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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA Linha de pesquisa: Processos de Saúde e Doença em Contextos Institucionais CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS Guilherme Welter Wendt Mestrando Drª. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa Orientadora São Leopoldo, Dezembro de 2012

RCBI. Inventario de Cyberbullying Test

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Cyberbullying

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA

    MESTRADO EM PSICOLOGIA CLNICA

    Linha de pesquisa: Processos de Sade e Doena em Contextos Institucionais

    CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS

    Guilherme Welter Wendt

    Mestrando

    Dr. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

    Orientadora

    So Leopoldo, Dezembro de 2012

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    CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS

    GUILHERME WELTER WENDT

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, como requisito parcial para a obteno do Grau de Mestre em Psicologia Clnica.

    Orientadora: Dr. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

    So Leopoldo, Dezembro de 2012

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  • 4

    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA

    MESTRADO EM PSICOLOGIA CLNICA

    CYBERBULLYING EM ADOLESCENTES BRASILEIROS

    Elaborada por

    Guilherme Welter Wendt

    Comisso Examinadora

    _____________________________________

    Dr. Ana Maria Faraco de Oliveira (UFSC)

    _____________________________________

    Dr. Christian Haag Kristensen (PUC-RS)

    _____________________________________

    Dr. Silvia Pereira da Cruz Benetti (UNISINOS)

    _____________________________________

    Dr. Carolina Saraiva de Macedo Lisboa (UNISINOS)

    Orientadora

    So Leopoldo, Dezembro de 2012

  • 5

    Esse trabalho inteiramente dedicado aos meus pais, que sempre

    forneceram especial incentivo ao que mais gosto de fazer: aprender.

    Minha me, Tereza Welter Wendt, junto de meu pai,

    Guido Aloysio Wendt (in memorian),

    com muito sacrifcio, no mediram esforos

    para que este e futuros estudos pudessem ser concretizados na minha vida.

  • 6

    H sonhos que devem permanecer nas gavetas,

    nos cofres, trancados at o nosso fim.

    E por isso passveis de serem sonhados a vida inteira

    Hilda Hilst

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Essa dissertao fruto de um trabalho conjunto de intensas e esforadas pessoas que,

    no dia a dia das atividades do grupo de pesquisa, problematizaram e cooperaram para que se

    tornasse possvel a conduo dos estudos que seguem. Assim, impossvel no citar,

    primeiramente, a valiosa contribuio de minha orientadora, Dr. Carolina Saraiva de Macedo

    Lisboa, que amavelmente me acolheu e serviu como estmulo em diversos momentos. Foi

    atravs de seu perspicaz conhecimento que descobri as nuances que perpassam o estudo

    sistemtico das relaes entre pares e, em especial, do comportamento agressivo em crianas

    e adolescentes.

    Em nome dela, agradeo tambm a todos os amigos e integrantes do grupo de

    pesquisa, e, especialmente, aos bolsistas de iniciao cientfica Dbora Martins de Campos,

    pelo seu brilhantismo, dedicao inabalvel e competncia indiscutvel; Taynah Prestes Iarto

    e Cristian Schwartz, que, para alm das boas risadas e ideias compartilhadas, foram

    fundamentais na coleta, tabulao e anlise crtica dos dados que sero apresentados a seguir;

    Jssica de Conti e Gibson Weydmann que, embora tenham integrado o estudo em sua etapa

    final, dedicaram-se com entusiasmo, curiosidade e energia. E, ainda, aos colegas do curso de

    mestrado em Psicologia Clnica, Tatiane de Oliveira Dias, pelos sorrisos dirios e sempre

    alegre convivncia, Edilson Pastore, por servir de modelo de integridade e compromisso

    tico, Renata Klein, cintilante e sincera amiga, Silvana Magayevski, pela energia positiva e

    torcida constante.

    s escolas, devo tambm agradecimentos pela colaborao incansvel durante a

    exaustiva etapa de coleta dos dados, uma vez que tiveram de mobilizar seu corpo docente,

    ceder horrios preciosos de aprendizagem para receber nossa equipe de pesquisa, inmeras

    vezes, para o debate e reajustes necessrios; aos pais/responsveis, agradeo pela autorizao

    de seus filhos para a participao nessa investigao. Alm disso, sou igualmente grato aos

    adolescentes, que dedicaram tempo e empenho no fornecimento de suas respostas para que

    pudssemos avanar no conhecimento cientfico sobre a temtica em anlise na presente

    dissertao.

    Devo ainda mencionar a inestimvel gratido ao corpo de docentes e colaboradores do

    Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

  • 8

    (UNISINOS). Durante o perodo de concepo, maturao e desenvolvimento do projeto, as

    opinies e sugestes recebidas, as ideias trocadas tanto em sala de aula como nos corredores e

    cafs da universidade foram de grande valia. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal

    de Nvel Superior (CAPES) e International Society for the Study of Behavioural

    Development (ISSBD) devo tambm agradecimentos. Essas duas instituies, juntas, foram

    fundamentais para a concluso desse estudo.

  • 9

    SUMRIO

    1. Apresentao........................................................................................................... 16

    2. Seo 1 - Artigo terico Compreendendo o fenmeno do cyberbullying........ 18

    2.1 Introduo........................................................................................................... 20

    2.2 Cyberbullying - definies e estudos................................................................. 23

    2.3 Prevalncia do Cyberbullying............................................................................. 26

    2.4 Cyberbullying: impactos, fatores de risco e de proteo.................................... 30

    2.5 Consideraes finais........................................................................................... 32

    2.6 Referncias.......................................................................................................... 36

    3. Seo 2 - Artigo emprico Cyberbullying entre adolescentes: prevalncia, diferenas de gnero e relaes com sintomas de depresso.............................

