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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL E FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE FORMOSA - ESTADO DE GOIÁS. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu Representante Legal ao final assinado, titular da Promotoria de Justiça da Comarca de Formosa - Goiás, no uso de suas atribuições Constitucionais, Infra Constitucionais e Institucionais, com suporte no artigo 129, inciso III da Constituição Federal: artigo 25, inciso IV, alínea "b" da Lei n° 8.625/93; artigos 46, inciso VI e 47, inciso I, ambos da Lei Complementar Estadual 25 de 06 de Julho de 1.998; artigos 1°, inciso IV, 2° e 5°, todos da Lei 7.347/85 e demais legislações atinentes à matéria, vêm à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR em face da SANEAMENTO DE GOIÁS S/A - SANEAGO, CNPJ n.° 01616929/0001-02, Sociedade de Economia Mista constituída da Lei Estadual 6680/67, que deverá ser citada na pessoa do seu Diretor-Presidente NICOMEDES DOMINGOS

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2° VARA CÍVEL E

FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE FORMOSA - ESTADO DE GOIÁS.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu

Representante Legal ao final assinado, titular da Promotoria de Justiça da Comarca de

Formosa - Goiás, no uso de suas atribuições Constitucionais, Infra — Constitucionais e

Institucionais, com suporte no artigo 129, inciso III da Constituição Federal: artigo 25, inciso

IV, alínea "b" da Lei n° 8.625/93; artigos 46, inciso VI e 47, inciso I, ambos da Lei

Complementar Estadual n° 25 de 06 de Julho de 1.998; artigos 1°, inciso IV, 2° e 5°, todos da

Lei 7.347/85 e demais legislações atinentes à matéria, vêm à presença de Vossa Excelência

propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO LIMINAR em face da

SANEAMENTO DE GOIÁS S/A - SANEAGO, CNPJ n.°

01616929/0001-02, Sociedade de Economia Mista constituída da Lei Estadual 6680/67,

que deverá ser citada na pessoa do seu Diretor-Presidente NICOMEDES DOMINGOS

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'"lMinistelo PúblteD la* EstíMto «e Coife |

QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

BORGES, na Avenida Fued Sebba, n.° l .245, Jardim Goiás, Goiânia/GO, pelas razões de fato

e de direito a seguir expostas:

I) SÍNTESE DOS FATOS

Em virtude da representação promovida pelo Vereador Joelson Ferreira

Ribeiro, foi instaurado o Procedimento Administrativo pela Portaria n° 002/09 por meio do

qual esta Promotoria de Justiça tomou ciência das circunstâncias a que estavam submetidos os

consumidores formosenses quando requereriam instalação de pontos para acesso à água

tratada pela Saneago S/A. O atendimento desse pedido está condicionado ao comportamento

dos usuários que são compelidos a adquirir o hidrômetro junto à Saneago ou no comércio

local, assumindo os custos de instalação, mediante a contratação de mão de obra credenciada

pela Saneago para exercício em caráter de exclusividade, sob pena de não lograr o serviço de

abastecimento. À essas circunstâncias agregue-se a agravante de que, ao final da execução da

obra, o consumidor é obrigado, através de um Termo de Doação, a transferir a propriedade

do hidrômetro para a concessionária de serviços públicos, ficando investido da condição de

depositário. A contrapartida da ré consistiria na manutenção feita pela Sanego sem qualquer

custo para o usuário, como se essa obrigação fosse ónus do consumidor.

Conforme relatado pelo funcionário da empresa, Sr. Valdeci Pereira

da Guia. ao impor ao cliente a doação do hidrômetro, a Saneago assume o compromisso de

fazer o serviço de manutenção do medidor, dispensando o usuário do pagamento de taxas,

instalação e ligação. Quando o usuário não se dispuser a adquirir o hidrômetro no comércio,

para cedê-lo a Saneago, a Saneago fornece o aparelho para o cliente ao custo de R$ 51,67 e

cobra R$ 40,00 pela taxa de ligação. A Saneago possuí 14 pessoas credenciadas para

execução dos padrões de água e o treinamento é feito na própria Saneago com agendamento

de 2 ou 3 dias de antecedência. A lista é apresentada para o usuário que, a seu critério,

escolhe o profissional credenciado sem qualquer influência da Saneago.

Ainda que se argumente que o credenciamento de pedreiros não

constitui medida restritiva do mercado profissional à medida que se faculta a qualquer

bombeiro hidráulico habilitação junto à Saneago para montagem e instalação de hidrômetros.

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segundo os padrões de ligações prediais de água exigidos, a questão que move esta ação é a

indevida inversão dessas despesas. Mesmo quando a Saneago fornece ao usuário

onerosamente o hidrômetro, ela se torna proprietária do padrão, arrecadando o valor de R$

51,67 para manutenção do hidrômetro pela empresa. A pessoa que opta pela compra do

hidrômetro no comércio paga em torno de R$ 65.00 a R$ 70.00. Como a pessoa fica

dispensada do pagamento da ligação, ela ganharia a diferença do valor de aquisição do padrão

junto ao comércio em relação ao custo de fornecimento do aparelho e instalação pela

Saneago, que alcança o custo de R$ 91.67. Quando a Saneago fornece o hidrômetro o valor é

cobrado na própria fatura do consumo de água e, a requerimento do interessado, pode ser

parcelado em seis parcelas iguais e sucessivas de R$ 15,55.

II - FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II. A) AÇÃO CIVIL PÚBLICA DEFESA DO CONSUMIDOR -

NOÇÕES GERAIS -LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Ação Civil Pública, ex vi do disposto no artigo 1° da Lei n° 7347/85,

como fator de mobilização social, é a via processual adequada para impedir a ocorrência ou

reprimir danos ao património público, ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de

valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, protegendo, assim, os interesses

difusos, coletivos e individuais homogéneos da sociedade, sendo que, diante de sua

magnitude e excelência, mereceu assento constitucional, como se extrai do artigo 129, inciso

III, da Constituição da República Federativa Brasileira.

Não restam dúvidas, portanto, de que o dano aos consumidores é um

interesse de dimensão difusa, o que autoriza sua tutela processual por intermédio da ação civil

pública.

