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Língua Portuguesa Questões comentadas da FCC Prof. Fernando Pestana Aula 00 Prof. Fernando Pestana www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 112 AULA 00: DEMONSTRATIVA Salve, salve!!! Quando se fala em compreensão e interpretação de textos na FCC, saiba que as questões vinculadas aos textos quase sempre (99%) encontram respaldo nele. Não é preciso muita “viagem”. Portanto, você verá nos meus comentários que usualmente me valho de partes do texto para embasar a alternativa correta. Fique esperto quanto a isso. Quanto à tipologia textual, relembro que os textos da FCC são normalmente do tipo dissertativo-argumentativo. Só às vezes nos esbarramos com a narração e a descrição. É difícil encontrar questões sobre este assunto. Ok? Procurei adaptar os textos e enunciados das provas ao novo acordo ortográfico. Espero que o Word não me tenha dado uma pernada, pois ele ainda não aprendeu direitinho o novo acordo (sorte a dele). Fique tranquilo, entretanto (ah! sem trema!). Bastante calma na resolução das questões abaixo, ok? Siga este roteiro de leitura de um texto, a fim de bem interpretar: 1) Dê uma primeira lida descompromissada e breve para tomar conhecimento do texto. 2) Releia com calma sublinhando as palavras e frases que você considera mais importantes (a CADA parágrafo) 3) Faça um resumo pequeno ao lado de cada parágrafo daquilo que você leu. 4) Tente correlacionar as ideias presentes no primeiro parágrafo (introdução) e no último parágrafo (conclusão), pois, normalmente, as ideais se encontram, havendo reiteração. 5) Busque nos parágrafos do meio as frases mais importantes que estejam sendo usadas como argumento. Isso o ajudará a entender melhor a maioria dos textos da FCC. Ah, quero deixar claro que estou inteiramente à disposição para atender suas dúvidas, demandas e sugestões. Caso haja uma necessidade de entrar em contato comigo, faça-o pelo meu e-mail pessoal: [email protected]. Vamos nessa!

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AULA 00: DEMONSTRATIVA

Salve, salve!!! Quando se fala em compreensão e interpretação de textos na FCC, saiba que as questões vinculadas aos textos quase sempre (99%) encontram respaldo nele. Não é preciso muita “viagem”. Portanto, você verá nos meus comentários que usualmente me valho de partes do texto para embasar a alternativa correta. Fique esperto quanto a isso. Quanto à tipologia textual, relembro que os textos da FCC são normalmente do tipo dissertativo-argumentativo. Só às vezes nos esbarramos com a narração e a descrição. É difícil encontrar questões sobre este assunto. Ok? Procurei adaptar os textos e enunciados das provas ao novo acordo ortográfico. Espero que o Word não me tenha dado uma pernada, pois ele ainda não aprendeu direitinho o novo acordo (sorte a dele). Fique tranquilo, entretanto (ah! sem trema!). Bastante calma na resolução das questões abaixo, ok?

Siga este roteiro de leitura de um texto, a fim de bem interpretar: 1) Dê uma primeira lida descompromissada e breve para tomar conhecimento do texto. 2) Releia com calma sublinhando as palavras e frases que você considera mais importantes (a CADA parágrafo) 3) Faça um resumo pequeno ao lado de cada parágrafo daquilo que você leu. 4) Tente correlacionar as ideias presentes no primeiro parágrafo (introdução) e no último parágrafo (conclusão), pois, normalmente, as ideais se encontram, havendo reiteração. 5) Busque nos parágrafos do meio as frases mais importantes que estejam sendo usadas como argumento.

Isso o ajudará a entender melhor a maioria dos textos da FCC. Ah, quero deixar claro que estou inteiramente à disposição para atender suas dúvidas, demandas e sugestões. Caso haja uma necessidade de entrar em contato comigo, faça-o pelo meu e-mail pessoal: [email protected].

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FCC – TRE-SP – ANALISTA - 2004 Fundos para a Ciência

É correta a disposição do novo ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, de abandonar os planos de seu antecessor para descentralizar os recursos investidos na área. Não se trata de ser contra a descentralização como conceito. A ideia de diminuir a excessiva concentração de laboratórios e institutos de pesquisa nos Estados mais ricos do país é uma meta a ser perseguida.

A questão é um pouco mais complexa. O ponto de partida deve ser a constatação de que fazer ciência de qualidade é um processo caro e de que os recursos disponíveis não são infinitos – muito pelo contrário, são escassos. Distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba. A alternativa que se impõe é fazer dotações que possibilitem pesquisas consistentes e destiná-las a grupos capazes de colher bons resultados. A pulverização das verbas pode atender a interesses populistas de políticos, mas está longe de representar uma forma minimamente racional de investir em ciência e tecnologia.

Mesmo sem fragmentar demais as verbas, é possível buscar a tão almejada descentralização. Um exemplo é o planejado Instituto de Neurociências de Natal, que aos poucos começa a sair do papel. Trata-se de projeto de pesquisadores brasileiros – que desenvolvem ciência de ponta nos EUA – de criar no Rio Grande do Norte um centro de excelência internacional em pesquisas neurológicas. O instituto, embora ainda não tenha oficialmente nascido, já conta com terreno, alguma verba federal e, principalmente, a massa crítica proporcionada por cientistas de primeira linha, o que faz diferença.

Se todo investimento em ciência é uma aposta, cabe ao poder público colocar suas fichas em projetos com maior possibilidade de oferecer retorno. Se há uma combinação nefasta, é a do populismo com a ciência. (Folha de S. Paulo, editorial, 13/03/04) 1. A opinião defendida nesse editorial (A) diz respeito à necessidade de uma maior integração entre institutos de pesquisa privados e públicos para melhor desenvolvimento de tecnologia de ponta. (B) é a de que é preciso lutar por uma suplementação de recursos orçamentários, com vistas a um maior desenvolvimento da tecnologia nacional.

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(C) é a de que está havendo excessiva descentralização, por parte do novo ministro do setor, de recursos destinados ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. (D) diz respeito à necessidade de bem administrar as parcas verbas para a ciência e a tecnologia, destinando-as à pesquisa competente, que ofereça retorno. (E) é a de que, sem a necessária descentralização dos recursos para a área de ciência e de tecnologia, os políticos continuarão a tomar iniciativas de caráter populista. 2. Atente para as seguintes afirmações: I. A opinião de que distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba é uma crítica à política a ser adotada pelo novo ministro da Ciência e da Tecnologia. II. Numa primeira leitura, a frase para descentralizar os recursos investidos na área pode indicar a meta do novo ministro da Ciência e da Tecnologia, e não a do anterior, como é o caso. III. O exemplo do nascente Instituto de Neurociências de Natal é tomado como argumento em favor da necessidade de uma bem planejada e criteriosa descentralização. Considerando-se o que diz o texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e II, somente. (C))II e III, somente. (D) I e III, somente. (E) III, somente. 3. O elemento sublinhado na frase (A) É correta a disposição (...) de abandonar os planos de seu antecessor para descentralizar os recursos investidos na área expressa uma causalidade. (B) Distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba constitui um paradoxo. (C) A pulverização das verbas pode atender a interesses populistas de políticos tem o sentido de compromissos populares. (D) (...) cabe ao poder público colocar suas fichas em projetos com maior possibilidade de oferecer retorno tem o sentido de ir de encontro a. (E) Não se trata de ser contra a descentralização como conceito tem o sentido de em tese. FCC - TRE-SP – ANALISTA – 2006 Exclusão social

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A humanidade tem dominado a natureza a fim de tornar a vida cada vez mais longa e mais cômoda. Essas vantagens se expandiram para um número crescente de seres humanos. Graças à combinação dessas duas tendências, os homens imaginaram que seria possível construir uma utopia em que todos teriam acesso a tudo: todos, pelas mudanças sociais; a tudo, por causa dos avanços técnicos. No século XX, numa demonstração de arrogância, muitos chegaram a marcar o ano 2000 como a data da inauguração dessa utopia.

Neste início de século, vemos que a técnica superou as expectativas. Os seres humanos dispõem de uma variedade de bens e serviços inimagináveis até há bem pouco tempo, que aumentaram substancialmente a esperança de vida, ampliaram o tempo livre a ser usufruído e ainda oferecem a possibilidade de realizar sonhos de consumo. Mas a história social não cumpriu a parte que lhe cabia no acordo, e uma parcela considerável da humanidade ficou excluída dos benefícios. Ainda mais grave: o avanço técnico correu a uma velocidade tão grande que passou a aumentar a desigualdade e a ameaçar a estabilidade ecológica do planeta. A exclusão deixou de ser vista como uma etapa a ser superada: é um estado ao qual bilhões de seres humanos – os excluídos da modernidade – estão condenados.

Na modernidade técnica, o processo social, tanto entre os capitalistas mais liberais quanto entre os socialistas mais ortodoxos, é analisado do ponto de vista econômico, ignorando-se ou relegando-se a um segundo plano os aspectos sociais e os éticos. Já no século XIX, na luta pela abolição da escravidão, Joaquim Nabuco procurava encarar o processo social sob três óticas: a moral, a social e a econômica. Mais de um século passado, é urgente retomar essa visão triangular, se se deseja superar a barbárie da exclusão. (Cristovam Buarque. Admirável mundo atual. S. Paulo: Geração Editorial, 2001, pp. 188 e 328) 4. Neste início de século, vemos que a técnica superou as expectativas. A afirmação acima, que abre o segundo parágrafo do texto, (A) desmente a afirmação anterior de que estariam ocorrendo avanços técnicos significativos ao longo do século XX. (B) expande a afirmação anterior de que muitas vantagens tecnológicas estariam atingindo um número crescente de seres humanos. (C) confirma a afirmação anterior de que os homens estão sendo capazes de construir uma utopia acessível a todos. (D) desmente a afirmação anterior de que a humanidade vem dominando mais e mais as forças da natureza. (E) expande a afirmação anterior de que as mudanças sociais estariam beneficiando um número crescente de seres humanos.

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5. No primeiro parágrafo, a utopia de que trata o autor teria como característica essencial (A) o acesso de muitos homens aos benefícios práticos da tecnologia. (B) uma melhor expectativa de vida, independente do estágio da ciência. (C) o desfrute plenamente socializado das conquistas tecnológicas. (D) a proposição de uma nova era tecnológica a partir do ano de 2000. (E) a confiança presunçosa no domínio absoluto do homem sobre a natureza. 6. Considere as seguintes afirmações: I. Na expressão todos teriam acesso a tudo, o autor dá ênfase ao que há de absoluto nas pretensões dos criadores da referida utopia. II. Com a frase a história social não cumpriu a parte que lhe cabia no acordo, o autor denuncia o processo de exclusão. III. Com a frase a exclusão deixou de ser vista como uma etapa a ser superada, o autor deixa claro que houve, enfim, uma ampla inclusão social. Considerando-se o contexto, está correto o que se afirma SOMENTE em (A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III. 7. Ao se referir ao escritor Joaquim Nabuco, no terceiro parágrafo, o autor do texto deseja demonstrar que (A))é antiga a luta para que a inclusão social dos oprimidos se dê do modo mais abrangente possível. (B) vem de longe a idéia de que o progresso tecnológico encaminha a solução das questões sociais. (C) aquele escritor, já no século XIX, propunha-se a enfrentar a barbárie do desequilíbrio ecológico do planeta. (D) são antigas as lutas pela abolição do trabalho forçado, caracterizadas pela plena confiança nas vantagens da tecnologia. (E) vem de longe a idéia de que a exclusão social só ocorre quando o avanço tecnológico é pouco relevante. 8. A expressão relegando-se a um segundo plano, utilizada no terceiro parágrafo, preencherá adequadamente a lacuna da frase: (A) Passei a me dedicar ainda mais a ela e, ...... meus sonhos mais altos, desisti definitivamente de ir trabalhar no exterior. (B) O diretor da empresa surpreendeu seu assessor ......, fingindo passar-se por ele, o atrevido. (C) Ele percebeu que as metas traçadas eram ambiciosas demais, e imaginou outras, ...... aquelas que de fato não poderia cumprir. (D) ...... , muitas mulheres, como as da antiga Atenas, vivem por seus maridos e filhos.

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(E) Há muita gente que, ...... seu pudor, não hesita em proclamar bem alto suas supostas virtudes. FCC – TRE-SP – TÉCNICO – 2006 Texto I

É melhor ser alegre que ser triste, já dizia Vinícius de Moraes. Sem dúvida. O poeta ia mais longe, entoando em rima e em prosa que tristeza não tem fim. Já a felicidade, sim. Até hoje, muita gente chora ao ouvir esses versos porque eles tocam num ponto nevrálgico da vida humana: os sentimentos. E quando tais sentimentos provocam algum tipo de dor, fica difícil esquecer - e ainda mais suportar. A tristeza, uma das piores sensações da nossa existência, funciona mais ou menos assim: parece bonita apenas nas músicas. Na vida real, ninguém gosta dela, ninguém a quer ver.

Tristeza é um sentimento que responde a estímulos internos, como recordações, memórias, vivências; ou externos, como a perda de um emprego ou de um amor. Não se trata de uma emoção, que é uma resposta imediata a um estímulo. No caso de tristeza, nosso organismo elabora e amadurece a emoção, antes de manifestá-la. É uma resposta natural a situações de perdas ou frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais responsáveis por angústia, melancolia ou coração apertado. “A tristeza é uma resposta que faz parte de nossa forma de ser e de estar no mundo. Passamos o dia flutuando entre pólos de alegria e infelicidade”, afirma o médico psiquiatra Ricardo Moreno. Se passamos o dia entre esses pólos de flutuação, é bom não levar tão a sério os comerciais de margarina em que a família é linda, perfeita, alegre e até os cachorros parecem sorrir o tempo inteiro. Vivemos numa época em que a felicidade constante é praticamente um dever de todos. É fato: ser feliz o tempo todo está virando uma obrigação a ponto de causar angústia. Especialistas, no entanto, afirmam que estar infeliz é mais do que natural, é necessário à condição humana. A tristeza é um dos raros momentos que nos permite reflexão, uma volta para nós mesmos, uma possibilidade de nos conhecermos melhor. De saber o que queremos, do que gostamos. E somente com essa clareza de dados é que podemos buscar atividades que nos dão prazer, isto é, que nos fazem felizes. Assim como a dor e o medo, a tristeza nos ajuda a sobreviver. Sim, porque se não sentíssemos medo, poderíamos nos atirar de um penhasco. E se não

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tivéssemos dor, como o organismo poderia nos avisar de que algo não vai bem? (Adaptado de Mariana Sgarioni, Emoção & Inteligência, Superinteressante, p. 18-20) 9- Identifica-se a ideia principal do texto em: a) poetas convivem com sentimentos negativos, como a tristeza, porque são incapazes de perceber os momentos felizes que ocorrem normalmente no cotidiano das pessoas. b) Felicidade corresponde a uma forma ideal de vida, por isso peças de publicidade enfatizam os momentos mais agradáveis da vida familiar. c) Tristeza é um sentimento natural de reação a situações de frustração, sendo, portanto, inerente à condição humana. d) Tristeza e felicidade, sentimentos permanentes da vida, são os temas preferidos de poetas e músicos, por isso utilizados atualmente por publicitários. e) O ideal que todos devem buscar, em seu dia-a-dia, deve ser o de se sentirem constantemente alegres e felizes. 10- A afirmativa correta de acordo com o texto é: a) Vinicius de Moraes tinha toda a razão quando escreveu que tristeza não tem fim, mas a felicidade, sim. b) Sentimentos de felicidade e de tristeza, embora sejam opostos entre si, provocam, ambos, sensação de dor nas pessoas. c) A televisão, ao mostrar situações familiares de felicidade completa, apóia-se em descobertas recentes sobre os sentimentos humanos. d) O choro causado pelos versos de uma música bem triste ensina as pessoas a suportarem melhor as grandes frustrações da vida real. e) A tristeza constitui um sentimento que propicia ao ser humano maior consciência de si próprio e de seus anseios. Texto II

Apesar da queda relativa, a Região Sudeste ainda responde por mais da metade do PIB nacional. O Estado de São Paulo apresentou a maior queda relativa nos últimos anos, mas responde por cerca de um terço da riqueza produzida no País. Historicamente baseado na agricultura e na indústria, o Sudeste está rapidamente descortinando sua vocação para os serviços.

O chamado setor terciário – que engloba o comércio, a área

financeira e todos os tipos de serviços – já é majoritário nos quatro Estados da Região. Segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo, Carlos Azzoni, a região está se sofisticando e se especializando na prestação de serviços. O Sudeste está se transformando numa referência na América Latina nas áreas de saúde, educação, tecnologia e

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informática. O setor financeiro mais sofisticado deve permanecer concentrado na região por longos anos.

Para o mercado de trabalho, a mudança da vocação regional

significa a perda de vagas fixas e a abertura de muitas oportunidades de trabalho menos rígidas. A agricultura deverá manter sua força na Região, mas precisa investir em culturas extensivas para garantir a competitividade. A tendência será concentrar a produção em culturas com maior produtividade que se encaixam nesse perfil, como a cana-de-açúcar, a laranja e as flores.

Embora as facilidades logísticas desobriguem as empresas de

produzir junto ao mercado, a força de consumo do Sudeste ainda cria muitas oportunidades. Alguns centros no interior de São Paulo e Minas Gerais têm força equivalente à de capitais de Estados menores. Essas cidades médias possuem, além do mercado, mão-de-obra qualificada e custos reduzidos em relação aos grandes centros. Por isso, a interiorização do desenvolvimento é uma tendência irreversível, segundo os especialistas. Outra aposta recorrente está na área de logística e distribuição, da qual as empresas dependem cada vez mais, por ser um setor que se desenvolve necessariamente junto aos grandes mercados. (Adaptado de Karla Terra, Novo mapa do Brasil, O Estado de S. Paulo, H2, 11 de dezembro de 2005) 11. O texto está corretamente resumido da seguinte maneira: (A) A ausência de consumidores obriga o setor industrial a uma transformação no mercado de trabalho, para torná-lo mais flexível. (B) As distâncias entre centros produtores e respectivos consumidores justificam a queda relativa do PIB na Região Sudeste. (C) Estados de extensão geográfica menor, em relação aos da Região Sudeste, ampliam oportunidades de trabalho, com a interiorização dos serviços. (D) A queda relativa do PIB na Região Sudeste desperta interesse mais voltado para a agricultura, com a produção de alguns itens diferenciados. (E) De base historicamente agroindustrial, o Sudeste avança pelo setor terciário, que já se tornou o mais significativo em toda a Região. 12. É correto afirmar, considerando o contexto, que a Região Sudeste (A) perdeu consideravelmente sua importância na área agroindustrial, com a interiorização do desenvolvimento econômico. (B) deve ampliar sua força de consumo no mercado interno, para escoar a produção agrícola específica e recuperar a queda do PIB. (C) representa papel de destaque na economia brasileira, com novas oportunidades de trabalho, especialmente na área de serviços. (D) sofreu queda no PIB em consequência do afastamento de muitas empresas, que passaram a operar à distância do mercado consumidor.

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(E) concentra sua economia em cidades menores, por seus custos reduzidos, o que leva à perda relativa de sua importância na economia nacional. Texto III

Durante os períodos eleitorais, muito se fala do voto como expressão do exercício de cidadania. No entanto, o conceito de cidadania não se esgota no direito de eleger e de ser eleito para compor os órgãos estatais incumbidos de elaborar executar ou fazer cumprir as leis. Ao contrário, o conceito de cidadania, como um dos fundamentos da República, é mais que o mero exercício do direito do voto. A cidadania compreende, além disso, o direito de apresentar projetos de lei diretamente às casas legislativas, de peticionar ou de representar aos poderes públicos. Em verdade, a cidadania exige, no Estado Democrático de Direito, que os cidadãos participem nos negócios públicos – elegendo ou sendo eleitos como representantes do povo –, principalmente inter vindo no processo de elaboração e na fiscalização das leis, não apenas em defesa de interesses próprios, mas dos de toda a sociedade. Vê-se, pois, como é conveniente que os cidadãos tenham pelo menos boas noções de processo legislativo, para saber como e quando devem nele intervir, em defesa do interesse comum. A educação, por exemplo, é assunto de interesse público, porque sempre foi não apenas a ferramenta essencial da construção da cultura e da civilização, mas o instrumento supremo da sobrevivência humana e de sua evolução. Foi ela que permitiu aos homens, cada vez mais, uma elaborada adaptação ao meio ambiente, ao longo de incontáveis eras. Foi e continua sendo o grande diferencial na história evolutiva da humanidade. Por sua reconhecida importância estratégica para a vida das pessoas e do País, a educação é apresentada como prioridade nos diferentes programas de candidatos a cargos executivos e legislativos. (Adaptado de Cláudio Fonseca, Jornal dos Professores, p. 7, julho de 2006) 13. A ideia central do texto consiste na discussão de (A) normas legais, especialmente em relação ao exercício do direito do voto, que compete aos cidadãos (B) determinados princípios democráticos a que todos devem submeter-se, especialmente nos períodos eleitorais. (C) como os candidatos a cargos executivos e legislativos devem participar efetivamente da ordem democrática. (D) um conceito mais amplo de cidadania e das condições para exercê-la

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de uma forma eficaz e participativa. (E) uma educação pública de qualidade, como programa básico de diferentes candidatos a cargos eletivos 14. Considere as afirmativas abaixo: I. O conceito de cidadania engloba participação ativa nos negócios públicos e ultrapassa o simples ato de votar nos dias de eleição. II. A escolha dos candidatos a cargos públicos, especialmente os que envolvem função legislativa, deve valorizar aqueles que se preocupam prioritariamente com a educação pública. III. A evolução da humanidade só foi coroada de êxito a partir da definição e da aceitação de um conceito comum de educação. Considerando-se o contexto, está correto o que se afirma SOMENTE em (A) I (B) II (C) III (D) I e II (E) II e III FCC – TRE-TO - ANALISTA – 2011 Texto I De volta à Antártida

A Rússia planeja lançar cinco novos navios de pesquisa polar como parte de um esforço de US$ 975 milhões para reafirmar a sua presença na Antártida na próxima década. Segundo o blog Science Insider, da revista Science, um documento do governo estabelece uma agenda de prioridades para o continente gelado até 2020. A principal delas é a reconstrução de cinco estações de pesquisa na Antártida, para realizar estudos sobre mudanças climáticas, recursos pesqueiros e navegação por satélite, entre outros. A primeira expedição da extinta União Soviética à Antártida aconteceu em 1955 e, nas três décadas seguintes, a potência comunista construiu sete estações de pesquisa no continente. A Rússia herdou as estações em 1991, após o colapso da União Soviética, mas pouco conseguiu investir em pesquisa polar depois disso. O documento afirma que Moscou deve trabalhar com outras nações para preservar a “paz e a estabilidade” na Antártida, mas salienta que o país tem de se posicionar para tirar vantagem dos recursos naturais caso haja um desmembramento territorial do continente. (Pesquisa Fapesp, dezembro de 2010, no 178, p. 23)

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15. Há exemplos de palavras ou expressões empregadas no texto para retomar outras já utilizadas sem repeti-las literalmente, como ocorre em: I. o continente gelado = a Antártida II. Moscou = a Rússia III. a revista Science = o blog Science Insider IV. a potência comunista = a União Soviética Atende corretamente ao enunciado da questão o que está em (A) I e III, apenas. (B) I e IV, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I, II e IV, apenas. (E) I, II, III e IV. Texto II

Quando eu sair daqui, vamos começar vida nova numa cidade antiga, onde todos se cumprimentam e ninguém nos conheça. Vou lhe ensinar a falar direito, a usar os diferentes talheres e copos de vinho, escolherei a dedo seu guarda-roupa e livros sérios para você ler. Sinto que você leva jeito porque é aplicada, tem meigas mãos, não faz cara ruim nem quando me lava, em suma, parece uma moça digna apesar da origem humilde. Minha outra mulher teve uma educação rigorosa, mas mesmo assim mamãe nunca entendeu por que eu escolhera justamente aquela, entre tantas meninas de uma família distinta. (Chico Buarque. Leite derramado, São Paulo, Cia. das Letras, 2009, p. 29) 16. Leia atentamente as afirmações abaixo sobre o texto. I. Ao expressar o desejo de viver numa cidade onde todos se cumprimentam e ninguém nos conheça, o narrador incorre numa evidente e insolúvel contradição. II. A afirmação de que a outra mulher teve uma educação rigorosa é reafirmação, por contraste, de que aquela a quem o narrador se dirige não a teve, o que já estava implícito no propósito de lhe ensinar a falar direito, a usar os diferentes talheres e copos de vinho etc. III. Ao dizer que sua interlocutora parece uma moça digna apesar da origem humilde, o narrador sugere, por meio da concessiva, que a dignidade não costuma ser característica daqueles cuja origem é humilde. Está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) II e III, apenas. (C) I e III, apenas. (D) I e II, apenas. (E) II, apenas.

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17. ... escolherei a dedo seu guarda-roupa e livros sérios para você ler. A expressão grifada na frase acima pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido original, por: (A) pessoalmente. (B) de modo incisivo. (C) apontando. (D) entre outras coisas. (E) cuidadosamente. Texto III Cartão de Natal Pois que reinaugurando essa criança pensam os homens reinaugurar a sua vida e começar novo caderno, fresco como o pão do dia; pois que nestes dias a aventura parece em ponto de voo, e parece que vão enfim poder explodir suas sementes: que desta vez não perca esse caderno sua atração núbil para o dente; que o entusiasmo conserve vivas suas molas, e possa enfim o ferro comer a ferrugem o sim comer o não. João Cabral de Melo Neto 18. No poema, João Cabral (A) critica o egoísmo, e manifesta o desejo de que na passagem do Natal as pessoas se tornem generosas e façam o sim comer o não. (B) demonstra a sua aversão às festividades natalinas, pois nestes dias a aventura parece em ponto de vôo, mas depois a rotina segue como sempre. (C) critica a atração núbil para o dente daqueles que transformam o Natal em uma apologia ao consumo e se esquecem do seu caráter religioso. (D) observa com otimismo que o Natal é um momento de renovação em que os homens se transformam para melhor e fazem o ferro comer a ferrugem. (E) manifesta a esperança de que o Natal traga, de fato, uma transformação, e que, ao contrário de outros natais, seja possível começar novo caderno.

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19. É correto perceber no poema uma equivalência entre (A) ferrugem e aventura. (B) dente e entusiasmo. (C) caderno e vida. (D) sementes e pão do dia. (E) ferro e atração núbil. 20. que desta vez não perca esse caderno Com a frase acima o poeta (A) alude a uma impossibilidade. (B) exprime um desejo. (C) demonstra estar confuso. (D) revela sua hesitação. (E) manifesta desconfiança. FCC – TRE-TO – TÉCNICO - 2011 Texto I

O documentário E Agora? pretende revelar detalhes do tráfico de aves silvestres no Brasil. Segundo o produtor Fábio Cavalheiro, o longa-metragem apresentará cenas de flagrantes de tráfico, as rotas do comércio ilegal e entrevistas com autoridades e representantes de ONGs.

A Agência Nacional de Cinema (Ancine) aprovou o projeto e, agora, busca-se patrocínio. A ONG SOS Fauna, especializada em resgates, foi uma das orientadoras para a produção do filme.

O longa também se propõe a discutir outro problema: o fato de que,

mesmo quando salvas das mãos dos traficantes, muitas aves não são reintroduzidas na natureza.

Além da versão final editada para o cinema, as entrevistas e

materiais pesquisados estarão disponíveis para pesquisadores que queiram se aprofundar no tema. A intenção é a de que o filme contribua para a educação – e, por isso, será oferecido para estabelecimentos de ensino.

Entre as espécies mais visadas pelos traficantes estão papagaios, a

araponga, o pixoxó, o canário-da-terra, o tico-tico, a saíra-preta, o galo-de-campina, sabiás e bigodinho

. (O Estado de S. Paulo, A30 Vida, Planeta, 21 de novembro de 2010) 21. O assunto do texto está corretamente resumido em: (A) Um longa-metragem, em forma de documentário, abordará o tráfico de aves silvestres no Brasil, e terá objetivos educativos.

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(B) A Ancine deverá escolher e patrocinar a realização de alguns projetos de filmes educativos, destinados às escolas brasileiras. (C) ONGs voltadas para a proteção de aves silvestres buscam a realização de novos projetos, como a de filmes educativos. (D) Várias espécies de aves silvestres encontram-se em extinção, apesar dos constantes cuidados de ONGs destinadas à sua proteção. (E) Apesar das intenções didáticas, filme sobre tráfico de aves silvestres não atinge sua finalidade educativa. 22. O texto informa claramente que (A) o produtor do documentário sobre aves silvestres baseou-se em entrevistas com pesquisadores para desenvolver o roteiro do filme. (B) as discussões referentes aos diversos problemas que colocam em perigo as aves silvestres já estão em andamento na Ancine. (C) algumas Organizações Não Governamentais estão se propondo a proteger aves silvestres capturadas e a preparar seu retorno à natureza. (D) o objetivo principal do documentário será oferecer subsídios a pesquisadores interessados em estudos sobre aves silvestres brasileiras. (E) o projeto do documentário sobre o tráfico de aves silvestres já foi aprovado, mas ainda não há patrocinador para sua produção. Texto II A bailarina

A profissão de bufarinheiro está regulamentada; contudo, ninguém mais a exerce, por falta de bufarinhas*. Passaram a vender sorvetes e sucos de fruta, e são conhecidos como ambulantes.

Conheci o último bufarinheiro de verdade, e comprei dele um espelhinho que tinha no lado oposto a figura de uma bailarina nua. Que mulher! Sorria para mim como prometendo coisas, mas eu era pequeno, e não sabia que coisas fossem. Perturbava-me.

