferentes (“vaca”, “porco”, “pato”, etc.).

No entanto, a palavra “cachorro” em português, para além de significar “cão”, usa-se

para nomear um tipo de comida que é feito com pão, salsicha, molhos, etc. Como na

cultura chinesa há algumas regiões que comem a carne de cães, podem surgir

interpretações diferentes por parte dos alunos chineses.

A metonímia ‘produtor pelo produto’ é baseada na experiência, dado que as

pessoas usam marcas de produto ou companhia em vez dos nomes de lugar ou coisas.

Por exemplo, “Pedras” ou “Delta” já não representam os significados originais, mas

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sim um tipo de bebidas com gás e café em Portugal. “Vamos ao Continente” refere-se

ao nome do supermercado, tal como Pingodoce ou Minipreço, palavras que podem

causar confusão.

Em suma, metáfora e metonímia são partes importantes na linguística cognitiva

resultando na produção de palavras polissémicas. Estes dois fenómenos de

conceptualização fundam-se no conhecimento enciclopédico e nas experiências

individuais e culturais que enriquecem os nossos conhecimentos e o nosso

vocabulário.

1.3 Polissemia e homonímia

Um dos problemas que causa dificuldades na compreensão de uma frase é a

existência de palavras ambíguas, tendo a polissemia e a homonímia um papel

importante neste caso.

Ambos os conceitos definem, de forma genérica, dois ou mais termos que têm

significados diferentes, mas formas gráficas e fonéticas idênticas. Na nomenclatura

oficial do português para efeitos escolares, disponível no Dicionário Terminológico,

publicado pela portaria 476, de 18 de abril de 2007 e acessível online em

http://dt.dgidc.min-edu.pt/, no que à polissemia e homonímia diz respeito, podemos

observar as seguintes definições:

Polissemia: Propriedade semântica característica das palavras ou dos

constituintes morfológicos que possuem mais do que um significado.

Exemplos:

a) O verbo "partir" pode significar "ir-se embora" ou "quebrar".

O voo parte às 10h.

O João partiu o vaso.

Homonímia: Relação entre palavras que partilham a mesma grafia e são

pronunciadas da mesma forma, mas que têm significados distintos.

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Exemplos:

a) canto (verbo cantar, presente do indicativo, 1.ª p.s.) e canto (nome

masculino)

Eu canto fado.

Adoro ouvir o canto dos pássaros.

Apesar de a definição destes conceitos ser simples, não é fácil dizer se estamos

perante duas palavras homónimas ou uma palavra polissémica. Este é um dos

problemas mais complexos em lexicografia e em semântica lexical, porque, de facto,

não existe uma rigidez nas palavras destes tipos (Silva. 2006, p.62)

Não obstante esta situação, pode-se distinguir as palavras polissémicas das

homónimas, aplicando os seguintes critérios:

a) etimologia (os homónimos podem ter étimos diferentes):

manga (fruto) do malaiala manga VS manga (parte do vestuário) do lat.

manica.

b) classes gramaticais (os homónimos podem pertencer a diferentes classes

gramaticais de palavras):

nota (nome) VS nota (forma do verbo notar)

c) expressões idiomáticas (distinção entre formas homónimas pode

evidenciar-se por meio do uso de expressões idiomáticas):

lançar os dados VS a cavalo dado não se olha o dente

d) relação semântica (os homónimos podem não possuir nenhum sema em

comum)

renda (quantia em dinheiro que se recebe como retribuição de trabalho ou

capital aplicado) VS renda (tecido delicado cujos fios se entrelaçam e

formam desenhos variados)

e) campos lexicais (os homónimos podem ter campos lexicais diferentes):

língua (boca, garganta…) VS língua (estrangeira, falar, de origem…)

f) famílias de palavras (os homónimos podem ter diferentes palavras):

pastel (pastelão, pastelaria pasteleiro…)

pastel (pastelada, pastelista)

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10

A distinção entre polissemia e homonímia anterior não tem de ser realizada em

contexto de uso efetivo da língua. Pode-se considerar a polissemia como um fator de

motivação, uma vez que estimula o domínio lexical dos falantes.

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11

Capítulo II. Metodologia

No presente capítulo, damos conta da metodologia seguida para a realização do

estudo, relativamente à seleção e composição da amostra, construção e distribuição do

inquérito e tratamento dos dados.

2.1. Seleção da amostra

O objetivo do presente inquérito é verificar as dificuldades da compreensão das

palavras polissémicas por parte de alunos chineses de língua portuguesa como língua

estrangeira. Com este objetivo principal em mente, foi realizado um inquérito a três

grupos de alunos do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro:

o primeiro grupo é composto por alunos chineses que estão a frequentar o 3.º ano da

Licenciatura em Português Língua estrangeira/ Língua segunda (1.º ciclo); o segundo

grupo integra alunos chineses que estão a frequentar o 1.º ano do Mestrado em

Português Língua Estrangeira/ Língua segunda (2.º ciclo); o terceiro grupo é formado

por alunos chineses que estão a frequentar o 2.º ano do mestrado referido

anteriormente. Para facilitar a análise do inquérito, designamos o primeiro grupo por

grupo A, o segundo por grupo B e o terceiro por grupo C.

De acordo com os cursos que os alunos chineses frequentam, podemos observar

que a quantidade das aulas, os conteúdos que eles estudam, a forma de passar os

tempos livres e de aprender palavras novas são diferentes. Estes serão alguns dos

fatores que tentaremos perceber se influenciam os alunos chineses a compreender as

palavras polissémicas.

No ano letivo 2018-2019, existiam duas turmas do 3.º ano de licenciatura, cada

um com cerca de 30 alunos. A autora escolheu uma turma inteira e alguns alunos da

outra turma para fazer os inquéritos. Importa informar que alguns inquéritos foram

excluídos por não estarem completos. Relativamente à turma do 1.º ano de mestrado,

apesar de ser composta por mais de 30 alunos, apenas 28 preencheram os inquéritos.

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12

No que diz respeito ao grupo C, os inquéritos foram enviados através de email pois os

30 alunos já não tinham aulas.

2.2. Composição da amostra

O primeiro grupo (A) é constituído por 30 alunos chineses, 5 estudantes

masculinos e 25 femininos, que estão a frequentar o curso de Frequência de

Disciplinas Isoladas do 3.º ano de licenciatura no Departamento de Línguas e Culturas

da Universidade de Aveiro. Todos são alunos de intercâmbio, que estudam há três

anos português e que ficam em Portugal há um ano. As universidades de origem dos

alunos são: Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan, Universidade de

Estudos Internacionais de Xangai, Universidade de Estudos Internacionais de Jilin,

Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian e Universidade Normal de Harbin.

O segundo grupo (B) é composto por 28 alunos chineses, 3 estudantes

masculinos e 25 estudantes femininos do curso Mestrado em Português Língua

Estrangeira/Língua segunda (2º ciclo) do 1.º ano de mestrado no Departamento de

Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. O período de estudo e de permanência

em Portugal é distribuído da seguinte forma: 5 alunos estudam português há três anos

e ficam em Portugal há um ano; 1 aluno estuda português e fica em Portugal há quatro

anos; 2 alunos estudam português há quatro anos e ficam em Portugal há um ano; 20

alunos estudam português há quatro anos e ficam em Portugal há dois anos. Neste

grupo nem todos são alunos de intercâmbio, e os alunos de intercâmbio também são

de projetos diferentes, ou seja, alguns alunos estudam português durante 2 anos na

China e depois vêm estudar para Portugal por 3 anos como alunos de mobilidade,

como os alunos da Universidade dos Estudos Internacionais de Jilin, da Universidade

das Línguas Estrangeira de Dalian e da Universidade Normal de Harbin, e outros

alunos estudam 3 anos de português na China e depois estudam 2 anos em Portugal,

como os alunos da Universidade dos Estudos Internacionais de Xi an. Há ainda alguns

alunos deste grupo que já concluíram o curso Português como Língua 2.ª nas

Universidades da China e estudam português como estudantes internacionais.

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13

O terceiro grupo (C) é formado por 27 alunos chineses, 5 estudantes masculinos

e 22 estudantes femininos. A maioria dos alunos, concretamente 15, estudam

português há 5 anos e ficam em Portugal há três anos, 2 alunos estudam português há

quatro anos e ficam em Portugal há um ano, 3 alunos estudam português há seis anos

e ficam em Portugal há dois anos, e, por fim, 7 alunos estudam português há cinco

anos e ficam em Portugal há dois anos. Como os alunos do grupo B, este grupo

também é composto por alunos com percursos de estudo diferentes; a diferença é que

nesta turma 2 alunos estudavam português como disciplina opcional quando

frequentavam o curso de licenciatura na China e depois vieram para Portugal a fim de

frequentarem o mestrado. As universidades de origem do grupo C são: Universidade

de Estudos Internacionais de Xi an, Universidade de Estudos Internacionais de Jilin,

Universidade de Línguas Estrangeiras de Dalian, Universidade Normal de Harbin e

Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong.

2.3. Construção do inquérito

A primeira parte do inquérito permite obter uma descrição do público-alvo a

partir da colocação de 10 questões objetivas sobre a idade, o sexo, a nacionalidade, a

língua materna, a língua que usa mais na vida quotidiana, o período de estudo do

português e de permanência em Portugal, o nível de proficiência da língua, profissão

que quer ter depois do curso, estratégias utilizadas para aprender novas palavras e

autoavaliação da dificuldade em compreender palavras polissémicas. O objetivo é ter

um conhecimento básico dos inquiridos, de forma a facilitar a análise dos resultados.

A segunda parte do inquérito é constituída por três tipos de exercícios. O

primeiro exercício consiste em fazer tantas frases quantos os sentidos (significados)

que cada uma das palavras pode ter. O exercício inclui cinco palavras (“Nota”,

“Cartão”, “Doce”, “Deixar”, “Terminar”), cada uma com mais de um significado. O

objetivo deste exercício é saber quantos sentidos os alunos conhecem e analisar a

capacidade de aplicar as palavras de forma adequada em frases. No segundo exercício

solicita-se a identificação do significado que as palavras polissémicas adquirem em

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14

cada frase. Foram selecionadas cinco palavras (“casa”, “banco”, “chave”, “ver”,

“abandonar”) e produzidas cinco frases para cada uma, de modo a ilustrar vários

significados. Os alunos tinham de identificar o significado de cada situação. O

terceiro exercício é indicar o sentido da palavra assinalada no contexto da frase. O

exercício é composto por 10 exercícios, que têm cinco palavras polissémicas com dois

sentidos diferentes, as quais são “correr”, “bom”, “pena”, “estrela”, “fonte”. O

objetivo é verificar se, não fornecendo nenhum significado relativo, os alunos

identificam o significado correto tendo em conta a situação.

As palavras colocadas no inquérito foram escolhidas com muita atenção,

procurando-se garantir a compreensão de todos os informantes. Por esse motivo,

recorreu-se a palavras de uso quotidiano. As palavras no exercício I são as que a autor

e os alunos chineses enganaram ou confundiram durante o percurso da aprendizagem

do português; as palavras do exercício II são as foram analisadas nos alguns estudos

da polissemia, por exemplo, os trabalhos de Matos (2006) e Bechara (2010). Para

garantir a precisão das frases e significados do exercício, os quais são selecionados de

Dicionário Da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de

Lisboa, (2001), e Dicionário da Língua Portuguesa, (1998), Porto Editora. As frases

do exercício III, são selecionadas do trabalho de Correia (2000). O motivo é para

verificar se estas palavras mencionadas nestes trabalhos também causam as

dificuldades aos alunos chineses PLE.

Os diversos significados das palavras dos exercícios no inquérito estão seguidos

no anexo de acordo com Dicionário da Língua Portuguesa, (1998), Porto Editora.

