Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA
Reações Cutâneas Medicamentosas Graves
Teresa Rocha de Oliveira [email protected]
M 2021
Reações Cutâneas Medicamentosas Graves
Dissertação de candidatura ao grau de Mestre em Medicina, submetida ao Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto
Teresa Rocha de Oliveira (up201505166)
Aluna do 6º ano profissionalizante de Mestrado Integrado em Medicina
Afiliação: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – Universidade do Porto
Endereço: Rua de Jorge Viterbo Ferreira nº228, 4050-313 Porto
Endereço eletrónico: [email protected]
Orientador: Mónica Caetano
Assistente hospitalar graduado do Serviço de Dermatologia – CHUP
Afiliação: Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Serviço de Dermatologia
Endereço: [email protected]
Coorientador: Tiago Torres
Assistente hospitalar do Serviço de Dermatologia - CHUP
Afiliação: Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Serviço de Dermatologia
Endereço: [email protected]
i
Agradecimentos
Desde já, afirmo que o meu percurso académico não chegaria a este ponto se
trabalhasse de forma una, sozinha no meu canto. Todas as pessoas que me rodearam e
influenciaram de forma positiva contribuíram, de certa forma, para escrever esta tese de
Mestrado.
Primeiramente, agradeço à doutora Alexandra Rodrigues, interna da minha
orientadora, doutora Mónica Caetano, que foi uma mais valia pelas dicas, paciência e
perspicácia para atender às eventuais dúvidas sobre a temática. Ambas são pessoas que
motivam e inspiram pelo vasto conhecimento.
Um agradecimento especial aos meus pais e aos meus avós por proporcionarem
um meio confortável e equilibrado que me permitiu focar devidamente no estudo.
Por fim, à minha querida irmã, que sempre me inspirou dentro e fora da área de
Medicina.
ii
Resumo
Introdução: As reações cutâneas medicamentosas são efeitos indesejados aos fármacos,
com expressão mucocutânea, resultado de uma resposta imunológica ou inflamatória
inapropriada. As formas graves incluem o Síndrome de Stevens-Johnson, Necrólise
Epidérmica Tóxica, o síndrome Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms
e a Pustulose Exantemática Aguda Generalizada.
Objetivos: Os objetivos desta revisão bibliográfica incluem rever sistematicamente os
artigos mais recentes sobre as Reações Cutâneas Medicamentosas Graves, englobando
a caracterização destas entidades patológicas quanto à clínica e às interações
farmacológicas, dando ênfase, também, aos novos achados acerca da fisiopatologia e do
tratamento destas doenças.
Metodologia: Para a realização desta dissertação, procedeu-se à elaboração da revisão
de literatura sobre o tema, utilizando a plataforma de dados eletrónicos, MEDLINE-PubMed
entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. Todos os artigos foram revistos e os relevantes
foram incluídos no texto final.
Desenvolvimento: A maioria das reações cutâneas medicamentosas são benignas. No
entanto, em alguns casos, indivíduos com predisposições específicas sob terapêutica
farmacológica com medicamentos com potencial de causar este tipo de reações graves,
podem apresentar um curso clínico complexo, por vezes com atingimento da pele e das
mucosas, que exija a hospitalização e cuidados de suporte apertados. O diagnóstico é
clínico, sendo tipicamente um diagnóstico de exclusão, tornando-se particularmente difícil
pela ausência de exames complementares de diagnóstico que pudessem ser auxiliares. O
prognóstico depende principalmente da suspensão imediata do fármaco suspeito em todas
as formas de reações cutâneas medicamentosas graves. Quanto ao tratamento, depende
da reação per se e do seu grau de gravidade, apesar de ser essencialmente um tratamento
de suporte. Estudos emergentes pesquisam novas formas terapêuticas, tanto para a
Necrólise Epidérmica Tóxica, com taxas de mortalidade que podem rondar os 30%, como
para o síndrome Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms.
