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G era ld o M a rc o s L e ite d e A lmeida Íta lo S ou za N icoliello Flá via d a C u n h a P in to M esq u ita G iova n a C a m a rgos M eireles R EG IS TR O O AB -M G N º 1.0 46 EXMO(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ª VARA DA FAZENDA MUNICIPAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE. PEDRO LUIZ NEVEZ VICTER ANANIAS, brasileiro, divorciado, professor, no exercício do mandato de vereador do Município de Belo Horizonte, inscrito no CPF sob o número 039.500.636-84, cédula de identidade nº MG 743.600, título de eleitor nº 114662870281, residente e domiciliado em Belo Horizonte/MG, na rua Oligisto, 411 / 203 – Bairro Horto – CEP 31.010-430; por seus mandatários ao final firmados (procuração e documentos pessoais anexos – doc. 1), propõe, com fundamento no artigo 5º, LXXIII da Constituição da República e na Lei 4.717/65, a presente Ação Popular em face do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o número 18.715.383/0001-40, com sede nesta capital, na Av. Afonso Pena, nº 1.212 – Centro – CEP 30.130-003; de MÁRCIO ARAÚJO DE LACERDA, brasileiro, casado, empresário no exercício de mandato de prefeito municipal, inscrito no CPF sob o número 131.734.726-91, cédula de identidade nº MG 434.694 SSP-MG, domiciliado em Belo Horizonte, na Rua Américo Macedo, nº 491, Gutierrez – CEP 30.430-190 – Belo Horizonte/MG Telefax (31) 3291.9988 – E-mail: [email protected] www.gmarcosadvogados.com.br 1

R E C I B O - Web view“a título oneroso, direitos dos créditos autônomos para recebimento do fluxo de pagamentos decorrentes dos créditos tributários ou não tributários vencidos

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EXMO(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ª VARA DA FAZENDA MUNICIPAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE.

PEDRO LUIZ NEVEZ VICTER ANANIAS, brasileiro, divorciado, professor, no exercício do mandato de vereador do Município de Belo Horizonte, inscrito no CPF sob o número 039.500.636-84, cédula de identidade nº MG 743.600, título de eleitor nº 114662870281, residente e domiciliado em Belo Horizonte/MG, na rua Oligisto, 411 / 203 – Bairro Horto – CEP 31.010-430; por seus mandatários ao final firmados (procuração e documentos pessoais anexos – doc. 1), propõe, com fundamento no artigo 5º, LXXIII da Constituição da República e na Lei 4.717/65, a presente

Ação Popular

em face do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o número 18.715.383/0001-40, com sede nesta capital, na Av. Afonso Pena, nº 1.212 – Centro – CEP 30.130-003; de MÁRCIO ARAÚJO DE LACERDA, brasileiro, casado, empresário no exercício de mandato de prefeito municipal, inscrito no CPF sob o número 131.734.726-91, cédula de identidade nº MG 434.694 SSP-MG, domiciliado em Belo Horizonte, na Av. Afonso Pena, 1.212 – Centro – CEP 30.130-003; da PBH ATIVOS S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o número 13.593.766/0001-79, com sede em Belo Horizonte, na Av. Afonso Pena, 774 / 5º andar – CEP 30.130-003; de EDSON RONALDO NASCIMENTO, brasileiro, economista, ex-diretor presidente da PBH ATIVOS S/A, inscrito no CPF sob o número 362.453.050-04, residente em Brasília/DF, no Condomínio Solar de Brasilia, Quadra 01, Cj 14, Casa 07, CEP 71.680-349; de MARCELO PIANCASTELLI DE SIQUEIRA, brasileiro, divorciado, economista, inscrito no CPF sob o número 125.350.606-04, cédula de identidade M-976.099 SSP-MG, domiciliado em Belo Horizonte/MG, na rua Espírito Santo, 605 – 5º andar – CEP 30.160-030; de RUSVEL BELTRAME ROCHA, brasileiro, advogado, inscrito no

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CPF sob o número 782.347.276-72, cédula de identidade nº M-5.756.520, domiciliado em Belo Horizonte/MG, na rua dos Timbiras, 678 – bairro Funcionários – CEP 30.160-030; e de RICARDO AUGUSTO SIMÕES CAMPOS, brasileiro, casado, engenheiro civil, inscrito no CPF sob o número 236.124.106-44, identidade CREA-MG nº 14.534 D, domiciliado em Belo Horizonte, na Av. Afonso Pena, 774 / 5º andar – CEP 30.130-003; o que faz pelas razões que seguem.

Antes de expor os motivos da postulação, o AUTOR louva a fundamental colaboração do Professor e Economista DIÉRCIO FERREIRA DA SILVA FILHO, responsável pelos estudos e formulações que dão sustentação a esta Ação Popular.

I – Das considerações preliminares.

O AUTOR busca com a presente Ação Popular anular atos lesivos ao patrimônio público, consubstanciados na ilegal cessão de receitas do MUNICÍPIO para pessoa jurídica de direito privado, direitos de valor econômico insuscetíveis de afetação. Denuncia também grave burla à Lei de Responsabilidade Fiscal, com potencial efetivo de relevante comprometimento das contas públicas e das finanças das administrações vindouras.

O AUTOR demonstra a sua condição de cidadão e legitimado para a propositura do remédio constitucional através do título de eleitor que segue anexo. (doc. 2).

Conforme se deduzirá abaixo, o AUTOR pretende a anulação dos atos administrativos que especifica por ilegalidade do objeto e desvio de finalidade; hipóteses aptas a gerar a propositura da ação popular a teor do artigo 2º, ‘c’ e ‘e’, parágrafo único, ‘c’ e ‘e’ da Lei 4.717/65, e suas alterações posteriores.

No que concerne aos RÉUS, o art. 6º da Lei 4.717/65 vaticina que a Ação Popular deve ser proposta tanto contra as pessoas públicas e privadas envolvidas do ato ilícito, quanto em desfavor das autoridades que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado. Assim, a inclusão dos Srs. MÁRCIO ARAÚJO DE LACERDA, EDSON RONALDO NASCIMENTO, MARCELO PIANCASTELLI DE SIQUEIRA, RUSVEL BELTRAME ROCHA e RICARDO AUGUSTO SIMÕES CAMPOS se justifica por se cuidarem dos representantes legais do primeiro e do terceiro RÉUS, ou por terem figurado nos contratos de cessão de créditos do MUNICÍPIO como interventes/anuentes.