2.4. Distribuição do inquérito

O inquérito foi realizado em maio de 2019, no fim do segundo semestre. Uma

parte, a referente aos grupos A e B, foi feita durante as aulas no Departamento de

Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro em Portugal, demorando mais ou

menos 20 minutos. A outra parte, ou seja, o grupo C, em virtude de os alunos já não

terem aulas e estarem a trabalhar na dissertação, os inquéritos foram realizados nos

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15

tempos livres e por email. Durante todo o processo de resolução do inquérito, foi

permitido o acesso a qualquer tipo de material para clarificar o sentido das palavras

desconhecidas. A ideia inicial era obter 30 respostas de cada grupo, mas no final

foram obtidas 30 respostas do Grupo A, 28 respostas do Grupo B e 27 respostas do

Grupo C.

2.5. Tratamento dos dados

Depois de recolher os inquéritos, a autora atribuiu um código alfanumérico a

cada inquérito (A1, A2, A3...), correspondente ao grupo a que pertence e ao número

de aluno, para garantir a confidencialidade dos dados. Em seguida, inseriu as

respostas no Excel e fez os gráficos ou listas relativas a cada exercício.

Após a análise de cada grupo individualmente, fez-se a comparação entre eles, de

modo a determinar se a diferença do tempo do estudo da língua portuguesa ou o

tempo de imersão têm impacto na compreensão das palavras polissémicas. Os

resultados alcançados são analisados ao pormenor no capítulo seguinte.

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16

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17

Capítulo III. Análise dos inquéritos

Apresentam-se, no presente capítulo, os resultados dos inquéritos sobre as

palavras polissémicas. Os resultados serão mostrados através de gráficos ou tabelas

para os analisarmos de forma mais objetiva. Estes dados consideram-se o fundamento

para identificar os problemas e as dificuldades dos alunos chineses de PLE no que às

palavras polissémicas diz respeito.

3.1 Perfil dos alunos inquiridos

3.1.1 Distribuição dos alunos de cada grupo por idade, sexo e nacionalidade

Pode-se observar nos seguintes gráficos que a maioria dos alunos se encontra na

faixa etária dos 21 aos 23. Naturalmente os alunos do grupo A são mais jovens do que

os restantes, pois encontram-se numa fase inicial da sua carreira académica.

O gráfico mostra que a maioria parte (grupo A 83%, grupo B 89%, grupo C 81%)

dos alunos inquiridos dos três grupos é do sexo feminino. Em relação à nacionalidade,

todos os alunos têm nacionalidade chinesa.

Gráfico 1- Distribuição dos inquiridos por faixa etária

30%

70%

0% 4%

93%

4% 0%

81%

19%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

18-20 21-23 24-26

grupoA grupoB grupoC

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18

Gráfico 2 - Distribuição dos inquiridos por sexo

3.1.2 Línguas

Nos três grupos, o chinês é a língua materna de todos os alunos inquiridos,

portanto além do português eles também falam outras línguas no dia a dia. Como os

próximos gráficos mostram, a língua que os alunos inquiridos usam mais na vida

quotidiana é o chinês. No grupo A, apenas um aluno refere usar com mais frequência

o cantonês no quotidiano e outro usar ambas as línguas. Os dados no grupo B são

semelhantes: 25 alunos (89%) usam chinês, 1 (4%) usa português, 1 (4%) usa

cantonês e 1 (4%) usa ambas. No grupo C, os dados variam ligeiramente: 74% usam

chinês na vida quotidiana, 11% utilizam as duas línguas e 7% referem usar uma

terceira língua.

17% 11%

19%

83% 89%

81%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

grupo A grupo B grupo C

masculino feminino

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19

Gráfico 3 - Distribuição dos inquiridos por língua que usa mais na vida quotidiana

Podemos verificar que os alunos do 2.º ano de mestrado falam menos chinês e

mais português, mas, em geral, a maioria dos alunos chineses falam mais chinês, em

vez de português.

3.1.3 Aprendizagem da língua

Todos os alunos do grupo A estudam português há 3 anos e estão em Portugal há

um ano. Relativamente ao grupo B, 18% dos alunos aprendem português há 3 anos e

82% dos alunos há 4 anos. A maioria destes alunos encontra-se em Portugal há dois

anos e uma pequena parte, somente 4%, há quatro anos.

93%

0% 0% 3% 3% 0%

89%

4% 0% 4% 4% 0%

74%

4% 4% 0%

11% 7%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

chinês português inglês cantonês chinês eportuguês

chinêsportuguês e

inglês

grupo A grupo B grupo C

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20

Gráfico 4 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por tempo do estudo de português

Gráfico 5 - Distribuição dos inquiridos do grupo B por permanência em Portugal

O período de aprendizagem da língua e da estadia em Portugal pode ter impacto

sobre os resultados finais, como se procurará analisar mais adiante.

De acordo com os gráficos seguintes, no grupo C, a maioria dos alunos (81%)

aprendem português há 5 anos e 11% dos alunos há 6 anos. Quanto à estadia em

Portugal, 7% dos alunos estão em Portugal há um ano, 37% dos alunos há 2 anos, e

56% há 3 anos.

3 anos; 18%

4 anos; 82%

1 anos; 25%

2 anos; 71%

4 anos; 4%

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21

Gráfico 6 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por tempo do estudo de português

Gráfico 7 - Distribuição dos inquiridos do grupo C por permanência em Portugal

De acordo com estes gráficos, o tempo de estudo de português e a estadia em

Portugal difere dentro dos próprios grupos. No grupo A, só há alunos de intercâmbio,

e todos eles estudam português há 3 anos, e ficam em Portugal há um ano. Nos grupos

B e C, não só há os alunos de intercâmbio1, como também os alunos que concluíram a

sua formação numa universidade da China e depois vêm estudar como alunos

internacionais, por isso o tempo de estadia dos alunos varia mais e os alunos têm

percursos de aprendizagem de português diferentes. No grupo B, estudam português

há 4 anos e ficam em Portugal há 2 anos. Relativamente ao grupo C, a maioria dos

alunos estuda português há 5 anos e fica em Portugal 3 anos.

1 Os alunos de intercâmbio são alunos que ainda não concluíram os cursos da China, mas estão a

frequentar cursos das universidades de Portugal de acordo com o protocolo que as duas

Universidades assinaram.

1 ano; 7%

2 anos; 37% 3 anos; 56%

4 anos; 7%

5 anos; 81%

6 anos; 11%

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Estas diferenças podem ter impacto nos dados, isto porque os alunos que

estudam português e vivem em Portugal há mais tempo têm um vocabulário mais rico

e mais sensibilidade sobre os casos específicos do uso das palavras polissémicas.

O gráfico 8 mostra que a maioria dos alunos considera ter um nível de

proficiência da língua de B2 (grupo A 70%, grupo B 79%, grupo C 63%). Estes dados

são curiosos já que não revelam a progressão relativamente ao domínio da língua

esperada. De facto, seria expectável que os alunos que permanecem no país há mais

tempo considerassem o seu nível de proficiência superior, mas parecem concentrar-se

todos no nível B2. O grupo C é o que preenche o maior número de alunos do nível

C1.

Gráfico 8 - Distribuição dos inquiridos por nível de proficiência da língua

No que diz respeito à profissão futura os dados são variados: no grupo A e no

grupo C, respetivamente 40% e 44% dos alunos querem ser tradutores; já no grupo B,

57% dos alunos desejam ter outras profissões no futuro, por exemplo, funcionário

público nos departamentos aduaneiros, guia turístico, vendedor de empresa

internacional, etc. O Grupo C é o que regista o maior número de alunos com

pretensão de executarem funções docentes (30%).

27%

70%

3%

14%

79%

7% 4%

63%

33%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

B1 B2 C1

grupo A grupo B grupo C

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Gráfico 9 - Distribuição dos inquiridos por profissão a seguir

As profissões que os alunos pretendem seguir no futuro são diferentes, por isso,

as áreas da língua portuguesa que os alunos estudam também podem ser variadas. Por

exemplo, algumas profissões como guia turístico implica conhecer os artigos, culturas,

expressões da vida quotidiana, ao passo que um tradutor precisa de saber bem a

gramática e ter técnica de tradução. Sem dúvida, estes fatores também influenciam o

domínio e a aprendizagem das palavras polissémicas e, consequentemente, os

resultados deste estudo.

O gráfico 10 apresenta os métodos utilizados pelos alunos para aprender novas

palavras. A maioria refere que o faz nas aulas e através dos textos usados em aula

(grupo A 83%, grupo B 79%, grupo C 63%) ou nas experiências da vida quotidiana

(grupo A 50%, grupo B 64%, grupo C 81%), por exemplo, ao fazer compras, ir aos

restaurantes, conviver com os amigos portugueses, etc.

23%

40% 37%

14%

29%

57%

30%

44%

26%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

professor/a deportuguês

tradutor/a outros

grupo A grupo B grupo C

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Gráfico 10 - Distribuição dos inquiridos por métodos utilizados para aprender novas palavras

Relativamente à autoavaliação da compreensão das palavras polissémicas, 93%

dos alunos do grupo A, 96% do grupo B e 89% do grupo C têm dificuldade em

compreender. Comparando os resultados dos três grupos, verificámos que no grupo B

mais alunos têm dificuldade em compreender palavras polissémicas.

Gráfico 11 - Distribuição dos inquiridos por dificuldade em compreender palavras polissémicas

A partir das respostas determinou-se que os inquiridos do grupo C aprendem

português e novas palavras com a vida quotidiana, enquanto os alunos inquiridos do

grupo A usam mais tempo nas aulas e nos seus materiais. No que diz respeito ao

83%

50%

27% 33%

50%

79%

64%

39% 36%

46%

63%

81%

30%

48%

26%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Nas aulas e nostextos usados

em aula

Experiências davida quotidiana

Ver televisãoe/ou ouvir rádios

em português

Ler livros e/oujornais emportuguês

Fazer exercíciosgramaticais

grupo A grupo B grupo C

7% 4% 11%

93% 96% 89%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

grupo A grupo B grupo C

não sim

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grupo B, os alunos também gastam mais tempo nas aulas e nos textos em aula, a

aprendizagem de novas palavras através das experiências da vida quotidiana não é

significativa. Os alunos do grupo A têm menos experiência em Portugal, menos

amigos portugueses, estudam num ambiente mais fechado, às vezes não sabem tão

bem a diferença entre os significados diferentes da mesma palavra polissémica,

especialmente aquelas mais orais. Por outro lado, os alunos do grupo C, só têm uma

aula no primeiro semestre e já têm um conhecimento básico da cultura portuguesa,

por isso, eles podem usar o tempo deles para aprender palavras mais práticas para a

vida deles, trabalhar nos tempos livres, sair com os amigos portugueses,

desenvolvendo o vocabulário e adquirindo a maneira de pensar dos portugueses.

3.2 Análise dos exercícios do inquérito

Como se refere no capítulo II, há três exercícios na segunda parte do inquérito,

cujos resultados vão ser apresentados em seguida.

3.2.1 Análise do exercício I

No primeiro exercício, propunha-se a redação de tantas frases, quantos os

sentidos (significados) que as palavras fornecidas poderiam ter.

Os resultados baseiam-se no número de significados das frases realizadas, não

tendo sido contabilizadas aquelas em que as palavras têm o mesmo significado.

3.2.1.1 Análise dos resultados da palavra “nota”

No gráfico 12, referente à palavra “nota”, verifica-se que os alunos conhecem em

média dois ou três significados. Analisando de forma particular, 17% dos alunos do

grupo A sabem um significado, 63% dos alunos, dois e 20% dos alunos, três. No

grupo B, os valores são mais aproximados, ainda que mais alunos saibam dois

significados. Quanto ao grupo C, 52% dos alunos reconhecem três significados e 11%

apontam quatro.

De acordo com este gráfico observamos que os alunos com mais tempo de

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estudo e permanência em Portugal sabem mais significados.

