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Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
415
QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE TRIGO TRATADAS PARA CONTROLE DE PRAGAS DE
ARMAZENAMENTO
Cairo Cezar Ferreira1 Francisco Amaral Villela²
Aline Klug Radke³ Luís Eduardo Panozzo4
O trigo (Triticum aestivum L.), pertencente à família
Poaceae, é cultivado em todos os continentes, e seu consumo
aumenta anualmente no Brasil e no mundo (Corrêa, 2015). O
cultivo de trigo contribui para a viabilização econômica da
propriedade produtora de milho e soja auxiliando na melhoria do
solo pela da incorporação de restos culturais.
O trigo está presente na alimentação humana há cerca de
10 mil anos. Da região da Mesopotâmia, distribuiu-se pelo
mundo. Na Europa, o cultivo do trigo expandiu-se nas regiões
mais frias, como Rússia e Polônia. Pelas mãos dos europeus, no
século XV, alcançou as Américas. No Brasil, chegou em 1534,
trazido por Martim Afonso de Souza, porém só a partir da década
de 1940, as áreas de cultivo de trigo começaram a se expandir
no Rio Grande do Sul e no Paraná, que se transformou no
principal Estado produtor no Brasil (ABITRIGO, 2012).
Pesquisas na área de sementes permitiram aumentar a
área cultivada e o rendimento da cultura de trigo. Atualmente, a
produção de trigo no Brasil se encontra nas regiões Centro-
oeste, Sudeste e Sul. O Rio Grande do Sul produziu 1,5 milhões
de toneladas na safra 2014/15, ocupando a segunda colocação
1 Eng. Agr., Mestre Profissional em C&T de Sementes, PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. ² Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. E-mail [email protected] ³ Eng. Agr., Doutoranda do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. 4 Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel.
Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
416
dos estados maiores produtores desse cereal (CONAB, 2015).
Nesse contexto, há necessidade da adoção de práticas culturais
para preservar a qualidade das sementes, sendo o tratamento de
sementes pós colheita uma das etapas importantes para um bom
armazenamento.
O trigo semeado na região meridional do Brasil (Norte e
Oeste do Paraná, Sul e Sudoeste de São Paulo e Mato Grosso
do Sul) tem apresentado problemas de qualidade de sementes,
especialmente em razão de ocorrência de chuvas no período de
pré-colheita e de danos mecânicos causados na colheita,
secagem e armazenamento (OHLSON et al., 2010).
A obtenção de sementes de alta qualidade somente
acontece se há manejo adequado durante sua produção,
colheita, beneficiamento, armazenamento e transporte. O
armazenamento dos lotes de sementes deve ser criterioso.
Semente de qualidade superior pode ser chamada aquela que
após o período de armazenamento ainda manterá sua
capacidade de gerar uma plântula normal, mesmo em ambientes
desfavoráveis (CORRÊA, 2015).
Pós-colheita, pragas de armazenamento e tratamento
de sementes
A pós-colheita de sementes e grãos é um processo
dinâmico que demanda conhecimentos específicos, assim como
tecnologia especializada e cuidados constantes. Entre esses
cuidados, está a preocupação com a infestação causada por
insetos pragas de produtos armazenados (LIMA JÚNIOR, 2012).
O armazenamento de sementes de trigo ocorre no verão,
recebendo interferência de fatores como temperatura, umidade
relativa do ar e insetos-pragas de armazenamento (OHLSON et
al., 2010). Dentre os insetos-pragas de armazenamento, em
especial Sitophilus zeamais, S. oryzae, Rhyzopertha dominica,
Ephestia kuehniella e Ephestia elutella podem ser responsáveis
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
417
pela deterioração física, fisiológica e sanitária do lote de
sementes no armazenamento (LORINI, 2008).
O conhecimento dos hábitos alimentares de cada inseto-
praga constitui fator importante para definir o manejo a ser
aplicado durante o período de armazenamento. Segundo esse
hábito, os insetos-pragas podem ser classificados em primários
ou secundários.