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II – Dos fatos.

Em 25 de novembro de 2010 a Lei Municipal 10.003 (doc. 3) autorizou a criação de uma sociedade sob o controle acionário do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, vinculada à Secretaria Municipal de Finanças, com o objetivo de explorar economicamente ativos municipais, auxiliar o Tesouro na captação de recursos financeiros mediante a emissão de papéis próprios oferecendo como garantia “os ativos, créditos, títulos e valores mobiliários da sociedade.” (artigo 2º, II).

Estava, portanto, legalmente autorizada a criação da PBH ATIVOS S/A, sociedade de economia mista que veio a ser constituída em 9 de junho de 2011 através do Decreto Municipal nº 14.444 (doc. 4) que aprovou o seu estatuto social. O exame atento do Decreto 14.444/2011 revela que se trata de uma sociedade de ações de capital fechado (artigo 1º), que tem entre os seus objetivos sociais (artigo 2º): a) titular, administrar e explorar economicamente ativos municipais; b) auxiliar o Tesouro municipal na captação de recursos financeiros, podendo, para tanto, colocar no mercado obrigações de emissão própria, receber, adquirir, alienar e dar em garantia ativos, créditos, títulos e valores mobiliários da Companhia; c) estruturar e implementar operações que visem à obtenção de recursos junto ao mercado de capitais; d) auxiliar o Município na realização de investimentos em infraestrutura e nos serviços públicos municipais em geral; e) alienar, alugar e conservar, manter, reformar ou ampliar seus bens, em especial aqueles recebidos do Município em aporte de capital e aqueles locados para uso da Administração Municipal; f) auxiliar o Município em projetos de concessão ou de parceria público-privada, podendo, para tanto, dar garantias ou assumir obrigações; g) licitar ou realizar obras mediante celebração de convênio ou contrato com órgãos ou entidades da Administração Direta ou Indireta do Município; h) auxiliar, gerenciar ou realizar obras licitadas por outros órgãos ou entidades da administração direta e indireta do Município, nas quais, sempre que possível, venha a ter ganho econômico; i) custear obras licitadas por outros órgãos ou entidades da Administração Direta e Indireta do Município; j) participar de outras sociedades cujo objetivo social seja compatível com suas finalidades; l) captar recursos ou estruturar operações que possibilitem a quitação, o refinanciamento, a redução do montante ou a diminuição dos encargos da dívida pública do Município; e m) realizar quaisquer atividades que sirvam de instrumento para a conquista dos objetivos enunciados nos incisos anteriores.

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Em 10 de janeiro de 2014 o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE cede à PBH ATIVOS S/A “a título oneroso, direitos dos créditos autônomos para recebimento do fluxo de pagamentos decorrentes dos créditos tributários ou não tributários vencidos e parcelados pelo Contribuinte através dos Parcelamentos (Direitos de Crédito Autônomos) que se encontram ou não inscritos na dívida ativa do Município de Belo Horizonte” (vide Contrato de Cessão e Aquisição de Direito Autônomo de Recebimento de Crédito e outras avenças – anexo – doc. 5).

O aludido contrato de cessão dos créditos tributários do Município prevê em sua cláusula 4.1 a contraprestação devida pela PBH ATIVOS S/A: “Pela cessão dos Direitos de Crédito Autônomos, e mediante a assinatura do Termo de Cessão e dos boletins de subscrição das Debêntures Subordinadas, conforme previsto na Escritura da Primeira Emissão (“Boletim de Subscrição”), o Cedente receberá da Cessionária o valor que vier a ser apurado quando da assinatura do Termo de Cessão, porém limitado ao montante total de R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais), por meio da entrega, ao Cedente, das Debêntures Subordinadas por ele subscritas.”

Tais créditos, originários dos procedimentos administrativos e judicias de parcelamento (item 2.1.1), são cedidos de maneira irrevogável e irretratável (item 2.1) à PBH ATIVOS S/A, e compreendem receitas de ISS, IPTU e taxas municipais. Pelo contrato de cessão, os valores arrecadados pela Secretaria Municipal de Fazenda e pela Procuradoria Geral do Município nas hipóteses mencionadas no termo incluso são graciosamente depositados em conta de titularidade da PBH ATIVOS S/A mantida junto ao Banco do Brasil S/A (conta de nº 14.732-X / agência 1615-2). (item 5.2 do contrato).

Para efetivar a sua contrapartida no negócio, a PBH ATIVOS S/A solicitou à Comissão de Valores Mobiliários autorização para emissão das debêntures, obtendo parecer favorável da autarquia em 07 de março de 2014 (doc. 6). A PBH ATIVOS promoveu então duas emissões de debêntures, a primeira, de forma privada, data do dia 1º de abril de 2014, e se refere a debêntures simples, não conversíveis em ações da espécie subordinada, papéis subscritos pelo MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE e integralizados mediante cessão de direitos de créditos autônomos,

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notadamente créditos tributários; conforme disposto no ajuste acima mencionado. Nessa data foi emitido um lote de 88.032 (oitenta e oito mil e trinta e duas) debêntures, no valor unitário de R$ 10.000,00 (dez mil reais), perfazendo um montante de R$ 880.320.000,00 (oitocentos e oitenta milhões e trezentos e vinte mil reais). (escritura de emissão anexa – doc. 7 e primeiro aditamento – doc. 8).

Naquele mesmo dia foi firmado um Contrato de Cessão Fiduciária de Direitos Creditórios, Vinculação de Receitas e outras avenças da PBH ATIVOS S/A (doc. 9), que é o instrumento que justamente confere lastro às debêntures na medida que a os créditos autônomos cedidos atingem a cifra de R$ 880.320.000,00 (oitocentos e oitenta milhões e trezentos e vinte mil reais).