Gráfico 12 - Resultados do exercício I. 1. Nota

3.2.1.2 Análise dos resultados da palavra “cartão”

No que respeita à palavra “cartão”, no gráfico 13, podemos observar que os

resultados estão concentrados em 1 e 2. 93% dos alunos do grupo A apenas

reconhecem um significado, 83% do grupo B também só sabe um e do grupo C 52%

sabem dois. É curioso os valores entre os grupos A e B não serem muito diferentes,

apesar de os alunos do grupo B estudarem português e estarem em Portugal há mais

tempo do que os do grupo A, portanto, seria de prever que já dominassem mais

significados.

Gráfico 13 - resultados do exercício I. 2. Cartão

17%

63%

20%

0% 0%

21%

43%

29%

0% 4%

0%

37%

52%

11%

0% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

1 2 3 4 ou mais de 4 não completou

grupo A grupo B grupo C

93%

3% 0% 3%

79%

18%

0% 4%

37%

52%

7% 4%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1 2 3 não completou

grupo A grupo B grupo C

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27

3.2.1.3 Análise dos resultados da palavra “doce”

O gráfico 14 mostra que o número de alunos que sabem dois significados da

palavra polissémica “doce” é semelhante (Grupo A 53%, Grupo B 50%, Grupo C

63%). Neste caso, é notório que os alunos do grupo C sabem mais significados do que

os outros grupos, o que está em concordância com o seu percurso académico.

Gráfico 14 - Resultados do exercício I. 3. Doce

3.2.1.4 Análise dos resultados da palavra “deixar”

No gráfico 15, podemos observar que a maioria dos alunos (53% do grupo A,

61% do grupo B, 56% do grupo C) identifica dois significados da palavra “deixar”.

Apesar de os alunos do grupo C indicarem mais significados (41% no total), pode-se

afirmar que há alguma homogeneidade no conhecimento relativo a esta palavra.

43%

53%

0% 0% 3%

29%

50%

14%

0%

7%

0%

63%

30%

7%

0% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

1 2 3 4 não completou

grupo A grupo B grupo C

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Gráfico 15 - Resultados do exercício I. 4. Deixar

3.2.1.5 Análise dos resultados da palavra “terminar”

No gráfico 16, podemos observar que a maioria dos alunos só sabe um ou dois

significados da palavra polissémica “terminar”. Uma grande parte dos alunos do

grupo A (80%) só sabe um significado. No grupo B, 50% dos alunos sabem um

significado, 25% dos alunos sabem dois significados. No grupo C, 41% dos alunos

sabem dois significados, 15% identificam três significados e 7% apontam quatro. No

entanto, é de destacar o número elevado de alunos deste grupo que apenas refere um

significado. De um modo genérico, os resultados ilustram que o conhecimento vai

aumentando à medida que o tempo em Portugal aumenta, contudo é conveniente

refletir sobre os dados do grupo C.

33%

53%

10%

3% 0%

7%

61%

11% 11% 11%

4%

56%

22% 19%

0% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

1 2 3 4 não completou

grupo A grupo B grupo C

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29

Gráfico 16 - Resultados do exercício I. 5. Terminar

Através da análise do exercício I, observamos que os alunos com mais tempo em

Portugal sabem mais significados das palavras polissémicas do que os grupos B e A.

Os gráficos também mostram um fenómeno interessante, ou seja, os resultados entre

os grupos A e B não são muito diferentes, mesmo tendo disciplinas mais avançadas.

Consoante os dados relativos ao tempo de estudo e de permanência em Portugal,

a maioria dos alunos do grupo B já estudam português há 4 anos (84%) e ficam em

Portugal há 2 anos (71%). Todavia, ainda há uma parte dos alunos que só estudam

português há 3 anos (18%) e estão em Portugal há 1 ano (25%). Inquestionavelmente,

estes fatores afetam os resultados. Além disso, os inquiridos dos grupos A e B

estudam português nas aulas ou fazem exercícios em casa, porém os alunos do grupo

C têm mais tempo livre para aprender português na área que têm mais interesse.

3.2.2 Análise do exercício II

A fim de saber se os alunos identificam o significado das palavras polissémicas

fornecidas em situações diferentes, realizou-se um exercício de correspondência. Os

gráficos mostram o número de itens que os inquiridos identificaram corretamente.

3.2.2.1 Análise dos resultados da palavra “casa”

Conforme o gráfico 17, no que diz respeito à palavra polissémica “casa”, os

80%

17%

0% 0% 3%

50%

25% 18%

0% 7%

37% 41%

15% 7%

0% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

1 2 3 4 não completou

grupo A grupo B grupo C

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30

resultados corretos oscilam entre três (grupo A 47%, grupo B 21%, grupo C 15%) e

cinco (grupo A 40%, grupo B 50%, grupo C 81%). É evidente que o grupo C tem os

resultados melhores do que os outros grupos. No entanto, ao contrário do que seria

esperado, o grupo A tem resultados melhores do que o grupo B. Os motivos para

estes resultados possivelmente não se devem apenas ao tempo de estudo e de

permanência em Portugal; na verdade, quando o inquérito foi aplicado, alguns alunos

já tinham respondido a outros inquéritos e, portanto, a sua atitude perante este não era

positiva, e estavam mais concentrados nos exames que iam realizar em breve.

Parece-nos, também, que alguns alunos preencheram os resultados sem lerem bem os

exercícios ou não compreenderam bem as frases. Por seu turno os alunos do grupo A,

trataram os exercícios com mais seriedade e até solicitaram mais tempo para

completar a tarefa na aula.

Gráfico 17 - Resultados do exercício II. Casa

3.2.2.2 Análise dos resultados da palavra “banco”

No gráfico 18, sobre a palavra “banco”, observa-se que a maioria dos alunos

preencheram cinco respostas certas (grupo A 53%, grupo B 50%, grupo C 96%).

Neste exercício os resultados do grupo B e do grupo A são semelhantes, revelando

quais os significados da palavra “banco” mais frequentemente lecionados em aula.

0%

7% 3%

47%

3%

40%

4% 4%

21% 21%

0%

50%

0% 0% 4%

15%

0%

81%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

0 1 2 3 4 5

grupo A grupo B grupo C

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31

Gráfico 18 - Resultados do exercício II. Banco

3.2.2.3 Análise dos resultados da palavra “chave”

No gráfico 19, os dados são mais heterogéneos. O grupo C claramente domina

mais significados (85%). O grupo A apresenta bons resultados com 50% dos alunos a

identificarem os cinco significados, mais do que o grupo B. Neste exercício, a

justificação para estes resultados, não é porque os alunos do grupo A são melhores ou

têm mais conhecimento do que os do grupo B, mas porque estes não fizeram os

exercícios cuidadosamente, além disso, relativamente a 3 resultados corretos, os

alunos do grupo B (32%) têm um resultado melhor do que o grupo A.

Gráfico 19 - Resultados do exercício II. Chave

7% 3%

23% 17%

0%

50%

7% 4%

18%

32%

0%

39%

0% 0% 4%

11%

0%

85%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

0 1 2 3 4 5

grupo A grupo B grupo C

0% 3% 10%

30%

0%

53%

7% 4%

18% 18%

4%

50%

4% 0% 0% 0% 0%

96%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

0 1 2 3 4 5

grupo A grupo B grupo C

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32

3.2.2.4 Análise dos resultados da palavra “ver”

Quanto à palavra “ver”, as respostas foram mais dispersas. A maior parte dos

alunos acertou três (grupo A 33%, grupo B 18%, grupo C 44%) ou cinco

correspondências (grupo A 33%, grupo B 29%, grupo C 52%). Mais uma vez, o grupo

C tem resultados melhores do que os outros grupos e o grupo B tem resultados

melhores do que o grupo A.

Gráfico 20 - Resultados do exercício II. Ver

3.2.2.5 Análise dos resultados da palavra “abandonar”

No gráfico 21, destaca-se o desempenho do grupo C (78%). Os grupos A e B

acertaram dois (grupo A 20%, grupo B 32%, grupo C 11%) e três significados (grupo

A 30%, grupo B 29%, grupo C 11%).

13%

3%

13%

33%

3%

33%

4%

14%

36%

18%

0%

29%

0% 4%

0%

44%

0%

52%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

0 1 2 3 4 5

grupo A grupo B grupo C

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Gráfico 21 - Resultados do exercício II. Abandonar

Os resultados mostram a complexidade deste exercício. No entanto, é nítido que

os alunos do grupo C têm uma melhor capacidade de identificar os significados das

palavras polissémicas em situações diferentes. Porém, apesar de o grupo B, na

maioria dos casos, ter mais anos de permanência e de estudo da língua portuguesa em

Portugal, apresenta valores inferiores aos dos alunos do grupo A.

3.2.3 Análise do exercício III

A autora fez uma lista de todas as respostas diferentes a fim de mostrar como os

alunos chineses compreendem o sentido de dada palavra polissémica em situações

diferentes, e no anexo segue as tabelas das respostas completas deste exercício.

Em alguns exercícios, os alunos indicam diversos significados e alguns

inquiridos preenchem as respostas em chinês ou inglês, ou seja, fornecem a tradução

destas palavras. Possivelmente isto ocorre porque os alunos têm dificuldade em

explicar as palavras em português. Para facilitar a análise, traduzimos estas respostas

em português.

3.2.3.1 Análise dos resultados de exercícios

a) O Miguel corre para o pai sempre que sente medo.

3%

20% 20%

30%

3%

23%

11% 14%

32% 29%

0%

14%

0% 0%

11% 11%

0%

78%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

0 1 2 3 4 5

grupo A grupo B grupo C

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Nesta frase, o significado da palavra “correr” é “refugiar-se”. Nenhum aluno dos

três grupos deu esta resposta. No grupo A, há 19 respostas diferentes, sendo que 5

alunos (17%) colocam a resposta “vai” e 4 (13%) colocam em chinês “跑”, que

corresponde a “deslocar-se rapidamente”. Em chinês não se atribui o significado

“refugiar-se” ao verbo correr. No grupo B, há 20 respostas diferentes: a resposta mais

frequente é “correr” (14%). Alguns alunos fazem os exercícios com negligência, em

vez de pensar cuidadosamente e explicam a palavra com todo o conhecimento que

sabem, indicando o significado primário da palavra “correr”. Já no grupo C, 11% dos

alunos acham que a resposta é “ir ter com”.

Obviamente, cada grupo dá respostas diferentes, mas existem respostas comuns,

como por exemplo “andar”.

b) O João é um bom rapaz.

Nesta frase, o significado da palavra é “generoso”, “bondoso”. No grupo A, há

14 respostas diferentes e a resposta mais comum é “excelente” (23%). No grupo B, há

16 respostas diferentes, sendo a mais expressiva “simpático” (18%). No grupo C, o

número de respostas diferentes é igual ao do grupo A, mas neste caso 26% dos alunos

acham que significa “simpático”.

c) Ele vai cumprir uma pena de 18 anos na prisão.

O significado da palavra “pena” neste exercício é “aquilo que se faz sofrer como

castigo de qualquer ato julgado repreensível ou culposo”, “castigo”, “punição”. 40%

dos alunos do grupo A responderam “castigo”. 3 alunos escreveram em chinês “刑罚”

e um “惩罚”, ambas as palavras têm o sentido de “punição”, “castigo. No grupo B,

11% dos alunos preencheram “punição”, 7% alunos, “castigo”, e 4% dos alunos

colocaram a resposta “punição por lei a algum crime”. Uma parcela dos alunos,

especificamente 4%, preencheu em chinês “处罚”que correspondem aos sentidos

portugueses “castigo”, “punição”. Em suma, a maioria dos alunos do grupo C

(>65%) e do grupo A sabe o significado da palavra polissémica “pena”, mas os dados

do grupo B mostram que os seus elementos têm menos conhecimento desta palavra.

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d) Hoje não há estrelas no céu.

Os sentidos da palavra “estrela” neste exercício podem ser: “astro” ou “qualquer

corpo celeste”. Há 8 respostas diferentes no grupo A, 15 respostas diferentes nos

grupos B e C. Foi possível observar que uma grande parte dos alunos (Grupo A 37%,

Grupo B 42%, Grupo C 11%) preencheu as respostas em chinês, quer no grupo A,

quer no grupo C. A palavra “estrela” liga-se diretamente à palavra chinês “星星”. Às

vezes os alunos chineses sabem o significado da palavra portuguesa, mas têm

dificuldade em explicá-la.

e) Os investigadores ainda não detetaram a fonte da infeção.