Os insetos-pragas primários atacam sementes e grãos
inteiros e sadios e dependendo da parte que atacam podem ser
denominados insetos-pragas primários internos ou externos. Os
primários internos perfuram as sementes e nestas penetram para
completar seu desenvolvimento. Alimentam-se de todo o tecido
de reserva da semente e possibilitam a instalação de outros
agentes de deterioração. Exemplos desses insetos-pragas são
as espécies Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae e Sitophilus
zeamais. Os insetos-pragas primários externos destroem a parte
exterior da semente (cobertura protetora) e, posteriormente,
alimentam-se da parte interna sem, no entanto, se
desenvolverem no interior. Há destruição da semente apenas
para fins de alimentação. Como exemplo cita-se a Plodia
interpunctella (LORINI, 2008).
Os insetos-pragas secundários não conseguem atacar
sementes e grãos inteiros, pois dependem que estes estejam
danificados ou quebrados para que possam alimentar-se. Esses
insetos-pragas encontram-se nas sementes trincadas, quebradas
ou mesmo danificadas por insetos-pragas primários e,
geralmente, ocorrem desde o período de recebimento até o de
beneficiamento dos lotes de sementes. Multiplicam-se
rapidamente e causam prejuízos elevados. Como exemplos
citam-se as espécies Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus
surinamensis e Tribolium castaneum (LORINI, 2008).
A descrição, a biologia e os danos de cada inseto-praga
devem ser conhecidos, para que seja adotada a melhor
estratégia para evitar os respectivos prejuízos, Lorini et al (2009)
destaca que existem dois principais grupos de insetos-pragas
que atacam as sementes de trigo armazenadas, besouros e
Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
418
traças. Entre os besouros encontram-se as espécies: R.
dominica, Sitophilus oryzae, S. zeamais. As espécies de traças
mais importantes são Sitotroga cerealella, Ephestia kuehniella e
Ephestia elutella. Entre esses insetos-pragas, R. dominica, S.
oryzae e S. zeamais ( gorgulho do cereais) são os mais
preocupantes economicamente e justificam a maior parte do
controle químico praticado nos armazéns de sementes.
Os insetos-pragas que comumente infestam unidades de
beneficiamento de sementes precisam ser controlados para
evitar os prejuízos à qualidade e à comercialização das
sementes. Para isto, é necessário medidas de controle como a
limpeza das instalações, assim como a limpeza e secagem das
sementes para evitar o ataque de insetos-pragas (Lorini, 2008;
Lorini et al. 2009).
Os insetos-pragas de armazenamento são limitadores da
conservação de sementes de trigo, pois danificam o produto
dificultando ou inviabilizando sua utilização, causando perdas
qualitativas e quantitativas. As sementes requerem o uso de
medidas preventivas, caso não estejam infestadas e curativas se
infestadas por insetos-pragas, para garantir a preservação da
qualidade fisiológica e sanitária durante o período de
armazenamento.
Dependendo das condições ambientais em que as
sementes são armazenadas, especialmente trigo, pode ocorrer
incremento da incidência de insetos-pragas, o que exige a
adoção de medidas preventivas e corretivas de controle de
insetos-pragas para evitar ou minimizar danos causados às
sementes armazenadas. Dentre estas medidas o expurgo, o
tratamento de sementes com inseticidas e o uso de terra de
diatomáceas, podem constituir-se em técnicas eficientes no
controle de insetos-pragas durante o armazenamento de
sementes de trigo.
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
419
Sementes de trigo, tratamentos preventivos e
curativos
Para evitar o desenvolvimento ou eliminar insetos-pragas
presentes na massa de grãos e sementes, torna-se necessária a
adoção de medidas de controle que podem ser preventivas ou
curativas.
O controle químico de insetos-pragas de grãos
armazenados é realizado, normalmente, com inseticidas
protetores, que apesar de eficazes podem causar intoxicações
aos aplicadores, presença de resíduos tóxicos nos grãos e o
desenvolvimento de populações de insetos-pragas resistentes
(BENHALIMA et al., 2004). Detalhes sobre os inseticidas
recomendados, como doses, nomes comerciais, intervalo de
segurança, formulações, classe toxicológica e empresa
registrante, podem ser buscados no trabalho de LORINI et al.
(2009), apresentados na Tabela 1.
Um dos problemas que tem aumentado no Brasil refere-se
à resistência de pragas ao pequeno número de inseticidas
registrados no país. Já foram detectadas raças resistentes aos
inseticidas químicos utilizados para controle. Torna-se, portanto,
urgente a necessidade de se fazer o manejo integrado de pragas,
para que se possa preservar estes inseticidas por maior tempo,
devido à dificuldade de substituição (LORINI, 2008).