As debêntures em questão têm prazo de vencimento de 9 (nove) anos com pagamentos mensais de amortização e juros, estes na proporção de 11 % (onze por cento) ao ano, agregados à variação do IPCA – Índice de Preços do Consumidor Amplo, medido pelo IBGE. Como dito alhures, o lastro dos papéis são os direitos de créditos autônomos do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, garantia que foi avaliada pela auditoria FITCH RATINGS com conceito AA, ou seja, obteve na classificação de crédito o ‘grau de investimento’. (docs. 10 e 11)

No dia 15 daquele mesmo mês foi emitido o segundo lote de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie com garantia real, em série única, para distribuição pública, com esforços restritos de colocação. Nessa oportunidade foram emitidas 2.300 (duas mil e trezentas) debêntures com valor unitário de R$ 100.000,00 (cem mil reais), operação que representa o montante de R$ 230 milhões. (vide escritura de emissão de debêntures e seu aditamento – anexo). Sua escritura preconiza como data de vencimento do papel o prazo de 84 (oitenta e quatro) meses à partir da data da emissão, com atualização pelo IPCA/IBGE e remuneração de juros de 11 % ao ano. (vide escritura de emissão de debêntures e 1º aditamento anexos – docs. 12 e 13)

As garantias dos papéis emitidos pela PBH ATIVOS foi reforçada em 18 de maio de 2015, quando os RÉUS firmaram mais um “Termo de Cessão de Créditos Autônomo” que segue anexo (doc. 14), no qual o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE cede em caráter ‘irrevogável e

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irretratável’ os direitos de créditos autônomos decorrentes da pactuação com os contribuintes inadimplentes segundo o programa de incentivo denominado ‘em dia com a cidade’.

Em 30 de maio de 2014 a BM&F BOVESPA – Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo deferiu o pedido de listagem de debêntures para negociação em mercado de balcão organizado (doc. 15), concedendo a possibilidade de comercialização dos derivativos.

Os negócios vultuosos que envolvem o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE e a PBH ATIVOS S/A são notadamente ilegais e devem ser sumariamente anulados por este Juízo, sob pena de graves e irreversíveis prejuízos ao povo de Belo Horizonte. Nas linhas que seguem o AUTOR esclarece os fundamentos das irregularidades da atuação dos RÉUS.

III – Dos Fundamentos.

III.I – Da desobediência à Lei de Responsabilidade Fiscal / ‘Pedaladas’ fiscais do Município de Belo Horizonte.

A Lei Complementar 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Os destinatários da norma constam do seu artigo 1º, § 3º e compreendem a União, os Estados e os Municípios e suas respectivas administrações diretas, fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes.

No artigo 2º da LC 101/2000 esse conceito é melhor explicitado, verbis:

Lei Complementar 101/2000.Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como:I - ente da Federação: a União, cada Estado, o Distrito Federal e cada Município;II - empresa controlada: sociedade cuja maioria do capital social com direito a voto pertença, direta ou indiretamente, a ente da Federação;

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Não resta, portanto, a menor sombra de dúvida de que tanto o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE quanto a PBH ATIVOS S/A estão sob o jugo da Lei de Responsabilidade Fiscal e devem a ela total obediência.

A primeira ilegalidade se observa quando esta expressiva operação de crédito que, como visto, envolve centenas de milhões de reais e gera um fabuloso comprometimento de receitas públicas se deu à revelia do Ministério da Fazenda. Diz a regra do artigo 32 da Lei Complementar nº 101/2000.

Lei Complementar 101/2000.Art. 32. O Ministério da Fazenda verificará o cumprimento dos limites e condições relativos à realização de operações de crédito de cada ente da Federação, inclusive das empresas por eles controladas, direta ou indiretamente.§ 1º O ente interessado formalizará seu pleito fundamentando-o em parecer de seus órgãos técnicos e jurídicos, demonstrando a relação custo-benefício, o interesse econômico e social da operação e o atendimento das seguintes condições:I - existência de prévia e expressa autorização para a contratação, no texto da lei orçamentária, em créditos adicionais ou lei específica;II - inclusão no orçamento ou em créditos adicionais dos recursos provenientes da operação, exceto no caso de operações por antecipação de receita;III - observância dos limites e condições fixados pelo Senado Federal;IV - autorização específica do Senado Federal, quando se tratar de operação de crédito externo;V - atendimento do disposto no inciso III do art. 167 da Constituição;VI - observância das demais restrições estabelecidas nesta Lei Complementar.§ 2º As operações relativas à dívida mobiliária federal autorizadas, no texto da lei orçamentária ou de créditos adicionais, serão objeto de processo simplificado que atenda às suas especificidades.§ 3º Para fins do disposto no inciso V do § 1º, considerar-se-á, em cada exercício financeiro, o total dos recursos de operações de crédito nele ingressados e o das despesas de capital executadas, observado o seguinte:

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I - não serão computadas nas despesas de capital as realizadas sob a forma de empréstimo ou financiamento a contribuinte, com o intuito de promover incentivo fiscal, tendo por base tributo de competência do ente da Federação, se resultar a diminuição, direta ou indireta, do ônus deste;II - se o empréstimo ou financiamento a que se refere o inciso I for concedido por instituição financeira controlada pelo ente da Federação, o valor da operação será deduzido das despesas de capital;III - (Vetado).§ 4º Sem prejuízo das atribuições próprias do Senado Federal e do Banco Central do Brasil, o Ministério da Fazenda efetuará o registro eletrônico centralizado e atualizado das dívidas públicas interna e externa, garantido o acesso público às informações, que incluirão:I - encargos e condições de contratação;II - saldos atualizados e limites relativos às dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito e concessão de garantias.§ 5º Os contratos de operação de crédito externo não conterão cláusula que importe na compensação automática de débitos e créditos.

Um exame detalhado dos documentos públicos relativos à ‘cessão de créditos’ e à ‘emissão das debêntures’ revela que, à despeito da anuência da CVM, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda; não houve, por parte dos RÉUS, qualquer formalização de pleito à Administração Federal Central com o objetivo de avaliar o cumprimento dos limites, a relação custo-benefício, o interesse econômico e social da operação; aspectos de mérito que serão melhor abordados no decorrer desta ação.

O aval do Ministério da Fazenda é fundamental para que a operação de crédito em questão, ainda que engenhosamente dissimulada na obscura relação entre MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE e PBH ATIVOS S.A., esteja validada do ponto de vista legal.