Um dia quebrei o espelho, mas a bailarina ficou intata. Só que não sorria mais para mim. Era um cromo como outro qualquer. Procurei o bufarinheiro, que não estava mais na cidade, e provavelmente teria mudado de profissão. Até hoje não sei qual era o mágico: se o bufarinheiro, se o espelho. * bufarinhas − mercadorias de pouco valor; coisas insignificantes. (Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis, in Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p.89) 23. O texto se desenvolve como (A) depoimento de uma criança sobre o espelhinho que tinha no lado oposto a figura de uma bailarina nua, registrado em sua memória.

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(B) discussão em torno da importância de certas profissões, ainda que se destinem ao comércio de bufarinhas. (C) crítica a um tipo de vendedores que não se preocupa com valores morais, como no caso da figura da bailarina nua vendida a uma criança. (D) relato de caráter pessoal, em que o autor relembra uma situação vivida quando era pequeno e reflete sobre ela. (E) ensaio de caráter filosófico, em que o autor questiona o dilema diante de certos fatos da vida, apontado na dúvida final: Até hoje não sei qual era o mágico. 24. É INCORRETO afirmar que: (A) A exclamação Que Mulher! cria uma incoerência no contexto, por referir-se a uma figura feminina que era, na verdade, um cromo como outro qualquer. (B) Percebe-se, na fala do contista, certa nostalgia em relação aos bufarinheiros, que vendiam sonhos, embutidos nas pequenas coisas. (C) Bufarinheiro é uma palavra atualmente em desuso no idioma, porém é possível entender seu sentido no decorrer do texto. (D) Uma possível conclusão do texto é a de que a verdadeira mágica estava no encanto da criança, quebrado com o espelho partido. (E) No 1o parágrafo o autor constata mudança de hábitos na substituição das bufarinhas por sorvetes e sucos de fruta. Texto III

Na Academia Brasileira de Letras, há um salão bonito, mas um pouco sinistro. É o Salão dos Poetas Românticos, com bustos dos nossos principais românticos na poesia: Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo.

Os modernistas de 22, e antes deles os parnasianos, decidiram

avacalhar com essa turma de jovens, que trouxe o Brasil para dentro de nossa literatura. Foram os românticos, na rosa e no verso, que colocaram em nossas letras as palmeiras, os índios, as praias selvagens, o sabiá, as borboletas de asas azuis, a juriti − o cheiro e o gosto de nossa gente. Não fosse o romantismo, ficaríamos atrelados ao classicismo das arcádias, à pomposidade do verso burilado. Sem falar nos poemas-piadas, a partir de 1922, todos como vanguarda da vanguarda.

Foram jovens. Casimiro morreu com 21 anos, Álvares de Azevedo com 22, Castro Alves com 24, Fagundes Varela com 34. O mais velho de todos, Gonçalves Dias, mal chegara aos 40 anos. O Salão dos Poetas Românticos é também sinistro pois é de lá que sai o enterro dos imortais, que morrem como todo mundo. (Adaptado de Carlos Heitor Cony "Salão dos românticos". FSP, 16/12/2010)

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25. No 2º parágrafo, identifica-se (A) aceitação, com ressalvas, do fato de a escola romântica ser considerada superior à parnasiana por esta última não ter sido produzida por jovens talentos. (B) elogio à produção literária dos autores parnasianos, cujas obras clássicas teriam inspirado o modernismo de 22. (C) comparação do movimento de 22 com o romantismo, e conclusão de que o primeiro, mais ousado, é superior ao segundo. (D) reflexão a respeito do valor dos poetas românticos brasileiros, que teriam sido injustamente criticados por parnasianos e modernistas. (E) constatação dos inúmeros defeitos da produção literária modernista, com base na falta de seriedade de seus autores. 26. ... pois é de lá que sai o enterro dos imortais, que morrem como todo mundo. (final do texto) A frase acima (A) aponta a desvalorização dos escritores que já foram considerados os melhores do país. (B) produz efeito humorístico advindo do paradoxo causado por um jogo de palavras com os conceitos de mortalidade e imortalidade. (C) conclui que apenas os autores românticos merecem ser chamados de imortais. (D) repudia com sarcasmo o privilégio oferecido aos autores da Academia, pois são mortais como os demais escritores. (E) estabelece oposição à ideia de que o Salão dos Poetas Românticos teria algo de fúnebre. 27. − o cheiro e o gosto de nossa gente. (2o parágrafo) O segmento acima configura-se como (A) ressalva ao que foi afirmado antes. (B) síntese valorativa da enumeração que o antecede. (C) causa dos fatos que foram apresentados. (D) opinião que sintetiza a ideia principal do parágrafo. (E) explicação que complementa o termo imediatamente anterior. FCC – TRE-AP – ANALISTA – 2011

As indústrias culturais, e mais especificamente a do cinema, criaram uma nova figura, “mágica”, absolutamente moderna: a estrela. Depressa ela desempenhou um papel importante no sucesso de massa que o cinema alcançou. E isso continua. Mas o sistema, por muito tempo restrito apenas à tela grande, estendeu-se progressivamente, com o desenvolvimento das indústrias culturais, a outros domínios, ligados primeiro aos setores do espetáculo, da televisão, do show business. Mas alguns sinais já demonstravam que o sistema estava prestes a se espalhar e a invadir todos os domínios: imagens como as de Gandhi ou Che Guevara, indo de fotos a pôsteres, no mundo inteiro, anunciavam a

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planetarização de um sistema que o capitalismo de hiperconsumo hoje vê triunfar.

O que caracteriza o star-system em uma era hipermoderna é, de

fato, sua expansão para todos os domínios. Em todo o domínio da cultura, na política, na religião, na ciência, na arte, na imprensa, na literatura, na filosofia, até na cozinha, tem-se uma economia do estrelato, um mercado do nome e do renome. A própria literatura consagra escritores no mercado internacional, os quais negociam seus direitos por intermédio de agentes, segundo o sistema que prevalece nas indústrias do espetáculo. Todas as áreas da cultura valem-se de paradas de sucesso (hit-parades), dos mais vendidos (best-sellers), de prêmios e listas dos mais populares, assim como de recordes de venda, de frequência e de audiência destes últimos.

A extensão do star-system não se dá sem uma forma de banalização ou mesmo de degradação − da figura pura da estrela, trazendo consigo uma imagem de eternidade, chega-se à vedete do momento, à figura fugidia da celebridade do dia; do ícone único e insubstituível, passa-se a uma comunidade internacional de pessoas conhecidas, “celebrizadas”, das quais revistas especializadas divulgam as fotos, contam os segredos, perseguem a intimidade. Da glória, própria dos homens ilustres da Antiguidade e que era como o horizonte resplandecente da grande cultura clássica, passou-se às estrelas − forma ainda heroicizada pela sublimação de que eram portadoras − , depois, com a rapidez de duas ou três décadas de hipermodernidade, às pessoas célebres, às personalidades conhecidas, às “pessoas”. Deslocamento progressivo que não é mais que o sinal de um novo triunfo da forma moda, conseguindo tornar efêmeras e consumíveis as próprias estrelas da notoriedade. (Adap. de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy. Uma cultura de celebridades: a universalização do estrelato. In A cultura – mundo: resposta a uma sociedade desorientada. Trad: Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.81 a 83) 28. No texto, os autores (A) tecem elogios às indústrias culturais, assinalando como positivo o desempenho delas na constituição de sociedades modernas. (B) advogam o reconhecimento do papel exclusivo do cinema na criação e disseminação da figura da estrela. (C) atribuem às estrelas do cinema a massificação dessa arte, em um sistema que permanece unicamente por força da atuação das atrizes de alta categoria. (D) condenam a expansão do sistema que equivocadamente se constituiu no passado em torno da figura da estrela, porque ele tornou obrigatória a figura intermediária do agente.

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(E) apontam a hipermodernidade como era que adota, de modo generalizante, práticas que na modernidade mais se associavam às indústrias do espetáculo. 29. Os autores referem-se a Gandhi ou Che Guevara com o objetivo de (A) insinuar que, na modernidade, a imagem independe do valor que efetivamente um homem representa. (B) recriminar, em aparte irrelevante para a argumentação principal, a falta de critério na exposição da figura de um líder, que acarreta o uso corriqueiro de sua imagem − numa foto ou pôster. (C) comprovar que o sistema associado à figura da estrela estava ligado aos setores do espetáculo, da televisão, do show business. (D) conferir dignidade à indústria cultural, demonstrando que essa indústria tem também a função de dar visibilidade à imagem de grandes líderes. (E) demonstrar, por meio de particularização, que antes da era hipermoderna já havia sinais de que o starsystem invadiria todos os domínios. FCC – TRE-AP – TÉCNICO – 2011 Texto I

A França, berço da tríade de valores modernos de liberdade, igualdade e fraternidade, deu passo temerário ao proibir o uso, em espaços públicos, de véus que cubram totalmente o rosto. Trata-se de uma manifestação de intolerância difícil de reconciliar com os valores que a nação francesa veio a representar no mundo.

Na prática, a proibição criminaliza o porte de indumentárias

tradicionais em alguns grupos muçulmanos, como o niqab (que deixa só os olhos à mostra) e a burca (que os mantém cobertos por uma tela). A legislação adotada em 2010 entrou em vigor nesta semana e já motivou a aplicação de uma multa de cerca de R$ 340.

A lei interdita o uso de vestimentas que impeçam a identificação da

pessoa, sob o pretexto de que essa dissimulação pode favorecer comportamentos suscetíveis de perturbar a ordem pública. Vale para ruas, parques, escolas, repartições, bibliotecas, hospitais, delegacias e ginásios de esporte. Domicílios, veículos particulares e locais de culto ficam excetuados.

Nesse grau de generalidade, a lei se aplicaria a qualquer acessório

− como máscaras ou capacetes − que oculte o rosto. A intenção de discriminar muçulmanas transparece quando se considera a exceção feita na lei: máscaras usadas no contexto de festas, manifestações artísticas ou procissões religiosas, "desde que se revistam de caráter tradicional".

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Cristãos, portanto, podem cobrir o rosto no Carnaval, no Halloween

ou em procissões. Muçulmanas, no dia a dia, não − ainda que a peça seja de uso tradicional. O argumento da obrigatoriedade de identificação é ponderável. A própria legislação admite que a identidade seja confirmada em recinto policial. A imposição de multa, porém, parece abusiva.

A roupa e o uso de adereços − como crucifixos ou outros símbolos

religiosos − deveriam ser considerados parte integrante do direito à expressão da personalidade, o que inclui a fé. Decerto que em muitos casos o uso do véu é imposto pela família e pode ser um símbolo de sujeição da mulher, mas basta uma que o faça por vontade própria para que a lei resulte em violação de seus direitos.

A medida extrema só encontra explicação no sentimento xenófobo

que se dissemina pela França. Vem a calhar para o presidente Nicolas Sarkozy, que parece disposto a tudo para melhorar seus índices de popularidade. (Folha de S.Paulo. Opinião. 13 de abril de 2011) 30. O título que dá conta do assunto tratado com prioridade no texto é: (A) Privilégios dos cristãos. (B) Intolerância à francesa. (C) Datas religiosas e pagãs. (D) Índices de popularidade de Nicolas Sarkozy. (E) Lugares públicos e privados. 31. O autor do editorial, ao (A) referir-se a berço (linha 1), reconhece a França como origem de valores fundamentais, mas, ao mencionar modernos (linha 1), critica o anacronismo da tríade (linha 1). (B) falar em intolerância (linhas 4 e 5), toma como ponto de referência a cultura europeia contemporânea, que ele considera nada dever à tradição francesa. (C) caracterizar passo (linha 2), manifesta uma avaliação pessoal sobre a lei francesa, passando a fundamentar sua apreciação ao longo do texto. (D) mencionar niqab e burca (linha 9), defende que, na realidade, essas indumentárias são símbolos dos crimes praticados por certos grupos muçulmanos. (E) citar a legislação adotada em 2010 (linhas 10 e 11), inicia a argumentação que desabonará totalmente a lei que trata do uso de véus, visto que essa lei não preceitua nada que mereça séria consideração. 32. No aproveitamento que o autor fez da ideia, o grau de generalidade citado (linha 20) remete mais especificamente à não (A) citação do número da lei (linha 13). (B) identificação da pessoa (linha 14).

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(C) caracterização da forma como a lei interdita (linha 13). (D) definição do pretexto (linha 14). (E) especificação de vestimentas (linha 13). 33. A expressão do texto que está corretamente entendida é: (A) (linhas 4 e 5) manifestação de intolerância difícil de reconciliar / forma de repressão que se manifesta pela dificuldade de conciliação com as pessoas. (B) (linhas 5 e 6) valores que a nação francesa veio a representar no mundo / qualidades francesas que poderiam se tornar símbolos mundiais. (C) (linhas 7 e 8) a proibição criminaliza o porte de indumentárias tradicionais / a interdição acaba produzindo o crime de porte ilegal de indumentárias tradicionais. (D) (linhas 14 e 15) sob o pretexto de que essa dissimulação / com a alegação de que essa ocultação. (E) (linhas 15 e 16) pode favorecer comportamentos suscetíveis de perturbar a ordem pública / favoreceria comportamentos passíveis de atentar contra regimes democráticos. 34. O segmento que expressa ponto de vista normativo por parte do editorialista é: (A) A França, berço da tríade de valores modernos de liberdade, igualdade e fraternidade, deu passo temerário... (B) Na prática, a proibição criminaliza o porte de indumentárias tradicionais em alguns grupos muçulmanos... (C) A legislação adotada em 2010 entrou em vigor nesta semana... (D) A imposição de multa, porém, parece abusiva. (E) A roupa e o uso de adereços − como crucifixos ou outros símbolos religiosos − deveriam ser considerados parte integrante do direito à expressão da personalidade... FCC – TRE/RN – ANALISTA – 2011

Nas ilhas Mascarenhas − Maurício, Reunião e Rodriguez −, localizadas a leste de Madagáscar, no oceano Índico, muitas espécies de pássaros desapareceram como resultado direto ou indireto da atividade humana. Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções também ocorreu nessa localidade, com a morte de todas as espécies de uma família singular de pombos que não voavam − o solitário da ilha Rodriguez, visto pela última vez na década de 1790; o solitário da ilha Reunião, desaparecido por volta de 1746; e o célebre dodô da ilha Maurício, encontrado pela última vez no início da década de 1680 e quase certamente extinto antes de 1690.

Os volumosos dodôs pesavam mais de vinte quilos. Uma plumagem cinza-azulada cobria seu corpo quadrado e de pernas curtas, em cujo topo se alojava uma cabeça avantajada, sem penas, com um bico grande

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de ponta bem recurvada. As asas eram pequenas e, ao que tudo indica, inúteis (pelo menos no que diz respeito a qualquer forma de voo). Os dodôs punham apenas um ovo de cada vez, em ninhos construídos no chão.

Que presa poderia revelar-se mais fácil do que um pesado pombo gigante incapaz de voar? Ainda assim, provavelmente não foi a captura para o consumo pelo homem o que selou o destino do dodô, pois sua extinção ocorreu sobretudo pelos efeitos indiretos da perturbação humana. Os primeiros navegadores trouxeram porcos e macacos para as ilhas Mascarenhas, e ambos se multiplicaram de maneira prodigiosa. Ao que tudo indica, as duas espécies se regalaram com os ovos do dodô, alcançados com facilidade nos ninhos desprotegidos no chão − e muitos naturalistas atribuem um número maior de mortes à chegada desses animais do que à ação humana direta. De todo modo, passados os primeiros anos da década de 1680, ninguém jamais voltou a ver um dodô vivo na ilha Maurício. Em 1693, o explorador francês Leguat, que passou vários meses no local, empenhou-se na procura dos dodôs e não encontrou nenhum. (Extraído de Stephen Jay Gould. “O Dodô na corrida de comitê”, A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo, Cia. das Letras, 2003, pp. 286-8) 35. “Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções também ocorreu nessa localidade...” (1o parágrafo) A frase acima transcrita deve ser entendida como indicação de que a extinção das espécies de pombos que não voavam das ilhas Mascarenhas (A) seria um modelo a ser utilizado pelos homens no futuro, quando decididos a erradicar espécies inúteis ou prejudiciais. (B) é uma das primeiras extinções de animais vinculadas à ação direta ou indireta dos homens de que se tem notícia. (C) teria ocorrido muito tempo antes do verdadeiro início da extinção de espécies por conta de ações humanas diretas ou indiretas. (D) é um episódio tão antigo na história das relações entre homens e animais que pode ser considerado singular e ultrapassado. (E) deu origem a um padrão para as futuras extinções de animais, que estariam sempre ligadas à colonização humana de novas terras. 36. As asas eram pequenas e, ao que tudo indica, inúteis... (2o parágrafo) Ao que tudo indica, as duas espécies se regalaram com os ovos do dodô, alcançados com facilidade nos ninhos desprotegidos no chão... (último parágrafo)

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A expressão grifada nas frases acima transcritas deixa transparecer, em relação às afirmações feitas, (A) a sua comprovação científica irrefutável. (B) a certeza absoluta que o autor quer partilhar com o leitor. (C) o receio do autor ao formular um paradoxo. (D) a sua pequena probabilidade. (E) o seu caráter de hipótese bastante provável. 37. O segmento cujo sentido está corretamente expresso em outras palavras é: (A) se multiplicaram de maneira prodigiosa = cresceram ilusoriamente. (B) as duas espécies se regalaram = os dois gêneros se empanturraram. (C) uma família singular = um conjunto variegado. (D) que selou o destino = que indigitou a fatalidade. (E) empenhou-se na procura = dedicou-se com afinco à busca. Texto II

AS LAVADEIRAS DE MOÇORÓ, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo. As pedras têm um polimento que revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo modo à figura física de quem as usa. Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm ar próprio, que não se presta a confusão.

A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento.

Na pobreza natural das lavadeiras, as pedras são uma fortuna, jóias que elas não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos. (Carlos Drummond de Andrade) 38. Considere as observações seguintes sobre a associação de palavras no texto e o sentido decorrente dessa associação: I. No segmento passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo há uma comparação, que associa a transmissão de costumes ao fluxo das águas do rio. II. As referências às pedras, especialmente no 2º parágrafo, atribuem a elas qualidades humanas.

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III. Na frase Servem de espelho a suas donas é possível entender o sentido literal, como referência ao reflexo da água sobre as pedras, e o sentido contextual, como identidade e cumplicidade entre a mulher e a pedra. Está correto o que se afirma em: (A) II, apenas. (B) I e II, apenas. (C) I e III, apenas. (D) II e III, apenas. (E) I, II e III. FCC – ESCRITURÁRIO (BB) – 2011

"O futebol arte acabou." Esta frase ecoa nos ares brasileiros sempre que perdemos. Para mim, essa frase tem cheiro de blasfêmia, que bem poderia ter se originado dos rincões onde jogar futebol, muito mais que um esforço perdido, é puro desencanto. Nunca emitida por um dos nossos.

Arte para o futebol jamais é adjetivo; é a sua essência. A beleza

intrínseca do movimento e da harmonia é meio ideal de cultura para a alegria e a criatividade. E quem, neste mundo, apresenta com tanta clareza tais qualidades? Um povo historicamente esmagado pela colonização (que insiste em se fazer viva), explorado e excluído em sua imensa maioria e que permanece com os queixos elevados e com a esperança intocável, é de se admirar. E só conseguiu atingir essa capacidade de sobrevivência por suas incomparáveis características. Quando qualquer de nós se aproxima de alguma forma de expressão artística é que podemos perceber a sensibilidade que exala de cada poro.

Como podemos explicar que cá por estas bandas surgissem tantas

genialidades sem que, em sua maioria, tenham tido quaisquer facilidades para seus ofícios? Em tantas áreas poderíamos desfilar um sem número de figuras excepcionais que se destacaram por suas criações e capacidades. No esporte não é diferente.

Do bando de desnutridos que somos nasceram Ademar Ferreira da Silva e João do Pulo. Mesmo com a falta de piscinas, tivemos Manoel dos Santos, Ricardo Prado, Gustavo Borges e esse excepcional César Cielo. Raquetes, tão raras por aqui, nos deram Maria Ester Bueno, Thomaz Koch e um tal de Guga. Assim, poderíamos ficar horas a desfilar as incoerências da realidade que vivemos. E nada mais real do que o nosso futebol. Nossa plena expressão social e nosso maior agregador cultural foram postos em um lugar bem especial por todos os apreciadores desse esporte, exatamente por nossas especialidades: espontaneidade, dom, criatividade, alegria e habilidade. Isto é que determina o que é arte! E

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arte de qualidade ímpar. Não é à toa que nossos maiores jogadores desfilam seus dotes, espalhados por todo o planeta. (Adaptado de: Sócrates. Carta Capital, Pênalti, 6 de abril de 2011, p. 68) 39. Considerando-se o teor do texto, é correto afirmar que se trata de (A) narrativa sobre o sucesso do esporte brasileiro em todo o mundo, com destaque para o futebol, bem mais popular. (B) exposição de um ponto de vista pessoal a respeito das qualidades dos brasileiros na área dos esportes, particularmente no futebol. (C) discussão aprofundada sobre os problemas socioeconômicos que levam atletas brasileiros de destaque a sair do país. (D) proposta de maior apoio aos esportistas brasileiros, para que possam dedicar-se aos treinos e melhorar seu desempenho. (E) depoimento de um ex-jogador em que se nota a decepção com os recentes resultados negativos do futebol brasileiro. FCC – TRE/RN – TÉCNICO – 2011

Rio Grande do Norte: a esquina do continente

Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios potiguares resistiram e os franceses invadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O Estado tornou-se centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a ganhar importância a extração do sal – hoje, o Rio Grande do Norte responde por 95% de todo o sal extraído no país. O petróleo é outra fonte de recursos: é o maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo no mar. Os 410 quilômetros de praias garantem um lugar especial para o turismo na economia estadual.

O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas − com belas

praias, falésias, dunas e o maior cajueiro do mundo –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas, falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do Cabugi, em Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo artesanato reunido no mercado São João e pelas salinas.

Caicó, Currais Novos e Açari compõem o chamado Polo do Seridó, dominado pela caatinga e com sítios arqueológicos importantes, serras majestosas e cavernas misteriosas. Em Caicó há vários açudes e

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formações rochosas naturais que desafiam a imaginação do homem. O turismo de aventura encontra seu espaço no Polo Serrano, cujo clima ameno e geografia formada por montanhas e grutas atraem os adeptos do ecoturismo.

Outro polo atraente é Agreste/Trairi, com sua sucessão de serras, rochas e lajedos nos 13 municípios que compõem a região. Em Santa Cruz, a subida ao Monte Carmelo desvenda toda a beleza do sertão potiguar – em breve, o local vai abrigar um complexo voltado principalmente para o turismo religioso. A vaquejada e o Arraiá do Lampião são as grandes atrações de Tangará, que oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi. (Nordeste. 30/10/2010, Encarte no jornal O Estado de S. Paulo). 40. O texto se estrutura notadamente (A) sob forma narrativa, de início, e descritiva, a seguir, visando a despertar interesse turístico para as atrações que o Estado oferece. (B) de forma instrucional, como orientação a eventuais viajantes que se disponham a conhecer a região, apresentando-lhes uma ordem preferencial de visitação. (C) com o objetivo de esclarecer alguns aspectos cronológicos do processo histórico de formação do Estado e de suas bases econômicas, desde a época da colonização. (D) como uma crônica baseada em aspectos históricos, em que se apresentam tópicos que salientam as formações geográficas do Estado. (E) de maneira dissertativa, em que se discutem as várias divisões regionais do Estado com a finalidade de comprovar qual delas se apresenta como a mais bela. FCC – TRE/RS - DEFENDOR PÚBLICO - 2011 41. A transformação da frase "Eu nunca parei de pensar sobre isso", disse Goodwin, para discurso indireto é: (A) Goodwin disse que nunca parara de pensar sobre aquilo. (B) Goodwin diz que nunca tivera parado de pensar sobre aquilo. (C) Goodwin disse: “Eu nunca parei de pensar sobre isso”. (D) Goodwin diz: “Eu nunca parei de pensar sobre isso”. (E) Goodwin disse o que pensava sobre aquilo. FCC – TRF – ANALISTA – 2010 42. Ao se dirigir ao juiz, pediu-lhe o advogado de defesa que adiasse a sessão, informando ao magistrado que sua principal testemunha estava adoentada e, por essa razão, impossibilitada de comparecer.

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Indique a afirmação INCORRETA sobre o texto acima. (A) A presença de personagens e o encadeamento temporal são traços que autorizam qualificar esse texto como narrativo. (B) Em discurso direto, a fala correta do advogado seria: Solicito-lhe, Meritíssimo, que adie a sessão, uma vez que minha principal testemunha encontra-se adoentada, o que a impede de comparecer. (C) Há um encadeamento causal nesta sucessão de eventos: estava adoentada, impossibilitada de comparecer e pediu-lhe o advogado de defesa que adiasse a sessão. (D) Caso o advogado fosse um entusiasta dos latinismos, ele poderia, adequadamente, usar a expressão tábula rasa, para indicar seu respeito ao magistrado, e ipso facto, no sentido de por essa razão. (E) A forma verbal estava, explícita em estava adoentada, está elíptica na construção seguinte, impossibilitada de comparecer. FCC – AL/SP – AGENTE TÉCNICO LEGISLATIVO – 2010 43. O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava (...): “Restaure-se a moralidade, ou então nos locupletemos todos!”. Transpondo-se adequadamente o trecho acima para o discurso indireto, ele ficará: O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava que (A) ou bem se restaurasse a moralidade, senão nos locupletaríamos todos. (B) fosse restaurada a moralidade, ou então que nos locupletássemos todos. (C) seja restaurada a moralidade, ou todos nos locupletávamos. (D) seria restaurada a moralidade, caso contrário nos locupletássemos. (E) a moralidade seja restaurada, quando não venhamos a nos locupletar. FCC – OFICIAL DE CHANCELARIA – 2009 Texto I O texto abaixo foi extraído de correspondência do renomado escritor norte-americano Norman Mailer endereçada ao crítico literário Peter Balbert.

1º de fevereiro de 1998

Caro Peter,

Entre as coisas que temos em comum está a depressão cultural. Reflito sobre a minha vida, especialmente depois de ter completado cinquenta anos de literatura, e sinto que todas as coisas pelas quais

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trabalhei e lutei estão em decadência. O que antes eu via como o inimigo e, com grande otimismo, como o inimigo que haveria de ser derrotado, acabou na verdade por nos vencer. [...]

A questão diante de nós dois é: onde está a culpa? Estava em nós? Por nunca termos feito o suficiente, por mais que achássemos que sim? Ou estará na abstração que chamamos de “natureza humana”? Teremos ajustado as nossas crenças a um conceito de homens e mulheres que não se adequava aos fatos rasteiros?

Às vezes me pergunto se isso não será puro elitismo de minha parte, e se a verdadeira premissa da democracia, a de que os sem-banho tenham acesso a sabonete barato, desodorante e roupas de plástico, como um dos degraus da escalada a um nível mais alto, não seria o que está acontecendo. Ou se, como temo, estaremos caindo numa sociedade do homem e da mulher medíocres onipresentes, governados por altas mediocridades. [...]

Tudo de bom, Norman Mailer.