Para o controle preventivo, dentre os pós-inertes, os mais
utilizados para o controle de insetos-pragas são as argilas e
areias, terra de diatomáceas, sílica aerogel (silicato de sódio) e
não derivados de sílica (rochas fosfatadas) (KLJAJIC et al.,
2009). Dentre estes, a terra de diatomáceas destaca-se no
controle prevde insetos-pragas de grãos e sementes
armazenadas (LORINI et al., 2009).
A terra de diatomáceas é obtida de depósitos de
carapaças de algas diatomáceas oriundas da era Cenozóica,
constituídas predominantemente de sílica amorfa (dióxido de
sílica). Existem aproximadamente 250 gêneros e 8.000 espécies
de algas diatomáceas, cujas carapaças ricas em sílica foram
Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
420
sendo depositadas há mais ou menos 20 a 80 milhões de anos
no fundo dos oceanos e lagos, formando camadas que podem ter
de poucos centímetros a centenas de metros. As camadas
depositadas principalmente em águas marinhas são extraídas e
trituradas formando um pó fino, semelhante a talco, que é
utilizado no controle de insetos-pragas (SUBRAMANYAM e
ROESLI, 2000).
Conforme Fontes et al. (2010), o valor da diatomita e seu
largo uso são determinados pelas suas propriedades como a
forma de partículas, granulometria e composição química. Os
insetos- pragas morrem devido ao modo de ação da terra
diatomácea, que se dá pela desidratação ou dessecação, uma
vez que partículas do pó aderem ao corpo dos insetos e ocorre a
remoção da cera epicuticular, devido à abrasão no tegumento ou
a adsorção. Assim, o inseto perde água excessivamente e morre
(KORUNÌC, 1998).
O tratamento curativo deve ser realizado somente se
houver a infestação de insetos-pragas, através de expurgos com
fosfina, cujos efeitos na qualidade fisiológica das sementes ainda
não estão totalmente elucidados (BRIDI et al., 2010).
Para que o expurgo seja eficaz na mortalidade de todas as
fases de vida dos insetos-pragas de sementes armazenadas é
necessária uma concentração mínima de 400 mg.dm-3 de fosfina,
por período mínimo de 120 horas (DAGLISH et al., 2002). A
liberação da fosfina proveniente da formulação comercial em
pastilhas, única com registro no país, é dependente da
temperatura e umidade relativa do ar no local de aplicação.
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
421
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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
422
Quanto maior a temperatura e umidade relativa do ar, mais
rapidamente a concentração mínima necessária é atingida.
Assim, a taxa de liberação do gás fosfina proveniente das
pastilhas fumigantes, determinarão o tempo necessário de
duração do expurgo para a mortalidade total dos insetos-pragas,
uma vez que a exigência anterior seja atendida (LORINI et al.,
2011). A distribuição do gás deve ser uniforme em todos os
pontos da massa de sementes a serem tratadas, controlando
assim todos os insetos-pragas, nas suas diferentes formas do
ciclo de vida (LORINI et al., 2002).
A hermeticidade do local a ser expurgado, no caso lotes de
sementes, deve ser considerada para que se consiga esta
concentração pelo tempo necessário para garantir a eficácia do
processo (LORINI et al., 2009).
Sumarizando os métodos de controle de insetos-pragas de
sementes armazenadas, verifica-se a necessidade e o uso
adequado dos inseticidas registrados para controle dos insetos-
pragas (Tabela 1).
Desta forma o presente trabalho teve como o propósito de
determinar o efeito dos tratamentos inseticidas, aplicados para
controle de insetos-pragas durante o armazenamento, na
qualidade fisiológica das sementes de trigo.
Avaliação da qualidade fisiológica após tratamento
O experimento foi conduzido na Unidade de
Beneficiamento de Sementes (UBS) da Embrapa Produtos e
Mercado do Escritório de Londrina, em casa de vegetação e no
laboratório de Análise de Sementes da Embrapa Soja,
localizados no município de Londrina, PR. O período de duração
do trabalho foi de setembro de 2010 a agosto de 2011.
As sementes, colhidas em setembro de 2010, com
umidade média de 13%, foram pré-limpas e armazenadas em
silos ventiláveis até serem beneficiadas e tratadas em dezembro
de 2010.
