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Questões Ético- Questões Ético- Jurídicas no contexto Jurídicas no contexto da Violência da Violência Doméstica Doméstica A relação médico/doente e o segredo A relação médico/doente e o segredo médico médico Paulo Sancho Paulo Sancho Advogado Advogado 8 de Novembro de 2007 8 de Novembro de 2007

Questões Ético-Jurídicas no contexto da Violência Doméstica

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Questões Ético-Jurídicas no contexto da Violência Doméstica. A relação médico/doente e o segredo médico Paulo Sancho Advogado 8 de Novembro de 2007. Apresentação do problema. Relevância política, social e mediática; Sigilo profissional e seus limites; - PowerPoint PPT Presentation

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Questões Ético-Questões Ético-Jurídicas no contexto Jurídicas no contexto

da Violência da Violência DomésticaDoméstica

A relação médico/doente e o segredo A relação médico/doente e o segredo médicomédico

Paulo SanchoPaulo SanchoAdvogadoAdvogado

8 de Novembro de 20078 de Novembro de 2007

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Apresentação do Apresentação do problemaproblema

Relevância política, social e mediática;Relevância política, social e mediática;

Sigilo profissional e seus limites;Sigilo profissional e seus limites;

““Dúvida sistemática”: revelar ou não Dúvida sistemática”: revelar ou não às autoridades as situações de às autoridades as situações de violência doméstica?violência doméstica?

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O CrimeO Crime

Art. 152.º do CP – Violência DomésticaArt. 152.º do CP – Violência Doméstica““1 - 1 - Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus

tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações de liberdade e ofensas corporais, privações de liberdade e ofensas sexuais:sexuais:

a) ao cônjuge ou ex-cônjugea) ao cônjuge ou ex-cônjugeb)b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o

agente mantenha ou tenha mantido uma relação agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga, ainda que sem coabitação;análoga, ainda que sem coabitação;

c) A progenitor de descendente comum em 1º grau; c) A progenitor de descendente comum em 1º grau; ouou

d) A pessoa particularmente indefesa, em razão da d) A pessoa particularmente indefesa, em razão da idade, deficiência, doença, gravidez ou idade, deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite.dependência económica, que com ele coabite.

é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos (...).é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos (...).

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O CrimeO Crime

Público;Público;

Doloso;Doloso;

Intensidade ou Reiteração.Intensidade ou Reiteração.

Não é imprescindível uma Não é imprescindível uma continuidade criminosa.continuidade criminosa.

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A DenúnciaA Denúncia

Art. 242.º do CPP – Denúncia ObrigatóriaArt. 242.º do CPP – Denúncia Obrigatória

““1 - 1 - A denúncia é obrigatóriaA denúncia é obrigatória, ainda que os , ainda que os agentes do crime não sejam conhecidos:agentes do crime não sejam conhecidos:

a) (…)a) (…)

b) Para os b) Para os funcionáriosfuncionários, na acepção do , na acepção do artigo 386.º do Código Penal, quanto a artigo 386.º do Código Penal, quanto a crimes de que tomarem conhecimento no crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e por causa exercício das suas funções e por causa delas.”delas.”

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A DenúnciaA Denúncia

Art. 386.º do CP – Conceito de funcionárioArt. 386.º do CP – Conceito de funcionário

““1 - Para efeito da lei penal a expressão funcionário 1 - Para efeito da lei penal a expressão funcionário abrange:abrange:

a) O funcionário civil;a) O funcionário civil;b) O agente administrativo; eb) O agente administrativo; ec) Quem, mesmo provisória ou temporariamente, c) Quem, mesmo provisória ou temporariamente,

mediante remuneração ou a título gratuito, voluntária mediante remuneração ou a título gratuito, voluntária ou obrigatoriamente, tiver sido chamado a ou obrigatoriamente, tiver sido chamado a desempenhar ou a participar no desempenho de uma desempenhar ou a participar no desempenho de uma actividade compreendida na função pública actividade compreendida na função pública administrativa ou jurisdicional, ou, nas mesmas administrativa ou jurisdicional, ou, nas mesmas circunstâncias, desempenhar funções em organismos circunstâncias, desempenhar funções em organismos de utilidade pública ou nelas participar”.de utilidade pública ou nelas participar”.

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O Segredo ProfissionalO Segredo Profissional

É imposto pelo:É imposto pelo:

Estatuto da Ordem dos Médicos – art. Estatuto da Ordem dos Médicos – art. 13.º c);13.º c);

Estatuto da Ordem dos Enfermeiros – Estatuto da Ordem dos Enfermeiros – art. 85.º;art. 85.º;

Código Deontológico – arts. 67.º e 68.º;Código Deontológico – arts. 67.º e 68.º; Código Penal – art. 195.º.Código Penal – art. 195.º.

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O DilemaO Dilema

É o dever de segredo uma obrigação É o dever de segredo uma obrigação absoluta ou pode ceder perante a absoluta ou pode ceder perante a ameaça de outros valores?ameaça de outros valores?

Os valores protegidos com a denúncia Os valores protegidos com a denúncia da prática do crime de violência da prática do crime de violência doméstica (ou da suspeita) são doméstica (ou da suspeita) são superiores aos valores que se protegem superiores aos valores que se protegem com a imposição do segredo?com a imposição do segredo?