A Lei Complementar nº 101/2000 outorgou ao Ministério da Fazenda a responsabilidade de impedir um endividamento indiscriminado da Administração Pública, com nefastas conseqüências para a sociedade. Em última análise, a União tem o dever concorrente de fiscalizar se os

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Municípios estão envolvidos no esforço de ‘ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar’ (artigo 1º, § 1º da Lei Complementar nº 101/2000).

No caso, não há como negar que se trata de uma operação de crédito, pois a ‘cessão’ tem um propósito claro, captar recursos junto ao mercado de capitais para auxiliar o Município na realização de investimentos em infraestrutura e nos serviços públicos municipais em geral, mediante a contrapartida de remunerar os papéis – debêntures - pela variação do IPCA e juros anuais de 11 % (onze por cento).

O cotejo da situação concreta com a abstração contida na Lei Complementar 101/2000 não deixa a menor dúvida de que se trata de uma operação de crédito, já que esta, à critério do nosso legislador, “é o compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros”. (artigo 29, III da Lei Complementar nº 101/2000).

Como se vê, o conceito legal é amplo, tanto que compreende ‘outras operações assemelhadas’. Ora, não há dúvida de que a PBH ATIVOS emite títulos e supostamente destina os valores arrecadados da venda dos papéis em projetos de interesse do MUNÍPIO DE BELO HORIZONTE, que, por seu turno, dá lastro às operações da PBH ATIVOS S/A com o fluxo de créditos tributários e não tributários cedidos.

A lei é explícita de que os derivativos estão compreendidos nestas operações financeiras que devem ser chanceladas pelo Ministério da Fazenda. No caso, a debênture é um título derivado da cessão dos créditos tributários e não tributários do MUNICÍPIO DE BELO

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HORIZONTE, ou seja, um derivativo financeiro, cuja intrumentalização está regulada pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Note-se que a Lei 10.003/2010 ignora solenemente a obrigatoriedade de chancela do Ministério da Fazenda para as operações da PBH ATIVOS S/A, o que a contamina de irremissível inconstitucionalidade já que passa a interferir em matéria cuja competência legislativa é privativa da UNIÃO, v. g., artigo 22, VI e VII da Constituição Federal.

E mais, no capítulo da Lei Complementar nº 101/2000 concernente à ‘dívida e endividamento’, há uma seção relativa às operações de crédito, e uma subseção alusiva às vedações. Em regra, a LRF proíbe a captação de recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido. Vide nesse sentido o que determina o artigo 37 da Lei Complementar 101/2000.

Lei Complementar nº 101/2000.Art. 37. Equiparam-se a operações de crédito e estão vedados:I - captação de recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido, sem prejuízo do disposto no § 7º do art. 150 da Constituição;II - recebimento antecipado de valores de empresa em que o Poder Público detenha, direta ou indiretamente, a maioria do capital social com direito a voto, salvo lucros e dividendos, na forma da legislação;

Há no caso uma inegável captação de recursos com o ‘propósito’ de antecipação de receita futura, na medida em o proveito da venda das debêntures é justamente o que substituirá – sem qualquer indício de vantagem, diga-se - toda a receita proveniente do pagamento dos débitos tributários inscritos ou não em dívida ativa, inclusive aqueles decorrentes de programas de parcelamento implementados pelo MUNICÍPIO.

E mais, com a emissão e comercialização das debêntures para financiamento da atividade pública o MUNICÍPIO pode se beneficiar antecipadamente da captação financeira efetivada pela sociedade de

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economia mista de que detém o controle societário. Essa receita não se inclui no conceito de lucro ou dividendo apto a permitir a antecipação pretendida.

O montante arrecadado da operação de crédito tem aparência de ‘antecipação de receita de tributo’ porque os valores dos impostos já é direcionado diretamente à PBH ATIVOS S/A, com o propósito de capitalizar a empresa para que possa honrar as obrigações constantes das cártulas que emite.

Convêm destacar que o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE já tentou manobra semelhante com o FIDC – Fundo de Investimento em Direito Creditório. A operação financeira, essencialmente idêntica à que é denunciada nesta Ação Popular, foi obstada pelo Tribunal de Contas da União, no procedimento TC 016.585/2009-0, em que foi determinado “à Comissão de Valores Mobiliários – CVM, cautelarmente, que suspendesse o registro no FIDC – Fundo de Investimento enquanto não houvesse manifestação explícita do Ministério da Fazenda”. Na reprografia da decisão que segue anexa são consignados fundamentos semelhantes aos sustentados pelo AUTOR nesta ação constitucional.

Do pronunciamento do TCU merece destaque o seguinte extrato: “os princípios que regem a Lei de Responsabilidade Fiscal são todos convergentes e tendentes a que se disciplinem e limitem os meios e modos de comprometimento de receitas públicas futuras para satisfação de necessidades ou vontades políticas presentes (grifo no original). Ou seja, a LRF estabelece controles, freios e limites para o endividamento dos entres governamentais, com o fim também, de evitar a volta da inflação, pois esta é uma alternativa para o setor público se financiar quando gasta ou se endivida mais que pode.” (voto do Exmo. Relator, Ministro RAIMUNDO CARREIRO).

Mas ainda que se admita as emissões de debêntures da PBH ATIVOS S/A como uma operação de crédito válida, o que o AUTOR cogita por mero preciosismo retórico, tal operação encontra óbice no artigo 38 da Lei Complementar 101/2000, confira-se:

Lei Complementar 101/2000.Art. 38. A operação de crédito por antecipação de receita destina-se a atender insuficiência de caixa durante o

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exercício financeiro e cumprirá as exigências mencionadas no art. 32 e mais as seguintes:(...)II - deverá ser liquidada, com juros e outros encargos incidentes, até o dia dez de dezembro de cada ano;III - não será autorizada se forem cobrados outros encargos que não a taxa de juros da operação, obrigatoriamente prefixada ou indexada à taxa básica financeira, ou à que vier a esta substituir;(...)§ 2º As operações de crédito por antecipação de receita realizadas por Estados ou Municípios serão efetuadas mediante abertura de crédito junto à instituição financeira vencedora em processo competitivo eletrônico promovido pelo Banco Central do Brasil.