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
423
Após o beneficiamento, foram segregados quatro lotes de
sementes de trigo, cultivar BRS 210, produzidos na safra
2010/2010 e aplicados os tratamentos inseticidas em três, cada
um com 1.850 kg, acondicionados em sacaria de papel
multifoliado com capacidade para 25 kg, deixando o quarto lote,
de 25 kg, como testemunha sem aplicação de inseticida.
Os tratamentos consistiram em:
a) Expurgo com fosfina na dose de 2,0 g de i.a. .m-3 (2
pastilhas de 3 g cada de Fertox.m-3). Depois de beneficiadas e
ensacadas, as sementes foram cobertas com lona de expurgo e
colocados pesos do tipo “cobras de areia” ao redor do lote
garantindo a hermeticidade. As pastilhas foram colocadas em
caixinhas medindo 10x10x10 cm nos dois lados do lote, no piso
do armazém. Durante o expurgo de 216 horas foi monitorada a
concentração do gás fosfina, diariamente, medindo a quantidade
de gás liberado pelas pastilhas fumigantes. Para medição foi
usado o medidor de concentração Silo Chek, cuja leitura máxima
é de 2.000 mg.dcm-3.
b) Tratamento químico líquido aplicado logo após o
beneficiamento das sementes, usando pirimiphos-methyl a 6 g de
i.a. .t-1 (12 mL de Actellic 500 EC.t-1) + bifenthrin a 0,4 g de i.a. .t-1
(16 mL de ProStore 25 CE.t-1). Para aplicação dos inseticidas nas
sementes foi usado o tratador modelo Grazmec, de modo que as
sementes receberam a calda inseticida, no volume de 2,0 l.t-1, à
medida que eram homogeneizadas no tratador e, posteriormente,
embaladas em sacarias valvuladas de papel multifoliado e
formados os blocos;
c) Pó inerte aplicado logo após o beneficiamento das
sementes, usando terra de diatomáceas a 860 g.i.a. .t-1 (Keepdry
a 1000 g.t-1). Para aplicação da terra de diatomáceas nas
sementes foi usado o tratador modelo Grazmec, de forma que as
sementes receberam o pó inerte dentro de um duto com
helicóide, na quantidade de 1000 g de Keepdry.t-1 de sementes.
Depois de homogeneizadas no tratador foram embaladas em
sacarias valvuladas de papel multifoliado e formados os blocos.
Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
424
Após o tratamento e a formação dos blocos, as sementes
foram armazenadas sob condições ambientais não controladas
de temperatura e umidade relativa do ar, por um período de seis
meses, de dezembro de 2010 a julho de 2011.
Foi monitorada a presença de insetos-pragas de sementes
armazenadas, através da ficha de monitoramento de pragas,
realizada quinzenalmente durante todo o período experimental.
Nos lotes de sementes tratados com inseticidas, as
amostras foram retiradas mensalmente no período de janeiro a
julho de 2011. Todavia, no lote testemunha, as amostras foram
retiradas mensalmente no período de janeiro a abril de 2011,
uma vez que o lote encontrava-se com elevada infestação por
insetos-pragas, correndo- se o risco de contaminação de toda a
UBS e, por isto, foi descartado.
Para avaliação da germinação, emergência e vigor
(envelhecimento acelerado), mensalmente foram coletadas
amostras nos quatro lotes de sementes e levadas ao Laboratório
de Análise de Sementes e à casa de vegetação. As amostras de
cada lote de sementes foram provenientes de 15 subamostras,
retiradas com calador simples, formando uma amostra
representativa do lote.
As amostras de sementes foram submetidas às seguintes
avaliações:
Germinação – foram utilizados rolos de papel, com quatro
subamostras de 50 sementes cada, semeadas em papel
Germitest umedecidas com quantidade de água, equivalente a
duas vezes e meia a massa do substrato seco, e colocadas em
germinador a 20°C. As avaliações foram realizadas conforme as
Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009) e os
resultados expressos em porcentagem de plântulas normais.
Emergência de plântulas em casa de vegetação − foram
semeadas quatro subamostras de 50 sementes, em caixas
plásticas contendo areia lavada e esterilizada. Foram efetuadas
irrigações periódicas e as avaliações, realizadas após 21 dias da
semeadura, por meio de contagem das plântulas emergidas,
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
425
sendo os resultados expressos em porcentagem de plântulas
emergidas.