Conclusão: As reações cutâneas medicamentosas graves podem condicionar o
desenvolvimento de sequelas a curto e longo prazo, as quais estão diretamente associadas
ao conhecimento dos clínicos na altura da admissão do doente e do timing da suspensão
do fármaco. É importante identificar os medicamentos causadores, permitindo colocá-los
iii
sob fármaco-vigilância e evitar outros que possam causar reações de reatividade cruzada
nesses mesmos indivíduos.
Palavras-chave: “Drug Hypersensitivity Syndrome”; “Drug-reaction with eosinophilia and
systemic symptoms”; “Acute Generalized Exanthematous Pustulosis”; “Stevens-Johnson
Syndrome”; “Toxic Epidermal Necrolysis”.
iv
Abstract
Background: Drug hypersensitivity reactions can present in various forms. In most cases,
they are presented as a generalized maculopapular exanthema, which is usually benign
and self-limited after the withdrawal of the causative agent. However, in a small fraction of
these cases, the reactions can be severe and possibly life-threatening, including: Acute
Generalized Exanthematous Pustulosis, Stevens-Johnson Syndrome, Toxic Epidermal
Necrolysis and Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms.
Objectives: The purpose of this literature review is to alert the medical community to the
existence of severe cutaneous adverse reactions to drugs, emphasizing its clinical course
and prognostic value of the early recognition and diagnosis of these reactions. It is intended
to describe a complete and integrated approach, encompassing the characterization of
these pathological entities, its assessment and structuring of targeted and appropriate
intervention.
Methods: To carry out this dissertation, the literature review on the topic was elaborated,
using the electronic data platform, MEDLINE-PubMed between October 2019 to January
2020. The following keywords were used, in english, isolated or combined: “Drug-reaction
with eosinophilia and systemic symptoms”, OR “DRESS Syndrome”, OR “Acute
Generalized Exanthematous Pustulosis”, OR “Stevens-Johnson Syndrome”, OR “Toxic
Epidermal Necrolysis”, OR “Lyell's Syndrome”. It was intended to select original research
articles from the last ten years, based on the title and the underlying abstracts.
Development: Even though these reactions are rare compared to the overall spectrum of
entities caused by particular medication, they have the potential to cause chronic sequelae
if the physicians aren’t informed or prepared to deal with their acute presentation, correct
identification and early drug withdrawal. After the clinical examination and diagnosis, it’s
required close support with symptomatic care, cutaneous and mucous membrane care,
fluid-loss treatment and analgesia, according to the severity of the disease.
Therefore, in this review, we will give an overall concise presentation on phenotypic
characteristics, pathomechanisms, new information on emerging studies about
pharmacogenomics, as well as the treatment of each severe reaction.
Conclusion: Severe cutaneous reactions to drugs require a multidisciplinary approach.
Immediate withdrawal of potentially causative drugs is mandatory. The knowledge of the
treating physician is vital in the early diagnosis and specific management of these reactions,
in order to prevent or limit long-term sequelae. It’s important to identify the culprit drug,
v
avoiding the re-exposure of certain pharmacological molecules with similar structures, in
order to prevent eventual cross-reactivity. As for the treatment, it will depend on the entity
in question but, at the moment, the basis is supportive treatment.
Keywords (MESH words): “Drug Hypersensitivity Syndrome”; “Drug-reaction with
eosinophilia and systemic symptoms”; “Acute Generalized Exanthematous Pustulosis”; “Stevens-Johnson Syndrome”; “Toxic Epidermal Necrolysis”.
