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A norma NBR 5413 - Iluminância de interiores [1] estabelece os valores de iluminâncias médias mínimas em serviço para iluminação ar- tificial em interiores, sendo a principal norma brasileira que rege a elaboração de projetos luminotécnicos. Datado de abril de 1992, o texto atual encontra-se desatualizado em relação às práticas re- comendadas internacionalmente, pois define apenas quantitativamente as ilu- minâncias requeridas em diversos ambi- entes e tarefas. A Comissão de Estudos de Aplicações Luminotécnicas e Medições Fotométri- cas (CE-03:034.04), da ABNT - Asso- ciação Brasileira de Normas Técnicas, vem trabalhando desde o final de 2009 na atualização dessa norma. Sua revisão abordará requisitos qualitativos da luz, tais como o controle de ofuscamento para evitar o desconforto e o índice de reprodução de cor mínimo da fonte lu- minosa para especificar os vários locais A revisão da norma brasileira de iluminância de interiores A NBR 5413, a principal norma para projetos luminotécnicos no Brasil, passa por atualização na Comissão de Estudo para Aplicações Luminotécnicas e Medições Fotométricas do Cobei. Este trabalho trata dos principais aspectos que a norma incorporará, dentre eles a adoção da iluminação de tarefa e de aspectos qualitativos, como controle de ofuscamento e definição de reprodução de cor mínima para a realização de atividades visuais. Juliana Iwashita Kawasaki, coordenadora da revisão da norma NBR 5413/ABNT ILUMINAÇÃO 146 EM JULHO, 2011 Svoboda

Qualidade na Iluminação de Interiores (pgs146-151)

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Anorma NBR 5413 - Ilu minân ciade interiores [1] esta belece osvalores de iluminâncias médias

mínimas em serviço para iluminação ar-tificial em interiores, sendo a principalnorma bra sileira que rege a elaboraçãode projetos luminotécnicos. Datado deabril de 1992, o texto atual encontra-se

desatualizado em relação às práticas re-comendadas internacionalmente, poisdefine apenas quantitativamente as ilu-minâncias requeridas em diversos ambi-entes e tarefas.

A Comissão de Es tu dos de Apli ca çõesLu minotécnicas e Medições Fo tomé tri - cas (CE-03:034.04), da ABNT - Asso -

cia ção Brasi lei ra de Normas Técnicas,vem trabalhando desde o final de 2009na atualização dessa norma. Sua revisãoabordará requisitos qualitativos da luz,tais como o controle de ofuscamentopa ra evitar o desconforto e o índice dere produção de cor mínimo da fonte lu -mi nosa para especificar os vários locais

A revisão da norma

brasileira deiluminância

de interiores

A NBR 5413, a principal normapara projetos luminotécnicos no Brasil, passa por atualizaçãona Comissão de Estudo paraAplicações Luminotécnicas eMedições Fotométricas doCobei. Este trabalho trata dosprincipais aspectos que anorma incorporará, dentre eles a adoção da iluminação de tarefa e de aspectosqualitativos, como controle de ofuscamento e definição de reprodução de cor mínimapara a realização de atividades visuais. Juliana Iwashita Kawasaki,

coordenadora da revisão da norma NBR 5413/ABNT

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Svoboda

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de trabalho e tipos de tarefas.Baseada na Norma Inter -

nacional ISO 8995-1 [2], ela -borada em conjunto com aCIE - Comissão Inter na cio -nal de Illuminação, a revisãoda NBR 5413 especificará osrequisitos de iluminação pa -ra locais de trabalho inter nose para o desempenho de tare-fas visuais de maneira efi -cien te, com conforto e segu-rança.

Novos aspectosA ISO 8995-1 aborda di-

versos parâmetros que con-tribuem para a qualidade doambiente luminoso, os quais não são le -vados em consideração na atual normabrasileira. Dentre eles, aborda a ilu-minância de tarefa e do entorno imedia-to (zona de no mínimo 0,5 m de larguraao redor da área da tarefa dentro docampo de visão), a distribuição da lumi -nância, o ofuscamento, o direcionamen-to da luz, os aspectos de cor da luz, cin-tilação, iluminação natural e manu ten -ção do sistema.

Iluminâncias recomendadas

A nova norma estabelecerá iluminân-cias mantidas sobre a área da tarefa, noplano de referência, que pode ser hori-zontal, vertical ou inclinado. A ilumi -nância mantida (Em) representa o valorabaixo do qual a iluminância média dasu perfície especificada não poderá ser re-duzido. Já a área da tarefa é a área par-cial em um local de trabalho no qual atarefa visual está localizada e é realizada,ou, quando a área é desconhecida, ondeela pode ocorrer.

A figura 1 [3] ilustra um exemplo deáreas da tarefa e do entorno imediato pa -ra um ambiente de escritório.

A iluminância média para cada tarefanão deverá estar abaixo dos valores esta-belecidos, independentemente da idade econdições da instalação. Desta forma, oprojetista deverá considerar fatores dedepreciação adequados para cada tipo deinstalação proposta.