Nesse contexto, em razão de sua destacada atuacão. desde 19SS ™

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dentre eles o de conservar o de proteger os consumidores. Por isso, a Constituição Federal,

através de seu artigo 127 c/c os artigos 1° e 5° da Lei 7.347, consagraram definitivamente a

legitimidade ativa do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS cujas atribuições

desta curadoria estão afetas à 4° Promotoria de Justiça de Formosa/GO na defesa de interesses

transindividuais, sejam eles coletivos, difusos ou, ainda, os tidos por direitos ou interesses

individuais homogéneos tratados coletivamente.

Com essa linha de entendimento, farta é a jurisprudência proveniente

dos Tribunais, inclusive do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA reconhecendo a legitimidade ativa do MINISTÉRIO PÚBLICO para interpor

ações de civis publicas com o fito de defender os direitos difusos, coletivos e individuais

homogéneos dos consumidores.

A propósito, veja-se:

"(STF-014693) MINISTÉRIO PÚBLICO. Legitimidade

para propor acSo civil pública quando se trata de direitos

individuais homogéneos em que seus titulares se encontram

na situação ou na condição de

consumidores, ou quando houver uma relação de consumo.

É indiferente a espécie de contrato firmado,

bastando que seja uma relação de consumo. Precedentes.

(Ag. Reg. no Recurso Extraordinário n"

424048/SC, 1" Turma do STF, Rei. Min. Sepúlveda

Pertence, j. 25.10.2005, DJU 25.11.2005). (escurecemos e

grifamos)"

SI-J-174337) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRAT1VO.AÇÃO CÍVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO

PÚBL1CO.LEGITIM1DADE ATIVA (CF, ART. 129, III, E LEI 8.078/90, ARTS, 81 E 82, I). CONCESSÃO

DE SERVIÇO PÚBLICO. RODOVIA. EXIGÊNCIA DE TARIFA (PEDÁGIO) PELA PRESTAÇÃO DO

SERVIÇO CONCEDIDO QUE PRESCINDE, SALVO EXPRESSA DETERMINAÇÃO LEGAL, DA

EXISTÊNCIA DF. IGUAL SERVIÇO PRESTADO GRATUITAMENTE PELO PODER PÚBLICO. I. O

Ministério Público está legitimado a promover ação civil pública ou coletiva, não apenas em defesa de direitosdifusos ou coletivos

O

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///hMlnltMflD WfoBeo id*E5ta«f»aeGeiâs ff

QUARTA PROMOTOR1A DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Nota-se que a presente ação tutela não um único consumidor, mas todos

os consumidores do Município de Formosa/GO, isso porque, como confessado pela empresa

ré, na sua resposta, tal prática é rotineira em suas ações, atingindo todos os

usuários/consumidores do município e circunvizinhança que compõem a comarca, pela

presente, defende-se o direito difuso, de toda população possivelmente atingida pela cobrança

abusiva de instalação de hidrômetro.

Foi juntado ao Procedimento a Resolução n° 265/2008 - CG, que

Dispõe sobre a política de ligação de água de empresa de saneamento de Goiás S/A -

Saneago, que assim dispõe.

RESOLVE

Art. 1° - Estabelecer que é de responsabilidade da empresa de

Saneamento de Goiás S/A - Saneago, o fornecimento do

hidrômetro de até 3,0 m3/h,mediante o pagamento pelo usuário,

da tarifa estipulada para este fim abrangendo a cessão do

hidrômetro e o serviço de ligação.

[..omissis..]

Art. 3° - O usuário poderá opcionalmente, adquirir hidrômetro

de capacidade de até 3,0 m3/h no mercado e repassá-lo à

Saneago, mediante responsabilidade especifica :

- USUÁRIO

c- no ato de entrega do hidrômetro à Saneago, o usuário

assinará o termo de doação do bem a concessionária.

II - SANEAGO

a) - Uca vedado a Saneago cobrar qualquer valor pelos

serviços de ligação prestados aos usuários;

\ X

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///lMinistério híbfa IHíEsUíaaeCoiís l

QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Conforme constata-se, de acordo com a tabela de preços e serviços

especiais, que existem múltiplas cobranças e multas da concessionária face aos consumidores,

dentre eles alguns abaixo transcritos, não sendo possível se constatar a manutenção periódica

do hidrômetro pela empresa conforme afirmado no Termo de Declarações do funcionário.

3.7 - Aferição de hidrômetro, a pedido do usuário, quando não

for constatado defeito de funcionamento, valor a pagar RS

18.00

3.14 - Religação após corte simples valor a pagar RS 9.60

3.15 -Religação de urgência valor a pagar RS 12.82

3.38 - Hidrômetro 1,5 tnVHe de 3,0 m'/h, valor a pagar RS

51,67.

III.A) DAS JUSTIFICATIVAS APRESENTADAS PELASANEAGO QUE AUTORIZAM A COBRANÇA DA INSTALAÇÃO DOHIDRÔMETRO

As justificativas apresentadas pelo funcionário da citada empresa ré

não se mostram suficientes para autorizar a cobrança que rechaçamos de abusiva. Para

embasar a cobrança citou alguns dispositivos, que transcrevemos em sua integralidade. porém

imprestáveis para tal desiderato.

A Saneago por manter relação de natureza privada com o consumidor

não é quem institui os subsídios referidos no dispositivo. Nesse sentido, a Jurisprudência:

"(STJ-205134) AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SERVIÇO DE RELIGAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.

PAGAMENTO A EMPRESA CONCESSIONÁRIA SOB A MODALIDADE DE TARIFA. MINISTÉRIO

PÚBLICO. LEGITIMIDADE ATIVA."