A palavra “fonte” significa nesta frase “foco”, “origem de doença”. Os alunos do

grupo A deram 10 respostas diferentes e os alunos dos grupos B e C, 9. A maioria dos

alunos inquiridos preencheram “origem” (Grupo A 33%, Grupo B 43%, Grupo C 44%)

e “causa” (Grupo A 10%, Grupo B 7%, Grupo C 22%). “Foco” é uma palavra

desconhecida para os alunos chineses, ao contrário das anteriores. Uma grande parte

dos alunos não sabe o significado desta palavra (27% no grupo A, 29% no grupo B,

11% no grupo C.), confundindo-o inclusivamente com a palavra “ponte”.

f) O meu programa não está a correr.

Neste exercício, o significado é “funcionar”, que foi a resposta mais frequente

(43% no grupo A, 29% no grupo B, 44% no grupo C). No entanto, foram vários os

significados apresentados.

g) Conseguimos um bom resultado na prova.

Todos os alunos chineses identificaram o significado da palavra “bom”, mas

tiveram alguma dificuldade em explicar. “Efetivamente, dado o significado deste

adjetivo ser tão lato, podendo servir para qualificar objetos, pensamentos, ações,

pessoas, entre outros, coloca a questão de ser polissémico em si mesmo ou das suas

múltiplas significações estarem dependentes de colocações específicas.” (Correia,

2000 p. 64)

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Ilustrando esta dificuldade, os alunos do grupo A preencheram 18 respostas

diferentes, no grupo B, 14, e no grupo C, 17. Não obstante as diferentes respostas,

todas indicam uma valoração positiva.

h) A Rita é a estrela da companhia.

Neste exercício, quando a palavra “estrela” representa uma pessoa, o sentido

torna-se “pessoa de destaque”.

Segundo Correia (2000, p.65), “cada palavra tem um significado inicial (básico

ou inerente) e as restantes aceções derivam dele através daquilo a que se

convencionou chamar ‘sentido figurado’.” É este processo que está subjacente à

explicação deste vocábulo.

Como em chinês também existe este “sentido figurado”, alguns alunos

preencheram “明星” (17% no grupo A, 14% no grupo B, 4% no grupo C) que

significa “pessoa famosa ou com destaque”, “pessoas famosas”, etc.

i) É necessário indicar a fonte desta citação.

Neste exercício, o significado da palavra polissémica “fonte” é “texto original de

uma obra”. Nos grupos A e C, os alunos deram 14 respostas diferentes, e no grupo B,

11 respostas diferentes. Embora alguns alunos não apresentem uma definição exata,

sabem o seu significado. Eis alguns exemplos: “recurso de onde vem a informação”,

“documento que fornece uma informação”, “documento original”, “lugar onde a

citação fica”, etc.

j) Sinto muita pena pela situação que o João vive.

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, neste exercício, a palavra

“pena” significa “desgosto”, “tristeza”, “dor”, “compaixão”, “piedade”. No grupo A,

há 17 respostas diferentes, sendo a mais preenchida “遗憾” (20%) que significa

“pena” em chinês. No grupo B, há 12 respostas diferentes, sendo as mais frequentes

“可惜” (18%),“遗憾” (14%),que significa “lástima” e “pena” respetivamente em

português; no grupo C definem-na como “lamento” (11%), “piedade” (11%),

“tristeza” (11%) e “遗憾” (11%). Observa-se que muitos alunos preencheram

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“lamento”. No dicionário português-chinês, a palavra “lamento” tem o significado “悲

痛 ” que significa “tristeza” ou “mágoa” e não apresenta qualquer explicação

relativamente ao uso desta palavra nem dá exemplos. A razão principal da

incompreensão desta palavra é não ser explicado o contexto de utilização no

dicionário.

3.2.3.2 Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III

Como se foi referindo anteriormente, os alunos atribuíram diversos significados

para os itens lexicais em análise. A tabela que se segue resume todos os sentidos

mencionados:

Frase Palavra

polissémica

Sentido usado

na frase

Sentidos atribuídos pelos

alunos

O Miguel corre

para o pai sempre

que sente medo.

Correr Refugiar-se Correr

Andar

Ir ter com

Deslocar-se rapidamente

O João é um bom

rapaz.

Bom Generoso

Bondoso

Excelente

Simpático

Ele vai cumprir

uma pena de 18

anos na prisão.

Pena Castigo

punição

Castigo

刑罚(punição)

惩罚(punição)

Punição

Punição por lei a algum crime

处罚(punição, castigo)

Hoje não há

estrelas no céu.

Estrelas Astro

Qualquer corpo

celeste

星星(estrela)

Os investigadores

ainda não

Fonte Foco

Origem de

Origem

Causa

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detetaram a fonte

da infeção.

doença Ponte

O meu programa

não está a correr.

Correr Funcionar Funcionar

Conseguimos um

bom resultado na

prova.

Bom Valoração

positiva

Positivo

Excelente

satisfeito

A Rita é a estrela

da companhia.

Estrela Pessoa que se

destaca

明星(pessoa famosa ou com

destaque)

Pessoa famosa

É necessário

indicar a fonte

desta citação.

Fonte Texto original

de uma obra

Recurso de onde vem a

informação

Documento que fornece uma

informação

Documento original

Lugar onde a citação fica

Sinto muita pena

pela situação que o

João vive.

Pena Desgosto

Tristeza

Dor

Compaixão

Piedade

遗憾(lamento)

可惜 (piedade)

Lamento

Piedade

Tristeza

Tabela 2 - Síntese dos significados atribuídos às palavras do exercício III

Mediante estes dados, podemos classificar o entendimento das palavras

polissémicas por parte dos alunos chineses nos seguintes tipos: o primeiro tipo é

composto por alunos que não sabem nenhum significado da palavra ou confundem

com outras palavras semelhantes, por exemplo, “fonte” - “ponte”; o segundo tipo

inclui indivíduos que têm conhecimento de alguns significados, mas estão

incompletos ou são aproximados, e revelam cognitivamente associação à realidade em

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questão, por exemplo: “lugar onde a citação fica” ou “lamento” (conceito relacionado

com desgosto, tristeza). No terceiro, eles conhecem os significados prototípicos, mas

em alguns casos específicos, estes significados não são muito adequados. Por

exemplo: “correr, andar, ir ter com, deslocar-se rapidamente” – são os significados da

palavra “correr” mas não servem neste contexto. Por fim, o quarto tipo, dominam os

significados das palavras em contextos diferentes, por exemplo: “funcionar”,

“tristeza” etc.

3.2.4 Considerações preliminares

A partir da análise dos resultados, observa-se que as dificuldades principais dos

alunos chineses são o desconhecimento de vocabulário de uso menos comum ou de

baixa referência e a falta de capacidade para expressar com precisão os significados

solicitados em português. Pode-se dizer que as estratégias seguidas no percurso de

aquisição e de aprendizagem da língua permitiram aos alunos chineses alcançar o

domínio dos significados básicos dos itens lexicais mobilizados neste trabalho,

especialmente aqueles que são utilizados na comunicação de uma forma frequente,

mas revelam limitações.

O tempo reduzido de imersão em Portugal e a limitada aplicação das palavras

adquiridas podem influenciar os resultados, na medida em que os alunos só se

lembram dos significados que usam com mais frequência nas aulas ou nos materiais.

Por exemplo, no exercício I, de facto, os alunos sabem o que significa a palavra

“nota” num contexto como “dinheiro de papel”, só que não é tão fácil para eles

relembrar este significado quando têm de fazer frases com esta palavra. A pobreza do

vocabulário dos alunos gera dificuldades em identificar as palavras polissémicas. Eles

também confundem os significados em contextos diferentes e estão mais

familiarizados com os sentidos prototípicos ou que têm os mesmos conceitos em

chinês. Muitos alunos preencheram o exercício III em chinês, não só porque lhes falta

capacidade para expressar os significados em português, mas também em virtude da

influência da língua materna e da incompreensão dos significados das palavras.

Os níveis satisfatórios obtidos não devem ser entendidos como uma conquista,

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mas sim como um patamar a superar. É conveniente que os alunos conheçam mais

palavras polissémicas, alarguem o conhecimento dos sentidos de algumas palavras e

aprendam a aplicá-las e a identificá-las.

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Capítulo IV. Reflexão dos resultados

Neste capítulo analisam-se os erros comuns nos exercícios e apresentam-se

propostas para resolvê-los durante o processo de aprendizagem da língua portuguesa

para os alunos PLE.

4.1 Análise dos erros comuns

As maiores dificuldades ocorreram na produção de frases para contextualizar o

significado das palavras, bem como na explicação de lexemas.

No primeiro exercício, sobre a palavra polissemia “nota”, a maioria dos alunos

fazem frases com o significado de “apontamento para fazer lembrar alguma coisa”,

“classificação escolar”, mas se a encontrarem com o sentido de “dinheiro de papel”

são capazes de a identificar, desde que o contexto seja relacionado e claro. Isto está

relacionado com a frequência de uso dos sentidos das palavras, ou seja, quanto mais

se usa um significado de uma palavra polissémica, mais rápido aparece na mente.

Também há alguns alunos que fizeram frases com o verbo “notar” (“A marca na cara

dela não se nota.”). Portanto, pode-se concluir que quando encontram uma palavra

polissémica, os alunos pensam primeiro nos significados que mais usam.

Significados Frases produzidas

Apontamento para fazer

lembrar alguma coisa

Tomar notas na aula é um bom hábito.

Classificação escolar Ele obteve uma nota alta no exame final.

Papel-moeda Ele apanhou uma nota no chão.

Notar A marca na cara dela não se nota.

Tabela 3 - Exemplos dos respostas da palvra polissémica “nota”

Os alunos revelaram dificuldades na produção de frases com a palavra “cartão”

com o significado de “material”. O maior número de ocorrências refere-se ao conceito

de “papel espesso, grosso e resistente”, ou “material que o constitui”, sendo

coincidente com a aceção nuclear deste item lexical. Mas os alunos só sabem a aceção

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de “cartão de identidade” ou “cartão de multibanco”, não sabem que a palavra

“cartão” também é um material. De facto, para eles o conceito de “cartão” como um

material é igual ao conceito de “papel” e alguns alunos confundiram-no com a palavra

“carta”.

Significados Frases produzidas

Pequeno retângulo de papel de cartolina

ou plástico com a identificação

Precisa do cartão de estudante para entrar

neste edifício.

Pequeno retângulo de plástico com uma

banda magnética

Queria pagar com cartão de multibanco.

Pequeno cartão usado pelos árbitros em

diferentes modalidades desportivas

Dá um cartão amarelo a ele.

Tabela 4 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “cartão”

A maioria dos alunos sabe o sentido da palavra “doce” como adjetivo (“que tem

sabor agradável como o do mel e o do açúcar”) e fornece frases como “Gosto muito

da comida doce.”, “Esta sobremesa é tão doce!”. Além disso, também a usam como

nome, na aceção de “o que tem sabor agradável como o do mel e o do açúcar”, como

por exemplo: “Gosto deste tipo de doce.”, “Gostas dos doces de Portugal?”. Os dois

sentidos são usados mais na vida quotidiana dos alunos chineses, e também não há

diferença cultural neste caso. Mas quando se refere “água doce”, poucos alunos sabem

o significado. Aqui a água não contém açúcar ou sabor como o do açúcar, mas

significa que se trata da água dos rios e lagos, praticamente sem sal. Como não existe

este conceito em chinês, é difícil ter esta noção em mente.

Significados Frases produzidas

Que tem sabor agradável como o do mel

e o do açúcar

Esta sobremesa é tão doce!

Gosto muito da comida doce.

(Água) que não é salgado Na China, há muitos lagos de água doce.

