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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
RACISMO E IDENTIDADE NACIONAL: COMPARANDO ESTADOS UNIDOS E BRASIL
Brasília Junho de 2017
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
RACISMO E IDENTIDADE NACIONAL: COMPARANDO ESTADOS UNIDOS E BRASIL
THAYNÁ MENEZES SANTANA
Orientador: Prof. Paulo César Nascimento
Monografia apresentada ao Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília como requisito para a formação do curso de Ciência Política.
Brasília 2017
RESUMO A monografia busca tratar, por meio de uma pesquisa bibliográfica, as
diferenças entre os contextos raciais presentes no Brasil e nos Estados
Unidos da América, fazendo dessa maneira uma análise de como o racismo
influenciou e ainda influencia a identidade nacional de cada um desses
países. A questão racial tem sido uma questão amplamente estudada,
porém, até os dias atuais, o racismo ainda está presente no cerne das
sociedades contemporâneas, com pessoas enfrentando dificuldades em
espaços de atuação das esferas públicas e privadas. Correlacionando os dois
países com trajetórias históricas diferentes, indaga-se como o racismo foi e é
lidado por cada um desses países.
Palavras-chave: Brasil, Estados Unidos da América, Racismo, Identidade Nacional.
ABSTRACT
The monograph seeks to treat, through a bibliographical research, the
differences between the racial contexts present in Brazil and the United
States of America, thus making an analysis of how racism influenced and still
influences the national identity of each of these countries. Racism has been a
widely studied issue, but to this day racism is still present at the heart of
contemporary societies, with people facing difficulties in public and private
spheres. Correlating the two countries with different historical trajectories, one
investigates how racism was and is addressed by each of these countries.
Keywords: Brazil, United States of America, Racism, National Identity.
DEDICATÓRIA
Aos meus país,
que sempre me incentivaram quando nem
eu mesma acreditava que conseguiria.
Ao Instituto de Ciência Política,
por ter me ensinado tanto nesses últimos anos.
AGRADECIMENTOS
Começo esses agradecimentos colocando que não apenas servem apenas
para este momento de conclusão de curso, mas para a vida. Agradeço não
somente o apoio que recebi durante toda a confecção deste trabalho, como
durante todos os anos de graduação.
Agradeço aos meus pais, Karla e Marcelo, pelo apoio que me deram desde o
inicio da vida, se sacrificando muitas vezes para que eu conseguisse me
manter na faculdade, por seus ensinamentos de vida e por nunca terem me
deixado desistir, sendo meu alicerce durante todos esses anos. Agradeço ao meu orientador, Paulo Nascimento por ter me ajudado em todos
os momentos com esse trabalho, me dando todo o apoio necessário. Agradeço à minha família no geral, por sempre estarem mandando energias
positivas durante todo o curso de ciência política. Por fim, agradeço aos meus amigos. Em Especial, Bruna Albuquerque, Sarah
Cristina Cruz, Rafael Telles, Ian Dieb e Lucas Esteves, por sempre estarem
preocupados com o andamento desde trabalho, cada um de sua própria
maneira. Seja por meio de músicas, documentários, livros ou ligando para
saber como estava. Obrigada, vocês são sensacionais!
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 8
2. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA ......................................................... 10
2.1. Contexto Histórico ............................................................................. 10
2.2. Luta pelos Diretos Civis .................................................................... 11
2.3. Sociedade Americana Atual .............................................................. 14
3. BRASIL .................................................................................................... 20
3.1. Contexto Histórico ............................................................................. 20
3.2. Do século XX aos dias de hoje ......................................................... 23
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 30
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 33
8
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo a análise correlata entre o
racismo Brasileiro e Americano na tentativa de mostrar como cada um criou
sua própria identidade nacional a partir dos contextos históricos que
sofreram. A pesquisa é primordialmente qualitativa, usando essencialmente
da técnica de revisão bibliográfica para tecer a análise sobre a dicotomia
racista entre os dois países.
O recorte temporal se dará a partir de uma breve análise histórico-
cultural do contexto racista desde o momento de abolição do trabalho negro
escravo em ambos os países transportando para o contexto do final do
século XX e começo do século XXI. O Racismo está presente desde a época
colonial de ambos os países, tendo repercussões até a atualidade mesmo
após séculos em que já se fizeram acordos para que haja um fim a esse tipo
de segregação.
Primeiramente, para se entender o que viria a ser o racismo, precisa-
se atentar para um conceito igualmente importante, o conceito de raça.
Dissecando puramente a partir da definição de raça – “divisão tradicional de
indivíduos cujos caracteres físicos biológicos são constantes e hereditários” –
pode-se observar como características físicas influenciaram e ainda
influenciam fortemente o Brasil e os Estados Unidos (DPLP, 2017).
A partir da definição de raça, é passível de entendimento o que
compreende por racismo. Racismo seria a teoria que defende a superioridade
de um determinado grupo sobre outro, sendo embasado no contexto de raça,
justificando determinadas atitudes de separação e preconceito desses grupos
dentro de um país (BBC, 2007).
O início do racismo se deu, principalmente por conta do dinheiro, na
busca de grandes potências se estabelecerem ainda mais no contexto
mercantilista que existia, com os ingleses sendo os precursores desse
comércio que acabou por espalhar para o resto do mundo. Os escravos
nessa época eram vistos como seres sem honra ou qualquer vínculo com
qualquer país sendo essa uma maneira de justificar o direito de escravizar
esses seres considerados inferiores (Ibid., 2007).
9
A escravidão negra está intrinsicamente relacionada com a cultura de
plantacion do contexto mercantil do começo do desbravamento das “novas
terras”, logo após os índios serem vistos como seres humanos que poderiam
ter a alma resgatada por meio da catequese imposta. Dessa maneira, a
igreja, com sua forte influência, conseguiu que os índios não sofressem mais
o processo de escravidão, sendo ela transferida para os negros com apoio da
igreja por conta dos negros não possuírem alma (Ibid., 2007).
Este contexto configura a atual estratificação social sofrida por negros
e pardos, sendo vista a situação de pobreza que os mesmos vivem com uma
perpetuação da inferioridade justificada durante os séculos de objetificação
da vida de pessoas de cor. Por vezes utilizam-se teorias como a do
Darwinismo Social, também conhecida como a teoria da Eugênia, para
explicar o porquê de os brancos estarem acima dos demais povos (BBC,
2007; SKIDMORE, 1976).
