Raízes da educação no Brasil colônia

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    Revista HISTEDBR On-line Artigo

    RevistaHISTEDBR On-line, Campinas, n 55, p. 136-148, mar2014ISSN: 1676-2584 136

    INSTITUIES EDUCATIVAS EM PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DOSCULO XVI: UNIVERSIDADE DE COIMBRA E UNIVERSIDADE DE VORA

    Clio Juvenal Costa1

    Sezinando Luiz Menezes2

    Luciana de Arajo Nascimento3Cintia Mara Bogo Bortolossi4

    RESUMOEste artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexes relacionadas ao papel social eeducativo que duas instituies portuguesas desempenharam no sculo XVI, aUniversidade e Coimbra e a Universidade de vora. A presente temtica est relacionada histria da educao, medida em que se objetiva perceber quais eram as necessidades deformao intelectual presentes na sociedade portuguesa que ficaram registradas nas fontes

    utilizadas para esta exposio. Percebemos que essas duas instituies estiveram, naquelemomento histrico, a servio do Estado lusitano no sentido de preparar os profissionais queatuariam tanto no campo civil e como no eclesistico em todo o Imprio portugus,inclusive no Brasil. Assim, acreditamos que compreender a vida social e educativa dasduas instituies colabora no entendimento das origens da histria da educao brasileira,

    j que foram aquelas instituies os centros de formao dos quadros culturais, religiosos ecientficos do Imprio lusitano.Palavras-chave: Histria da Educao; Imprio Portugus; Sculo XVI; Universidade deCoimbra; Universidade de vora.

    EDUCATIONAL INSTITUTIONS IN PORTUGAL IN THE SECOND HALF OFTHE SIXTEENTH CENTURY: UNIVERSITY OF COIMBRA AND VORA

    UNIVERSITY

    ABSTRACTThis paper aims to discuss some thoughts related to social and educational role that twoPortuguese institutions played in the sixteenth century, the University of Coimbra andvora University. This issue is related to the history of education in realizing that objective

    what were the needs of this intellectual formation in Portuguese society that were recordedin the sources used for this exhibition. We realize that these two institutions were, at thishistorical moment, the service of the State lusitano to prepare professionals who wouldwork both in the civil and ecclesiastical throughout the Portuguese Empire, includingBrazil. Thus, we believe that understanding the social and educational life of theseinstitutions contributes to the understanding of the origins of the history of Brazilianeducation, since that institutions were the centers of training for cultural, religious andscientific Empire's Lusitano.Keywords: History of Education; Empire Portuguese; Sixteenth Century; University ofCoimbra; University of vora.

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    Este artigo tem por objetivo discorrer sobre algumas reflexes relacionadas aopapel social e educativo que duas instituies portuguesas desempenharam no sculo XVI.Mediante anlise documental e historigrfica pudemos perceber que a Universidade deCoimbra e a Universidade de vora tornaram-se, nesse perodo histrico, as instituies do

    Estado cuja principal tarefa estava relacionada a formao dos quadros profissionais doImprio lusitano, seja para o campo eclesistico ou civil.Ao nos propormos a abordar tal temtica importante apresentar qual a nossa

    compreenso acerca desse momento histrico e, com ele, nosso objeto de investigao.Por considerarmos, assim como Paiva (2012, p. 23), que a Histria enquanto passado noexiste, pois o passado j no se tem: o prprio termo o diz. [...] Fazer Histria interpretar, isto , dar significado, procuramos neste artigo expor nossas interpretaessobre algumas fontes documentais que podem colaborar na compreenso da forma comoaqueles homens do sculo XVI produziram sua experincia social e histrica.

    Nas possesses portuguesas, no caso a colnia braslica, a converso dos povos queaqui viviam e a direo de algumas funes relacionadas ao governo administrativo da

    Colnia foram produzidas tambm pela ao de muitos missionrios jesutas e bacharisformados, no somente nos colgios que aqui existiam5, mas tambm nas faculdades daUniversidade de Coimbra e de vora. O papel desenvolvido por essas instituies nosculo XVI s pode ser compreendido se levarmos em conta no somente o contextohistrico do perodo, como tambm as problemticas da sociedade e cultura portuguesadesse momento. Dessa forma, consideramos pertinentes os estudos sobre as instituieseducacionais lusitanas, no caso a Universidade de Coimbra e Universidade de vora, porserem elas as formadoras dos primeiros missionrios e dirigentes reais que atuaram naorigem da sociedade e educao brasileira.

    Neste mbito, o objetivo central deste artigo se fundamenta no proposto por MarcBloch (2001), ao afirmar que o objeto da histria so os homens no tempo. Para o referidohistoriador devemos considerar que os agentes construtores de tudo o que diga respeito histria da humanidade foi produzido pelos homens. Por isso, o objeto final de qualquer

    pesquisa histrica, independentemente do tema ou perodo, so os homens nos seusrespectivos contexto espacial e temporal. Quando nos propomos a discorrer sobre essasduas instituies no contexto do sculo XVI, buscamos entender no apenas as instituiesem si, mas sim as problemticas vivenciadas por aqueles homens, que demandaram asdiversas aes registradas nas fontes utilizadas.