    43

    3.1 Introduo........................................................................................................... 46

    3.2 Mtodo................................................................................................................ 50

    3.2.1 Delineamento................................................................................................... 50

    3.2.2 Amostra............................................................................................................ 50

    3.2.3 Instrumentos..................................................................................................... 50

    3.2.4 Procedimentos.................................................................................................. 53

    3.3 Resultados........................................................................................................... 55

    3.3.1 Prevalncia do cyberbullying e associaes com variveis do estudo............. 57

    3.3.2 Preditores do cyberbullying............................................................................. 61

    3.4 Discusso............................................................................................................ 63

    3.5 Referncias.......................................................................................................... 68

    4. Consideraes finais da dissertao................................................................................ 74

    4.1 Referncias.......................................................................................................... 77

    Anexos.................................................................................................................................... 78

    Anexo A - Questionrio biossociodemogrfico.................................................................... 79

    Anexo B - Revised Cyberbullying Inventory.......................................................................... 82

    Anexo C - Inventrio de Cyberbullying Revisado (Portugus)............................................. 84

  • 10

    Anexo D - Inventrio de Depresso Infantil.......................................................................... 86

    Anexo E - Aprovao do Comit de tica em Pesquisa........................................................ 90

    Anexo F - Carta de Anuncia................................................................................................. 91

    Anexo G - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................................... 92

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Artigo terico

    Tabela 1 - Critrios utilizados para definio de bullying x cyberbullying.............................25

    Tabela 2 - Estudos de prevalncia do cyberbullying em distintos pases................................27

    Artigo emprico

    Tabela 1 - Papeis relativos ao envolvimento com cyberbullying............................................59

    Tabela 2 - Correlaes entre as variveis do estudo................................................................60

    Tabela 3 - Preditores do cyberbullying....................................................................................61

  • 12

    LISTA DE SIGLAS

    ANOVA - Anlise de Varincia

    APA - American Psychiatric Association

    APA - American Psychological Association

    BVS - Biblioteca Virtual em Sade

    CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CDI - Inventrio de Depresso Infantil

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    DSM-IV-TR - Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais

    ISSBD - International Society for the Study of Behavioural Development

    OR - Odds Ratio

    PEPSIC - Peridicos Eletrnicos em Psicologia

    RCBI - Inventrio de Cyberbullying Revisado

    SCIELO - Scientific Electronic Library Online

    SMS - Short Message Service

    SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

    TICs - Tecnologias de Informao e Comunicao

    UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos

  • 13

    RESUMO

    O cyberbullying entendido como uma forma de comportamento agressivo que ocorre

    atravs dos meios eletrnicos de interao (computadores, celulares, sites de relacionamento

    virtual), sendo realizado de maneira intencional por uma pessoa ou grupo contra algum em

    situao desigual de poder e, ainda, com dificuldade em se defender. Os estudos disponveis

    at o presente momento destacam que o cyberbullying um fator de risco para o

    desenvolvimento de sintomas de ansiedade, depresso, ideao suicida, abuso de substncias

    psicoativas, dentre outras situaes potencialmente danosas ao desenvolvimento. Todavia,

    pouca ateno tem sido dada em relao ao fenmeno no Brasil e na Amrica Latina. Assim,

    o objetivo dessa dissertao foi investigar o cyberbullying, atravs de dois estudos distintos,

    sendo um de natureza terica e outro emprico. O estudo terico, apresentado na seo 1, traz

    dados sobre a prevalncia do fenmeno em distintos pases, alm de discutir as consequncias

    e aspectos conceituais que diferenciam o bullying do cyberbullying. Do mesmo modo, fatores

    de risco e de proteo em relao ao cyberbullying so tratados e estudos atuais sobre o tema

    so amplamente revisados e discutidos. J a investigao emprica, que compe a seo 2, foi

    realizada com adolescentes com idades variando entre 13 a 17 anos (N=367), provenientes de

    escolas pblicas e privadas da regio metropolitana de Porto Alegre, RS. O objetivo principal

    foi de analisar a prevalncia do cyberbullying e suas relaes com sintomatologia depressiva,

    verificando possveis diferenas entre meninos e meninas e as diferenas em relao a faixa

    etria dos participantes. Um percentual elevado de adolescentes referiu estar envolvido com o

    processo (72,7% com cyber agresso e 75,6% com cyber vitimizao), no havendo diferena

    significativa entre meninos e meninas. Associaes positivas e significativas entre o

    envolvimento com cyberbullying com a idade dos participantes, o tempo gasto na internet e

    sintomas de depresso foram identificadas. Constatou-se tambm que os adolescentes

    caracterizados como vtimas-agressores do processo de cyberbullying apresentaram nveis

    mais elevados de depresso quando comparados aos estudantes no envolvidos com o

    fenmeno. Dados sociodemogrficos e relacionados interao dos adolescentes com as

    ferramentas tecnolgicas e virtuais so descritos e discutidos. Foi possvel verificar que o

    cyberbullying um fenmeno de extrema relevncia e que ainda necessita ser largamente

    estudado no contexto brasileiro. Estudos apontam o quanto este processo pode ser fator de

    risco para o desenvolvimento de jovens e ressaltam a importncia de pesquisas que subsidiem

    intervenes. Dados do estudo emprico corroboram achados da literatura, assim como

  • 14

    apontam para diferenas culturais no que tange a este fenmeno. Tambm se apresentam, ao

    final dessa investigao, sugestes para estudos futuros, bem como so ressaltadas as

    limitaes da mesma.

    Palavras-chave: adolescncia, bullying, cyberbullying, depresso.

    rea conforme classificao do CNPq: 7.07.00.00-1 (Psicologia).

    Subrea conforme classificao do CNPq: 7.07.07.00-6 (Psicologia do Desenvolvimento

    Humano).

  • 15

    ABSTRACT

    Cyberbullying is understood as an intentional subtype of aggressive behavior that occurs

    through interactive electronic media (computers, mobile phones, social network sites), held

    by one or more persons against other in an unequal power relationship, where the victims

    often cant defend her or himself. Recent studies points that cyberbullying is a risk factor for

    anxiety symptoms, depression, suicide ideation, substance abuse, among other risky

    development situations. Therefore, little attention has been given to this phenomenon in

    Brazil and Latin America. In this sense, this thesiss aim was to investigate the cyberbullying,

    through two different studies, a theoretical and an empirical study. The theoretical study,

    described in section 1, brings evidences about the phenomenon prevalence in different

    countries, besides discussing consequences and conceptual aspects that differ bullying from

    cyberbullying. As well as, risk and protection factors related to cyberbullying are treated and

    actual studies about this topic are deeply revised and discussed. The empirical investigation,

    in section 2, was held with adolescents aged from 13 to 17 years-old (N=367), from Public

    and Private schools from Porto Alegre area, South Brazil. The main objective was to analyze

    cyberbullying prevalence and its relation with depression symptoms, verifying possible

    differences between boys and girls and between participants age differences. A high percent

    of adolescents referred to be involved in cyberbullying (72.7% cyber aggression and 75.6% in

    cyber victimization), and no gender differences were found. Significant and positive

    associations between cyberbullying participants age, time spent in internet and depression

    were identified. Adolescents who were victims and/or aggressors in cyberbullying showed

    higher levels of depression compared to cyberbullying uninvolved youth. Sociodemographic

    data related to adolescents interaction with technological and virtual tools are also described

    and discussed. It was possible to verify that cyberbullying is extremely relevant phenomenon

    that still needs to be largely studied in Brazilian context. Studies point to how much this

    process can represent a risk factor to youth development and emphasize the importance of

    researches that may support interventions. Data from the empirical study confirmed

    evidences found in literature, as well as showed cultural differences related to this process.