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As ExclusõesAs Exclusões

Art. 70.º CD – Escusa de SegredoArt. 70.º CD – Escusa de Segredo““Excluem o dever de segredo profissional:Excluem o dever de segredo profissional:

a) O a) O consentimento do doenteconsentimento do doente ou seu ou seu representante quando a revelação não representante quando a revelação não prejudique terceiras pessoas com interesse na prejudique terceiras pessoas com interesse na manutenção do segredo;manutenção do segredo;b) O que for absolutamente b) O que for absolutamente necessário à defesa necessário à defesa da dignidadeda dignidade, da honra e dos , da honra e dos legítimos legítimos interessesinteresses do Médico e do do Médico e do doente doente, não podendo , não podendo em qualquer destes casos o Médico revelar mais em qualquer destes casos o Médico revelar mais do que o necessário e sem prévia consulta ao do que o necessário e sem prévia consulta ao Presidente da Ordem”.Presidente da Ordem”.

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As ExclusõesAs Exclusões

Art. 44.º CD – Protecção de diminuídos e Art. 44.º CD – Protecção de diminuídos e incapazesincapazes

““Sempre que o Médico chamado a tratar uma Sempre que o Médico chamado a tratar uma criança, um idoso. um deficiente ou um incapaz, criança, um idoso. um deficiente ou um incapaz, verifique que estes são vitimas de sevícias, verifique que estes são vitimas de sevícias, maus tratosmaus tratos ou malévolas provações, ou malévolas provações, deve deve tomar providências adequadas para os protegertomar providências adequadas para os proteger, , nomeadamente nomeadamente alertando as autoridades alertando as autoridades policiais ou as instâncias sociais competentespoliciais ou as instâncias sociais competentes”.”.

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A nossa interpretaçãoA nossa interpretação

Só existe violação do dever de segredo quando a Só existe violação do dever de segredo quando a revelação for feita sem o consentimento do seu revelação for feita sem o consentimento do seu titular;titular;

A liberdade e autonomia da vítima A liberdade e autonomia da vítima prevalecem sobre a melhor gestão dos seus prevalecem sobre a melhor gestão dos seus interessesinteresses;;

O dever de segredo deve prevalecer sobre o dever O dever de segredo deve prevalecer sobre o dever de denúnciade denúncia, , excepto quando, ponderados os excepto quando, ponderados os interesses em jogo, se verifique que o interesses em jogo, se verifique que o interesse preponderante em causa é a vida ou interesse preponderante em causa é a vida ou a saúdea saúde..

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A nossa interpretaçãoA nossa interpretação

A justificação da quebra do segredo médico A justificação da quebra do segredo médico ocorrerá quando a revelação do segredo seja ocorrerá quando a revelação do segredo seja necessária para afastar necessária para afastar perigo iminente que perigo iminente que ameace interesses sensivelmente superioresameace interesses sensivelmente superiores, , entendendo-se como tal a entendendo-se como tal a saúde ou a vidasaúde ou a vida..

A jurisprudência tem concluído que “A jurisprudência tem concluído que “a a realização da justiça penal, só por si e sem realização da justiça penal, só por si e sem mais, não figura como interesse legítimo mais, não figura como interesse legítimo bastante para justificar a quebra de sigilobastante para justificar a quebra de sigilo”.”.

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A nossa interpretaçãoA nossa interpretação

E o artigo 44.º do CD? Aplica-se às situações de E o artigo 44.º do CD? Aplica-se às situações de violência doméstica entre cônjuges ou violência doméstica entre cônjuges ou

equiparados?equiparados?

Cremos que Cremos que nãonão, já que , já que a obrigação deontológica a obrigação deontológica de revelar só existe nos casos em que as vítimas de revelar só existe nos casos em que as vítimas sejam crianças, idosos, deficientes ou incapazessejam crianças, idosos, deficientes ou incapazes..

Todavia, em casos cuja intensidade ou reiteração Todavia, em casos cuja intensidade ou reiteração sejam evidentes e as vítimas se encontrem numa sejam evidentes e as vítimas se encontrem numa situação de situação de extrema fragilidadeextrema fragilidade, o médico poderá , o médico poderá socorrer-se dos socorrer-se dos princípios éticos da Justiça e da princípios éticos da Justiça e da BenevolênciaBenevolência e e requerer ao Bastonário a dispensa do requerer ao Bastonário a dispensa do sigilosigilo..

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ConclusõesConclusões O segredo médico é o pilar da relação de O segredo médico é o pilar da relação de

confiança entre o médico e o doente;confiança entre o médico e o doente; O sigilo deverá ser mantido sempre que a vítima O sigilo deverá ser mantido sempre que a vítima

não der o seu consentimento para a revelação não der o seu consentimento para a revelação dos factos;dos factos;

Há obrigação de revelação junto das autoridades Há obrigação de revelação junto das autoridades policiais ou sociais sempre que estejam em policiais ou sociais sempre que estejam em causa crianças, idosos, deficientes ou incapazes;causa crianças, idosos, deficientes ou incapazes;

Quando está em causa a saúde ou a vida da Quando está em causa a saúde ou a vida da vítima, o médico pode, à luz dos princípios da vítima, o médico pode, à luz dos princípios da Justiça e da Benevolência, requerer a dispensa Justiça e da Benevolência, requerer a dispensa de sigilo ao Bastonário e posteriormente de sigilo ao Bastonário e posteriormente efectuar a denúncia.efectuar a denúncia.

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Questões Ético-Questões Ético-Jurídicas no contexto Jurídicas no contexto

da Violência da Violência DomésticaDoméstica

A relação médico/doente e o A relação médico/doente e o Segredo MédicoSegredo Médico

Paulo SanchoPaulo SanchoAdvogadoAdvogado