    Em nossa anlise com as fontes, buscamos nos posicionar, pensar e agirmetodologicamente como historiadores da educao, dialogando com as fontes e comoutros historiadores, fundamentando-se em alguns pressupostos da Escola de Annales, que

    abriu oportunidade de novos horizontes pesquisa. Estudar as instituies educacionaisdesse perodo se deve a esta abertura. importante lembrar que as problematizaespresentes neste texto procuram tambm apresentar essas instituies inseridas dentro deuma histria global.

    Sobre a terceira gerao da Escola dos Annales, representada pelos historiadoresJacques Le Goff e Pierre Nora, em que se rejeita a Histria apenas enquanto narrativa,valorizando os documentos oficiais, Cardoso (2011, p. 22) discorre que alguns aspectos da

    Nova Histria vieram para ficar, entre eles, a ampliao considervel dos objetos eestratgias de pesquisa.

    Outro autor que sugere que o historiador precisa se atentar ao no se limitar a umaHistria apenas narrativa Peter Burke. Para ele preciso o cuidado de discutir algo de

    forma densa o bastante, para lidar no apenas com a sequncia dos acontecimentos, mas

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    tambm com as estruturas - instituies, modos de pensar, entre outros (BURKE, 1992, p.339).

    Desta forma, ao realizarmos nossas interpretaes no deixamos de visualizar nossoobjeto dentro de uma totalidade histrica. Com base em documentos dessas instituies

    procuramos compreender as problemticas presentes na forma de vida daqueles homens dosculo XVI, a fim de refletir sobre esses dois estabelecimentos educativos que de formadireta e indireta se relaciona com a histria da cultura e educao brasileiras.

    Alm disso, outra questo importante apresentarmos a delimitao temporal naqual o contedo deste artigo est restrito. No que se refere Universidade de Coimbranossa inteno apresentar ao leitor uma concepo da reforma do Estudo (1537-1559) afim de que se tornasse a instituio formadora dos quadros profissionais do Imprio. Notocante a Universidade de vora nosso objetivo demonstrar o que motivou a edificaodesta instituio (1559), a qual teve grande importncia para a histria da educaolusitana.

    Universidade de Coimbra e a reforma institucional do sculo XVIEm pesquisas anteriores tivemos a oportunidade de investigar a Universidade de

    Coimbra desde o momento de sua fundao, sculo XIII, at a reforma institucional queocorreu no sculo XVI, reinado de D. Joo III (1521-1557)6. Por meio dessas pesquisas

    pudemos perceber que a constituio histrica dessa instituio est profundamenterelacionada ao contexto histrico no apenas do reino lusitano, mas tambm as conjunturashistricas da dcima terceira a dcima sexta centria.

    Se nos atentarmos a alguns documentos relativos a Universidade de Coimbra atmeados do sculo XVI poderemos perceber que foi nesse momento que o Estudo sofreuuma profunda reforma que objetiva tornar a Universidade a instituio forte do Imprio, naformao dos seus quadros profissionais, j que at esse momento ela era a nicauniversidade do reino.

    A luz da documentao existente sobre esse tema podemos verificar que desde operodo de sua fundao, 1290, at meados do sculo XVI, a Universidade portuguesa teveum papel quase annimo na histria das universidades e at mesmo na histria da educaodo reino. De outra forma no podemos entender o que exposto por diversos historiadoresque abordam esse tema e pelo prprio monarca, D. Joo III, em 17 de novembro de 1543,quando escreveu ao seu embaixador em Roma, Baltazar de Farias, sobre os argumentosque deveria utilizar perante o Papa a fim de obter a anexao das rendas do priorado-mordo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra para a Universidade. Para alm de tal importantesolicitao podemos constatar como se encontrava a Universidade at a reforma

    empreendida nesse momento:[...] E, como sabeis, a dita Universidade causa muito necessria emuito proveitosa a estes meus reinos e senhorios pelo defeito que atagora houve de letrados, maiormente os eclesisticos; e a ditaUniversidade no se pode sustentar sem ter renda: pelo o que peo aSua Santidade que queira anexar os direitos e rendas do ditopriorado mor de Santa Cruz dita Universidade , como largamentevereis pela instruo que sobre isso vos envio. Vos falareis a SuaSantidade tanto que a esta for dada, por que perigo na tardana, lhedareis do assim vos escrevo, e muito afincadamente lhe pedireis de minhaparte por servio de Deus e bem da republica assim eclessiastica como

    secular, destes reinos, queira conceder a dita anexao e unio como

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    por minha parte se lhe pede [...] (DOCUMENTOS DE D. JOO III,1938, vol. II, p. 150, grifo nosso)7.