Os valores especificados são válidospara uma condição visual normal e con-sideram os seguintes fatores: requisitospara a tarefa visual, segurança, aspectospsicofisiológicos, assim como conforto

visual e bem-estar, economia e experiên-cia prática. Os valores de iluminância po -derão ser ajustados em pelo menos umnível na escala da iluminância, se as con -dições visuais forem diferentes das as -sumidas como normais.

A iluminância deve ser aumentadaquando:• baixos contrastes fora do normal estãopresentes na tarefa;• o trabalho visual é crítico;• a correção dos erros é onerosa;• é da maior importância a exatidão ou aalta produtividade; ou• a capacidade de visão dos trabalha do -res está abaixo do normal.

A iluminância mantida necessáriapoderá ser reduzida quando:• os detalhes são de um tamanho extra-ordinariamente grande ou de alto con-traste; ou• a tarefa é realizada por um tempo ex-cepcionalmente curto.

Um fator de aproximada men te 1,5 re -presenta a menor diferença significativano efeito subjetivo da iluminância. Emcon dições normais de iluminação, apro -ximadamen te 20 lux de iluminância hori -zontal é exigida para diferenciar as cara c -terísticas da face humana, e é o menor

va lor considerado para a es-cala das iluminâncias.

A escala recomendada dasiluminâncias é: 20 – 30 – 50 –75 – 100 – 150 – 200 – 300 –500 – 750 – 1000 – 1500 –2000 – 3000 – 5000 lux. Emáreas onde um trabalho contí -nuo é realizado, reco men da-seque a iluminância man tida nãoseja inferior a 200 lux.

Um aspecto relevante nanor ma é que a adoção da ilu-minância no entorno imediatopode ser mais baixa que a ilu-minância da área da tarefa.A iluminância mantida dasáreas do entorno imediato

não deve ser inferior aos valores esta be -lecidos na tabela I.

A iluminância, porém, deve ser al te -ra da gradualmente. A área da tarefa de -ve ser iluminada o mais uniformementepos sível. A uniformidade da iluminância(ra zão entre o valor mínimo e o valormédio) na tarefa não deverá ser menorque 0,7 e a uniformidade da iluminânciano entorno imediato não deverá ser infe-rior a 0,5.

OfuscamentoOutro aspecto a ser incorporado à

norma é o controle de ofuscamento, vi -sando evitar erros, fadiga e acidentes. Oofuscamento é causado por luminânciasexcessivas ou contrastes no campo devisão e pode prejudicar a visualizaçãodos objetos.

A norma define três tipos de ofusca-mento:

Ofuscamento desconfortável – Sensa -ção visual produzida por áreas brilhantesdentro do campo de visão.

Ofuscamento inabilitador – Ofusca -men to mais intenso que o desconfortá -vel, mais comum na iluminação exterior,mas também pode ser experimentado emiluminação pontual ou fontes brilhantes

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Fig. 1 – Áreas de tarefa (amarelo claro) e entorno imediato(amarelo escuro)

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intensas, tais como uma janela em um es-paço relativamente pouco iluminado.

Ofuscamento refletido ou reflexões ve-ladoras – Causado por reflexões em su-perfícies especulares.

Para evitar o ofuscamento, a normadefine ângulos de corte mínimos (ângulomedido a partir do plano horizontal,abaixo do qual as lâmpadas são protegi-das da visão direta do observador pelaluminária) para proteção da visualizaçãodireta da lâmpada, conforme figura 2 etabela II.

Para reduzir o ofuscamento descon-fortável e inabilitador é adotado o méto-do UGR - Unified Glare Rating [4]. Anorma estabelece índices limites de ofus-camento unificado (UGRL - LimitingUni fied Glare Rating, valor máximo per-mitido do nível de ofuscamento unifica-do de projeto para uma instalação de ilu-minação) para as diversas atividades etarefas. Ao contrário dos outros métodos,como o diagrama de Sollner, onde o bri -lho é avaliado através de luminância deuma única luminária, este método calcu-la o ofuscamento da instalação de ilumi-nação como um todo através de umaposição de observação definida para umasala padrão.

As variações de UGR no interior doambiente podem ser determinadas uti-lizando-se o método tabular ou a fór -mula para diferentes posições do obser-vador. O cálculo do valorUGR também pode ser obtidocom programas de cálculo lu-minotécnico, como DIALux eAGI32.

O UGR é definido atravésde uma escala onde cada ní -vel representa uma mudançasignificativa no efeito doofus camento e 13 representa

o ofuscamento desconfortável menosperce ptível.

Os valores da escala UGR são: 13 –16 – 19 – 22 – 25 – 28.

A tabela III apresenta exemplos delimites máximos de UGRL.