O que tem sabor agradável como o do Gostas dos doces de Portugal?

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mel e do açúcar Gosto este tipo de doce.

Tabela 5- Exemplos das respostas da palvra polissémica “doce”

O verbo “deixar” é uma palavra polissémica que tem vários significados, mas

nenhum aluno fez frases com os significados “causar” e “produzir”, pouco usados e,

portanto, difíceis para os alunos chineses. No que diz respeito ao verbo “terminar”,

apesar de ele também ser uma palavra polissémica, os significados não se distinguem,

isto é, no nosso conhecimento a diferença de “acabar” e “pôr fim a” não é muito

grande, por isso grande parte dos alunos só fez uma frase neste exercício.

Significados Frases produzidas

Colocar Deixei a minha chave na mesa.

Desistir de Ele deixou de fumar.

Abandonar Ele deixou a mulher e o filho.

Sair Ele deixou Lisboa sozinho.

Dar como herança Ele deixou muita herança ao seu filho.

Omitir Deixa lá!

Consentir Ele não me deixa estudar.

Tabela 6 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “deixar”

Significados Frases produzidas

Pôr fim a Hoje, a aula vai terminar mais cedo.

Acabar O dinheiro acabou.

Tabela 7 - Exemplos das respostas da palvra polissémica “terminar”

No segundo exercício, o sentido de “casa” em “casa do botão” é conceptualizado

por um processo de similaridade metafórica, sendo muito periférico em relação à

aceção prototípica (Barbeiro, 2009, p.110). Por isso os alunos têm menos

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conhecimentos relativamente a este sentido.

A palavra “chave” tem significados concretos e significados abstratos. Em chinês,

quando se usa esta palavra, o significado que aparece na mente é algo que pode abrir

uma porta, caixa ou qualquer coisa com fechadura. Mas os significados como

“Instrumento ou ferramenta que serve para apertar ou desapertar”, “símbolo da posse

ou do usufruto de algo” são conceitos diferentes para os alunos chineses,

confundindo-os.

No exercício da palavra “abandonar”, algumas palavras ou significados menos

usados causaram dificuldades aos alunos, por exemplo: “negligenciar”, “repudiar”

“entregar-se”, o que resultado em respostas erradas.

Sobre a palavra “ver”, os alunos confundem os significados das frases “Gosto de

ver lá fora quando está a chover.” e “Vi, no jornal, que o Presidente vai à Madeira.”.

Neste exercício, o significado da primeira frase deve ser “Perceber ou conhecer por

meio dos olhos”, significado prototípico da palavra “ver”; entretanto na segunda frase,

os alunos indicam “ler” em substituição de “conhecer”, “saber”. Reconhece-se que,

neste último caso, o sentido da palavra é muito específico e difícil para os alunos

chineses.

O exercício III requer que os alunos expliquem os significados das palavras

polissémicas nas frases. Uma grande parte dos alunos teve dificuldade em expressar

as respostas em português ou enganou-se, respondendo em chinês. Alguns alunos

confundiram as palavras com outras, como “fonte” e “ponte”, “pena” e “apenas”.

Verificou-se que nenhum dos alunos atribuiu o significado “refugiar-se” a “correr”

na frase “O Miguel corre para o pai sempre que sente medo.” O significado

prototípico desta palavra é “deslocar-se muito rapidamente”, mas neste caso é

conceptualizado por um processo de similaridade metafórica. Este exercício também

revela que falta capacidade de expressar com precisão os significados solicitados em

português. Por exemplo, no exercício i) “É necessário indicar a fonte desta citação.”,

em vez de indicar “o texto original de uma obra”, eles respondem “recurso de onde

vem a informação”, “documento que fornece uma informação”, “Lugar onde a

citação fica” etc. Estas respostas demonstram que os significados que os alunos

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entendem às vezes não correspondem à definição da palavra, são incompletos e

aproximados, em contextos determinados. No exercício j) “Sinto muita pena pela

situação que o João vive.”, muitos alunos atribuem o significado “lamento”.

4.2 Problemas e resoluções

A existência de palavras polissémicas gera dificuldades de compreensão quando

aplicadas em circunstâncias diferentes. Os resultados obtidos neste trabalho permitem

determinar que os problemas encontrados se classificam nos seguintes aspetos.

A influência da língua materna, o chinês, é a origem da maioria dos problemas na

aprendizagem de palavras polissémicas. A língua portuguesa constitui uma língua

muito distinta e representa uma cultura completamente distante. Os alunos possuem

um vocabulário próprio e é diferente do vocabulário português autêntico e vão

provavelmente depender do pensamento habitual da língua materna e do vocabulário

que têm. Por isso, quando eles adquirem uma palavra nova, eles ligam-na ao sentido

chinês e quando pretendem expressar as suas ideias, organizam primeiro as palavras e

expressões correspondentes em chinês e a seguir, traduzem-nas mentalmente para o

português. O exercício III é exemplo deste problema, já que muitos inquiridos

preencheram as respostas em chinês.

A divergência da cultura portuguesa e da chinesa é um fator que contribui

inegavelmente para os problemas na aprendizagem da língua portuguesa. Os modos

de pensamento são refletidos em todos os aspetos da sociedade humana,

especialmente no aspeto da linguagem das diferentes etnias. Os costumes, religiões,

histórias geram dificuldade para a compreensão de alguns itens, devido aos alunos

chineses não terem essa conceptualização a partir da sua experiência. Por exemplo,

traduzir “casa dos botões” de chinês para português vai ser “olho dos botões”, neste

caso a palavra polissémica “casa” provavelmente causa confusão e mal-entendido aos

alunos.

O fraco domínio do vocabulário português é considerado como a causa direta de

alguns problemas. Por um lado, para dominar bem as palavras, especialmente as

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palavras polissémicas, é necessário adquirir significados diferentes das palavras. Por

causa de limites de tempo e da própria personalidade do aluno, esse processo pode

não ser fácil, pois exige leitura ampla e experiência da vida quotidiana. Por outro lado,

o sistema pedagógico e o método didático da China exigem que os alunos aprendam

conhecimentos para passar os exames. Por isso os estudantes estudam sozinhos e

limitam a sua aprendizagem aos materiais escolares. Estes fatores impedem os alunos

de expandir o seu vocabulário.

Outro fator a considerar diz respeito aos métodos de ensino. As línguas

constituem realidades diretas do pensamento humano e são o meio mais importante

para a comunicação interpessoal. Todas as línguas, em certo sentido, são vivas e

flexíveis, mesmo que existam regras gramaticais. Na aprendizagem das palavras e no

desenvolvimento do vocabulário da língua portuguesa, muitos alunos parecem

conservadores e mecânicos, incluindo alguns professores chineses. Por influência da

metodologia pedagógica tradicional chinesa, os alunos chineses costumam memorizar

rigidamente expressões e regras gramaticais e utilizar meramente estas expressões e

regras memorizadas. Não sabem analisar e verificar dialeticamente nem conseguem

considerar caso a caso. Este hábito, de certo modo, vai ajudar os aprendentes a

adquirir novos conhecimentos, mas de um ponto de vista mais longo e amplo, vai

prejudicar a autenticidade e a vitalidade do que se aprende, o que pode ser

considerado como causa indireta de problemas.

Por fim, importa mencionar a atitude passiva face à aprendizagem do português,

especialmente das palavras polissémicas. Sabemos que o processo de aprendizagem

de uma língua estrangeira é progressivo e difícil e que é necessário rever conteúdos

adquiridos continuamente. O processo de aprendizagem das palavras polissémicas

exige ter um conhecimento completo de cada palavra que aprendem. É normal que

uma palavra tenha vários significados diferentes, mas os alunos geralmente não

procuram saber mais sobre aspetos desconhecidos e não estão interessados em

descodificar os significados que não sabem.

Apresentam-se em seguida as sugestões em relação à aprendizagem das palavras

polissémicas da língua portuguesa.

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É importante estar ciente da influência da língua materna e formar gradualmente

o pensamento dentro do português. Quando se encontra uma palavra nova, é

aconselhável consultar o dicionário português-português ou procurar as imagens na

internet, em vez de consultar diretamente o dicionário português-chinês, para

estabelecer mentalmente as relações lógicas e os recursos expressivos na fase inicial

da aquisição do português. Os alunos devem saber que a polissemia é um fenómeno

universal, mas a sua realização é típica, apenas de uma língua particular. Por esta

razão, as aceções são diferentes em línguas diferentes (por exemplo, em português,

“casa” tem o sentido de “posição numérica”, no entanto, esta aceção de “casa” não

existe em chinês). Com o fim de entender e usar corretamente as palavras, é

indispensável prestar atenção aos hábitos autênticos na expressão desta língua e aos

sistemas linguísticos. Isso não é fácil, porque a língua materna tem influência sobre o

nosso sistema linguístico deste a infância, e a cultura chinesa e a portuguesa são

bastante diferentes, mas vai ajudar a prevenir a maioria dos problemas. Depois de

formar o pensamento em português, a interpretação e a aplicação destas palavras

tornar-se-ão mais corretas, adequadas, autênticas e naturais.

A integração na cultura local é essencial para promover a compreensão das

palavras polissémicas. Manter uma atitude aberta e aprender a aceitar as diferenças. É

recomendado participar em eventos e festivais locais com nativos, visitar

monumentos e lugares históricos, provar a gastronomia portuguesa, etc. Mergulhar na

cultura portuguesa, ajuda os alunos a alargar o vocabulário e o conhecimento sobre os

costumes, as tradições, e a diminuir a confusão que as palavras polissémicas causam.

A abundância do vocabulário é indispensável para a compreensão de uma língua.

O desenvolvimento lexical é uma tarefa que nunca está terminada, pois é sempre

possível aprender novas palavras e novos significados das palavras em domínios

específicos. A seguir, deixam-se algumas sugestões aos alunos chineses para expandir

o vocabulário:

1. Leitura é o melhor caminho para expandir o vocabulário. Leia em áreas

diferentes, procure publicações de qualidade (jornais, romances clássicos,

revistas de ciência, economia, arte, etc.). Domine os significados em

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contextos diferentes.

2. Faça “análise do discurso” na vida quotidiana. Procure escutar como os

portugueses falam, preste atenção às palavras que eles usam e como as usam.

Tudo isto pode ser resumido em tentar obter uma maior perceção e uso das

palavras polissémicas. Também é necessário prestar atenção à reação dos

portugueses com quem fala para verificar se as palavras que usa causam

estranheza aos portugueses.

3. A prática leva à perfeição. Depois de aprender uma palavra nova, ou saber

um novo significado duma palavra polissémica, pratique-a o mais possível no

diálogo, na escrita, etc. Através da prática, as partes motoras do cérebro são

ativadas, e quanto mais o cérebro estiver em atividade, mais fácil é fixar

algum conteúdo.

É essencial encontrar um método próprio que sirva para o estudo das polissemias.

O papel mais significativo de uma língua realiza-se na comunicação interpessoal. Não

negamos que assimilar os conhecimentos sólidos nas aulas é importante, mas isto só é

a base de aprender bem uma língua. Os alunos não podem depender apenas dos livros

didáticos, dos exercícios gramaticais, porque os conceitos teóricos são mais ou menos

limitados. As palavras são, geralmente, derivadas ou evoluídas dos étimos, portanto é

importante conhecer o significado do étimo quando encontra uma nova palavra, o que

pode determinar melhor os significados em determinados contextos. O uso das

palavras é flexível, os alunos chineses devem analisar dialeticamente o que estudam e

empregar as palavras de maneira dinâmica e depender menos da memorização forçada

e mais de conexões diversificadas, estabelecendo um método mais sólido e eficaz de

aprendizagem.

Os alunos chineses precisam de alterar a atitude passiva para a atitude ativa no

processo de aprendizagem. No meio universitário, a curiosidade e o interesse

constituem os melhores mestres, para se descobrir as potencialidades das palavras

polissémicas. Aprender novas palavras nas experiências é um modo mais interessante,

especialmente aprendendo com amigos portugueses. Além disso, ler romances, ouvir

músicas, ver telenovelas, filmes portugueses vão deixar os alunos apaixonados pelo

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que estudam e vão prestar mais atenção aos estudos, aliás, as palavras aprendidas

também são mais vivas e práticas. Praticar com português.

