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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Trabalho FInal de Graduação VInicius Langer Greter Orientador: Jorge Bassani
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1CAPA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
DEZEMBRO DE 2012
RADIAL LESTE: ENSAIO PROJETUAL NA METRPOLE CONTEMPORNEATRABALHO FINAL DE GRADUAO
BANCA
Prof. Dr. Jorge Bassani | orientador
Prof. Dr. Karina Oliveira Leito | fauusp
Prof. Arq. Wanderley Ariza | convidado
AGRADECIMENTOS
Agradeo, no necessariamente nesta mesma ordem
ao Bassa, Wander e K por me orientarem por coisas alm dessa tal de arquitetura;
mame que ainda me chama de vinicinhus;
ao meu pai que nasceu h 10 mil anos atrs;
s amigas e amigos que me chamam por viiini ou outra alcunha, em especial ao Vidro, ao NADA,
Maleta, ao So Joo da Barra e Green Hair que contribuiram com este trem chamado
caderno;
ao Giordano;
gatinha;
aos meu irmos, avs, e outros que compartilham de alguma parcela do meu cdigo gentico;
Maria Quitria da Calunga.
ao Palmeiras no, porque ser rebaixado de novo no ajudou em nada!
Ridin down the highwayGoin to a showStop in all the bywaysPlayin rock n rollGettin robbedGettin stonedGettin beat upBroken bonedGettin hadGettin tookI tell you folksIts harder than it looks
Its a long way to the top if you wanna rock n rollIts a long way to the top if you wanna rock n roll
If you think its easy doin one night standsTry playin in a rock roll bandIts a long way to the top if you wanna rock n roll
Hotel motelMake you wanna cryLady do the hard sellKnow the reason why
Gettin oldGettin greyGettin ripped offUnder-paidGettin soldSecond handThats how it goesPlayin in a band
Its a long way to the top if you wanna rock n rollIts a long way to the top if you wanna rock n rollIf you wanna be a star of stage and screenLook out its rough and mean
Its a long way to the top if you wanna rock n rollIts a long way to the top if you wanna rock n rollIts a long way to the top if you wanna rock n rollIts a long way to the top if you wanna rock n roll
Well its a long wayIts a long way, you shouldve told meIts a long way, such a long way
Angus Young, Malcolm Young and Bon Scott.
SUMRIO
11 resumo
13 introduo
21 cidade contempornea
44 metrpole paulista
77 ensaio projetual
ltima pgina bibliografia
RESUMO
A motivao e objetivo principais do presente trabalho propor
uma ideia de metrpole mais justa socialmente. No tem pretenso de criar
uma ideia original, mas apenas e isso de mostrou durante o percurso ser
de elevado grau de dificuldade apropriar-se das discusses existentes
nesse sentido tanto de anlise quanto de propostas, para revelar na sntese
delas a ideia a ser proposta.
Para atingir este objetivo, o trabalho cruzar duas linhas de pes-
quisa consideradas paralelamente, uma em cada captulo. A pesquisa sobre
as principais teorias urbansticas que deram forma durante o sculo XX s
maiores e principais cidades do mundo a primeira delas. Nesse captulo
uma breve antologia terica comentada tentar dar conta de explicar no
campo urbanstico: qual era o projeto de metrpole do incio do sculo XX (a
cidade funcional modernista); porque ele no funcionou como pretendia-se;
e quais foram as reaes que gerou um novo projeto, esse ainda em fase de
teste, a cidade contempornea. No captulo seguinte e tambm de forma
breve, ser apresentada uma anlise de So Paulo mostrando histrica
e conceitualmente como se formou enquanto metrpole, espelhando-a
evoluo conceitual apresentada no captulo anterior. A inteno, por um
lado, mostrar como apesar de muito descontrolada e rpida, toda sua
trajetria de desenvolvimento se deu paralelamente evoluo das teorias
urbansticas e, por outro, como essas teorias foram subvertidas em favor da
injustia social ou simplesmente no deram conta de intervir num contexto
diferente dos quais elas foram geradas. No ltimo captulo ser apresentado
um ensaio projetual que se baseie nas leituras dessas teorias aplicando-as
no universo metropolitano paulistano, mas tomando um justo cuidado para
se diminuir as possibilidade de ser subvertido e aplicado como uma ideia
fora do lugar.
Uma motivao secundria, mas muito importante, totalmente
de cunho pessoal. Desde muito antes de iniciar o Trabalho Final de Gradu-
ao, imaginava como ele poderia me fazer evoluir como pesquisador/pro-
jetista apto a exercer a deliciosa profisso de arquiteto e urbanista. Nesse
sentido, os temas escolhidos e a escala da interveno foram proposital-
mente e conscientemente definidos por saber que eu teria enorme dificul-
dade em compreend-los em sua complexidade, principalmente ao tentar
relacion-los. A cada olhada para as plantas da cidade me mostrava uma
dimenso mais profunda; a cada pgina lida de alguma teoria me revelava
mais dimenses possveis. E a cada tentativa de relacionar um com o outro
me colocava mais inseguro sobre o primeiro trao a ser desenhado e a
primeira palavra a ser escrita. Por esse motivo - e tenho conscincia de que
no uma justificativa muito convincente o texto foi escrito de forma rela-
tivamente fragmentada. Em algumas vezes a sequncia de temas se confun-
de um pouco, inclusive com algum grau de prolixidade e redundncia. Isso
se deveu a uma tentativa de no engessar a articulao das ideias expostas
a uma linearidade que explique passo a passo a discusso. Espera-se que o
leitor compreenda no conjunto dos temas levantados paralelamente, muitas
vezes em tpicos, as relaes estabelecidas pelo trabalho que nem sempre
estaro muito explcitas e claras.
11
INTRODUO
13
No contexto atual das metrpoles contemporneas, multides se
cruzam diariamente em atividades mltiplas, mas quase sempre subordina-
das de alguma forma ao processo produtivo de mercadorias e cultura, seja
para produzir ou consumir. Compem uma intensidade de fluxos que ocupa
as 24 horas do dia conectando moradias, comrcio, empregos, instituies,
espaos culturais ou simplesmente nas tarefas cotidianas como ir padaria
ou visitar amigos. Essa rede de fluxos est intrinsecamente conectada
estrutura de cada lugar: onde se localizam os empregos, como as classe
sociais se dividem pelo territrio, qual o nvel de qualidade da infraestrutura
viria e de transportes que cada bairro tem, etc. Por sua vez, a anlise do
territrio tendo em mente as relaes que as diversas partes mantm entre
si revela sua estrutura social: uma sociedade segregada em classes econ-
micas, na qual, como desvendou Marx h mais de um sculo, uma pequena
parcela da populao domina os meios de produo e submete ideolgica
e coercivamente todo o restante em seu prprio benefcio. Ao se observar
as origens e destinos dos fluxos e como cada parte da cidade equipada
revela-se quem so e onde esto cada ator desse cenrio. Quanto mais uma
cidade esteja inserida dentro da estrutura globalizada da economia de mer-
cado, mais esse quadro pode ser aplicado a ela, pois esta estrutura depende
e estimula, entre outras coisas, da hierarquizao social em classes de
distintos poderios econmicos. Entretanto, por condies em comum como
proximidade geogrfica e poltica ou fatos histricos compartilhados, essa
estrutura se manifesta com definidas peculiaridades comuns a um grupo ou
outro de cidades.
No presente trabalho, apesar de estudarmos a capital paulista,
prope-se, mais profundamente, uma investigao sobre as metrpoles
latino-americanas, pois muitas delas apresentam semelhantes processos
histricos de formao, como se ver mais adiante. Portanto, a importn-
cia desse recorte se coloca ao supor que o ensaio projetual apresentado
poderia ser adaptado as metrpoles latinas e brasileiras, respeitando suas
questes locais, ao passo que no teria a mesma facilidade de aplic-lo a
metrpoles com outras caractersticas como Tquio ou Nova York, exata-
mente por terem formaes sociais histricas diferentes.
RADIAL LESTE: ENSAIO PROJETUAL NA METRPOLE CONTEMPO-RNEA
Em So Paulo, no difcil identificar espacialmente onde cada
estrato social ocupa seu territrio. No so limites fsicos precisos e nem
delimitam territrios exclusivos a um ou outro desses estratos, mas visvel
onde cada um deles predomina. Considerando indicadores como distribui-
o da populao nas cidades segundo sua renda e grau de escolaridade,
densidade habitacional de cada bairro, oferta de empregos por regio,
distribuio de equipamentos pblicos, entre outros, pode-se identificar
diversos permetros de possveis intervenes dadas as possibilidades que
apresentam de sua prpria transformao como instrumento de transfor-
mao da cidade como um todo. Transformar as margens do rio Tiet em
parque, por exemplo, implica uma reviso de todo a estrutura de mobilida-
de da metrpole. So inmeros os casos possveis. Entretanto, entre esses
diversos casos possveis, foi escolhida a Radial Leste por entend-la dos
mais importantes produtos dos conflitos que formaram So Paulo. Nela
esto registrados em diversos nveis, muitos praticamente imperceptveis,
14
a histria da cidade e deve ser a partir de sua transformao que o futuro
da metrpole pode sonhar com dias melhores.
No presente trabalho proponho uma interveno urbanstica de
transformao desse importante eixo virio composto por uma srie de es-
truturas como avenidas, viadutos, elevados, tneis e sistema de transporte
pblico de massa. Para essa proposta sobre parte do conjunto que compe
a Radial Leste obter o xito hipottico que todo projeto carrega, foi neces-
srio intervir em alguns bairros lindeiros, tais como Brs e Belm. Algumas
diretrizes de interveno foram adotadas visando o redesenho apresentado
no projeto. A interveno nos bairros e na Radial teve de se subordinar a
uma viso ampliada da cidade de So Paulo, na qual deve ser considerada
sua estrutura scio espacial em que pesem, principalmente, a distribuio
da populao no territrio, os fluxos de pessoas, informaes e mercadorias
e sua urbanizao precria. Um projeto que interfira nessa grande estrutura
que a Radial Leste e os bairros vizinhos deve entender sua insero no
contexto municipal de uma cidade de 11 milhes de habitantes. Agravando
toda essa complexidade temos a composio da Regio Metropolitana de
So Paulo, na qual a Radial Leste desempenha funo chave em seu funcio-
namento.