Para reduzir as reflexões especularesem uma tarefa visual, é recomendado:• posicionar luminárias e locais de tra-balho de modo a evitar colocar lumi ná -rias na zona prejudicada;• utilizar superfícies com materiaispouco reflexivos;• limitar as lumi nâncias das luminárias; • aumentar a área luminosa da lumi -nária; e• evitar pontos bri lhantes no teto e nassuperfícies da parede.

Aspectos da cor

A proposta de norma caracteriza doisatributos da cor e considera-os separa -damente:

Temperatura de cor correlata (Tcp):aparência de cor da lâmpada; e

Índice de reprodução de cor (Ra): ca-pacidade que afeta a aparência da cor deobjetos e das pessoas iluminadas pelalâmpada.

A escolha da aparência da cor paracada ambiente dependerá de uma análisedo projetista, em função de diversos fa-tores como a iluminância, as cores dasala e mobiliário, clima e aplicação. Em

climas quentes, geralmente é preferen-cial a aparência de cor de uma luz maisfria, e em climas frios, é preferencial aaparência da cor de uma luz mais quente.

A norma faz recomendações pontuaispara algumas atividades, tais como: Tcp

mínima de 4000 K para áreas de ins pe -ção de cor, salas de atendimento mé dico,áreas de trabalho de precisão e trabalhocom pedras preciosas.

Quanto à reprodução de cor, foi intro-duzido um índice geral de reprodução decor (Ra), a fim de fornecer uma indicaçãoobjetiva das propriedades de reproduçãode cor referentes a uma fonte luminosa.

Recomenda-se que as lâmpadas comRa menor que 80 não sejam utilizadas eminteriores onde as pessoas trabalham oupermanecem por longos períodos, po-dendo haver exceções para a iluminaçãode galpões industriais e para iluminaçãoexterna.

Principais discussõesA compatibilização da NBR 5413

com as normas internacionais, ISO 8995-1/CIE S008 e EN 12464-1 [5], possibili-ta a atualização da norma brasileira e suapadronização com outros países, favore-cendo acordos comerciais internacionais.

Observa-se que, para alguns ambien -tes e atividades, as iluminâncias reco -mendadas pela ISO/CIE são inferiores àsadotadas na atual NBR 5413, o que le -

vanta discussões sobre quesi-tos de eco nomia de energiaexigidos por certifica ções deedificações, tais como LEEDe Procel Edifica.

A possibilidade da adoçãoda iluminação de tarefa commenores iluminâncias nasáreas do entorno imediato,po rém, é um aspecto que fa-

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Fig. 2 – Ângulo de blindagem α

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vorece a redução da potência instalada. A aplicação dos requisitos da norma

em questão necessita de maior ama du re -cimento do setor nos seguintes aspectos:• atualização da norma para verificaçãode iluminância de interiores [6], queatual mente encontra-se ultrapassada edefine a medição de pontos específicosdo ambiente apenas naqueles com ilumi -na ção uniformemente distribuída;• atualização dos profissionais de segu-rança do trabalho na metodologia a seradotada para verificação da iluminância;• adequação dos fabricantes de lumi -nárias para fornecer dados fotométricos,sobretudo o UGR para controle de ofus-camento, que atualmente é pouco dis po -nibilizado; e• profissionalização dos projetistas e ar-quitetos de iluminação no uso de soft-wares de cálculo mais complexos e ado -ção de fatores de manutenção adequadosaos projetos.

ConclusãoA revisão da norma NBR 5413 está

contemplando diversos aspectos inexis-tentes na norma atual, e seguirá as re-comendações da norma internacionalISO 8995-1, elaborada em conjunto coma CIE. Tal norma é atualmente re fe rênciapara países europeus por balizar tambéma norma DIN EN 12464-1.

Estas normas trazem em comum a re-comendação de quesitos qualitativos dailuminação, como controle de ofusca men - to, aspectos da cor da luz e sua reprodução,aproveitamento da iluminação natural,adoção de iluminação de tarefa, controleda manutenção, entre outros.

Embora ainda esteja em fase de ela -boração, a norma requererá maior capa -citação técnica da indústria, dos projetis-tas e arquitetos de iluminação.

Bibliografia

[1] ABNT - Associação Brasi leira de Normas Técnicas.NBR5413: 1992 – I luminância de interiores.1992.

[2] Internat ional Standard. ISO 8995-1 – Light ing ofworkplaces – Par t 1: Indoor. 2002.

[3] ZVEI. ZVEI Guide to DIN EN 12464-1 – Light ing ofworkplaces, Par t 1: Indoor work places. 2005.

[4] Comission Internat ionale de L'Éclairage. CIE 117 –Discomfor t glare in interior light ing. 1995.

[5] European Standard. EN 12464-1. Light ing of workplaces.Par t 1: Indoor work places. 2002.

[6] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR5382– Verificação de iluminância de interiores. 1985.

Trabalho apresentado no Enie 2010 - XIIIEncontro Nacional de Instalações Elétricas,rea lizado em São Paulo, SP.

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