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///lMinistério Público lo*E«wlait6«l4í l

QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

A União Federal é parte ilegítima para figurar no pólo passivo das ações que versam sobre

cobrança de serviço de religação de energia elétrica por parte de concessionária de serviços públicos, uma vez

que trata-se de tarifa que não beneficia a União. 2. A relação jurídica do serviço público prestado por

concessionária tem natureza de direito privado, pois o pagamento é feito sob a modalidade de tarifa, e não

estando os serviços jungidos às relações de natureza tributária, mas, ao contrário, encontrando disciplina também

no Código de Defesa do Consumidor, inexiste empecilho à defesa dos usuários via ação civil pública, cuja

legitimação encontra na figura do Ministério Público um representante por lei autorizado. 3. A jurisprudência do

STJ firmou-se no MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS Promotoria de Justiça de São Miguel do

Araguaia no sentido de que instruções normativas não se enquadram no conceito de "Lei Federal" do artigo 105.

inciso III, da Constituição Federal, ainda que tenham caráter normativo. 4. Recurso especial parcialmente

conhecido e improvido. (Recurso Especial n° 591916/MT (2003/0164487-9). 2' Turma do STJ, Rei. João Otávio

de Noronha, j. 27.02.2007, unânime, DJ 16.03.2007).

É verdade que a SANEAGO pertence ao Estado de Goiás, sendo

uma Sociedade de Economia Mista. Contudo, como acima aludido, a relação jurídica do

serviço público prestado por concessionária tem natureza de direito privado, regulando-se

pelo Código de Defesa do Consumidor. E este, só pode pagar pelo que consome, nos termos

da Lei.

O que nesse campo do saneamento básico é autorizado pela Lei n.°

11.445/2007, no artigo 30, é a definição de categoria de usuários, distribuídas por faixas ou

quantidades crescentes de utilização ou consumo. Ou seja, a tarifa a ser cobrada depende do

consumo do usuário. Aqueles que consomem menos pagam menos pela tarifa. Já os que

consomem mais pagam uma tarifa maior. Isso ocorre, como afirma a doutrina (Carvalho

Filho, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 15" ed., Ed. Lumen Júris, 2007, p.

331), em razão das "diretrizes estabelecidas para a política adotada para prestação dos

serviços de saneamento básico, em que, além dos usuários, deve ser considerado o próprio

serviço a ser prestado ".

Em resumo, a Saneago não tem o direito, nem poder, de se colocar no

lugar do próprio Estado. Cabe a este as providências previstas no dispositivo citado, e não

àquela. Tudo que for feito pela Saneago deve estar respaldado em Lei.

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Quanto ao artigo 20, da Resolução 265/2008, inicialmente, aduzimos

que é uma resolução e não uma Lei. E mesmo assim, aquela não pode ser interpretada de

forma isolada. Tem que ser feito conjuntamente, seguindo a diretriz maior prevista na Lei

11.445/2007. No mais, uma coisa é a ligação da instalação com a rede da SANEAGO, e outra,

completamente diferente, é a instalação/manutenção/conservação do hidrômetro.

Tanto isso é verdade que em inúmeras residências espalhadas por todo Estado de Goiás

existem a ligação com a rede da Saneago, mas não há medição via hidrômetro. Nesses casos,

a cobrança se faz por um valor mínimo estipulado.

III. B) OBSERVAÇÕES SOBRE A LEI 11.445/2007

De acordo com o artigo 3°, inciso I, alínea "a", da Lei 11.445/2007,

considera-se saneamento básico o conjunto de serviços, infra-estruturas e instalações de:

a) Abastecimento de água potável: constituído pelas atividades,

infra-estruturas e instalações necessárias ao abastecimento

público de água potável, desde a captação até as ligações

prediais e respectivos instrumentos de medição.

b) Esgotamento sanitário: constituído pelas atividades. infra-

estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte,

tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários,

desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio

ambiente.

Ora, de acordo com a norma acima escrita o serviço de abastecimento

de água potável ocorre desde a captação ale as ligações prediais e respectivos instrumentos de

medição, cabendo a concessionária prestá-lo em sua integralidade. É um serviço único e para

remunerar este serviço cabe ao usuário o pagamento de uma tarifa.

Esse entendimento esposado é confirmado pelo artigo 29, inciso I, da

Lei 11.445/2007:

À /V

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Art. 29 - Os serviços públicos de saneamento básico terão a

sustentabilidade econômico-fmanceira assegurada, sempre que

possível, mediante remuneração pela cobrança dos serviços:

I - de abastecimento de água e esgotamento sanitário:

preferencialmente na forma de tarifas e outros preços públicos,

que poderão ser estabelecidos para cada um dos serviços ou

para ambos conjuntamente.

O que se entende do dispositivo é que é possível uma cobrança única,

englobando tanto o serviço abastecimento de água e esgotamento sanitário, ou uma cobrança

em separado, isto é, uma só para o abastecimento e outra só para o esgotamento.

Saliente-se que essa cobrança em separado é muito comum em Goiás,

podendo se dizer que na imensa maioria das residências de Formosa/GO não há esgotamento

sanitário. Daí não pode a concessionária cobrar o esgotamento. Por isso, é cindido o

pagamento. Mas, quando ele existe, sobre o valor do serviço de abastecimento se cobra 80%

para custear o esgotamento. Essa é a cisão permitida.

O que a Saneago pretende com a referida cobrança é, de forma

indevida, cindir algo que deve ser remunerado, em regra, de forma única. Aqui entra o inciso

V, do artigo 38, da Lei Estadual 14.939/2004, que assim dispõe:

LEI N° 14.939, DE 15 DE SETEMBRO DE 2004.

Institui o Marco Regulatório da Prestação de Serviços de

Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário, cria o

Conselho Estadual de Saneamento - CF.SAM e dá outras

providências.

[..omissis...]

Art. 38 São direitos dos prestadores dos serviços:

V - cobrar, além das tarifas, outros serviços e/ou

procedimentos efetivamente prestados aos usuários;

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Minisléilo PúblicojUMURrllMH

QUARTA PROMOTORTA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Com este amparo legal entende a ré que estaria autorizada para

cobrança de outro serviço e/ou procedimento prestado ao usuário. Acontece que não se pode

fazer essa interpretação do dispositivo, pura e simples, sem levar em consideração todo

ordenamento jurídico, notadamente a Lei 11.445/2007 e o Código de Defesa do Consumidor.

Como se sabe, é direito do consumidor pagar pelo que realmente

consumiu, sendo dever do fornecedor cobrar o efetivamente consumido. E dessa forma, é

preciso não distorcer o fato.