Apesar de um ttulo bem especfico e de uma proposta bem defi-
nida, a discusso deste trabalho no ser exclusivamente dedicada Radial
Leste, pois mesmo que a proposta projetual se limite ao redesenho da via
expressa, cada trao foi pensado em seu impacto nos bairros, na cidade e
na metrpole. Portanto, o recorte territorial neste lugar pretende, em ltima
instncia, servir de base para abordar uma metodologia de trabalho para
ensaio projetual. Em outras palavras, a Radial Leste como objeto de inter-
veno servir de modelo de discusso dos problemas emblemticos da
metrpole contempornea que foram gerados pela enorme e extremamente
veloz expanso que este modelo de ocupao do territrio apresentou no
decorrer do sculo XX em nosso continente.
SOBRE A AMRICA LATINA
Basicamente, duas fontes foram suficientes para justificar este
recorte: a vivncia pessoal atravs da visita a algumas dessas cidades e a
convivncia com alguns de seus moradores e uma bibliografia sobre a hist-
ria da formao de nosso continente.
Intercmbio e viagens - depoimento
Por conta da visita de uma grande quantidade de intercambistas
europeus e latinos FAU (holandeses, portugueses, mexicanos, argentinos,
franceses, portugueses, colombiano) ficaram claras diversas caractersticas
que, a despeito de sermos todos seres humanos, nos diferenciam ou nos
assemelham a outros povos.
evidente nas conversas, na forma de posicionar-se perante a
conflitos e situaes diversas cotidianas minha quase imediata identifi-
cao que ocorria com aqueles vindos de universidades latinas. A forma
como descreviam suas cidades, sua populao, seus governos, sua cultura.
Tudo sempre muito mais palpvel do que um imaginado mundo europeu
no qual a noes como a de urbanidade se encontra em outras dimenses
15
de entendimento. No foram poucas as vezes em que ouvi um argentino
descrevendo seu pas como se fosse o meu ou um europeu se espantando
com nossa forma de viver quase que improvisada a seus olhos. A princ-
pio ocorre a quase natural necessidade de nos enxergarmos como seres
inferiores ainda num longo caminho para se chegar ao nvel europeu de
desenvolvimento institucional, cultural, poltico. Esperando sempre pelas
novas ideias vindas para nos salvar de ns mesmos (na verdade, deles)
como quem pede perdo por ser o que . E isso intercalado por diversos
momentos ufanistas, esses sim, auto declarados: melhores mulheres do
mundo, temos as melhores praias, somos mais divertidos e por a vai.
Ou ento alguns dos colegas devidamente criados desde o bero j dire-
cionados a uma viso aliengena de seu prprio pas conversavam em tom
blas sobre como realmente Berlim era um exemplo de cidade cultural ou
como Viena era de fato lindssima, confirmando a suposta superioridade,
mesmo que a maioria dos gringos caiam no samba: no demora muito
tempo pra perceber coisas que, talvez, de to banais se confundam com
o som ambiente e passem despercebidas. A principal delas a de como,
apesar de qualquer juzo de valor que oriente a definio do que ou no
mais evoludo, na prtica a nica ideia possvel de se afirmar que somos
diferentes. Passamos por processos diferentes, temos uma ideia de tempo
historicamente construda como povo diferente, relaes sociais e afetivas
diferentes, etc. Mesmo o capitalismo que nos une a todos, nos diferencia
enquanto o papel que cada pas desempenha na ordem dita global.
Creio que ainda falta uma conscincia mais madura do que ns,
enquanto latinos, temos em comum e que devemos buscar em ns mesmos,
ainda que com contribuies externas, as solues para nossos entraves.
Imagino sempre como seria se os ditos pases desenvolvidos afundassem no
oceano... Ficaramos desesperados nos perguntando: quem nos ir enviar
o prximo filsofo, o novo conceito artstico, a nova ordem?! Claro que
temos tericos, artistas, cientistas do mais alto padro como Milton Santos
e Ansio Teixeira, mas ainda me parece que existe uma certa dependncia
conceitual externa.
Amrica Latina, as Cidades e as Ideias
A bibliografia usada aqui como referncia limita-se a um nico
volume chamado Amrica Latina, as Cidades e as Ideias, escrito em 1976
pelo historiador argentino Jos Luis Romero. Outros nomes brasileiros como
os socilogos Jos de Souza Martins e Fernando Henrique Cardoso ou his-
toriadores como Warren Dean e Srgio Buarque de Hollanda, por exemplo,
contriburam em muito para a tomada de conscincia sobre as peculiarida-
des da formao da sociedade brasileira, mas justamente a abrangncia
continental dessa obra que se faz justificar.
O livro classifica os diversos perodos pelo qual julga conveniente
separar a histria do que h de comum entre os pases latino-americanos,
observando justamente na insero do continente dentro de uma economia
cada vez mais globalizada o denominador comum. Comeando por explicar
as fundaes, passando pelo que chama de Ciudades hidalgas, ciudades
criollas, ciudades patrcias, ciudades burguesas, ele chega no ltimo ca-
ptulo, que o que mais interessa para a discusso do trabalho: las ciuda-
des massificadas. As cidades massificadas uma outra forma de nomear o
mesmo fenmeno que o das metrpoles. E a metrpole, segundo o autor,
16
s pode existir enquanto cidade massificada. Romero, nesse captulo, inicia
sua exposio a partir da crise econmica de 1930, deflagrada nos Estados
Unidos: La crisis de 1930 unific visiblemente el destino latino-americano
(ROMERO, p.319). A escassez do fornecimento de produtos industriais dos
quais dependiam os pases latino-americanos para o crescimento que j
despontava h algumas dcadas. Com a crise os capitalistas locais de cada
pas investiram na indstria, ainda incipiente e limitada, seja por substitui-
o de importaes ou por falta de investimento estrangeiro, criando e/ou
desenvolvendo rapidamente a economia e mercado internos. A indstria
nesse momento atraa enormes contingentes de pessoas do campo para
trabalhar nas cidades, sem a preocupao se a quantidade de empregos era
condizente com a quantidade de pessoas que chegavam. Na verdade, essa
caracterstica sempre favoreceu a prpria indstria ao configurar o conheci-
do conceito desenvolvido por Karl Marx exrcito industrial de reserva cuja
principal consequncia o rebaixamento de salrios.
A consequncia para o sitio urbano hoje nos obvia: enormes
contingentes populacionais migrando em massa e em um curto espao de
tempo para um mesmo lugar sem o acompanhamento ou planejamento por
parte do poder pblico, que se limitava, no caso paulistano, por exemplo,
a manter uma hospedaria para cadastrar e receber por alguns dias os que
chegavam em busca de trabalho. E no apenas do campo vinham as pesso-
as. De cidades mdias e pequenas tambm migravam milhares a ponto de
algumas delas se tornarem por um bom tempo em cidades fantasmas, como
foi o caso de Ouro Preto, Tasco (Mxico) e Sucre (Bolvia). Em pouco tempo,
aquelas cidade onde se haviam construdo uma sociedade segregada come-
aram a revelar em suas estruturas fsicas a peculiaridade de sua estrutura
social. O crescimento populacional obrigou as classe altas a desenvolve-
rem seus subrbios residenciais, acessveis apenas por automvel, e que
podia, pelo preo do solo e acesso, deixar os invasores bem distantes.
No Rio de Janeiro nasceram Copacabana e Ipanema; em Lima, Miraflores e
Monte Rico; em Buenos Aires, Barrio Norte y San Isidoro; em Montevideo,
Pocitos y Carrasco: Sus habitantes acusaban un deseo de tranquilidad y re-
poso, pero era evidente que marchaban em busca de exclusividad (ROME-
RO, p.354). Desde a origem do processo, os resultados j estavam deter-
minados: ganhando baixos salrios e sem poltica pblica de acolhimento
de tanta gente, as pessoas foram ocupando as rea prximas as indstrias,
muitas vezes habitando casas construdas pelos prprios industriais onde se
pagava um aluguel desproporcional aos salrios. E j se dirigiam as massas
para zonas perifricas, de risco, ou seja, longe da cidade propriamente dita,
desprovidos de qualquer cobertura digna, isso quando existia, de servios
pblicos e infraestrutura.
Y los sectores de medianos y bajos ingresos que aspiraban sola-mente a adquirir una vivenda para alojarse deban dirigirse hacia los sucessivos anillos perifricos que iban aparecendo, donde todavia los precios no hubieran entrado definitivamente em la espiral especulati-va.
(ROMERO, p. 351)
Era fcil reconhecer um migrante. Seus trajes, o modo de olhar,
sotaques. Mas como explica Romero, nunca os migrantes, de maneira geral,
17
quiseram formar outra sociedade, seno incorporar-se a essa que haviam se
introduzido, essa que admiravam e invejavam, essa que, por outro lado, os
rejeitava e os agredia. Foi justamente a fuso dos setores populares preexis-
tente e dos migrantes que constituam originalmente as massas das cidades
latino-americanas. E passaria um bom tempo at que essa massa percebes-
se e aceitasse que a estrutura da cidade chamada por Romero de norma-
lizada pertenciam tambm a ela. Para uma cidade originalmente constitu-
da de equipamentos, vias, transportes para certo nmero de pessoas, o
enorme crescimento populacional congestionou e de certa maneira destruiu
toda a urbanidade que as pessoas educadas estavam acostumadas. Antes
se podia ceder gentilmente a passagem. Agora era necessrio empurrar e
defender sua posio, com o consequente abandono das regras conven-
cionais prprio das pessoas educadas que tradicionalmente habitava essa
cidade. E se as moradias para quem trabalhavam nem sempre eram as mais
adequadas, para aqueles que no conseguiam empregos nas indstrias,
inseridos compulsoriamente nas classes excludas e que viviam (e vivem) de
meios alternativos e improvisados de obter alguma renda, no sobrou outra
opo seno a de criar com as prprias mos ou sob o aproveitamento de
agentes ilegais as prprias moradias. Ficaram conhecidos por nomes diver-
sos em cada pas: callampas,no Chile, villas misria, e logo, simplesmente,
villas,na Argentina, barriadas, no Peru, cantegriles, no Uruguai, ciudades
perdidas,no Mxico, e,finalmente, favelas, no Brasil. A metrpole latino
-americana propriamente dita formada em um extremo pela minoritria
parcela normalizada e por outro pela grande parcela excluda separados por
gradaes. Na verdade, esses dois polos esto intimamente integrados e
no podem viver um sem o outro.
Romero ressalta que a massificao, ao contrrio do que muitos
gostariam de acreditar, contemplou, inclusive as classes mais altas. Todos
vivemos segundo regras determinadas e padronizadas de comportamento e
de consumo. Se fcil se perder ao ver imagens de favelas de Medellin ou
de Recife, a imagem construda para a sociedade normalizada no diferen-
te:
Las torres modernas vidrio y alumnio se transformaron em los baluartes de esta cultura cosmopolita [...] sin saber bien si estaban em Mxico, San Pablo o Buenos Aires, porque las diferencias desaparcan em el ambiente cosmopolita e internacional. Slo el perfil y el color de la tez del personal de servicio podia sembrar alguna duda
(ROMERO, p.371).