(Adaptado de Cartas Políticas, O mundo nas cordas, revista Piauí, 27, p.32) 44. O excerto demonstra que o autor (A) considera-se culpado das mazelas sociais, seja por não ter agido nos momentos graves, seja por operar com crenças contraditórias e demasiadamente abstratas. (B) compartilha com o interlocutor a sensação de estar declinando culturalmente, apesar dos diversos anos dedicados à atividade intelectual nobre. (C) acredita ter contribuído, em outras épocas, para o real aprimoramento de homens e mulheres, posteriormente submetidos à universal mediocridade. (D) hesita em relação à possibilidade de preceitos democráticos estarem sendo postos em prática na época em que escreve a carta. (E) concorda com a premissa de que os desfavorecidos devam receber o necessário para a manutenção da dignidade: sabonete barato, desodorante e roupas de plástico. Texto II

Humes observou certa vez que a civilização humana como um todo subsiste porque “uma geração não abandona de vez o palco e outra triunfa, como acontece com as larvas e as borboletas”. Em algumas guinadas da história, porém, em alguns picos críticos, pode caber a uma geração um destino parecido com o das larvas e borboletas. Pois o declínio do velho e o nascimento do novo não são necessariamente ininterruptos; entre as gerações, entre os que, por uma razão ou outra, ainda pertencem ao velho e os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já cresceram com ela [...] está rompida a continuidade e surge

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um “espaço vazio”, espécie de terra de ninguém histórica, que só pode ser descrita em termos de “não mais e ainda não”. Na Europa, essa absoluta quebra de continuidade ocorreu durante e após a Primeira Guerra Mundial. É essa ruptura que dá um fundo de verdade a todo o falatório dos intelectuais, geralmente na boca dos “reacionários”, sobre o declínio necessário da civilização ocidental ou a famosa geração perdida, tornando-se, portanto, muito mais atraente do que a banalidade do pensamento “liberal”, que nos apresenta a alternativa de avançar ou recuar, a qual parece tão desprovida de sentido justamente porque ainda pressupõe uma linha de continuidade sem interrupções. (ARENDT, Hannah. “Não mais e ainda não”. In Compreender: formação, exílio e totalitarismo. Ensaios (1930-1954). São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008, p. 187) 45. Na organização do texto, a autora (A) toma como tema certo pensamento de Humes, que detalha para convencer o leitor sobre esta compreensão que ela tem do que seja a civilização: “A natureza não dá saltos”. (B) vale-se de Humes como argumento de autoridade, considerando irretorquível o pensamento citado. (C) tira proveito da constatação de Humes, de caráter universal, para ratificá-la no plano mais particular que ela aborda no seu discurso. (D) cita Humes porque a comparação que ele faz entre os homens e os animais se aplica, ipsis litteris, à concepção que ela tem acerca do que ocorre com gerações em momentos críticos. (E) refere comentário do filósofo Humes e o desconstrói, pois o desfaz para reconstruí-lo em outras bases. Texto III Caracterização de Walter Benjamin

O nome do filósofo, que acabou com sua própria vida durante a fuga ante os esbirros de Hitler, foi ganhando uma aura nos mais de vinte anos que desde então transcorreram, e isso apesar do caráter esotérico dos seus primeiros trabalhos e fragmentário dos últimos. A fascinação de sua pessoa e oeuvre só deixou a alternativa da magnética atração ou da rejeição horrorizada. Sob o olhar de suas palavras – onde quer que ele caísse −, tudo se metamorfoseava, como se tivesse se tornado radioativo. A capacidade de incessantemente projetar novos aspectos − não tanto mediante à ruptura crítica de convenções quanto pela maneira, dada pela organização intrínseca, de se comportar em relação ao objeto, como se as convenções não tivessem poder sobre ele − dificilmente conseguirá também ser captada pelo conceito de originalidade. Nenhuma das intuições desse pensador inesgotável apresentava-se como mera intuição. O sujeito, a quem pessoalmente cabiam todas as experiências fundantes que a filosofia oficial contemporânea apenas discute de modo formal,

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parecia ao mesmo tempo não ter nenhuma participação nelas, mesmo porque a sua maneira, sobretudo a arte da formulação instantânea − definitiva −, também se despojou do que, no sentido tradicional − é espontâneo e esfuziante. Ele não dava a impressão de ser alguém que criava a verdade ou a adquiria ao pensar, mas de que a citava pelo pensamento como um refinado instrumento de conhecimento, no qual imprimia a sua marca. (ADORNO, Theodor. Caracterização de Walter Benjamin. Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 2001, p. 223-224) Obs.: oeuvre: obra. 46. É correto afirmar que o autor do excerto (A) julga o refinado pensamento do filósofo não como original ou espontâneo, mas como verdadeiro. (B) oferece precisa caracterização do filósofo e de sua obra, valendo-se de conceitos que lhes são aplicáveis com justeza. (C) expõe os artifícios formais de que se valeu o filósofo para, apropriando-se dos achados da tradição, requisitar autenticidade para seu trabalho. (D) aponta inconsistência nas formulações do filósofo, que, pouco amadurecidas mas perenes, se despegaram do necessário aporte empírico da filosofia. (E) atribui força transformadora ao modo como o filósofo concebia e expressava seus pensamentos. 47. O excerto autoriza a seguinte afirmação: (A) as constantes inovações do filósofo acompanharam-se de desveladas críticas às convenções vigentes. (B) o filósofo e sua obra adquiriram, com o tempo, unânime aprovação, atribuível à comoção gerada por seu suicídio. (C) a natureza dos trabalhos iniciais e finais do filósofo não obscurece sua personalidade e sua obra, impactantes sob qualquer julgamento. (D) a infinidade de novos aspectos inseridos nas análises do filósofo tornou-as tão herméticas que não podem ser captadas por espíritos menos originais. (E) as inéditas ideias do filósofo devem ser creditadas aos seus métodos, fundamentados em experiências da filosofia oficial. FCC – TRE/SP – ANALISTA JUDICIÁRIO – 2012 Bom para o sorveteiro

Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas a notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na minha cara o drama da baleia encalhada na praia de Saquarema. Afinal, depois de quase três dias

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se debatendo na areia da praia e na tela da televisão, o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar. Até a União Soviética acabou, como foi dito por locutores especializados em necrológio eufórico. Mas o drama da baleia não acabava. Centenas de curiosos foram lá apreciar aquela montanha de força a se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência. Um belo espetáculo.

À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao raiar do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias mãos, todos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Comum, vírgula. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por ele a baleia ficava encalhada por mais duas ou três semanas. Uma santa senhora teve a feliz ideia de levar pastéis e empadinhas para vender com ágio. Um malvado sugeriu que se desse por perdida a batalha e se começasse logo a repartir os bifes.

Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em quinze minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam da alegria voraz com que foram disputadas as toneladas da vítima. Essa de agora teve mais sorte. Foi salva graças à religião ecológica que anda na moda e que por um momento estabeleceu uma trégua entre todos nós, animais de sangue quente ou de sangue frio.

Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo uma estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar provas da eficácia da empresa privada. De qualquer forma, eu já podia recolher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. O maior animal do mundo, assim frágil, à mercê de curiosos. À noite, sonhei com o Brasil encalhado na areia diabólica da inflação. A bordo, uma tripulação de camelôs anunciava umas bugigangas. Tudo fala. Tudo é símbolo.

(Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo) 48. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso de Saquarema, tal como se observa na relação entre estas duas expressões: (A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo na areia. (B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram disputadas as toneladas da vítima. (C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar pastéis e empadinhas para vender com ágio. (D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. (E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e Logo uma estatal, ó céus. 49. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto: I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua, entre outros termos de aproximação, o encalhe dos gigantes. II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia encalhada revelam que, acima das diferentes providências, atinham-se todos a um mesmo propósito.

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III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de que o autor aproveitou o episódio da baleia encalhada para também figurar o encalhe de um país imobilizado pela alta inflação. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e III, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I e II, apenas. (E) III, apenas. FCC – TCE/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA – 2012 Valores ocidentais

Quando o discurso político alcança seu nível mais raso, os "valores ocidentais" aparecem. Normalmente, eles são utilizados para expor "aquilo pelo qual lutamos", aquilo que pretensamente faria a diferença e a superioridade moral de nossa forma de vida − esta que encontraria sua melhor realização no interior das sociedades democráticas liberais.

Nesse sentido, mesmo quando criticamos nossas sociedades ocidentais, não seríamos capazes de sair do horizonte normativo que define o conjunto de seus valores.

Pois se, por exemplo, criticamos a falta de liberdade e a injustiça social, seria sempre em nome de valores que ainda não se realizaram, mas a respeito dos quais nós, ocidentais, saberíamos, de antemão, seu sentido.

Para aqueles que impostam a voz na hora de falar em nome dos valores ocidentais, não há conflitos a respeito do que liberdade, justiça e autonomia significam.

Não passa pela cabeça deles que talvez estejamos diante de palavras que não têm conteúdo normativo específico, mas são algo como significantes vazios, disputados por interpretações divergentes próprias a uma sociedade marcada por antagonismos fundamentais.

Por isso, se há algo que determina o que há de mais importante na tradição ocidental é exatamente a ideia de que não temos clareza a respeito do que nossos valores significam. Pois o que nos leva a criticar aspectos fundamentais de nossa sociedade não é um déficit a propósito da realização de valores, mas um sentimento que Freud bem definiu como mal-estar, ou seja, um sofrimento indefinido que nos lembra a fragilidade de toda normatividade social extremamente prescritiva.

Isso talvez nos explique por que os gregos, estes que teriam inventado a democracia ocidental com seus valores, na verdade, legaram-nos apenas um valor fundamental: a suspeita de si.

Uma suspeita que se manifesta por meio da exigência de saber acolher o que nos é estranho, o que não porta mais nossa imagem, o que não tem mais a figura de nossa humanidade.

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Quem leu as tragédias de Sófocles sabe como sua questão fundamental é o que ocorre quando a polis não sabe mais acolher o que ainda não tem lugar no interior de nossas formas de vida.

Por outro lado, quando Ulisses, o herói de Homero, perdia-se em sua errância sem fim, suas palavras para os habitantes de outras terras eram sempre a exigência de abrigar o estrangeiro.

Por isso, o melhor que temos a fazer diante dos que sempre pregam os valores ocidentais é lembrá-los das palavras de Nietzche: "Muitas vezes, é necessário saber se perder para poder encontrar-se". (Vladimir Safatle. Folha de S.Paulo, opinião, terça-feira, 13 de dez. de 2011. p. 2) 50. O autor (A) considera que a expressão "valores ocidentais", nas sociedades democráticas liberais, padece da indefinição inerente a uma forma de vida essencialmente caracterizada por forte oposição de ideias. (B) junta-se aos que criticam a sociedade ocidental especialmente quanto à falta de liberdade e à injustiça social, atribuindo essas imperfeições ao próprio universo grego, falho de conceitos que garantissem a equidade de direitos. (C) expõe que discursos políticos de pouca profundidade − os que normalmente exibem de maneira ostentatória os ideais de quem os profere, em voz impostada − tratam falaciosamente de conflitos. (D) assinala que os valores ocidentais, fundadores das autênticas sociedades democráticas, são desrespeitados por políticos que desconhecem artistas e pensadores indispensáveis dessa mesma tradição. (E) denuncia a incapacidade que a sociedade contemporânea revela de se fixar num horizonte normativo, pelo fato de estar baseada em equívocos conceituais que, desde os gregos, provocam mal-estar social. 51. Entende-se corretamente do texto: (A) As teorias de Freud explicam que a insatisfação com o mundo em que vive é própria do ser humano, em nada dependendo do modo como se organizam as sociedades. (B) O homem ocidental não encontra outro ponto de referência para avaliar sua forma de vida que não seja o delineado pelos valores, ainda que considerados no plano da idealidade, das democracias liberais. (C) Suspeitar de si, ou seja, fazer mau juízo de si no que se refere à natureza dos instintos humanos, é a única herança que o povo heleno ofertou à modernidade. (D) Os políticos manifestam alienação ao não compreenderem que o homem moderno não almeja a superioridade moral, exatamente por ser consciente de que não há forma de vida realmente democrática. (E) A sociedade contemporânea desconhece o que sejam valores, em virtude de vivenciar com exclusividade a falta, isto é, a ausência do que lhe é necessário e desejável para a realização de um modo de vida que seria superior.

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FCC – ISS/SP - AUDITOR-FISCAL TRIBUTÁRIO MUNICIPAL I (GESTÃO TRIBUTÁRIA) – 2012

"Ocorreu em nossos países uma nova forma de colonialismo, com a imposição de uma cultura alheia à própria da região. Cumpre avaliar criticamente os elementos culturais alheios que se pretendam impor do exterior. O desenvolvimento corresponde a uma matriz endógena, gerada em nossas próprias sociedades, e que portanto não é possível importar. Precisamos levar sempre em conta os traços culturais que nos caracterizam, que hão de alimentar a busca de soluções endógenas, que nem sempre têm por que coincidir com as do mundo altamente industrializado." 1

O que há de extraordinário nessa citação? Nada, exceto a data. Ela não foi redigida no princípio do século XIX e sim no dia 29 de maio de 1993, exatamente um mês antes da redação deste artigo. Trata-se de um documento aprovado por vários intelectuais ibero-americanos, na Guatemala, como parte da preparação da III Conferência de Cúpula da região, a realizar-se em Salvador, na Bahia.

Conhecemos bem essa linguagem no Brasil. É o discurso do nacionalismo cultural, que começou a ser balbuciado com os primeiros escritores nativistas, e desde a independência não cessou, passando por vários avatares, com tons e modulações diversas. Ao que parece, nada envelheceu nessas palavras. Quase todos os brasileiros se orgulhariam de repeti-las, como se elas fossem novas e matinais, como se fôssemos contemporâneos do grito do Ipiranga. Nesses 171 anos, o Brasil passou do Primeiro para o Segundo Reinado, da Monarquia para a República Velha, desta para o Estado Novo, deste para a democracia, desta para a ditadura militar, e desta para uma nova fase de democratização. Passamos do regime servil para o trabalho livre − ou quase. De país essencialmente agrário transitamos para a condição de país industrial, e sob alguns aspectos nos aproximamos da pós-modernidade. Só uma coisa não mudou: o nacionalismo cultural. Continuamos repetindo, ritualmente, que a cultura brasileira (ou latino-americana) deve desfazer-se dos modelos importados e voltar-se para sua própria tradição cultural. 1Relato general de la "Cumbre Del pensamiento", Antígua-Guatemala, pp. 88 e ss. (Adaptado de Sergio Paulo Rouanet. "Elogio do incesto". In: Mal-estar na modernidade: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 346-347) 52. Compreende-se corretamente que Sergio Paulo Rouanet (A) faz uma citação e a desqualifica, pelo fato de expressar ideias consideradas ultrapassadas, embora reconheça seu mérito de datar o início de uma específica visão de colonialismo. (B) se respalda em renomados intelectuais ibero-americanos para defender o posicionamento adotado no documento preparatório à III Conferência de Cúpula. (C) inicia seu artigo com citação que apresenta fatos e descrição de processos, citação em que não se reconhece qualquer marca de atitude

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prescritiva sobre esses ou aqueles. (D) desenvolve raciocínio que legitima a seguinte compreensão: o título do artigo caracteriza o que está denominado no texto como discurso do nacionalismo cultural. (E) retifica equívoco sobre época de registro oficial de importante documento, pois considera que balizar corretamente é atitude essencial a intelectuais analistas da cultura. 53. Afirma-se com correção: (A) O que há de extraordinário nessa citação? é uma pergunta retórica, pois o autor, ao formulá-la, não tem como objetivo receber uma resposta, mas apenas valer-se do questionamento como recurso argumentativo. (B) A referência à data em que foi escrito o artigo permite ao autor evidenciar a atualidade de suas ideias, devido à aproximação temporal entre seu texto e o documento aprovado por vários intelectuais ibero-americanos. (C) O segmento não foi redigida no princípio do século XIX e sim no dia 29 de maio de 1993 mostra que o autor considera o Brasil um país sempre em atraso no que se refere à exposição de conceitos. (D) Ao referir-se à III Conferência de Cúpula da região, o autor sinaliza que a assembleia não contempla territórios que não sejam guatemaltecos. (E) A referência às diversas formas de governo no Brasil demonstra o profundo conhecimento do autor acerca da realidade brasileira, o que torna consistente seu juízo positivo a respeito do que considera "nosso ritual". FCC – TRT/AM (11A R) – ANALISTA JUDICIÁRIO – 2012 Texto Fotografias

Toda fotografia é um portal aberto para outra dimensão: o passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo, transformando o que é naquilo que já não é mais, porque o que temos diante dos olhos é transmudado imediatamente em passado no momento do clique. Costumamos dizer que a fotografia congela o tempo, preservando um momento passageiro para toda a eternidade, e isso não deixa de ser verdade. Todavia, existe algo que descongela essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem e magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda imagem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela o instante aprisionado nas geleiras eternas do tempo fotográfico.

Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de papel sai numa

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dimensão diferente e vivencia experiências diversas, pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado: cada um só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o significado de uma imagem muda com o passar do tempo, até para o mesmo observador.

Variam, também, os níveis de percepção de uma fotografia. Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músico, por exemplo, é capaz de perceber dimensões sonoras inteiramente insuspeitas para os leigos. Da mesma forma, um fotógrafo profissional lê as imagens fotográficas de modo diferente daqueles que desconhecem a sintaxe da fotografia, a “escrita da luz”. Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. (Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010) 54. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da percepção de uma foto é: (A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo. (B) a fotografia congela o tempo. (C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o instante aprisionado. (D) o significado de uma imagem muda com o passar do tempo. (E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. 55. No contexto do último parágrafo, a referência aos vários níveis de percepção de uma fotografia remete (A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto. (B) às diferenças de qualificação do olhar dos observadores. (C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de uma foto. (D) às relações que a fotografia mantém com as outras artes. (E) aos vários tempos que cada fotografia representa em si mesma. 56. Atente para as seguintes afirmações: I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela o tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendida numa foto já não pertence a tempo algum. II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o albergue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do observador não interfere no sentido próprio e particular de uma foto. III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro parágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma linguagem específica nela fixados. Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE em (A) I e II. (B) II e III. (C) I. (D) II. (E) III.

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57. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Todavia, existe algo que descongela essa imagem pode ser substituído, sem prejuízo para a correção e a coerência do texto, por: (A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem. (B) Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada. (C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo. (D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar. (E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará. 58. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto: (A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, a fotografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza igualmente temporal. (B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se imagine os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente congelada... (C) Conquanto seja o registro de um determinado espaço, uma foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter temporal. (D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiências físicas de uma fotografia podem se inocular em planos temporais. (E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficientemente para abrir mão de implicâncias semânticas no plano temporal. Texto II Discriminar ou discriminar?

Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sentido de um

vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicionário Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre outras, estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, discernir; b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indivíduo ou grupo de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, cor da pele, classe social, convicções etc.

Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferenças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o sentido positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discriminar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância.

Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de discernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: trata-se de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de discriminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa universidade ou numa empresa: é uma

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discriminação, cujo sentido positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do dicionário e se mostram vivas na mesma sociedade. (Aníbal Lucchesi, inédito) 59. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a incendiar debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o verbete discriminar (A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando por isso inúmeras controvérsias entre os usuários. (B) apresenta um sentido secundário, variante de seu sentido principal, que não é reconhecido por todos. (C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que se costuma atribuir a esse vocábulo. (D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se trata de determinar a origem de um vocábulo. (E) desdobra-se em acepções contraditórias que correspondem a convicções incompatíveis. 60. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra: (A) Os homens são desiguais porque foram tratados com o mesmo critério de igualdade. (B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um mesmo critério para casos muito diferentes. (C) Quando todos os desiguais são tratados desigualmente, a desigualdade definitiva torna-se aceitável. (D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre tratar os iguais como se fossem desiguais. (E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os injustiçados são sempre os mesmos. 61. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em: (A) iluminar teses controvertidas (1o parágrafo) - amainar posições dubitativas. (B) um preciso discernimento (2o parágrafo) - uma arraigada dissuasão. (C) disseminar o juízo preconcebido (2o parágrafo) – dissuadir o julgamento predestinado. (D) a forma mais censurável (3o parágrafo) - o modo mais repreensível. (E) As acepções são inconciliáveis (3o parágrafo) – as versões são inatacáveis. 62. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a redação da seguinte frase: (A) O autor do texto chama a atenção para o fato de que o desejo de promover a igualdade corre o risco de obter um efeito contrário. (B) Embora haja quem aposte no critério único de julgamento, para se promover a igualdade, visto que desconsideram o risco do contrário.

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(C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo critério para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme uma situação de injustiça. (D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções aplicando-se medidas que, à primeira vista, parecem em si mesmas distorcidas. (E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão graves que tornam necessários os desequilíbrios compensatórios de uma ação corretiva. FCC- TRT/PE (6a R) - ANALISTA JUDICIÁRIO – 2012 Economia religiosa

Concordo plenamente com Dom Tarcísio Scaramussa, da CNBB, quando ele afirma que não faz sentido nem obrigar uma pessoa a rezar nem proibi-la de fazê-lo. A declaração do prelado vem como crítica à professora de uma escola pública de Minas Gerais que hostilizou um aluno ateu que se recusara a rezar o pai-nosso em sua aula.

É uma boa ocasião para discutir o ensino religioso na rede pública, do qual a CNBB é entusiasta. Como ateu, não abraço nenhuma religião, mas, como liberal, não pretendo que todos pensem do mesmo modo. Admitamos, para efeitos de argumentação, que seja do interesse do Estado que os jovens sejam desde cedo expostos ao ensino religioso. Deve-se então perguntar se essa é uma tarefa que cabe à escola pública ou se as próprias organizações são capazes de supri-la, com seus programas de catequese, escolas dominicais etc.

A minha impressão é a de que não faltam oportunidades para conhecer as mais diversas mensagens religiosas, onipresentes em rádios, TVs e também nas ruas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem mais templos (algo em torno de 4.000) do que escolas públicas (cerca de 1.700). Creio que aqui vale a regra econômica, segundo a qual o Estado deve ficar fora das atividades de que o setor privado já dá conta.

Outro ponto importante é o dos custos. Não me parece que faça muito sentido gastar recursos com professores de religião, quando faltam os de matemática, português etc. Ao contrário do que se dá com a religião, é difícil aprender física na esquina.

Até 1997, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação acertadamente estabelecia que o ensino religioso nas escolas oficiais não poderia representar ônus para os cofres públicos. A bancada religiosa emendou a lei para empurrar essa conta para o Estado. Não deixa de ser um caso de esmola com o chapéu alheio. (Hélio Schwartsman. Folha de S. Paulo, 06/04/2012) 63. No que diz respeito ao ensino religioso na escola pública, o autor mantém-se (A) esquivo, pois arrola tanto argumentos que defendem a obrigatoriedade como o caráter facultativo da implementação desse ensino.

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(B) intransigente, uma vez que enumera uma série de razões morais para que se proíba o Estado de legislar sobre quaisquer matérias religiosas. (C) pragmático, já que na base de sua argumentação contra o ensino religioso na escola pública estão razões de ordem jurídica e econômica. (D) intolerante, dado que deixa de reconhecer, como ateu declarado, o direito que têm as pessoas de decidir sobre essa matéria. (E) prudente, pois evita pronunciar-se a favor da obrigatoriedade desse ensino, lembrando que ele já vem sendo ministrado por muitas entidades. 64. Atente para estas afirmações: I. Ao se declarar um cidadão ao mesmo tempo ateu e liberal, o autor enaltece essa sua dupla condição pessoal valendo-se do exemplo da própria CNBB. II. A falta de oportunidade para se acessarem mensagens religiosas poderia ser suprida, segundo o autor, pela criação de redes de comunicação voltadas para esse fim. III. Nos dois últimos parágrafos, o autor mostra não reconhecer nem legitimidade nem prioridade para a implementação do ensino religioso na escola pública. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e II, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I e III, apenas. (E) III, apenas. 65. Pode-se inferir, com base numa afirmação do texto, que (A) o ensino religioso demanda profissionais altamente qualificados, que o Estado não teria como contratar. (B) a bancada religiosa, tal como qualificada no último parágrafo, partilha do mesmo radicalismo de Dom Tarcísio Scaramussa. (C) as instituições públicas de ensino devem complementar o que já fazem os templos, a exemplo do que ocorre na cidade de São Paulo. (D) o aprendizado de uma religião não requer instrução tão especializada como a que exigem as ciências exatas. (E) os membros da bancada religiosa, sobretudo os liberais, buscam favorecer o setor privado na implementação do ensino religioso. FCC – TRT/PR – ANALISTA – 2012

A discussão sobre “centro” e “periferia” no pensamento brasileiro vincula-se a elaborações que se dão num âmbito mais amplo, latino-americano. O primeiro locus importante onde se procura interpretar a relação entre esses dois polos é a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), criada pouco depois da Segunda Guerra Mundial, em 1947.

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É possível encontrar antecedentes a esse tipo de análise na teoria do imperialismo. No entanto, a elaboração anterior à CEPAL preocupava-se principalmente com os países capitalistas avançados, interessando-se pelos países “atrasados” na medida em que desenvolvimentos ocorridos neles repercutissem para além deles.

Também certos latino-americanos, como o brasileiro Caio Prado Jr., o trindadense Eric Williams e o argentino Sérgio Bagu, haviam chamado a atenção para a vinculação, desde a colônia, da sua região com o capitalismo mundial. Não chegaram, contudo, a desenvolver tal percepção de maneira mais sistemática.

Já no segundo pós-guerra, ganha impulso uma linha de reflexão que sublinha a diferença entre centro e periferia, ao mesmo tempo que enfatiza a ligação entre os dois polos. Na verdade, a maior parte das teorias sociais, econômicas e políticas, apesar de terem sido elaboradas de forma ligada às condições particulares dos países desenvolvidos do Atlântico Norte, as tomava como tendo validade universal. Assim, o marxismo, a teoria da modernização e a economia neoclássica tendiam a considerar que os mesmos caminhos seguidos pelas sociedades em que foram formulados teriam que ser trilhados pelo resto do mundo, “atrasado”.

(RICUPERO, Bernardo. “O lugar do centro e da periferia”. In: Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança.

André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 94)

66. No texto, o autor (A) propõe a reformulação de dois conceitos importantes no pensamento brasileiro − o “centro” e a “periferia” −, tecendo reflexão que admite recuperar as apresentadas nas últimas décadas por teorias sociais, econômicas e políticas. (B) reconhece o pioneirismo da teoria do imperialismo no que se refere à análise do diálogo entre “centro” e “periferia”, identificando nela a desejável equanimidade no valor atribuído a cada um dos polos. (C) correlaciona a temática do “centro” à da “periferia”, e, construindo relação homóloga, obriga-se a estabelecer também correlação entre o pensamento brasileiro e o latino-americano. (D) está interessado em caracterizar o pensamento brasileiro no que se refere ao exame das relações entre “centro” e “periferia”, o que não o dispensou de citar linhas interpretativas do tema que se aproximam desse pensamento e as restrições que faz a elas. (E) historia cronologicamente o caminho percorrido pelo pensamento latino-americano desde o início das discussões sobre “centro” e “periferia” até o momento em que se fixa na determinação das diferenças entre os dois conceitos.

Há 40 anos, a mais célebre crítica de cinema dos Estados Unidos, Pauline Kael (1919-2001), publicava seu artigo mais famoso. Era um detalhado estudo sobre “Cidadão Kane” (1941), espertamente intitulado

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“Raising Kane” (trocadilho com a expressão “to raise Cain”, que significa algo como “gerar reações inflamadas”).

No texto – que integra a coletânea “Criando Kane e Outros Ensaios”, publicada no Brasil em 2000 −, Pauline defendia que o roteirista Herman J. Mankiewicz era a força criativa por trás do filme, mais importante até que o diretor, Orson Welles (1915-85). Ela queria fazer justiça a Mankiewicz, que caíra em esquecimento, enquanto Welles entrara para a história com a reputação de gênio maldito, frequentemente reivindicando para si as principais qualidades de “Kane” e a coautoria do roteiro – embora Pauline jurasse que Welles não escrevera nem sequer uma linha do script.

Independentemente do quanto de justiça e veracidade “Raising Kane” trazia (o artigo foi bastante contestado na época), surgem agora evidências de que a própria Pauline atuou de modo tão pouco ético como ela acusava Welles de ter agido. A crítica teria baseado o seu artigo nos estudos realizados por outra pessoa – Howard Suber, pesquisador da UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles), que colaborou com Pauline, mas que, por fim, não foi sequer mencionado no texto final.

(Bruno Ghetti. “Méritos de Pauline: o retrato de uma crítica”. Folha de S. Paulo, ilustríssima, cinema,

domingo, 11 de dez. de 2011. p. 6)

67. No excerto, o autor, crítico de cinema, (A) faz referência a dados biográficos e a específico artigo de Pauline Kael, também crítica de cinema, com o objetivo de produzir um tributo à trajetória da americana. (B) esquadrinha a composição de coletânea sobre específica criação de Orson Welles, em que se inclui célebre artigo de crítica de cinema americana. (C) faz reparo, em função de direito suposto, a atitude de Pauline Kael, considerando-a comportamento antiético e apenável. (D) resguarda-se de julgar o mérito do artigo de Pauline Kael sobre “Cidadão Kane”, não sem, entretanto, atribuir à crítica a malícia de provocar com ele afervorados movimentos de opinião. (E) dá ciência do comportamento de Pauline Kael, há décadas, quando escreveu sobre Orson Welles, e legitima tanto a defesa que ela fazia do roteirista Herman J. Mankiewicz, quanto a reputação de gênio maldito de que o diretor gozava. FCC – TRE/PR – TÉCNICO – 2012 TEXTO I

O tempo não perdoa o que se faz sem ele, costumava dizer Ulysses Guimarães, citando Joaquim Nabuco. Desse modo ensinava a importância na política do apropriado discernimento do momento oportuno. Não é fácil a identificação desse momento, pois, entre outras coisas, requer conjugar

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o tempo individual de um ator político com o tempo coletivo de um sistema político e de uma sociedade. Além disso, o tempo flui e é instável no seu movimento, e não só na política. É o caso do tempo na meteorologia, cada vez menos previsível por obra das mudanças climáticas provocadas pela ação humana.

A vasta reflexão dos pensadores, dos poetas e cientistas sobre o estatuto do tempo e seu entendimento aponta para uma complexidade que carrega no seu bojo o desafio de múltiplos significados, cabendo lembrar que a função da orientação é inerente à busca do saber a respeito do tempo. Assim, uma coisa é conhecer o tempo do relógio, que molda o mensurável de uma jornada de trabalho. Outra coisa é lidar com a não mensurável duração do tempo vivido, que perdura na consciência, e não se confunde, por sua vez, com o tempo do Direito, que é o tempo normatizado dos prazos, dos recursos, da prescrição, da coisa julgada, da vigência das leis e do drama cotidiano da lentidão da Justiça.

A busca do saber sobre o tempo tem, como mencionei, uma função de orientação. Neste século XXI, é preciso parar para pensar a vertiginosa instantaneidade dos tempos e os problemas da sua sincronização, que a revolução digital vem intensificando.

A tradicional sabedoria dos provérbios portugueses diferencia o tempo do falcão e o tempo da coruja. O tempo do falcão é o da rapidez e da violência. É este o tempo que nos cerca. O tempo da coruja é o da sabedoria − a sabedoria que nos falta para lidar com a estrutura de possibilidades do tempo no mundo em que estamos inseridos.