Como se vê são inúmeras as incompatibilidades entre a operação de crédito engendrada e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Primeiro, não há qualquer evidência de ‘insuficiência de caixa’ apta a autorizar a medida pela PBH ATIVOS S/A. Segundo, o prazo de liquidação das operações supera largamente o prazo de 10 de dezembro do ano de emissão dos papéis, já que o vencimento das debêntures se dará à partir de 1º de abril de 2023. Terceiro, no caso de Estados e Municípios, essas operações devem necessariamente acontecer através de abertura de crédito em instituição financeira vencedora em competição eletrônica promovida pelo Banco Central do Brasil.

No caso da PBH ATIVOS S/A, os valores que serão capitados terão fontes das mais diversas e sua restituição está indexada por índice pós-fixado, no caso, o IPCA/IBGE. Como se vê, trata-se de uma operação de crédito que burla a Lei de Responsabilidade Fiscal, autêntica ‘pedalada’ que, como se verá adiante, pode provocar conseqüências nefastas para as contas públicas a médio e longo prazo.

III.II – Da vedação constitucional de cessão dos créditos tributários à PBH ATIVOS S/A.

A natureza jurídica de tributo dos créditos cedidos pelo MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE à PBH ATIVOS S/A é inegável e emerge dos próprios negócios jurídicos entabulados entre os RÉUS.

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Independentemente desta denominação nos documentos que seguem anexos, a essência tributária dos valores cedidos à PBH ATIVOS S/A decorre de texto expesso de lei, v.g., artigo 139 do Código Tributário Nacional.

Código Tributário NacionalArt. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.

Na mesma linha, há que se reproduzir o artigo 113 do Código Tributário Nacional, que preconiza a extinção da obrigação tributária juntamente com o crédito dela decorrente. Leia-se.

Código Tributário Nacional.Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos.§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente a penalidade pecuniária.

Estabelecida a premissa de que o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE cedeu tributo à PBH ATIVOS, avulta-se óbvia a dissonância desta conduta com os princípios orçamentários e de finanças públicas preconizados na Constituição da República, notadamente em seu artigo 167, verbis:

Constituição Federal.Art. 167. São vedados:(...)IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para

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realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;

Cuida-se da objetivação constitucional do princípio da não vinculação de determinadas receitas tributárias, que é aplicável à espécie tributária dos impostos, como leciona com propriedade GISELE LEITE, Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense e Doutora em Direito Civil pela Universidade de São Paulo: “Quanto à vinculação do produto da arrecadação - tributos com arrecadação vinculada - aqueles em que o produto da arrecadação deve ser aplicado à finalidade que deu origem ao tributo, ex.: contribuições especiais e tributos com arrecadação não vinculada - são aqueles em que o valor arrecadado não precisa ser aplicado a nenhuma finalidade estabelecida, ex.: taxas e impostos.” (In, CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO (CONSIDERATIONS ABOUT THE FUNDAMENTALS OF BRAZILIAN TAX LAW), artigo publicado no Juris Plenum Ouro nº 44, julho de 2015).

Ora, ou os créditos tributários cedidos pelo MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE são impostos e, portanto, subordinados ao cânone da não afetação e por isso mesmo impróprios para cessão à sociedade de economia mista; ou são tributos vinculados e, por isso também, insuscetíveis de alienação por terem destinação legal já previamente determinada. Assim, de qualquer ângulo que se observe a controvérsia, não há como validar a fragrante ilegalidade praticada pelos RÉUS.

Ilustre Julgador(a), o exame atento da vasta documentação que instrui esta Ação Popular não deixa dúvida de que o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE vinculou receita de impostos a uma pessoa jurídica de direito privado – PBH ATIVOS S/A, hipótese que não se inclui entre as expressamente ressalvadas, quais sejam, as repartições constitucionalmente autorizadas (artigos 158 e 159 da Constituição Federal), as ações e serviços públicos de saúde, ensino e administração tributária.

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Vale dizer que a ressalva no tocante a operação de crédito por antecipação de receita prevista no inciso IV mencionado acima se refere àquela em que há autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações convenientemente previstas na lei orçamentária. No caso concreto, a receita proveniente das debêntures não figurou na lei orçamentária do Município para os exercícios em que houve sua emissão, o que torna absolutamente irregular a destinação direta do proveito do crédito tributário para uma conta corrente de titularidade da PBH ATIVOS S/A.

E mais, a extravagante operação engendrada entre o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE e a PBH ATIVOS S/A sequer pode ser reputada como antecipação de receitas, na medida em que não há uma clareza entre a o montante arrecadado com a emissão das debêntures que em conjunto têm valor de face superior a 1 bilhão de reais e aquele que ingressou nos cofres da PBH ATIVOS S/A em razão do adimplemento gradual dos créditos inscritos e não inscritos em dívida pública.

No caso, verifica-se um evidente abalo ao princípio de contabilidade pública da unidade de tesouraria, expressamente objetivado na Lei 4.320/64, que estatui “Normas Gerais de Direito Financeiro para Elaboração e Controle dos Orçamentos e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.” A propalada regra prevê em seu artigo 56.

Lei 4.320/64Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para criação de caixas especiais.

A captação de receitas com as debêntures subverte a regra adiante citada, pois outorga à uma sociedade de economia mista (pessoa jurídica de direito privado) a função de recolher as receitas necessárias à atividade pública municipal.

III.III – Da inobservância da Lei de licitações para as contratações realizadas pelos RÉUS para a emissão das debêntures.

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Tanto o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE quanto a PBH ATIVOS S/A subordinam-se a Lei 8.666/93, que ao regulamentar o artigo 37. XXI da Constituição Federal, instituiu normas para licitações e contratos da Administração Pública. A disposição do artigo 1º, parágrafo único da Lei 8.666/93 não deixa dúvida quanto a esta verdade.

Lei 8.666/93.Art. 1º Esta lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. (grifos inexistentes no original)

A própria Lei 8.666/93 estabelece taxativamente as hipóteses de dispensa e inexigibilidade de licitação para contratação de serviços pelas pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado controladas pelo Poder Público.