Usando de diversos autores que dissertaram acerca do tema entre os
séculos XX e XXI para discorrer sobre como a história influencia até os dias
atuais a relação entre raças tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, como
o racismo se dava e ainda se dá e, ao final, fazer uma análise conjunta dos
dois países dissertando sobre suas semelhanças e diferenças (MEDEIROS,
2015).
A primeira parte do trabalho é composta pelo detalhamento sobre o
contexto de raça e racismo nos Estados Unidos na América. A segunda é o
relato de como se dá o contexto racial no Brasil. Por fim, as conclusões do
trabalho se encontram na terceira e última seção, que será composta por
uma análise entre as semelhanças e diferenças entre os dois países.
10
2. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
2.1. Contexto Histórico
Nos Estados Unidos da América, o racismo está constantemente
atrelado à guerra civil americana e à abolição da escravidão.
A guerra civil americana foi o primeiro passo para a abolição do
sistema escravocrata norte americano, quando os estados do Norte –
estados principalmente industriais que tinham como mão de obra
trabalhadores livres, contrários à escravidão por acreditarem que a mesma
impedia que os EUA crescesse – e os estados do Sul – estados que tinham
sua economia baseada principalmente em plantations de algodão e usavam
da mão de obra escrava em suas fazendas – entraram em uma guerra civil
após a eleição de Abraham Lincoln (KIRCHBERGER, 1991).
Os confederados – estados do Sul – se juntaram para um boicote ao
então presidente dos Estados Unidos por conta do mesmo ser
antiescravagista e por haver a possibilidade deste presidente tornar proibida
a escravidão, dando início à guerra de secessão (Ibid., 1991).
Após quatro anos de intensa guerra nos Estados Unidos, que durou de
1861 a 1865, a união – estados do Norte – finalmente venceu a guerra e
aboliu a escravidão em todos os Estados Norte Americanos (Ibid., 1991).
Com a abolição em 1865, muitos negros americanos e defensores da
abolição viram como um passo para uma sociedade mais justa e com maior
liberdade para todos. Contudo, no início do século XX negros ainda
permaneciam em carácter marginal nessas sociedades, pobres e sem direto
de voto, vítimas de um racismo mortífero, sofrendo na mão da supremacia
branca norte americana (BBC, 2007).
Mesmo após a abolição os americanos ainda possuíam políticas que
separavam sua sociedade por etnia, como one-drop rule. Trata-se da lei anti-
miscigenação e segregacionista que foi usada em diversas regiões dos EUA,
onde qualquer americano que tivesse alguma ancestralidade não-europeia
não era considerado branco, mas uma pessoa de cor e não poderia casar
11
com brancos, gerando ainda mais desconforto entre toda a população
americana (DWORKIN, 2009, BBC, 2007).
Na época, a cultura popular era usada para manter a hierarquia social
e supremacia branca através da estereotipação e ridicularização do negro,
sendo retratado sempre como um ser primitivo, que não consegue controlar
seus anseios perante mulheres brancas, com pouca ou nenhuma inteligência
e etc. Todos personificados em um personagem que ficou conhecido como
Jim Crow – personagem criado pelo ator Thomas D. Rice, que usando
maquiagem blackface, satirizava pessoas de cor com sua música “Jump Jim
Crow” -. Posteriormente o personagem Jim Crow acabou dando nome para
leis (Jim Crow Laws) que reforçavam a desigualdade no cotidiano sul
americano, com um regime de opressão com locais separados para brancos
e negros (BARNES, 1983).
Neste mesmo período a Ku Klux Klan, também conhecida como KKK,
teve um papel chave nas atrocidades – linchamentos e outras atividades
violentas – que aconteceram nos estados do sul. O grupo buscava, por meio
de linchamentos, mostrar a supremacia branca perante outros grupos
étnicos, principalmente negros (BBC, 2007).
2.2. Luta pelos Diretos Civis
Um dos casos que mudou a maneira que muitos americanos viam os
casos de linchamentos foi o de Emmett Till – jovem de 14 anos acusado de
assobiar para uma mulher branca e linchado em Mississipi e morto em
agosto de 1955, visto como um divisor de águas por seus familiares
buscarem a justiça para o ocorrido, mesmo após seus agressores terem sido
absolvidos pelo júri. O enterro de Till foi extremamente impactante por
acontecer de caixão aberto, mostrando o menino todo desfigurado com o
intuito de mostrar as atrocidades das leis Jim Crow. Sua morte é vista como
um dos catalisadores para as ondas de protesto contra Jim Crow (BBC,
2007).
Outro ponto que se mostrou marcante na história americana foi em
dezembro de 1955, quando Rosa Parks, que mais tarde se tornaria símbolo
12
do movimento dos diretos civis nos Estados Unidos, recusou a ceder seu
lugar no ônibus para um homem branco e acabou presa. A recusa levou a um
boicote aos ônibus em Montgomery, Alabama, para que acabasse a
segregação e os passageiros pudessem sentar onde tivessem vontade. O
boicote aconteceu de dezembro de 1955 a novembro de 1956, sendo apenas
o nascimento da luta dos movimentos sociais de direitos civis (BBC, 2007).
Com o primeiro passo dado após o boicote, negros americanos viram
a oportunidade de conseguir mais mudanças favoráveis para o fim da
segregação nos EUA, ou pelo menos com parte dela (DUVERNAY, 2016).
Junto ao boicote de Montgomery surgiu outro nome extremamente
importante para a história do movimento dos diretos civis, Martin Luther King
Jr. Conhecido principalmente por seu discurso “I have a dream” e por sua
maneira de pregar a desobediência civil baseando-se no que Mahatma
Gandhi havia feito na Índia. Luther King participou da criação da Conferência
da Liderança Cristã do Sul (CLCS), composto principalmente por
comunidades de negros religiosos. A CLCS teve papel fundamental na
formação de marchas nos estados do sul americano além de ser grande
incentivador de protestos organizados e não violentos (THEKINGCENTER,
2017; BBC, 2007).