    Also is presented, at the end of this investigation, suggestions for future studies, as well as the

    study limitations.

    Keywords: adolescence, bullying, cyberbullying, depression.

  • 16

    1. Apresentao

    A presente dissertao est inserida na linha de pesquisa Processos de Sade e

    Doena em Contextos Institucionais, do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da

    Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Em especial, situa-se no grupo de

    pesquisa coordenado pela professora Dr Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, que tem se

    dedicado ao estudo da agressividade, em especial do fenmeno bullying em profundidade, e

    demais fenmenos correlatos s relaes entre pares e scio-cognies desde seus estudos de

    doutoramento. Assim, o presente trabalho tem, como objetivo principal, investigar o

    fenmeno do cyberbullying, um tipo especfico de bullying, identificando sua prevalncia,

    caractersticas e relaes existentes com sintomas de depresso em adolescentes. Alm disso,

    buscou-se comparar os resultados em relao ao sexo e tambm com relao faixa etria

    dos participantes. O fenmeno contemporneo e associado s alteraes observadas no

    campo das tecnologias de informao e comunicao (TICs), sendo descrito como uma nova

    forma de bullying ou de agresso entre iguais.

    O tema dos comportamentos e aes agressivas entre pares, como o processo de

    bullying, tem sido amplamente investigado na rea da Psicologia. A partir de diversas

    investigaes longitudinais, se conhece os significativos impactos negativos do bullying no

    curso desenvolvimental de crianas e adolescentes. Todavia, em relao ao cyberbullying ou

    o bullying virtual, ainda existem inmeros fatores a serem estudados e compreendidos. Dessa

    maneira, considerando o exposto, inicialmente apresentado o estudo terico, que compe a

    seo 1 da presente dissertao. Neste artigo de reviso no-sistemtica intitulado

    Compreendendo o fenmeno do cyberbullying so debatidos em profundidade os conceitos

    relativos ao objeto de investigao, bem como so apontados e discutidos estudos e achados

    da literatura nacional e internacional que apresentam e discutem os possveis fatores de risco

    e proteo envolvidos no processo de cyberbullying. Optou-se por uma reviso terica no-

    sistemtica por tratar-se de uma temtica emergente e, assim, a compilao de estudos

    indexados em bases nacionais e internacionais resulta em um nmero restrito de artigos1 (a)

    1 Por exemplo, utilizando os descritores cyberbullying e risk factors foi possvel recuperar apenas 13 estudos, sendo que, destes resultados, observa-se a ausncia de investigaes realizadas por grande parte dos pesquisadores de referncia no tema. Do mesmo modo, os dados que estes 13 estudos apresentam no abordam, em sua maioria, informaes como prevalncia, discusses conceituais que fazem meno distino em relao ao bullying, etc.

  • 17

    e, ainda, por se tratar de um fenmeno atual e novo, apresenta implicaes conceituais

    qualitativamente distintas quando comparado ao processo de bullying escolar ou

    tradicional, que merecem ser analisadas com profundidade (b).

    Na seo 2, apresentado o artigo emprico, cujo ttulo Cyberbullying entre

    adolescentes: prevalncia, diferenas de gnero e relaes com sintomas de depresso. A

    investigao, de natureza quantitativa e transversal, explora a frequncia com a qual os

    participantes envolveram-se com o fenmeno, tanto na forma de perpetradores como no papel

    de vtimas. E, alm disto, so analisadas tambm as relaes entre o cyberbullying com

    sintomas de depresso, bem como so investigadas diferenas entre os sexos e faixa etria

    dos participantes.

    Finalmente, nas consideraes finais da dissertao, os subsdios tericos so

    discutidos em conjunto com os achados da investigao emprica. Do mesmo modo, so

    apontadas as limitaes da pesquisa, bem como direes para estudos futuros.

  • 18

    2. Seo 1 - Artigo terico Compreendendo o fenmeno do cyberbullying

    Compreendendo o fenmeno do cyberbullying

    Guilherme Welter Wendt e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa21

    Resumo: O subtipo especfico de violncia denominado de bullying constitui-se em um

    problema srio e recorrente nas instituies escolares atualmente, trazendo consequncias

    negativas para o processo de desenvolvimento humano em curto, mdio e longo prazo.

    Considerada uma questo de sade pblica, esta e outras formas de agressividade entre pares

    vm atraindo significativa ateno por parte da mdia, dos pais, professores, cientistas e

    tambm dos responsveis pela elaborao de polticas pblicas. Entretanto, em um mundo

    digital, o advento das novas tecnologias da informao e comunicao acaba tambm

    impulsionando a emergncia de um novo tipo de bullying, que se situa no ciberespao e se

    apoia nas ferramentas tecnolgicas de interao, denominado cyberbullying. Assim, o

    presente artigo objetiva analisar e discutir os aspectos que tangenciam a ocorrncia dessa

    forma eletrnica de comportamento agressivo e intencional, com o foco em questes

    conceituais que o diferenciam do bullying tradicional. Para tal, sero apresentados e

    discutidos estudos sobre prevalncia, caractersticas e consequncias do cyberbullying

    selecionados nas seguintes bases de dados: Pepsic, Science Direct, BVS, PsychInfo, Scielo e

    PubMed. Tratou-se de uma reviso no-sistemtica da literatura internacional e nacional

    sobre cyberbullying que permitiu uma reflexo acerca desse tipo de violncia e possveis

    caminhos para uma melhor compreenso de estratgias para o manejo das situaes de

    cyberbullying na atualidade. A importncia de pesquisas sobre esta temtica no Brasil e

    Amrica Latina reforada no sentido de aprofundar-se a compreenso e gerar subsdios para

    o desenvolvimento de intervenes focais e preventivas.

    Palavras-chave: cyberbullying, agressividade, adolescncia, tecnologias de informao e

    comunicao.

    21

    Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Centro de Cincias da Sade, Programa de Ps-Graduao em Psicologia.

  • 19

    Abstract: The subtype of violence behavior named as bullying is a serious problem recurrent

    in schools nowadays, bringing negative short, medium and long term consequences to

    development process. Considered as a public health issue, this and other forms of peer

    aggression are attracting media, parents, teachers and scientists attention as well as attention

    from responsible for public policies. Therefore, in a digital world, the new information and

    communication technologies allow a new kind of bullying to take place, a violence that

    situates in cyberspace and is supported by interactive technological tools, called

    cyberbullying. In this sense, the present paper aims to analyze and discuss aspects that are

    related to this electronic, intentional aggressive behavior, focusing in conceptual differences

    from bullying. To that, studies selected from Pepsic, Science Direct, BVS, PsychInfo, Scielo

    and PubMed about prevalence, characteristics and cyberbullying consequences are presented

    and discussed. The result was an unsystematic international and national literature revision

    toward cyberbullying that allowed an adequate reflection about this kind of violence and

    possible ways to a better comprehension and effective strategies to deal with cyberbullying

    nowadays. The importance of the researches about this topic in Brazil and Latin America is

    reinforced to provide a broader understanding about this process and to generate data that

    support the development of focus and preventive interventions.