Como se depreende da robusta documentação anexa, para poder viabilizar a emissão das debêntures em conformidade com a exigente legislação federal, os RÉUS foram forçados a contratar diversos atores como o BANCO BTG PACTUAL S/A, custodiante dos derivativos; a PENTÁGONO S/A DISTRIBUIDORAS DE TÍTULOS, agente fiduciário e representante dos debenturistas; a ITAÚ CORRETORA DE VALORES S/A, responsável pela escrituração das debêntures e corretagem dos papéis; o ITAÚ UNIBANCO S/A, prestador de serviço de banco liquidante; e o BANCO DO BRASIL S.A., banco centralizador do fluxo das receitas e garantias (créditos tributários) da bilionária transação.

Sucede que não há notícia de que a contratação destes prestadores de serviço tenha se subordinado a um procedimento público de licitação. Não se trata, à toda evidência, de notória especialização das empresas envolvidas, uma vez que há uma profusão de outras instituições financeiras, distribuidora de títulos e corretoras de valores que atuam

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nesse seguimento e que poderiam executar com idêntica eficiência o propósito de captação de recursos privados para a atividade pública.

E mesmo que houvesse, a justificativa para a escolha destas prestadoras de serviço deveria ser comunicada ao público através da imprensa oficial, como determina o artigo 26 da Lei 8.666/93.

Nesse diapasão, é imperioso que os RÉUS justifiquem as razões pelas quais as empresas mencionadas nos contratos de cessão e aquisição de direito autônomo de recebimento de créditos não se sujeitaram ao procedimento de licitação; omissão ilegal que, por si só, deve gerar a nulidade da emissão das debêntures e, por conseguinte, da concessão das garantias.

III.IV – Da inexistência de interesse econômico e social na emissão dos títulos.

Como se deduzirá a seguir, os atos denunciados nesta Ação Popular geram grave comprometimento das receitas públicas o que afasta, a não mais poder, qualquer interesse econômico e social na emissão das debêntures.

Não se pode avaliar a celeuma dissociada do contexto de que títulos da dívida dos municípios brasileiros não são bem vistos nos mercados de capitais, sendo costumeiramente reputados por celebrados analistas como investimentos de alto risco. Em regra, investidores tradicionais rejeitam esses papéis, que acabam adquiridos com deságios expressivos por especuladores arrojados ou pelos vulgarmente denominados ‘fundos abutres’.

Para piorar a percepção de que as debêntures são um autêntico ‘abacaxi’ para o povo de Belo Horizonte, um exame das provas carreadas a esta vestibular revela que a remuneração dos papéis é superior aos encargos que o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE teria com a contratação de crédito no mercado financeiro. A indexação das debêntures pelo IPCA-E/IBGE mais juros de 11 % (onze por cento) ao ano vão gerar uma obrigação de pagar superior a qualquer mútuo contraído em instituições bancárias dirigidas para o atendimento das demandas de

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financiamento do Poder Público. Considerando que a variação do IPCA/IBGE nos 12 (doze) últimos meses foi da ordem de 9,56 % (nove inteiros e cinqüenta e seis centésimos por cento), tem-se que o encargo a ser assumido pela PBH ATIVOS S/A com a captação de dinheiro no mercado de capitais será, no mínimo, superior a 20 % (vinte por cento) para estes últimos doze meses; isso se considerar que serão negociados pelo valor de face – o que é muito pouco crível.

O risco das debêntures é patente até mesmo ante a flagrante ilegalidade dos atos que antecederam a sua emissão e da insegurança jurídica estabelecida e revelada nessa Ação Popular.

Há também um inegável risco de liquidez. Por se cuidar de uma sociedade de ações de capital fechado, a PBH ATIVOS S/A está legalmente impedida de negociar os derivativos em bolsa de valores. Os papéis serão transacionados de forma restrita, em mercado de balcão organizado; o que reduz sobremaneira a visibilidade e o interesse dos títulos no mercado.

Não é necessário ser um grande especialista em mercado financeiro para assegurar que títulos da PBH ATIVOS S/A não têm grande apelo e que tendem inevitavelmente à depreciação. As perspectivas, sobretudo na conjuntura de estagnação/recessão econômica, revelam a não mais poder a inconveniência do negócio.

A evidência cabal desta realidade é a recente nota emitida pela FICHT RATINGS, que colocou em ‘observação negativa’ as debêntures da PBH ATIVOS S/A. Confira-se o preocupante informe da agência de observação de riscos:

22 Mai 2015 17h30

Fitch Ratings - São Paulo, 22 de maio de 2015: A Fitch Ratings colocou em Observação Negativa o Rating Nacional de Longo Prazo 'AAsf(bra)' da 2ª emissão de debêntures seniores da PBH Ativos S.A. (PBH Ativos), em montante inicial de BRL230,0 milhões. A estrutura contempla, também, debêntures subordinadas, não avaliadas pela Fitch.

A Observação Negativa se deve ao fato de a operação permitir que recursos provenientes da liquidação antecipada de créditos fossem liberados para a cedente, a PBH Ativos. As antecipações foram motivadas por um novo programa

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de parcelamento de tributos inadimplidos, que oferecia descontos de até 90% nas penalidades devidas. Os contribuintes puderam aderir ao programa entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015.

A Fitch entende que estes recursos pertencem à transação e espera que os documentos sejam aditados, de forma a esclarecer que a titularidade dos recursos provenientes da liquidação antecipada é da emissão.

A estrutura da operação determina que o fluxo original destes créditos seja recomposto pela Prefeitura de Belo Horizonte (BH). Uma nova carteira de créditos já foi selecionada e é composta exclusivamente por tributos que estão sendo parcelados pela primeira vez. No entanto, a cessão destes novos créditos ainda não foi formalizada.

O rating da 2ª emissão de debêntures reflete a capacidade de pagamento final do principal, corrigido pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, acrescido de juros de 11,0% ao ano, até o vencimento final da emissão, em 15 de abril de 2021.

As debêntures são lastreadas pelo fluxo proveniente de impostos municipais renegociados, originados por BH e transferidos à PBH Ativos. A PBH Ativos, por sua vez, cedeu os créditos à emissão, por meio de cessão fiduciária. Os tributos incluem o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e outras taxas municipais.