A cidade massificada rapidamente se imps sobre a cidade ar-
caica que a precedeu. Em pouco tempo, toda uma estrutura scio espacial
tradicional na qual uma estrutura social era bem definida com os nobres
das elites locais em seu papel dominante e ocupando os lugares que cons-
truram para si , necessitou adequar-se a uma novidade que eles mesmo
trouxeram. Assim se formou um quadro bsico das metrpoles latino-ameri-
canas, cujos pontos principais que interessam ao trabalho so:
- centros originalmente construdos para as elites abandonados
em sua ocupao (pois mantiveram a propriedade) e de uma maneira ou de
outra, degradados e sub-ocupados com baixas densidades, muitas vezes
de maneira improvisada;
18
- bairros elitizados centrais funcionando configurando bolhas de
servios e qualidade de vida comparveis aos pases de primeiro mundo;
-massa populacional ocupando os gradativos anis perifricos,
menos equipados e estruturados quanto mais se distanciam das bolhas
elitistas;
- sociedade segregada, na qual uma parcela extremamente pe-
quena da populao incorpora de maneiras direta ou indireta o ganho social
coletivo tendo nos governantes seus principais parceiros;
- monoplio em geral como o da propriedade do solo, urbano e
rural, da mdia, e do crdito financeiro, como principal instrumento de manu-
teno do poder.
Essa simplificao serve apenas de balizador de uma discusso
muito mais ampla: os cortios e algumas favelas, por exemplo, inseridas em
bairros centrais e at dentro de bairros elitizados, como o caso de Parais-
polis em relao ao Morumbi, inserem conceitos de periferia social e perife-
ria geogrfica. sob essas caractersticas que tem em comum algumas das
principais cidades latinas que se procurar intervir.
Projeto pblico
O presente ensaio concentra toda a sua energia na discusso do
planejamento e desenho urbanos segundo premissas definidas em funo
do sonho de reverter o quadro metropolitano atual. Ainda que definamos por
instrumentos, leis, e diretrizes como deve ser essa cidade conceitualmente,
ela s possvel de existir ao ser construda, materializada nos equipamen-
tos, edifcios, espaos pblicos, etc. Os desenhos desses equipamentos
e espaos devem ter participao direta de arquitetos e outros profissio-
nais pertinentes, recuperando de certa forma uma funo cada vez mais
atribuda iniciativa privada, do mercado arquitetnico, sobrevivente to
somente de lucros. Projetos como o plano de Cerd para Barcelona ou os
do departamento de edificaes da prefeitura de So Paulo (EDIF) garantem
altos graus de idoneidade e qualidade perante aos reais interesses coletivos.
Parte-se do principio de ter o poder pblico como definidor no somente do
arcabouo legal e instrumental, mas tambm como idealizador, inclusive, do
desenho de projeto da cidade que se deseja construir.
PARA CONCLUIR
Em resumo, esse trabalho final de graduao pretende discutir
a metrpole latino-americana contempornea sob a tica dos conflitos de
classes sociais e sua materializao no territrio urbano tomando a cidade
de So Paulo como objeto de anlise e a Radial Leste como objeto de inter-
veno projetual.
19
cidade contempornea
21
BREVE ANTOLOGIA TERICA
A concepo Radial Leste, assim como a maioria das grandes
obras que o poder pbico executou na cidade, partiu de ideais sempre oti-
mistas que continham uma ideia de cidade para o presente e o futuro. Uma
via dessa natureza dificilmente brotaria como um sopro aleatrio da mente
de um Prefeito qualquer. Muitas discusses de mbito mundial engendraram
sua origem, ainda enquanto rua comum no sculo XIX, e justificaram todas
as transformaes gradativas at se tornar uma via expressa no meio do
tecido urbano. No s a via em si, mas toda a malha urbana conectada a ela
na escala do bairro e da metrpole passaram por esse desenvolvimento.
Dessa forma, antes de propor o ensaio projetual para a Radial
Leste e os bairros que a ladeiam, se mostra necessrio percorrer brevemen-
te a construo do pensamento urbanstico do sculo XX como forma de
entender quais foram os processos e intenes que geraram aquele espao
e quais as discusses que reverberam at hoje e que a mantm intacta,
cumprindo sua funo de carregar diariamente milhes de pessoas por
seus diferente modais de transporte de suas casas aos trabalhos e outros
servios da cidade.
E mais importante de se entender como se chegou a esse estgio
de evoluo construir ferramentas para que a interveno signifique um
estgio muito superior de uso do solo urbano; que signifique maturidade nas
intenes e solues para os problemas da metrpole contempornea
O MODERNISMO
O modernismo pode ser visto como um movimento que tem base
na crena do avano do desenvolvimento por meio de mtodos cientficos.
Ou seja, caracteriza-se por uma viso positiva do mundo tecnicizado.
O domnio cientfico da natureza prometia liberdades da escassez, da necessidade e da arbitrariedade das calamidades naturais. O desen-volvimento de formas racionais de organizao social e de modos racionais de pensamento prometia a libertao das irracionalidades do mito, da religio, da superstio, liberao do uso arbitrrio do poder, bem como do lado sombrio da nossa prpria natureza humana. Somente por meio de tal projeto poderiam as qualidades universais, eternas e imutveis de toda a humanidade ser reveladas. (HARVEY, 1993, p.53)
Portanto, no seria mais questo de opinies subjetivas, mandos
e desmandos divinos e diablicos ou de gostos pessoais as principais fontes
de valores, conhecimentos e ordens que iriam reger a vida das pessoas a
partir de ento. As escolhas deveriam ser sustentadas atravs de argumen-
tos racionais e comprovados pelo mtodo cientfico, no qual se chega ao
conhecimento a partir da observao controlada de fenmenos que confir-
mam uma hiptese preestabelecida. Esse processo estabelece uma teoria
cientfica. Comprovada uma teoria qualquer, a satisfao geral seria atingida
e totalmente aceita, pois, nesse momento, se torna uma verdade. Uma
verdade apenas questionvel at que se comprove atravs de procedimento
semelhante haver outra que a destitua de sua condio.
22
1http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAD8AAB/a-diferencs-en-tre-pos-modernismo-pos-estru-turalismo. Acesso em setembro de 2012
No sculo XIX, poca em que se chegou ao auge da formulao
terica que formatou esse raciocnio, a revoluo industrial explodia em
inovaes tecnolgicas que aos olhos de qualquer humano, provido de
mnima inteligncia e sensibilidade, saltavam mais mgicas que qualquer
conto de fadas: cmera fotogrfica, linhas de ferro, o ao, a energia eltrica,
vidro... perfeitamente compreensvel a esperana que a tecnologia trazia
para solucionar problemas e fantasias de toda ordem que at ento nenhum
deus ou demnio havia conseguido alm das ameaas. O mito da mquina
amparado pelo culto racionalidade exigiam ordem em todas as instncias
das relaes do homem consigo mesmo, com a sociedade e com a natureza.
Entretanto, apesar do fascnio que qualquer fasca reluzente do ferro gusa
em produo pudesse causar, a indstria ainda dependia da padronizao
e da produo em srie repetitiva para sustentar seu desenvolvimento e tal
caracterstica se traduziu analogicamente em todos os setores, inclusive o
do urbanismo. Para chegar ao maior nmero possvel de consumidores, era
necessrio padronizar numa escala alm de qualquer regionalismo. Padroni-
zar moradias, comportamentos, fluxos, desejos em nome de uma eficincia
tal qual a da mquina como forma de garantir a justia social. A crena no
progresso linear, nas verdades absolutas e no planejamento racional de
ordens sociais ideais sob condies padronizadas de conhecimento e de
produo era particularmente forte. Por isso, o modernismo resultante era
positivista, tecnocntrico e racionalista (HARVEY, 1993, p.42)
Tempos Modernos (1936)
www.doctormacro.com | acessado em novembro de 2012
23
vas, culturais e simblicas antes de qualquer lgica purista e reducionista.
Os planejadores modernistas de cidades, por exemplo, tendem de fato a buscar o domnio da metrpole como totalidade ao projetar deliberadamente uma forma fechada, enquanto os ps-modernistas costumam ver o processo urbano como algo incontrolvel e catico, no qual a anarquia e o acaso podem jogar em situaes inteiramente abertas. [...] fato mais espantoso do ps-modernismo: sua total acei-tao do efmero, do fragmentrio, do descontnuo e do catico. (HARVEY, op. p.49)
O modernismo totalizante enxerga o ser humano como ser
provido de inteligncia substancialmente racional e consciente e capaz de
compreender e adotar princpios acima de qualquer suspeita de natureza
dubitvel. O ps-modernismo catico enxerga que apesar de qualquer infe-
rncia lgica, na maior parte do tempo estamos agindo segundo instintos,
tradies, medos, valores, contradies e da se submete aos processos
abertos e espontneos. Pode ser apenas como uma reao direta ao moder-
nismo a partir de uma viso tradicionalista e saudosista. O ps-modernismo
pode ser visto tambm como uma evoluo ou continuidade do modernis-
mo. As formas mais complexas e abertas de se enxergar a existncia hu-
mana no seriam mais do que um avano da prpria economia de mercado,
na qual a indstria j pode oferecer, por exemplo, uma srie de solues
personalizveis, dando a impresso de no estarmos mais sendo regidos
sob nenhuma direo padronizadora. Na verdade, a definio mais precisa
de ps-modernismo seria a de uma srie multidirecional de reaes perante
as limitaes do modernismo. Uns pregando sua extino formulando novos
modelos, outros bradando sua extino em direo a um retorno ao passado
ideal hipottico, outros em sua moralizao, etc. um movimento no qual
todos os fatores que foram excludos da atomizao racionalista por serem
PS-MODERNISMO
Mas o modernismo falhou. No completamente, mas falhou. Era
um sistema rgido, calcado no iluminismo racionalista como uma reao
absoluta a tudo que remetesse aos vcios medievais religiosos e corteses,
num esforo sobre-humano de negar toda essa tradio milenar. Ao tentar
alcanar o sobre-humano, pensou que podia abrir mo de ser humano. E
ser humano no sempre agir de acordo com alguma regra, algum funda-
mento lgico incontestvel ou predeterminao importada diretamente
do Mundo Ideal. A realidade conflituosa, controversa e cada um desses
seres humanos tem em sua natureza a capacidade de produzir sua prpria
lgica. Padronizar com um argumento racional e esperar que as pessoas
obedecessem se mostrou uma larga ingenuidade.