Contudo, muitos desses protestos civis tinham grande represália por
parte da polícia e moradores brancos racistas, tanto que durante o começo
de 1960 – época que as manifestações realmente começaram a ganhar força
– houve ondas de manifestantes presos, ou até mesmo mortos
(THEKINGCENTER, 2017).
King teve participação ativa em várias machas, tendo conseguido o
direito ao voto, fim da descriminação por cor no trabalho, fim da segregação,
entre outros diretos civis que depois foi agregada a Lei estadunidense de
Diretos Civis e de direito a voto (Ibid., 2017).
Em dicotomia com a ideologia pacifista de Luther King, surgiu outro
grande nome na luta pela conquista de direitos civis nos Estados Unidos,
Malcolm X, que pregava três principais pontos:
“O islamismo, o socialismo e a violência como método para
autodefesa e um meio legítimo de conquistas, afinal, todas as
13
mudanças históricas se deram de maneira violenta”
(BARANOV, 2014).
Para Malcolm X, os negros deveriam ter um Estado separado dos brancos,
com economia e leis próprias e independentes, ideias baseadas
principalmente em Elijah Muhammad, o líder da organização religiosa
Nacional do Islã – Nation of Islam (NOI).
“Muhammad taught that white society actively worked to keep
African-Americans from empowering themselves and
achieving political, economic, and social success. Among other
goals, the NOI fought for a state of their own, separate from
one inhabited by white people“ (MALCOLMX, 2017). 1
Além de tudo, Malcolm X pregava que a emancipação negra deveria
vir por “qualquer meio necessário”, fazendo com que ficasse conhecido como
alguém extremamente radical. Contudo, após quebrar seus laços com a NOI
e Elijah Muhammad em 1964, Malcolm reviu alguns dos preceitos que
acreditava, chegando a afirmar que havia conhecido pessoas brancas que via
como irmãos quando foi a Mecca (MALCOLMX, 2017).
Malcolm X foi morto a tiros em 21 de fevereiro de 1965 e Martin Luther
King Jr. em 4 de abril de 1968, deixando o movimento negro sem grandes
líderes que pudessem se apoiar, em uma espécie de limbo. Dividindo o
movimento negro em duas partes, pode-se observar que a primeira parte,
como Luther King afirmava, foi conquistada de maneira relativamente fácil,
como a lei dos direitos civis e o direito a votar; já a segunda parte iria
requerer mudanças mais complicadas e enraizadas como igualdade
econômica e injustiça social (MALCOLMX, 2017; THEKINGCENTER, 2017;
WEST, 1994).
1 “Muhammad ensinou que a sociedade branca ativamente trabalhou para evitar que os afro-americanos se capacitassem e alcançassem o sucesso político, econômico e social. Entre outros objetivos, o NOI lutou por um estado próprio, separado de um habitado por pessoas brancas.” (MALCOLMX, 2017)
14
“Embora as leis dos direitos civis de 1964 e 1968 proibissem a
discriminação, a maioria dos negros continuava vivendo em
habitações precárias, a frequentar escolas inferiores e a ter
uma existência de pobreza“ (BBC, 2007).
2.3. Sociedade Americana Atual
Neste contexto, trazendo para o final do século XX e o começo do
século XXI, observamos por meio do bestseller americano Race Matters, de
Cornel West, que o sistema americano ainda precisa de muitas correções.
Já na introdução, o autor expõe um de seus argumentos centrais, em
que os brancos ainda veem os negros apenas como problemas, não levando
em conta o próprio problema que criam, colocando na “conta” apenas dos
negros as mazelas de crimes e delitos (WEST, 1994).
“Nearly a century later, we confine discussions about race in
America to the ‘problems’ black people pose for whites, rather
than consider with this way of viewing black people reveals
about us as a nation” (WEST, 1994, p. 5 e 6).2
Esse pensamento acaba por refletir em todos os setores da sociedade.
Na política, reflete de maneira que o partido liberal americano vê o desfavor
que vem fazendo para a população de afrodescendentes e buscam minimizar
sua culpa destinando verba para “os problemas” sem que haja uma
discussão mais profunda das reais necessidades dessa marginalização que
ocorre nos Estados Unidos. Enquanto isso, os conservadores veem as
pessoas de cor com os únicos causadores de “sua desgraça”, não
merecendo atenção pública (WEST, 1994).
Sendo visto como um problema estrutural composto por um conjunto
de ações que envolveriam pensadores intelectuais, políticos e a maneira da
própria sociedade americana, observa-se que os Estados Unidos ainda
2 “Quase um século depois, limitamos as discussões sobre a raça na América para os "problemas" que as pessoas negras colocam para os brancos, em vez de considerar com essa maneira de ver pessoas negras revelarem sobre nós como uma nação.” (WEST, 1994, p. 5 e 6).
15
possuem uma espécie de segregação velada, que por mais que fisicamente
tenha sido extinta, nos Estados Unidos bairros miscigenados, escolas, dentre
outros, ainda são compostas por etnias (Ibid., 1994).
Dessa maneira, West afirma que os pensadores americanos estão
estagnados em dois campos, um focado em fatores estruturais e outro em
fatores de comportamento, sem se darem conta que ambos os pontos são
inseparáveis pra um amplo debate explicado principalmente pelo nihilismo
enfrentado por negros nas américas, no sentido de experimentar uma vida
sem amor, esperança e significado (Ibid., 1994).
“It’s primarily a question of speaking to the profound sense of
psychological depression, personal worthlessness, and social
despair. (...) Nihilism is not new in Black America.... In fact, the
major enemy of Black survival in America has been and is
neither oppression nor exploitation but rather the nihilistic
Threat -- that is, loss of hope and absence of meaning. For as
long as hope remains and meaning is preserved, the possibility
of overcoming oppression stays alive. The self-fulfilling
prophecy of the nihilistic threat is that without hope there can
be no future, that without meaning there can be no struggle“
(Ibid., 1994, pp. 20; 22-23).3
O que complica ainda mais a situação seria a falta de lideranças
negras, sendo que as que existem não se atêm aos interesses dos negros
por já estarem muitas vezes enraizadas na política branca que deturpa suas
visões de mundo. Por grande parte, esse fator se deu com conta das
lideranças terem sido mortas em algum período da história americana, como
exemplo de Malcolm X e Martin Luther King Jr., fazendo com que os negros
3 “Trata-se principalmente de falar sobre o profundo sentimento de depressão psicológica, inutilidade pessoal e desespero social. (...) O niilismo não é novo na América negra ... De fato, o principal inimigo da sobrevivência negra na América tem sido e não é opressão nem exploração, mas sim a ameaça niilista - isto é, perda de esperança e ausência De significado. Enquanto a esperança permanecer e o significado for preservado, a possibilidade de superar a opressão fica viva. A profecia auto-realizável da ameaça niilista é que, sem esperança, não pode haver futuro, e sem sentido não pode haver luta "(Ibid., 1994, pp. 20; 22-23).