O que se quer afirmar é que instalação de hidrômetro faz parte da

prestação do serviço abastecimento de água, porque é o modo pelo qual o fornecedor se

desincumbe do dever de cobrar do consumidor aquilo que ele realmente consumiu. Tanto isso

é verdade que se o fornecedor cobrar além do devido, segundo as regras insculpidas no

parágrafo único, do artigo 42, da Lei 8.078/90, o consumidor "tem direito à repetição do

indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária

e juros legais, salvo hipótese de engano justificável".

Hoje, a melhor forma de auferir o consumo é através do hidrômetro.

Nada impede que no futuro seja criado outro mecanismo mais eficaz, a exemplo do que

aconteceu com o serviço de telefonia fixa, que pode ser medido por pulso ou minuto. O que

cabe ao fornecedor é cobrar do consumidor exatamente o que ele consumiu. Isso vale dizer,

engloba algo maior, previsto tanto no CDC, como na Lei 8987/95, relacionado ao direito de

informação do consumidor/usuário.

Em resumo o que se deseja mostrar é que quando se paga a fatura da

água, nesta, ou melhor, no valor da fatura, estão inclusas todas as despesas, bem como os

lucros, que são auferidos pela concessionária, desde a captação até as ligações prediais e

respectivos instrumentos de medição. Autorizar a empresa ré a continuar cobrando algo que já

está incluso na tarifa paga pelo consumidor representa enriquecimento sem causa, vedado por

nosso ordenamento jurídico.

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Interessante se faz notar o artigo 40, inciso III, da Lei 11.445/2007.

Vejamo-lo:

Art 40. Os serviços poderão ser interrompidos pelo prestador

nas seguintes hipóteses;

111 - negativa do usuário em permitir a instalação de

dispositivo de leitura de água consumida, após ter sido

previamente notificado a respeito.

Esse dispositivo legal só comprova que o encargo financeiro da

instalação do hidrôraetro tem que ficar a cargo da concessionária e não do consumidor. Este,

sequer pode recusar a instalação. Isso porque é um direito/dever do fornecedor aferir quanto

foi gasto do consumidor, até porque também é uma obrigação do consumidor só pagar pelo

que consumiu.

Contudo, se é um direito/dever do fornecedor instalar hidrômetro, é

incongruente cobrar do consumidor a instalação. Isso porque, além de não ter o direito de

recusar a instalação, ainda caberia o consumidor o pagamento da mesma. Em resumo, cobrar

a instalação de hidrômetro do consumidor é violar o princípio da

proporcionalidade/razoabilidade, bem como o princípio da equidade, e ainda as normas

protetivas previstas no Código de Defesa do Consumidor.

Em se percorrendo a ordem natural das coisas, seria somente o

fornecimento da água tratada ao consumidor o serviço pretendido. É disso que necessita o

usuário. O hidrômetro, como se nota pelo artigo 40, é mais um dever da concessionária do

que do usuário/consumidor. Este, como asseverado, tem o direito de pagar o que consumiu,

sendo dever da concessionária cobrar o valor correio. Daí a necessidade de se instalar o

hidrômetro, para aquela se desincumbir do seu dever.

V

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Ministério PúblicedaEstaSo de Goiás

QUARTA PROMOTORJA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Quando a Lei inclui "instrumentos de medição" como parte do serviço

de abastecimento de água, já o incluiu no valor da tarifa. Essa é justificativa utilizada para se

aumentar, inclusive, o valor da tarifa, pois se aduz que a concessionária necessita se ressarcir

do valor desprendido com a instalação dos instrumentos de medição. Agora, em se mantendo

essa cobrança o consumidor/usuário paga duas vezes o mesmo serviço, na medida em que já o

faz quando paga a tarifa.

É bom que se diga, até levando em conta um dos princípios basilares

previstos no artigo 47, do CDC, em que as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de

maneira mais favorável ao consumidor, a interpretação acima é a única em consonância com a

Constituição Federal (artigo 170. V c/c o parágrafo único, incisos II e III, do artigo 175) e

com o Código de Defesa do Consumidor.

Ressalte-se que a própria Jurisprudência já se manifestou sobre a quem

cabe prover as despesas com a instalação, manutenção e conservação dos hidrômetros. E, de

acordo com a mesma, cabe a concessionária.

" (TJRJ-040721) AÇÃO REVISIONAL DE DÉBITO - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO -

FORNECIMENTO DE ÁGUA - DEFEITO NA INSTALAÇÃO DO HIDRÔMETRO - RESPONSABILIDADE

DA CONCESSIONÁRIA - COBRANÇA PELA TARIFA MÍNIMA. A prestação do serviço essencial de

fornecimento de água está submetida às regras do Código de Defesa do Consumidor, sendo da responsabilidade

da Concessionária os prejuízos decorrentes dos defeitos no serviço de instalação do hidrômetro. Havendo falha

no serviço de instalação do medidor de fornecimento de água, ocasionando medições fictícias, o consumo deve

ser cobrado com base na tarifa mínima. Improvimento do recurso. (Apelação Cível n° 200500112960, 10a

Câmara Cível do TJRJ, Rei. Dês. José Geraldo António, j. 06.09.2005). (TJRJ-038884) APELAÇÃO CÍVEL.

DIREITOS PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. AÇÃO ORDINÁRIA DE REVISÃO DE DÉBITO

C/C ANULAÇÃO DE ACORDO.DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA A MEDIDA CAUTELAR.AÇÃO

CONSIGNATÓRIA DISTRIBUÍDA POR DEPENDÊNCIA AO PROCESSO PRINCIPAL. CEDAE.

FORNECIMENTO DE ÁGUA. ALEGAÇÃO DE DEFEITO NO HIDRÔMETRO."Concluiu o perito técnico

que o aparelho instalado no condomínio apresentava defeitos que comprometeram o seu regular funcionamento,

acarretando aumento excessivo do consumo. O vínculo obrigacional estabelecido com base no serviço de água

configura uma relação de consumo, eis que presentes as características estabelecidas no Código de Defesa do

Consumidor. A cobrança de tarifa de água se faz por medição, quando há hidrômetro instalado no imóvel, sendo

responsabilidade da concessionária sua manutenção e conservação. Correta a sentença ao determinar que a

empresa fornecedora revisse os valores cobrados, na forma do art. 108 do Decreto 553/76, ante a verificação de

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///lRHftlsMfto Publiee ldoeaailadíGeiís Ji

QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

discrepante diferença na média mensal registrada anteriormente, assim como o restabelecimento do fornecimento

de água. Pedido consignatório que merece julgado procedente, tendo em vista que o valor do débito depende de

liquidação por arbitramento, não podendo antes disso decidir o ilustre sentenciante pela insuficiência do

depósito. Desprovimento do primeiro recurso. Provimento do segundo. (Apelação Cível n" 2004.001.17869, 15a

Câmara Civel do TJRJ, Rei. Dês. José Pimentel Marques, j. 02.03.2005).