    Keywords: cyberbullying, aggression, adolescence, information communication

    technologies.

  • 20

    2.1 Introduo

    A agressividade humana pode ser definida como um comportamento que motivado e

    que tem por objetivo causar algum tipo de sofrimento a outro indivduo ou grupo (Anderson

    & Bushman, 2002). Os atos de agressividade, inseridos em contexto cultural especfico,

    repercutem negativamente nas mais distintas esferas da sociedade (famlia, trabalho, lazer,

    educao, etc). Nos ltimos anos, a comunidade cientfica tem concentrado esforos para o

    entendimento mais aprofundado das diferentes manifestaes da agressividade e de seus

    impactos na vida das pessoas (DeWall, Anderson, & Bushman, 2011; Little, Henrich, Jones,

    & Hawley, 2003).

    Quando se considera especificamente as crianas e os adolescentes, observa-se que a

    agresso pode resultar em consequncias ainda mais graves. Ou seja, para alm do impacto

    psicolgico imediato da agressividade - considerando-se que no caso dos jovens pode no

    existir, ainda, maturidade suficiente para adequado manejo - os jovens podem interiorizar a

    noo de que somente atravs do uso da agressividade que se torna possvel a resoluo de

    conflitos (Garaigordobil, 2011). De acordo com essa perspectiva de compreenso, a vivncia

    de agressividade pode gerar comportamentos e crenas especficas acerca das relaes

    interpessoais. Assim, indivduos que agridem ou so agredidos podem aprender que esta a

    forma de reagir em situaes de estresse ou como um meio para atingir seus objetivos

    (Dodge, Bates, & Pettit, 1990).

    O bullying, palavra de origem estrangeira e sem traduo especfica para a lngua

    portuguesa, refere-se a um processo que pode ser circunscrito dentro do rol de

    comportamentos entendidos como agressivos ou violentos (Hong & Espelage, 2012). Em

    geral, o uso do termo no contexto brasileiro alude a comportamentos de intimidao,

    violncia e humilhao, embora o processo no se restrinja somente a essas aes (Wendt,

    Campos, & Lisboa, 2010). Em termos conceituais, entende-se que o processo de bullying

    ocorre na medida em que uma pessoa ou um grupo busca, sistematicamente, excluir,

    intimidar, molestar ou maltratar outra pessoa ou mesmo um grupo de pessoas, levando a

    excluso social (Olweus, 1993).

    Cabe mencionar tambm que se observa um demarcado desequilbrio de poder nos

    casos de bullying, em que a vtima se encontra em uma situao com escassos ou nenhum

  • 21

    recurso de defesa, alm do carter sistemtico de agresso (Lisboa, Braga, & Ebert, 2009).

    Alm disso, o bullying pode ocorrer tanto de modo direto, atravs de atos envolvendo

    agresses fsicas e ataques verbais, ou ainda de modo indireto e relacional, como nas

    situaes de isolamento, chantagem, ameaas, difuso de rumores e fofocas, furtos, entre

    outros (Rigby, 2004).

    Em relao sua ocorrncia, sabe-se que o processo de bullying um fenmeno que

    se manifesta principalmente no contexto escolar, envolvendo crianas e adolescentes, e

    encontra-se presente em praticamente todas as culturas (Berger & Lisboa, 2009). Do mesmo

    modo, o bullying ocorre no cotidiano tanto de escolas pblicas e privadas como tambm em

    instituies localizadas no mbito urbano e rural, sendo, portanto, um desafio recorrente em

    praticamente qualquer escola (Binsfeld & Lisboa, 2010).

    Para a Kandersteg Declaration Against Bullying in Children and Youth (2007), o

    bullying um problema social que viola os direitos humanos bsicos. Esta mesma declarao

    afirma que, em termos globais, cerca de 200 milhes de crianas e adolescentes esto

    expostas ao fenmeno. No Brasil, conforme a investigao de Malta et al. (2010), os ndices

    apontam que o percentual de vtimas de bullying atinge aproximadamente 30% dos alunos

    regularmente matriculados em escolas de ensino fundamental, sendo resultado de um

    processo complexo de interaes recprocas entre aspectos individuais e familiares das

    crianas e adolescentes, do contexto imediato e da sociedade em geral.

    Por ser uma situao deletria sade psicolgica em curto, mdio e longo prazo,

    tanto para os protagonistas do processo de bullying como tambm para os demais envolvidos,

    como professores, colegas e pais, o fenmeno tem recebido expressiva ateno por parte de

    estudiosos do campo da psicologia e tambm dos profissionais responsveis pela

    implementao de polticas pblicas de proteo aos direitos fundamentais da infncia e

    adolescncia (Binsfeld & Lisboa, 2010; Hansen, Steenberg, Palic, & Elklit, 2012; Smith,

    Smith, Osborn, & Samara, 2008a). Todavia, alguns pesquisadores vm destacando um novo

    tipo de manifestao de agressividade entre pares, conhecido por cyberbullying (Law,

    Shapka, Hymel, Olson, & Waterhouse, 2012; Shariff, 2011; Smith, 2012; Smith et al.,

    2008b), que apresenta impactos no menos severos que os do bullying e que ainda muito

    pouco conhecido na sua especificidade (Garaigordobil, 2011; Sourander et al., 2010; Ybarra,

    Boyd, Korchmaros, & Oppenheim, 2012).

  • 22

    A variedade de investigaes j conduzidas sobre a temtica situa o cyberbullying

    como um fator de risco significativo para o desenvolvimento subsequente de crianas e

    adolescentes. Entendido como um tipo de bullying que utiliza a tecnologia (Shariff, 2011,

    p. 59), estudos reportam a associao desse tipo de violncia com nveis elevados de

    ansiedade, uso e abuso de psicotrpicos, maior severidade de transtornos emocionais, como a

    depresso, ideias ou tentativas de suicdio, prejuzos na escola, dentre outros (Hinduja &

    Patchin, 2010; Patchin & Hinduja; 2010; Ybarra, 2004). Alm disso, no somente as vtimas,

    como tambm os protagonistas dos atos de cyberbullying tm maiores chances de

    estabelecerem relaes permeadas por conflitos, instabilidade e agresso (Shariff, 2011).