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Conclusão

A presente dissertação sobre a polissemia concentra-se especialmente nos

problemas e nas dificuldades que os alunos chineses encontram na sua aprendizagem.

O trabalho divide-se em quatro partes e resulta de um inquérito feito junto de três

grupos diferentes de informantes. A primeira parte é sobre a teoria das palavras

polissémicas; a segunda parte é a metodologia do inquérito; a terceira parte é a análise

do inquérito e a última parte é a conclusão das análises dos inquéritos.

Na comparação dos resultados entre os três grupos, não obtivemos o resultado

esperado relativamente ao uso, compreensão e expressão das palavras polissémicas.

De facto, os alunos do grupo B, com mais tempo de aprendizagem e de permanência

em Portugal, têm resultados inferiores aos do Grupo A, o que pode ter sido

influenciado por diversos fatores.

De acordo com os dados que recolhemos, concluímos que há um grande número

de alunos chineses de PLE que não dominam muito bem o uso da polissemia. Embora

a polissemia seja uma área pouco explorada, ela desempenha um papel importante na

compreensão da língua portuguesa. Consideramos, pois, que é muito importante obter

a capacidade de identificar os significados diferentes em contextos determinados.

No caso dos alunos do segundo ano de mestrado (grupo C), eles dominam

melhor do que os outros alunos. Por isso, quando eles respondem às perguntas, é

normal terem mais conhecimento das palavras, mesmo que ainda não dominem bem

todos os significados. É muito difícil memorizar todos os sentidos de uma palavra

polissémica. No resultado do inquérito, verificaram-se erros frequentes na explicação

das palavras. Por isso, sugere-se que os alunos chineses prestem mais atenção à

aprendizagem das novas palavras e tentem identificar sentidos diferentes.

Foi também possível constatar que os alunos chineses prestam mais atenção à

explicação das palavras em chinês. Os alunos chineses só memorizam os significados

prototípicos e alguns casos especiais, portanto é muito difícil compreender casos não

estudados. Ao mesmo tempo, eles também não fazem uma reflexão consciente sobre

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os sentidos diferentes da mesma palavra. Normalmente, eles limitam-se a memorizar

a aceção prototípica das palavras polissémicas.

Ademais, verificou-se que o tempo de permanência em Portugal tem influência

sobre os resultados, mas que as diferenças culturais são um fator de dificuldade.

O presente trabalho identificou que os problemas principais para os alunos

chineses são: a influência da língua materna, ou seja, o chinês; a divergência das

culturas; a pobreza do vocabulário português; métodos de aprendizagem deficientes e

atitude passiva face à aprendizagem.

Como todas as investigações também se encontraram algumas limitações. Em

primeiro lugar, o número de inquéritos recolhidos não correspondeu à expectativa

inicial. Em segundo, o facto de os alunos do grupo C terem realizado o inquérito no

seu tempo livre, sem pressão, sem controlo externo e com a possibilidade de consultar

dicionários, pode ter enviesado os resultados. Outro aspeto diz respeito às frases

usadas no inquérito que podem ter condicionado as respostas dos alunos, por exemplo

“Dá-me aquela chave de parafusos.”

A língua portuguesa e a língua chinesa são duas línguas distintas, é inevitável

existir diferenças de vocabulário entre as duas línguas e os alunos serem influenciados

pela língua materna. Entretanto a cultura e a educação da China promovem atitudes

diferentes e métodos desadequados. Por isso, conhecer a cultura portuguesa, formar

um pensamento português, alterar a atitude passiva da aprendizagem, procurar

métodos adequados e eficazes para melhorar o português tomam-se importantes para

o sucesso.

Em conclusão, neste trabalho, os resultados não corresponderam totalmente ao

esperado, mas permitiu especular sobre alguns motivos para o erro. A análise dos

problemas mais comuns dos alunos é o contributo mais importante do presente

trabalho e será certamente útil para professores chineses e portugueses no ensino

dirigido a alunos chineses.

Espera-se que o presente trabalho possa vir a servir como base para uma

investigação mais profunda. O texto termina aqui, mas a pesquisa nunca, as reflexões

e considerações vão-se renovando com todas as ideias e sugestões.

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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502003000200001

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https://www.figuradelinguagem.com/gramatica/polissemia/ consultado a 6 de

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Anexos

Declaração de Consentimento Informado

No âmbito do Mestrado em Português Língua Estrangeira/Língua Segunda do Departamento de

Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, está a ser conduzido um estudo sobre as palavras

polissémicas em Português L2. A polissemia diz respeito aos diferentes sentidos de uma palavra

ou locução, como o caso de “coração” que pode significar “centro” ou “órgão central da

circulação sanguínea”.

Ao analisar as respostas dos alunos, pretende-se verificar se as palavras polissémicas constituem,

efetivamente, uma área problemática para os alunos chineses.

Os dados recolhidos serão tratados quantitativamente, salvaguardando-se a confidencialidade e o

anonimato de todas as informações recolhidas.

Os resultados do estudo podem vir a ser divulgados em revistas científicas e/ou em

congressos/eventos da área.

Declaro que compreendi a explicação que me foi fornecida sobre o estudo em questão,

nomeadamente os objetivos e os métodos.

Concordo com a participação neste estudo, de acordo com os esclarecimentos que me foram

prestados, como consta neste documento, do qual me foi entregue uma cópia.

Nome: _________________________________________________________________________

Assinatura: _____________________________________________________________________

Data: ____________________

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Inquérito

Dada a importância da sua resposta, por favor preencha cuidadamente. Obrigada pela

sua colaboração.

Parte A – Informação do aluno

1. Idade:

2. Sexo:

3. Nacionalidade:

4. Língua materna:

5. Língua que usa mais na vida quotidiana:

6. Há quantos anos estuda português? ( anos em Portugal)

7. Qual é o seu nível de proficiência da língua?

A1 A2 B1 B2 C1 C2

8. Profissão que quer ser depois do curso:

Professor/a de português tradutor/a outros

9. Maneiras utilizadas para aprender novas palavras

Nas aulas e nos textos usados em aula

Experiências da vida quotidiana (fazer compras, ir aos restaurantes, conviver

com os amigos portugueses, etc.)

Ver televisão e/ou ouvir rádios em português

Ler livros e/ou jornais em português

Fazer exercícios gramaticais

10. Tem dificuldade em compreender as palavras polissémicas (一词多义)?

Sim Não

Parte B – Exercícios

I. Faça tantas frases, quantos os sentidos (significados) que cada uma das seguintes

palavras pode ter.

Ex.: linha:

O aluno leu a primeira linha do texto.

Houve um acidente e a linha do comboio foi cortada.

A linha telefónica está com interferências.

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1. Nota:

2. Cartão:

3. Doce:

4. Deixar:

5. Terminar:

II. Identifique na coluna da direita o significado que as palavras polissémicas

adquirem em cada frase.

casa

1. Ele detém casas, vinhas e outras

possessões.

2. Ele não está em casa.

3. Temos de fazer casas para cinco

botões.

4. O próximo jogo é em casa.

5. É um homem ainda novo, aí na casa

dos quarenta.

a. Período de tempo correspondente a

dez anos, sobretudo na vida de

alguém.

b. Edifício, construção.

c. Estádio próprio de uma equipa.

d. Local onde se vive; domicílio,

morada.

e. Abertura na roupa onde prende o

botão.

1. – 2. – 3. – 4. – 5. –

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banco

1. No jardim havia bancos pintados de

verde, onde os mais velhos se

sentavam a ler o jornal.

2. Naquela zona, havia vários bancos

de areia, que dificultavam a entrada

e a saída das embarcações.

3. Houve muitas pessoas que retiraram

do banco as suas pequenas

poupanças.

4. Há um banco de sangue, portanto há

serviço de transfusões.

5. Os feridos foram transferidos para o

banco de urgência.

a. Instituição financeira cuja atividade

principal consiste em receber

depósitos e conceder créditos.

b. Extensa elevação do fundo do mar

ou dum rio quase até à superfície.

c. Departamento hospitalar para

consultas e tratamentos urgentes de

doentes externos.

d. Seção de hospital onde se

armazenam órgãos e/ou substâncias

orgânicas para posterior utilização

(transplantes, enxertos, etc.).

e. Assento comprido, com ou sem

encosto, para duas ou mais pessoas.

chave

1. Fechar a porta à chave.

2. Dá-me aquela chave de parafusos.

3. Ela deu muito dinheiro pela chave

do apartamento.

4. Ficou contente quanto finalmente

descobriu a chave para o problema.

5. O diálogo é a chave de todo o

entendimento.

a. Instrumento ou ferramenta que serve

para apertar ou desapertar (porcas,

parafusos, peças, etc.).

b. Símbolo da posse ou do usufruto de

algo.

c. Solução.

d. Elemento fundamental; ponto

essencial.

e. Instrumento que se introduz numa

fechadura para fazer mover a

lingueta, permitindo abri-la ou

fechá-la.

1. – 2. – 3. – 4. – 5. –

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ver

1. Gosto de ver lá fora quando está a

chover.

2. Adorou ver o jogo de futebol.

3. O tio vê a sobrinha todos os dias.

4. Vi, no jornal, que o Presidente vai à

Madeira.

5. Dizia-se que via o futuro nas cartas.

a. Perceber ou conhecer por meio dos

olhos.

b. Assistir a; presenciar.

c. Prever.

d. Visitar; percorrer.

e. Conhecer.

abandonar

1. No fim do verão as andorinhas

abandonam o nosso país e partem

para regiões mais quentes.

2. Ele abandonou a mulher.

3. Não devemos abandonar a nossa

saúde.

4. Abandonou os estudos para ajudar

os pais.

5. Ele abandonou-se à tentação e

comeu todos os chocolates que tinha

em casa.

a. Retirar-se de (um local); deixar.

b. Não fazer caso de; negligenciar.

c. Renunciar a; desistir de.

d. Repudiar.

e. Entregar-se.

1. – 2. – 3. – 4. – 5. –

1. – 2. – 3. – 4. – 5. –

1. – 2. – 3. – 4. – 5. –

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III. Indique o sentido da palavra assinalada no contexto da frase. Siga o exemplo.

Ex.: O hotel situa-se no coração da cidade do Porto. SENTIDO: centro

a) O Miguel corre para o pai sempre que sente medo. SENTIDO: ____________

b) O João é um bom rapaz. SENTIDO: ____________

c) Ele vai cumprir uma pena de 18 anos na prisão. SENTIDO: ____________

d) Hoje não há estrelas no céu. SENTIDO: ____________

e) Os investigadores ainda não detetaram a fonte da infeção. SENTIDO:

____________

f) O meu programa não está a correr. SENTIDO: ____________

g) Conseguimos um bom resultado na prova. SENTIDO: ____________

h) A Rita é a estrela da companhia. SENTIDO: ____________

i) É necessário indicar a fonte desta citação. SENTIDO: ____________

j) Sinto muita pena pela situação que o João vive. SENTIDO: ___________

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Soluções do Inquérito

II.

casa

banco

chave

ver

abandonar

III.

a) O Miguel corre para o pai sempre que sente medo. SENTIDO: refugiar-se

b) O João é um bom rapaz. SENTIDO: generoso

c) Ele vai cumprir uma pena de 18 anos na prisão. SENTIDO: castigo, punição

d) Hoje não há estrelas no céu. SENTIDO: astro, qualquer corpo celeste

e) Os investigadores ainda não detetaram a fonte da infeção. SENTIDO: foco

f) O meu programa não está a correr. SENTIDO: funcionar

g) Conseguimos um bom resultado na prova. SENTIDO: valioso, positivo

h) A Rita é a estrela da companhia. SENTIDO: pessoa que se destaca

i) É necessário indicar a fonte desta citação. SENTIDO: o texto original de uma obra

j) Sinto muita pena pela situação que o João vive. SENTIDO: mágoa, desgosto,

tristeza

1. – b 2. – d 3. – e 4. – c 5. – a

1. – e 2. – b 3. – a 4. – d 5. – c

1. – e 2. – a 3. – b 4. – c 5. – d

1. – a 2. – b 3. – d 4. – e 5. – c

1. – a 2. – d 3. – b 4. – c 5. – e

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Diversos significados das palavras dos exercícios

Conforme Dicionário da Língua Portuguesa, (1998), Porto Editora.