Fundamentalmente refere-se a uma oposio ou transio com a modernidade e com o iluminismo; contra as regras e cnones do classicismo. O ps-modernismo rejeita categorias absolutas e prefere uma interpretao parcial e localizada da cincia, do conhecimento ou da tcnica. O ps-modernismo , tambm, a mistura, o hibridismo, a mestiagem de culturas,estilos e modos de vida. O ps-modernismo questiona as noes de razo e racionalidade fundamentais para o iluminismo da modernidade, porque em nome delas instituram-se
sistemas brutais e cruis de opresso e explorao. (ULGUIM, Daltro
Lucena. A distino entre Ps-modernismo e ps-estruturalismo)1
O ps-modernismo tem origem no momento em que a iluso da
racionalidade totalizante como resposta metodolgica a todo e qualquer
conflito comea a cair por terra. Crticos de toda natureza, de linguistas, ar-
quitetos e at mesmo capitalistas industriais como Henry Ford se do conta
que na grande parte do tempo ns somos seres regidos por relaes afeti-
considerados demasiadamente humanos explodem nessas reaes. Por isso
a associao de termos que permitam a multiplicidade de compreenses
para definir o ps-modernismo, como se observa na tabela publicada por
David Harvey, em A condio ps-moderna.
DA CIDADE FUNCIONAL
No campo urbanstico, o modernismo teve na chamada cidade
funcional a sntese de um projeto para as cidades que se transformavam
a partir dos novos rumos econmicos impostos pela revoluo industrial
capitalista. A cidade funcionalista foi projetada para salvar as massas que
migraram e migravam j na contagem de sculo dos campos e de cidades
pequenas em direo s insalubres fbricas e os bairros criados por e para
elas - os bairros operrios. E quando esta cidade comeou a ganhar formas,
no incio do sculo XX, j no era somente essa massa a ser salva. Toda uma
gama de novas profisses liberais, usos urbanos e tantas outras relaes
inditas com o espao construdo precisava de um ambiente apropriado.
O automvel, dentro de um universo enorme de tantas outras mquinas,
tambm se inseria como uma nova forma de experimentar o espao e o tem-
po, num sentido libertador extremamente otimista e a habitao ganhou o
apelido mquina de morar. A cidade funcional foi definida na clebre Carta
de Atenas, de 1933.
Diferenas esquemticas entre modernismo e ps-modernismo
modernismo ps-modernismo
romantismo/simbolismo parafsica/dadasmoforma(conjuntiva,fechada) antiforma(disjuntiva,aberta)propsito jogoprojeto acasohierarquia anarquiadomnio/logos exausto/silnciobjeto de arte/obra acabada processo/performance/happeningdistncia participaocriao/totalizao/sntese descriao/desconstruo/anttesepresena ausnciacentrao dispersognero/fronteira texto/intertextosemntica retricaparadigma sintagmahipotaxe parataxematfora metonmiaseleo combinaoraiz/profundidade rizoma/superfcieinterpretao/leitura contra a interpretao/desleiturasignificado significantelisible (legvel) scriptible (escrevvel)narrativa/grande histoire antinarrativa/petitehistoirecdigo mestre dioletosintoma desejotipo mutantegenital/flico polimorfo/andrginoparania esquizofreniaorigem/causa diferena/vestgioDeus Pai Esprito Santometafsica ironiadeterminao ndeterminaotranscendncia imanncia
Fonte: Hassan (1985, p. 123-4 in HARVEY, 1993)
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CARTA DE ATENAS
Do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna realizado
em Atenas em 1933 surgiu o manifesto que definiu a cidade funcionalista.
Abaixo, alguns pontos selecionados para compor a discusso e que por
muito tempo foram parmetros principais para a prtica urbanstica, sendo
que alguns deles at hoje se encontram vigentes.
O alinhamento das habitaes ao longo das vias de comunica-o deve ser proibido: [...]. As caladas, criadas no tempo dos cavalos e s aps a introduo dos coches, para evitar os atropelamentos, so
um remdio irrisrio desde que as velocidades mecnicas introduzi-ram nas ruas uma verdadeira ameaa de morte. A cidade atual abre as inumerveis portas de suas casas para essa ameaa e suas inumer-veis janelas para os rudos,as poeiras e os gases nocivos, resultantes de uma intensa circulao mecnica. Esse estado de coisas exige uma modificao radical: as velocidades do pedestre, 4km horrios, e as velocidades, mecnicas, 50 a 100km horrios, devem ser separadas. As habitaes sero afastadas das velocidades mecnicas, a serem canalizadas para um leito particular, enquanto o pedestre dispor de caminhos diretos ou de caminhos de passeio para ele reservados.
[...] Os cruzamentos das ruas atuais, situados a 100, 50, 20, ou mesmo 10 metros de distncia uns dos outros, no convm boa progres-so dos veculos mecnicos. Espaos de 200 a 400 metros deveriam separ-los. [...] Os veculos em trnsito no deveriam ser submetidos ao regime de paradas obrigatrias a cada cruzamento, que torna inu-tilmente lento seu percurso. Mudanas de nvel, em cada via transver-sal, so o melhor meio de assegurar-lhes uma marcha contnua. Nas grandes vias de circulao e a distncias calculadas para obter o me-lhor rendimento, sero estabelecidas interligaes unindo-as s vias destinadas circulao mida. Sendo as vias de trnsito ou de grande circulao bem diferenciadas das vias de circulao mida, no tero nenhuma razo para se aproximarem das construes pblicas ou privadas. Ser bom que elas sejam ladeadas por espessas cortinas de
vegetao.
A maravilha do automvel to impressionante que se deve
afastar-se dele, mas como forma de afirm-lo. Abrir espao para o auto-
mvel e a velocidade dos novos tempos! Essa imagem do carro veloz que
carrega a modernidade ser amplamente difundida e de formas diversas
executada mais do que qualquer outro ponto da carta.
Ville Radieuse (1924): projeto de Le Corbusier onde se notam alguns pontos que ir publicar na Carta de Atenas futuramente: Fluxo rpido de automveis segregado do de pedestres e edicios densos verticalizados.
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Plano Voisin (1925) o qual literalmente devastava uma extensa rea sobre a malha medieval de Paris. Os edifcios centrais so escritrios que se conectam aos menores, habitacionais, em seu entorno atravs de vias rpidas.
O alinhamento tradicional das habitaes beira das ruas s garante insolao a uma parcela mnima das moradias. O alinhamento tradicio-nal dos imveis ao longo das ruas acarreta urna disposio obrigatria do volume construdo. Ao serem cortadas, ruas paralelas ou oblquas desenham superfcies quadradas ou retangulares, trapezoidais ou triangulares, de capacidades diversas que, uma vez edificadas, cons-tituem os blocos. A necessidade de iluminar o centro desses blocos engendra ptios internos de dimenses variadas. As regulamentaes edilcias deixam, infelizmente, queles que buscam o lucro, a liberda-de de restringir esses ptios a dimenses verdadeiramente escanda-losas. Chega-se ento a este triste resultado: uma fachada em quatro, seja ela voltada para a rua ou para o ptio, est orientada para o norte e no conhece o sol, enquanto as outras trs, em consequncia da estreiteza das ruas, dos ptios e da sombra projetada disso resultan-
te, so tambm parcialmente privadas de sol.
A salubridade s pode ser garantida com edifcios livres, como se
estivessem inseridos em parques. Uma cidade toda parque. E para equilibrar
as densidades existentes, apenas edifcios altos poderiam contrapor a essas
novas diretrizes. Interessante o argumento contra os especuladores que
buscam to somente ao lucro. O construtor lucrar em cima do metro quadra-
do construdo em um terreno definido. Se a construo tem 1 ou 50 faces
com acesso ao sol ou lua mas tem a mesma quantidade de rea constru-
da, o lucro o semelhante.
As construes elevadas erguidas a grande distncia umas das outras devem liberar o solo para amplas superfcies verdes. preci-so, ainda, que elas estejam situadas as distncias bem grandes umas das outras, caso contrrio sua altura, longe de construir um melho-ramento, s agravaria o mal existente; o grave erro cometido nas cidades das duas Amricas. A construo de uma cidade no pode
ser abandonada, sem programa, iniciativa privada. A densidade de sua populao deve ser elevada o bastante para validar a organizao das instalaes coletivas, que sero os prolongamentos da moradia. Uma vez fixada essa densidade, ser admitida uma cifra de populao presumvel, que permita calcular a superfcie reservada cidade.
As distncias entre os locais de trabalho e os locais de habitao devem ser reduzidas ao mnimo. Isto supe uma nova distribuio, conforme um plano cuidadosamente elaborado, de todos os lugares destinados ao trabalho. A concentrao das indstrias em anis em tomo das grandes cidades pode ter sido, para certas empresas, uma fonte de prosperidade, mas preciso denunciar as deplorveis con-dies de vida que disso resultaram para a massa. Essa disposio
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arbitrria criou uma promiscuidade insuportvel. A durao das idas e vindas no tem relao com a trajetria cotidiana do sol. As indstrias devem ser transferidas para locais de passagem das ma-trias-primas, ao longo das grandes vias fluviais, terrestres ou frreas. Um lugar de passagem um elemento linear. As cidades industriais,
ao invs de serem concntricas, tornar-se-o, portanto, lineares.
Esse ponto particularmente interessante na medida em que
revela o papel da indstria como principal gerador de empregos. A cidade,
em suas funes, estaria determinadamente direcionada sobremaneira
indstria. Seguindo:
Capa do ivro Sans Retour ni consigne (1978) do cartunista Jean-Franois Batellier
As chaves do urbanismo esto nas quatro funes: habitar, traba-lhar, recrear-se (nas horas livres), circular. O urbanismo tem quatro funes principais, que so: primeiramente, assegurar aos homens moradias saudveis, isto , locais onde o espao, o ar puro e o sol, essas trs, condies essenciais da natureza, lhe sejam largamente asseguradas; em segundo lugar, organizar os locais de trabalho, de tal modo que, ao invs de serem uma sujeio penosa, eles retomem seu carter de atividade humana natural; em terceiro lugar, prever as instalaes necessrias boa utilizao das horas livres, tornando-as benficas e fecundas; em quarto lugar, estabelecer o contato entre essas diversas organizaes mediante uma rede circulatria que as-segure as trocas, respeitando as prerrogativas de cada uma. A cidade, definida desde ento como uma unidade funcional, dever crescer harmoniosamente em cada uma de suas partes, dispondo de espaos e ligaes onde podero se inscrever equilibradamente as etapas de seu desenvolvimento.