vi
Lista de Abreviaturas
RCMG: Reação Cutânea Medicamentosa Grave
NE: Necrólise Epidérmica
SSJ: Síndrome de Stevens-Johnson
NET: Necrólise Epidérmica Tóxica
DRESS: Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms
PEAG: Pustulose Exantemática Aguda Generalizada
HLA: Antigénio Leucocitário Humano
AINEs: Anti-inflamatórios Não Esteróides
BSA: Body Surface Area
HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana
GSTM1: Glutationa-S-transferase M1
SCORTEN: SCORe of Toxic Epidermal Necrosis
ALDEN: ALgorithm for Drug causality in Epidermal Necrolysis
CD: Cluster of Differentiation
FasL: Fas Ligando
TNF: Fator de Necrose Tumoral
TRAIL: Tumor necrosis factor-Related Apoptosis Inducing Ligand)
NK: Natural Killer
UCI: Unidades de Cuidados Intensivos
EVA: Escala Visual Analógica
Ig: Imunoglobulina
GCLC: Subunidade Catalítica Glutamato-Cisteína Ligase
HHV: Herpes-Vírus Humano
IBP: Inibidores da Bomba de Protões
IVIg: Imunoglobulinas Intravenosas
IL36RN: Gene Antagonista do Recetor da Interleucina-36
IL: Interleucina
G-CSF: Granulocyte colony-stimulating factor
vii
Índice Agradecimentos .................................................................................................................. i Resumo .............................................................................................................................. ii Abstract. ............................................................................................................................. iv
Lista de Abreviaturas ......................................................................................................... vi
Introdução .......................................................................................................................... 1
Reações Cutâneas Medicamentosas...................................................................... 1
Metodologia ........................................................................................................................ 2
Desenvolvimento ................................................................................................................ 2
1. Necrólise Epidérmica ........................................................................................ 2
1.1. Epidemiologia ...................................................................... 2
1.2. Clínica .................................................................................. 4
1.3. Imputabilidade Farmacológica.............................................. 5
1.4. Mecanismos Fisiopatológicos............................................... 6
1.5. Tratamento .......................................................................... 6
1.6. Diagnóstico Diferencial ........................................................ 9
2. Síndrome Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic
Symptoms……………….................................................................................. 10
2.1. Epidemiologia .................................................................... 10
2.2. Clínica ................................................................................ 11
2.3. Imputabilidade Farmacológica ........................................... 13
2.4. Mecanismos Fisiopatológicos ............................................ 13
2.5. Tratamento ........................................................................ 14
2.6. Diagnóstico Diferencial ...................................................... 15
3. Pustulose Exantemática Aguda Generalizada ................................................ 15
3.1. Epidemiologia .................................................................... 15
3.2. Clínica ................................................................................ 16
3.3. Imputabilidade Farmacológica ........................................... 17
3.4. Mecanismos Fisiopatológicos ............................................ 17
3.5. Tratamento ........................................................................ 17
3.6. Diagnóstico Diferencial ...................................................... 17
Conclusão.......................................................................................................................... 18
Bibliografia ........................................................................................................................ 20
1
Introdução
Reações Cutâneas Medicamentosas
As reações cutâneas medicamentosas correspondem aos efeitos colaterais
indesejados dos medicamentos com expressão mucocutânea. Estas reações incluem
várias apresentações semiológicas, não específicas à etiologia farmacológica, sendo que
o exantema maculopapular é a apresentação mais frequente, seguido pela urticária e
vasculite1.
O primeiro passo na gestão destas reações é a suspensão imediata do medicamento
suspeito2. Muitas das vezes o maior desafio clínico associa-se à imputabilidade
farmacológica em causa e, na maioria dos casos, não se identifica qual é o fármaco
culpado ou a relação com o quadro é considerada improvável3.
Por outro lado, numa pequena percentagem dos casos, a toxidermia manifestar-
se-á como uma reação cutânea medicamentosa grave (RCMG). A frequência destas
formas graves é de 2%1, e incluem: a Necrólise Epidérmica (NE) que inclui o síndrome
de Stevens-Johnson (SSJ), a Necrólise Epidérmica Tóxica (NET) e o síndrome de
sobreposição SSJ-NET, o síndrome Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms (DRESS) e, ainda, a Pustulose Exantemática Aguda Generalizada (PEAG).