Exercício I

Nota:

nome feminino

1. apontamento sobre um assunto ou acontecimento

2. apontamento para fazer lembrar alguma coisa

3. pedaço de papel onde se fazem esses apontamentos

4. sinal que distingue pessoa ou coisa

5. observação, comentário ou explicação inserida num documento para esclarecer

uma palavra ou uma determinada parte do texto

6. exposição sucinta; comunicação breve; aviso

7. registo das escrituras dos notários

8. número ou letra que exprime o valor de um trabalho, de acordo comum a escala

oficial; classificação escolar

9. conhecimento; atenção

10. reputação; fama; importância

11. defeito

12. MÚSICA sinal representativo da altura e duração de um som

13. MÚSICA som que é representado por esse sinal

14. MÚSICA qualquer som musical

15. papel que representa determinado valor, emitido por um banco do Estado e

destinado a substituir a moeda metálica; papel-moeda

16. minuta; rascunho

Cartão

nome masculino

1. papel muito grosso, constituído por várias folhas coladas e prensadas; papelão

2. pedaço desse tipo de material, geralmente de formato retangular, usado para

diversos fins

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3. pequeno retângulo de papel espesso com o nome e o endereço de uma pessoa ou

de uma empresa, usado em contactos sociais ou profissionais; cartão de visita,

bilhete de visita

4. pequeno retângulo de cartolina ou plástico com a identificação e, por vezes, a

fotografia da pessoa que o possui

5. pequeno retângulo de plástico com uma banda magnética, emitido por uma

instituição bancária, que permite ao seu titular realizar diversas operações

financeiras (pagamentos, levantamentos, depósitos, consultas, transferências, etc.),

podendo ser usado em diferentes equipamentos, como terminais de pagamento

automático, caixas automáticas, etc.

Doce

adjetivo de 2 géneros

1. que tem sabor agradável como o do mel e o do açúcar

2. temperado com açúcar ou mel

3. meigo; suave; afetuoso

4. encantador

5. (água) que não é salgado

6. diz-se do vinho que contém mais de 45 gramas por litro de açúcar residual

nome masculino

1. o que tem sabor agradável como o do mel ou o do açúcar

2. qualquer confeção culinária em que entra açúcar ou outros adoçantes

Deixar

verbo transitivo

1. separar-se de

2. soltar de si; largar

3. abandonar

4. desistir de

5. desviar-se de

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6. consentir

7. abster-se

8. legar em testamento

9. omitir

verbo intransitivo

desistir

verbo pronominal

1.consentir

2.não obstar

verbo auxiliar

não continuar

Terminar

verbo transitivo e intransitivo

1. (fazer) chegar ao termo; concluir(-se); acabar; findar

2. pôr fim a; romper (relacionamento amoroso)

verbo transitivo

1. pôr termo a; acabar com

2. ocupar a extremidade de

3. servir de termo a; demarcar; delimitar

4. (palavra) apresentar (uma dada desinência)

Exercício II

Casa

1. qualquer edifício destinado a habitação

2. construção destinada a habitação, por oposição a apartamento; moradia, vivenda

3. cada uma das divisões de uma habitação; compartimento, dependência

4. local onde se vive; domicílio, morada

5. família, lar

6. compartimento anexo a um edifício

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7. estabelecimento comercial

8. empresa, firma

9. coloquial empresa, repartição, instituição ou estabelecimento onde se trabalha

10. conjunto dos membros de uma família

11. conjunto dos bens de uma família

12. conjunto de despesas domésticas

13. abertura na roupa onde prende o botão

14. cada uma das divisões dos tabuleiros de jogos

15. cada uma das divisões da tabuada

16. lugar ocupado por um algarismo em relação a outros do mesmo número

17. período de tempo correspondente a dez anos, sobretudo na vida de alguém

18. designação de certas repartições ou serviços públicos

19. conjunto de pessoas que estão adstritas ao serviço particular de um chefe de

Estado

20. conjunto de pessoas presentes num estabelecimento ou espetáculo; audiência,

assistência

21. conjunto de móveis e outros objetos que constituem o recheio de uma habitação

22. espaço delimitado por linhas em formulários, questionários e outros impressos

23. [com maiúscula] família da realeza ou da nobreza

24. alvéolo dos favos das abelhas

25. ASTROLOGIA cada uma das 12 divisões em que os astrólogos dividem o céu,

correspondentes a cada um dos signos do zodíaco

26. DESPORTO estádio, complexo desportivo ou cidade a que pertence um clube

desportivo

Banco

nome masculino

1. assento comprido, com ou sem encosto, para duas ou mais pessoas

2. assento de tampo quadrado ou redondo, sem braços nem encosto e destinado a

uma só pessoa; mocho, tamborete

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3. mesa de trabalho de carpinteiros, marceneiros e outros artífices

4. ECONOMIA instituição financeira cuja atividade principal consiste em receber

depósitos e conceder créditos

5. edifício onde funciona essa instituição

6. departamento hospitalar para consultas e tratamentos urgentes de doentes externos

7. secção de hospital onde se armazenam órgãos e/ou substâncias orgânicas para

posterior utilização (transplantes, enxertos, etc.)

8. figurado depósito ou coleção organizada de algum tipo de elementos

9. figurado lugar reservado a certa categoria de pessoas (em assembleia, tribunal,

etc.)

10. antiquado corpo coletivo de carácter consultivo, judicativo, etc.; conselho

11. tábua onde se sentam os remadores

12. DESPORTO conjunto dos jogadores suplentes que estão à disposição do

treinador de uma equipa desportiva para, durante a partida, entrarem em

substituição de algum dos jogadores titulares

13. GEOLOGIA extensa elevação do fundo do mar ou de um rio quase até à

superfície

14. cardume de peixes à superfície da água

15. mole de gelo flutuante

16. camada de pedra

ECONOMIA banco central

instituição bancária, normalmente pública, que em geral é responsável pela emissão

de moeda, pela fiscalização das instituições e da atividade financeira de um país,

pelo controlo do crédito, pela fixação das taxas de juro e pela divulgação de análises

e resultados económicos

Chave

nome feminino

1. instrumento que se introduz numa fechadura para fazer mover a lingueta,

permitindo abri-la ou fechá-la

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2. instrumento semelhante usado para dar corda a um relógio de parede, acionar um

mecanismo, etc.

3. instrumento ou ferramenta que serve para apertar ou desatarraxar (porcas,

parafusos, peças, etc.)

4. (sinal gráfico) chaveta

5. torneira metálica para tonéis e pipas

6. MÚSICA peça móvel dos instrumentos musicais de sopro, que serve para tapar e

destapar os orifícios

7. MÚSICA ferramenta própria para afinar instrumentos musicais de cravelhas

8. MÚSICA sinal gráfico que, colocado no início da pauta, em certas linhas, permite

a identificação das notas, determinando a altura a que devem ser tocadas; clave

9. figurado aquilo que permite o acesso a (estado, condição, etc.)

10. figurado elemento fundamental; ponto essencial

11. figurado símbolo da posse ou do usufruto de algo

12. figurado posição estratégica

13. figurado solução

14. palavra ou expressão que permite a decifração de um problema, enigma,

quebra-cabeças, etc.

15. fórmula que explica um código secreto, permitindo codificar e descodificar

mensagens

16. combinação de números, para efeito de apostas em diferentes tipos de jogos de

azar por sorteio (totoloto, euromilhões, etc.)

17. INFORMÁTICA senha que permite o acesso a um ficheiro, programa, etc.

18. DESPORTO (artes marciais) golpe através do qual se imobiliza o adversário,

pressionando ou torcendo-lhe as articulações

19. numa competição por eliminatórias, modo como se organizam os enfrentamentos

dos participantes até à final

20. ARQUITETURA pedra ou elemento que serve de remate a um arco ou abóbada

21. mecanismo que, num sistema de carris de ferro móveis, permite desviar um

comboio de uma linha para outra; agulha

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Ver

verbo transitivo

1. perceber ou conhecer por meio dos olhos

2. olhar para; contemplar; observar

3. assistir a; presenciar

4. reparar em; notar; divisar

5. tomar cuidado com; atender a

6. perceber; compreender

7. ponderar

8. deduzir

9. prever

10. imaginar

11. visitar; percorrer

12. conhecer

13. experimentar

14. examinar (um doente)

verbo intransitivo

possuir ou exercer o sentido da vista

verbo pronominal

1. observar-se; mirar-se

2. manter relação ou contacto

3. encontrar-se; achar-se

4. reconhecer-se

Abandonar

verbo transitivo

1. retirar-se de (um local); deixar

2. deixar ficar

3. pôr de parte; largar

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4. desamparar

5. não fazer caso de; negligenciar

6. renunciar a; desistir de

7. repudiar

verbo pronominal

1. entregar-se; ceder

2. dar-se

Exercício III

Correr

verbo intransitivo

1. deslocar-se rapidamente, a uma velocidade maior do que a de marcha

2. DESPORTO disputar uma prova de corrida

3. ir depressa; despachar-se

4. precipitar-se para ajudar

5. (lágrimas) sair em forma de corrente

6. (coisas) deslizar

7. circular; divulgar-se; propagar-se

8. (tempo) passar; ir passando; decorrer

verbo transitivo

1. percorrer; visitar

2. afugentar

3. mover, fazendo deslizar

4. estar sujeito a (risco)

5. fazer entrar (ferrolho)

6. INFORMÁTICA pôr (um programa) a funcionar

7. lidar (touros)

Bom

adjetivo

1. que é conforme ao uso a que é destinado; próprio

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2. de boa qualidade

3. que tem bondade

4. competente; eficiente

5. vantajoso

6. agradável

7. útil

8. saudável

9. saboroso

10. que funciona bem

11. perfeito

12. virtuoso; nobre

13. seguro; garantido

14. calão que é muito atraente, que é bem-feito

nome masculino

1. homem bondoso

2. gíria académica classificação escolar entre o suficiente e o muito bom

Pena

nome feminino

1. castigo; punição

2. DIREITO sanção aplicada pelo tribunal ao autor de um crime

3. desgosto; tristeza; dor

Estrela

nome feminino

1. ASTRONOMIA astro aparentemente fixo que tem luz e calor próprios

2. qualquer corpo celeste

3. figura radiada que sugere uma estrela

4. mancha branca na testa dos cavalos ou de outros animais

5. brinquedo de papel em forma de corpo celeste; papagaio

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6. figurado suposta influência (positiva ou negativa) de um corpo celeste sobre o

destino de uma pessoa; sorte

7. figurado pessoa que se destaca em determinada atividade e que serve de

referência a outras pessoas; guia

8. figurado pessoa que se torna notável no cinema, no teatro, na música, etc.; ator

ou atriz muito célebre

9. MILITAR insígnia representativa de distinção hierárquica usada no uniforme de

militares

10. sinal classificativo (pelo número) de hotéis, pensões, restaurantes, etc.