Neste trecho aparecem o elemento mais conhecido da Carta: as
funes pr-definidas e limitantes da cidade por um momento pareceram
ser a chave para um futuro promissor. A cidade agora podia se libertar da in-
sana herana medieval e industrial inicial de forma simples, direta, universal.
Seu desenvolvimento, ao invs de produzir uma catstrofe, ser um coroamento. E o crescimento das cifras de sua populao no con-duzir mais a essa confuso desumana que um dos flagelos das grandes cidades.[...] e favorecer todas as iniciativas adequadamente planejadas, mas velar para que elas se insiram no planejamento geral e sejam sempre subordinadas aos interesses coletivos, que consti-tuem o bem pblico.
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A Carta de Atenas bem clara em seu projeto de sociedade. Ao
se opor a complexidade que se colocam, ao seu modo de ver, como entraves
a um desenvolvimento pleno a partir da produo capitalista, a reduz a me-
ras quatro funes, todas ligadas a essa produo (recrear-se to somente
um espao de tempo para recuperar-se antes de voltar ao trabalho). Sendo
assim, obviamente a diversidade de espaos e construes no s pode
como deve ser reduzida.
Na concepo moderna formulada na Carta de Atenas, o movimento era uma definio fsica que ficava circunscrita a uma das quatro fun-es urbanas e a uma localizao em zonas especializadas da cidade moderna planejada. Junto com a moradia, o trabalho e o cio, a cidade teria que prever as zonas circulao. Fica evidente o tratamento seto-rial e segregado dado a esta funo, o que com maior acuidade come-ou a ser detectado pelos membros do Team 10, nos anos cinquenta - ou seja, a diferena entre a concepo de movimento da Carta de Atenas e o carter central de todo tipo de movimento na cidade e na arquitetura contemporneas. Segundo I. Sol-Morales (1996) a funo de circulao moderna era restrita eficincia das vias condutoras de veculos, de um nico fluxo, o do automvel, diferentemente da multiplicidade dos fluxos da cidade contempornea, formada por redes justapostas de fluxos materiais e imateriais interconectados. Como diz M. Campos (2004:69) interessa aos estudos urbanos con-temporneos incluir novos modos de observao dos fluxos errantes materiais reais e materiais virtuais (incorpreos) cada vez mais interconectados em redes urbanas locais e globais.
(LAGRECA, 2008, p.151)
CIDADE JARDIM
A partir do fim do sculo XIX e incio do sculo XX o processo de
industrializao cada vez mais intenso forou uma srie de reaes diante
das profundas transformaes scio espaciais que acarretava. Se o moder-
nismo de Le Corbusier procurava se aproveitar dessa nova lgica, fundindo-
se a ela, como meio de promover uma justia social ampla e democrtica,
esse caminho no foi o nico. Um dos mais importantes contrapontos
cidade industrial insalubre foi o Movimento Cidades Jardim.
Projeto de uma nova Cidade Jardim a para o Cambodia. Fonte: http://lypgroup.com
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Ao contrrio das propostas modernista e futuristas, a cidade
jardim propunha um desenvolvimento urbano fixado em conceitos mais
tradicionais de comunidade e integrados natureza. As cidades teriam
apenas habitaes individuais e seriam auto suficientes, com produo
agrcola e rodeada por imensos anis verdes. Letchwork, na Inglaterra, foi
construda segundo esses conceitos. Atualmente ela tem 33 mil habitantes
numa rea aproximada de 20km, resultando numa densidade de 1650
hab/km2.
um exemplo de comparao da sustentabilidade entre um modelo de expanso territorial, em Cidades Jardim e um modelo de cidade compacta. A Cidade Jardim, feita de moradias isoladas, oferece um ambiente tranquilo em que cada uma das moradias tem o seu espao prprio. No entanto, os servios encontram-se longe, obrigando os habitantes a percorrer grandes distncias de automvel para os alcan-ar, o que requer um maior consumo de energia (45 minutos e 28 kW em mdia, por pessoa). Tambm o privilgio pelo individualismo, limita as relaes interpessoais neste modelo. (FERNDANDES, 2009, p.46)
FUTURISMO
Uma vanguarda interessante de ser mencionada foi a do Futuris-
mo. Surgida no incio do sculo XX e claramente identificada com as vises
de progresso cientfico, visualizavam o futuro construdo a partir da tecno-
logia e sua velocidade cada vez mais crescente, tendo no automvel e no
avio alguns dos objetos mais glorificados. Na arquitetura, Antonio SantElia
foi responsvel por dar forma cidade idealizada segundo tais anseios.
Ilustrao de Antonio SantElia, arquiteto futurista, movimento que contribuiu para a forma-o de um imaginrio de megacidades velozes e superpovoadas. Nela possvel reconhecer vrios preceitos modernistas.
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Os futuristas italianos tinham tanto fascnio pela velocidade e pelo poder que acolheram a destruio criativa e o militarismo violento a tal
ponto que Mussolini pode tornar-se seu heri. (HARVEY, 1993, p.39)
Ainda que as cidades criada por SantElia no passassem de
exerccios especulativos, assim como outros artistas do movimento, tais
projetos passaram a fazer parte do imaginrio arquitetnico. No me pare-
ce coincidncia que muito da escala que diversas estruturas modernas com
relativa perda da escala humana se deva a esse tipo de imagem.
PASSAGEM PARA A CIDADE COMPLEXA
Como demonstrado anteriormente, o documento da Carta de Ate-
nas, considerado pelos ps-modernistas como doutrinrio e reducionista, no
qual se postulava a pura e simples substituio das estruturas existentes
como condio apriorstica da adaptao das cidades herdadas s neces-
sidades da vida moderna. (PORTAS, 1985) tendo como consequncias a
banalizao da paisagem e vida urbanas.
Conceitos como paisagem, lugar, identidade, vida urbana, tradi-
o, complexidade, instabilidade, entre outras, compem o lxico crtico
ao modernismo. No campo terico, rapidamente conceitos dessa natureza
foram se multiplicando. Segundo Manuel Sol-Morales:
territrio no pode ser mais projetado de forma como quis o planeja-mento tradicional, pois ele no um dado previsvel, Hoje, o plano tem uma nova questo, a incerteza sobre as formas de transformao da
cidade. (2008, apud MEYER, 2010, p.14)
Por essa natureza, a cidade contempornea se coloca com
resistncia generalizao, sistematizao e reduo a uma ideia nica. J
no concebvel fazer tabula rasa de grandes reas na malha da cidade e
vastos territrios desocupados que permitam planos totalizantes no so
facilmente encontrados e disponibilizados para tal projeto. Qualquer projeto
contemporneo deve considerar elementos culturais, as preexistncias,
impactos e ser implantado numa progresso no tempo, medida que colhe
informaes e pode ir aperfeioando-se. Uma constatao que a cidade
funcional foi construda sobre a premissa de estruturas e transformaes
concebidas em escala muito acima da humana. Ou seja, no possvel outra
abordagem seno a de grandes transformaes de reverso desse quadro:
grandes estruturas precisam de grandes esforos tanto para sua constru-
o como sua reverso. Mas a urgncia de grandes esforos e grandes
transformaes que revertam diversos danos que a cidade funcional causou
implicam- se planos na mesma escala, a chave no se utilizar do mesmo
equivoco. Ainda que Harvey explique que hoje em dia, norma procurar
estratgias pluralistas e orgnicas para a abordagem do desenvolvimento
urbano como uma colagem de espaos e misturas altamente diferenciados,
em vez de perseguir planos grandiosos baseados no zoneamento funcional
de atividades diferentes(HARVEY, 1993, p.46), deve-se considerar tal plano
como uma somatria de diversos outros menores, sobrepostos, compat-
veis, e com razoveis graus de abertura.
Na arquitetura e no urbanismo fcil observar as mltiplas
tendncias ps-modernas, umas valorizando a dimenso simblica, outras o
contexto, umas voltando ao passado enquanto outras na observao crtica
do presente apontam caminhos futuros de se desenvolver a metrpole. Em
seguida, algumas dessas tendncias foram selecionadas dentro de um vas-
tssimo campo com o objetivo de revelar a dimenso da tenso colocada.
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TEAM X
Durante o nono CIAM, em 1953, um grupo convidado composto
por novos arquitetos se manifesta contra a bula modernista expressada na
Carta de Atenas. Com a tomada de conscincia dos impactos da cidade fun-
cional, foram pioneiros ao buscar no resgate de valores da cidade tradicional
relaes que consideravam mais humanas, como o sentido de comunidade.
Atacaram os dogmas cunhados por Le Corbusier, defendendo um incentivo
ao sentimentos de pertencimento e vizinhana, nos usos cotidianos da cida-
de na escala do bairro. Jaap Bakema, Aldo van Eyck e Alison e Peter Smith-
son foram principais expoentes, tendo no Manifesto de Doorn, de 1954,
no qual, de maneira simples, mas contundente, contesta as quatro funes
da cidade. Os Smithsons costumavam dizer que na Carta de Atenas o que
faltava era o homem. (JACQUES, 2003)
JANE JACOBS
Em seu clebre livro de 1961, The Death and Life of Great Ame-
rican Cities, Jane Jacobs inaugura uma crtica ao urbanismo modernista,
acusado por ela de uma profunda incompreenso do que so as cidades.
Entretanto, no bastava para ela um retorno aos valores tradicionais ou
uma fuga aos modelos buclicos como a Cidade Jardim. Ela entendia
justamente na construo da metrpole como ambiente denso, histrico,
complexo e mltiplo nas possibilidades de encontro e de formao de
ideias - e no a metrpole ordenada de Corbusier - como a soluo a ser
encaminhada pelos urbanistas (ela era jornalista).
As grandes cidades norte americanas passavam por processos
de substituio de centros urbanos consolidados por mega projetos de
renovao urbana nos quais uma arquitetura comercial empresarial cons-
truda na rea central era conectada por grandes estruturas virias como
elevados e vias expressas para os setores habitacionais no subrbio. O
resultado era uma produo em massa genrica e banalizada.
THE DOORN MANIFESTO1. It is useless to consider the house except as a part of a community owing to the inter-action of these on each other. 2. We should not waste our time codifying the elements of the house until the other relationship has been crystallized.3. Habitat is concerned with the particular house in the particular type of community.4. Communities are the same everywhere.
(1) Detached house-farm.(2) Village.(3) Towns of various sorts (industrial/admin./special). (4) Cities (multi-functional).