16
não tenham exemplos em que se espelhar e aceitem opções péssimas na
política pela falta desses líderes (Ibid., 1994).
O principal fator para a falta de lideranças se dá depois do ganho de
direitos civis nos EUA por conta do boom econômico que fez com que negros
passassem a ter um maior poder econômico, fazendo com que o negro de
classe média se tornasse parte da doentia cultura consumidora americana.
“One reason quality leadership is on the wane is black America
in gross deterioration of personal, familial, and relations among
african-americans. [...] Quality leadership is neither the product
of one great individual nor the result of odd historical
accidents. Rather it comes from deeply bred traditions and
comunities that shape and mold talented and gifet persons”
(Ibid, 1994, p. 56).4
Sendo esse o principal porque da necessidade das comunidades
negras na vida dos indivíduos norte-americanos, para que seus jovens
mantenham a tradição de resistência, preocupação com o coletivo e
pensamento crítico – e não apenas casos de conquistas pessoais –
receberão gratificações, tornando uma sociedade ainda mais egocêntrica
(Ibid., 1994).
A Crise da falta de liderança acaba provocando e contribuindo para o
cinismo político que muitos negros possuem, além de encorajar a ideia de
que não conseguirão mudar o contexto racista nunca. Esta crise só seria
resolvida enfrentando o problema de frente, como pontua West:
“it is a matter os grasping the structural and institutional
process that the resources for nurturing colletive and critical
consciouness, moral and commitment (...). We need serious
strategic and tactical thinking abaout how to create new 4 "Uma das razões pela qual a liderança de qualidade está em declínio é a América negra em grave deterioração de relações pessoais, familiares e de relações entre africanos americanos. [...] A liderança de qualidade não é o produto de um grande indivíduo nem o resultado de acidentes históricos estranhos. Em vez disso, vem de tradições e comunidades profundamente criadas que moldam e moldam pessoas talentosas e dotadas "(Ibid, 1994, p. 56).
17
models of leadership and forge the kind of persons to actualize
these models“ (Ibid., 2009, p. 69).5
Quanto ao setor trabalhista, os norte americanos reclamam muitas
vezes da existência de diferenças de tratamento em entrevistas, contudo
West assume outra visão, colocando que o problema não seria exatamente a
cor de pele mas sendo mais por conta de visão política e vivências que os
negros enfrentam em seus bairros. Muitas vezes o grande problema para os
negros marginalizados está principalmente na falta de habilidades
necessárias que os empregos atualmente requerem, deixando-os com
poucas opções e com salários precários (Ibid., 1994).
Muitos negros acabam por justificar seu status quo colocando toda a
culpa nos brancos, tornando a si mesmos mártires do sistema. O racismo dos
brancos americanos não justificaria completamente a posição
socioeconômica que grande parte dos negros está inserida. A justificativa
viria de que mesmo o racismo sendo um dos motivos para esse status quo,
não é o único (Ibid., 1994).
Outro ponto que traz sérios problemas para as comunidades, que
posteriormente estaria diretamente relacionado ao trabalho é a educação dos
jovens negros e seu acesso à mesma. Na concepção primária após o ganho
dos direitos civis seria que por regra o multiculturalismo, ação afirmativa, e a
diversidade seriam adaptados em forma de currículos e projetos escolares,
que ajudariam na admissão de projetos futuros por pretender atingir a
igualdade desses indivíduos social e educacionalmente. Contudo,
“Quaisquer que pudessem ser as controvérsias levantadas
acerca da educação, as escolas mostraram-se
essencialmente neutras e não-partidárias na vida americana.
Limitaram-se a disseminar um amplo, porém vago, conceito de
democracia e processos democráticos, abstendo-se de impor
escolhas significativas à juventude. Parece-me que essa 5 "É uma questão de entender o processo estrutural e institucional que os recursos para nutrir conscientização coletiva e crítica, moral e compromisso (...). Precisamos de um pensamento estratégico e tático sério sobre como criar novos modelos de liderança e forjar o tipo de pessoas para atualizar esses modelos "(Ibid., 2009, p. 69).
18
autodecepcão pública tenha ocorrido de maneira simultânea
ao mito de ‘oportunidades iguais’, harmonizando os
americanos perante as visíveis desigualdades existentes:
disponibilidade e oportunidades educacionais serviram para
criar um campo uniforme – level playing field. As diferenças de
resultado eram aceitáveis desde que fossem consequências
de ações individuais, e não sistêmicas” (ROSENFELD, 1991,
p. 78).
Michael Rosenfeld, parafraseando James A. Banks em seu livro sobre
educação multicultural, explica que para realmente haver uma educação
multicultural em uma escola, seriam necessárias transformações em todas as
relações de poder, desde alunos e professores ao currículo, atitudes a serem
tomadas pelas escalas superiores e etc., sendo esse processo de contínuo
aperfeiçoamento de acordo com as necessidades daquele determinado
momento. (ROSENFELD, 1991)
Juntando todos esses pontos, chega-se a um dos maiores problemas
enfrentados pela sociedade americana atualmente. Em pesquisa feita pelo
jornal CNN junto com a Fundação Família Kaiser, quase metade – 49% – dos
americanos consideram o racismo um grande problema de sua sociedade
enquanto 33% considera que seja de alguma maneira um problema,
superando dados de 1995, onde os EUA passam a perceber que um dos
problemas que muitos consideravam pelo menos parcialmente resolvido
ainda necessita de extrema atenção (CNN, 2015).