    Nessa carta fica explicitada toda a problemtica que envolve os objetivos da Coroa

    relacionados solicitao de anexao das rendas do Mosteiro a Universidade de Coimbra.D. Joo III afirma que suas aes esto relacionadas defasagem na formao de letradosque, mediante o desempenho de suas funes no reino, colaboravam para o seu governo.Essa falha na formao de letrados relatada pelo monarca especialmente no tocante aoseclesisticos. A afirmao do rei pode ser relacionada aos diversos investimentosrealizados no incio do seu governo na concesso de bolsas de estudos aos centros deensino teolgico, em colgios e universidades francesas e espanholas8.

    No tocante a reforma institucional planejada a longo prazo pela Coroa portuguesapodemos situar temporalmente esse fato entre os anos de 1523 a 1559. Durante esseperodo constatamos diversas iniciativas do poder real lusitano no sentido de reforma aUniversidade do Imprio.

    Alm da delimitao temporal, mediante analise dos documentos respeitantes aUniversidade no sculo XVI, podemos tambm delimitar espacialmente esseacontecimento entre as cidades de Lisboa e Coimbra. Entre os anos de 1523 a 1536, aUniversidade estava localizada na cidade de Lisboa e sofreu as primeiras aesreformistas. Entre os anos de 1536 a 1559, com a Universidade j na cidade de Coimbra,houve a execuo e efetivao da reforma joanina.

    Em razo das limitaes deste texto nossa anlise se restringir ao segundomomento, entre 1536 a 1559, quando compreendemos que houve a execuo e efetivaoda reforma institucional da Universidade de Coimbra. Para uma melhor exposio do queaqui ser tratado dividimos as nossas interpretaes sobre esse fato em trs itens, quaissejam: reorganizao administrativa; reorganizao pedaggica e reorganizao financeira.

    Compreendemos que a reforma ocorrida seja no campo administrativo, pedaggicoou financeiro, est relacionada s intenes da Coroa em fazer da Universidade deCoimbra o centro de referncia na formao de letrados do Imprio. Nesse sentido, ao

    pensarmos a Universidade enquanto instituio social cujo principal objetivo o ensinodas sciencias necessrias pera bom governo, e conservao da Republica Crist 9 ,compreendemos que todas as atividades relativas administrao institucional dizemrespeito sua finalidade essencial, que o ensino.

    No que se refere a reorganizao administrativa, percebemos que as aes da Coroaperpassaram tanto a organizao institucional do Estudo, como a organizao da cidade deCoimbra, a fim de que este local se tornasse propicio ao desempenho das atividadesacadmicas. Nesse mbito, constatamos diversos alvars, cartas e ordens rgias queversavam de diferentes assuntos tanto no que se refere ao espao citadino como interno daUniversidade. Para exemplificar essas duas situaes apresentamos duas cartas sobre essestemas:

    [...] Bispo Reitor Amigo, eu sou informado que alguns dos conselhosdessa Universidade quando para ele so chamados deixam de ir aoconselho e so nisso [...] negligentes no tendo causa justa para seescusarem de ir o que para mim por mal feito e vos encomendo emando que provejas nisso com aquele rigor e maneira que bem parecer[...] alm disso escreva-me os que assim no cumprirem e nisso foremnegligentes para sobre ele prover como houver por meu servio.

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    Assim mando que nenhum estudante de qualquer qualidade que seja queno for doutor ou licenciado se assente nos lugares altos em que osdoutores e desembargadores da Universidade se assentam [...]E por que sou informado que alguns lentes da dita Universidadeprocuram e vo as audincias sendo lhes proibidos assim pelos Estatutoscomo por meus regimentos vos informareis disso e me escrevais quaisso, os que fazem e em que maneira, para nisso prouver como houver porbem. (DOCUMENTOS DE D. JOO III, 1938, vol.II, p. 89).

    Para alm de todas as questes da vida da Universidade tratadas nessa carta,chamamos a ateno para as determinaes reais a respeito dos assuntos expostos.Observamos que em todos indica-se ao reitor o que deve ser feito para que se resolvadeterminada situao. Em outras palavras, mediante as diretrizes da Coroa o Estudo deCoimbra foi reorganizado administrativamente. Semelhante a essa carta, existem diversosoutros documentos em que podemos constatar como a Universidade deveria ser organizadae dirigida.

    No que se refere a organizao do espao citadino temos o seguinte:

    Juiz vereadores e homens bons da minha cidade de Coimbra eu el Reyvos envio muito saudar. Por eu saber que os estudantes que vo aosEstudos dessa cidade no so bem providos assim de pousadas como decarnes e pescados e doutros mantimentos e parece que ao adiante seromais carecidos das ditas coisas pelos muitos escolares que cada dia vosem a isto se dar remdio quis dar forma e ordem. Como fossem providosdas ditas pousadas e mantimentos segundo veres por uma minha provisoe regimento que sobre as ditas coisas passei a o bispo de Angra. Que oraenvio por Reitor dos ditos Estudos vos mostrara. Encomendo e mando os

    que a cumprais no que a vos tocar como nela contido e lhe de toda aajuda e aviamento necessrio para a dita proviso compra e se dar aexecuo por que cumpra assim a servio de Deus e meu e honra eproveito dessa cidade [...] (DOCUMENTOS DE D. JOO III, 1937, vol.I, p. 54 e 55).