5. They can be shown in relationship to their environment (habitat) in the Patrick Geddes valley section.6. Any community must be internally convenient-have ease of circulation; in consequence, whatever type of transport is available, density must increase as population Increases, i.e. (1) is least dense, (4) is most dense.7. We must therefore study the dwelling and the groupings that are necessary to produce convenient commu-nities at various points on the valley section.8. The appropriateness of any solution may lie in the field of architectural invention rather than social anthro-pology.
Holland, 1954
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Ao contrrio das fisicamente imaculadas e espiritualmente vazias proposies modernistas, o caos urbano e o microcosmo dos bairros constituam uma vida rica e densa de significados. Do registro empri-co das maneiras de se apropriar dos lugares (os subttulos dos textos so diretos: Os usos das caladas: segurana, contato, integrando as crianas... etc), Jacobs formulou a crtica aos axiomas do plane-jamento (separao das funes/zoneamento, a lgica da circulao pela exaltao do sistema virio, etc) e seu reverso, a prescrio de solues. (SEGAWA, 2002)
Andar pela cidade experimentar as diversas experincias est-
ticas que ela apresenta, sendo que nem sempre sero as mais desejveis.
Mas justamente na compreenso que no conflito que est a vivncia
urbana, no num ambiente imunes s surpresas. Trata-se
da capacidade de lidar com o inesperado de maneiras controladas mais criativas. [...] os planejadores se declararam inimigos da diversi-dade, temendo o caos e a complexidade por consider-los desorgani-zados, feios e irremediavelmente irracionais. (HARVEY, 1983, p.44)
Isso seria possvel, segundo Jacobs, apenas gerando a diversi-
dade urbana de usos que mantenham a presena de pessoas em horrios
diferentes, com alta concentrao de pessoas, edifcios de variadas pocas,
entre outros.
KEVIN LYNCH
Em seu livro A Imagem da Cidade, Kevin Lynch revela as ma-
neiras como interpretamos e reconhecemos a cidade, num ponto de vista
morfolgico. Cada cidado realiza determinadas relaes entre distintas per-
cepes das formas urbanas e sua vivncia pessoal cotidiana. Por isso, essa
imagem construda aos poucos na memria individual e coletiva. Em seus
estudos, pode observar e classificar cinco elementos que compe em cada
um e em cada cidade a sua imagem:
Vias: so os canais ao longo dos quais o observador se move, usual, ocasional ou potencialmente. Podem ser ruas, passeios, linhas de trnsito, canais, caminhos-de-ferro.
Limites: os limites so elementos lineares no usados nem considera-dos pelos habitantes como vias. So as fronteiras entre duas partes, interrupes lineares na continuidade, costa martimas ou fluviais, cortes do caminho-de-ferro, paredes, locais de desenvolvimento. Funcionam no fundo como referncias secundrias.
Bairros: os bairros so regies urbanas de tamanho mdio ou grande, concebidos como tendo uma extenso bidimensional, regies essas em que o observador penetra mentalmente e que reconhece como tendo algo de comum e identificvel.
Cruzamentos: os cruzamentos so pontos, locais estratgicos da cidade, atravs dos quais o observador nela pode entrar e constituem intensivos focos para os quais e dos quais ele se desloca.
Pontos marcantes: estes so outro tipo de referncia, mas, neste caso, o observador no est dentro deles, pois so externos. So nor-malmente representados por um objeto fsico, definido de um modo simples: edifcio, sinal, loja ou montanha.[...] Podem situar-se dentro da cidade ou a uma tal distncia que desempenham a funo constan-te de smbolo de direo. (LYNCH, 1960, p.58-59)
33
A eliminao desses aspectos da cidade por parte do modernis-
mo, ou, pelo menos, do esvaziamento de suas relaes por no considerar
sua importncia, segundo Lynch, destri qualquer possibilidade de reco-
nhecimento da cidade por parte de seus moradores. A partir da interao
desses cinco conceitos morfolgicos, toda pessoa desenvolve sua prpria
imagem da cidade. E a imagem da cidade forma a prpria imagem do ser,
sem a qual no existe.
Imaginiabilidade: aquela qualidade de um objeto fsico que lhe d uma grande probabilidade de evocar uma Imagem forte num dado
observador (LYNCH, 1959, p20)
LOCUS
Outro importante terico que surgiu na posio de avanar a dis-
cusso sobre o que cidade e como superar as limitaes modernistas, foi
Aldo Rossi. O seu livro A Arquitetura da Cidade, de 1966, parte de extensa
pesquisa sobre o desenvolvimento das cidades europeias para contrapor
submisso da arquitetura moderna sobre a forma que segue a funo, na
qual assim destituda de razes mais complexas. Considerando a compro-
vada necessidade das significaes,em que toda sua gama que a arquitetura
sempre carregou e que varia, inclusive, com o passar do tempo (algumas
apenas existem com o passar do tempo), podemos aferir que esta , sim
, uma de suas funes. Se antes, no modernismo, a arquitetura deveria
representar apenas sua funo de uso, ao recuperar as funes simblicas e
histricas, qualquer edifcio ou cidade que seja projetado sob esse conceito
tem contemplada na forma a sua funo. Em relao cidade, Rossi levanta
questes como a memria, o desenho, a tradio, mas a sua maior contri-
buio, pelo menos para este trabalho, a noo de lugar, ou locus.
Locus: entendendo com isso aquela relao singular e no entanto universal que existe entre uma certa situao local e as construes que esto naquele lugar. [...] o locus, assim concebido, acaba por evi-denciar, no espao indiferenciado, condies, qualidades que nos so necessrias para a compreenso de um facto urbano determinado. [...] Estes lugares so os sinais concretos do espao; e, enquanto sinais, esto em relao com o arbitrrio [...] noes desse tipo esto ligadas nossa cultura histrica, ao nosso viver em paisagens construdas [...] E portanto referem-se s relaes e prpria preciso do LOCUS como um facto singular determinado pelo espao e pelo tempo, pela sua dimenso topogrfica e pela sua forma, por ser sede de vicissitu-
des antigas e novas, pela sua memria. (ROSSI, 1966, p.139-141)
IMAGEM = PRACINHA SECRETA NA SUMAR
Foto tirada a partir do
CRUZAMENTO da Av.Dr.
Arnaldo com a Av. Sumar,
ambas VIAS. Ao mesmo, a
Sumar tempo funciona
como LIMITE entre alguns
BAIRROS. Ao fundo, a
Serra da Cantareira,
importante MARCO da
cidade de So Paulo.
34
GRAU ZERO
Uma estratgia de raciocnio projetual que pode dar conta de
abrir espao para que o programa, os acontecimentos e o prprio espao
se modifiquem segundo a prpria impreciso inerente a qualquer projeto ur-
bano contemporneo o conceito desenvolvido pelo arquiteto Pedro Sales:
Grau Zero de Projeto. Segundo Sales
se a arquitetura e a cidade puderem supor um grau mnimo (zero) de ordem,e se programa, acontecimentos e atividades puderem se reali-zar, agenciar, como se disse, de forma contingente, imprevista e ml-tipla (qualidades que parecem melhor responder aos devires e dvidas da contemporaneidade), ento o que importa diz menos respeito ao que as coisas parecem e mais ao que elas podem fazer, (they are less concerned what things look like and more concerned with what they can do (ALLEN,1999). Da se espera que um projeto de solo engendre devires, no atravs de cdigos e regras ou estados predeterminados, mas fixando pontos, linhas e superfcies de uso e mobilidade, acesso e estrutura, segundo padres de interconexo e associao com pos-sibilidades de crescimento, diminuio, mudana e transbordamento.
(SALES, 2010, p.18)
O grau zero de projeto coloca a noo de incompletude ou
inacabamento que muito da prtica urbanstica ps-moderna e contempor-
nea sustenta apenas na retrica. Ao se admitir o caos, a complexidade e a
indeterminao como fundamentos de projeto, tais conceitos se esvaziam a
funcionarem apenas como inspirao projetual analgica. So projetos que
apresentam muitas vezes desenhos recortados e desconstrudos, mas no
fundo no passam de outro modelo de totalizadores do espao:
Quinta Monroy (2004):
Projeto do escritrio chile-
no Elemental, o qual ilustra
bem o conceito: condies
mnimas e incompletas a
serem desenvolvidas pelos
prrprios usurios do es-
pao. Apesar do exemplo
habitacional, a ideia que
o espao pblico tambm
seja encarado desta
forma.
35
Contudo, o que temos verificado em termos de projetos urbanos recentes no se mostram exatamente caticos. Ao contrrio, o que vemos so projetos com desenhos precisos, altamente qualificvel tecnicamente, o projeto em escala do objeto para o espao pblico que projetado por centmetro quadrado. Lana-se mo de elementos retricos da ps modernidade declarada, as referncias simblicas e mimticas, porm a estrutura urbana projetada precisa, no exata-
mente catica ou aberta. (BASSANI, 2005, p.134)
A questo talvez seja no mais em como pensar a cidade, mas em
como no pens-la, ou como pensar em seus atributos mnimos, afinal h
toda uma rede de sistemas infraestruturais, por exemplo, que depende de
uma ordem eficiente. Quais seriam esses atributos mnimos ou incompletos?
CIDADE CONTEMPORNEA, CIDADE MERCADORIA
A invocao de Jameson nos traz, por fim, sua ousada tese de
que o ps modernismo no seno a lgica cultural do capitalismo avan-
ado. Seguindo Mandel (1975), ele alega que passamos para uma nova era
a partir do incio dos anos 60, quando a produo da cultura tornou-se
integrada produo de mercadorias em geral.[...] (HARVEY, 1983, p.65)
Essa interpretao da cidade como mercadoria coloca tambm
no campo da discusso sobre as chamadas cidades globais. Em funo
da transformada a cidade em uma grande mercadoria. Barcelona recebe
hoje, depois de seu grande plano de renovao urbana, mais de 9milhes
de turistas. A arquitetura e o urbanismo, apesar de avanar a discusso
sobre diversos aspectos da vida de seus moradores, na prtica, so usados
apenas como meios para se gerar lucros e rendas. Transformando a cultura
em grande mercadoria, a cidade se torna palco de cada vez mais eventos
dessa natureza, podendo eles serem passageiros, como concertos musicais,
ou permanentes, como os museus e outros equipamentos. Nesse caso, a
discusso de cidade pode se reduzir mera disciplina do desenho urbano e
de edifcios.