Para Eduardo Bonilla-Silva, professor de sociologia na Universidade
de Duke, o termo novo racismo seria precisamente o que acontece
atualmente nos EUA, sendo que após os anos 1960 e o começo de 1970
houve um momento em que as pessoas chegaram a acreditar que o racismo
sistêmico tinha desaparecido, porém só havia se tornado menos visível. Esse
racismo fica visível, principalmente na maneira com que a polícia lida com
negros usando força excessiva. Com a nova era de celulares, internet e
câmeras, todos têm o acesso facilitado à esses recursos, expondo o uso
dessa força excessiva com afrodescendentes (CNN, 2015).
19
O documentário de Ava DuVernay, A 13ª Emenda, trata principalmente
da seletividade do sistema de justiça criminal dos Estados Unidos, que é
constituído principalmente pelo encarceramento em massa de pessoas
negras. A 13ª Emenda dispõe que
"Neither slavery nor involuntary servitude, except as a
punishment for crime whereof the party shall have been duly
convicted, shall exists within the United States, or any place
subject to their jurisdiction" (USA CONTITUTION, 2017).6
DuVernay chega a conclusão em seu documentário que, por mais que
institucionalmente seja proibida a escravidão, o sistema carcerário
americano, composto principalmente por negros junto ao preconceito na
própria policia com diversas noticias de uso força policial excessiva, deixa
claro que nada realmente mudou nos EUA. O Racismo apenas passou a ser
mais velado.
6 "Nem a escravidão nem a servidão involuntária, exceto como uma punição por delito de que a parte tenha sido devidamente condenada, existirá nos Estados Unidos, ou qualquer lugar sujeito à sua jurisdição" (USA CONTITUTION, 2017).
20
3. BRASIL
3.1. Contexto Histórico
O contexto do Brasil já começa com sua maneira diferente de buscar a
independência quando comparado com outros países latino-americanos.
Enquanto nos países hispânicos a independência aconteceu de maneira
total, negando os espanhóis travando lutas separatistas, no Brasil foi feita de
maneira cordial com os brasileiros sendo apoiados por parte da família
Bragança, com regime de plantações tradicionais ainda vigentes usando de
mão de obra escrava (SKIDMORE, 1976).
Com um grande sistema escravocrata em prol dos grandes senhores,
que tinha como base a própria política empregada na época com o sistema
politico de conciliação partidária entre liberais (tentativa de defesa de
interesse dos brasileiros em prol dos portugueses) e conservadores
(defensores do absolutismo) como na casa de comuns inglesa, feito a partir
de debates. Essa estrutura autoritária em que o imperador governava fez
com que o Brasil fosse configurado de maneira que “a monarquia unitária
sufocava a iniciativa local e viciava a formação de opinião” (SKIDMORE,
1976, p.22).
A partir da guerra do Paraguai, o Brasil passou a perceber a falta de
pessoas livres no país, usando de escravos para o serviço militar com a
proposta de serem alforriados caso aceitassem. Essa proposta se mostrou
muito vantajosa para ambos os lados, porém entrou em conflito no momento
em que o governo exigiu que o exército caçasse escravos fugidos, mostrando
assim uma anomalia, pois os ex-escravos reconheciam a importância da
liberdade. Essa anomalia “combinada com as crescentes dúvidas de
legitimidade da escravatura, levou muitos desses militares a uma atitude
receptiva abolicionista e republicana” (Ibid., 1976, p.24).
Com a crise governamental, trazendo o pensamento positivista para o
Brasil, o movimento em prol da abolição eclodiu. Contudo, o movimento era
amorfo e pouco organizado para que conseguisse realmente que a
21
escravidão tivesse um fim, sendo a alternativa proposta por pensadores
liberais da época a abolição gradual.
“Desde o começo, os abolicionistas brasileiros deveram muito
à opinião estrangeira. O tráfico negreiro só terminara depois
de três décadas de pressão britânica com um virtual bloqueio
pela Royal Navy em 1850. E fora o apelo de 1866 dos
intelectuais franceses que provocara a primeira promessa
formal do governo de fazer a abolição. Na realidade, muitos
dos representantes da nova geração confessavam que fora a
censura estrangeira ao Brasil que os galvanizara para a ação“
(Ibid., 1976, pp. 24-25).
Com esses apelos à intervenções externas, trouxe para os
abolicionistas o status de “pouco brasileiros” por parte dos que defendiam o
status quo, colocando dúvidas em seu patriotismo. Eram acusados de colocar
os interesses brasileiros em segundo plano para ganhar apreço de países
estrangeiros (BBC, 2007).
Os abolicionistas acreditam, com base no fator étnico – miscigenação
–, que não existia preconceito racial na sociedade brasileira. Para Nabuco, os
escravos e senhores não nutriram nenhum tipo de desavença com
característica de relações de opressores e oprimidos (SKIDMORE, 1976).
Para os estudiosos da época, como José do Patrocínio, o Brasil era
abençoado historicamente pela colonização portuguesa ter assimilado as
diversas culturas que encontrou no vasto território brasileiro, o que preparou
o país para resistir ao preconceito de raças. Algo um tanto sonhador para
justificar a tentativa de aprimoramento eugênico (Ibid., 1976).
O pensamento abolicionista brasileiro, ao contrário do que aconteceu
na Europa (liberalismo a partir da revolução industrial por meio da tecnologia
e da ciência, que acabou configurando o abolicionismo), surgiu a partir de
tendências intelectuais, mais do que por mudanças profundas na economia
ou tecnologia (Ibid., 1976).
Nos últimos anos de escravidão, muitos dos senhores de engenho,
percebendo a inevitabilidade da abolição completa, passaram a concordar
22
com que a mesma ocorresse em uma tentativa de conservarem os poderes
políticos em suas mãos. Esses proprietários previram que mesmo que a
abolição ocorresse, não traria a transformação econômica e social que os
abolicionistas acreditavam que ocorreria, e quando a Princesa Isabel
finalmente assinou a lei de abolição completa, o Brasil se tornou ainda mais
agrário do que quando tinha economia escravocrata.
“Era o sistema de estratificação social, que dava aos
proprietários de terras brancos ou, ocasionalmente, mulatos
(claros) virtual monopólio do poder – econômico, social,
político. As camadas mais baixas da população, inclusive os
brancos pobres e maior parte dos libertos de cor, estavam
acostumadas à submissão e deferência“ (SKIDMORE, 1976,
pp. 54-55).