Estas formas severas são consideradas reações de hipersensibilidade retardada4 -
mediadas por células ou do tipo IV - que apresentam grande variabilidade semiológica, não
específica à etiologia medicamentosa1. A sua heterogeneidade, no ponto de vista clínico,
pode ser explicada pela ativação de diferentes linfócitos T que secretam citocinas que
lesam as células cutâneas.
A incidência destas reações é baixa. No entanto, como apresentam o risco elevado de
sequelas crónicas graves, o diagnóstico precoce é essencial, tendo em vista a suspensão
imediata do medicamento2 e a instituição de tratamento adequado3.
Na NE os principais fatores de risco estabelecidos são a imunossupressão e as
patologias autoimunes, enquanto que em algumas populações se associam certos
genótipos do antigénio leucocitário humano (HLA) como fatores de risco. Todas as classes
de medicamentos podem causar uma reação medicamentosa cutânea, mas os mais
frequentes são os antibióticos, antiepiléticos, antineoplásicos, anti-inflamatórios não
esteróides (AINEs), alopurinol e os meios de contraste1.
O diagnóstico, portanto, é baseado na apresentação clínica, cronologia dos
eventos, medicação habitual ou eventuais fármacos recentemente introduzidos e a
exclusão dos diagnósticos diferenciais. Este processo diagnóstico permite que uma
relação causal seja estabelecida entre o(s) medicamento(s) e a dermatose. A declaração
2
de farmacovigilância é essencial no caso de erupção medicamentosa grave,
independentemente do medicamento envolvido, sobretudo se for um medicamento recente
ou que não seja classicamente associado a um risco cutâneo1.
O conhecimento acerca da reatividade cruzada entre medicamentos
estruturalmente relacionados ainda é rudimentar5, mas pode-se prevenir a reocorrência de
episódios graves se houver conhecimento prévio do clínico a respeito dos fatores de risco
do doente e da sua história medicamentosa.
Esta revisão tem como objetivo descrever as características clínicas das diferentes
RCMG, assim como os mecanismos imunopatológicos subjacentes, os avanços a nível de
epidemiologia e a sua relevância para eventuais screenings populacionais, as associações
fármaco-genómicas estabelecidas para cada doença e alguns dados acerca da reatividade
cruzada de medicamentos. Além do descrito, vamos comentar a informação referente ao
acompanhamento destes doentes na fase aguda, seja em contexto ambulatorial ou de
internamento, durante o tratamento sintomático e após a estabilização clínica.
Metodologia Para a realização desta dissertação, procedeu-se à elaboração da revisão de
literatura sobre o tema, utilizando a plataforma de dados eletrónicos, MEDLINE-PubMed
entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave,
em inglês: “Drug-reaction with eosinophilia and systemic symptoms”, OR “DRESS
Syndrome”, OR “Acute Generalized Exanthematous Pustulosis”, OR “Stevens-Johnson
Syndrome”, OR “Toxic Epidermal Necrolysis”, OR “Lyell's Syndrome”. Todos os artigos
foram revistos e os relevantes, na língua inglesa, foram incluídos no texto final.
Desenvolvimento 1. Necrólise Epidérmica
1.1. Epidemiologia
A NE engloba a NET e o SSJ sendo consideradas doenças raras que afetam
principalmente adultos do sexo feminino6.
Relativamente à incidência da NE varia entre 8,61-9,69/milhão de habitantes/ano,
1,46-1,84/milhão de habitantes/ano e 1,58-2,26/milhão de habitantes/ano para o SSJ,
síndrome de sobreposição SSJ-NET e para a NET, respectivamente7.
Segundo alguns autores, a doença é mais comum em adultos com idade inferior a 65 anos
e menos frequente em crianças8. Esta variabilidade etária também se associa com as taxas
de mortalidade, sendo que para a NET, nos adultos, aproxima-se de 30%8, contrastando
3
com as taxas de mortalidade na idade pediátrica, que variam entre 0 a 7,5%9. Em contraste
com a NET, estudos sugerem que o SSJ em adultos tenha uma mortalidade de cerca de
10%3.