O renovado interesse pelas cidades, que marcou a passagem do sculo XX para o XXI, parece ser antes de mais nada resultado de es-tratgicas alianas do estado com o mercado no sentido de capturar e sobre-codificar o urbano mediante a criao de atrativos culturais como formas de realizao de ativos comerciais. Isto , exigncias de qualidade, de negcio e imagem dos novos operadores pblicos e privados so buscadas mediante recuperao e criao desupostas matrizes de identidade e cultura, matrizes das quais arquitetura e urbanismo constituem componentes miditicos e espetaculares de
primeira ordem.(SALES, 2009, p.6)Projeto Nova Luz da PMSP: claramente
colocando a cidade e a
cultura como negcio,
ignorando suas demandas
urgentes.
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CIDADES OCASIONAIS (POST IT CITIES)
Esse conceito d sentido a toda espcie de apropriao do es-
pao pblico que se d de maneira espontnea, no planejada ou prevista.
De carter informal, portanto, no convencional, ao Cidade Ocasional se
estabelece como uma funo contempornea de grande fora, principal-
mente na Europa, onde os espaos e usos esto cada vez mais formalizados
e precisos. Contra essa padronizao, os espaos devem ser cada vez mais
usados de maneira livre, fazendo dos eventos algo mais autntico.
Este conceito est muito mais ligado ao padro de comportamen-
to do que de uma definio morfolgica. Qualquer lugar, seja um terreno
baldio, uma avenida, uma praa, um prdio vazio, e a qualquer hora pode
ser o cenrio ideal para alguma manifestao espontnea e temporria. Por
essa razo, trata-se de um espao incodificvel pois ele existe potencial-
mente em qualquer lugar e sendo assim contrape-se em alguma medida ao
espao pblico convencional, no qual, em cada um se estabelecem natural-
mente certo padres de uso e comportamento. Entre os exemplo de post-it
City, podemos citar o comrcio informal, os acontecimentos (happenings),
manifestaes polticas e artsticas, prticas de esportes, lugares onde
moradores de rua dormem, etc.
Eating in the railway -
TailandiaSergio Carrasco
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CIDADE COLAGEM (COLLAGE CITY)
A Cidade colagem, conceito cunhado por Colin Rowie e Fred Koet-
ter em livro homnimo de 1975, trata de outra contraposio ao desenho ur-
bano totalizador. Ao contrrio de um desenho homogneo, a cidade deve ser
considerada atravs da fragmentao, justaposio de espaos e identida-
des distintas disponveis. Nessa colagem esto lado a lado diversas cidades.
Espaos e edifcios do passado convivendo com os contemporneos. O tem-
po presente se define pela soma e sobreposio de diversos fragmentos no
necessariamente relacionados entre si no espao e no tempo, multiplicando
significados e ampliando o carter imaginativo que um lugar pode oferecer.
Mais que uma leitura, a Colagem se configura como um mtodo de projeto.
TERRAIN VAGUE
O conceito de terrain vague(francs), tem como correlatos ter-reno baldio (espanhol e portugus), wasteland (ingls), os quais, segundo I. Sol-Morales (1996:21), no traduzem toda a riqueza da expresso francesa. Tanto a noo de terrain quanto de vague contm uma ambiguidade e uma multiplicidade de significados que fazem desta expresso um termo til para designar a categoria urbana que participa desta dupla condio. Nos termos de I. Sol-Morales, por um lado, vago tem sentido de vacante, vazio, livre de atividade, obsoleto. Ou seja, um tipo de modalidade de uso do solo com carac-tersticas prprias e dimensionveis. Por outro, vague tem sentido de indeterminado, impreciso, indefinido, sem horizonte futuro. (LAGRECA, 2007, p.148)
A Casa Danante(1992) de Vlado Miluni e Frank Gehry | fonte: http://pt.gravatar.com/anditfeelslike
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Como um das consequncias do crescimento das cidades a
escalas de tempo e espao amplas, foram gerados involuntariamente uma
srie de espaos residuais e intersticiais que permanecem ou se tornam
obsoletos com o passar do tempo. Antigas reas industriais ou de centros
que perderam sua vitalidade tambm deixaram como provas esses espa-
os vacantes. Prdios vazios, ptios ferrovirios, espaos desqualificados,
espaos residuais nas margens de rios, vias expressas, baixos de viadutos.
Pode-se enxergar esses espaos tanto como a representao da desordem
e dos abusos cometido em nome do desenvolvimento ou como espaos com
alto potencial de serem convertidos e ocupados. Espaos livres, espaos c-
lula-tronco, expectantes ou no de qualificao. Espao em coma. Seu valor
tambm se encontra nesse estado de vacncia uma vez que se abre como
contraponto utilidade mercadolgica. Esses espaos podem ser conside-
rados at como necessrios e inevitveis cidade. Sua concepo cria uma
conscincia para a de que
cultura psindustrial reclama espaos de liberdade, de indefinio, de improdutividade, mas desta vez no associados noo mtica da natureza, mas experincia da memria pelo passado ausente como instrumento crtico frente ao presente banal e produtivista. (SOL-MORALES, 1996, p.23 apud LAGRECA, 2008, p. 148)
Portanto a ideia de terreno baldio serve para se compreender
os reais significados desse fenmeno pela cidade. Esses vazios podem
representar, por um lado, a necessidade de transformao de um lugar ou
demonstrar apenas a necessidade de se abrir uma clareira em algum outro
mais denso. Podem ser instrumentos de controle do solo urbano ou apenas
formas especulativas de enriquecimento.
Rua Augusta, em So
Paulo. Assim como em
inmeras outras ruas
pela cidade, um pequeno
espao fechado e sem uso
abre visuais para a cidade.
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No-lugar
O termo no-lugar foi criado pelo antropologista francs Marc
Aug em seu livro de 1995 Non-places: Introduction to an Anthropology
of Supermodernity para descrever espaos arquitetnicos projetados para
fins de passagem, antes consumidos que apropriados, nos quais as possibi-
lidades de se estabelecer uma relao de pertencimento com eles quase
nenhuma. Se coloca, dessa forma, como o oposto noo de lugar de Aldo
Rossi. Entre os no-lugares mais comuns indicados por Aug, estaria os
aeroportos, as estaes ferrovirias, as vias expressas, as redes de hotis,
grandes mercados distribuidores. So espaos impessoais, estreis. Se
distancia da ideia de Terrain Vague, ainda que a ambos falte o Genius Loci ,
pois so espaos construdos e utilizados mas carregam nenhum potencial
seno de seu uso definido.
LON KRIER
Krier contrasta essa situao funcionalista com a boa cidade em que a totalidade das funes urbanas fornecida dentro de distncias a p compatveis e agradveis. Krier busca a restaurao e recriao ativas dos valores urbanos clssicos tradicionais. Isso significa quer a restaurao de um tecido urbanos mais antigo e sua reabilitao para novos usos, quer a criao de novos espaos que exprimam as vises tradicionais com todo o avano que as tecnologias e materiais moder-
nos permitem (HARVEY, 1993, p.70)
A posio de Krier perante ao modernismo to radical quanto o
modernismo foi em relao ao passado. Krier defende ao retorno cidade
tradicional europeia, ao contrrio da corrente que valoriza a complexidade,
Terminal Rodovirio do Tie-
t: apesar do fluxo dirios
de 90 mil pessoas, difcil
quem estabelea relaes
de pertencimento com ele.
Foto: Gkalili Arquitetura
Poundbury, Reino Unido.
Projetada na dcada de
1980 por Lon Krier,
comeou a ser construda
em 1993. Foto: Google
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ignorando a escala metropolitana que cada vez mais cidades atingem. Seu
trabalho mais famoso o masterplan da cidade Poundburry, no Rieno Unido,
no qual projeta uma cidade com usos, escala e a esttica extremamente
inspirada no modelo de cidade anterior ao modernismo.
CIDADE COMPACTA
Para fechar esse captulo conceitual, a discusso sobre a cidade
compacta se coloca como a mais importante para este trabalho pois na
construo de cidades compactas que os conceitos que trabalham na acei-
tao da metrpole se encaixam e fazem maior sentido.
A ideia de cidade compacta, como afirma Joo Capote, j esteve
associada poluda e segregada cidade Industrial, importando por isso
estabelecer uma viso clara da nova cidade compacta. (CAPOTE, 2009,p.53
) Na verdade, a ideia atual de cidade compacta seno o oposto dessa
viso distorcida. atravs da compactao da cidade que se chega a nveis
satisfatrios de salubridade e sustentabilidade ambiental. Isso porque uma
metrpole no pode supor um espraiamento de sua mancha urbana pois
acarreta maiores custos sociais em sua manuteno.
A cidade compacta presume uma densidade alta com boa quali-
dade de suas edificaes. No se trata apenas de amontoar multides em
pequenas reas apenas. Toda uma rede de espaos pblicos e institucionais
devem dar suporte aos moradores. A cidade compacta garante maior efici-
ncia dos meios de transportes, justificando seus investimentos, e inclusive
a adoo de formas alternativas como a bicicleta e o andar a p como forma
principal de locomoo cotidiana, diminuindo a necessidade de enormes
estruturas de transporte de massa e do uso do automvel.
A cidade compacta densa em habitantes e densa em servios,
principalmente as atividades tercirias e sociais. Este modelo difere radi-
calmente do modelo norte-americano ainda fundamentado nas postulaes
modernistas no qual o centro geogrfico ocupado por um conjunto de
edifcios empresariais e conectado por vias expressas ao subrbio onde se
encontram centros comerciais e bairros estritamente residenciais. A cidade
compacta tem os empregos, servios e moradias espalhados difusamente
pelo territrio se instalando fisicamente em edifcios mistos. A multiplicida-
de de usos, pessoas, horrios circulando pelos espaos pblicos e privados
que garante a vitalidade urbana, tal qual Jane Jacobs defende.As relaes
interpessoais so privilegiadas e as pessoas, independentemente da origem
tnica e estrato social partilham o mesmo ambiente, misturando-se espon-
taneamente.
Isso no significa que a cidade seja perfeitamente homognea.
Alguns bairros tendem a serem mais residenciais, outros mais culturais. Al-
guns com edifcios mais altos e outros com a presena maior de residncias
unifamiliares. Essa definio depende das vocaes geogrficas, histricas e
econmicas. Entretanto, garantida uma densidade e mobilidades adequadas,
essa variao no carter de compacidade muito bem vinda.A cidade com-
pacta, ento, policntrica conformando uma rede de servios e fluxos.