Essa estratificação tinha surgido principalmente por conta da
estratificação da escravidão, mas na dada época da abolição, ela já não mais
dependia da escravidão para que houvesse continuidade. Já no começo do
séc. XX, o Brasil já exibia um complexo sistema racial para classificação
racial de natureza pluralista ou multirracial, em contraste com a rigidez
birracial do sistema norte americano (Ibid., 1976).
Por mais que o Brasil não houvesse essa rigidez que apresentava nos
EUA, ainda apresentou a regra de ascendência – a classificação racial é feita
a partir dos antepassados e não pela aparência física. As origens ainda
assim representavam um papel chave na sociedade, com os mestiços
ascendentes tendo que esconder seus fenótipos.
“Pode-se dizer que o mulato foi a figura central da ‘democracia
racial’ brasileira, por ter escalado permissivamente – embora
com limitações ao cume social mais elevado” (Ibid., p.56).
Essas limitações de mobilidade dependiam principalmente de
características físicas, no qual quanto mais negroide menor a possibilidade
23
de mobilidade, e do grau de “brancura” cultural, que englobava educação,
maneiras, riqueza, que era possível alcançar (Ibid., 1976).
Por mais que a abolição trouxe liberdade para negros, os mesmos
permaneceram marginalizados, não conseguindo sair da classe baixa que
foram colocados tanto por fatores culturais como pela qualificação para
exercer empregos no capitalismo urbano, que acaba indo para os imigrantes
melhor preparados. “O fracasso dessa escalada confirmava a concepção
sobre o que a elite tinha deles – de peso morto para o desenvolvimento
nacional” (SKIDMORE, p. 64), provando que por mais que os brasileiros da
época tentassem mostrar o Brasil como um país sem preconceito racial, a
imprensa publicava noticias diárias de discriminação contra negros e mulatos
escuros (Ibid., 1976).
No Brasil, os teóricos da época tinham um grande apresso pela teoria
darwiniana social, em princípio tentando adequar essas teorias à situação
nacional que não se parecia em nada com as europeias e norte americanas
por conta da realidade multirracial divergente (Ibid., 1976).
Essas teorias ficavam pouco adequadas à realidade brasileira por aqui
apresentar o fator de miscigenação, algo que não acontecia nos países que
as escolas teóricas surgiram. Em países europeus e nos EUA, a
miscigenação era vista como algo proibido, um anátema (Ibid., 1976).
3.2. Do século XX aos dias de hoje
Como observado, até o começo do século XX acreditava-se no mito de
democracia social, mais precisamente até a década de 1930, em que o Brasil
negava o problema de raças no país porque a ideologia da época pregava
que discutir o racismo seria perigoso, pois o mesmo geraria ainda mais
racismo. Acreditavam no fato de que caso a discussão acontecesse, algo que
talvez não existisse passaria a existir (MEDEIROS, 2015).
Dessa maneira, o Brasil construiu em torno de si uma ideia de paraíso
racial, onde brasileiros eram extremamente tolerantes e o racismo era algo
que só ocorria em outros países. A imagem era de que negros eram tradados
de maneira humana, sem o atrito que acontecia em outros locais pelo globo,
24
principalmente quando o Brasil era comparado com os EUA por conta de seu
racismo moderado – velado (Ibid., 2015).
Legalmente não existiu segregação no Brasil. Contudo, aqui a
segregação era feita por meio de costume – quase que cultural – em que os
brasileiros separavam lugares para negros e brancos apenas por sempre ter
sido dessa maneira.
O principal pensador que contribuiu com a idealização racial brasileira
seria Gilberto Freyre, em seu livro “Casa Grande e Senzala”, em que via no
português a figura de contemporizador que possuía plasticidade – “sem
ideias absolutas ou preconceitos inflexíveis” –, fazendo com que o brasileiro
teoricamente aceitasse melhor sua miscigenação e não houvessem raças
(MEDEIROS, 2015; SOUZA, 2000).
“Os portugueses... assim que se estabeleceram no Brasil
começaram a anexar ao seu sistema de organização agrária
de economia e de família uma dissimulada imitação de
poligamia, permitida pela adoção legal, por pai cristão, quando
este incluía em seu testamento, os filhos naturais, ou
ilegítimos, resultantes de mães índias e também escravas
negras. Filhos que, nesses testamentos, eram socialmente
iguais, ou quase iguais, aos filhos legítimos” (FREYRE, 2001,
p. 181).
Sua ideia de igualdade racial acabava influenciando o Estado
negativamente por minar as tentativas de haverem políticas de inclusão na
época por acreditarem que não havia necessidade do debate (MEDEIROS,
2015).
Outro autor que disserta sobre o assunto é Sergio Buarque de
Holanda, em que colocava a presença do negro como obrigatória nos
latifúndios, considerando também que a mão de obra indígena não deu certo.
Os portugueses não instauraram no Brasil uma civilização tipicamente
agrícola com a lavoura açucareira por causa da escassez de população de
reino. Dessa forma, não se pode chamar de agricultura o que aconteceu no
25
Brasil num primeiro momento, visto que o caráter da colonização era
totalmente destruidor (modelo indígena) (HOLANDA, 2014).
Ainda na década de 1930, surge o primeiro movimento negro – Frente
Negra do Brasil – após a abolição feita ainda na época do império. O
movimento buscava principalmente a verdadeira abolição, pois não
consideravam a abolição feita verdadeira por não ter inserido o negro com
possibilidades de crescer na sociedade. Apenas deu a liberdade sem fazer
com o negro fosse integralizado na mesma, deixando-o ainda mais marginal
(Ibid, 2015).
Durante as décadas de 1930 e 1940 todos que negavam essa
igualdade racial eram vistos como perturbadores da paz. Para a elite
brasileira da época, políticos e pensadores, o racismo era algo que não
existia, pois o Brasil não possuía um problema racial, mas sim social, em
nada interligado com raça, mesmo que grande parte dos marginalizados da
época fossem, em grande parte, pessoas fenotipicamente negras (Ibid,
2015).