Como ficou esclarecido, a cobrança da instalação de hidrômetro aos

consumidores da Comarca de Formosa/GO é uma violação as regras previstas na Constituição

Federal, no Código de Defesa do Consumidor e na Lei 11.445/2007, pois representa uma

dupla oneração ao consumidor/usuário, que acaba por pagar 2 (duas) vezes um mesmo

serviço, que teria que ser pago só pela tarifa referente ao abastecimento de água.

Feitas essas considerações, entende o Ministério Público que a

interferência do Poder Judiciário é imperiosa, contrário, continuamente, o consumidor/usuário

será lesado no seu direito de pagar o realmente devido.

III.D) DA NULIDADE DO ITEM 4.4 DO CONTRATO DE

ADESÃO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

De acordo com o item 4.4 do Contrato de Adesão firmado entre a ré e

os consumidores/usuários do serviço público, este últimos devem:

4.4 "Guardar e conservar, na condição de fiel depositário, o

padrão de ligação de Água, o hidrômetro e outros

dispositivos da SANEAGO".(escurecemos e grifamos)

Ora, é imperioso perceber o absurdo jurídico acima transcrito. Em se

interpretando a cláusula acima, combinada com a exigência de que o custo da instalação do

hidrômetro fique por conta do consumidor/usuário, observa-se o seguinte: o consumidor fará

uma doação a SANEAGO de um hidrômetro e ainda será obrigado a ser fiel depositário da

mesma.

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Com o perdão do termo, isto é uma excrescência, tamanho o abuso

perpetrado pela ré. Fere de morte o princípio da razoabilidade e o direito do usuário do

serviço.

Entende o Ministério Público que isso representa um constrangimento

ilegal por parte da ré, na medida em que ela obriga o consumidor a lhe "doar" um hidrômetro

e, pior, ainda transforma o doador em seu fiel depositário, pois, se este "danificar" o mesmo

ainda pode sofrer penalidades.

De acordo com o artigo 538, do Código Civil, "considera-se doação o

contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu património bens ou

vantagens para o de outra", (escurecemos e grifamos)

Dois são os elementos peculiares à doação: a) o animus donandi

(elemento subjetivo), que é a intenção de praticar uma liberalidade; e, b) a transferência de

bens, acarretando a diminuição do património do doador (elemento objetivo).

Compulsando o presente contexto, inexiste a vontade do consumidor de

praticar tal liberalidade em favor da ré. O que existe é uma injusta imposição, na qual se

aproveita da condição de única fornecedora do serviço para cobrar de forma abusiva uma

"doação" do aparelho de medição.

Não há dúvidas que essa cláusula combinada com a prática da cobrança

da instalação do hidrômetro pela ré, é nula de pleno direito. Nesse contexto, aduz o artigo 5 1 ,

do Código de Defesa do Consumidor que sío nulas de pleno direito as cláusulas contratuais

que

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,

abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem

exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a

equidade".(escurecemos).

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Ademais, como acima esclarecemos, a responsabilidade pela

instalação/manutenção/conservação do hidrômetro pertence à ré. Nesse sentido está o farto

repositório de Jurisprudência já citado, ao qual nos reportamos, pois só faz corroborar o

argumentos acerca da nulidade da presente cláusula do contrato de adesão que segue anexo a

esta exordial. in casu, essa cláusula certamente é abusiva e por isso, merece ser declarada

nula, com fulcro no §4°, do artigo 51, do Código de Defesa do Consumidor, é medida que se

impõe a declaração de nulidade da cláusula aludida, pois além de ser abusiva, não assegura o

justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes, na medida em coloca o

consumidor/usuário em desvantagem exagerada perante a ré.

III. E) DA RESTITUIÇÃO DO VALOR COBRADO

INDEVIDAMENTE

Conforme o artigo 42, parágrafo único, do CDC, o valor cobrado

indevidamente do consumidor deve ser restituído em dobro, com juros e correção monetária.

Nesse sentido, certamente, antes de se ajuizar este feito, diversos consumidores já pagaram, e

alguns, estão pagando em parcelas a referida instalação.

Desse modo, além de se impedir a cobrança é necessário possibilitar aos

consumidores a restituição do valor cobrado e pago, em arrepio ao ordenamento pátrio,

indevidamente pago e usado para enriquecer ilicitamente a empresa ré.

III.F) DO DANO MORAL COLETIVO

Uma vez que a cobrança da instalação de hidrômetro aos consumidores,

não só aos de Formosa/GO, como também de todo o Estado de Goiás, está ao arrepio da

legislação consumerista, inclusive confessado por funcionário da empresa ré, conduta esta

que lesou uma infinidade de consumidores/usuários, é indene de dúvidas que tal situação

ocasionou uma lesão ao direito difuso de todos os consumidores/usuários do serviço público

prestado.

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Pela lesão causada a interesse ou direito difuso e coletivo, o sujeito

passivo da ação civil pública poderá ser condenado ao pagamento de uma determinada

quantia em dinheiro a título de indenização pelos danos coletivos causados, sem prejuízo da

multa pelo eventual descumprimento. Como se vê, há duas hipóteses de incidência da

condenação pecuniária em questão. Os valores da condenação em pecúnia para o

ressarcimento dos danos causados aos interesses difusos ou coletivos para que seja instalado

hidrômetro, ao arrepio da legislação consumerista) e aqueles relativos à multa que será

estabelecida em caso de inadimplemento das obrigações de fazer ou não fazer que a seguir

serão pleiteadas.