(Celso Lafer. Trecho, com adaptações, de artigo publicado em O Estado de S. Paulo, 20 de novembro de 2011. A2, Espaço

Aberto)

68. O tempo não perdoa o que se faz sem ele ... A afirmativa que inicia o texto encaminha para (A) uma contradição à tese corrente de que o tempo flui e é instável no seu movimento, e não só na política. (B) crítica relativa aos problemas surgidos com o drama cotidiano da lentidão da justiça. (C) o reconhecimento de que é preciso parar para pensar a vertiginosa instantaneidade dos tempos e os problemas da sua sincronização. (D) a ideia de que os políticos não têm o apropriado discernimento do momento oportuno. (E) a constatação de que é difícil perceber a duração do tempo vivido, que perdura na consciência. 69. Com a expressão o desafio de múltiplos significados (2º parágrafo), o autor (A) caracteriza a oposição frequente que se faz entre o tempo de cada indivíduo e aquele que diz respeito a toda a sociedade. (B) duvida de uma possível concordância entre representantes de diferentes áreas do conhecimento a respeito do tempo. (C) questiona os meios até agora utilizados para calcular o transcorrer do

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tempo, que é sempre mutável. (D) esclarece seu emprego ao se referir à necessária sabedoria para equacionar, no momento mais adequado, os problemas que surgem. (E) refere-se às diversas possibilidades de percepção da passagem do tempo e de seu sentido. 70. A afirmativa, no 1º parágrafo, de que o tempo flui e é instável no seu movimento (A) vem a ser comprovada, em seguida, pelo exemplo tomado ao tempo na meteorologia. (B) constitui oposição à ideia de que não é fácil a identificação do momento oportuno. (C) realça a percepção das consequências advindas das mudanças climáticas provocadas pela ação humana. (D) baseia-se na vasta reflexão dos pensadores, dos poetas e cientistas sobre o estatuto do tempo. (E) exalta a sabedoria contida nos provérbios, como, por exemplo, a diferenciação entre o tempo do falcão e o tempo da coruja. TEXTO II

Um conjunto recente de pesquisas na área da neurociência sugere uma reflexão acerca dos efeitos devastadores do computador sobre a tradição da escrita em papel. Por meio da observação do cérebro de crianças e adultos, verificou-se de forma bastante clara que a escrita de próprio punho provoca, na região dedicada ao processamento das informações armazenadas na memória, uma atividade significativamente mais intensa do que a da digitação, o que tem conexão direta com a elaboração e a expressão de ideias. Está provado também que o ato de escrever desencadeia ligações entre os neurônios naquela parte do cérebro que faz o reconhecimento visual das palavras, contribuindo assim para a fluidez da leitura. Com a digitação, essa área fica inativa.

Na Antiguidade, os egípcios tinham nas letras um objeto sagrado, inventado pelos deuses. Sinônimo de status, a caligrafia irretocável foi por séculos na China um pré-requisito para ingressar na prestigiada carreira pública. No Brasil, a caligrafia constava entre as habilidades avaliadas nos exames de admissão do antigo ginásio até a década de 70, e era ensinada com esmero na sala de aula.

O hábito da escrita vem caindo em desuso à medida que o computador se dissemina. Até aqui a palavra foi eternizada em papel (ou pedra, pergaminho, papiro), que se encarregou de registrar a história da humanidade. O computador traz nova dimensão à aquisição de conhecimentos e à interação entre as gerações que chegam aos bancos escolares. Para elas, escrever à mão corre o risco de se tornar apenas mais um registro do passado guardado em arquivo digital.

(Luís Guilherme Barrucho. Veja, 27 de julho de 2011. p. 94, com adaptações)

71. O autor

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(A) defende a substituição da escrita manual, em vista da ampla disseminação do computador e da facilidade decorrente da digitação de textos. (B) critica a atual tendência a abandonar a escrita manual, ainda que reconheça a maior legibilidade dos textos digitados. (C) expõe uma situação atual, com exemplos e dados de pesquisas, referente ao uso do computador e às consequências para o funcionamento do cérebro. (D) relata, com exemplos, como a escrita se tornou o instrumento fundamental, durante séculos, para o desenvolvimento humano. (E) recria, com base na história, fatos marcantes que demonstram a superioridade da escrita manual sobre a digitação feita no computador. 72. O teor do 2º parágrafo constitui (A) justificativa, com base em argumentos, da perda do valor tradicional da escrita manual. (B) proposta, a partir da importância da caligrafia, de sua manutenção, apesar da concorrência do computador. (C) verificação prática da superioridade atual da digitação sobre a escrita manual. (D) demonstração, com informações históricas, da importância social atribuída à caligrafia. (E) histórico das condições determinantes da opção pela escrita manual em antigas civilizações. 73. Identifica-se no texto correlação imediata entre (A) abandono da escrita manual e disseminação do uso do computador. (B) preferência atual pelo uso do computador e pesquisas científicas. (C) as pesquisas na área da neurociência e a importância da caligrafia. (D) o ensino da escrita manual nas escolas e o aumento da digitação no computador. (E) opção pela escrita em papel e registros da história da humanidade. TEXTO III

No início, o uso em larga escala do petróleo teve um impacto ambiental positivo. Quando o querosene se mostrou mais eficiente e barato para a iluminação, a matança de baleias, que forneciam o óleo dos lampiões e lamparinas, caiu drasticamente. Desde então, descobriram-se mil e uma utilidades para o petróleo. Um site dos EUA chegou a listar quase dois mil produtos de uso cotidiano que não poderiam ser feitos ou teriam custos proibitivos sem o petróleo. Entre eles a aspirina, o capacete de motociclista e o paraquedas.

Portanto, a era do petróleo está ainda muito longe de ser completamente substituída por aquilo que se convencionou chamar de Era do Verde. Em vez de acabar, a cada dia se descobrem novos usos para as fibras sintéticas oriundas do petróleo, novos usos para seus múltiplos elementos químicos, que têm as moléculas quebradas pelo calor para dar

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origem a outro elemento, a outro produto. A maioria desses usos é nobre, já que eles aumentam o nosso conforto, o nosso bem-estar, a nossa saúde.

O grande problema da indústria petroquímica é ter como insumo básico um bem finito, o petróleo, fato que a torna insustentável no tempo. Além disso, é altamente poluente.

(Manuel Lume. CartaCapital, 27 de abril de 2011. p.52-55, com adaptações)

74. O autor (A) defende um maior controle no uso do petróleo, embora ele tenha propiciado um grande avanço tecnológico com a obtenção de produtos diversos, utilizados na rotina diária. (B) indica os diversos benefícios trazidos à saúde humana pelo petróleo, especialmente devido às pesquisas destinadas à produção de medicamentos novos e mais eficazes. (C) analisa, com base em exemplos e observações, a importância do petróleo no mundo moderno, conquanto se trate de um produto não renovável e bastante poluidor. (D) assinala a tendência atual de substituição do petróleo por produtos ecológicos, por serem estes não poluentes e, ainda, respeitarem o meio ambiente. (E) discute a necessidade de substituição do petróleo por fontes alternativas, voltadas para a preservação do ambiente e, ao mesmo tempo, para a saúde humana. 75. A maioria desses usos é nobre, já que eles aumentam o nosso conforto, o nosso bem-estar, a nossa saúde. O grande problema da indústria petroquímica é ter como insumo básico um bem finito, o petróleo, fato que a torna insustentável no tempo. A 2ª frase apresenta, com relação à 1a, noção de (A) consequência. (B) finalidade. (C) ressalva. (D) proporcionalidade. (E) temporalidade.

Gabarito Comentado FCC – TRE-SP – ANALISTA - 2004 Fundos para a Ciência

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É correta a disposição do novo ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, de abandonar os planos de seu antecessor para descentralizar os recursos investidos na área. Não se trata de ser contra a descentralização como conceito. A ideia de diminuir a excessiva concentração de laboratórios e institutos de pesquisa nos Estados mais ricos do país é uma meta a ser perseguida.

A questão é um pouco mais complexa. O ponto de partida deve ser a constatação de que fazer ciência de qualidade é um processo caro e de que os recursos disponíveis não são infinitos – muito pelo contrário, são escassos. Distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba. A alternativa que se impõe é fazer dotações que possibilitem pesquisas consistentes e destiná-las a grupos capazes de colher bons resultados. A pulverização das verbas pode atender a interesses populistas de políticos, mas está longe de representar uma forma minimamente racional de investir em ciência e tecnologia.

Mesmo sem fragmentar demais as verbas, é possível buscar a tão almejada descentralização. Um exemplo é o planejado Instituto de Neurociências de Natal, que aos poucos começa a sair do papel. Trata-se de projeto de pesquisadores brasileiros – que desenvolvem ciência de ponta nos EUA – de criar no Rio Grande do Norte um centro de excelência internacional em pesquisas neurológicas. O instituto, embora ainda não tenha oficialmente nascido, já conta com terreno, alguma verba federal e, principalmente, a massa crítica proporcionada por cientistas de primeira linha, o que faz diferença.

Se todo investimento em ciência é uma aposta, cabe ao poder público colocar suas fichas em projetos com maior possibilidade de oferecer retorno. Se há uma combinação nefasta, é a do populismo com a ciência. (Folha de S. Paulo, editorial, 13/03/04) 1. A opinião defendida nesse editorial (A) diz respeito à necessidade de uma maior integração entre institutos de pesquisa privados e públicos para melhor desenvolvimento de tecnologia de ponta. (B) é a de que é preciso lutar por uma suplementação de recursos orçamentários, com vistas a um maior desenvolvimento da tecnologia nacional. (C) é a de que está havendo excessiva descentralização, por parte do novo ministro do setor, de recursos destinados ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. (D) diz respeito à necessidade de bem administrar as parcas verbas para a ciência e a tecnologia, destinando-as à pesquisa competente, que ofereça retorno.

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(E) é a de que, sem a necessária descentralização dos recursos para a área de ciência e de tecnologia, os políticos continuarão a tomar iniciativas de caráter populista. GABARITO: D. Normalmente este tipo de questão (em que se exige de você, candidato, a percepção da opinião defendida (tese) pelo autor do texto) é fácil, pois a resposta normalmente se encontra ou na introdução ou na conclusão. Afinal, raciocina comigo, quando alguém pede sua opinião, o que você faz primeiro? Defende sua tese ou a apresenta? Normalmente você apresenta de cara sua opinião e depooooois você argumenta dizendo por que você pensa desta ou daquela maneira, certo? Pois bem... foi isso que o editorial fez. Veja a conclusão de novo: “Se todo investimento em ciência é uma aposta, cabe ao poder público colocar suas fichas em projetos com maior possibilidade de oferecer retorno.”. Agora compare com a afirmação da letra D: “diz respeito à necessidade de bem administrar as parcas verbas para a ciência e a tecnologia, destinando-as à pesquisa competente, que ofereça retorno.”. E aí, está claro que a afirmação da letra D é nada mais, nada menos do que uma maneira de dizer com outras palavras o que já estava escrito na conclusão. Percebe a semelhança? Ah, essa foi relax. 2. Atente para as seguintes afirmações: I. A opinião de que distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba é uma crítica à política a ser adotada pelo novo ministro da Ciência e da Tecnologia. II. Numa primeira leitura, a frase para descentralizar os recursos investidos na área pode indicar a meta do novo ministro da Ciência e da Tecnologia, e não a do anterior, como é o caso. III. O exemplo do nascente Instituto de Neurociências de Natal é tomado como argumento em favor da necessidade de uma bem planejada e criteriosa descentralização. Considerando-se o que diz o texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e II, somente. (C))II e III, somente. (D) I e III, somente. (E) III, somente. GABARITO: C. Sobre II, leia este trecho retirado do texto: “É correta a disposição do novo ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, de abandonar os planos de seu antecessor para descentralizar os recursos investidos na área.” A afirmação de II está correta, pois a leitura do texto nos permite

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entender que a proposta de descentralizar os recursos investidos na área pertence ao novo ministro e não ao seu antecessor. Isso se confirma com o período que vem a seguir: “A ideia de diminuir a excessiva concentração de laboratórios e institutos de pesquisa nos Estados mais ricos do país é uma meta a ser perseguida.” Tal intenção expressa neste período pertence ao novo ministro, Eduardo Campos, e não ao anterior, logo o trecho ‘para descentralizar os recursos investidos na área’ é uma meta tão somente do novo ministro’. E, sobre III, levando em conta a temática da descentralização, veja o penúltimo parágrafo. Uma mera leitura nos faz concluir que o caso do Instituto de Neurociências de Natal é usado como fato-exemplo (estratégia argumentativa) para corroborar a ideia de descentralização bem-sucedida. E se você está se perguntando o que é uma estratégia argumentativa, fique tranquilo, pois não há mistério algum. Estratégias argumentativas são recursos usados por qualquer autor de um texto como ferramenta de argumentação, de persuasão, de convencimento do leitor. Ou seja, quando alguém pede sua opinião sobre a Seleção Brasileira de Futebol e você diz que ela não tem a mínima de chance de ganhar a Copa de 2014 — mesmo que seu desejo seja o contrário —, a pessoa pergunta: Por que você pensa assim? É nesse momento que você lança mão de estratégias argumentativas para sustentar a sua tese, ou seja, seu ponto de vista. Daí, você diz: “A seleção não vai ganhar a Copa porque o time está mal estruturado desde a campanha inicial do técnico Mano Menezes. E não sou só eu que penso assim. Li outro dia na revista Veja em um artigo do consagrado colunista esportivo Juca Kfouri que, segundo ele, a seleção é tão desacreditada quanto à de 1994 e tão despreparada quanto à de 1990. A seleção infelizmente não consegue a taça. Pelo menos ficarão as construções pós-Copa de recordação (rs).” Percebeu que usei argumentações para defender minha tese? Entenda melhor: 1) Tese: A seleção não vai ganhar a Copa. 2) Primeiro argumento (causa/explicação): porque o time está mal estruturado desde a campanha inicial do técnico Mano Menezes. 3) Segundo argumento (apelo ao compartilhamento de opinião): E não sou só eu que penso assim. 4) Terceiro argumento (fonte consagrada na mídia): Li outro dia na revista Veja. 5) Quarto argumento (testemunho/argumento de autoridade): em um artigo do consagrado colunista esportivo Juca Kfouri que, segundo ele, a seleção é tão desacreditada quanto à de 1994 e tão despreparada quanto à de 1990.

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Existem muitas estratégias argumentativas, como (além dessas) dados estatísticos, contraposição de ideias, enumeração, exemplificação, comparação, ilustração, reiteração, etc. Todas estas características pertencem ao famoso tipo de texto chamado... dissertação! Você acabou de ter uma microaula de tipologia textual. Fique esperto, pois a FCC adora este modo de organização discursiva, a saber: texto dissertativo! Por isso quando cai questão de tipologia, é 99% em cima de dissertação. 3. O elemento sublinhado na frase (A) É correta a disposição (...) de abandonar os planos de seu antecessor para descentralizar os recursos investidos na área expressa uma causalidade. (B) Distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba constitui um paradoxo. (C) A pulverização das verbas pode atender a interesses populistas de políticos tem o sentido de compromissos populares. (D) (...) cabe ao poder público colocar suas fichas em projetos com maior possibilidade de oferecer retorno tem o sentido de ir de encontro a. (E) Não se trata de ser contra a descentralização como conceito tem o sentido de em tese. GABARITO: E. Em A, a ideia é de finalidade e não de causa. Em B, não há um paradoxo, pois não há sequer uma ideia de oposição, ou seja, ‘muitos centros’ não se opõe a ‘pouco dinheiro’. Em C, a expressão sublinhada tem valor pejorativo, já a expressão em negrito não. Em D, a expressão sublinhada está ligada a uma ideia positiva e a expressão em negrito não (se fosse ‘ao encontro de’, aí sim estaria correta a substituição). Portanto, o gabarito é a letra E, afinal, ‘em tese’ e ‘como conceito’ são expressões sinônimas. Outra expressão sinônima de ‘em tese’ seria ‘em princípio’. Cuidado para não confundir com ‘a princípio’, que significa ‘inicialmente’. Foi? FCC - TRE-SP – ANALISTA – 2006 Exclusão social

A humanidade tem dominado a natureza a fim de tornar a vida cada vez mais longa e mais cômoda. Essas vantagens se expandiram para um número crescente de seres humanos. Graças à combinação dessas duas tendências, os homens imaginaram que seria possível construir uma utopia em que todos teriam acesso a tudo: todos, pelas mudanças sociais; a tudo, por causa dos avanços técnicos. No século XX, numa demonstração de arrogância, muitos chegaram a marcar o ano 2000 como a data da inauguração dessa utopia.

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Neste início de século, vemos que a técnica superou as expectativas. Os seres humanos dispõem de uma variedade de bens e serviços inimagináveis até há bem pouco tempo, que aumentaram substancialmente a esperança de vida, ampliaram o tempo livre a ser usufruído e ainda oferecem a possibilidade de realizar sonhos de consumo. Mas a história social não cumpriu a parte que lhe cabia no acordo, e uma parcela considerável da humanidade ficou excluída dos benefícios. Ainda mais grave: o avanço técnico correu a uma velocidade tão grande que passou a aumentar a desigualdade e a ameaçar a estabilidade ecológica do planeta. A exclusão deixou de ser vista como uma etapa a ser superada: é um estado ao qual bilhões de seres humanos – os excluídos da modernidade – estão condenados.

Na modernidade técnica, o processo social, tanto entre os capitalistas mais liberais quanto entre os socialistas mais ortodoxos, é analisado do ponto de vista econômico, ignorando-se ou relegando-se a um segundo plano os aspectos sociais e os éticos. Já no século XIX, na luta pela abolição da escravidão, Joaquim Nabuco procurava encarar o processo social sob três óticas: a moral, a social e a econômica. Mais de um século passado, é urgente retomar essa visão triangular, se se deseja superar a barbárie da exclusão. (Cristovam Buarque. Admirável mundo atual. S. Paulo: Geração Editorial, 2001, pp. 188 e 328) 4. Neste início de século, vemos que a técnica superou as expectativas. A afirmação acima, que abre o segundo parágrafo do texto, (A) desmente a afirmação anterior de que estariam ocorrendo avanços técnicos significativos ao longo do século XX. (B) expande a afirmação anterior de que muitas vantagens tecnológicas estariam atingindo um número crescente de seres humanos. (C) confirma a afirmação anterior de que os homens estão sendo capazes de construir uma utopia acessível a todos. (D) desmente a afirmação anterior de que a humanidade vem dominando mais e mais as forças da natureza. (E) expande a afirmação anterior de que as mudanças sociais estariam beneficiando um número crescente de seres humanos. GABARITO: B. Bem, já que a questão nos remete ao texto, voltemos a ele: “A humanidade tem dominado a natureza a fim de tornar a vida cada vez mais longa e mais cômoda. Essas vantagens se expandiram para um número crescente de seres humanos. Graças à combinação dessas duas tendências, os homens imaginaram que seria possível construir uma utopia em que todos teriam acesso a tudo: todos, pelas mudanças sociais; a tudo, por causa dos avanços técnicos. No século XX, numa

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demonstração de arrogância, muitos chegaram a marcar o ano 2000 como a data da inauguração dessa utopia. Neste início de século, vemos que a técnica superou as expectativas.” Revisto o parágrafo 1 e o início do 2, fica claro que o início do 2º parágrafo (... a técnica superou as expectativas) amplia a ideia desenvolvida no primeiro parágrafo, a saber: os seres humanos, submetendo a natureza a seus intentos, criam que todos, democraticamente, estariam afeitos às tecnologias e a seu consequente gozo, no início deste século. Assim, o 1º parágrafo cria uma expectativa de modernidade e acessibilidade que é ampliada (ou expandida) logo no início do parágrafo 2, mostrando que algumas expectativas se concretizaram... pelo menos ‘a técnica’. Portanto, o início do 2º parágrafo ‘expande a afirmação anterior de que muitas vantagens tecnológicas estariam atingindo um número crescente de seres humanos’. 5. No primeiro parágrafo, a utopia de que trata o autor teria como característica essencial (A) o acesso de muitos homens aos benefícios práticos da tecnologia. (B) uma melhor expectativa de vida, independente do estágio da ciência. (C) o desfrute plenamente socializado das conquistas tecnológicas. (D) a proposição de uma nova era tecnológica a partir do ano de 2000. (E) a confiança presunçosa no domínio absoluto do homem sobre a natureza. GABARITO: C. Como já havia abordado na questão anterior, o sonho do homem era que tudo estivesse à disposição de todos da melhor maneira possível, ou seja, a tecnologia e seu usufruto a bel-prazer do homem. Em outras palavras, ‘o desfrute plenamente socializado das conquistas tecnológicas’. Esta percepção é ratificada pelas afirmações do 1º parágrafo. Mera leitura. 6. Considere as seguintes afirmações: I. Na expressão todos teriam acesso a tudo, o autor dá ênfase ao que há de absoluto nas pretensões dos criadores da referida utopia. II. Com a frase a história social não cumpriu a parte que lhe cabia no acordo, o autor denuncia o processo de exclusão. III. Com a frase a exclusão deixou de ser vista como uma etapa a ser superada, o autor deixa claro que houve, enfim, uma ampla inclusão social. Considerando-se o contexto, está correto o que se afirma SOMENTE em (A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III.

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GABARITO: D. Em I, devido ao uso dos pronomes indefinidos todos (100% das pessoas) e tudo (100% das coisas), há uma ideia de abrangência plena, portanto, cabe a afirmação de absoluto acerca das ‘pretensões dos criadores da referida utopia’. Em II, a frase em questão significa que houve uma falha em uma das partes da utopia de “tudo para todos”; a parte que ficou de fora da utopia não foi a tecnologia (tudo), mas sim muitas pessoas que não podiam (nem podem) ter acesso a tudo o que se imaginou que tivessem. Portanto, houve um processo de exclusão das pessoas (todos) no que tange à aquisição dos bens tecnológicos. 7. Ao se referir ao escritor Joaquim Nabuco, no terceiro parágrafo, o autor do texto deseja demonstrar que (A))é antiga a luta para que a inclusão social dos oprimidos se dê do modo mais abrangente possível. (B) vem de longe a idéia de que o progresso tecnológico encaminha a solução das questões sociais. (C) aquele escritor, já no século XIX, propunha-se a enfrentar a barbárie do desequilíbrio ecológico do planeta. (D) são antigas as lutas pela abolição do trabalho forçado, caracterizadas pela plena confiança nas vantagens da tecnologia. (E) vem de longe a idéia de que a exclusão social só ocorre quando o avanço tecnológico é pouco relevante. GABARITO: A. Relendo o parágrafo 3: “Na modernidade técnica, o processo social, tanto entre os capitalistas mais liberais quanto entre os socialistas mais ortodoxos, é analisado do ponto de vista econômico, ignorando-se ou relegando-se a um segundo plano os aspectos sociais e os éticos. Já no século XIX, na luta pela abolição da escravidão, Joaquim Nabuco procurava encarar o processo social sob três óticas: a moral, a social e a econômica. Mais de um século passado, é urgente retomar essa visão triangular, se se deseja superar a barbárie da exclusão.” Note que o parágrafo estabelece uma comparação entre a visão moderna (séculos XX e XXI) e a visão antiga (século XIX). O processo social, segundo Joaquim Nabuco deve passar por três crivos para que haja justiça e igualdade para todos. Após dois séculos, vemos que a visão moderna ainda exclui essa tríade proposta por Nabuco, segregando os desprovidos de uma renda forte a fim de aproveitar as benesses da modernidade. Portanto é ‘antiga a luta para que a inclusão social dos oprimidos se dê do modo mais abrangente possível’ para que possam usufruir a tão avançada tecnologia e seus produtos.

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8. A expressão relegando-se a um segundo plano, utilizada no terceiro parágrafo, preencherá adequadamente a lacuna da frase: (A) Passei a me dedicar ainda mais a ela e, ...... meus sonhos mais altos, desisti definitivamente de ir trabalhar no exterior. (B) O diretor da empresa surpreendeu seu assessor ......, fingindo passar-se por ele, o atrevido. (C) Ele percebeu que as metas traçadas eram ambiciosas demais, e imaginou outras, ...... aquelas que de fato não poderia cumprir. (D) ...... , muitas mulheres, como as da antiga Atenas, vivem por seus maridos e filhos. (E) Há muita gente que, ...... seu pudor, não hesita em proclamar bem alto suas supostas virtudes. GABARITO: D. A expressão é carregada de uma ideia de subserviência, inferioridade, submissão e afins, portanto a melhor lacuna a ser preenchida é a da letra D. Veja: “Relegando-se a um segundo plano, muitas mulheres, como as da antiga Atenas, vivem por seus maridos e filhos.” FCC – TRE-SP – TÉCNICO – 2006 Texto I

É melhor ser alegre que ser triste, já dizia Vinícius de Moraes. Sem dúvida. O poeta ia mais longe, entoando em rima e em prosa que tristeza não tem fim. Já a felicidade, sim. Até hoje, muita gente chora ao ouvir esses versos porque eles tocam num ponto nevrálgico da vida humana: os sentimentos. E quando tais sentimentos provocam algum tipo de dor, fica difícil esquecer - e ainda mais suportar. A tristeza, uma das piores sensações da nossa existência, funciona mais ou menos assim: parece bonita apenas nas músicas. Na vida real, ninguém gosta dela, ninguém a quer ver. Tristeza é um sentimento que responde a estímulos internos, como recordações, memórias, vivências; ou externos, como a perda de um emprego ou de um amor. Não se trata de uma emoção, que é uma resposta imediata a um estímulo. No caso de tristeza, nosso organismo elabora e amadurece a emoção, antes de manifestá-la. É uma resposta natural a situações de perdas ou frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais responsáveis por angústia, melancolia ou coração apertado. “A tristeza é uma resposta que faz parte de nossa forma de ser e de estar no mundo. Passamos o dia flutuando entre pólos de alegria e infelicidade”, afirma o médico psiquiatra Ricardo Moreno. Se passamos o dia entre esses pólos de flutuação, é bom não levar tão a sério os

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comerciais de margarina em que a família é linda, perfeita, alegre e até os cachorros parecem sorrir o tempo inteiro. Vivemos numa época em que a felicidade constante é praticamente um dever de todos. É fato: ser feliz o tempo todo está virando uma obrigação a ponto de causar angústia. Especialistas, no entanto, afirmam que estar infeliz é mais do que natural, é necessário à condição humana. A tristeza é um dos raros momentos que nos permite reflexão, uma volta para nós mesmos, uma possibilidade de nos conhecermos melhor. De saber o que queremos, do que gostamos. E somente com essa clareza de dados é que podemos buscar atividades que nos dão prazer, isto é, que nos fazem felizes. Assim como a dor e o medo, a tristeza nos ajuda a sobreviver. Sim, porque se não sentíssemos medo, poderíamos nos atirar de um penhasco. E se não tivéssemos dor, como o organismo poderia nos avisar de que algo não vai bem? (Adaptado de Mariana Sgarioni, Emoção & Inteligência, Superinteressante, p. 18-20) 9- Identifica-se a ideia principal do texto em: a) poetas convivem com sentimentos negativos, como a tristeza, porque são incapazes de perceber os momentos felizes que ocorrem normalmente no cotidiano das pessoas. b) Felicidade corresponde a uma forma ideal de vida, por isso peças de publicidade enfatizam os momentos mais agradáveis da vida familiar. c) Tristeza é um sentimento natural de reação a situações de frustração, sendo, portanto, inerente à condição humana. d) Tristeza e felicidade, sentimentos permanentes da vida, são os temas preferidos de poetas e músicos, por isso utilizados atualmente por publicitários. e) O ideal que todos devem buscar, em seu dia-a-dia, deve ser o de se sentirem constantemente alegres e felizes. GABARITO: C. O fim do 1º parágrafo e todo o restante do texto explica o que vem a ser a tristeza. Veja estes trechos ratificadores: “Tristeza é um sentimento que responde a estímulos internos, como recordações, memórias, vivências; ou externos, como a perda de um emprego ou de um amor. Não se trata de uma emoção, que é uma resposta imediata a um estímulo. No caso da tristeza, nosso organismo elabora e amadurece a emoção, antes de manifestá-la. É uma resposta natural a situações de perda ou de frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais responsáveis por angústia, melancolia ou coração apertado." e “Especialistas, no entanto, afirmam que estar infeliz é mais do que natural, é necessário à condição humana. A tristeza é um dos raros

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momentos que nos permite reflexão, uma volta para nós mesmos, uma possibilidade de nos conhecermos melhor. De saber o que queremos, do que gostamos." Portanto, fica claro que ‘a tristeza é um sentimento natural de reação a situações de frustração, sendo, portanto, inerente à condição humana’. 10- A afirmativa correta de acordo com o texto é: a) Vinicius de Moraes tinha toda a razão quando escreveu que tristeza não tem fim, mas a felicidade, sim. b) Sentimentos de felicidade e de tristeza, embora sejam opostos entre si, provocam, ambos, sensação de dor nas pessoas. c) A televisão, ao mostrar situações familiares de felicidade completa, apóia-se em descobertas recentes sobre os sentimentos humanos. d) O choro causado pelos versos de uma música bem triste ensina as pessoas a suportarem melhor as grandes frustrações da vida real. e) A tristeza constitui um sentimento que propicia ao ser humano maior consciência de si próprio e de seus anseios. GABARITO: E. Este trecho do texto corrobora a afirmação da alternativa E: “A tristeza é um dos raros momentos que nos permite reflexão, uma volta para nós mesmos, uma possibilidade de nos conhecermos melhor. De saber o que queremos, do que gostamos.” Portanto, ‘ela constitui um sentimento que propicia ao ser humano maior consciência de si próprio e de seus anseios.’ Texto II

Apesar da queda relativa, a Região Sudeste ainda responde por mais da metade do PIB nacional. O Estado de São Paulo apresentou a maior queda relativa nos últimos anos, mas responde por cerca de um terço da riqueza produzida no País. Historicamente baseado na agricultura e na indústria, o Sudeste está rapidamente descortinando sua vocação para os serviços.