A associação do grau de envolvimento da área de superfície corporal (BSA) e a
taxa de mortalidade é controversa dentro da NET. Enquanto que algumas publicações
relatam uma associação direta, outras não10–13. Como a NE torna-se frequentemente uma
doença multiorgânica, o BSA isoladamente não é suficiente para prever a mortalidade12,14.
Portanto, essas taxas deverão variar de acordo com outros fatores que vão além da
extensão da epidermólise, como por exemplo a idade.
Atendendo às predisposições conhecidas para a NE, sabe-se que o risco de
desenvolver uma reação adversa deste tipo aumenta até 100 vezes em doentes infetados
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)15,16. O risco parece ser independente de o
doente estar ou não em terapia antirretroviral ativa. No entanto, nos doentes em terapêutica
antirretroviral, o sulfametoxazol/trimetoprima foi o medicamento que mais frequentemente
desencadeou NET17. A infeção por HIV também se associa a uma maior taxa de
mortalidade, principalmente em doentes com coinfecção HIV/tuberculose18.
Além disso, as neoplasias hematológicas, ósseas, do ovário, e algumas infeções
fúngicas, bem como as doenças autoimunes19 (exemplo do lúpus eritematoso sistémico),
presença de sépsis, pneumonia e tuberculose, tanto se relacionam com a NE como
também interferem diretamente na taxa de mortalidade nestes doentes20.
Curiosamente, a taxa de mortalidade não é afetada por infeções da pele7. Não foi
possível estabelecer uma relação clara do risco no caso de neoplasias do sistema nervoso
central, infeções por Mycoplasma, hepatite infecciosa e lesão renal aguda7. A infeção por
Mycoplasma pneumoniae foi associada principalmente à NE em idade pediátrica7.
Por fim, o desenvolvimento na área da genética nos últimos anos tornou possível
estudar a predisposição associada a alelos do HLA para algumas apresentações de
RCMG. Estes dados poderão ser usados no rastreio de determinadas populações de risco
que tenham uma maior incidência destas mutações, de forma a prevenir reações
idiossincráticas após a toma de medicamentos21. Em alguns países, tal como acontece em
Taiwan, nota-se uma maior incidência de RCMG, associando-se a uma elevada
prevalência de grupos com genótipos de HLA específicos22. As associações mais
importantes entre alelos HLA e a NE incluem o HLA-B*15:02 e a NE secundária a
carbamazepina22 em populações asiáticas e o HLA-B*58:01 e a NE secundária ao
alopurinol23.
Dentro dos polimorfismos de genes que se associam a taxas de metabolismo mais
lento, destacam-se o da glutationa-S-transferase, GSTM1, particularmente relacionado a
uma maior incidência de NE causado pela nevirapina24.
4
Adicionalmente, o gene que codifica o complexo enzimático CYP2C9*3 relaciona-se
também com um aumento do risco de NE secundária à fenitoína25.
1.2. Clínica A NE engloba o SSJ, associado a <10% de descolamento cutâneo, a NET, com
≥30% de área cutânea afetada e o síndrome de sobreposição SSJ-NET, que inclui as
situações intermédias, com 10 a 29% de descolamento cutâneo.
Como se tratam de reações de hipersensibilidade retardada, geralmente ocorrem entre 4
a 28 dias após a introdução do fármaco26. Em cerca de 30% dos casos nenhum agente
causador é identificado e em 15% a responsabilidade associada a um fármaco é
considerada improvável3.