Como ensina Carlos Alberto Bittar Filho:

"Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de que o património valorativo de uma

certa comunidade (maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira absolutamente

injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, etn

seu aspecto imaterial."2

Em abalizado comentário, aduz Luís Gustavo Grandinetti Castanho De

Carvalho: "O Direito se preocupou durante séculos com os conflitos intersubjetivos. A sociedade de massas, a

complexidade das relações económicas e sociais, a percepção da existência de outros bens jurídicos vitais para a

existência humana, deslocaram a preocupação jurídica do setor privado para o setor público; do interesse

individual para o interesse difuso ou coletivo; do dano individual para o dano difuso ou coletivo. Se o dano

individual ocupou tanto c tão profundamente o Direito, o que dizer do dano 2 "Do dano moral coletivo no atual

contexto jurídico brasileiro" in Direito do Consumidor, vol. 12- Ed. RT. Vale destacar, ainda, a

manifestação de André de Carvalho Ramos que, ao analisar o dano moral coletivo, assim

dissertou: "(.,.) é preciso sempre enfatizar o imenso dano moral coletivo causado pelas agressões aos interesses

transindividuais. Afeta-se a boa-imagem da proteção legal a estes direitos e afeta-se a tranquilidade do cidadão,

que se vê em verdadeira selva, onde a lei do mais forte impera. ("A ação civil pública e o dano moral coletivo",

Revista de Direito do Consumidor, vol. 25- Ed. RT, p. 83). Continua o citado autor, dizendo: "Tal

intranquilidade e sentimento de desapreço gerado pelos danos coletivos, justamente por serem indivisíveis,

acarretam lesão moral que também deve ser reparada colctivamente. Ou será que alguém duvida que o cidadão

brasileiro, a cada notícia de lesão a seus direitos não se vê desprestigiado c ofendido no seu sentimento de

pertencer a uma comunidade séria, onde as leis são cumpridas? A expressão popular 'o Brasil é assim mesmo'

deveria sensibilizar todos os operadores do Direito sobre a urgência na reparação do dano moral coletivo" (idem,

ibidem). que atinge um número considerável de pessoas? É natural que o Direito se volte, agora, para elucidar as

X , V

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intrincadas relações coletivas e difusas e especialmente à reparação de um dano que tenha esse

caráter" (Responsabilidade por dano não-patrimonial a interesse difuso: dano moral coletivo, p. 29).

Xisto Tiago de Medeiros Neto, procurador do Ministério Público do

Trabalho, leciona que Assim, há de se ressaltar que, no tempo atual, tornou-se necessária e

significativa para a ordem e a harmonia social, a reação do Direito em face de situações em

que determinadas condutas vêm a configurar lesão a interesses: 1) juridicamente protegidos; 2) de

caráter extrapatrimonial; 3) titularizados por uma determinada coletividade. Ou seja: adquiriu relevo jurídico, no

âmbito da responsabilidade civil, a reparação do dano moral coletivo (em sentido lato) (Revista do Ministério

Público do Trabalho n.° 24, ano 2002, pág. 79).

André de Carvalho Ramos, captando esse aspecto, registra que o

entendimento jurisprudencial de aceitação do dano moral em relação a pessoas jurídicas,

"é o primeiro passo para que se aceite a reparabilidade do dano moral em face de uma coletividade". E ainda

acresce: "o ponto chave para a aceitação do chamado dano moral coletivo está na ampliação de seu conceito,

deixando de ser o dano moral um equivalente da dor psíquica, que seria exclusividade de pessoas físicas" (A

ação civil pública e o dano moral coletivo. In: Revista de Direito do Consumidor, n. 25/98, p. 82).

Rogério Tadeu Romano, Procurador da República, em artigo disponível

na internet, considera

"perfeitamente aceitável a reparabilidade do dano moral em

face da coletividade, que apesar de ente despersonalizado,

possui valores morais e um património ideal a ser receber

proteção do Direito. Ora, se aceita-se a reparabilidade do dano

moral em face das pessoas jurídicas, quanto a honra objetiva, a

fortiori, deverá ser aceita tal tese em face da coletividade".

Xisto doutrina de forma conclusiva que "Resta evidente, com

efeito, que, toda vez em que se vislumbrar o ferimento a

interesse moral (ressalte-se, extrapatrimonial) de uma

coletividade, configurar-se-á dano passível de reparação, tendo

em vista o abalo, o sentimento negativo, a desalentadora

indignação, ou a diminuição da estima, infligida e apreendida

em dimensão coletiva. Nesse passo, é imperioso que se

apresente o dano como injusto, usurpando a esfera jurídica da

coletividade em detrimento dos valores fundamentais do seu

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

acervo" (Revista do Ministério Público do Trabalho, n.° 24,

ano 2002, pág. 84).

Elenca-se, por fim, os seguintes elementos que caracterizam o dano

moral coletivo c revelam o seu conceito:

• a conduta antijurídica do agente, que poderá ser uma pessoa (física ou

jurídica);

• a ofensa a valores extrapatrimoniais essenciais, identificados no caso

concreto, reconhecidos e inequivocamente compartilhados por uma determinada coletividade

(titular de interesses morais protegidos pela ordem jurídica);

• a certeza do dano causado, correspondente aos efeitos que, ipso facto,

emergem coletivamente, traduzidos pela sensação de desvalor, de indignação, de menosprezo,

de inferioridade, de descrédito, de desesperança, de aflição, de humilhação, de angústia ou

respeitante a qualquer outro sentimento de apreciável conteúdo negativo;

• o nexo causal observado entre a conduta ofensiva e a lesão

socialmente repudiada (Revista do MPT, n.° 24, ano 2002, pág. 85).

A partir da Constituição da República de 1988, descortinou-se um novo

horizonte quanto à tutela dos danos morais (particularmente no que tange à sua feição

coletiva), face à adoção do princípio basilar da reparação integral (art. 5°, V e X) e diante do

direcionamento do amparo jurídico à esfera dos interesses transindividuais, valorizando-se,

pois, destacadamente, os direitos de tal natureza (a exemplo dos artigos 6°, 7°, 194, 196, 205,

215, 220, 225 e 227)(45) e os instrumentos para a sua proteção (art. 5°, LXX e LXXIII, e art.

129,111).