Teste de envelhecimento acelerado − conduzido com
quatro subamostras de 50 sementes, foi utilizado de caixas
plásticas tipo gerbox, com compartimento individual
(minicâmaras), contendo 40 mL de água, uma bandeja de tela de
alumínio, onde as amostras de sementes foram distribuídas
formando uma camada uniforme. As caixas foram mantidas em
incubadora por 60 horas a 42ºC. Decorrido o período de
envelhecimento, as amostras foram submetidas ao teste de
germinação, seguindo metodologia descrita anteriormente,
(KRZYZANOWSKI et al., 1999).
Os resultados da medição da concentração de fosfina
durante o expurgo das sementes foram representados
graficamente e os dados de germinação e vigor (envelhecimento
acelerado) foram submetidos à análise de variância. Para análise
estatística, os dados foram transformados em raiz quadrada de
x+1. Para as análises estatísticas, foi utilizado o software SASM -
Agri (CANTERI et al., 2001).
Obtenção de dados
As análises dos resultados mostraram que os tratamentos
com inseticidas foram eficazes na prevenção e controle dos
insetos-pragas de sementes de trigo, deixando-as isentas de
infestação (Tabela 2).
O monitoramento do gás fosfina durante o expurgo
demonstrou a manutenção da concentração mínima necessária
para eliminar todas as fases de vida dos insetos- pragas,
garantindo a eficácia do tratamento (Figura 1). Em menos de 24
h, a concentração da fosfina ultrapassou 1.000 mg.dcm-3 e
manteve-se acima desse nível, até sete dias (168 h) após a
aplicação (Figura 1). Estes resultados evidenciam o período de
ação e a capacidade de difusão da fosfina na pilha e no interior
dos sacos de sementes. Além disso, vale destacar o cuidado
necessário devido à persistência do produto.
Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
426
Tabela 2 – Concentração de fosfina em diferentes partes do lote de sementes de trigo no período de 216 horas - (mg.dcm-3) de fosfina.
Pontos de
medição da
fosfina* no lote
Concentração de fosfina (mg/dcm-3)/Tempo após a
liberação da fosfina (horas)
3 24 48 72 96 120 144 168 192 216
Inferior
esquerda 333 1940 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1745 1403 1041 805 653
Superior
esquerda 238 1913 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1785 1344 1027 661 660
Inferior direita 339 1880 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1708 1322 1018 823 653
Superior direita 340 1894 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1720 1321 1022 673 656
Centro 330 1975 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1741 1365 1070 678 671
Dentro do saco
de sementes 282 1883 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1737 1310 1023 741 595
Média 310 1914 ≥2000 ≥2000 ≥2000 1739 1344 1034 730 648
*Fosfina a 2 g/m3 de PH3( = 6 g/m3 de Fertox = 2 pastilhas por m3)
Figura 1 - Concentração de fosfina (PH3) durante o período de expurgo de sementes de trigo cultivar BRS 210. Embrapa Produtos e Mercado - Escritório de Londrina, 2010.
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
427
Os resultados das avaliações de germinação e emergência
em casa de vegetação não diferiram entre os tratamentos
empregando fosfina, inseticidas líquidos e terra de diatomáceas
(Tabela 2), nas sete épocas de avaliação. Todavia, as sementes
não submetidas aos tratamentos inseticidas apresentaram
germinação nula aos 90 dias e emergência em areia aos 120
dias de armazenamento. Entre março e abril (30 dias) ocorreu
uma redução de 40 pontos percentuais na emergência em areia
das sementes não tratadas.
Em análise geral, as sementes submetidas aos três
tratamentos inseticidas apresentaram ao final de sete meses de
armazenamento, em condições ambientais, uma redução média
de germinação e emergência de oito pontos percentuais
relativamente ao início do período de armazenamento. Esta
ocorrência pode ser atribuída às condições ambientais
prevalecentes durante o período de armazenamento, que embora
favoráveis, sempre há redução de qualidade, conforme destacam
Baudet e Villela (2012). Armazenando sementes de trigo,
cultivares IAC-24 e IAC-362, durante 12 meses com aplicação
trimestral de fosfina com exposição por 120h, Rocha Junior e
Usberti (2007) verificaram que a fosfina foi eficiente no controle
da infestação por insetos-pragas e a qualidade fisiológica das
sementes não tratadas decresceu mais rápida e acentuadamente
do que a das sementes expurgadas.