    O rei escreve Cmara de Coimbra com a inteno de organizar a proviso aosmembros da Universidade, de bens alimentcios e casas, j que muitos escolares chegavam cidade para iniciar os estudos. Alm disso, importante nos atentarmos para a

    justificativa do monarca acerca da necessidade de por forma e ordem sobre as casas ealimentos para serem providos ao Estudo, pois o cumprimento e a execuo do alvar

    estavam de acordo com o servio, primeiro de Deus, depois do rei e honra da cidade.Logo aps a transferncia para a cidade de Coimbra, constatamos a existncia dediversas cartas e alvars enviados Universidade acerca do ensino, exames, graus eorganizao do regimento interno de algumas faculdades. Percebemos que as aes daCoroa nesse sentido foram planejadas e replanejadas em conformidade com as

    problemticas que envolviam esses processos. Essas aes da Coroa so interpretadas, porns, como parte da reorganizao pedaggica da Universidade.

    Tambm percebemos que muitas das aes que foram no incio definidas, depoisreformuladas, passaram a fazer parte dos Estatutos de 1559, como encontramos naintroduo de D. Sebastio (1557-1578), neto de D. Joo III, nos Estatutos da Universidadede Coimbra (1559), publicados por Leite (1963):

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    Dom Sebastio, pela graa de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves,daquem e dalem mar em Africa, Senhor da Guin e da conquista,navegao e comrcio de Etipia, Arabia, Persia e India etc. Fao saber avs Reitor, lentes, deputado, conselheiros, oficiais e estudantes daUniversidade da cidade de Coimbra [...] que [...] havia algumas coisasque, pela experincia que se teve do uso deles na dita Universidade,convinha serem mudados e outras declaradas e algumas diminudasou acrescentadas; e sendo os ditos Estatutos vistos pelo Reitor epessoas da dita Universidade , enviaro a Sua Alteza para os tornar aver e mandar sobre isso o que ouvesse por seu servio e bem da ditaUniversidade, e antes de acabar de tomar concluso nos ditosEstatutos foi Nosso Senhor servido de o levar pera si . Pelo que, vendoeu quanta obrigao tinha de prosseguir essa obra por ser de tanto serviode Nosso Senhor e bem de meus reinos e senhorios, e assim por ser autorprincipiador dela pelo dito senhor meu Rei meu av mandei que secontiuasse; [...] (ESTATUTOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    (1559), in: LEITE, 1963, p. 10, grifo nosso).

    Como fica explcito no trecho destacado, a outorgao dos Estatutos de 1559 estrelacionada necessidade de rever as leis que regiam internamente a instituio. Tais leis,que j faziam parte da constituio da Universidade, em razo das experincias no tempotiveram a necessidade de serem readequadas segundo as circunstncias do Estudo inseridona sociedade portuguesa dos meados do sculo XVI. Essas leis que faziam parte dosEstatutos podem tambm serem compreendidas como a efetivao oficial da reforma daUniversidade de Coimbra no reinado de D. Joo III.

    As diretrizes emanadas da Coroa atingiram de diferentes formas os mais diversossetores que constituam o setor pedaggico seja no ensino, professores, alunos, faculdades,

    graus e exames e objetivavam naquele contexto fazer com que a Universidade funcionassea servio da renascena catlica e do Imprio lusitano no ultramar, em outras palavras areorganizao pedaggica ocorrida no momento de reforma institucional tinha o objetivode adequar a formao acadmica da Universidade s transformaes que se processavamno Imprio portugus.

    Como procuramos apresentar nos pargrafos precedentes, a Universidadetransferida da cidade de Lisboa sofreu uma profunda e paulatina reorganizao nosdiversos setores que a constituem. Alm das diretrizes emanadas da Coroa relativas reorganizao administrativa, tanto internamente quanto com o meio citadino que acercava, o Estudo tambm sofreu diversas modificaes pedaggicas que objetivavamreadequar a formao propiciada pela instituio as modificaes ocorridas na sociedade

    portuguesa. Percebemos que esse mesmo processo de reorganizao tambm foi o carro-chefe das aes da Coroa no que se refere ao setor financeiro da Universidade de Coimbra.

    esse objetivo que acreditamos estar presente nas diversas anexaes de rendas dasigrejas do reino a Universidade de Coimbra como podemos constatar no seguinte carta deD. Joo III de vinte e cinco de novembro de 1542:

    Dom Joo pela graa de Deus Rei de Portugal e do Algarve daquem ealm mar em frica, de Guine da conquista e navegao comrcio daEtipia, Arbia, Prsia e da ndia fao saber aos que esta minha cartavierem e o pertencimento do caso pertencer que havendo eu respeitoao servio de Deus e meu a bem da Repblica de meus reinos e

    senhorios que se segue de neles haver Estudos Gerais e como os ditosEstudos no podem ter mestres e lentes suficientes para ensinar e ler