Antes do aparecimento das lesões cutâneas típicas, num período de 1-3 dias, a
clínica da NE é caracterizada por febre, sensação de desconforto ocular e disfagia. Durante
este período podem ocorrer sintomas semelhantes aos da gripe, com febre >38ºC, e
sintomas do trato respiratório superior1. A dor cutânea geralmente precede as outras
manifestações cutâneas e pode ser um achado chave para o diagnóstico precoce27. Após
este período, surgem as lesões cutâneas que se distribuem inicialmente pelo tronco,
seguindo-se a região cervical, face e regiões proximais dos membros, geralmente
poupando as regiões distais dos membros superiores e inferiores28. No entanto, as palmas
das mãos e as plantas dos pés podem estar afetadas. Além destas lesões, ocorrem
erosões multifocais das mucosas oral, ocular e genital, afetando mais de 90% dos
doentes29. O epitélio do trato respiratório também está afetado em cerca de 25% dos
doentes com NET e lesões gastrointestinais (esofagite, diarreia, por exemplo) podem
ocorrer30. Estas erosões são responsáveis por dor, causando um grande desconforto para
o doente.
As lesões cutâneas primariamente apresentam-se como máculas purpúricas ou
vermelho-escuras, de base eritematosa, de tamanho e forma irregular, com tendência a
coalescer28. Durante esta fase e, na presença de erosões da mucosa, deverá levantar-se
a hipótese de progressão para um SSJ ou NET. Frequentemente é possível observar
lesões em alvo atípicas com centros escuros.
Com a evolução das lesões até um estado de epidermólise necrótica, ocorre uma mudança
de cor para uma tonalidade castanho-acinzentada3. Esta progressão pode ocorrer muito
rapidamente (em horas), ou demorar vários dias. A necrose da epiderme leva ao seu
destacamento da derme, o que origina o aspeto em “pele escaldada”, formando-se
posteriormente fluído entre as duas camadas, o que dá origem a bolhas (típicas da
doença). Estas bolhas têm características específicas: rompem facilmente (bolhas flácidas)
e o líquido do seu interior pode ser mobilizado lateralmente por uma ligeira pressão digital
5
sobre elas (Sinal de Asboe-Hansen). Apresentam também sinal de Nikolsky3 positivo:
descolamento da epiderme sob digitopressão lateral das bolhas.
As complicações oculares são frequentes, variando desde lesões da conjuntiva,
com hiperemia, erosões, edema conjuntival, fotofobia e lacrimejamento. As formas graves
levam a ulceração da córnea, uveíte anterior ou conjuntivite purulenta31.
A nível sistémico, vários casos de lesão renal aguda com microalbuminúria e proteinúria
significativa, por lesão glomerular e do túbulo proximal, foram descritos. Também ocorrem
desequilíbrios hidroeletrolíticos, alterações hematológicas, hiperamilasemia secundária à
necrose das glândulas salivares, lesão hepática e insuficiência respiratória7. A sépsis é a
principal causa de morte durante a fase aguda, e por isso é sempre necessário excluir a
sobreinfeção bacteriana ou viral.
O diagnóstico é clínico e pode ser auxiliado pela biópsia cutânea, não sendo
possível estabelecer-se através de exames laboratoriais ou de imagem.
A progressão da doença é limitada no tempo (7–10 dias) e o diagnóstico se for efetuado
dentro do período de 7 dias, após o início do quadro, resulta numa sobrevida mais longa,
em comparação com um diagnóstico mais tardio10.
Para prever a mortalidade desenvolveram um score de gravidade da doença para
NET – SCORTEN32 - com base em sete fatores de risco independentes para NE, que
incluem: idade >40 anos, existência de neoplasias, taquicardia, apresentação inicial com
descolamento cutâneo >10%, ureia sérica >10mmol/L, glicose sérica >14mmol/L,
bicarbonato sérico <20 mmol/L. A cada item associa-se um ponto. Quanto maior a
pontuação no SCORTEN, maior a taxa de mortalidade32. O SCORTEN representa um
score específico de gravidade para NET, cuja precisão na previsão de mortalidade foi
confirmada por diversos estudos, auxiliando na abordagem e encaminhamento para o meio
apropriado de gestão clínica. É importante referir que este score tem maior valor preditivo
quando utilizado nos primeiros 5 dias de apresentação clínica33,34. Até agora nenhum score
alternativo se revelou superior ao SCORTEN para o cálculo da mortalidade35.