O chamado setor terciário – que engloba o comércio, a área

financeira e todos os tipos de serviços – já é majoritário nos quatro Estados da Região. Segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo, Carlos Azzoni, a região está se sofisticando e se especializando na prestação de serviços. O Sudeste está se transformando numa referência na América Latina nas áreas de saúde, educação, tecnologia e informática. O setor financeiro mais sofisticado deve permanecer concentrado na região por longos anos.

Para o mercado de trabalho, a mudança da vocação regional

significa a perda de vagas fixas e a abertura de muitas oportunidades de

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trabalho menos rígidas. A agricultura deverá manter sua força na Região, mas precisa investir em culturas extensivas para garantir a competitividade. A tendência será concentrar a produção em culturas com maior produtividade que se encaixam nesse perfil, como a cana-de-açúcar, a laranja e as flores.

Embora as facilidades logísticas desobriguem as empresas de

produzir junto ao mercado, a força de consumo do Sudeste ainda cria muitas oportunidades. Alguns centros no interior de São Paulo e Minas Gerais têm força equivalente à de capitais de Estados menores. Essas cidades médias possuem, além do mercado, mão-de-obra qualificada e custos reduzidos em relação aos grandes centros. Por isso, a interiorização do desenvolvimento é uma tendência irreversível, segundo os especialistas. Outra aposta recorrente está na área de logística e distribuição, da qual as empresas dependem cada vez mais, por ser um setor que se desenvolve necessariamente junto aos grandes mercados. (Adaptado de Karla Terra, Novo mapa do Brasil, O Estado de S. Paulo, H2, 11 de dezembro de 2005)

11. O texto está corretamente resumido da seguinte maneira: (A) A ausência de consumidores obriga o setor industrial a uma transformação no mercado de trabalho, para torná-lo mais flexível. (B) As distâncias entre centros produtores e respectivos consumidores justificam a queda relativa do PIB na Região Sudeste. (C) Estados de extensão geográfica menor, em relação aos da Região Sudeste, ampliam oportunidades de trabalho, com a interiorização dos serviços. (D) A queda relativa do PIB na Região Sudeste desperta interesse mais voltado para a agricultura, com a produção de alguns itens diferenciados. (E) De base historicamente agroindustrial, o Sudeste avança pelo setor terciário, que já se tornou o mais significativo em toda a Região. GABARITO: E. A leitura desse texto provoca em quem lê a nítida percepção de que trata da questão da economia da região Sudeste. Inicialmente, o autor nos diz que o Sudeste tem o maior PIB do país. Depois, aborda o perfil econômico da região, observado da perspectiva de um passado próximo, que se caracterizava por ter sua força calcada na agricultura e na indústria. Chega-se à conclusão que a região tem a maior parte de sua riqueza deslocando-se para o setor de serviços. Os dois primeiros parágrafos servem de base para que percebamos, primeiro, a base historicamente agroindustrial do Sudeste, que hoje, segundo, avança pelo setor terciário, tornando-se o mais significativo em toda a Região. 12. É correto afirmar, considerando o contexto, que a Região Sudeste (A) perdeu consideravelmente sua importância na área agroindustrial, com a interiorização do desenvolvimento econômico.

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(B) deve ampliar sua força de consumo no mercado interno, para escoar a produção agrícola específica e recuperar a queda do PIB. (C) representa papel de destaque na economia brasileira, com novas oportunidades de trabalho, especialmente na área de serviços. (D) sofreu queda no PIB em consequência do afastamento de muitas empresas, que passaram a operar à distância do mercado consumidor. (E) concentra sua economia em cidades menores, por seus custos reduzidos, o que leva à perda relativa de sua importância na economia nacional. GABARITO: C. A resposta está diluída em todo o texto, mas condensada no último parágrafo. Depreendemos pela leitura do texto que o ‘Sudeste representa papel de destaque na economia brasileira, com novas oportunidades de trabalho, especialmente na área de serviços’. Depreendemos isso porque lemos que a região Sudeste, apesar de ter sofrido queda relativa no PIB nacional, ainda é a região mais rica do país, com grande evolução no setor terciário e com grande vocação para surgimento de novos postos de trabalho. Tudo isso faz do Sudeste a região que mais eleva o PIB brasileiro. Texto III

Durante os períodos eleitorais, muito se fala do voto como expressão do exercício de cidadania. No entanto, o conceito de cidadania não se esgota no direito de eleger e de ser eleito para compor os órgãos estatais incumbidos de elaborar executar ou fazer cumprir as leis. Ao contrário, o conceito de cidadania, como um dos fundamentos da República, é mais que o mero exercício do direito do voto. A cidadania compreende, além disso, o direito de apresentar projetos de lei diretamente às casas legislativas, de peticionar ou de representar aos poderes públicos. Em verdade, a cidadania exige, no Estado Democrático de Direito, que os cidadãos participem nos negócios públicos – elegendo ou sendo eleitos como representantes do povo –, principalmente inter vindo no processo de elaboração e na fiscalização das leis, não apenas em defesa de interesses próprios, mas dos de toda a sociedade. Vê-se, pois, como é conveniente que os cidadãos tenham pelo menos boas noções de processo legislativo, para saber como e quando devem nele intervir, em defesa do interesse comum. A educação, por exemplo, é assunto de interesse público, porque sempre foi não apenas a ferramenta essencial da construção da cultura e da civilização, mas o instrumento supremo da sobrevivência humana e de sua evolução. Foi ela que permitiu aos homens, cada vez mais, uma elaborada adaptação ao meio ambiente, ao longo de incontáveis eras. Foi e continua sendo o grande diferencial na história evolutiva da humanidade. Por sua reconhecida importância estratégica para a vida das pessoas

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e do País, a educação é apresentada como prioridade nos diferentes programas de candidatos a cargos executivos e legislativos. (Adaptado de Cláudio Fonseca, Jornal dos Professores, p. 7, julho de 2006) 13. A ideia central do texto consiste na discussão de (A) normas legais, especialmente em relação ao exercício do direito do voto, que compete aos cidadãos (B) determinados princípios democráticos a que todos devem submeter-se, especialmente nos períodos eleitorais. (C) como os candidatos a cargos executivos e legislativos devem participar efetivamente da ordem democrática. (D) um conceito mais amplo de cidadania e das condições para exercê-la de uma forma eficaz e participativa. (E) uma educação pública de qualidade, como programa básico de diferentes candidatos a cargos eletivos GABARITO: D. Existem alguns segmentos do texto que tratam da ideia central dele, a saber: a cidadania é um conceito mais amplo ligado a muitos campos da vida de modo que as pessoas devem procurar entender o que está envolvida em ser de fato um Cidadão. Observa-se isso nos dois primeiros parágrafos e, de maneira diluída, nos parágrafos subsequentes. 14. Considere as afirmativas abaixo: I. O conceito de cidadania engloba participação ativa nos negócios públicos e ultrapassa o simples ato de votar nos dias de eleição. II. A escolha dos candidatos a cargos públicos, especialmente os que envolvem função legislativa, deve valorizar aqueles que se preocupam prioritariamente com a educação pública. III. A evolução da humanidade só foi coroada de êxito a partir da definição e da aceitação de um conceito comum de educação. Considerando-se o contexto, está correto o que se afirma SOMENTE em (A) I (B) II (C) III (D) I e II (E) II e III GABARITO: A.

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A afirmação I é confirmada pelo segundo período do primeiro parágrafo. A afirmação II peca por usar palavras de sentido restrito (especialmente e prioritariamente). Por fim, a afirmação III apresenta um equívoco por dizer que um conceito comum, definido e aceito por todos, de educação permitiu a evolução da humanidade, quando, na verdade, o texto diz tão somente que o conceito de educação foi primordial para a evolução da humanidade. Cuidado ao ler um texto (e, concurseiro que é concurseiro, escaldado, verá que não tem alternativa I e III, logo...). Malícia também ajuda. FCC – TRE-TO - ANALISTA – 2011 Texto I De volta à Antártida

A Rússia planeja lançar cinco novos navios de pesquisa polar como parte de um esforço de US$ 975 milhões para reafirmar a sua presença na Antártida na próxima década. Segundo o blog Science Insider, da revista Science, um documento do governo estabelece uma agenda de prioridades para o continente gelado até 2020. A principal delas é a reconstrução de cinco estações de pesquisa na Antártida, para realizar estudos sobre mudanças climáticas, recursos pesqueiros e navegação por satélite, entre outros. A primeira expedição da extinta União Soviética à Antártida aconteceu em 1955 e, nas três décadas seguintes, a potência comunista construiu sete estações de pesquisa no continente. A Rússia herdou as estações em 1991, após o colapso da União Soviética, mas pouco conseguiu investir em pesquisa polar depois disso. O documento afirma que Moscou deve trabalhar com outras nações para preservar a “paz e a estabilidade” na Antártida, mas salienta que o país tem de se posicionar para tirar vantagem dos recursos naturais caso haja um desmembramento territorial do continente. (Pesquisa Fapesp, dezembro de 2010, no 178, p. 23) 15. Há exemplos de palavras ou expressões empregadas no texto para retomar outras já utilizadas sem repeti-las literalmente, como ocorre em: I. o continente gelado = a Antártida II. Moscou = a Rússia III. a revista Science = o blog Science Insider IV. a potência comunista = a União Soviética Atende corretamente ao enunciado da questão o que está em (A) I e III, apenas. (B) I e IV, apenas.

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(C) II e III, apenas. (D) I, II e IV, apenas. (E) I, II, III e IV. GABARITO: D. Sobre I: "A Rússia planeja lançar cinco novos navios de pesquisa polar como parte de um esforço de US$ 975 milhões para reafirmar a sua presença na Antártida na próxima década. Segundo o blog Science Insider, da revista Science, um documento do governo estabelece uma agenda de prioridades para o continente gelado até 2020.". Bem, a leitura e consequente intelecção (compreensão) de um texto passa por alguns critérios; dentre esses, há o conhecimento de coesão. E o que vem a ser coesão? É um conceito que trata da ligação entre as partes do texto. Por exemplo, isto que você está lendo agora é um texto, certo? Pois bem, observe que eu usei a palavra conceito para retomar a palavra coesão, isso que fiz foi a coesão que houve no meu texto, ou seja, conectei uma parte do texto com outra através da substituição de uma palavra por outra (conceito no lugar de coesão). Da mesma forma, o texto da prova apresenta a expressão 'continente gelado' retomando a palavra 'Antártida', evitando a repetição, dando progressão ao texto e tornando o texto bem coeso. Foi? O mesmo processo coesivo ocorre em II e IV. Veja o contexto, respectivamente: "A Rússia herdou as estações em 1991, após o colapso da União Soviética, mas pouco conseguiu investir em pesquisa polar depois disso. O documento afirma que Moscou deve trabalhar com outras nações..." e "A primeira expedição da extinta União Soviética à Antártida aconteceu em 1955 e, nas três décadas seguintes, a potência comunista construiu sete estações de pesquisa no continente." Texto II

Quando eu sair daqui, vamos começar vida nova numa cidade antiga, onde todos se cumprimentam e ninguém nos conheça. Vou lhe ensinar a falar direito, a usar os diferentes talheres e copos de vinho, escolherei a dedo seu guarda-roupa e livros sérios para você ler. Sinto que você leva jeito porque é aplicada, tem meigas mãos, não faz cara ruim nem quando me lava, em suma, parece uma moça digna apesar da origem humilde. Minha outra mulher teve uma educação rigorosa, mas mesmo assim mamãe nunca entendeu por que eu escolhera justamente aquela, entre tantas meninas de uma família distinta. (Chico Buarque. Leite derramado, São Paulo, Cia. das Letras, 2009, p. 29) 16. Leia atentamente as afirmações abaixo sobre o texto.

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I. Ao expressar o desejo de viver numa cidade onde todos se cumprimentam e ninguém nos conheça, o narrador incorre numa evidente e insolúvel contradição. II. A afirmação de que a outra mulher teve uma educação rigorosa é reafirmação, por contraste, de que aquela a quem o narrador se dirige não a teve, o que já estava implícito no propósito de lhe ensinar a falar direito, a usar os diferentes talheres e copos de vinho etc. III. Ao dizer que sua interlocutora parece uma moça digna apesar da origem humilde, o narrador sugere, por meio da concessiva, que a dignidade não costuma ser característica daqueles cuja origem é humilde. Está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) II e III, apenas. (C) I e III, apenas. (D) I e II, apenas. (E) II, apenas. GABARITO: B. Questão fácil. A afirmação II está correta e é autoexplicativa. Há uma comparação/contraste entre a educação da segunda mulher e da primeira mulher do locutor do texto. Enquanto a primeira teve uma educação rigorosa, a outra não teve, por isso ele iria ensiná-la. Chovi no molhado, pois isso já está bem claro na afirmação II, não? A afirmação III também está correta, porque a ideia de concessão é justamente trabalhar ideias em oposição. Ao dizer que ela era humilde, mas parecia ser digna, o narrador sugere, como diz a afirmação III, que a dignidade não costuma ser característica daqueles cuja origem é humilde. 17. ... escolherei a dedo seu guarda-roupa e livros sérios para você ler. A expressão grifada na frase acima pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido original, por: (A) pessoalmente. (B) de modo incisivo. (C) apontando. (D) entre outras coisas. (E) cuidadosamente. GABARITO: E. A expressão idiomática "escolher a dedo" significa, segundo o dicionário Michaelis, escolher cautelosamente, com cuidado. Veja outras expressões idiomáticas com a palavra dedo: Cheio de dedos, gíria: diz-se do indivíduo convencido de seus méritos quando em geral não os tem, ou que se presume intocável. Estar a dois dedos: estar muito perto. Meter os

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dedos pelos olhos: obrigar alguém a ver e a julgar de certa maneira. Pôr o dedo na ferida: mostrar; tocar o ponto fraco. Ter dedo para alguma coisa: ter habilidade ou jeito. Texto III Cartão de Natal Pois que reinaugurando essa criança pensam os homens reinaugurar a sua vida e começar novo caderno, fresco como o pão do dia; pois que nestes dias a aventura parece em ponto de voo, e parece que vão enfim poder explodir suas sementes: que desta vez não perca esse caderno sua atração núbil para o dente; que o entusiasmo conserve vivas suas molas, e possa enfim o ferro comer a ferrugem o sim comer o não. João Cabral de Melo Neto 18. No poema, João Cabral (A) critica o egoísmo, e manifesta o desejo de que na passagem do Natal as pessoas se tornem generosas e façam o sim comer o não. (B) demonstra a sua aversão às festividades natalinas, pois nestes dias a aventura parece em ponto de vôo, mas depois a rotina segue como sempre. (C) critica a atração núbil para o dente daqueles que transformam o Natal em uma apologia ao consumo e se esquecem do seu caráter religioso. (D) observa com otimismo que o Natal é um momento de renovação em que os homens se transformam para melhor e fazem o ferro comer a ferrugem. (E) manifesta a esperança de que o Natal traga, de fato, uma transformação, e que, ao contrário de outros natais, seja possível começar novo caderno. GABARITO: E. Poemas são sempre um problema, pois a subjetividade na leitura nos leva para algumas interpretações múltiplas. A linguagem figurada (conotativa) é própria do poema, que abusa da criatividade e do simbolismo para

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transmitir uma ideia de maneira artística, não objetiva. No entanto, é prova de concurso, temos de fazer a questão e... acertar. Portanto, vamos entendê-lo. Visto que o título do poema é Cartão de Natal, podemos deduzir que os elementos do texto nos remeterão à esperança, amor, vida, bons votos, promessas, recordação, renovação, etc. Pois bem... analisemos a primeira parte do poema, segundo minha leitura possível: Pois que reinaugurando essa criança pensam os homens reinaugurar a sua vida e começar novo caderno, fresco como o pão do dia; A imagem da criança nos alude a Jesus Cristo e a seu nascimento, afinal, Natal significa nascimento. Quando os homens rememoram esta época, Cristo é rememorado, de modo que os homens, influenciados por esse espírito natalino, sentem o desejo de "virar a página e começar a escrever uma outra história" para o ano seguinte, uma nova vida (novo caderno), fresca, revigorada como o pão quentinho da manhã. O desejo de transformação, renovação é peculiar à época. pois que nestes dias a aventura parece em ponto de voo, e parece que vão enfim poder explodir suas sementes: A impressão é que, no Natal, tudo se renova, o homem está excitado por uma nova aventura, e novos nascimentos de pessoas ((sementes) literais e simbólicos) ocorrem. que desta vez não perca esse caderno sua atração núbil para o dente; que o entusiasmo conserve vivas suas molas, e possa enfim o ferro comer a ferrugem o sim comer o não. Tais frases apresentam verbos com tom imperativo, indicando também desejo, vontade de fazer a vida melhor, em busca de transformação do negativo para o positivo (o ferro comer a ferrugem/o sim comer o não). Levando tudo isso em conta, podemos dizer que, 'no poema, João Cabral manifesta a esperança de que o Natal traga, de fato, uma

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transformação, e que, ao contrário de outros natais, seja possível começar novo caderno'. 19. É correto perceber no poema uma equivalência entre (A) ferrugem e aventura. (B) dente e entusiasmo. (C) caderno e vida. (D) sementes e pão do dia. (E) ferro e atração núbil. GABARITO: C. 'Caderno' (termo de sentido conotativo) e 'vida' (seu equivalente denotativo) podem ser associados, pois a transformação de que o texto fala é condicionada à vida do homem. 20. que desta vez não perca esse caderno Com a frase acima o poeta (A) alude a uma impossibilidade. (B) exprime um desejo. (C) demonstra estar confuso. (D) revela sua hesitação. (E) manifesta desconfiança. GABARITO: B. O verbo tem tom imperativo, misturando sugestão e desejo. Típico de frase optativa. Lembra-se disso? Frase optativa? Se não...: é uma frase que exprime desejo, vontade, cujos verbos se encontram normalmente no imperativo ou nesse tom: Deus te acompanhe!, Seja bem-vindo!, etc. Estas três últimas questões relativas a poema são raras na FCC. FCC – TRE-TO – TÉCNICO - 2011 Texto I

O documentário E Agora? pretende revelar detalhes do tráfico de aves silvestres no Brasil. Segundo o produtor Fábio Cavalheiro, o longa-metragem apresentará cenas de flagrantes de tráfico, as rotas do comércio ilegal e entrevistas com autoridades e representantes de ONGs.

A Agência Nacional de Cinema (Ancine) aprovou o projeto e, agora, busca-se patrocínio. A ONG SOS Fauna, especializada em resgates, foi uma das orientadoras para a produção do filme.

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O longa também se propõe a discutir outro problema: o fato de que, mesmo quando salvas das mãos dos traficantes, muitas aves não são reintroduzidas na natureza.

Além da versão final editada para o cinema, as entrevistas e

materiais pesquisados estarão disponíveis para pesquisadores que queiram se aprofundar no tema. A intenção é a de que o filme contribua para a educação – e, por isso, será oferecido para estabelecimentos de ensino.

Entre as espécies mais visadas pelos traficantes estão papagaios, a

araponga, o pixoxó, o canário-da-terra, o tico-tico, a saíra-preta, o galo-de-campina, sabiás e bigodinho

. (O Estado de S. Paulo, A30 Vida, Planeta, 21 de novembro de 2010) 21. O assunto do texto está corretamente resumido em: (A) Um longa-metragem, em forma de documentário, abordará o tráfico de aves silvestres no Brasil, e terá objetivos educativos. (B) A Ancine deverá escolher e patrocinar a realização de alguns projetos de filmes educativos, destinados às escolas brasileiras. (C) ONGs voltadas para a proteção de aves silvestres buscam a realização de novos projetos, como a de filmes educativos. (D) Várias espécies de aves silvestres encontram-se em extinção, apesar dos constantes cuidados de ONGs destinadas à sua proteção. (E) Apesar das intenções didáticas, filme sobre tráfico de aves silvestres não atinge sua finalidade educativa. GABARITO: A. Observe que já na primeira linha do parágrafo inicial: "O documentário E Agora? pretende revelar detalhes do tráfico de aves silvestres no Brasil" o resumo da letra A encontra respaldo. Isso fica ainda mais claro quando notamos a complementação no fim do texto: "A intenção é a de que o filme contribua para a educação – e, por isso, será oferecido para estabelecimentos de ensino". 22. O texto informa claramente que (A) o produtor do documentário sobre aves silvestres baseou-se em entrevistas com pesquisadores para desenvolver o roteiro do filme. (B) as discussões referentes aos diversos problemas que colocam em perigo as aves silvestres já estão em andamento na Ancine. (C) algumas Organizações Não Governamentais estão se propondo a proteger aves silvestres capturadas e a preparar seu retorno à natureza. (D) o objetivo principal do documentário será oferecer subsídios a pesquisadores interessados em estudos sobre aves silvestres brasileiras.

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(E) o projeto do documentário sobre o tráfico de aves silvestres já foi aprovado, mas ainda não há patrocinador para sua produção. GABARITO: E. A primeira linha do segundo parágrafo atesta o conteúdo da letra E: "A Agência Nacional de Cinema (Ancine) aprovou o projeto e, agora, busca-se patrocínio". Beleza? Texto II A bailarina

A profissão de bufarinheiro está regulamentada; contudo, ninguém mais a exerce, por falta de bufarinhas*. Passaram a vender sorvetes e sucos de fruta, e são conhecidos como ambulantes.

Conheci o último bufarinheiro de verdade, e comprei dele um espelhinho que tinha no lado oposto a figura de uma bailarina nua. Que mulher! Sorria para mim como prometendo coisas, mas eu era pequeno, e não sabia que coisas fossem. Perturbava-me.

Um dia quebrei o espelho, mas a bailarina ficou intata. Só que não sorria mais para mim. Era um cromo como outro qualquer. Procurei o bufarinheiro, que não estava mais na cidade, e provavelmente teria mudado de profissão. Até hoje não sei qual era o mágico: se o bufarinheiro, se o espelho. * bufarinhas − mercadorias de pouco valor; coisas insignificantes. (Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis, in Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p.89) 23. O texto se desenvolve como (A) depoimento de uma criança sobre o espelhinho que tinha no lado oposto a figura de uma bailarina nua, registrado em sua memória. (B) discussão em torno da importância de certas profissões, ainda que se destinem ao comércio de bufarinhas. (C) crítica a um tipo de vendedores que não se preocupa com valores morais, como no caso da figura da bailarina nua vendida a uma criança. (D) relato de caráter pessoal, em que o autor relembra uma situação vivida quando era pequeno e reflete sobre ela. (E) ensaio de caráter filosófico, em que o autor questiona o dilema diante de certos fatos da vida, apontado na dúvida final: Até hoje não sei qual era o mágico. GABARITO: D.

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É um relato, pois o autor conta uma história (narração (verbos no passado)), e é de caráter pessoal, pois os verbos, na sua maioria, se encontram na primeira pessoa do singular. Esta marca de pessoalidade se reflete nos dois últimos parágrafos do texto, o que confirma a afirmação da letra D. 24. É INCORRETO afirmar que: (A) A exclamação Que Mulher! cria uma incoerência no contexto, por referir-se a uma figura feminina que era, na verdade, um cromo como outro qualquer. (B) Percebe-se, na fala do contista, certa nostalgia em relação aos bufarinheiros, que vendiam sonhos, embutidos nas pequenas coisas. (C) Bufarinheiro é uma palavra atualmente em desuso no idioma, porém é possível entender seu sentido no decorrer do texto. (D) Uma possível conclusão do texto é a de que a verdadeira mágica estava no encanto da criança, quebrado com o espelho partido. (E) No 1o parágrafo o autor constata mudança de hábitos na substituição das bufarinhas por sorvetes e sucos de fruta. GABARITO: A. A afirmação da letra A é absurda, pois o autor do texto só diz que a figura era um cormo como outro qualquer após o incidente com o espelho, e não no momento em que ele se entusiasma com a primeira impressão da figura feminina bela atrás do espelho. Texto III

Na Academia Brasileira de Letras, há um salão bonito, mas um pouco sinistro. É o Salão dos Poetas Românticos, com bustos dos nossos principais românticos na poesia: Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo.

Os modernistas de 22, e antes deles os parnasianos, decidiram

avacalhar com essa turma de jovens, que trouxe o Brasil para dentro de nossa literatura. Foram os românticos, na rosa e no verso, que colocaram em nossas letras as palmeiras, os índios, as praias selvagens, o sabiá, as borboletas de asas azuis, a juriti − o cheiro e o gosto de nossa gente. Não fosse o romantismo, ficaríamos atrelados ao classicismo das arcádias, à pomposidade do verso burilado. Sem falar nos poemas-piadas, a partir de 1922, todos como vanguarda da vanguarda.

Foram jovens. Casimiro morreu com 21 anos, Álvares de Azevedo com 22, Castro Alves com 24, Fagundes Varela com 34. O mais velho de todos, Gonçalves Dias, mal chegara aos 40 anos. O Salão dos Poetas

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Românticos é também sinistro pois é de lá que sai o enterro dos imortais, que morrem como todo mundo. (Adaptado de Carlos Heitor Cony "Salão dos românticos". FSP, 16/12/2010) 25. No 2º parágrafo, identifica-se (A) aceitação, com ressalvas, do fato de a escola romântica ser considerada superior à parnasiana por esta última não ter sido produzida por jovens talentos. (B) elogio à produção literária dos autores parnasianos, cujas obras clássicas teriam inspirado o modernismo de 22. (C) comparação do movimento de 22 com o romantismo, e conclusão de que o primeiro, mais ousado, é superior ao segundo. (D) reflexão a respeito do valor dos poetas românticos brasileiros, que teriam sido injustamente criticados por parnasianos e modernistas. (E) constatação dos inúmeros defeitos da produção literária modernista, com base na falta de seriedade de seus autores. GABARITO: D. O valor dos poetas românticos é realçado pelo autor nesta parte do segundo parágrafo em detrimento das críticas parnasianas e modernistas: "Foram os românticos, na prosa e no verso, que colocaram em nossas letras as palmeiras, os índios, as praias selvagens, o sabiá, as borboletas de asas azuis, a juriti − o cheiro e o gosto de nossa gente. Não fosse o romantismo, ficaríamos atrelados ao classicismo das arcádias...". Era olhar e ver. :-) 26. ... pois é de lá que sai o enterro dos imortais, que morrem como todo mundo. (final do texto) A frase acima (A) aponta a desvalorização dos escritores que já foram considerados os melhores do país. (B) produz efeito humorístico advindo do paradoxo causado por um jogo de palavras com os conceitos de mortalidade e imortalidade. (C) conclui que apenas os autores românticos merecem ser chamados de imortais. (D) repudia com sarcasmo o privilégio oferecido aos autores da Academia, pois são mortais como os demais escritores. (E) estabelece oposição à ideia de que o Salão dos Poetas Românticos teria algo de fúnebre. GABARITO: B. A letra B é autoexplicativa. Mesmo assim darei minha colaboração: o paradoxo é a união de duas ideias contrárias, ou seja, imortais morrendo

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é uma ideia paradoxal uma vez que o conceito de imortalidade é exatamente o avesso de mortalidade, mas o autor une, de maneira cômica/irônica, a ideia de imortalidade com mortalidade, gerando paradoxo. Imortais não morrem, ora bolas, mas no texto o autor diz que morrem como todo mundo, revelando implicitamente que na verdade o título de imortalidade é meramente simbólico. Isso que eu fiz foi explicar o jogo de palavras usado pelo autor, o que equivale a explicar uma piada... não tem graça nenhuma... Bem, o que importa é que você tenha entendido a questão. 27. − o cheiro e o gosto de nossa gente. (2o parágrafo) O segmento acima configura-se como (A) ressalva ao que foi afirmado antes. (B) síntese valorativa da enumeração que o antecede. (C) causa dos fatos que foram apresentados. (D) opinião que sintetiza a ideia principal do parágrafo. (E) explicação que complementa o termo imediatamente anterior. GABARITO: B. Tal expressão (- o cheiro e o gosto de nossa gente) resume ou sintetiza toda a enumeração anterior (... que colocaram em nossas letras as palmeiras, os índios, as praias selvagens, o sabiá, as borboletas de asas azuis, a juriti...). É valorativa porque, do ponto de vista do autor, essas características enfatizam/valorizam/realçam o povo brasileiro e sua terra. FCC – TRE-AP – ANALISTA – 2011

As indústrias culturais, e mais especificamente a do cinema, criaram uma nova figura, “mágica”, absolutamente moderna: a estrela. Depressa ela desempenhou um papel importante no sucesso de massa que o cinema alcançou. E isso continua. Mas o sistema, por muito tempo restrito apenas à tela grande, estendeu-se progressivamente, com o desenvolvimento das indústrias culturais, a outros domínios, ligados primeiro aos setores do espetáculo, da televisão, do show business. Mas alguns sinais já demonstravam que o sistema estava prestes a se espalhar e a invadir todos os domínios: imagens como as de Gandhi ou Che Guevara, indo de fotos a pôsteres, no mundo inteiro, anunciavam a planetarização de um sistema que o capitalismo de hiperconsumo hoje vê triunfar.

O que caracteriza o star-system em uma era hipermoderna é, de fato, sua expansão para todos os domínios. Em todo o domínio da cultura, na política, na religião, na ciência, na arte, na imprensa, na literatura, na filosofia, até na cozinha, tem-se uma economia do estrelato, um mercado do nome e do renome. A própria literatura consagra escritores no mercado internacional, os quais negociam seus direitos por intermédio de

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agentes, segundo o sistema que prevalece nas indústrias do espetáculo. Todas as áreas da cultura valem-se de paradas de sucesso (hit-parades), dos mais vendidos (best-sellers), de prêmios e listas dos mais populares, assim como de recordes de venda, de frequência e de audiência destes últimos.