    Logo, faz-se urgente e necessrio uma maior compreenso acerca desse fenmeno

    para que seja possvel o desenho de aes preventivas e interventivas eficazes. Conforme

    observam Wang, Nansel e Iannotti (2011), as pesquisas sobre o cyberbullying ainda

    encontram-se em uma etapa preliminar. Essa mesma constatao foi feita por Couvillon e

    Ilieva (2011), que sublinham a necessidade de esforos para o mapeamento dos mecanismos

    que favorecem o surgimento e a manuteno desse tipo de agresso entre pares.

    Nesse sentido, a presente reviso crtica da literatura busca discutir o cyberbullying

    em relao s suas consequncias ao desenvolvimento humano, bem como almeja apresentar

    dados de prevalncia do fenmeno, refletindo sobre seu impacto, especificidades em

    diferentes contextos e possveis formas de manejo. A reviso crtica que ser apresentada

    assumiu um carter no-sistemtico, uma vez que pretende ampliar a compreenso deste

    novo tipo de comportamento agressivo entre pares e discutir aspectos que fazem a distino

    entre o bullying praticado na escola daquele que ocorre no ciberespao.

    Estudos disponveis nas bases de dados nacionais e internacionais (Scielo, Pepsic,

    BVS, PubMed, PsychInfo e ScienceDirect) foram recuperados atravs de descritores-alvo

    variados (cyberbullying, adolescentes, bullying virtual, por exemplo, bem como os

    respectivos equivalentes na lngua inglesa e espanhola) e passaram ento por uma anlise

    qualitativa seletiva em relao sua relevncia e adequao aos propsitos do presente artigo.

    Do mesmo modo, buscou-se contato com autores internacionais para a aquisio de materiais

    no disponveis em meio eletrnico, como captulos de livros e artigos no indexados nas

    bases de dados consultadas. Tambm foi realizada uma extensa busca por informaes

    complementares a partir das referncias dos estudos utilizados.

  • 23

    2.2 Cyberbullying - definies e estudos

    Diversos so os autores que buscam definir o fenmeno do cyberbullying (Agatston,

    Kowalski, & Limber, 2007; Campbell, 2005; Hinduja & Patchin, 2007, 2008, 2009;

    Kiriakidis & Kavoura, 2010; Li, 2006; Mishna, Khoury-Kassabri, Gadalla, & Daciuk, 2012;

    Smith, 2010). Contudo, no h consenso, ainda, em relao aos aspectos tericos e tambm

    conceituais que apreendam o fenmeno em sua complexidade (Langos, 2012). Uma hiptese

    plausvel para a ausncia de uma definio precisa do cyberbullying diz respeito ao fato de

    que, na medida em que se observa uma significativa proliferao de novas tecnologias,

    emergem novos comportamentos e modos de agir diante de tais inovaes (Spears, Slee,

    Owens, & Johnson, 2009).

    Em termos gerais, o processo de cyberbullying pode ser compreendido como um tipo

    especfico de bullying que ocorre atravs de instrumentos tecnolgicos e, sobretudo, telefones

    celulares e internet (Slonje & Smith, 2008). Para Shariff (2011), importante contextualizar o

    fenmeno, ou seja, considerando o tipo de ato realizado (por exemplo, violao de senhas,

    acesso e roubo de dados pessoais, piadas e comportamentos de humilhao, entre outros) e o

    meio onde ocorre (sites de redes sociais, e-mails, torpedos SMS, entre outros). Tal

    perspectiva, de acordo com a autora, evita restringir o conceito de cyberbullying a uma viso

    simplista e reducionista, auxiliando tambm a precisar a etiologia e os respectivos impactos

    desses comportamentos praticados entre pares no ambiente virtual.

    Outra definio amplamente aceita na literatura internacional a de Hinduja e Patchin

    (2009). Estes autores descrevem o cyberbullying como um processo no qual algum executa,

    proativa e repetidamente, atitudes como piadas acerca de uma pessoa em contextos virtuais

    ou quando um indivduo assedia algum atravs de e-mails ou mensagens de texto ou ainda

    atravs de postagem de tpicos sobre assuntos que a vtima no aprecia (Hinduja & Patchin,

    2009, p. 48). A intencionalidade tambm uma questo destacada pelos pesquisadores para

    que determinado comportamento seja caracterizado como cyberbullying e no apenas como

    uma brincadeira aleatria.

    O fenmeno consiste em uma relao que presume, pelo menos, dois papis: vtima e

    agressor (Ortega et al., 2012). Entretanto, quando um adolescente exerce tanto um papel de

    agressor como de vtima, pode ser delineado um perfil que o caracteriza como vtima-

  • 24

    agressor. Do mesmo modo como ocorre nas situaes de bullying, os indivduos que

    acompanham - ou assistem - aos episdios de agresso podem ser caracterizados como

    espectadores e, alm disso, aqueles que por ventura se divertem ou mesmo compartilham os

    episdios podem ser compreendidos como apoiadores ou incentivadores do processo.

    Muitos pesquisadores tm apontado aspectos que distinguem a vitimizao entre pares

    que ocorre no contexto real (face a face) e o cyberbullying (Langos, 2012; Shariff, 2011;

    Smith, 2010). Nas agresses que ocorrem intramuros da escola, a vtima capaz de prever em

    quais situaes se encontra em risco potencial (recreio, na ausncia de figuras de autoridades,

    como professores e tutores, entre outros). Porm, quando a agresso ocorre por meios

    eletrnicos, escapar/evitar torna-se uma tarefa praticamente impossvel (Smith, 2010). Isso

    ocorre uma vez que o agressor pode enviar mensagens para o aparelho celular ou para o e-

    mail da vtima, bem como lhe possvel, a qualquer hora ou momento do dia, postar vdeos e

    imagens constrangedoras em blogs, sites de relacionamento social, entre outros (Menesini et

    al., 2012).

    Alm disso, muitas vezes, as pessoas percebem o ciberespao como impessoal, ou

    seja, como sendo um espao no qual as ideias podem ser livremente expostas, ditas e

    compartilhadas (Li, 2006). Na vida real, porm, a situao difere-se uma vez que o agressor

    pode limitar suas aes ou repensar cautelosamente antes de agir em funo da reao da

    vtima ou do grupo de pares que presencia os atos agressivos, temendo a retaliao imediata

    (Shariff, 2011).