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    neles sem terem renda de que os ditos mestres e lentes hajamsuficientes salrios, pedi ao Santo padre Paulo III ora na Igreja deDeus presidente, que houvesse por bem de unir e anexar para sempreaos Estudos que novamente ordenei na cidade de Coimbra as igrejasdo Salvador do Crucifixo de Boua bispado do Porto e da Santa Maria deFonte Arcada e Santa Maria da Sardoeira e de So Martinho de Mourosdo bispado de Lamego com suas anexadas; e Sua Santidade a minhainstncia houve por bem de anexar para sempre as ditas igrejas aodito Estudo como dito com tanto que eu desse meu consentimentosendo elas ou algumas delas de meu padroado, eu pelos ditosrespeitos ou o meu consentimento e ei por boa e valiosa a dita uniopela sua Santidade feita das ditas igrejas ao dito Estudo na forma emodo que na dita bula se contm. Quanto com direito devo e posso eenquanto a mim e a Coroa de meus reinos e padroado da ditasigrejas pertence e ei por bem que a dita unio se cumpra e guarde ehaja cumprimento feito para guarda e conservao dos ditos Estudos

    [...]. (DOCMENTOS DE D. JOO III, 1938, vol. II, p. 108, grifo nosso).

    Nos trechos em destaque da carta, chamamos a ateno para as razes expostas pelomonarca para que ocorresse a anexao das rendas daquelas igrejas s finanas daUniversidade. Como fica claro, o monarca justifica a incorporao dessas rendas pelanecessidade de haver no reino uma Universidade com lentes competentes nas cinciasdaquela poca. Esses mestres, cuja tarefa est relacionada formao de letrados queauxiliassem na governana da sociedade, s podem desempenhar com satisfao sua tarefase lhes forem concedidos suficientes salrios para manter sua sobrevivncia ecompetncia acadmica. Nesse sentido, o rei solicita ao Papa a anexao dessas igrejas Universidade, igrejas essas que faziam parte, tambm, do Padroado Real. Com o

    consentimento pontifcio, a Coroa repassa ao Estudo essas rendas com a declarao daao ser boa e valiosa aos seus reinos.Alm dessa incorporao encontramos nos documentos analisados diversas outras

    cartas e alvars que versam sobre essa temtica, qual seja conceber Universidade meiosfinanceiros para o desempenho de sua funo, qual seja, formar os letrados do Imprio quecolaborariam mediante desempenho de suas funes com o governo da sociedade.

    Com esta exposio gostaramos de deixar o registro que a reforma institucional daUniversidade s pode ser compreendida se tambm nos atentarmos para as problemticascivis e religiosas presente na sociedade portuguesa nesse momento histrico. Embora deforma limitada, em razo da delimitao desse texto, objetivamos apresentar aUniversidade de Coimbra enquanto instituio histrica constituda pelos homens, anseios

    e ideias presentes no sculo XVI portugus.

    Fundao da Universidade de vora

    Outra instituio que est profundamente relacionada histria da educaoportuguesa e, por conseguinte, com a histria da educao brasileira a Universidade devora, pois foi mediante a formao propiciada por ela que houve a formao de diversosmissionrios jesutas que atuaram nas possesses do Imprio portugus. Nos estudosrelacionados histria de Portugal no sculo XVI, portanto, se destaca na rea da educaoa edificao da Universidade de vora, inaugurada oficialmente em novembro de 1559.

    Importante salientar que sua edificao foi decorrente de um processo de mudanasem Portugal. Com a crise religiosa que espalhava pela Europa desde fins da Idade Mdia,tem-se o despertar de uma nova mentalidade, de pensamentos de renovao e reforma em

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    Portugal. Desta forma, conforme Dias (1998), a Igreja durante o sculo XVI enfrenta umperodo de reformulao em Portugal. Sentia-se a necessidade desta nova mentalidade nasociedade, e, para se alcanar tal objetivo, o estabelecimento de colgios universitrioseram vistos como um meio de se combater o que se chamava de ignorncia presente no

    clero e na sociedade como um todo.A vida do Estudo de vora, no sculo XVI, portanto, s pode ser compreendida, selevarmos em conta as aes desempenhada pelos missionrios jesutas logo que chegaramno reino lusitano. Isso porque, a Companhia de Jesus fruto do contexto do sculo XVI, ea prpria edificao da universidade evorense encontra-se inserida no mesmo. Assim, aUniversidade de vora est relacionada em um primeiro momento, urgncia que se tinhaem combater a crise moral existente na esfera religiosa e na sociedade como um todo.