Com isso, a tutela do dano moral coletivo passou a ter, explícita e

indiscutivelmente, fundamento de validade constitucional. Destaque-se, por oportuno, a

ampliação do objeto da ação popular manejada pelo cidadão, que, em decorrência do referido

artigo 5°, LXXIII, da Lei Maior, passou a visar a anulação de ato lesivo (e a consequente

reparação por perdas e danos — art. 11 da Lei n. 4.717/65) ao património público e também à

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moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao património histórico e cultural. Daí a

pertinência dessa ação no campo do dano moral coletivo, conforme destacado por Carlos

Alberto Bittar Filho, ao citar Hely Lopes Meirelles:

"Embora os casos mais frequentes de lesão se refiram ao dano

pecuniário, a lesividade a que alude o texto constitucional tanto

abrange o património material quanto o moral, o estético, o

espiritual, o histórico. Na verdade, tanto é lesiva ao património

público a alienação de um imóvel por preço vil, realizada por

favoritismo, quanto a destruição de um recanto ou de objetos

sem valor económico, mas de alto valor histórico, cultural,

ecológico ou artístico para a coletividade local" (pág. 59).

Ainda dentro do enfoque constitucional, vê-se que o artigo 129, inciso

III, ao conferir legitimação qualificada ao Ministério Público para o manuseio da ação civil

pública, também abriu o leque do seu objeto para qualquer interesse difuso e coletivo, além

daqueles referentes ao património público e social e ao meio ambiente. Assim, a ação civil

pública tomou-se instrumento de alçada constitucional apto a ser utilizado pelo parquet na

busca da proteção irrestrita de todo interesse de natureza transindividual, inclusive os de

caráter moral. E por força do § 1° do mesmo artigo 129 da Lei Maior, também foram

legitimados para este fim os entes arrolados no artigo 5° (caput e incisos I e II) da Lei da Ação

Civil Pública (Lei n. 7.347/85).

Frise-se, também, que sob a égide do regime constitucional passado,

quando do surgimento da Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), o respectivo artigo 1°

limitava o seu uso somente nas hipóteses de lesão ao meio ambiente, ao consumidor e ao

património cultural, além de não fazer referência específica ao dano moral, utilizando o termo

dano, sem qualificativo.

Com efeito, a redação original, em seu caput, previa: "Art. 1° Regem-

se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por

danos causados: (...)."

V v

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

A possibilidade jurídica do pedido de indenização por dano moral

coletivo decorre de expresso dispositivo legal: o art. 1°, caput, da Lei da Ação Civil Pública

(Lei Federal n° 7.347/85):

Art. 1°. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação

popular, AS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE POR DANOS MORAIS e patrimoniais

causados (...) QUALQUER outro INTERESSE DIFUSO OU COLETIVO.

Xisto arremata a exposição da configuração do dano moral coletivo com as seguintes

ponderações:

"Na atualidade, a ação impositiva, por meio dos mecanismos e

órgãos competentes, objetivando a efetivação dos direitos, em

prol dos indivíduos e da coletividade, é o que dá concretude à

ideia de cidadania. Em muito maior dimensão isso ocorrerá

quando tratar-se de valores fundamentais, status reconhecido

constitucionalmente aos direitos ou interesses coletivos,

materiais ou morais. Sem dúvida, a evolução do regime da

responsabilidade civil, tendo por norte o equilíbrio e o

desenvolvimento sociais, possibilitou a devida proteção em

face de danos infligidos aos valores morais reconhecidos a

coletividades de pessoas, fruto da ampla projeção que adquiriu

o conceito de dignidade humana.

A ordem jurídica, assim, considera ser a coletividade titular de direitos ou interesses

extrapatrimoniais, os quais são passíveis de tutela por meio do sistema processual apto a essa finalidade,

definidor da chamada jurisdição civil coletiva, cujos fundamentos principais encontram-se gizados na Carta

Constitucional de 1988 (art. 5°, XXXV e LV, e art. 129. III e § 1°), ordenando-se instrumentalmente com a

interaçao das normas da Lei da Acâo Civil Pública (art. 21) e da parte processual do Código de Defesa doConsumidor (arts. 90 e 117).

NSo se há de duvidar, enfim, que, no tempo presente, o reconhecimento e a efetiva

reparação dos danos morais coletivos — na medida em que sanciona o ofensor (desestimulando novas lesScs) e

compensa os efeitos negativos decorrentes do desrespeito aos bens mais elevados do agrupamento social

constitui uma das formas de alicerçar o ideal de um Estado Democrático de Direito (ob. cit.pág. 109).

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Ressalte-se que, para fins de indenização por danos morais, é suficiente

a demonstração do fato que deu origem ao dano, o que pensamos já ter feito nesta inicial:

"Indenização de direito comum. Dano moral. Prova. Juros moratórios. Súmula n.° 54

desta Corte, l - N3o há que falar em prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o

sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam. Provado assim o fato, impõe-se a condenação, sob pena de

violação ao art. 334 do Código de Processo Civil. 2 - Na forma da Súmula n." 54 da Corte, os juros moratórios

nestes casos contam-se da data do evento. 3 - Recurso especial conhecido e provido, em parte."3.

O VALOR DEVIDO a título de indenização pelos danos morais coletivos, observa

Carlos Alberto Bittar, "(...) deve traduzir-se em MONTANTE QUE REPRESENTE ADVERTÊNCIA AO

LESANTE E À SOCIEDADE DF, QUE SE NÃO SE ACEITA O COMPORTAMENTO ASSUMIDO, OU O

EVENTO LESIVO ADVINDO. Consubstancia-se, portanto, em IMPORTÂNCIA COMPATÍVEL COM O

VULTO DOS INTERESSES EM CONFLITO, REFLETINDO-SE DE MODO EXPRESSIVO, NO

PATRIMÓNIO DO LESANTE, A FIM DE QUE SINTA, EFETIVAMENTE, A RESPOSTA DA ORDEM

JURÍDICA AOS EFEITOS DO RESULTADO LESIVO PRODUZIDO. DEVE, 3 STJ - RESP n.° 86.27l SP -

3" Turma - Rei. Min. Carlos Alberto Menezes Direito - DJ 09/12/97. POIS, SER QUANTIA

ECONOMICAMENTE SIGNIFICATIVA, EM RAZÃO DAS POTENCIALIDADE» DO

PATRIMÓNIO DO LESANTE.