    Na Tabela 1, apresentada a seguir, encontram-se sumarizados e discutidos os aspectos

    que distinguem a agresso entre pares por meio eletrnico daquela realizada face a face. Os

    critrios avaliados so os de agressividade, desequilbrio de poder, audincia (espectadores),

    intencionalidade e repetio. A mesma tabela traz, ainda, informaes e subsdios que

    suportam os motivos pelos quais o fenmeno do cyberbullying tem sido compreendido por

    um nmero cada vez maior de cientistas como uma forma peculiar e sem antecedentes de

    vitimizao entre iguais, impactando severamente a vida de crianas e adolescentes em

    diversas partes do mundo e de modos cada vez mais diversificados.

  • 25

    Tabela 1

    Critrios utilizados para definio de bullying x cyberbullying

    Critrios Bullying Cyberbullying Agressividade Pode ser expressa com uso de violncia e

    insultos verbais. A vtima sabe qual a pessoa ou o grupo que lhe agride fisicamente. So comuns casos extremos, como lutas corporais, ferimentos srios, entre outros

    Em seu formato eletrnico, o cyberbullying ou bullying virtual no fere a pessoa fisicamente. A agressividade majoritariamente dirigida a denegrir a imagem da pessoa, espalhar rumores, roubar senhas e nicknames, excluir de um grupo de discusso, entre outros. Os impactos da agressividade atingem, assim, aspectos emocionais e relacionados ao self da vtima

    Desequilbrio de poder

    Um dos aspectos centrais do conceito de bullying e que o diferencia de outros comportamentos agressivos o de que existe um desequilbrio de poder entre agressor e vtima, sendo que este poder pode ser mantido atravs de ameaas e agresses fsicas, sociais e/ou psicolgicas

    Diferentemente do bullying, em que a situao de desequilbrio de poder decorre em funo de distines como fora, persuaso ou status, em sua manifestao eletrnica, o cyberbullying representa uma desvantagem em termos de habilidades tecnolgicas (um usurio mais avanado pode vitimizar outra pessoa em decorrncia de certos conhecimentos especficos). Alm disso, o agressor pode recorrer ao anonimato, deixando a vtima sem possibilidades de identificar o autor das agresses e restringindo, assim suas formas de ao para combate desta violncia

    Audincia No processo de bullying, comum que o grupo de pares reforce os atos dos agressores. Alm disso, quando o processo ocorre em situaes como recreio ou durante as aulas, os colegas presentes compem a audincia. Esta passa a ser restrita e limitada ao contingente de estudantes que presenciam os atos

    No cyberbullying, todavia, a audincia pode ser nula (como nas situaes em que o agressor dirige seus atos diretamente vtima) ou infinita (como na postagem de vdeos, fotos ou outro material em sites e redes sociais)

    Intencionalidade O bullying no se refere a um ato ocasional. O agressor apresenta a inteno de ferir, magoar ou humilhar a vtima

    Do mesmo modo, tal critrio aplica-se ao cyberbullying, pois, ao enviar um e-mail ofensivo diretamente ou ainda ao postar uma foto indesejvel da vtima em uma rede social constata-se que o ato proativo, motivado

    Repetio Um dos principais critrios para bullying de que o fenmeno seja recorrente, sistemtico; H uma permanncia, ao longo do tempo, das atitudes agressivas

    No cyberbullying, uma nica ao realizada pode ser replicada inmeras vezes por um nmero extenso de espectadores, no exigindo que o agressor repita o seu ato (ex: postar uma foto em um site ou um vdeo no Youtube, uma nica vez, pode ser visualizado, salvo em um computador e compartilhado para uma ampla audincia)

    Nota. Conforme Dooley, Pyalski e Cross (2009), Conforme Langos (2012), Conforme Smith et al. (2008a), Conforme Shariff (2011).

  • 26

    Como se pode observar a partir da Tabela 1, o cyberbullying no uma experincia

    face a face, ocorrendo sempre por meio da mediao de algum recurso tecnolgico. Assim,

    possibilita ao agressor ficar annimo, diferentemente da maior parte dos casos tpicos de

    bullying (agresses fsicas, insultos verbais, chantagem). A opo pelo anonimato pode ser

    compreendida a partir do chamado efeito da desinibio. Ou seja, as pessoas podem sentir

    confiana e coragem diante da possibilidade de serem annimas, achando que nunca sero

    surpreendidas (...) e experimentam uma dificuldade maior em conter seus impulsos online do

    que em situaes sociais no espao real (Palfrey & Gasser, 2011, p. 108).

    Ainda em relao aos aspectos semelhantes entre os dois processos, pode-se inferir

    que o desequilbrio de poder, a inteno de causar dano ou sofrimento e a repetio se

    encontram presentes. Todavia, nos atos de cyberbullying, o pblico pode chegar a um nmero

    muito mais expressivo de espectadores em comparao com os grupos pequenos que,

    normalmente, presenciam o bullying praticado na escola e/ou em pequenos grupos (Smith,

    2010).

    2.3 Prevalncia do Cyberbullying

    Quando um novo fenmeno emerge e ocupa grande parte das discusses da agenda

    cientfica internacional, um dos primeiros movimentos que se observa a busca por dados de

    prevalncia. Com o cyberbullying no foi diferente. Cientistas de vrias partes do mundo tm

    buscado mensurar a ocorrncia dessa forma de vitimizao entre pares e, do mesmo modo,

    compreender as associaes entre cyberbullying e demais variveis (Buelga, Cava, & Musitu,

    2010; Buelga, & Pons, 2012; Dehue, Bolman, & Vllink, 2008; Di Lorenzo, 2012; Juvonen

    & Gross, 2008; Li, 2006; Popovic-Citic, Djuric, & Cvetkovic, 2011; ahin, 2012; Wang et

    al., 2011; Williams & Guerra, 2007).

    Nesse sentido, com o propsito de apresentar um panorama das referidas

    investigaes sobre a prevalncia do cyberbullying, organizou-se a Tabela 2. Os artigos

    foram arranjados levando-se em considerao o pas no qual foi conduzido o estudo, a

    amostra, medidas e instrumentos utilizados, dados de prevalncia e principais achados.

  • 27

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    tra

    (25,

    7%).

  • 30

    Observa-se que os estudos descritos na Tabela 2 priorizam o uso de instrumentos de

    autorrelato e algumas investigaes incluram, ainda, questionrios aos pais e ou responsveis

    dos adolescentes. Percebe-se ainda que comum a mensurao do cyberbullying

    considerando a forma de expresso, ou seja, via internet e telefones celulares, bem como

    comparando este fenmeno e seus impactos as j reportadas consequncias associadas com o

    processo de bullying. Essa perspectiva de analisar os diferentes contextos (fsico ou virtual),

    nos quais ocorrem e perpetuam as problemticas de relacionamento entre pares, encontra

    respaldo terico e emprico nos estudos atuais em Psicologia, principalmente envolvendo a

    Psicologia do Desenvolvimento (Sumter, Baumgartner, Valkenburg, & Peter, 2012), mas

    sendo relevante tambm para rea da pesquisa em Psicologia Clnica.