    Aos poucos a Companhia de Jesus10foi se adentrando em Portugal, conquistando aconfiana da populao em suas obras. Desta forma, a Ordem de Incio de Loyola 11cresceu consideravelmente, de tal forma que foi preciso abraar institutos, casas e colgiosnas trs principais cidades de Portugal, que eram Lisboa, Coimbra e vora. Nesses

    colgios os estudantes recebiam a formao e exerciam os ministrios da profisso.Desta forma, apesar de no ser seu objetivo inicial, a Companhia de Jesus por meio

    de suas atividades educacionaiseducao e instruopreparavam toda a formao dospadres, uma vez que os mesmos percorriam diferentes territrios e povos. E, paraconseguir alcanar sua misso, por meio da religio e das letras, era preciso uma

    preparao adequada.A princpio, as casas dos jesutas, ou seja, os colgios eram locais de residncia

    para os jovens jesutas em formao. Posteriormente, a deciso de alargar o ensino aosestudantes no religiosos contribuiu de maneira decisiva para o crescimento dos colgiosda Companhia de Jesus. No incio do ano de 1553, foram abertas as primeiras escolas

    pblicas da Companhia de Jesus em Portugal. Com o Colgio de Santo Anto, em Lisboa,temos o incio do ensino gratuito, a primeira vez que se prope a ensinar a ttulogratuito nos Colgios da Companhia. (SOUZA, 2003).

    Segundo Rodrigues (1931), o primeiro colgio em Lisboa cresceuconsideravelmente em nmero de estudantes e a sua fama e, consequentemente, daCompanhia de Jesus, se espalharam em Portugal. Entretanto, o que mais despertava aadmirao dos cidados de Lisboa era a transformao rpida e intensa na juventude, quedemonstrava estar mais piedosa e cheia de bons costumes. Devido a este crescimento, foihavendo a necessidade de se aumentar o nmero de escolas, pois se isso no acontecesse,no seria possvel admitir mais nenhum aluno no Colgio de Santo Anto.

    Em vora, antes mesmo do cardeal D. Henrique, irmo de D. Joo III (521-1557),

    receber de Portugal as instrues de Incio, o mesmo j havia discutido com os padres daCompanhia uma forma de se iniciar a empresa educacional em sua cidade. O colgiojesuta em vora foi inaugurado em 28 de agosto de 155312, dia dedicado ao doutor daIgreja S. Agostinho. Conforme Veloso (1949), o Colgio inaugurado antes do trminodas obras e a Companhia de Jesus o assume antes da finalizao. Aps oito meses doincio das primeiras disciplinas, a fama do Colgio em vora se espalhou a ponto de suasaulas serem frequentadas por mais de trezentos estudantes. (VELOSO, 1949, p. 13). Destaforma, D. Henrique foi objetivando a ampliao do Instituto, desejoso de elev-lo categoria de Universidade.

    Como descreve Rodrigues (1931), D. Henrique rogava ao Papa para que seconcedesse a permisso de se instituir a Universidade eborense. As razes desta rogativa se

    encontram em carta escrita ao embaixador portugus D. Afonso de Lecastre aos dezenovedo ms de fevereiro do ano de 1558:

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    Vendo eu, explicava ele, a muita falta que h nestes reinos, de telogos epessoas que possam ensinar a doutrina crist e palavra de Deus ao povo, eassim os muitos benefcios curados que nele h, que muitas vezes no so

    providos de pessoas to doutas e suficientes como necessrio e serequere para o servio de Nosso Senhor e salvao das almas [...] porsuas pobrezas, como por serem lugares to remotos da dita Universidade,o que parece se podia remediar com se instituir e criar no meu colgio devora uma Universidadezinha em que somente se lessem lnguas, artes,teologia e casos de conscincia [...] vos agradecerei muito de minha parteo representardes a S. Santidade e lhe dizerdes quanto fruto e servio aNosso Senhor de pode com isso fazer , por a cidade de vora estar emmeio dos lugares mais remotos que em este reino h da Universidade deCoimbra. (apudRODRIGUES, 1931, p. 313)

    O Papa Paulo IV, por meio da Bula de Erecam da Universidade, no ano de 1558,

    autoriza a criao da Universidade de vora sob a direo e administrao da Companhiade Jesus; e aBula Cum a Nobis, de Abril de 1559, institui a nova Universidade.Criada oficialmente em 1559 a instituio universitria de vora, ligada

    Companhia de Jesus, teve uma slida importncia na histria da educao lusitana. DeCoimbra e de Lisboa chegaram alguns religiosos, os quais do origem nova fundao,que passa a ser conhecida pelo nome de Colgio do Espirito Santo e Universidade devora.

    Mediante pesquisa anterior13pudemos constatar que na instituio se lecionava asmesmas cincias que se ensinava em Coimbra, com exceo de Medicina, do Direito Civile a parte contenciosa do Direito Cannico. Tambm se conferia os mesmos graus de

    bacharel, licenciado, mestre e doutor. Dessa forma, podemos perceber quais poderiam ter

    sido os objetivos da formao propiciada tanto pela Universidade de vora como Coimbra.Ambas estavam a servio do Estado na formao dos letrados do Imprio.