Principais Fundamentos do Rating

Desempenho Adequado dos Créditos

O desempenho da carteira de créditos está em linha com as expectativas iniciais da Fitch. Em 30 de abril de 2015, o saldo devedor dos créditos cedidos à operação e com maturação até a data de vencimento das debêntures era de BRL632,3 milhões. Destes, 3,4% estavam inadimplentes entre trinta e sessenta dias; 0,7% entre sessenta e noventa dias; e outros 0,2%, há mais de noventa dias. A inadimplência acima de noventa dias, que chegou a atingir 4,5% em junho de 2014, tem se mantido abaixo de 2,0% desde então.

Entre maio de 2014 e abril de 2015, a arrecadação média mensal foi de BRL15,4 milhões e a mínima, observada em abril de 2015, de BRL12,0 milhões. A arrecadação média foi beneficiada pela entrada de BRL31,2 milhões em dezembro de 2014, dos quais grande parte se refere a liquidações antecipadas, motivadas pelo programa de parcelamento oferecido. O índice de cobertura do serviço da dívida (DSCR) médio foi de 2,3 vezes e o mínimo, de 1,9 vez,

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enquanto o índice de sobregarantia médio foi de 3,1 vezes e o mínimo, de 2,7 vezes.

Elevado Nível de Reforço de Crédito

Em abril de 2015, o reforço de crédito disponível à emissão era de 74,3%, estável em relação aos 72,8% iniciais. O reforço de crédito considera somente as parcelas devidas até a data de vencimento das debêntures e é calculado por meio da razão entre: (i) o saldo devedor dos créditos, deduzido dos contratos inadimplentes há mais de noventa dias, somado à reserva de serviço da dívida, e subtraído do saldo devedor da debênture, e (ii) o saldo devedor dos créditos, deduzido dos contratos inadimplentes há mais de noventa dias. Nesta data, o saldo devedor dos créditos era de BRL632,3 milhões e o dos contratos inadimplentes há mais de noventa dias, de BRL1,4 milhão; a conta reserva de serviço da dívida somava BRL25,0 milhões e o saldo devedor da emissão era de BRL187,0 milhões.

Aspectos Estruturais

Em outubro de 2014, BH anunciou um novo programa de parcelamento de tributos inadimplidos, no qual oferecia descontos de até 90% nas penalidades devidas pelo atraso. O programa foi oferecido até o final de fevereiro de 2015 e resultou no recebimento à vista de tributos parcelados no valor de aproximadamente BRL30,0 milhões, ou aproximadamente 5% da carteira, e repactuação de aproximadamente BRL152,0 milhões de créditos, ou em torno de 28% da carteira. Em consequência, o fluxo de caixa esperado dos créditos foi reduzido em aproximadamente BRL60,7 milhões. Devido a esta perda, BH irá recompor o fluxo de pagamento à operação, conforme determinado nos documentos da transação. A cessão ainda não foi formalizada, mas espera-se que ocorra nos próximos dias.

O desempenho histórico demonstra que os primeiros parcelamentos apresentam melhor comportamento em termos de pagamento em relação aos tributos parcelados mais de uma vez. No entanto, os créditos que serão cedidos foram originados recentemente e, portanto, apresentam baixo seasoning e ainda estão expostos à toda a curva de mortalidade. A Fitch acompanhará de perto a performance da nova carteira e desvios negativos em relação ao comportamento esperado poderão resultar em rebaixamento do rating da emissão.

A estrutura contempla, ainda, gatilhos justos, em que, caso o DSCR fique abaixo de 90% do índice mínimo determinado por dois meses seguidos ou três meses alternados, poderá ser declarado um evento de aceleração, em que todo o fluxo excedente será utilizado para amortizar antecipadamente a emissão. A Fitch entende que este mecanismo protege o investidor, uma vez que mitiga

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parcialmente o risco de o município não recompor o fluxo de pagamentos quando forem criados programas de parcelamento mais atraentes ou em caso de inadimplência maior do que a esperada.

O agente fiduciário da emissão, a Pentágono S.A. DTVM (Pentágono), é responsável por verificar o DSCR e o índice de sobregarantia, bem como pela transferência à PBH Ativos do fluxo recebido em excesso ao serviço da dívida das debêntures.

Sensibilidade do Rating

A Observação Negativa será resolvida quando os documentos da estrutura forem aditados, de forma a esclarecer que a titularidade dos recursos provenientes de liquidação antecipada é da emissão. Além disso, deve ocorrer a formalização da cessão dos novos créditos.

O rating da 2ª emissão de debêntures seniores está limitado à qualidade de crédito de BH. Caso haja deterioração na qualidade de crédito do município, o rating poderá ser rebaixado. Caso a qualidade de crédito de BH melhore, em conjunto com a manutenção de um reforço de crédito acima de 60% e DSCR acima de 1,6 vez, o rating poderá ser elevado.

Independentemente da qualidade de crédito de BH, o rating poderá ser rebaixado, caso os DSCRs fiquem abaixo de 1,3 vez e/ou os níveis de reforço de crédito, abaixo de 35%.

Contatos:

Analista principal

Mirian Abe

Diretora

+55-11-4504-2614

Acrescente-se a tudo isso que por ser controlador da PBH ATIVOS S/A, o MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE é o responsável subsidiário pelo adimplemento das obrigações na hipótese dos compromissos assumidos na cártula não serem honrados pela sociedade de economia mista, nos termos dos artigos 116, 117, 235 e 238 da Lei 6.404/76, verbis:

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Lei 6.404/76Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; eb) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender.

Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder.§ 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:(...)c) promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia e visem a causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na empresa ou aos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;(...)§ 3º O acionista controlador que exerce cargo de administrador ou fiscal tem também os deveres e responsabilidades próprios do cargo.

Art. 235. As sociedades anônimas de economia mista estão sujeitas a esta Lei, sem prejuízo das disposições especiais de lei federal.