    No tocante prevalncia, no se identifica um padro entre os achados. Uma possvel

    explicao para tais diferenas encontradas refere-se ao perodo de tempo que os autores dos

    estudos delimitaram para a investigao do cyberbullying - ltimo ms, ltimos seis meses,

    ltimo ano, entre outros - e a faixa etria investigada. Outro aspecto que pode justificar

    resultados dspares diz respeito aos instrumentos utilizados em cada pesquisa, uma vez que

    medidas mais sensveis podem detectar com maior acurcia as diferentes formas pelas quais o

    cyberbullying pode ocorrer (Garaigordobil, 2011; Lam & Li, 2013).

    2.4 Cyberbullying: impactos, fatores de risco e de proteo

    Alm de buscar verificar a prevalncia do cyberbullying, estudos tm focado em

    questes relacionadas aos impactos e aos fatores de risco e proteo em relao ao fenmeno

    (Di Lorenzo, 2012; Heim, Brandtzg, Endestad, Kaare, & Torgersen, 2007; Mishna et al.,

    2012; Valcke, Bonte, De Wever, & Rots, 2010; Valcke, Schellens, Van Keer, & Gerarts,

    2007). Diversas investigaes associam o envolvimento no cyberbullying com nveis

    elevados de sintomas de depresso (Baker & Tanrkulu, 2010; Hinduja & Patchin, 2012;

    Mishna, Mclukie, & Saini, 2009), isolamento social (ahin, 2012), problemas na esfera

    educacional (Shariff, 2011), queixas somticas (Sourander et al., 2010), entre outros.

    Di Lorenzo (2012) discute um caso clnico de uma adolescente de 13 anos, vtima de

    cyberbullying via mensagens de texto (torpedos SMS), que apresentava sintomas depressivos

  • 31

    graves, culminando em uma tentativa de suicdio. Alm disso, o pesquisador relatou a

    presena de sintomas relacionados ao Transtorno de Estresse Ps-Traumtico na jovem, que

    tambm era vtima de bullying na escola. O autor apresenta hipteses possveis para a

    compreenso da vulnerabilidade da vtima, dentre as quais destaca o relativo descaso dos pais

    em relao ao sofrimento experienciado pela adolescente, alm das caractersticas individuais

    apresentadas pela jovem, como timidez significativa e poucas relaes de amizade e de baixa

    qualidade.

    Outro fator pertinente para a anlise de situaes que possivelmente colocam os

    adolescentes em situao de risco foi destacado por Agatston et al. (2007). Os pesquisadores

    realizaram estudos de cunho qualitativo, por meio de grupos focais, com o intuito de

    compreenderem os motivos que sustentam a no comunicao aos pais e ou responsveis

    sobre a ocorrncia de vitimizao online. Na viso dos adolescentes, o medo de perder certos

    privilgios, como o uso de telefones celulares e at mesmo a restrio do acesso internet,

    so algumas das principais razes para que silenciem quando algum ato de cyberbullying

    ocorre. Alm disso, os estudantes reportaram que no creem que os adultos, incluindo

    professores e pais, possam lhes ajudar no que tange a esse tipo peculiar de vitimizao

    (Agatston et al., 2007).

    Em relao aos fatores protetivos, estudos sugerem que filhos que experenciam

    adequado controle parental no que se refere ao uso da tecnologia apresentam tambm menos

    comportamentos de risco no ambiente virtual (Ayohama, Barnard-Brak, & Talbert, 2011;

    Fleming, Greentree, Cocotti-Muller, Elias, & Morrison, 2006; Heim et al., 2007; Mesch,

    2009). Na medida em que os adolescentes se desenvolvem e adquirem cada vez maior

    independncia com relao aos pais, estes costumam ajustar as prticas de superviso,

    permitindo maior liberdade ao adolescente. Nesse sentido, a nfase e ateno deve ser voltada

    qualidade da relao estabelecida entre pais e filhos, bem como coerncia entre as prticas

    parentais utilizadas e a abertura para o dilogo e negociao (Stattin & Kerr, 2000).

    O monitoramento parental, isto , imposio de limite de tempo ou restrio de acesso

    a determinado(s) contedo(s) foi investigado e comparado ao uso da internet por parte dos

    filhos no estudo de Lee e Chae (2011). Esses autores encontraram associaes significativas

    entre o tempo gasto na internet e uma diminuio da convivncia familiar. Alm disso, os

    autores verificaram que, quando os pais apresentavam prticas como recomendar um site

    positivo ao filho ou navegar junto do filho, os filhos acabaram gastando mais tempo

  • 32

    envolvidos em atividades educativas online e, portanto, menos propensos experincia do

    cyberbullying.

    Conforme ressaltam Hinduja e Patchin (2009, p. 148), o desenvolvimento de hbitos

    relacionados ao uso seguro de tecnologia deve ser estimulado desde muito cedo na vida das

    crianas na atualidade, de modo a garantir a efetiva internalizaao desses comportamentos.

    Nesses casos, cabe ressaltar que a postura dos pais deve ser assertiva, envolvendo dilogo e

    negociao (Valcke et al., 2010). Ou seja, ao invs de os pais adotarem posturas intrusivas,

    tais como as referidas por Kowalski, Limber e Agatston (2012), envolvendo a checagem e

    leitura dos e-mails de seus filhos, prefervel a adoo de uma postura prxima, com

    adequada comunicao. Recomenda-se que sejam estabelecidas regras sobre o uso das TICs

    dentro de cada domiclio - consentimentos relativos importncia de reportarem aos pais

    quando na ocorrncia de incidentes graves online, reserva de um espao especfico para o

    debate do uso da internet em casa, na escola e atravs de telefones celulares, entre outros. Por

    fim, enfatiza-se que cabe aos pais o fornecimento de instrues precisas sobre como agir caso

    seu filho envolva-se com cyberbullying, bem como importante que se informe s crianas e

    adolescentes que no apaguem os registros ou provas dos casos deste processo (Kowalski et

    al., 2012).

    2.5 Consideraes finais

    No se pode negar, nos dias atuais, a influncia das novas tecnologias da informao e

    comunicao. Vive-se em um mundo globalizado e virtual. Esse cenrio contemporneo

    apresenta inmeras alternativas que se descortinam quando um sujeito capaz de, em um

    nico clique, entrar em contato e interagir com as mais diversas possibilidades de expresso

    de opinies, sentimentos e desejos. Assim, j relativamente consenso que as crianas e

    adolescentes, hoje, se desenvolvem com uma conscincia global, sendo tal movimento

    impulsionado pelas TICs. Com efeito, os jovens nascidos em um mundo permeado por estas

    tecnologias so chamados de nativos digitais (Palfrey & Gasser, 2011). A interao dos

    indivduos com estas novas tecnologias da informao e comunicao transformou inmeros

    aspectos do relacionamento interpessoal e, por consequncia, dos processos de representao

    da identidade, formas de aprendizagem e de relacionamento (Arnett, 2002).