Já na década de 1950 a academia começa a tecer críticas ao mito de
democracia racial no Brasil, sendo em 1951 implementada a primeira norma
contra o racismo no Brasil, ficou conhecida como Lei Afonso Arinos
“que transformava em contravenção penal qualquer prática
resultante de preconceito de raça ou cor. Batizada de Lei
Afonso Arinos em homenagem à seu autor, vice-líder da
bancada da conservadora União Democrática Nacional (UDN)
na Câmara, foi ela, mais do que qualquer outro ato de sua
longa trajetória política, que tornou nacionalmente famoso o
nome do escritor Afonso Arinos de Melo Franco. Sua eficácia,
porém, permanece sob questão: quando o autor morreu, em
1990, aos 85 anos, não havia registro de uma única prisão
feita com base na lei” (O GLOBO, 2013).
A Lei Afonso Arinos ficou conhecida principalmente por sua ineficácia,
porém ajudou a ampliar o debate sobre o racismo por sua ampla cobertura
26
midiática na época. Contudo, a Lei feita era “para inglês ver” e só foi
substituída em 1988
“por um texto mais duro, de autoria do deputado negro Carlos
Alberto Oliveira (PDT-RJ). A Lei 7.716 transformou em crime o
que era apenas contravenção penal, ampliando as penas para
até cinco anos de prisão. No entanto, manteve em linhas
gerais os mesmos tipos de crime previstos por Afonso Arinos.
Em 1997, foi a vez de o deputado Paulo Paim (PT-RS),
também negro, ampliar o alcance da lei antirracismo, incluindo
entre as práticas passíveis de punição o xingamento e a
ofensa baseados em origem e cor de pele” (Ibid., 2013).
Até 1960 a discussão sobre o racismo não passava dos limites
acadêmicos, acontecendo apenas nas universidades e partindo de
intelectuais. Contudo, em 1970 o debate passa a chegar à outras camadas
com o surgimento do movimento negro moderno – grupo dos palmares – que
buscava a criação de uma nova identidade negra, baseando principalmente
no movimento negro americano, como os Panteras Negras – que em seu
cerne buscava exaltar as características negras e proteger os guetos negros
de atos brutais da policia. Entretanto, posteriormente o movimento acabou
tomando outras características que envolviam principalmente o armamento e
a superioridade negra sobre brancos, tornando-se mais radical, com o uso de
músicas, termos e filmes para criar uma identidade brasileira (MEDEIROS,
2015; NELSON, 2015).
Com o fim da ditadura militar (1964-1985), vários intelectuais exilados
voltam para o Brasil e junto com eles novas ideias de como lidar com os
problemas de raça, tornando a discussão ainda mais profunda, até que em
1988 cria-se a fundação Palmares no ministério da cultura – MinC –, que tem
por finalidade cuidar e promover a cultura afro-brasileira, igualdade racial e
manifestações de base africana por meio de politicas públicas (MINC, 2017;
MEDEIROS, 2015).
Apenas em 1995, no primeiro mandato do então Presidente
Fernando Henrique Cardoso, que o Brasil finalmente reconheceu que existe
27
um problema racial e em seu segundo mandato (1998) que inseriu pequenas
medidas de ação afirmativa com objetivo de diminuir as desigualdades que
existiam, trazendo políticas de welfare state (MEDEIROS, 2015; DRAIBE,
2003).
“Essas políticas podem ser obtidas e até mesmo definidas por
meio de todas as ações ou políticas públicas e/ou privadas,
como as citadas acima, que visam a combater o racismo, o
preconceito, a discriminação e as desigualdades raciais em
todas as esferas da vida social” (SANTOS, 2014).
Cardoso implementou os seguintes programas: Bolsa-Escola (MEC),
Bolsa-Alimentação (MS), Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti)
(MPAS), Programa do Agente Jovem (MPAS), Bolsa-Qualificação (MT),
Benefício Mensal – Idoso (MPAS), Benefício Mensal – Portadores de
Deficiência (MPAS), Renda Mensal Vitalícia (MPAS), Bolsa-Renda (seguro-
safra) (MA), Auxílio-gás (MME), Aposentadorias Rurais (MPAS), Abono
Salarial PIS/Pasep (CEF) e Seguro-desemprego (MT). Todos em uma
tentativa de trazer mais equidade para o Brasil, ajudando famílias que não
teriam condições de manter esses serviços (MEDEIROS, 2015; DRAIBE,
2003).
Já em 2002, primeiro mandato de Luiz Inácio “Lula” da Silva, cria-se a
secretária da igualdade racial, quando houve o ápice do processo de
aprovação das politicas de ação afirmativa à negros. Lula deu continuidade
ao que FHC havia começado.
“Provavelmente não haverá́ promoção da igualdade racial em
sentido amplo se, simultaneamente, não houver políticas
universalistas de boa qualidade, especialmente nas áreas de
educação, cultura, emprego/salário/trabalho, saúde,
segurança, previdência e assistência sociais, habitação, entre
outras áreas. Portanto, para que as políticas de promoção da
igualdade racial tenham potencial transformador contra a
prática do racismo, não se pode abrir mão de políticas
universais associadas a elas, uma vez que todas elas são
28
fundamentais para o desenvolvimento do potencial humano de
cada indivíduo, visto que todas essas políticas em interação
possibilitam, de fato, a construção de sociedades mais
igualitárias, baseadas na igualdade de oportunidade/acesso e
de tratamento, onde os indivíduos sofrem com várias ações
e/ou políticas, tais como ações repressivas, ações
valorizativas, ações afirmativas, políticas universais e políticas
específicas (ou focalizadas). Isso ocorre, dentre outros fatores,
porque de um lado o racismo é dinâmico, se renova e se
reestrutura de acordo com a evolução da sociedade e das
conjunturas históricas e, de outro lado, a luta contra o racismo
também não é estática e, desse modo, as formas de reação e
combate a ele são múltiplas, requerendo não apenas uma,
mas várias ações e políticas públicas e/ou sociais e privadas”
(SANTOS, 2014).