11. [pouco usado] sinal gráfico em forma de estrela

Fonte

nome feminino

1. lugar de onde brota água continuamente; nascente

2. água que nasce do solo

3. bica por onde corre água

4. construção provida de uma ou mais bicas ou torneiras por onde corre água

potável; chafariz

5. ANATOMIA cada um dos lados da região temporal

6. figurado origem; proveniência

7. figurado causa; motivo

8. figurado texto originário de uma obra

9. pessoa, instituição ou documento que constitui a origem de uma informação

10. qualquer substância ou objeto que produz energia, luz ou calor

11. TIPOGRAFIA conjunto de caracteres com o mesmo estilo, tamanho e face

12. chaga aberta com cautério

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Tabelas dos resultados do exercício III

a) O Miguel corre para o pai sempre que sente medo. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

Respostas Quantidade

1 vai 5

2 跑(correr) 4

3 não completou 3

4 andar 2

5 correr 2

6 andar rápido 1

7 aproximar-se a 1

8 corrida 1

9 de pé muito rápido 1

10 ir a pé rapidamente 1

11 ir ter com alguém 1

12 mover 1

13 pedir ajuda 1

14 recorrer 1

15 recorrer a 1

16 run to 1

17 seguir 1

18 去(ir) 1

19 羞愧(vergonha) 1

Respostas do grupo B

1 correr 4

2 não completou 3

3 desembestar 2

4 奔向 (desenfrear) 2

5 跑(correr) 2

6 amar 1

7 anda rápido 1

8 andar 1

9 andar rápido à pé 1

10 é 1

11 enfrentar 1

12 forward 1

13 mostra 1

14 passar 1

15 sentir-se 1

16 vai com velocidade 1

17 赶走(despedir) 1

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18 经历(experienciar) 1

19 跑向(correr a) 1

20 追(encalçar) 1

Respostas do grupo C

1 ir ter com 3

2 dirigir-se 2

3 ir com velocidade 2

4 ir depressa 2

5 andar 1

6 andar ou mover depressa 1

7 andar rapidamente 1

8 deslocar 1

9 dirigir-se a 1

10 enfrentar 1

11 ficar 1

12 foi 1

13 ir 1

14 ir correado 1

15 ir rapidamente 1

16 não completou 1

17 pedir ajuda 2

18 recorrer a 1

19 run 1

20 sair rapidamente 1

21 vivem juntos 1

b) O João é um bom rapaz. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

1 excelente 7

2 simpático 5

3 好的(bom) 5

4 ótimo 2

5 好 (bem) 2

6 bem comportado 1

7 boa personagem 1

8 boa qualidade 1

9 good 1

10 honesto 1

11 não é mau 1

12 sincero 1

13 tem bom coração 1

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14 tem muitas capacidades 1

Respostas do grupo B

1 simpático 5

2 excelente 3

3 boa qualidade 3

4 bondoso 2

5 ótimo 2

6 好的(bom) 2

7 优秀(excelente) 2

8 behave bem 1

9 delicado 1

10 fixe 1

11 maravilhoso 1

12 melhor 1

13 perfeito 1

14 qualidade 1

15 品行优良 (boa qualidade) 1

16 善良的(bondoso) 1

Respostas do grupo C

1 simpático 7

2 boa qualidade 4

3 excelente 3

4 bondoso 2

5 que tem bondade 2

6 alta qualidade de característica 1

7 bonito 1

8 contrário de mau 1

9 correto moralmente 1

10 good 1

11 moral 1

12 nada de mau 1

13 não completou 1

14 saudável 1

c) Ele vai cumprir uma pena de 18 anos na prisão. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

1 castigo 12

2 刑罚(punição) 3

3 遗憾(lamento) 2

4 apenas 1

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5 baixo 1

6 compromisso 1

7 condenado 1

8 crime 1

9 não completou 1

10 punishment 1

11 prisão 1

12 punição 1

13 sentença 1

14 só 1

15 惩罚 (castigo) 1

16 罪(crime) 1

Resposta do grupo B

1 não completou 4

2 punição 3

3 castigo 2

4 acessão 1

5 açoitamento 1

6 alguma coisa contra o lei 1

7 arrependimento 1

8 condição 1

9 culto 1

10 deploração 1

11 less than 1

12 limite 1

13 mais ou menos 1

14 penalty 1

15 punibilidade 1

16 punição por lei a algum crime 1

17 punir 1

18 懊悔 (arrependimento) 1

19 处罚 (castigo) 1

20 仅 (apenas) 1

21 遗憾 (lamento) 1

22 冤屈 (injustiça) 1

Respostas do grupo C

1 castigo 10

2 punição 8

3 crime 1

4 entre 1

5 multa 1

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6 não completou 1

7 preso 1

8 período 1

9 prisão 1

10 punibilidade 1

11 刑罚 (punição) 1

d) Hoje não há estrelas no céu. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

1 星星(astro) 11

2 astro 9

3 não completou 3

4 stars 3

5 luz 1

6 planeta 1

7 planeta com iluminação 1

8 uma coisa tem luz no céu 1

Respostas do grupo B

1 星星 (astro) 12

2 astro 3

3 alguma coisa faz luz no céu 1

4 astro fixo que tem luz própria 1

5 astronomia 1

6 celeste 1

7 corpo celeste 1

8 estrela 1

9 nada 1

10 não completou 1

11 normal 1

12 nuvens 1

13 planeta 1

14 star 1

15 um tipo de assunto astronómico 1

Respostas do grupo C

1 planeta 5

2 astro 3

3 astro fixo que tem luz 3

4 星星 (astro) 3

5 estrelas 2

6 astro aparentemente fixo 1

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7 corpo celeste 1

8 esfera 1

9 estrelas no céu 1

10 não completou 1

11 objeto físico 1

12 objeto no céu que brilha à noite 1

13 os planetas que se podem ver a noite 1

14 star 1

15 uma coisa natural 1

e) Os investigadores ainda não detetaram a fonte da infeção. SENTIDO:

____________

Respostas do grupo A

1 origem 10

2 não completou 8

3 causa 3

4 ponte 3

5 根源(origem) 2

6 enfrente 1

7 iniciador 1

8 起源(origem) 1

9 源头(origem) 1

10 注射(injeção) 1

Respostas do grupo B

1 origem 9

2 não completou 8

3 causa 2

4 início 2

5 来源(fonte, origem) 2

6 源头(origem) 2

7 procedência 1

8 razão 1

9 泉(manancial) 1

Respostas do grupo C

1 origem 12

2 causa 6

3 não completou 3

4 cabeça 1

5 começo 1

6 intermediário 1

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7 meios 1

8 original 1

9 razão 1

f) O meu programa não está a correr. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

1 funcionar 13

2 não completou 2

3 proceder 2

4 realizar-se 2

5 进行(proceder) 2

6 acabar 1

7 acontecer 1

8 começar 1

9 continuar 1

10 fazer 2

11 passar 1

12 progredir 1

13 progresso 1

Respostas do grupo B

1 funcionar 8

2 continuar 4

3 não completou 4

4 executar 3

5 agradável 1

6 certo 1

7 começar 1

8 desenvolver 1

9 efetuar 1

10 iniciar 1

11 processo 1

12 trabalhar 1

13 进行 (proceder) 1

Respostas do grupo C

1 funcionar 12

2 continuar 2

3 efetuar 2

4 apresentar 1

5 começar 1

6 continuar 1

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7 decorrer 1

8 decorrer 1

9 desenvolver 1

10 executar 1

11 exercer 1

12 praticar 1

13 processar 1

14 realizar-se 1

g) Conseguimos um bom resultado na prova. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

1 好的 (bom, boa) 5

2 não completou 4

3 excelente 5

4 maravilhoso 2

5 satisfeito 2

6 alta nota 1

7 alto 1

8 boa 1

9 boa nota 1

10 de sucesso 1

11 good 1

12 ideal 1

13 melhor 1

14 perfeito 1

15 positivo 1

16 resultado que sonha 1

17 恰当的 (adequado) 1

18 优秀的 (excelente) 1

Respostas do grupo B

1 não completou 7

2 satisfeito 4

3 perfeito 3

4 agradável 2

5 boa 2

6 conveniente 2

7 excelente 1

8 fantástico 1

9 não é mal 1

10 perfeito 1

11 positivo 1

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12 好 (bom, boa) 1

13 优秀的 (excelente) 1

14 有利的(vantajoso) 1

Respostas do grupo C

1 satisfeito 4

2 positivo 3

3 alto 2

4 excelente 2

5 nota alta 2

6 satisfatório 2

7 好的 (bom, boa) 2

8 bem 1

9 boas notas 1

10 contrário de mal 1

11 esperado 1

12 favorável 1

13 great 1

14 ideal 1

15 não completou 1

16 suficiente 1

17 superior 1

h) A Rita é a estrela da companhia. SENTIDO: ____________

Respostas do grupo A

1 明星(pessoa que se destaca, pessoa famosa) 5

2 famosa 3

3 não completou 3

4 pessoa popular 3

5 funcionária excelente 2

6 modelo 2

7 boa amiga 1

8 bom funcionário que tem muito inteligência 1

9 célebre 1

10 centro 1

11 chave 1

12 elemento 1

13 especial 1

14 extraordinária 1

15 good staff 1

16 o mais famoso 1

17 pessoa importante 1

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18 pessoa que destaque 1

Respostas do grupo B

1 明星(pessoa que se destaca, pessoa famosa) 4

2 não completou 3

3 pessoa excelente 3

4 pessoa famosa 3

5 ator 2

6 superstar 2

7 alguém 1

8 artista famosa 1

9 chefe 1

10 figura 1

11 importante 1

12 modelar 1

13 pessoa 1

14 pessoa reconhecida 1

15 popular 1

16 行星(planeta) 1

17 引路人(indicador) 1

Respostas do grupo C

1 pessoa famosa 4

2 famosa 3

3 pessoa que se destaca 3

4 uma pessoa conhecida 2

5 astro 1

6 celebridade 1

7 central 1

8 centro das atenções 1

9 conhecidos 1

10 foco de público 1

11 funcionária excelente 1

12 funcionária famosa 1

13 não completou 1

14 o melhor 1

15 pessoa com grande influência 1

16 pessoa importante 1

17 superstar 1

18 talent 1

19 明星(pessoa que se destaca, pessoa famosa) 1

i)É necessário indicar a fonte desta citação. SENTIDO: ____________

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Respostas do grupo A

1 não completou 7

2 origem 7

3 来源 (origem) 3

4 lugar 2

5 泉 (manancial) 2

6 base 1

7 chave 1

8 dados 1

9 explicação 1

10 proveniência 1

11 primeira pessoa 1

12 recurso de onde vem a informação 1

13 前端 (ponto enfrente) 1

14 桥 (ponte) 1

Respostas do grupo B

1 não completou 7

2 origem 7

3 来源 (origem) 5

4 referência 2

5 anatomia 1

6 causa 1

7 começar 1

8 documento que fornece uma informação 1

9 motivo 1

10 significado mais profundo 1

11 原由 (razão) 1

Respostas do grupo C

1 origem 14

2 link 1

3 referência 1

4 maneira 1

5 lugar original 1

6 texto original 1

7 proveniência 1

8 onde vem 1

9 origem dos documentos onde ver 1

10 o lugar onde achou 1

11 documento original 1

12 lugar onde citação fica 1

13 origem do texto 1

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14 não completou 1

j) Sinto muita pena pela situação que o João vive. SENTIDO: ___________

Respostas do grupo A

1 遗憾 (pena) 6

2 não completou 4

3 dó 2

4 lamentável 2

5 lamento 2

6 simpatia 2

7 可惜 (pena) 2

8 a paixão 1

9 compaixão 1

10 desculpa 1

11 empatia 1

12 maneira 1

13 mau 1

14 pity 1

15 simpatizar 1

16 triste 1

17 tristeza 1

Respostas do grupo B

1 可惜(pena) 5

2 não completou 4

3 遗憾(pena) 4

4 arrepender 3

5 compaixão 3

6 triste 3

7 desculpa 1

8 infeliz 1

9 lamentar 1

10 lástima 1

11 punição 1

12 tristeza 1

Respostas do grupo C

1 lamento 3

2 piedade 3

3 tristeza 3

4 遗憾(pena) 3

5 compaixão 2

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6 lamentação 2

7 não completou 2

8 triste 2

9 arrependida 1

10 dó 1

11 mau 1

12 misericórdia 1

13 simpatia 1

14 simpatização 1

15 sentir-se perde algo 1