    Conforme Cid (1997), a Universidade de vora, desde o momento de sua fundaoe ao longo do sculo XVI, recebeu ilustres visitantes. Percebe-se que tais momentos eramsempre rodeados de festas e comemoraes grandiosas, com o objetivo de atingir toda a

    populao. Nessas visitas, os jesutas aproveitavam para divulgar o seu processo educativoe a competncia de seus mestres e alunos.

    Os professores da Universidade de vora, em seu primeiro sculo de existncia,eram jesutas vindos de outra instituio e a maioria possua grau de doutorado. Os mestreseborenses e seus discpulos deixaram importantes obras impressas e manuscritos sobreuma diversidade de tema. Entretanto, segundo Jos Vaz de Carvalho (1997), em seustrabalhos os mestres se preocupavam principalmente com questes scio-jurdicas e

    pastorais. Em relao aos alunos, ainda segundo o autor citado, a Universidade tinha comoobjetivo inicial a adeso de estudantes de Portugal como tambm de outros pases.Entretanto, com o tempo verificou-se que predominava alunos de localidade prxima,

    principalmente Alentejo e Algarve.Na instituio jesutica do sculo XVI, segundo Sousa (2003), o Reitor era a figura

    central do Colgio e da Universidade, mas, o brao direito na orientao pedaggica era oPrefeito de Estudos. No documento Ratio Studiorum14, temos descrito as obrigaes doPrefeito de Estudos.

    Dever do Prefeito. - Dever do Prefeito ser o instrumento geral do

    Reitor, afim de, na medida da autoridade por ele concedida, organizar osestudos, orientar e dirigir as aulas, de tal arte que os que as freqentam,

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    faam o maior progresso na virtude, nas boas letras e na cincia, para amaior glria de Deus. (RATIO STUDIORUM, REGRAS DO PREFEITODE ESTUDOS, N1)

    A Companhia dedica-se obra dos colgios e universidades, afim de que

    nestes estabelecimentos melhor se formem os nossos estudantes no sabere em tudo quanto pode contribuir para o auxlio das almas e por sua vezcomuniquem ao prximo o que aprenderam. Abaixo, portanto, do zelopela formao das slidas virtudes religiosas, que o principal, procure oReitor, como ponto de mxima importncia, que com a graa de Deus, sealcance o fim que teve em mira a Companhia ao aceitar colgios.(RATIO STUDIORUM, REGRAS DO REITOR, N1)

    O Prefeito de Estudos, portanto, acompanhava toda a vida escolar, por meio devisitas regulares as aulas. Conforme Sousa (2003), o trabalho do Reitor e do Prefeito deEstudos eram vistos como essenciais, pois os mesmos eram instrumentos que poderiam

    contribuir para o xito dos colgios da Companhia.A Universidade de vora obteve ao longo do sculo XVI, como tambm durante osculo XVII, documentos de autorizaes especiais em seu funcionamento. Os mesmos soa prova da fora poltica da instituio jesutica15. Podemos verificar trechos das bulasemitidas, por meio de Veloso (1949), que descreve algumas destas permisses especiais.Desta forma, em relao a privilgios Universidade, Veloso (1949) nos diz que sob a

    proviso da rainha regente D. Catarina, em abril de 1562, concedido Universidadetodas as isenes, graas e franquezas da Universidade de Coimbra. Sendo em 1573confirmado por D. Sebastio o que j havia sido concedido e outorgando outras novasconcesses.

    Em 1568, por ordem do papa Pio V, a Universidade desobrigada de toda a

    jurisdio ou dependncia real e eclesistica, inclusive dos prprios arcebispos de vora,ficando sujeita apenas ao Padre Geral da Companhia de Jesus e a seus delegados. SegundoVeloso (1949), este privilgio foi solicitado por D. Henrique, do qual tambm se conseguiumais poder para o reitor da Universidade.

    E declaramos que o Rei de Portugal, na jurisdico, correo e visitao,em tudo e sobreticto e em cada uma das outras cousas pertencentes mesma Universidade, no pode de modo algum intrometter-se com osReligiosos, Estudantes, Officiaes, Leitores, etc., da mesma Universidade,ou ter alguma superioridade, jurisdico, correo ou visitao, ou gosardo direito de os visitar ou corrigir (apud VELOSO, 1949, p. 42).

    Podemos perceber, por meio das bulas publicadas, quo grande era a fora exercidapela Companhia de Jesus em terras portuguesas. Observa-se que as referidas bulasserviram como respostas a algum conflito possivelmente existente em relao s regalias e

    privilgios da Universidade. As bulas no eram aceitas com passividade, sendoquestionadas por pessoas que defendiam outros interesses.

    A Universidade de vora, em seus dois primeiros sculos de existncia, contribuiufortemente para a cultura portuguesa. Foi um grande centro em nvel nacional, europeu emundial. Desta forma, por meio do xito da instituio, se beneficiou no somente aarquidiocese eborense, mas, sim, a sociedade portuguesa como um todo. Desde o momentoda edificao da Universidade de vora at a expulso dos jesutas pelo Marqus de

    Pombal, podemos perceber essa participao decisiva. A Instituio representa a fora

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    social, poltica e educacional, que teve a Companhia de Jesus em terras portuguesas, j queaps a sua fundao o reino portugus passou a contar com duas universidades.