  • 33

    O entendimento sobre as influncias do mundo virtual no desenvolvimento humano

    ainda necessita ser aprofundado. Observa-se que o uso e contato com as TICs no se

    restringe ou afeta jovens de uma cultura ou nvel socioeconmico especfico e tampouco se

    limita a uma faixa etria - infncia, pr-adolescncia ou adolescncia. Muito se discute

    tambm com relao aos riscos e vantagens destes novos recursos. Ou seja, o uso de muitos

    recursos tecnolgicos ao mesmo tempo (media multitasking) pode ser benfico e estimulante

    aos jovens, mas, por outro lado, pode gerar irritao, baixa produtividade, aumento de

    ansiedade e problemas atencionais (Uhls et al., 2011). No que se refere aos comportamentos

    agressivos, como possvel inferir atravs dos estudos anteriormente descritos, o processo

    no diferente e ainda necessita ser mais estudado.

    O cyberbullying pode ocorrer em paralelo ao processo do bullying, razo pela qual

    diversas naes tm se empenhado na elaborao de polticas focadas especificamente no

    combate destes dois fenmenos em conjunto (Raskauskas, & Stoltz, 2007; Smith et al.,

    2008a; Soutter & Mckenzie, 2000). Assim como as diferentes formas de interao

    interpessoal no contexto virtual, ainda se desconhece todas as caractersticas do

    cyberbullying, suas consequncias em curto, mdio e longo prazo, bem como o impacto nas

    crenas e comportamentos dos jovens (Olweus, 2012).

    A reviso de estudos realizada permite inferir que se trata de um fenmeno que pode

    acarretar em srios prejuzos sociais, emocionais e cognitivos aos envolvidos, principalmente

    pelo seu carter atemporal e pela magnitude de seu alcance. Uma vtima de cyberbullying, em

    geral, no tem para onde ir e se esquivar dessa violncia. O cyberbullying constitui uma

    realidade da era digital (Langos, 2012, p. 285) que, de acordo com Smith (2010), um

    fenmeno decorrente ou relacionado s diversas transformaes que ocorreram no sculo

    XXI.

    Resultado ou consequncia do avano das TICs, o cyberbullying especialmente

    frequente entre crianas e adolescentes. Isso ocorre porque os nativos digitais (Palfrey &

    Gasser, 2011) so usurios vidos e familiarizados com as tecnologias e internet. Entretanto,

    os mesmos no possuem plenas condies de distinguir entre aquilo que a tecnologia pode

    representar de positivo do que traduz-se como risco (Li, 2006). As pesquisas sobre

    cyberbullying sugerem que os jovens tm dificuldades de adequadamente dimensionar as

    reais consequncias de seus atos agressivos e possvel pensar que estas dificuldades sejam

    mais acentuadas e graves que nos casos de bullying. Investigaes enfatizam o papel do

  • 34

    monitoramento parental, das prticas educativas saudveis, intervenes clnicas que possam

    psicoeducar adequadamente com relao ao fenmeno, alm de estmulos variados para uma

    vinculao ajustada entre pais e filhos (Hinduja & Patchin, 2009; Lee & Chae, 2011; Valcke

    et al., 2010).

    Pode no ser novidade que a superviso e limites dos pais favoream o

    desenvolvimento saudvel dos filhos, mas diante desse novo cenrio virtual constata-se que

    os pais necessitam de informaes sobre o cyberbullying e TICs de um modo geral. Assim,

    estes pais estaro mais capacitados para auxiliar, efetivamente, seus filhos na resoluo de

    conflitos e na preveno de eventos adversos neste cenrio que possam impactar e prejudicar

    o desenvolvimento saudvel de crianas e adolescentes. Governo e empresas que atuam no

    ramo de tecnologia compartilham igualmente a responsabilidade em prover aes que

    garantam segurana ao uso das mais variadas TICs por parte de populaes mais vulnerveis

    (Palfrey & Gasser, 2011).

    No que diz respeito Psicologia e, em especial Psicologia Clnica, torna-se

    importante compreender os fatores de risco e proteo para a ocorrncia do cyberbullying,

    assim como crenas e comportamentos relacionados a este novo fenmeno, visando o

    desenvolvimento de alternativas para a preveno e interveno psicolgica (Patchin &

    Hinduja, 2010). importante salientar que identificar fatores de risco e proteo implica em

    uma anlise aprofundada dos processos de desenvolvimento cognitivo e social dos jovens na

    atualidade. Investigaes enfatizam que o cyberbullying pode prejudicar ou mesmo

    interromper o curso de desenvolvimento normativo dos jovens, como em casos de suicdio

    relacionados experincia de vitimizao online (Hinduja & Patchin, 2010, 2012). Ademais,

    pesquisas que constataram a associao entre o cyberbullying e nveis elevados de sintomas

    de depresso e ansiedade reforam a ideia de que experenciar o fenmeno, tanto como vtima

    como na qualidade de agressor, pode impactar negativamente o curso desenvolvimental

    (Baker & Tanrkulu, 2010; Sourander et al., 2010).

    Em um futuro prximo, muitos questionamentos ainda surgiro sobre esta temtica,

    pois, na medida em que as TICs avanam e adentram mais e mais na vida dos indivduos e

    nas instituies sociais, novas modalidades de interao, desenvolvimento e, por conseguinte,

    de agresso entre pares podem surgir. Assim, no se pretende esgotar o assunto, mas o

    presente estudo teve, primordialmente, a inteno de alertar e debater criticamente para a

    complexidade do processo de cyberbullying na atualidade. Abordagens focadas em investigar

  • 35

    efeitos das tecnologias nos comportamentos dos jovens precisam ser substitudas por

    abordagens construtivistas e assertivas, que questionem e investiguem sobre os contextos de

    interao que os jovens vm optando para si mesmos. Acredita-se que, na medida em que

    pais, educadores, responsveis pela elaborao de polticas pblicas voltadas para crianas e

    adolescentes e a sociedade de um modo geral tiverem adequada conscincia dos aspectos

    positivos e negativos do uso das TICs pelos mais jovens, assim como acerca do

    cyberbullying, atitudes preventivas e intervenes mais eficicazes podem ser propostas.

  • 36

    2.6 Referncias

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