Ao contrrio do que Le Corbusier afirmava na Carta de Atenas,
Joaquim Guedes argumenta que o adensamento um dado que nada tem a
ver com a disponibilidade de espao, mas com a eficincia dos sistemas de
transporte urbano e com a possibilidade tcnica de adensamento (GUEDES,
1994,p. 144 apud ANELLI, Renato Luis Sobral, 2007. Site da internet). Ou
seja, qualquer deficincia na salubridade ou qualidade espacial se resolve
com bons projetos de arquitetura de edificaes e espaos livres. Richard
Rogers, em aula ministrada para The Megacities Foundation afirma
41
Portanto, temos de cuidar da terra, planejamento de cada centmetro dela em termos de preservao e conservao deste recurso inesti-mvel. A linha entre o construdo e o verde vital. insustentvel a expanso em baixas densidades. Criando bairros compactos e bem desenhados, distritos e cidades fundamental para a conservao da nossa sociedade[...]Uma cidade sustentvel compacta, policn-trica, ecologicamente consciente e baseada no caminhar. Deve haver diversas atividades: viver, trabalhar, lazer. Sua populao facilmente conectada. bem projetada, economicamente forte e bem governada.
Acima de tudo, promove a incluso social.
Joo Pedro Capote resume o argumento de Rogers:
uma cidade justa onde justia, alimentao, abrigo, educao sa-de e esperana so igualmente distribudos e onde a democracia ser participativa; uma cidade bela onde arte, arquitectura e paisagem do azo imaginao e alimentam o esprito; uma cidade criativa, onde a abertura das mentes bem como a experimentao mobilizaro todo o potencial Humano e permitiro respostas mais rpidas s velo-zes e complexas mudanas; uma cidade ecolgica, eficiente ener-geticamente demonstrando harmonia entre paisagem e construo, uma cidade de fcil comunicao, onde o espao pblico encoraja o esprito comunitrio e a mobilidade; uma cidade compacta e policn-trica, lutando contra a destruio do patrimnio natural, que protege as vizinhanas, integrando-as pela maximizao da proximidade; uma cidade diversificada, onde um vasto nmero de actividades se sobrepe criando animao, e inspirao, fomentando a vida pblica. (CAPOTE, 2009, p.52)
Rua Merce, no Bairro central de Santiago. Edi-cios histricos, centros culturais, habitaes, comrcio: exemplo de cidade compacta. Fotos: Google
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INTERVENO NA CIDADE EXISTENTE
O Arquiteto Nuno Portas, no artigo Notas sobre a interveno
na Cidade Existente explica que a interveno no produo ou exten-
so, interveno de restauro, nem renovao urbana corrente sobretudo
a partir do ps guerra e enunciado em textos doutrinrios como o da mais
conhecida Carta de Atenas, publicada em 1943 por Le Corbusier, nos quais
se postulava a pura e simples substituio das estruturas existentes como
condio apriorstica da adaptao das cidades herdadas s necessidades
da vida moderna. (PORTAS, 1985) David Harvey, oito anos depois dir que
a revitalizao urbana substituiu a vilificada renovao urbana como
palavra-chave do lxico dos planejadores. (HARVEY, 1993, p.46) Renovar
fazer tabula rasa, comear do zero, refazer. Revitalizar significa recuperar,
dar nova ou mais vida a algo existente e constitudo de significado.
importante lembrar que um dos maiores desafios para o planeja-mento urbano e a elaborao de projetos de recuperao de setores urbanos deteriorados tem sido a articulao da reabilitao do tecido social associada s atividades econmicas e estrutura fsica, utili-zando as potencialidades instaladas. (MEYER,2010, p.63)
As preexistncias incluem moradores, monumentos, estrutu-
ras, cronogramas de interveno. Ou seja, se a modernidade preferia um
terreno limpo em que pudesse deitar a lapiseira livremente, a discusso
sobre o existente implica em um processo de construo de projetos junto a
pessoas afetadas e evoluo histrica de um lugar. Comrcios tradicionais,
relaes familiares ou apropriaes de um determinado espao devem ser
cuidadosamente estudados pois qualquer deslize pode ser irrecupervel. A
interveno, se no for manobra do mercado, implica respeito.
CONCLUSO
Esse breve e crtico sobrevoo sobre algumas das principais cor-
rentes tericas que constroem at hoje a prtica urbanstica e arquitetnica
mostra claramente como a preocupao com o futuro do modelo de metr-
pole incessante e to diversificado que resposta pronta nenhuma pode
ser retirada. So tantas vises a serem consideradas, muitas coincidentes,
outras conflitantes, complementares que a prpria captura deles todos
inviabiliza uma interveno velocidade que ela, a metrpole, exige.
Tantas outras teorias foram deixadas de lado. o caso da Cidade
Genrica, de Rem Koolhaas,a Edge City, de Joel Garreau, as leituras psicoge-
ogrficas de Debord, os estudos de quadras de Potzamparc e Rob Krier, a di-
menso ambiental da sustentabilidade, a poltica, informtica, econmica...
Entretanto, acredita-se que a essncia desse longo percurso foi captada: no
espao de menos de um sculo, nos vimos obrigados a construir uma cidade
com escalas de comunicao, mobilidade, populao to inimaginveis que
os erros dos pioneiros so perfeitamente perdoveis. No interessante no
momento buscar culpados seno que aprender com os erros e se preciso
acertar com os erros novamente.
A crise dos conceitos e receitas na arquitectura urbana face decep-o com os resultados das novas urbanizaes dos anos 60, que leva os profissionais a voltarem a aprender com a cidade, a valorizar sequ-ncias de espaos pblicos bem identificveis, animados pela mistura de atividades e geraes, influenciando as autoridades locais para privilegiarem intervenes fragmentrias ou sistemticas de melhoria do existente. (PORTAS, 1985, p.9)
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metrpole paulista
ANLISE URBANA: SP como modelo
Este captulo tem por objetivo analisar sob diversos aspectos a
formao metropolitana de So Paulo com enfoque em sua Zona Leste, con-
siderando as caractersticas comuns analisadas anteriormente a partir da
leitura de Jos Romero que, de alguma forma ou de outra, so quase sempre
identificadas na histria da formao territorial da cidade. Percorrendo
esses aspectos em tpicos, tentar-se- desvendar tais caractersticas assim
como propor algumas diretrizes de interveno.
PLANOS URBANSTICOS
Preliminares: disciplinamento do existente
Como ponto de partida, foram levantados alguns dos principais
planos urbansticos e analisados especialmente sobre as transformaes
virias que se propunham como materializao de uma ideia predominante
de cidade. Pretende-se examinar como foram moldados pelas discusses
em voga das pocas em que foram concebidos, sempre fortemente influen-
ciadas internacionalmente. Sob esse aspecto, interessante notar como
estamos sempre tentando forar nos parecer com o outro. So Paulo j quis
ser europeia, quis ser estadunidense e agora quer ser global, sem nunca
conseguir deixar de ser So Paulo. De vila dos carros de bois e das paredes
de taipa, passando pela cidade dos bondes e das paredes de tijolo, pela dos
nibus e paredes de concreto, at chegar a metrpole do metr e paredes
de vidro, muitas transformaes foram dando um formato sem forma a ela.
Em 1911 surge a primeira proposta oficial de planejamento que
aborda de forma articulada aspectos virios e o desenvolvimento urbano
virio para a cidade. At ento, So Paulo contava apenas com o Cdigo
de Posturas de 1886, que se limitava a definir medidas de edifcios e suas
relaes com as vias. Baseando-se nas constataes feitas sobre o cresci-
mento das cidades industriais europeias e norte americanas, Victor Freire
propunha um circuito virio exterior ao centro histrico, preservando-o, com
a finalidade de desviar o trfego de passagem. Essa proposta se baseava
em teorias e exemplos da poca, como abertamente o autor cita o urbanista
Camilo Sitte e a Ringstrasse de Viena:
Que impresso faria o annel paulistano? (...) Desembarcando na estao da Luz e entrando na cidade pelo largo de S. bento e rua Boa Vista, teria elle diante de si sucessivamente: o parque da Vrzea e o panorama da cidade industrial, o monumento da fundao e os edif-cios do governo esquerda. Continuando, veria a nova cathedral de frente, contornal-a-ia por qualquer das rua alargadas que hoje so Marechal Deodoro e Esperana, vendo sob um ngulo favorvel o novo Congresso e o Pao Municipal. A essa parte da cidade, coalhada de edifcios pblicos, seria imposto o carter monumental cujo coroa-mento deveria pertencer ao Congresso. Em frente a este e para faz-lo valer deveria ser rasgada uma larga esplanada de acesso abrindo sobre o largo de S. Francisco. A Academia, O Mosteiro e, em segui-da,o terrao formado pela rua Libero Badar debruado sobre o par-que do Anhangaba e servindo de centro a um bellssimo panorama, terminaria a volta pelo regresso ao ponto de partida no largo S. Bento
(FREIRE, Victor da silva. Os Melhoramentos de So Paulo Revista polytechnica, So Paulo, no33, fev/mar 1911 in LEME, 1990)
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Em 1924, partindo da premissa que So Paulo uma cidade com
um futuro brilhante e crescimento rpido, Joo Florence de Ulha Cintra
busca nas cidades europeias a inspirao para seus estudos e proposies
no artigo Projecto de uma Avenida Circular Constituindo Permetro de
Irradiao. Segundo Cintra, o traado da cidade de So Paulo lembra os das
cidades europeias com ncleo central e vias radiais e perimetrais. Utiliza os
ensinamentos do urbanista francs Eugene Hrnard, segundo o qual todas
as vias convergem para um ncleo, mas no para o mesmo ponto, mesmo
monumento. Ligam-se, na verdade, a um circuito fechado coletor chama-
do de Permetro de Irradiao. Entre 1924 e 1926, Ulha Cintra e Prestes
Maia desenvolvem outro estudo, j mais avanado que os dois preceden-
tes, denominado Um problema actual: Os grandes melhoramentos de So
Paulo junto Comisso Tcnica do Plano da Cidade, da Diretoria de Obras
e Viao da Prefeitura de So Paulo. Procurando evidenciar o papel de lide-
rana de So Paulo no processo de desenvolvimento do pas, Cintra e Mais
condicionavam essa inteno remodelao da cidade. Corrigir e prevenir
antes que se torne irremedivel, preparar-nos para s tempos prsperos.
Adotam o sistema radial existente na cidade, propondo remodelaes: 11
avenidas traadas, sendo seis as mais importantes: av. So Joo, av. Dom
Pedro, av. Anhangaba (atual 9 de julho), av. Rangel Pestana, Av. Celso Gar-
cia e av. Liberdade/av. Domingos de Moraes, alm de manterem o permetro
de irradiao de Ulha, de 1924.
A partir do plano de avenidas: ideia de cidade
O contexto existente quando da criao do Plano de Avenidas j
era muito revelador da cidade que estava s