A extensão do star-system não se dá sem uma forma de banalização ou mesmo de degradação − da figura pura da estrela, trazendo consigo uma imagem de eternidade, chega-se à vedete do momento, à figura fugidia da celebridade do dia; do ícone único e insubstituível, passa-se a uma comunidade internacional de pessoas conhecidas, “celebrizadas”, das quais revistas especializadas divulgam as fotos, contam os segredos, perseguem a intimidade. Da glória, própria dos homens ilustres da Antiguidade e que era como o horizonte resplandecente da grande cultura clássica, passou-se às estrelas − forma ainda heroicizada pela sublimação de que eram portadoras − , depois, com a rapidez de duas ou três décadas de hipermodernidade, às pessoas célebres, às personalidades conhecidas, às “pessoas”. Deslocamento progressivo que não é mais que o sinal de um novo triunfo da forma moda, conseguindo tornar efêmeras e consumíveis as próprias estrelas da notoriedade. (Adap. de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy. Uma cultura de celebridades: a universalização do estrelato. In A cultura – mundo: resposta a uma sociedade desorientada. Trad: Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.81 a 83) 28. No texto, os autores (A) tecem elogios às indústrias culturais, assinalando como positivo o desempenho delas na constituição de sociedades modernas. (B) advogam o reconhecimento do papel exclusivo do cinema na criação e disseminação da figura da estrela. (C) atribuem às estrelas do cinema a massificação dessa arte, em um sistema que permanece unicamente por força da atuação das atrizes de alta categoria. (D) condenam a expansão do sistema que equivocadamente se constituiu no passado em torno da figura da estrela, porque ele tornou obrigatória a figura intermediária do agente. (E) apontam a hipermodernidade como era que adota, de modo generalizante, práticas que na modernidade mais se associavam às indústrias do espetáculo. GABARITO: E. Este trecho do texto resolve a questão: "o que caracteriza o star-system em uma era hipermoderna é, de fato, suaexpansão para todos os domínios. Em todo o domínio da cultura, na política, na religião, na ciência, na arte, na imprensa, na literatura, na filosofia, até na cozinha, tem-se uma economia do estrelato, um mercado do nome e do

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renome. A própria literatura consagra escritores no mercado internacional, os quais negociam seus direitos por intermédio de agentes, segundo o sistema que prevalece nas indústrias do espetáculo." 29. Os autores referem-se a Gandhi ou Che Guevara com o objetivo de (A) insinuar que, na modernidade, a imagem independe do valor que efetivamente um homem representa. (B) recriminar, em aparte irrelevante para a argumentação principal, a falta de critério na exposição da figura de um líder, que acarreta o uso corriqueiro de sua imagem − numa foto ou pôster. (C) comprovar que o sistema associado à figura da estrela estava ligado aos setores do espetáculo, da televisão, do show business. (D) conferir dignidade à indústria cultural, demonstrando que essa indústria tem também a função de dar visibilidade à imagem de grandes líderes. (E) demonstrar, por meio de particularização, que antes da era hipermoderna já havia sinais de que o starsystem invadiria todos os domínios. GABARITO: E. A afirmação da letra E encontra respaldo no seguinte trecho do texto, que resolve a questão: "imagens como as de Gandhi ou Che Guevara (particularização), indo de fotos a pôsteres, no mundo inteiro, anunciavam a planetarização de um sistema que o capitalismo de hiperconsumo hoje vê triunfar (antes da era hipermoderna já havia sinais de que o starsystem invadiria todos os domínios)." FCC – TRE-AP – TÉCNICO – 2011 Texto I

A França, berço da tríade de valores modernos de liberdade, igualdade e fraternidade, deu passo temerário ao proibir o uso, em espaços públicos, de véus que cubram totalmente o rosto. Trata-se de uma manifestação de intolerância difícil de reconciliar com os valores que a nação francesa veio a representar no mundo.

Na prática, a proibição criminaliza o porte de indumentárias tradicionais em alguns grupos muçulmanos, como o niqab (que deixa só os olhos à mostra) e a burca (que os mantém cobertos por uma tela). A legislação adotada em 2010 entrou em vigor nesta semana e já motivou a aplicação de uma multa de cerca de R$ 340.

A lei interdita o uso de vestimentas que impeçam a identificação da pessoa, sob o pretexto de que essa dissimulação pode favorecer comportamentos suscetíveis de perturbar a ordem pública. Vale para

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ruas, parques, escolas, repartições, bibliotecas, hospitais, delegacias e ginásios de esporte. Domicílios, veículos particulares e locais de culto ficam excetuados.

Nesse grau de generalidade, a lei se aplicaria a qualquer acessório − como máscaras ou capacetes − que oculte o rosto. A intenção de discriminar muçulmanas transparece quando se considera a exceção feita na lei: máscaras usadas no contexto de festas, manifestações artísticas ou procissões religiosas, "desde que se revistam de caráter tradicional".

Cristãos, portanto, podem cobrir o rosto no Carnaval, no Halloween ou em procissões. Muçulmanas, no dia a dia, não − ainda que a peça seja de uso tradicional. O argumento da obrigatoriedade de identificação é ponderável. A própria legislação admite que a identidade seja confirmada em recinto policial. A imposição de multa, porém, parece abusiva.

A roupa e o uso de adereços − como crucifixos ou outros símbolos religiosos − deveriam ser considerados parte integrante do direito à expressão da personalidade, o que inclui a fé. Decerto que em muitos casos o uso do véu é imposto pela família e pode ser um símbolo de sujeição da mulher, mas basta uma que o faça por vontade própria para que a lei resulte em violação de seus direitos.

A medida extrema só encontra explicação no sentimento xenófobo que se dissemina pela França. Vem a calhar para o presidente Nicolas Sarkozy, que parece disposto a tudo para melhorar seus índices de popularidade. (Folha de S.Paulo. Opinião. 13 de abril de 2011) 30. O título que dá conta do assunto tratado com prioridade no texto é: (A) Privilégios dos cristãos. (B) Intolerância à francesa. (C) Datas religiosas e pagãs. (D) Índices de popularidade de Nicolas Sarkozy. (E) Lugares públicos e privados. GABARITO: B. O tema central é a questão da intolerância, na/pela França, aos estrangeiros (mais especificamente às mulheres muçulmanas que cobrem o rosto). Veja este trecho ratificador: "A intenção de discriminar muçulmanas transparece quando se considera a exceção feita na lei: máscaras usadas no contexto de festas, manifestações artísticas ou procissões religiosas, "desde que se revistam de caráter tradicional". Além disso, os três últimos parágrafos colocam em xeque a postura do governo francês, revelando uma incoerência na atitude/postura proibitiva. Portanto, o título, com trocadilho, sintetiza bem o assunto tratado no texto. 31. O autor do editorial, ao

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(A) referir-se a berço (linha 1), reconhece a França como origem de valores fundamentais, mas, ao mencionar modernos (linha 1), critica o anacronismo da tríade (linha 1). (B) falar em intolerância (linhas 4 e 5), toma como ponto de referência a cultura europeia contemporânea, que ele considera nada dever à tradição francesa. (C) caracterizar passo (linha 2), manifesta uma avaliação pessoal sobre a lei francesa, passando a fundamentar sua apreciação ao longo do texto. (D) mencionar niqab e burca (linha 9), defende que, na realidade, essas indumentárias são símbolos dos crimes praticados por certos grupos muçulmanos. (E) citar a legislação adotada em 2010 (linhas 10 e 11), inicia a argumentação que desabonará totalmente a lei que trata do uso de véus, visto que essa lei não preceitua nada que mereça séria consideração. GABARITO: C. No texto, quando um autor quer expressar sua opinião/julgamento (apreciação), ele o faz através de, normalmente, adjetivos modalizadores, que são palavras de sentido opinativo (passo temerário (=imprudente, arriscado, precipitado)). percebe que tal adjetivo exprime um ponto de vista? Uma coisa é dizer: Este carro é azul. Outra é dizer: Este carro é bom. O adjetivo bom tem valor subjetivo, opinativo, enquanto azul é meramente descritivo. 32. No aproveitamento que o autor fez da ideia, o grau de generalidade citado (linha 20) remete mais especificamente à não (A) citação do número da lei (linha 13). (B) identificação da pessoa (linha 14). (C) caracterização da forma como a lei interdita (linha 13). (D) definição do pretexto (linha 14). (E) especificação de vestimentas (linha 13). GABARITO: E. O terceiro e o quarto parágrafo dizem que "A lei interdita o uso de vestimentas (valor genérico) que impeçam a identificação das pessoas..." e "Nesse grau de generalidade, a lei se aplicaria a qualquer acessório − como máscaras ou capacetes − que oculte o rosto." Portanto, a generalidade diz respeito à não especificação de vestimentas. 33. A expressão do texto que está corretamente entendida é: (A) (linhas 4 e 5) manifestação de intolerância difícil de reconciliar / forma de repressão que se manifesta pela dificuldade de conciliação com as pessoas. (B) (linhas 5 e 6) valores que a nação francesa veio a representar no mundo / qualidades francesas que poderiam se tornar símbolos mundiais.

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(C) (linhas 7 e 8) a proibição criminaliza o porte de indumentárias tradicionais / a interdição acaba produzindo o crime de porte ilegal de indumentárias tradicionais. (D) (linhas 14 e 15) sob o pretexto de que essa dissimulação / com a alegação de que essa ocultação. (E) (linhas 15 e 16) pode favorecer comportamentos suscetíveis de perturbar a ordem pública / favoreceria comportamentos passíveis de atentar contra regimes democráticos. GABARITO: D. As expressões "sob o pretexto de que essa dissimulação" e "com a alegação de que essa ocultação" são sinônimas, ou seja, apresentam o mesmo sentido; o que não ocorre com as outras alternativas. 34. O segmento que expressa ponto de vista normativo por parte do editorialista é: (A) A França, berço da tríade de valores modernos de liberdade, igualdade e fraternidade, deu passo temerário... (B) Na prática, a proibição criminaliza o porte de indumentárias tradicionais em alguns grupos muçulmanos... (C) A legislação adotada em 2010 entrou em vigor nesta semana... (D) A imposição de multa, porém, parece abusiva. (E) A roupa e o uso de adereços − como crucifixos ou outros símbolos religiosos − deveriam ser considerados parte integrante do direito à expressão da personalidade... GABARITO: E. O ponto de vista normativo do editorialista está na letra E porque só nela existe o uso de um verbo modalizador, ou seja, um verbo que exprime ponto de vista do autor do texto. O verbo DEVER é normalmente um verbo modalizador, pois apresenta noção de obrigatoriedade por parte de quem o usa. Exemplo: Você deve estudar. Percebe a noção de imposição, obrigatoriedade, como se fosse realmente uma ‘norma’ a ser seguida? Daí a ideia de ‘normatividade’ a que o enunciado faz referência. FCC – TRE-RN – ANALISTA – 2011

Nas ilhas Mascarenhas − Maurício, Reunião e Rodriguez −, localizadas a leste de Madagáscar, no oceano Índico, muitas espécies de pássaros desapareceram como resultado direto ou indireto da atividade humana. Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções também ocorreu nessa localidade, com a morte de todas as espécies de uma família singular de pombos que não voavam − o solitário da ilha Rodriguez, visto pela última vez na década de 1790; o solitário da ilha

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Reunião, desaparecido por volta de 1746; e o célebre dodô da ilha Maurício, encontrado pela última vez no início da década de 1680 e quase certamente extinto antes de 1690.

Os volumosos dodôs pesavam mais de vinte quilos. Uma plumagem cinza-azulada cobria seu corpo quadrado e de pernas curtas, em cujo topo se alojava uma cabeça avantajada, sem penas, com um bico grande de ponta bem recurvada. As asas eram pequenas e, ao que tudo indica, inúteis (pelo menos no que diz respeito a qualquer forma de voo). Os dodôs punham apenas um ovo de cada vez, em ninhos construídos no chão.

Que presa poderia revelar-se mais fácil do que um pesado pombo gigante incapaz de voar? Ainda assim, provavelmente não foi a captura para o consumo pelo homem o que selou o destino do dodô, pois sua extinção ocorreu sobretudo pelos efeitos indiretos da perturbação humana. Os primeiros navegadores trouxeram porcos e macacos para as ilhas Mascarenhas, e ambos se multiplicaram de maneira prodigiosa. Ao que tudo indica, as duas espécies se regalaram com os ovos do dodô, alcançados com facilidade nos ninhos desprotegidos no chão − e muitos naturalistas atribuem um número maior de mortes à chegada desses animais do que à ação humana direta. De todo modo, passados os primeiros anos da década de 1680, ninguém jamais voltou a ver um dodô vivo na ilha Maurício. Em 1693, o explorador francês Leguat, que passou vários meses no local, empenhou-se na procura dos dodôs e não encontrou nenhum. (Extraído de Stephen Jay Gould. “O Dodô na corrida de comitê”, A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci. São Paulo, Cia. das Letras, 2003, pp. 286-8) 35. “Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções também ocorreu nessa localidade...” (1o parágrafo) A frase acima transcrita deve ser entendida como indicação de que a extinção das espécies de pombos que não voavam das ilhas Mascarenhas (A) seria um modelo a ser utilizado pelos homens no futuro, quando decididos a erradicar espécies inúteis ou prejudiciais. (B) é uma das primeiras extinções de animais vinculadas à ação direta ou indireta dos homens de que se tem notícia. (C) teria ocorrido muito tempo antes do verdadeiro início da extinção de espécies por conta de ações humanas diretas ou indiretas. (D) é um episódio tão antigo na história das relações entre homens e animais que pode ser considerado singular e ultrapassado. (E) deu origem a um padrão para as futuras extinções de animais, que estariam sempre ligadas à colonização humana de novas terras. GABARITO: B.

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Faça uma ligação entre as palavras do fragmento e a afirmação sobre ele na letra B. Veja: Mas aquela que é o protótipo e a tataravó de todas as extinções (uma das primeiras extinções de animais)... vinculadas à ação direta ou indireta dos homens de que se tem notícia (esta parte se encontra no primeiro período do texto)... Você está percebendo que as questões de interpretação da FCC são resolvidas em cima do texto. Por isso, não deixe de sublinhar e resumir as ideias principais de cada parágrafo; ok? 36. As asas eram pequenas e, ao que tudo indica, inúteis... (2o parágrafo) Ao que tudo indica, as duas espécies se regalaram com os ovos do dodô, alcançados com facilidade nos ninhos desprotegidos no chão... (último parágrafo) A expressão grifada nas frases acima transcritas deixa transparecer, em relação às afirmações feitas, (A) a sua comprovação científica irrefutável. (B) a certeza absoluta que o autor quer partilhar com o leitor. (C) o receio do autor ao formular um paradoxo. (D) a sua pequena probabilidade. (E) o seu caráter de hipótese bastante provável. GABARITO: E. A expressão ao que tudo indica dá ideia de hipótese, suposição, que se opõe à ideia de comprovação, certeza. 37. O segmento cujo sentido está corretamente expresso em outras palavras é: (A) se multiplicaram de maneira prodigiosa = cresceram ilusoriamente. (B) as duas espécies se regalaram = os dois gêneros se empanturraram. (C) uma família singular = um conjunto variegado. (D) que selou o destino = que indigitou a fatalidade. (E) empenhou-se na procura = dedicou-se com afinco à busca. GABARITO: E. Mera questão de sinonímia, ou seja, uso de palavras/expressões/frases diferentes com sentidos semelhantes. “Empenhar-se” e “dedicar-se com afinco” têm o mesmo sentido, portanto são expressões sinônimas; “na procura” e “à busca” também apresentam o mesmo sentido, logo a resposta só pode ser a letra E.

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Agora as incorretas. Sobre a letra A: prodigiosa = extraordinária, fenomenal, real, e não ilusória. Sobre a B: regalar = sentir grande prazer; empanturrar = encher-se. Sobre a C: singular = única, uniforme; variegado = diferente, variado. Sobre a D: indigitar = mostrar, designar. Texto II

AS LAVADEIRAS DE MOÇORÓ, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo. As pedras têm um polimento que revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo modo à figura física de quem as usa. Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm ar próprio, que não se presta a confusão.

A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento.

Na pobreza natural das lavadeiras, as pedras são uma fortuna, jóias que elas não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos. (Carlos Drummond de Andrade) 38. Considere as observações seguintes sobre a associação de palavras no texto e o sentido decorrente dessa associação: I. No segmento passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo há uma comparação, que associa a transmissão de costumes ao fluxo das águas do rio. II. As referências às pedras, especialmente no 2º parágrafo, atribuem a elas qualidades humanas. III. Na frase Servem de espelho a suas donas é possível entender o sentido literal, como referência ao reflexo da água sobre as pedras, e o sentido contextual, como identidade e cumplicidade entre a mulher e a pedra. Está correto o que se afirma em: (A) II, apenas. (B) I e II, apenas. (C) I e III, apenas. (D) II e III, apenas. (E) I, II e III.

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GABARITO: E. Sobre I, a ideia de comparação entre passagem de costumes/hábitos com as pessoas e o fluxo das águas do rio é clara; o que nos ajuda a corroborar isso é o conectivo ‘como’ na expressão: como vão passando as águas no tempo. Sobre II, as pedras são personificadas (lembra-se desta figura de linguagem, em que seres não humanos passam a apresentar características humanas?). Basta ler o segundo parágrafo: “A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento.” Foi? Sobre III, a afirmação é autoexplicativa: “Na frase Servem de espelho a suas donas é possível entender o sentido literal, como referência ao reflexo da água sobre as pedras (servem de espelho), e o sentido contextual, como identidade e cumplicidade entre a mulher e a pedra (suas donas).” FCC – ESCRITURÁRIO (BB) – 2011

"O futebol arte acabou." Esta frase ecoa nos ares brasileiros sempre que perdemos. Para mim, essa frase tem cheiro de blasfêmia, que bem poderia ter se originado dos rincões onde jogar futebol, muito mais que um esforço perdido, é puro desencanto. Nunca emitida por um dos nossos.

Arte para o futebol jamais é adjetivo; é a sua essência. A beleza

intrínseca do movimento e da harmonia é meio ideal de cultura para a alegria e a criatividade. E quem, neste mundo, apresenta com tanta clareza tais qualidades? Um povo historicamente esmagado pela colonização (que insiste em se fazer viva), explorado e excluído em sua imensa maioria e que permanece com os queixos elevados e com a esperança intocável, é de se admirar. E só conseguiu atingir essa capacidade de sobrevivência por suas incomparáveis características. Quando qualquer de nós se aproxima de alguma forma de expressão artística é que podemos perceber a sensibilidade que exala de cada poro.

Como podemos explicar que cá por estas bandas surgissem tantas

genialidades sem que, em sua maioria, tenham tido quaisquer facilidades para seus ofícios? Em tantas áreas poderíamos desfilar um sem número de figuras excepcionais que se destacaram por suas criações e capacidades. No esporte não é diferente.

Do bando de desnutridos que somos nasceram Ademar Ferreira da

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Silva e João do Pulo. Mesmo com a falta de piscinas, tivemos Manoel dos Santos, Ricardo Prado, Gustavo Borges e esse excepcional César Cielo. Raquetes, tão raras por aqui, nos deram Maria Ester Bueno, Thomaz Koch e um tal de Guga. Assim, poderíamos ficar horas a desfilar as incoerências da realidade que vivemos. E nada mais real do que o nosso futebol. Nossa plena expressão social e nosso maior agregador cultural foram postos em um lugar bem especial por todos os apreciadores desse esporte, exatamente por nossas especialidades: espontaneidade, dom, criatividade, alegria e habilidade. Isto é que determina o que é arte! E arte de qualidade ímpar. Não é à toa que nossos maiores jogadores desfilam seus dotes, espalhados por todo o planeta. (Adaptado de: Sócrates. Carta Capital, Pênalti, 6 de abril de 2011, p. 68) 39. Considerando-se o teor do texto, é correto afirmar que se trata de (A) narrativa sobre o sucesso do esporte brasileiro em todo o mundo, com destaque para o futebol, bem mais popular. (B) exposição de um ponto de vista pessoal a respeito das qualidades dos brasileiros na área dos esportes, particularmente no futebol. (C) discussão aprofundada sobre os problemas socioeconômicos que levam atletas brasileiros de destaque a sair do país. (D) proposta de maior apoio aos esportistas brasileiros, para que possam dedicar-se aos treinos e melhorar seu desempenho. (E) depoimento de um ex-jogador em que se nota a decepção com os recentes resultados negativos do futebol brasileiro. GABARITO: B. O texto é dissertativo argumentativo, em que se expõe um assunto apresentando um ponto de vista defendido com argumentos. O autor faz justamente isto. Veja que a marca principal da dissertação é o verbo no presente do indicativo, pois apresenta tom de certeza no que se diz. Vemos também que o texto defende a tese de que os brasileiros fazem muito sucesso, se destacam de fato nos esportes de um modo geral, principalmente no futebol. FCC – TRE-RN – TÉCNICO – 2011 Rio Grande do Norte: a esquina do continente

Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios potiguares resistiram e os franceses invadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O Estado tornou-se centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a

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ganhar importância a extração do sal – hoje, o Rio Grande do Norte responde por 95% de todo o sal extraído no país. O petróleo é outra fonte de recursos: é o maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo no mar. Os 410 quilômetros de praias garantem um lugar especial para o turismo na economia estadual.

O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas − com belas

praias, falésias, dunas e o maior cajueiro do mundo –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas, falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do Cabugi, em Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo artesanato reunido no mercado São João e pelas salinas.

Caicó, Currais Novos e Açari compõem o chamado Polo do Seridó, dominado pela caatinga e com sítios arqueológicos importantes, serras majestosas e cavernas misteriosas. Em Caicó há vários açudes e formações rochosas naturais que desafiam a imaginação do homem. O turismo de aventura encontra seu espaço no Polo Serrano, cujo clima ameno e geografia formada por montanhas e grutas atraem os adeptos do ecoturismo.

Outro polo atraente é Agreste/Trairi, com sua sucessão de serras, rochas e lajedos nos 13 municípios que compõem a região. Em Santa Cruz, a subida ao Monte Carmelo desvenda toda a beleza do sertão potiguar – em breve, o local vai abrigar um complexo voltado principalmente para o turismo religioso. A vaquejada e o Arraiá do Lampião são as grandes atrações de Tangará, que oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi. (Nordeste. 30/10/2010, Encarte no jornal O Estado de S. Paulo). 40. O texto se estrutura notadamente (A) sob forma narrativa, de início, e descritiva, a seguir, visando a despertar interesse turístico para as atrações que o Estado oferece. (B) de forma instrucional, como orientação a eventuais viajantes que se disponham a conhecer a região, apresentando-lhes uma ordem preferencial de visitação. (C) com o objetivo de esclarecer alguns aspectos cronológicos do processo histórico de formação do Estado e de suas bases econômicas, desde a época da colonização. (D) como uma crônica baseada em aspectos históricos, em que se apresentam tópicos que salientam as formações geográficas do Estado. (E) de maneira dissertativa, em que se discutem as várias divisões regionais do Estado com a finalidade de comprovar qual delas se apresenta como a mais bela.

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GABARITO: A. O início do texto tem estrutura narrativa porque o autor o começa contando uma história. Características importantes da narração: voz de um narrador, tempo/espaço, personagens, enredo e verbo no passado, normalmente. Veja os elementos da narração: “Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios potiguares resistiram e os franceses invadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O Estado tornou-se centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a ganhar importância a extração do sal – hoje, o Rio Grande do Norte responde por 95% de todo o sal extraído no país.” Já a descrição é caracterizada por apresentar verbos no presente do indicativo, imagens detalhistas sobre um objeto, um lugar, uma pessoa, etc. Isso ocorre em todos os parágrafos subsequentes ao primeiro. É só ler. Para os preguiçosos (rs), veja o segundo parágrafo: “O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas − com belas praias, falésias, dunas e o maior cajueiro do mundo –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas, falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do Cabugi, em Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo artesanato reunido no mercado São João e pelas salinas”. E aí, ficou claro agora? FCC – TRE-RS - DEFENDOR PÚBLICO - 2011 41. A transformação da frase "Eu nunca parei de pensar sobre isso", disse Goodwin, para discurso indireto é: (A) Goodwin disse que nunca parara de pensar sobre aquilo. (B) Goodwin diz que nunca tivera parado de pensar sobre aquilo. (C) Goodwin disse: “Eu nunca parei de pensar sobre isso”. (D) Goodwin diz: “Eu nunca parei de pensar sobre isso”. (E) Goodwin disse o que pensava sobre aquilo. GABARITO: A. Sobre tipos de discurso, veja os detalhes que respondem a esta questão (rara na FCC) agora:

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Na narração, o narrador expõe a fala da personagem de duas maneiras: dando voz à própria personagem ou reproduzindo com sua voz a fala da personagem. Na dissertação também encontramos estes discursos quando o locutor do texto, normalmente, parafraseia a citação de alguém. No Discurso Direto (DD) há a presença de alguns elementos básicos (normalmente todos aparecem): verbo elocutivo (antecipando a fala da personagem), dois-pontos, aspas outravessão marcando a própria fala. No Discurso Indireto (DI) o narrador usa uma estrutura de oração subordinada substantiva, iniciada pela conjunção 'que'. Ex.: O professor pediu aos alunos: "Fiquem quietos". (DD) O professor pediu-lhes que ficassem quietos. (DI)

Existem regras para a passagem do discurso direto para o indireto (os vocábulos do discurso direto têm de ficar depois do 'que'): DIRETO - Enunciado em primeira pessoa: Disse o detento: "Eu não confio mais na Justiça" INDIRETO - Enunciado em terceira pessoa: O detento disse [que ele não confiava mais na Justiça] DIRETO - Verbo no presente do indicativo: "Eu não confio mais na Justiça" INDIRETO - Verbo no pretérito imperfeito do indicativo: Ele disse [que não confiava mais na Justiça] DIRETO - Verbo no pretérito perfeito: "Eu não roubei nada" INDIRETO - Verbo no pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo ou no pretérito mais-que-perfeito: Ele disse [que não tinha/havia roubado (ou roubara) nada] DIRETO - Verbo no futuro do presente: "Faremos justiça de qualquer maneira" INDIRETO - Verbo no futuro do pretérito: Declararam [que fariam justiça de qualquer maneira] DIRETO - Verbo no imperativo, presente ou futuro do subjuntivo: "Saia da delegacia", ordenou o delegado ao promotor INDIRETO - Verbo no pretérito imperfeito do subjuntivo: O delegado ordenou ao promotor [que saísse da delegacia]

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DIRETO - Pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos de 1ª pessoa; por exemplo, este, esta, isto, esse, essa, isso: "A esta hora não responderei nada", disse ele. INDIRETO - Pronomes de 3ª pessoa; por exemplo, aquele, aquela, aquilo: Ele disse [que àquela hora não responderia nada à imprensa] DIRETO - Advérbio aqui e cá: "Daqui eu não saio tão cedo", disse ele

INDIRETO - Advérbio ali e lá: Ele disse [que dali não sairia tão cedo] FCC – TRF – ANALISTA – 2010 42. Ao se dirigir ao juiz, pediu-lhe o advogado de defesa que adiasse a sessão, informando ao magistrado que sua principal testemunha estava adoentada e, por essa razão, impossibilitada de comparecer. Indique a afirmação INCORRETA sobre o texto acima. (A) A presença de personagens e o encadeamento temporal são traços que autorizam qualificar esse texto como narrativo. (B) Em discurso direto, a fala correta do advogado seria: Solicito-lhe, Meritíssimo, que adie a sessão, uma vez que minha principal testemunha encontra-se adoentada, o que a impede de comparecer. (C) Há um encadeamento causal nesta sucessão de eventos: estava adoentada, impossibilitada de comparecer e pediu-lhe o advogado de defesa que adiasse a sessão. (D) Caso o advogado fosse um entusiasta dos latinismos, ele poderia, adequadamente, usar a expressão tábula rasa, para indicar seu respeito ao magistrado, e ipso facto, no sentido de por essa razão. (E) A forma verbal estava, explícita em estava adoentada, está elíptica na construção seguinte, impossibilitada de comparecer. GABARITO: D. Dentro deste contexto, a expressão ‘tábula rasa’ não indica respeito, mas sim o oposto. Segundo o dicionário Aulete tal expressão é explicada assim: no empirismo mais radical, é o estado de absoluto vazio mental anterior a toda experiência. Portanto tem caráter negativo, quiçá pejorativo. Já ‘ipso facto’ é uma frase latina, que significa que um certo efeito é uma consequência direta da ação em causa, em vez de ser provocada por uma ação subsequente, como o veredicto de um tribunal. Na lei, esta frase é frequentemente empregada para transmitir a ideia de que algo que tem sido feito ao contrário do direito é automaticamente anulado. Enfim, esta expressão e ‘por essa razão’ são sinônimas. FCC – AL-SP – AGENTE TÉCNICO LEGISLATIVO – 2010

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43. O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava (...): “Restaure-se a moralidade, ou então nos locupletemos todos!”. Transpondo-se adequadamente o trecho acima para o discurso indireto, ele ficará: O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava que (A) ou bem se restaurasse a moralidade, senão nos locupletaríamos todos. (B) fosse restaurada a moralidade, ou então que nos locupletássemos todos. (C) seja restaurada a moralidade, ou todos nos locupletávamos. (D) seria restaurada a moralidade, caso contrário nos locupletássemos. (E) a moralidade seja restaurada, quando não venhamos a nos locupletar. GABARITO: B. Questão interessante, pois mistura transposição de discursos com voz verbal. Como já recapitulamos a questão de transposição de tipos de discurso (direto para o indireto e vice-versa), fica fácil. Bem, o verbo no imperativo (discurso direto) fica no pretérito imperfeito do subjuntivo (discurso indireto): “Restaure-se” (voz passiva sintética) = “fosse restaurada” (voz passiva analítica); “nos locupletemos” = “locupletássemos”. FCC – OFICIAL DE CHANCELARIA – 2009 Texto I O texto abaixo foi extraído de correspondência do renomado escritor norte-americano Norman Mailer endereçada ao crítico literário Peter Balbert.