O teste de envelhecimento acelerado (Tabela 2) indicou
redução de vigor nas sementes não tratadas a partir do mês de
março (90 dias) em relação às sementes tratadas com
inseticidas. Esta ocorrência evidencia a redução antecipada de
vigor (Tabela 2) relativamente à germinação (Tabela 2),
concordando com as afirmações de Marcos Filho (2005). Vale
destacar que mesmo as sementes tratadas com inseticidas
apresentaram, de maneira geral, redução de vigor a partir de
quatro meses de armazenamento.
Pode-se observar que decorridos sete meses após o uso
dos tratamentos, o vigor das sementes reduziu drasticamente em
comparação ao primeiro mês de armazenamento. O vigor das
Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I
428
sementes de trigo, avaliado pelo teste de envelhecimento
acelerado, apresentou redução de 26 pontos percentuais nas
sementes tratadas com fosfina e 20 pontos percentuais nas
sementes que receberam terra de diatomáceas, em comparação
ao início do período de armazenamento.
Tabela 2 – Germinação, emergência de plântulas em casa de vegetação e envelhecimento acelerado em sementes de trigo submetidas aos tratamentos para controle de insetos-pragas durante o armazenamento. Londrina, PR, 2011.
Tratamentos
Meses
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul.
Germinação (%)
Testemunha (sem controle) 89 a 94 a 90 a - b - b - b - b
Expurgo com fosfina 93 a 93 a 90 a 87 a 94 a 90 a 89 a
Tratamento químico 96 a 96 a 96 a 92 a 90 a 92 a 88 a
Terra de diatomáceas 91 a 91 a 94 a 90 a 90 a 87 a 85 a
CV (%) 2,02 1,74 1,59 2,56 2 2,91 1,88
Emergência (%)
Testemunha (sem controle) 91 a 90 a 89 a 49 b - b - b - b
Expurgo com fosfina 94 a 91 a 88 a 89 a 90 a 89 a 86 a
Tratamento químico 93 a 92 a 93 a 91 a 88 a 92 a 86 a
Terra de diatomáceas 96 a 90 a 91 a 92 a 88 a 88 a 86 a
CV(%) 1,38 1,37 1,98 1,61 1,77 2,27 1,35
Envelhecimento acelerado (%)
Testemunha (sem controle) 62 a 61 a 50 b - b - b - b - c
Expurgo com fosfina 70 a 64 a 68 a 36 a 43 a 39 a 44 a
Tratamento químico 58 a 61 a 68 a 46 a 35 a 33 a 35 b
Terra de diatomáceas 56 a 59 a 67 a 38 a 45 a 38 a 36 b
CV (%) 4,94 4,7 5,56 11 9,03 13,29 6,07
* Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre
si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Tratamento com inseticida e qualidade fisiológica destas sementes
429
A utilização de 42°C, por 60h, no teste de envelhecimento
acelerado permitiu estimar os efeitos de tratamento, a
semelhança do verificado por Ohlson et al (2010), ao concluírem
que o teste de envelhecimento acelerado, utilizando temperatura
de 43⁰C, por 48 h, forneceu informações consistentes que
permitiram a diferenciação de lotes de sementes de trigo.
Uma análise geral dos resultados obtidos permite verificar
que os tratamentos com fosfina, inseticidas líquidos e terra de
diatomáceas permitiram um eficiente controle de insetos-pragas
durante os sete meses de armazenamento das sementes de
trigo, sob condições ambientais não controladas, mantendo
elevada a qualidade fisiológica até o final do período de
armazenamento.
Considerações finais
Os tratamentos com inseticidas foram eficazes na
prevenção e controle dos insetos-pragas de sementes. O
monitoramento do gás fosfina durante o expurgo demonstrou a
manutenção da concentração mínima necessária para eliminar
todas as fases de vida dos insetos-pragas.
Os inseticidas químicos e a terra de diatomáceas não
permitiram o desenvolvimento de insetos-pragas e não afetaram
negativamente a qualidade fisiológica das sementes de trigo
durante o armazenamento das sementes pelo período de sete
meses.
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