Coaduna-se essa postura, ademais, com a própria índole da teoria em

debate, possibilitando que se realize com maior ênfase, a sua função inibidora de

comportamentos. Com efeito, o peso do ónus financeiro é, em um mundo em que cintilam

interesses económicos, a resposta pecuniária mais adequada a lesionamentos de ordem

moral. "4.

Em consideração que no município de Formosa/GO, foram feitas

inúmeras ligações com cobrança indevida considerando que apenas a partir da Resolução

265/2008, de 10 de outubro de 2008 às fls 10/11, e também certamente antes disso, pode-se

entender que esta quantidade desconhecida de cobranças é referencial para se demonstrar o

número de vezes que houve a lesão do direito perpetrado, na medida em que ou se cobrou

efetivamentc a instalação, ou ainda deixou o usuário/consumidor de instalá-lo por falta de

condições financeiras para arcar com tal despesa, tendo assim que pagar a esdrúxula "taxa

mínima". Como, segundo tabela fornecida, em anexo, confirmada pela ré, faz-se a cobrança

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QUARTA PROMOTOR1A DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

de R$ 51,67 (cinquenta e um reais e sessenta e sete centavos) por cada hidrômetro instalado,

em se multiplicando este valor por um número não sabido de ligações consideramos que deva

ser arbitrado por este juízo justo e necessário e apto a sanar o dano moral coletivo perpetrado,

valor que deverá ser revertido ao

IV - DO PEDIDO LIMINAR

Da análise do arcabouço trazido com esta vestibular,vislumbram-se

presentes os pressupostos que rendem azo ao deferimento da medida liminar, nos termos do

artigo 12 da Lei n.° 7.347/85 c/c o artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor. Esta

medida é possível porque a tese jurídica exposta é plausível e fundada na necessidade de se

assegurar a fruição da tutela de mérito pretendida antes da estabilização da demanda e da

efetivação do contraditório.

Disso, resulta que em se continuando a desmedida cobrança por parte

da empresa ré, incontáveis consumidores continuarão a pagar duplamente o mesmo serviço,

ou melhor, continuarão a enriquecer a parte ré sem causa prevista no ordenamento. E pior,

com o passar do tempo, mais e mais consumidores/usuários continuarão a serem atingidos por

essa cobrança, sem meio de defesa, pois, conforme o artigo 40, da Lei 11.445/2007, é possível

existir até o corte do abastecimento de água, caso o consumidor se recuse em pagar o preço

pedido. Pois bem, estão presentes a fumaça do bom direito e o perigo da demora. Assim,

requer o parquel à imediata suspensão por parte da SANEAGO, da cobrança do referido

'"serviço" de instalação/manutenção/conservação do hidrômetro de todos os usuários da

Comarca de Formosa/GO, bem como a imediata suspensão do pagamento daqueles que se

encontram em curso.

Em caso de descumprimento desta, requer ainda a cominação de multa

na ordem de R$ l .000,00 ( mil reais) por cada consumidor/usuário que for impelido pela ré a

pagar pelo irregular serviço de instalação de hidrômetro.

V - DOS PEDIDOS DEFINITIVOS

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QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

Tecidas estas razões, o Ministério Público do Estado de Goiás requer:

a) Que seja concedido o pedido liminar na forma do item IV;

b) Que a presente Ação Civil Pública seja recebida, autuada e

processada, eis que presentes os requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de Processo Civil

c da Lei 7.347/85;

c) Que seja citado o requerido na pessoa de seu representante legal, na

forma preconizada pelo Código de Processo Civil para, querendo, ofertar resposta, sob pena

de confissão quanto à matéria de fato e sob os efeitos da revelia;

d) Que, após a regular tramitação processual, seja julgado procedente o

pedido nessa Ação civil Pública para que a empresa ré se abstenha de cobrar dos usuários do

serviço de abastecimento de água no Município de Formosa/GO a indevida cobrança de

instalação/manutenção/conservação de hidròmetro;

e) Que a SANEAGO seja condenada, nos termos do parágrafo único, do

artigo 42, do CDC, a restituir, em dobro, acrescido de correção monetária e juros legais o

valor cobrado indevidamente, e já pago, total ou parcialmente, pelos consumidores para a

instalação de hidrômetros desde 10 de outubro de 2008 até a data do julgamento da presente

Ação Civil Pública;

f) Que, até para garantir o transporte da coisa julgada, que pode

beneficiar milhares de consumidores prejudicados com a desmedida cobrança e que já a

pagaram em parte ou em sua integralidade, e autorizado no §3°, do artigo 103, do Código de

Defesa do Consumidor, a empresa ré, após o deferimento do pedido, seja compelida a custear

ampla divulgação junto aos meios de comunicação, na Comarca de Formosa/GO, do

resultado positivo do presente feito, para, assim, possibilitar aos consumidores à liquidação e

a execução nos termos dos artigos 96 a 99, do CDC;

g) Cominação de astreintes, nos mesmos valores da multa diária supra,

para assegurar o cumprimento da decisão final;

h) A condenação da Ré ao pagamento de INDKNIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS COLETIVOS, em valor a ser arbitrado por este juízo, valor este a ser

revertido para a conta 06064-2, ag. 4422, Banco Itau (CNPJ 74.159.245/0001-00)

i) Que seja declarada nula de pleno direito a seguinte cláusula "Guardar

e conservar, na condição de fiel depositário, o padrão de ligação de Água, o hidrômetro e

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Ministério PfiWteiío Estada dt Balis

QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FORMOSA

outros dispositivos da SANEAGO" (item 4.3 do contrato em anexo), face aos expostos, para

com os consumidores residentes no Município de Formosa/GO.

j) A produção de todas as provas admitidas em direito, notadamente

documental, depoimento pessoal do réu, sob pena de confissão, oitiva das testemunhas que

oportunamente serão arroladas, perícias e inspeções.

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitos

meramente fiscais.

Formosa/GO, 26 de junho de 2009.

cv/Frederico Augush/de Oliveira^Santos

Promotífr de Justic