1º de fevereiro de 1998

Caro Peter,

Entre as coisas que temos em comum está a depressão cultural. Reflito sobre a minha vida, especialmente depois de ter completado cinquenta anos de literatura, e sinto que todas as coisas pelas quais trabalhei e lutei estão em decadência. O que antes eu via como o inimigo e, com grande otimismo, como o inimigo que haveria de ser derrotado, acabou na verdade por nos vencer. [...]

A questão diante de nós dois é: onde está a culpa? Estava em nós? Por nunca termos feito o suficiente, por mais que achássemos que sim?

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Ou estará na abstração que chamamos de “natureza humana”? Teremos ajustado as nossas crenças a um conceito de homens e mulheres que não se adequava aos fatos rasteiros?

Às vezes me pergunto se isso não será puro elitismo de minha parte, e se a verdadeira premissa da democracia, a de que os sem-banho tenham acesso a sabonete barato, desodorante e roupas de plástico, como um dos degraus da escalada a um nível mais alto, não seria o que está acontecendo. Ou se, como temo, estaremos caindo numa sociedade do homem e da mulher medíocres onipresentes, governados por altas mediocridades. [...]

Tudo de bom, Norman Mailer.

(Adaptado de Cartas Políticas, O mundo nas cordas, revista Piauí, 27, p.32) 44. O excerto demonstra que o autor (A) considera-se culpado das mazelas sociais, seja por não ter agido nos momentos graves, seja por operar com crenças contraditórias e demasiadamente abstratas. (B) compartilha com o interlocutor a sensação de estar declinando culturalmente, apesar dos diversos anos dedicados à atividade intelectual nobre. (C) acredita ter contribuído, em outras épocas, para o real aprimoramento de homens e mulheres, posteriormente submetidos à universal mediocridade. (D) hesita em relação à possibilidade de preceitos democráticos estarem sendo postos em prática na época em que escreve a carta. (E) concorda com a premissa de que os desfavorecidos devam receber o necessário para a manutenção da dignidade: sabonete barato, desodorante e roupas de plástico. GABARITO: D. Todo o último parágrafo é cerceado por uma hesitação do autor, pois ele não tem certeza, está inseguro quanto à sua opinião a respeito da maneira como a democracia vem sendo exercida. Há dois momentos que espelham bem essa hesitação: “[1º momento]: Às vezes me pergunto se isso não será puro elitismo de minha parte, e se a verdadeira premissa da democracia, a de que os sem-banho tenham acesso a sabonete barato, desodorante e roupas de plástico, como um dos degraus da escalada a um nível mais alto, não seria o que está acontecendo. [2º momento]: Ou se, como temo, estaremos caindo numa sociedade do homem e da mulher medíocres onipresentes, governados por altas mediocridades.”

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Perceba que há duas orações condicionais. Ambas (sublinhadas) indicam hipótese, hesitação, dúvida quanto à manifestação da democracia. Portanto, devido à maneira como a democracia é exercida, podemos dizer que o autor não está mais certo se 1) o que ele esperava da democracia já não seria uma expectativa utópica ou 2) se a maneira como ela é exercida não seria o esperado. Texto II

Humes observou certa vez que a civilização humana como um todo subsiste porque “uma geração não abandona de vez o palco e outra triunfa, como acontece com as larvas e as borboletas”. Em algumas guinadas da história, porém, em alguns picos críticos, pode caber a uma geração um destino parecido com o das larvas e borboletas. Pois o declínio do velho e o nascimento do novo não são necessariamente ininterruptos; entre as gerações, entre os que, por uma razão ou outra, ainda pertencem ao velho e os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já cresceram com ela [...] está rompida a continuidade e surge um “espaço vazio”, espécie de terra de ninguém histórica, que só pode ser descrita em termos de “não mais e ainda não”. Na Europa, essa absoluta quebra de continuidade ocorreu durante e após a Primeira Guerra Mundial. É essa ruptura que dá um fundo de verdade a todo o falatório dos intelectuais, geralmente na boca dos “reacionários”, sobre o declínio necessário da civilização ocidental ou a famosa geração perdida, tornando-se, portanto, muito mais atraente do que a banalidade do pensamento “liberal”, que nos apresenta a alternativa de avançar ou recuar, a qual parece tão desprovida de sentido justamente porque ainda pressupõe uma linha de continuidade sem interrupções. (ARENDT, Hannah. “Não mais e ainda não”. In Compreender: formação, exílio e totalitarismo. Ensaios (1930-1954). São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008, p. 187) 45. Na organização do texto, a autora (A) toma como tema certo pensamento de Humes, que detalha para convencer o leitor sobre esta compreensão que ela tem do que seja a civilização: “A natureza não dá saltos”. (B) vale-se de Humes como argumento de autoridade, considerando irretorquível o pensamento citado. (C) tira proveito da constatação de Humes, de caráter universal, para ratificá-la no plano mais particular que ela aborda no seu discurso. (D) cita Humes porque a comparação que ele faz entre os homens e os animais se aplica, ipsis litteris, à concepção que ela tem acerca do que ocorre com gerações em momentos críticos. (E) refere comentário do filósofo Humes e o desconstrói, pois o desfaz para reconstruí-lo em outras bases. GABARITO: E.

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Veja como é importante perceber a relação entre os conectivos com as ideias de partes que compõem o texto. Os dois primeiros períodos do texto nos dão o gabarito, pois o primeiro ‘refere comentário do filósofo Humes’, e o segundo o desconstrói, diluindo-o a fim de servir de base para a argumentação da autora. Veja: “Humes observou certa vez que a civilização humana como um todo subsiste porque “uma geração não abandona de vez o palco e outra triunfa, como acontece com as larvas e as borboletas”. Em algumas guinadas da história, porém, em alguns picos críticos, pode caber a uma geração um destino parecido com o das larvas e borboletas.” A argumentação dela tem outras bases que vão além do pensamento do filósofo, pois ela diz que podem coexistir duas gerações (as das larvas e das borboletas ao mesmo tempo). Isso fica claro no seguinte trecho: “Pois o declínio do velho e o nascimento do novo não são necessariamente ininterruptos; entre as gerações, entre os que, por uma razão ou outra, ainda pertencem ao velho e os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já cresceram com ela [...] está rompida a continuidade e surge um “espaço vazio”,...” Texto III Caracterização de Walter Benjamin

O nome do filósofo, que acabou com sua própria vida durante a fuga ante os esbirros de Hitler, foi ganhando uma aura nos mais de vinte anos que desde então transcorreram, e isso apesar do caráter esotérico dos seus primeiros trabalhos e fragmentário dos últimos. A fascinação de sua pessoa e oeuvre só deixou a alternativa da magnética atração ou da rejeição horrorizada. Sob o olhar de suas palavras – onde quer que ele caísse −, tudo se metamorfoseava, como se tivesse se tornado radioativo. A capacidade de incessantemente projetar novos aspectos − não tanto mediante à ruptura crítica de convenções quanto pela maneira, dada pela organização intrínseca, de se comportar em relação ao objeto, como se as convenções não tivessem poder sobre ele − dificilmente conseguirá também ser captada pelo conceito de originalidade. Nenhuma das intuições desse pensador inesgotável apresentava-se como mera intuição. O sujeito, a quem pessoalmente cabiam todas as experiências fundantes que a filosofia oficial contemporânea apenas discute de modo formal, parecia ao mesmo tempo não ter nenhuma participação nelas, mesmo porque a sua maneira, sobretudo a arte da formulação instantânea − definitiva −, também se despojou do que, no sentido tradicional − é espontâneo e esfuziante. Ele não dava a impressão de ser alguém que criava a verdade ou a adquiria ao pensar, mas de que a citava pelo pensamento como um refinado instrumento de conhecimento, no qual imprimia a sua marca.

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(ADORNO, Theodor. Caracterização de Walter Benjamin. Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 2001, p. 223-224) Obs.: oeuvre: obra. 46. É correto afirmar que o autor do excerto (A) julga o refinado pensamento do filósofo não como original ou espontâneo, mas como verdadeiro. (B) oferece precisa caracterização do filósofo e de sua obra, valendo-se de conceitos que lhes são aplicáveis com justeza. (C) expõe os artifícios formais de que se valeu o filósofo para, apropriando-se dos achados da tradição, requisitar autenticidade para seu trabalho. (D) aponta inconsistência nas formulações do filósofo, que, pouco amadurecidas mas perenes, se despegaram do necessário aporte empírico da filosofia. (E) atribui força transformadora ao modo como o filósofo concebia e expressava seus pensamentos. GABARITO: E. A ideia de força transformadora das palavras e pensamento de Walter Benjamin é explicitamente encontrada no texto. O autor (Adorno) deixa escapar diversas expressões elogiosas à pessoa-tema do texto: “Sob o olhar de suas palavras – onde quer que ele caísse −, tudo se metamorfoseava, como se tivesse se tornado radioativo.”, e “Nenhuma das intuições desse pensador inesgotável apresentava-se como mera intuição”, e “a citava pelo pensamento como um refinado instrumento de conhecimento, no qual imprimia a sua marca.” Por isso o autor, em flagrante admiração, diz: “A fascinação de sua pessoa e oeuvre só deixou a alternativa da magnética atração ou da rejeição horrorizada.” 47. O excerto autoriza a seguinte afirmação: (A) as constantes inovações do filósofo acompanharam-se de desveladas críticas às convenções vigentes. (B) o filósofo e sua obra adquiriram, com o tempo, unânime aprovação, atribuível à comoção gerada por seu suicídio. (C) a natureza dos trabalhos iniciais e finais do filósofo não obscurece sua personalidade e sua obra, impactantes sob qualquer julgamento. (D) a infinidade de novos aspectos inseridos nas análises do filósofo tornou-as tão herméticas que não podem ser captadas por espíritos menos originais. (E) as inéditas ideias do filósofo devem ser creditadas aos seus métodos, fundamentados em experiências da filosofia oficial. GABARITO: C.

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Em consonância com a afirmação da letra C, encontramos a resposta no primeiro período do texto. Veja: “O nome do filósofo... foi ganhando uma aura nos mais de vinte anos que desde então transcorreram,... apesar do caráter esotérico dos seus primeiros trabalhos e fragmentário dos últimos... A fascinação de sua pessoa e oeuvre só deixou a alternativa da magnética atração ou da rejeição horrorizada.” Em outras palavras, segundo o autor do texto, mesmo que os trabalhos iniciais e finais de Benjamin não tenham tido grande projeção, seu nome e obra são impactantes, mesmo depois de sua morte. FCC – TRE/SP – ANALISTA JUDICIÁRIO – 2012 Bom para o sorveteiro

Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas a notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na minha cara o drama da baleia encalhada na praia de Saquarema. Afinal, depois de quase três dias se debatendo na areia da praia e na tela da televisão, o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar. Até a União Soviética acabou, como foi dito por locutores especializados em necrológio eufórico. Mas o drama da baleia não acabava. Centenas de curiosos foram lá apreciar aquela montanha de força a se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência. Um belo espetáculo.

À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao raiar do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias mãos, todos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Comum, vírgula. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por ele a baleia ficava encalhada por mais duas ou três semanas. Uma santa senhora teve a feliz ideia de levar pastéis e empadinhas para vender com ágio. Um malvado sugeriu que se desse por perdida a batalha e se começasse logo a repartir os bifes.

Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em quinze minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam da alegria voraz com que foram disputadas as toneladas da vítima. Essa de agora teve mais sorte. Foi salva graças à religião ecológica que anda na moda e que por um momento estabeleceu uma trégua entre todos nós, animais de sangue quente ou de sangue frio.

Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo uma estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar provas da eficácia da empresa privada. De qualquer forma, eu já podia recolher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. O maior animal do mundo, assim frágil, à mercê de curiosos. À noite, sonhei com o Brasil encalhado na areia diabólica da inflação. A bordo, uma tripulação de camelôs anunciava umas bugigangas. Tudo fala. Tudo é símbolo. (Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo)

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48. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso de Saquarema, tal como se observa na relação entre estas duas expressões: (A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo na areia. (B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram disputadas as toneladas da vítima. (C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar pastéis e empadinhas para vender com ágio. (D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. (E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e Logo uma estatal, ó céus. GABARITO: C. Há, entre as duas expressões, abordagens/assuntos totalmente avessos. Na primeira se fala da baleia, na segunda se fala de comércio. Em todas as demais duplas, a abordagem trata do mesmo assunto. 49. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto: I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua, entre outros termos de aproximação, o encalhe dos gigantes. II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia encalhada revelam que, acima das diferentes providências, atinham-se todos a um mesmo propósito. III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de que o autor aproveitou o episódio da baleia encalhada para também figurar o encalhe de um país imobilizado pela alta inflação. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e III, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I e II, apenas. (E) III, apenas. GABARITO: B. A afirmação em I procede, pois tanto a baleia como a União Soviética, guardadas as devidas proporções, eram seres gigantes, encalharam (tanto literalmente (a baleia ficou retida) quanto metaforicamente (a União Soviética não progrediu como Estado). A afirmação em III também procede, pois a União Soviética, assim como o Brasil (no último parágrafo), é vista como um símbolo do não progresso, tal qual a baleia que ficou presa, imóvel, “sem progresso”. FCC – TCE/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA – 2012

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Valores ocidentais

Quando o discurso político alcança seu nível mais raso, os "valores ocidentais" aparecem. Normalmente, eles são utilizados para expor "aquilo pelo qual lutamos", aquilo que pretensamente faria a diferença e a superioridade moral de nossa forma de vida − esta que encontraria sua melhor realização no interior das sociedades democráticas liberais.

Nesse sentido, mesmo quando criticamos nossas sociedades ocidentais, não seríamos capazes de sair do horizonte normativo que define o conjunto de seus valores.

Pois se, por exemplo, criticamos a falta de liberdade e a injustiça social, seria sempre em nome de valores que ainda não se realizaram, mas a respeito dos quais nós, ocidentais, saberíamos, de antemão, seu sentido.

Para aqueles que impostam a voz na hora de falar em nome dos valores ocidentais, não há conflitos a respeito do que liberdade, justiça e autonomia significam.

Não passa pela cabeça deles que talvez estejamos diante de palavras que não têm conteúdo normativo específico, mas são algo como significantes vazios, disputados por interpretações divergentes próprias a uma sociedade marcada por antagonismos fundamentais.

Por isso, se há algo que determina o que há de mais importante na tradição ocidental é exatamente a ideia de que não temos clareza a respeito do que nossos valores significam. Pois o que nos leva a criticar aspectos fundamentais de nossa sociedade não é um déficit a propósito da realização de valores, mas um sentimento que Freud bem definiu como mal-estar, ou seja, um sofrimento indefinido que nos lembra a fragilidade de toda normatividade social extremamente prescritiva.

Isso talvez nos explique por que os gregos, estes que teriam inventado a democracia ocidental com seus valores, na verdade, legaram-nos apenas um valor fundamental: a suspeita de si.

Uma suspeita que se manifesta por meio da exigência de saber acolher o que nos é estranho, o que não porta mais nossa imagem, o que não tem mais a figura de nossa humanidade.

Quem leu as tragédias de Sófocles sabe como sua questão fundamental é o que ocorre quando a polis não sabe mais acolher o que ainda não tem lugar no interior de nossas formas de vida.

Por outro lado, quando Ulisses, o herói de Homero, perdia-se em sua errância sem fim, suas palavras para os habitantes de outras terras eram sempre a exigência de abrigar o estrangeiro.

Por isso, o melhor que temos a fazer diante dos que sempre pregam os valores ocidentais é lembrá-los das palavras de Nietzche: "Muitas vezes, é necessário saber se perder para poder encontrar-se". (Vladimir Safatle. Folha de S.Paulo, opinião, terça-feira, 13 de dez. de 2011. p. 2) 50. O autor

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(A) considera que a expressão "valores ocidentais", nas sociedades democráticas liberais, padece da indefinição inerente a uma forma de vida essencialmente caracterizada por forte oposição de ideias. (B) junta-se aos que criticam a sociedade ocidental especialmente quanto à falta de liberdade e à injustiça social, atribuindo essas imperfeições ao próprio universo grego, falho de conceitos que garantissem a equidade de direitos. (C) expõe que discursos políticos de pouca profundidade − os que normalmente exibem de maneira ostentatória os ideais de quem os profere, em voz impostada − tratam falaciosamente de conflitos. (D) assinala que os valores ocidentais, fundadores das autênticas sociedades democráticas, são desrespeitados por políticos que desconhecem artistas e pensadores indispensáveis dessa mesma tradição. (E) denuncia a incapacidade que a sociedade contemporânea revela de se fixar num horizonte normativo, pelo fato de estar baseada em equívocos conceituais que, desde os gregos, provocam mal-estar social. GABARITO: A. Os cinco primeiros parágrafos do texto desenvolvem a ideia de que, apesar de vivermos em uma “suposta” liberdade democrática, há inúmeros momentos em que nos sentimos “reféns” de valores prescritivos que cerceiam nossa liberdade. Isso gera uma confusão mental quanto aos nossos valores. O texto fala de uma relação de amor e ódio que nós, ocidentais, temos com nossa cultura. Ao mesmo tempo em que a criticamos, não a descartamos, pois somos dependentes dela. Tal ideia é resumida e corroborada no sexto parágrafo, a saber: “Por isso, se há algo que determina o que há de mais importante na tradição ocidental é exatamente a ideia de que não temos clareza a respeito do que nossos valores significam” 51. Entende-se corretamente do texto: (A) As teorias de Freud explicam que a insatisfação com o mundo em que vive é própria do ser humano, em nada dependendo do modo como se organizam as sociedades. (B) O homem ocidental não encontra outro ponto de referência para avaliar sua forma de vida que não seja o delineado pelos valores, ainda que considerados no plano da idealidade, das democracias liberais. (C) Suspeitar de si, ou seja, fazer mau juízo de si no que se refere à natureza dos instintos humanos, é a única herança que o povo heleno ofertou à modernidade. (D) Os políticos manifestam alienação ao não compreenderem que o homem moderno não almeja a superioridade moral, exatamente por ser consciente de que não há forma de vida realmente democrática. (E) A sociedade contemporânea desconhece o que sejam valores, em virtude de vivenciar com exclusividade a falta, isto é, a ausência do que lhe é necessário e desejável para a realização de um modo de vida que seria superior.

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GABARITO: B. A afirmação da letra B encontra respaldo neste momento do texto (1º e 2º parágrafos): “... aquilo que pretensamente faria a diferença e a superioridade moral de nossa forma de vida − esta que encontraria sua melhor realização no interior das sociedades democráticas liberais ... mesmo quando criticamos nossas sociedades ocidentais, não seríamos capazes de sair do horizonte normativo que define o conjunto de seus valores”. Isso significa que ‘o homem ocidental não encontra outro ponto de referência para avaliar sua forma de vida que não seja o delineado pelos valores, ainda que considerados no plano da idealidade, das democracias liberais’. FCC – ISS/SP - AUDITOR-FISCAL TRIBUTÁRIO MUNICIPAL I (GESTÃO TRIBUTÁRIA) – 2012

"Ocorreu em nossos países uma nova forma de colonialismo, com a imposição de uma cultura alheia à própria da região. Cumpre avaliar criticamente os elementos culturais alheios que se pretendam impor do exterior. O desenvolvimento corresponde a uma matriz endógena, gerada em nossas próprias sociedades, e que portanto não é possível importar. Precisamos levar sempre em conta os traços culturais que nos caracterizam, que hão de alimentar a busca de soluções endógenas, que nem sempre têm por que coincidir com as do mundo altamente industrializado." 1

O que há de extraordinário nessa citação? Nada, exceto a data. Ela não foi redigida no princípio do século XIX e sim no dia 29 de maio de 1993, exatamente um mês antes da redação deste artigo. Trata-se de um documento aprovado por vários intelectuais ibero-americanos, na Guatemala, como parte da preparação da III Conferência de Cúpula da região, a realizar-se em Salvador, na Bahia.

Conhecemos bem essa linguagem no Brasil. É o discurso do nacionalismo cultural, que começou a ser balbuciado com os primeiros escritores nativistas, e desde a independência não cessou, passando por vários avatares, com tons e modulações diversas. Ao que parece, nada envelheceu nessas palavras. Quase todos os brasileiros se orgulhariam de repeti-las, como se elas fossem novas e matinais, como se fôssemos contemporâneos do grito do Ipiranga. Nesses 171 anos, o Brasil passou do Primeiro para o Segundo Reinado, da Monarquia para a República Velha, desta para o Estado Novo, deste para a democracia, desta para a ditadura militar, e desta para uma nova fase de democratização. Passamos do regime servil para o trabalho livre − ou quase. De país essencialmente agrário transitamos para a condição de país industrial, e sob alguns aspectos nos aproximamos da pós-modernidade. Só uma coisa não mudou: o nacionalismo cultural. Continuamos repetindo, ritualmente, que a cultura brasileira (ou latino-americana) deve desfazer-se dos

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modelos importados e voltar-se para sua própria tradição cultural. 1Relato general de la "Cumbre Del pensamiento", Antígua-Guatemala, pp. 88 e ss. (Adaptado de Sergio Paulo Rouanet. "Elogio do incesto". In: Mal-estar na modernidade: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 346-347) 52. Compreende-se corretamente que Sergio Paulo Rouanet (A) faz uma citação e a desqualifica, pelo fato de expressar ideias consideradas ultrapassadas, embora reconheça seu mérito de datar o início de uma específica visão de colonialismo. (B) se respalda em renomados intelectuais ibero-americanos para defender o posicionamento adotado no documento preparatório à III Conferência de Cúpula. (C) inicia seu artigo com citação que apresenta fatos e descrição de processos, citação em que não se reconhece qualquer marca de atitude prescritiva sobre esses ou aqueles. (D) desenvolve raciocínio que legitima a seguinte compreensão: o título do artigo caracteriza o que está denominado no texto como discurso do nacionalismo cultural. (E) retifica equívoco sobre época de registro oficial de importante documento, pois considera que balizar corretamente é atitude essencial a intelectuais analistas da cultura. GABARITO: D. O título do artigo é “Elogio do Incesto”. Incesto é a relação sexual entre pais e filhos, irmãos entre si (em ambos os casos, mesmo entre adotivos), que é proibida pelos costumes, pela Igreja e leis sociais; de uma maneira mais abrangente é aquilo que não tem pureza, que é torpe, impuro. De acordo com a leitura do texto, percebemos que o discurso do nacionalismo cultural apregoa justamente o descarte da influência estrangeira, de modo que se deve observar e desenvolver sua própria cultura, pura e imaculada. 53. Afirma-se com correção: (A) O que há de extraordinário nessa citação? é uma pergunta retórica, pois o autor, ao formulá-la, não tem como objetivo receber uma resposta, mas apenas valer-se do questionamento como recurso argumentativo. (B) A referência à data em que foi escrito o artigo permite ao autor evidenciar a atualidade de suas ideias, devido à aproximação temporal entre seu texto e o documento aprovado por vários intelectuais ibero-americanos. (C) O segmento não foi redigida no princípio do século XIX e sim no dia 29 de maio de 1993 mostra que o autor considera o Brasil um país sempre em atraso no que se refere à exposição de conceitos. (D) Ao referir-se à III Conferência de Cúpula da região, o autor sinaliza que a assembleia não contempla territórios que não sejam

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guatemaltecos. (E) A referência às diversas formas de governo no Brasil demonstra o profundo conhecimento do autor acerca da realidade brasileira, o que torna consistente seu juízo positivo a respeito do que considera "nosso ritual". GABARITO: A. A definição de pergunta retórica está perfeita na letra A. E, de fato, trata-se de uma pergunta retórica, pois, em vez de afirmar algo, o autor opta por fazer uma pergunta cuja resposta já está embutida, a saber: “O que há de extraordinário nessa citação?” = “Não há nada de extraordinário nessa citação”. A partir desta afirmação velada, ele desenvolve seu texto. As perguntas retóricas são importantes estratégias de argumentação. FCC – TRT/AM (11A R) – ANALISTA JUDICIÁRIO – 2012 Texto Fotografias

Toda fotografia é um portal aberto para outra dimensão: o passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo, transformando o que é naquilo que já não é mais, porque o que temos diante dos olhos é transmudado imediatamente em passado no momento do clique. Costumamos dizer que a fotografia congela o tempo, preservando um momento passageiro para toda a eternidade, e isso não deixa de ser verdade. Todavia, existe algo que descongela essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem e magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda imagem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela o instante aprisionado nas geleiras eternas do tempo fotográfico.

Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de papel sai numa dimensão diferente e vivencia experiências diversas, pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado: cada um só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o significado de uma imagem muda com o passar do tempo, até para o mesmo observador.

Variam, também, os níveis de percepção de uma fotografia. Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músico, por exemplo, é capaz de perceber dimensões sonoras inteiramente insuspeitas para os leigos. Da mesma forma, um fotógrafo profissional lê as imagens fotográficas de modo diferente daqueles que desconhecem a sintaxe da fotografia, a “escrita da luz”. Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. (Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010)

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54. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da percepção de uma foto é: (A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo. (B) a fotografia congela o tempo. (C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o instante aprisionado. (D) o significado de uma imagem muda com o passar do tempo. (E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. GABARITO: C. Note que todas as alternativas apresentam segmentos do texto, mas é solicitado aquele que aluda à PERCEPÇÃO de uma foto, ou seja, à apreensão pelos sentidos,pela sensação que a mesma desperta. Veja que a maioria das opções se referem ao poder de “ máquina do tempo” da fotografia, mas não remetem às sensações fora do real que a mesma sugere. 55. No contexto do último parágrafo, a referência aos vários níveis de percepção de uma fotografia remete (A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto. (B) às diferenças de qualificação do olhar dos observadores. (C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de uma foto. (D) às relações que a fotografia mantém com as outras artes. (E) aos vários tempos que cada fotografia representa em si mesma. GABARITO: B

Veja que a questão impõe ao candidato a visualização do último parágrafo, portanto,é fundamental que você o leia de novo ao fazer a questão. Nele, há comparações entre os olhares de diferentes leitores ; o texto afirma que “ variam os níveis de percepção de uma foto” de acordo com a pessoa que a lê. Leigos leem as imagens de forma diferente dos profissionais de uma determinada área. Assim, conforme está na letra B, a qualificação do olhar é diferenciada por seus observadores. Veja que, com atenção ao parágrafo citado, você mata o gabarito !!!!

56. Atente para as seguintes afirmações: I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela o tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendida numa foto já não pertence a tempo algum. II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o albergue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do observador não interfere no sentido próprio e particular de uma foto. III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro parágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma linguagem específica nela fixados.

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Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE em (A) I e II. (B) II e III. (C) I. (D) II. (E) III. GABARITO: E

Vamos começar observando os erros das assertivas. Na I, ao dizer que “ congela” o tempo,o autor nos remete ao passado,confirma o poder que a câmera fotográfica possui de “ máquina do tempo”, portanto, está errado afirmar que “ congelar o tempo” significa não pertencer a algum tempo. Se marcássemos a II,desmentiríamos a questão anterior, que prega que o olhar do leitor interfere na percepção da foto,na leitura desta. Ao citar o ditado do albergue, o autor afirma” cada um só encontra nele o que trouxe consigo”. Lembra o que estudamos sobre interpretar um texto? O conhecimento que o leitor traz é fundamental para essa ação! E a assertiva III, a única correta, ratifica essa ideia, uma vez que o fotógrafo profissional traz consigo informações que um leigo não possui, verá muito além deste. Compreendeu? Beleza!

57. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Todavia, existe algo que descongela essa imagem pode ser substituído, sem prejuízo para a correção e a coerência do texto, por: (A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem. (B) Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada. (C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo. (D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar. (E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará. GABARITO: D

Para garantir a coesão do texto, a conjunção adversativa todavia foi empregada. Ela estabelece uma relação semântica de oposição ao que foi afirmado anteriormente. Essa mesma relação é garantida pela também adversativa não obstante,encontrada na alternativa D. Essa foi moleza, somente avaliamos os conectivos !!!!!!

58. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto: (A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, a fotografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza igualmente temporal. (B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se imagine os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente congelada... (C) Conquanto seja o registro de um determinado espaço, uma foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter temporal.

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(D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiências físicas de uma fotografia podem se inocular em planos temporais. (E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficientemente para abrir mão de implicâncias semânticas no plano temporal. GABARITO: C Vamos começar lembrando o meu método de boa leitura, que revelei a você no nosso material:” Não deixe de sublinhar o tópico frasal (a frase mais importante) de cada parágrafo.”. Aposto que você destacou o poder da câmara fotográfica como “ máquina do tempo”, aliás, se não destacou, já “ ouviu” várias vezes neste gabarito comentado. Comecemos, então,por essa ideia,já que a fotografia é capaz de nos remeter a uma viagem no tempo, de nos levar ao passado apesar de seu espaço limitado. A concessiva Conquanto é empregada para garantir a coesão dessa afirmativa e , ainda, estabelecer a clareza dessas ideias.

Texto II Discriminar ou discriminar?

Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sentido de um

vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicionário Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre outras, estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, discernir; b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indivíduo ou grupo de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, cor da pele, classe social, convicções etc.

Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferenças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o sentido positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discriminar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância.

Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de discernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: trata-se de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de discriminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa universidade ou numa empresa: é uma discriminação, cujo sentido positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do dicionário e se mostram vivas na mesma sociedade. (Aníbal Lucchesi, inédito)

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59. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a incendiar debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o verbete discriminar (A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando por isso inúmeras controvérsias entre os usuários. (B) apresenta um sentido secundário, variante de seu sentido principal, que não é reconhecido por todos. (C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que se costuma atribuir a esse vocábulo. (D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se trata de determinar a origem de um vocábulo. (E) desdobra-se em acepções contraditórias que correspondem a convicções incompatíveis. GABARITO: E

Os dicionários incendeiam o debate, uma vez que o vocábulo discriminar desdobra-se em acepções contraditórias,ou seja, em duas possibilidades de leitura, uma, como diz no texto,positiva “o termo transpira o sentido positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é diferente” e outra negativa “Já na segunda acepção, discriminar é deixar agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discriminar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância.”. As duas correspondem a convicções incompatíveis, dependente da convicção de quem a avalia. Percebeu que a resposta inteira foi retirada do texto? É nele que buscamos, não fazemos mágica para compreendê-lo.Ufa! 60. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra: (A) Os homens são desiguais porque foram tratados com o mesmo critério de igualdade. (B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um mesmo critério para casos muito diferentes. (C) Quando todos os desiguais são tratados desigualmente, a desigualdade definitiva torna-se aceitável. (D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre tratar os iguais como se fossem desiguais. (E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os injustiçados são sempre os mesmos. GABARITO: B O enunciado afirma que a desigualdade é perpetuada se tratamos igualmente os desiguais. Como assim? Por exemplo, se tratamos com o mesmo critério casos completamente diferentes, seremos desiguais com alguns indivíduos.Na letra B, afirma-se que a igualdade pode ser alcançada. Qual é a condição para isso? Abolir a fixação de um critério somente para casos diferentes, ou seja, deixar de tratar igualmente os

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desiguais, conforme afirma o enunciado. Mais uma vez, somente tirado do texto, ou melhor,do próprio enunciado desta vez !!!!! Que beleza. 61. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em: (A) iluminar teses controvertidas (1o parágrafo) - amainar posições dubitativas. (B) um preciso discernimento (2o parágrafo) - uma arraigada dissuasão. (C) disseminar o juízo preconcebido (2o parágrafo) – dissuadir o julgamento predestinado. (D) a forma mais censurável (3o parágrafo) - o modo mais repreensível. (E) As acepções são inconciliáveis (3o parágrafo) – as versões são inatacáveis. GABARITO: D Essa merece que comecemos pelas alternativas que não estão coerentes! Na letra A, “iluminar as teses controvertidas” significa clarear esses assuntos controversos e polêmicos, e não abrandá-los, diminuí-los, como sugere o verbo amainar. Na letra B, os verbos discernir e dissuadir são empregados como sinônimos,mas isso não é possível. Discernir é perceber ou distinguir com clareza. Já Dissuadir é fazer alguém desistir de algo. Na letra C, “ Disseminar o juízo preconcebido” é propagar,espalhar os preconceitos. Mas, como vimos na letra B, Dissuadir tais preconceitos é fazer com que o outro não os tenha mais, bem diferente de espalhá-los. Na letra E, as concepções inconciliáveis são os sentidos incompatíveis. Isso não é a mesma coisa que “ versões inatacáveis”, ou seja, ideias incontestáveis, irrepreensíveis. O gabarito, portanto,é a letra D, já que censurar uma forma é contestá-la,repreendê-la. 62. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a redação da seguinte frase: (A) O autor do texto chama a atenção para o fato de que o desejo de promover a igualdade corre o risco de obter um efeito contrário. (B) Embora haja quem aposte no critério único de julgamento, para se promover a igualdade, visto que desconsideram o risco do contrário. (C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo critério para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme uma situação de injustiça. (D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções aplicando-se medidas que, à primeira vista, parecem em si mesmas distorcidas. (E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão graves que tornam necessários os desequilíbrios compensatórios de uma ação corretiva. GABARITO: B A afirmativa da letra B é iniciada por uma conjunção concessiva “Embora haja quem aposte no critério único de julgamento”. No entanto, essa oposição não é estabelecida; a ideia é cortada por uma finalidade ” para

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se promover a igualdade” e por uma causa desse único julgamento” visto que desconsideram o risco do contrário.” Onde está a ideia oposta a se apostar no critério de julgamento único para os desiguais? Percebemos que o excesso de conectivos garantiu a coesão,mas não estabeleceu a coerência; conforme estudamos, nem sempre um texto coeso é coerente. FCC- TRT/PE (6a R) - ANALISTA JUDICIÁRIO – 2012 Economia religiosa

Concordo plenamente com Dom Tarcísio Scaramussa, da CNBB, quando ele afirma que não faz sentido nem obrigar uma pessoa a rezar nem proibi-la de fazê-lo. A declaração do prelado vem como crítica à professora de uma escola pública de Minas Gerais que hostilizou um aluno ateu que se recusara a rezar o pai-nosso em sua aula.

É uma boa ocasião para discutir o ensino religioso na rede pública, do qual a CNBB é entusiasta. Como ateu, não abraço nenhuma religião, mas, como liberal, não pretendo que todos pensem do mesmo modo. Admitamos, para efeitos de argumentação, que seja do interesse do Estado que os jovens sejam desde cedo expostos ao ensino religioso. Deve-se então perguntar se essa é uma tarefa que cabe à escola pública ou se as próprias organizações são capazes de supri-la, com seus programas de catequese, escolas dominicais etc.

A minha impressão é a de que não faltam oportunidades para conhecer as mais diversas mensagens religiosas, onipresentes em rádios, TVs e também nas ruas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem mais templos (algo em torno de 4.000) do que escolas públicas (cerca de 1.700). Creio que aqui vale a regra econômica, segundo a qual o Estado deve ficar fora das atividades de que o setor privado já dá conta.

Outro ponto importante é o dos custos. Não me parece que faça muito sentido gastar recursos com professores de religião, quando faltam os de matemática, português etc. Ao contrário do que se dá com a religião, é difícil aprender física na esquina.

Até 1997, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação acertadamente estabelecia que o ensino religioso nas escolas oficiais não poderia representar ônus para os cofres públicos. A bancada religiosa emendou a lei para empurrar essa conta para o Estado. Não deixa de ser um caso de esmola com o chapéu alheio. (Hélio Schwartsman. Folha de S. Paulo, 06/04/2012) 63. No que diz respeito ao ensino religioso na escola pública, o autor mantém-se (A) esquivo, pois arrola tanto argumentos que defendem a obrigatoriedade como o caráter facultativo da implementação desse ensino. (B) intransigente, uma vez que enumera uma série de razões morais para que se proíba o Estado de legislar sobre quaisquer matérias religiosas.

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(C) pragmático, já que na base de sua argumentação contra o ensino religioso na escola pública estão razões de ordem jurídica e econômica. (D) intolerante, dado que deixa de reconhecer, como ateu declarado, o direito que têm as pessoas de decidir sobre essa matéria. (E) prudente, pois evita pronunciar-se a favor da obrigatoriedade desse ensino, lembrando que ele já vem sendo ministrado por muitas entidades. GABARITO: C No tocante ao ensino de religião pelas escolas públicas, o autor se mantém pragmático (como é dito na letra C), visto que valoriza os aspectos práticos e objetivos ao empregar argumentos de ordem jurídica e econômica, e não de ordem pessoal,subjetiva. 64. Atente para estas afirmações: I. Ao se declarar um cidadão ao mesmo tempo ateu e liberal, o autor enaltece essa sua dupla condição pessoal valendo-se do exemplo da própria CNBB. II. A falta de oportunidade para se acessarem mensagens religiosas poderia ser suprida, segundo o autor, pela criação de redes de comunicação voltadas para esse fim. III. Nos dois últimos parágrafos, o autor mostra não reconhecer nem legitimidade nem prioridade para a implementação do ensino religioso na escola pública. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e II, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I e III, apenas. (E) III, apenas. GABARITO: E Vamos começar entendendo por que estão erradas as afirmações I e II. Na I, diz-se que o autor, ao se declarar um cidadão ao mesmo tempo ateu e liberal, enaltece-se. Isso não corresponde à verdade, essas considerações são um posicionamento do autor perante o assunto em debate e não uma promoção de suas qualidades pessoais. A questão ainda afirma que o autor se vale, para isso, de exemplo da própria CNBB. Esta é citada por ser entusiasta do ensino religioso na rede pública, diferente do que pensa o autor. Na assertiva II, fala-se de falta de oportunidade para se acessarem mensagens religiosas. No entanto, desde o terceiro parágrafo, o autor externa que, para ele, há muita oportunidade para esse acesso: “A minha impressão é a de que não faltam oportunidades para conhecer as mais diversas mensagens religiosas, onipresentes em rádios, TVs e também nas ruas.” A única afirmação correta é a III ( letra E), uma vez que expõe que o autor se

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mostra contrário ao ensino de religião nas escolas públicas. Nos últimos parágrafos, ele argumenta essa visão com algumas causas para isso, tais como: “Creio que aqui vale a regra econômica, segundo a qual o Estado deve ficar fora das atividades de que o setor privado já dá conta”, “Outro ponto importante é o dos custos.” 65. Pode-se inferir, com base numa afirmação do texto, que (A) o ensino religioso demanda profissionais altamente qualificados, que o Estado não teria como contratar. (B) a bancada religiosa, tal como qualificada no último parágrafo, partilha do mesmo radicalismo de Dom Tarcísio Scaramussa. (C) as instituições públicas de ensino devem complementar o que já fazem os templos, a exemplo do que ocorre na cidade de São Paulo. (D) o aprendizado de uma religião não requer instrução tão especializada como a que exigem as ciências exatas. (E) os membros da bancada religiosa, sobretudo os liberais, buscam favorecer o setor privado na implementação do ensino religioso. GABARITO: D. A questão fala de INFERIR. Você se lembra desse termo? O que querem de você? Desejam que você deduza por meio de raciocínio, chegue a uma conclusão depois deter ligo algo no texto. Bom, veja o que o autor diz em: “Não me parece que faça muito sentido gastar recursos com professores de religião,quando faltam os de matemática, português etc. Ao contrário do que se dá com a religião, é difícil aprender física na esquina.”. Com essa afirmação,deduzimos que as matérias tradicionais, ensinadas na escola, assumem , para o escritor,maior importância que a religião, pois esta “não requer instrução tão especializada como a que exigem as ciências exatas.”, conforme dito na letra D. FCC – TRT/PR – ANALISTA – 2012 TEXTO I

A discussão sobre “centro” e “periferia” no pensamento brasileiro vincula-se a elaborações que se dão num âmbito mais amplo, latino-americano. O primeiro locus importante onde se procura interpretar a relação entre esses dois polos é a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), criada pouco depois da Segunda Guerra Mundial, em 1947.

É possível encontrar antecedentes a esse tipo de análise na teoria do imperialismo. No entanto, a elaboração anterior à CEPAL preocupava-se principalmente com os países capitalistas avançados, interessando-se pelos países “atrasados” na medida em que desenvolvimentos ocorridos neles repercutissem para além deles.

Também certos latino-americanos, como o brasileiro Caio Prado Jr.,

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o trindadense Eric Williams e o argentino Sérgio Bagu, haviam chamado a atenção para a vinculação, desde a colônia, da sua região com o capitalismo mundial. Não chegaram, contudo, a desenvolver tal percepção de maneira mais sistemática.

Já no segundo pós-guerra, ganha impulso uma linha de reflexão que sublinha a diferença entre centro e periferia, ao mesmo tempo que enfatiza a ligação entre os dois polos. Na verdade, a maior parte das teorias sociais, econômicas e políticas, apesar de terem sido elaboradas de forma ligada às condições particulares dos países desenvolvidos do Atlântico Norte, as tomava como tendo validade universal. Assim, o marxismo, a teoria da modernização e a economia neoclássica tendiam a considerar que os mesmos caminhos seguidos pelas sociedades em que foram formulados teriam que ser trilhados pelo resto do mundo, “atrasado”.

(RICUPERO, Bernardo. “O lugar do centro e da periferia”. In: Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança.

André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 94)

66. No texto, o autor (A) propõe a reformulação de dois conceitos importantes no pensamento brasileiro − o “centro” e a “periferia” −, tecendo reflexão que admite recuperar as apresentadas nas últimas décadas por teorias sociais, econômicas e políticas. (B) reconhece o pioneirismo da teoria do imperialismo no que se refere à análise do diálogo entre “centro” e “periferia”, identificando nela a desejável equanimidade no valor atribuído a cada um dos polos. (C) correlaciona a temática do “centro” à da “periferia”, e, construindo relação homóloga, obriga-se a estabelecer também correlação entre o pensamento brasileiro e o latino-americano. (D) está interessado em caracterizar o pensamento brasileiro no que se refere ao exame das relações entre “centro” e “periferia”, o que não o dispensou de citar linhas interpretativas do tema que se aproximam desse pensamento e as restrições que faz a elas. (E) historia cronologicamente o caminho percorrido pelo pensamento latino-americano desde o início das discussões sobre “centro” e “periferia” até o momento em que se fixa na determinação das diferenças entre os dois conceitos. GABARITO: C. No início do texto, fica claro que o autor vai explorar a temática das discussões sobre “centro” e “periferia” no pensamento brasileiro. Entretanto, ele mesmo afirma que essas discussões se dão em um âmbito mais amplo, no contexto latino-americano. Assim, o texto passa a mostrar a relação entre os pensamentos que se correlacionam. O autor faz isso de forma explícita no terceiro parágrafo: “Também certos latino-americanos, como o brasileiro Caio Prado Jr., o trindadense Eric Williams e o argentino Sérgio Bagu, haviam chamado a atenção para a vinculação,

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desde a colônia, da sua região com o capitalismo mundial.”. A utilização desses exemplos corrobora o pensamento de que regiões da América Latina já estavam vinculadas ao capitalismo mundial desde o período colonial. TEXTO II

Há 40 anos, a mais célebre crítica de cinema dos Estados Unidos, Pauline Kael (1919-2001), publicava seu artigo mais famoso. Era um detalhado estudo sobre “Cidadão Kane” (1941), espertamente intitulado “Raising Kane” (trocadilho com a expressão “to raise Cain”, que significa algo como “gerar reações inflamadas”).

No texto – que integra a coletânea “Criando Kane e Outros Ensaios”, publicada no Brasil em 2000 −, Pauline defendia que o roteirista Herman J. Mankiewicz era a força criativa por trás do filme, mais importante até que o diretor, Orson Welles (1915-85). Ela queria fazer justiça a Mankiewicz, que caíra em esquecimento, enquanto Welles entrara para a história com a reputação de gênio maldito, frequentemente reivindicando para si as principais qualidades de “Kane” e a coautoria do roteiro – embora Pauline jurasse que Welles não escrevera nem sequer uma linha do script.

Independentemente do quanto de justiça e veracidade “Raising Kane” trazia (o artigo foi bastante contestado na época), surgem agora evidências de que a própria Pauline atuou de modo tão pouco ético como ela acusava Welles de ter agido. A crítica teria baseado o seu artigo nos estudos realizados por outra pessoa – Howard Suber, pesquisador da UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles), que colaborou com Pauline, mas que, por fim, não foi sequer mencionado no texto final.

(Bruno Ghetti. “Méritos de Pauline: o retrato de uma crítica”. Folha de S. Paulo, ilustríssima, cinema,

domingo, 11 de dez. de 2011. p. 6)

67. No excerto, o autor, crítico de cinema, (A) faz referência a dados biográficos e a específico artigo de Pauline Kael, também crítica de cinema, com o objetivo de produzir um tributo à trajetória da americana. (B) esquadrinha a composição de coletânea sobre específica criação de Orson Welles, em que se inclui célebre artigo de crítica de cinema americana. (C) faz reparo, em função de direito suposto, a atitude de Pauline Kael, considerando-a comportamento antiético e apenável. (D) resguarda-se de julgar o mérito do artigo de Pauline Kael sobre “Cidadão Kane”, não sem, entretanto, atribuir à crítica a malícia de provocar com ele afervorados movimentos de opinião. (E) dá ciência do comportamento de Pauline Kael, há décadas, quando escreveu sobre Orson Welles, e legitima tanto a defesa que ela fazia do roteirista Herman J. Mankiewicz, quanto a reputação de gênio maldito de que o diretor gozava.

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GABARITO: C. O autor inicia o texto apresentando para os leitores informações a respeito de um célebre artigo de Pauline Kael sobre o filme “cidadão Kane”. No entanto, no último parágrafo, fica evidente que o autor, na verdade, apresenta para o leitor todo o contexto histórico da crítica de cinema e de seu artigo para colocar em pauta sua conduta pouco ética para com o pesquisador Howard Suber, segundo novas evidências. FCC – TRE/PR – TÉCNICO – 2012 TEXTO I

O tempo não perdoa o que se faz sem ele, costumava dizer Ulysses Guimarães, citando Joaquim Nabuco. Desse modo ensinava a importância na política do apropriado discernimento do momento oportuno. Não é fácil a identificação desse momento, pois, entre outras coisas, requer conjugar o tempo individual de um ator político com o tempo coletivo de um sistema político e de uma sociedade. Além disso, o tempo flui e é instável no seu movimento, e não só na política. É o caso do tempo na meteorologia, cada vez menos previsível por obra das mudanças climáticas provocadas pela ação humana.

A vasta reflexão dos pensadores, dos poetas e cientistas sobre o estatuto do tempo e seu entendimento aponta para uma complexidade que carrega no seu bojo o desafio de múltiplos significados, cabendo lembrar que a função da orientação é inerente à busca do saber a respeito do tempo. Assim, uma coisa é conhecer o tempo do relógio, que molda o mensurável de uma jornada de trabalho. Outra coisa é lidar com a não mensurável duração do tempo vivido, que perdura na consciência, e não se confunde, por sua vez, com o tempo do Direito, que é o tempo normatizado dos prazos, dos recursos, da prescrição, da coisa julgada, da vigência das leis e do drama cotidiano da lentidão da Justiça.

A busca do saber sobre o tempo tem, como mencionei, uma função de orientação. Neste século XXI, é preciso parar para pensar a vertiginosa instantaneidade dos tempos e os problemas da sua sincronização, que a revolução digital vem intensificando.

A tradicional sabedoria dos provérbios portugueses diferencia o tempo do falcão e o tempo da coruja. O tempo do falcão é o da rapidez e da violência. É este o tempo que nos cerca. O tempo da coruja é o da sabedoria − a sabedoria que nos falta para lidar com a estrutura de possibilidades do tempo no mundo em que estamos inseridos.

(Celso Lafer. Trecho, com adaptações, de artigo publicado em O Estado de S. Paulo, 20 de novembro de 2011. A2, Espaço

Aberto)

68. O tempo não perdoa o que se faz sem ele ...

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A afirmativa que inicia o texto encaminha para (A) uma contradição à tese corrente de que o tempo flui e é instável no seu movimento, e não só na política. (B) crítica relativa aos problemas surgidos com o drama cotidiano da lentidão da justiça. (C) o reconhecimento de que é preciso parar para pensar a vertiginosa instantaneidade dos tempos e os problemas da sua sincronização. (D) a ideia de que os políticos não têm o apropriado discernimento do momento oportuno. (E) a constatação de que é difícil perceber a duração do tempo vivido, que perdura na consciência. GABARITO: C. Note que o pronome “ele” retoma o vocábulo “tempo”. Assim, a afirmativa revela, em outras palavras, que o que fazemos “sem tempo”, ou seja, às pressas, sem pensar, não tem retorno. Somos encaminhados, então, a concluir que devemos pensar nessa agilidade do tempo e em como sincronizar nossas atitudes, que são pessoais, com o tempo coletivo, que corre a nossa revelia. 69. Com a expressão o desafio de múltiplos significados (2º parágrafo), o autor (A) caracteriza a oposição frequente que se faz entre o tempo de cada indivíduo e aquele que diz respeito a toda a sociedade. (B) duvida de uma possível concordância entre representantes de diferentes áreas do conhecimento a respeito do tempo. (C) questiona os meios até agora utilizados para calcular o transcorrer do tempo, que é sempre mutável. (D) esclarece seu emprego ao se referir à necessária sabedoria para equacionar, no momento mais adequado, os problemas que surgem. (E) refere-se às diversas possibilidades de percepção da passagem do tempo e de seu sentido. GABARITO: E. O texto aborda a questão do tempo como um conceito relativo, isto é, cada um sente, percebe o tempo de maneira diferente. Note ainda que, no texto, a expressão “desafios de múltiplos significados” está relacionada à reflexão sobre entendimento do tempo por parte de pensadores, cientistas, poetas etc. Isso significa que essa reflexão vai recair nas várias possibilidades de interpretação e percepção do tempo. Por isso é um desafio. 70. A afirmativa, no 1º parágrafo, de que o tempo flui e é instável no seu movimento (A) vem a ser comprovada, em seguida, pelo exemplo tomado ao tempo

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na meteorologia. (B) constitui oposição à ideia de que não é fácil a identificação do momento oportuno. (C) realça a percepção das consequências advindas das mudanças climáticas provocadas pela ação humana. (D) baseia-se na vasta reflexão dos pensadores, dos poetas e cientistas sobre o estatuto do tempo. (E) exalta a sabedoria contida nos provérbios, como, por exemplo, a diferenciação entre o tempo do falcão e o tempo da coruja. GABARITO: A. Esta questão trabalha, de certa forma, estratégias de argumentação. Ao afirmar que “o tempo flui e é instável no seu movimento”, o autor faz uma asserção e busca comprová-la por meio de exemplos. Para esse caso, utiliza o tempo da meteorologia: “É o caso do tempo na meteorologia, cada vez menos previsível por obra das mudanças climáticas provocadas pela ação humana.”. A expressão “É o caso do”, iniciando o período, reforça o caráter de representar um exemplo trazido ao texto para comprovar um argumento. TEXTO II

Um conjunto recente de pesquisas na área da neurociência sugere uma reflexão acerca dos efeitos devastadores do computador sobre a tradição da escrita em papel. Por meio da observação do cérebro de crianças e adultos, verificou-se de forma bastante clara que a escrita de próprio punho provoca, na região dedicada ao processamento das informações armazenadas na memória, uma atividade significativamente mais intensa do que a da digitação, o que tem conexão direta com a elaboração e a expressão de ideias. Está provado também que o ato de escrever desencadeia ligações entre os neurônios naquela parte do cérebro que faz o reconhecimento visual das palavras, contribuindo assim para a fluidez da leitura. Com a digitação, essa área fica inativa.

Na Antiguidade, os egípcios tinham nas letras um objeto sagrado, inventado pelos deuses. Sinônimo de status, a caligrafia irretocável foi por séculos na China um pré-requisito para ingressar na prestigiada carreira pública. No Brasil, a caligrafia constava entre as habilidades avaliadas nos exames de admissão do antigo ginásio até a década de 70, e era ensinada com esmero na sala de aula.

O hábito da escrita vem caindo em desuso à medida que o computador se dissemina. Até aqui a palavra foi eternizada em papel (ou pedra, pergaminho, papiro), que se encarregou de registrar a história da humanidade. O computador traz nova dimensão à aquisição de conhecimentos e à interação entre as gerações que chegam aos bancos escolares. Para elas, escrever à mão corre o risco de se tornar apenas mais um registro do passado guardado em arquivo digital.

(Luís Guilherme Barrucho. Veja, 27 de julho de 2011. p. 94, com

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adaptações)

71. O autor (A) defende a substituição da escrita manual, em vista da ampla disseminação do computador e da facilidade decorrente da digitação de textos. (B) critica a atual tendência a abandonar a escrita manual, ainda que reconheça a maior legibilidade dos textos digitados. (C) expõe uma situação atual, com exemplos e dados de pesquisas, referente ao uso do computador e às consequências para o funcionamento do cérebro. (D) relata, com exemplos, como a escrita se tornou o instrumento fundamental, durante séculos, para o desenvolvimento humano. (E) recria, com base na história, fatos marcantes que demonstram a superioridade da escrita manual sobre a digitação feita no computador. GABARITO: C. Meu nobre, nesta questão, é fundamental percebermos o objetivo do texto para eliminarmos algumas opções. É de extrema importância que você perceba que o texto, em momento algum, apresenta uma postura argumentativa, de forma parcial, seja a favor da escrita manual ou do computador. Ele apenas expõe dados de pesquisa sobre as diferenças entre escrita manual e digitada, a qual afirma que utilizar em excesso a última tem consequências para o funcionamento do cérebro. Show! 72. O teor do 2º parágrafo constitui (A) justificativa, com base em argumentos, da perda do valor tradicional da escrita manual. (B) proposta, a partir da importância da caligrafia, de sua manutenção, apesar da concorrência do computador. (C) verificação prática da superioridade atual da digitação sobre a escrita manual. (D) demonstração, com informações históricas, da importância social atribuída à caligrafia. (E) histórico das condições determinantes da opção pela escrita manual em antigas civilizações. GABARITO: D. Essa é tranquilíssima! O segundo parágrafo é voltado exclusivamente para mostrar a importância social que uma boa caligrafia já teve. Para isso, o autor se vale de exemplos buscados na história de diversos países: Egito, China e Brasil. 73. Identifica-se no texto correlação imediata entre (A) abandono da escrita manual e disseminação do uso do computador. (B) preferência atual pelo uso do computador e pesquisas científicas. (C) as pesquisas na área da neurociência e a importância da caligrafia.

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(D) o ensino da escrita manual nas escolas e o aumento da digitação no computador. (E) opção pela escrita em papel e registros da história da humanidade. GABARITO: A. Essa também é de dar risadas de alegria! A correlação, nesse caso, nada mais é que o tema abordado: a diminuição da escrita manual e o aumento do uso do computador. Todos os demais elementos – dados da pesquisa científica, registros históricos da humanidade etc. –, são colocados para dar a dimensão necessária à mudança que está sendo ocasionada pelo abandono gradual da escrita manual. TEXTO III

No início, o uso em larga escala do petróleo teve um impacto ambiental positivo. Quando o querosene se mostrou mais eficiente e barato para a iluminação, a matança de baleias, que forneciam o óleo dos lampiões e lamparinas, caiu drasticamente. Desde então, descobriram-se mil e uma utilidades para o petróleo. Um site dos EUA chegou a listar quase dois mil produtos de uso cotidiano que não poderiam ser feitos ou teriam custos proibitivos sem o petróleo. Entre eles a aspirina, o capacete de motociclista e o paraquedas.

Portanto, a era do petróleo está ainda muito longe de ser completamente substituída por aquilo que se convencionou chamar de Era do Verde. Em vez de acabar, a cada dia se descobrem novos usos para as fibras sintéticas oriundas do petróleo, novos usos para seus múltiplos elementos químicos, que têm as moléculas quebradas pelo calor para dar origem a outro elemento, a outro produto. A maioria desses usos é nobre, já que eles aumentam o nosso conforto, o nosso bem-estar, a nossa saúde.

O grande problema da indústria petroquímica é ter como insumo básico um bem finito, o petróleo, fato que a torna insustentável no tempo. Além disso, é altamente poluente.

(Manuel Lume. CartaCapital, 27 de abril de 2011. p.52-55, com adaptações)

74. O autor (A) defende um maior controle no uso do petróleo, embora ele tenha propiciado um grande avanço tecnológico com a obtenção de produtos diversos, utilizados na rotina diária. (B) indica os diversos benefícios trazidos à saúde humana pelo petróleo, especialmente devido às pesquisas destinadas à produção de medicamentos novos e mais eficazes. (C) analisa, com base em exemplos e observações, a importância do petróleo no mundo moderno, conquanto se trate de um produto não renovável e bastante poluidor. (D) assinala a tendência atual de substituição do petróleo por produtos ecológicos, por serem estes não poluentes e, ainda, respeitarem o meio

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ambiente. (E) discute a necessidade de substituição do petróleo por fontes alternativas, voltadas para a preservação do ambiente e, ao mesmo tempo, para a saúde humana. GABARITO: C. O texto em análise também não defende parcialmente uma ideia, não a argumenta. Sua função é realizar uma análise sobre o petróleo sem, necessariamente, defender ou criticar seu uso. Isso fica evidente pelo fato de ele apresentar as facilidades e os pontos positivos para o mundo moderno, gerados pelo petróleo, ao mesmo tempo em que aponta seu caráter não renovável e muito poluidor. Podemos concluir, então, que o referido texto é puramente expositivo. 75. A maioria desses usos é nobre, já que eles aumentam o nosso conforto, o nosso bem-estar, a nossa saúde. O grande problema da indústria petroquímica é ter como insumo básico um bem finito, o petróleo, fato que a torna insustentável no tempo. A 2ª frase apresenta, com relação à 1ª, noção de (A) consequência. (B) finalidade. (C) ressalva. (D) proporcionalidade. (E) temporalidade. GABARITO: C. A primeira frase faz uma afirmação sobre o uso do petróleo, apresentando-o como positivo, na maioria dos casos. Na segunda, entretanto, até mesmo para apresentar uma visão restritiva e ingênua acerca desse insumo, o texto apresenta suas características negativas, uma observação para mostrar ao leitor que o uso do petróleo também revela pontos adversos a serem levados em consideração. ----------------------------------------------------------------------------------

Meus nobres, chegamos ao fim de apenas uma parte de nossa saga. Espero que vocês tenham gostado de acompanhar a aula superimportante e intensa de hoje. Mentalize sempre que a vaga é sua e só depende de você! Sei que é clichê, mas é uma máxima.

E, só para piorar (rs), cito duas frases motivadoras (uma bem a minha cara — preciso trabalhar divertindo-me — e a outra para pessoas sérias como você):

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“E lembrem-se: “O Poder é de vocês!”’ (Capitão Planeta) “Somos donos do nosso destino. Somos capitães da nossa alma!” (Winston Churchill). Grande abraço e até a próxima! Fernando Pestana [email protected] P.S.: Todas as próximas aulas apresentarão questões de 2013!!!