Art. 238. A pessoa jurídica que controla a companhia de economia mista tem os deveres e responsabilidades do acionista controlador (artigos 116 e 117), mas poderá orientar as atividades da companhia de modo a atender ao interesse público que justificou a sua criação. (grifos inexistentes no original)

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Ilustre Magistrado(a), a situação dos RÉUS é indefensável. Além dos aspectos legais tangenciados nesta vestibular, a cessão de créditos tributários a emissão de debêntures por sociedade de economia mista controlada pelo Município tem severas inconveniências econômicas e sociais, além de comprometer sobremaneira o equilíbrio fiscal do município, sobretudo nas gestões futuras.

A ‘engenhosa’ medida adotada pelos RÉUS objetiva burlar os limites da dívida consolidada e mobiliária do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, criando um estorvo que será revelado à partir de 2021 quando os debenturistas passarão a exigir da PBH ATIVOS S/A o retorno de seu investimento. Como visto, o ato de ceder os créditos tributários e a emissão das debêntures é ilegal porque o seu resultado importa em violação dos diversos dispositivos de lei mencionados nesta vestibular. Há ainda inegável desvio de finalidade, já que os RÉUS estão destinando o produto da arrecadação para uma pessoa jurídica de direito privado, ou seja, para o fim diverso daquele previsto na lei que obriga o ingresso do numerário no caixa único do MUNICÍPIO para ser distribuído conforme definido no orçamento anual.

Uma intervenção urgente e enérgica do Poder Judiciário é necessária para se evitar a indevida apropriação de receitas públicas, o caos fiscal-orçamentário e a vinculação de impostos a interesses estranhos aos do município.

III.V – Da procedência da Ação Popular e das conseqüências patrimoniais.

Como emerge coruscante desta inicial e dos documentos que a instruem, a pretensão de salvaguardar o patrimônio e o interesse públicos é totalmente procedente. Esse i. Juízo, ao reconhecer a pertinência do pleito, deve também condenar os responsáveis, notadamente os representantes legais do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE e da PBH ATIVOS S/A no pagamento das perdas e danos, nestes compreendidos os severos prejuízos com a implementação desta aventura fiscal, notadamente os valores indevidamente cedidos à sociedade de economia mista, os gastos com a escrituração e a emissão das debêntures, com a contratação das distribuidoras de títulos, dos corretores de valores e

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instituições financeiras envolvidas no negócio e os encargos e reparações decorrentes da anulação das debêntures.

A medida almejada tem amparo na Lei 4.717/65, verbis.

Lei 4.717/65.Art. 11. A sentença que julgando procedente a ação popular decretar a invalidade do ato impugnado, condenará ao pagamento de perdas e danos os responsáveis pela sua prática e os beneficiários dele, ressalvada a ação regressiva contra os funcionários causadores de dano, quando incorrerem em culpa.

Para obtenção deste desiderato, o AUTOR considera imprescindível a contribuição do Ministério Público, que está obrigado por lei a acompanhar a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos responsáveis pela ilegalidade (artigo 6º, § 4º da Lei 4.717/65).

III.VI – Da imediata suspensão dos atos ilegais.

Outro importante poder/dever conferido ao Magistrado pela Lei 4.717/65 é o de que “na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impugnado” (artigo 5º, § 4º). Por isso, o AUTOR clama a imediata suspensão da comercialização das debêntures e da cessão dos créditos tributários e não tributários.

IV – DOS PEDIDOS.

Por tudo o que foi exposto, o AUTOR requer:

a) a isenção das custas iniciais (artigo 10 da Lei 4.717/65);

b) a suspensão liminar do ato lesivo impugnado, com a necessária ordem judicial mandamental para que os RÉUS se abstenham de promover a cessão dos créditos tributários e não tributários do MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, bem como se abstenham de comercializar as debêntures emitidas pela PBH ATIVOS. Como se

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cuida de obrigação de não fazer, pugna pela fixação de multa diária para a hipótese de recalcitrância no cumprimento da decisão judicial;

c) a intimação do MINISTÉRIO PÚBLICO para que acompanhe a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos responsáveis pela ilegalidade;

d) que após observado o devido processo legal com os seus corolários da ampla defesa e do contraditório, que seja julgada ao final procedente esta Ação Popular, com declaração da nulidade das cessões de crédito tributário e não tributário realizadas em favor da PBH ATIVOS S/A, bem como das debêntures emitidas pela PBH ATIVOS S/A, com a consequente condenação dos RÉUS nas seguintes obrigações de não fazer e de pagar: i) abstenção de cessão dos créditos tributários e não tributários para a PBH ATIVOS S/A; ii) abstenção de comercialização das debêntures emitidas pela PBH ATIVOS S/A; iii) condenação da PBH ATIVOS S/A a restituir ao MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE os créditos tributários e não tributários cedidos e já depositados em favor da sociedade de economia mista em razão dos contratos de cessão dos direitos creditórios, do termo de cessão de direitos de créditos autônomos e cessão fiduciária de direitos creditórios e outros ativos; tudo convenientemente corrigido pelos índices aplicáveis aos tributos inadimplidos acrescidos de juros moratórios; iv) a condenação dos RÉUS MÁRCIO ARAÚJO DE LACERDA, EDSON RONALDO NASCIMENTO, MARCELO PIANCASTELLI DE SIQUEIRA, RUSVEL BELTRAME ROCHA e RICARDO AUGUSTO SIMÕES CAMPOS, no limite de suas responsabilidades, na reparação do patrimônio público municipal com os gastos com a escrituração e a emissão das debêntures, com a contratação das distribuidoras de títulos, dos corretores de valores e instituições financeiras envolvidas no negócio e os encargos e reparações decorrentes da anulação das debêntures, tudo a se apurar em execução de sentença nos termos do artigo 14 da Lei 4.717/65;

e) a condenação dos RÉUS no pagamento de honorários advocatícios;

Para que a relação processual se aperfeiçoe, requer a citação dos RÉUS nos endereços mencionados no preâmbulo para que apresentem as suas contestações sob pena de revelia.

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O AUTOR prova as suas afirmações pelos documentos que ora junta, sem prejuízo de completar a prova por outros meios que o Direito faculta, notadamente novos documentos, perícia, testemunha e depoimento pessoal dos RÉUS.

Dá à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Termos em que, pede deferimento.

Belo Horizonte, 28 de agosto de 2015.

Ítalo Souza NicolielloOAB-MG 73.013

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