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Rainer Maria Rilke, ou como prefiro chamar, Rilke, escreveu um poema chamado “O Homem que Lê”. Usei-o no prólogo do meu TCC em História por pura vaidade e estética, e desde então, de tempos em tempos, me pego relembrando de suas linhas. Entendo como fato que Rilke retratou a si mesmo, uma autopoesia, que perdido em livros e ideias sentia-se estranho ao mundo lá fora, estranho para si mesmo, como um simples homem que lê. Por puro achismo, imagino-o pensando no futuro em meio a evolução da violência que ia rumo a novos patamares, e ao olhar pela janela cogitar: a que ponto chegaremos? Abusando da analogia fico imaginando se eu seria o homem que lê ou um dos homens que leem, que da janela observa o distante pensando mil coisas. Mas de certa forma, e talvez com razão, acredito que sou o oposto, sou aquilo que “O Homem que Lê” lê. Daqui da minha janela vejo somente uma rua e casas. Mas da janela dos meus olhos, na prepotência habitual, vejo um redemoinho de informações circulando, para cá e para lá. E é nesse momento que me sinto o que “O Homem que Lê” lê, como parte de um todo estranho,

Quem é o homem que lê

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Ideias e ideias

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Rainer Maria Rilke, ou como prefiro chamar, Rilke, escreveu um poema chamado O Homem que L. Usei-o no prlogo do meu TCC em Histria por pura vaidade e esttica, e desde ento, de tempos em tempos, me pego relembrando de suas linhas.Entendo como fato que Rilke retratou a si mesmo, uma autopoesia, que perdido em livros e ideias sentia-se estranho ao mundo l fora, estranho para si mesmo, como um simples homem que l. Por puro achismo, imagino-o pensando no futuro em meio a evoluo da violncia que ia rumo a novos patamares, e ao olhar pela janela cogitar: a que ponto chegaremos? Abusando da analogia fico imaginando se eu seria o homem que l ou um dos homens que leem, que da janela observa o distante pensando mil coisas. Mas de certa forma, e talvez com razo, acredito que sou o oposto, sou aquilo que O Homem que L l.Daqui da minha janela vejo somente uma rua e casas. Mas da janela dos meus olhos, na prepotncia habitual, vejo um redemoinho de informaes circulando, para c e para l.E nesse momento que me sinto o que O Homem que L l, como parte de um todo estranho, abarrotado de tantos avanos, tecnicismos, amores inocentes e dios esquematizados, propores picas de um andaime alto e frgil que despreza o horizonte e s v o cume do progresso infantilizado. Como toda essa estrutura frgil, precisa firmar-se em fortes parafusos para continuar crescendo, e est justamente nos parafusos a ridicularizaro, o menosprezo, a chacota do O Homem que L, ncleo da violncia avanada.Como no cair de uma mscara em frente ao espelho, ao invs de ser O Homem que L, sou uma partcula de seus pensamentos, representao de seus temores, agente de violncia que impossibilita novos homens que leem.No pessimismo pois creio ter pequena conscincia do que fao, mas imagino se um dia serei um forte parafuso, um fantasma do homem que lia, que se transformou em realidade, para agora e algum sempre.