Dessa maneira, usando Florestan Fernandes, chega-se à análise de
que as consequências do processo de abolição da escravidão no Brasil e
crítica da suposta democracia racial a partir de um tipo ideal de sociedade,
afirmando que os problemas no Brasil não estariam apenas relacionados ao
problema de desenvolvimento econômico, mas também aos resquícios de
problemas sociais oriundos do período colonial, visto que há um grande
contingente social que não consegue integrar o processo competitivo e
modernizar a indústria e economia no Brasil. Segundo o autor, o negro, na
tentativa de se inserir nesta nova ordem democrática, precisa se adaptar a
um novo estilo de vida, abandonando o estilo agrário e rural e integrando um
cenário urbano e industrializado, trazendo problemas à dinâmica social, pois
o negro, em termos de educação e preparo, não está ao nível deste novo
cenário por não ter tido uma inserção satisfatória após o fim da escravidão
(FERNANDES, 2008).
Utilizando o conceito de “Processos de causação circular cumulativa”,
a forma dramática como diversos processos mecanismos reafirmam a
condição do negro na sociedade (falta de profissionalização, dificuldade de
inserção no mercado de trabalho, não se realiza pelo trabalho, não tem
direito ao voto); negro submetido à anomia, ou seja, é jogado à
29
desorganização e acaba excluído econômica e psicossocialmente da
sociedade (FERNANDES, 2008).
30
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observando o contexto histórico de cada país, chega-se ao preceito
de que a cor no Brasil não era como no EUA que tinha um preconceito social
que não sobrepunha características e talentos de pessoas de cor
(SKIDMORE, 1976).
“Ao contrário do que acontecia nos EUA, os abolicionistas
brasileiros eram raras vezes forçados a discutir a questão de
raça porque os defensores da escravidão nunca, virtualmente,
recorriam a teorias da inferioridade racial. O que acontecia
com os abolicionistas nos EUA quando respondiam a
argumentos políticos e econômicos em defesa da escravidão“
(SKIDMORE, 1976, p. 22).
Com base nas ideias fundamentais de Gobineau sobre o racismo, a
América do norte seguiu um modelo racista baseado em superioridade, na
qual a separação era feita a partir de raças “superiores” e “inferiores”
institucionalmente. O Brasil, no entanto, era constituído por uma sociedade
multirracial, eliminando a possibilidade de que pudesse ocorrer uma
segregação estrita com linhas birraciais, tornando, assim, a prática de
racismo no EUA, via de regra, impraticável aqui no Brasil (Ibid., 1976).
Para os teóricos racistas brasileiros, os EUA possuíam uma sociedade
melhor construída e desenvolvida por apresentarem um “superávit” de
brancos por terem sido colonizados por uma grande potência da época,
Inglaterra. Enquanto que no Brasil os portugueses apresentavam-se como
uma potência em declínio, o que fez com que o Brasil não conseguisse a
plenitude de pessoas superiores (“brancos”) para ser uma potência (Ibid.,
1976). Neste sentido surgiu a tese do branqueamento, que se baseava na
superioridade branca. Na tese do branqueamento juntava-se a ideia de
superioridade, as ideias de que a população negra diminuía
progressivamente em relação à população branca por conta da primeira
apresentar baixa natalidade, maior risco de contrair doenças, além da falta de
31
organização, e porque a miscigenação produz naturalmente pessoas mais
claras em parte pelo gene branco ser mais forte e em parte pelas pessoas
procurarem pessoas mais claras para se relacionar (Ibid., 1976).
A conclusão dessa tese seria a criação de mestiços sadios e não de
degenerados. Esses mestiços estariam em constante evolução para chegar
ao branqueamento da raça branca superior, tanto cultural quanto fisicamente
(Ibid., 1976).
Uma das maneiras de tentar explicar a tentativa de branqueamento do
povo brasileiro consistiu em sempre comparar o Brasil com os EUA. Com
uma ideia de que nos EUA ouve pouca miscigenação, o Brasil queria igualar
a pouca quantidade de mulatos que existiam em sua sociedade. Contudo,
esta ideia é refutada por Skidmore, afirmando que, como toda sociedade
escravista, nos EUA houve uma grande quantidade de miscigenação, sendo
a grande diferença a maneira que esses mulatos eram vistos na sociedade
(Ibid., 1976).
Nos EUA, por ser uma sociedade constituída de maneira birracial, os
mulatos entravam na categoria de negros, não havendo grandes distinções
de tratamento como o que ocorria no Brasil. Mulatos eram colocados no
mesmo patamar dos negros na sociedade norte americana (Ibid., 1976).
Para os pensadores brasileiros, a comparação entre o Brasil e os EUA
era embaraçosa, pois por mais que nos EUA houvesse uma maior
quantidade de brancos que negros em sua sociedade (branqueamento já
estava instituído), o problema racial ainda existia. A conclusão que esses
pensadores brasileiros chegaram foi de que no Brasil a questão racial estava
sendo resolvida sem esforço, enquanto que nos EUA ainda permanecia um
grande desafio de conseguir o branqueamento total (Ibid., 1976).
Isto se deu, na visão dos pensadores do século passado,
principalmente porque houve aproximação entre escravos e colonos, apesar
de dentro dos limites da época. Parte disso se deve às escravas que eram
obrigadas a manter relações sexuais com os donos de engenho. Houve,
assim, uma certa permissão de ascensão social dos escravos “mais
brancos”, (os mais escuros não tinham chance) mas que não acabou com o
preconceito (PRADO JR., 2002).
32
Portanto, chega-se por fim na ideia de que os Estados Unidos
possuem em seu cerne um preconceito de origem, em que pessoas de
origem negra mesmo não apresentando características, são vistas dessa
maneira. No Brasil o preconceito seria feito a partir de fenótipo, onde as
características físicas apresentadas seriam levadas muito mais em conta. A
diferença entre os países era feita por grau de racismo, não pela essência do
mesmo, com os dois sofrendo pelo mesmo problema, mas lidando com o
preconceito em intensidade e maneiras diferentes (MEDEIROS, 2015).
Como observado, durante o início da história do racismo, tanto o Brasil
como os Estados Unidos da América eram extremamente diferentes.
Contudo, na atualidade a situação tem se tornado cada vez mais convergente
com o Brasil largando seu posto de um país com democracia racial – ou seja,
finalmente assumindo que existe racismo no país – e os Estados Unidos
tornando seu racismo menos explícito que no século XX (MEDEIROS, 2015).
33
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