    O xito que obteve a Universidade de vora no primeiro sculo de existnciacoincide com o sucesso que teve a Companhia de Jesus em terras portuguesas. Desejava-se

    muito essa empresa em vora visto que estava relacionada formao de quadrosprofissionais do Imprio lusitano, tanto para o campo eclesistico quanto para o civil.

    Consideraes finais

    Podemos considerar que as duas instituies educativas trabalhadas aqui tiveram,no sculo XVI, um significativo papel na formao dos quadros profissionais no Impriolusitano, seja para atender as demandas do poder rgio, seja para suprir as necessidades daigreja portuguesa. Procuramos apresentar neste texto que todos os fatos relativos aos doisestudos gerais lusitanos, reforma institucional da Universidade de Coimbra e fundao da

    Universidade de vora, s podem ser compreendidos se tambm entendermos asproblemticas sociais e culturais daqueles homens no referido perodo.Compreender o papel desenvolvido por essas duas instituies colabora nas

    reflexes que podemos fazer acerca no apenas da sociedade portuguesa desse momento,mas, tambm, das origens da cultura e educao brasileiras, j que houve a atuao direta eindireta de muitos padres jesutas e outros dirigentes reais no perodo do Brasil Colnia.Desta forma, acreditamos que compreender a histria da educao portuguesa,especialmente no que se refere a essas duas instituies que formaram os letrados doImprio lusitano, tambm compreender uma parte da origem da histria da educao

    brasileira.

    RefernciasBLOCH, M. Apologia da Histria, ou o ofcio de historiador. Trad. de Andr Telles. Riode Janeiro: Jorge Zahar, 2001

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    DOCUMENTOS DE D. JOO III. Volume I. Publicado por Mrio Brando. Coimbra,1937.

    DOCUMENTOS DE D. JOO III. Volume II. Publicado por Mrio Brando. Coimbra,1938.

    ESTATUTOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (1559) com introduo e notashistricas e criticas de Serafim Leite. Coimbra: Por Ordem da Universidade, 1963.

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    Notas

    1Docente da Universidade Estadual de Maring: dos cursos de Pedagogia nas modalidades presencial e distncia, e do mestrado e doutorado em Educao. coordenador adjunto do curso de graduao emPedagogia a Distncia. [email protected] Professor Associado do Departamento de Histria e do Programa de Ps-graduao em Histria daUniversidade Estadual de Maring.3Doutoranda em educao pelo Programa de Ps- Graduao em Educao da Universidade Estadual deMaring - UEM4 Mestranda em educao pelo Programa de Ps- Graduao em Educao da Universidade Estadual deMaring - UEM5No Brasil, ento Provncia da Companhia de Jesus, desde 1555, j havia no sculo do Quinhentos trscolgios constitudos no sentido tcnico do termo: o de Salvador, na Bahia, o de Olinda, em Pernambuco, e odo Rio de Janeiro. [...] (TEGO, 2008, p. 12) . Entretanto, foi somente no ano de 1575 que se tm notciasda concesso de graus por esses colgios que ofereciam a faculdade de Artes e Teologia. Ansio Teixeira(1989, p.76) fornece algumas informaes acerca dos graus propiciados pelos colgios fundados no Brasilnesse perodo: A distribuio de graus acadmicos se inicia em 1575, com o grau de bacharel em artes,conferido em festa que mobilizou toda a cidade da Bahia, registrando o padre jesuta redator da Carta nua

    que ningum tinha at ai subido no Brasil desde todos os sculos. Vemos, assim, como havia conscincia

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    do que representava a transplantao da cultura da poca para os distantes rinces da Amrica portuguesa.Em 1578, conferiam-se as primeiras lureas de mestre em artes.6Conferir NASCIMENTO (2012)

    7 Para facilitar a compreenso dos documentos transcritos aqui, fizemos uma atualizao ortogrfica dalngua portuguesa.8Conferir em Nascimento (2012)9Fonseca (1997, p. 501).10 Uma Ordem religiosa que tem incio em Paris, em 1534, liderada por Incio de Loyola, tendo sidooficializada em 1540 pelo papa Paulo III. A Companhia no criada com fins para o ensino, mas sim, comum objetivo missionrio de propagar a f catlica.11Incio de Loyola assume oficialmente a conduo da Ordem em 22 de abril de 1541.12As aulas se iniciam em 1553 com trs classes de humanidades (ensino de grego e latim) e uma de Casos deConscincia (para formao de clrigos).

    13Conferir Bortolossi (2012).14Oficializado em 1599, trata-se de um documento pedaggico educacional, sendo resultado de um extenso

    processo de estudos ao longo do sculo XVI.15 Na Universidade de Coimbra encontra-se disponvel documentos histricos que discorrem sobre os

    privilgios obtidos pela Universidade de vora em seus dois primeiros sculos de existncia.

    Recebido em agosto/13Aprovado em maro/14