1.3. Imputabilidade Farmacológica Todos os medicamentos suspeitos devem ser interrompidos o mais rapidamente
possível2. No entanto, deve-se conferir continuidade do tratamento médico a estes doentes
com uma alternativa farmacológica segura. Diversos fármacos estão descritos com clara
associação a NE: alopurinol, sulfonamidas, nevirapina, antiepiléticos da família das aminas
aromáticas, lamotrigina e AINEs, entre outros36.
É fundamental observar a cronologia precisa dos eventos que levaram à doença e
a cronologia da ingestão do medicamento no período anterior à admissão, comparando as
informações de todas as fontes possíveis (doente, família, médico de família, farmácia
6
etc.). A constituição de um cronograma de ingestão do medicamento é recomendado1.
O algoritmo específico ALDEN (ALgorithm for Drug causality in Epidermal
Necrolysis) foi validado para facilitar a avaliação individual da causalidade dos
medicamentos envolvidos na NE. Este algoritmo usa dados acerca do tempo desde a
administração do medicamento, a farmacocinética, a suspensão ou reintrodução do
medicamento, bem como a robustez da associação do mesmo (exemplo, medicamentos
de alto risco conhecido). O ALDEN, então, usa a identificação da causalidade de
medicamentos definindo-os como: “muito provável”, “provável”, “improvável” ou “muito
improvável” de induzir SSJ ou NET26.
1.4. Mecanismos Fisiopatológicos As RCMG pertencem ao grupo das reações de hipersensibilidade retardada, do tipo
IV4, mediadas por linfócitos T CD4+ e CD8+. Deste modo, são necessários alguns dias ou
semanas após a exposição ao antigénio para o início das manifestações clínicas. Ocorre,
assim, a ativação de linfócitos T efetores e reguladores que secretam citocinas que, por
sua vez, iniciam uma cascata inflamatória com libertação de mediadores pró-apoptóticos
conduzindo à lesão e morte dos queratinócitos. Uma forma conhecida dessa via de
sinalização trata-se da interação entre o Fas, um recetor celular transmembranar, com o
seu ligando (FasL), que inicia a cascata que culmina na apoptose. O FasL pertence à
família do fator de necrose tumoral (TNF) e análogos como o TRAIL (tumor necrosis factor-
related apoptosis inducing ligand) que, armazenados em lisossomas, são transportados
para os queratinócitos após a ativação dos linfócitos T.
Além disso, as moléculas citotóxicas mais relevantes são a perforina, a granzima B e a
granulisina37–39.
Se for realizada uma biópsia das lesões cutâneas, no contexto de NE, no exame
anatomopatológico e pela análise por imunofluorescência direta40 são visualizáveis os
ninhos de queratinócitos apoptóticos e a necrose de toda a extensão da epiderme,
associado a um infiltrado dérmico onde predominam os linfócitos. Também são
visualizáveis outras células citotóxicas como as NK e as T NK41.
1.5. Tratamento As estratégias para a gestão clínica da NE incluem necessariamente o tratamento
de suporte, com o objetivo de tratar a sintomatologia e evitar morbimortalidade a curto
prazo e sequelas graves a longo prazo42,43. A morte em fase aguda ocorre em cerca de
25% dos casos (10 a 40% dependem da percentagem de pele afetada). A principal causa
de morte é a sépsis e/ou a falência multiorgânica44,45.
7
Durante a fase aguda, estes quadros podem exigir cuidados a nível das unidades
de cuidados intensivos (UCI). Vários estudos sugerem que o encaminhamento precoce
para uma unidade de queimados leva a melhores resultados no tratamento da NET10,46.
Recomenda-se o uso de leito adequado (“fluidificado a ar” ou anti-escaras), para limitar o
efeito negativo da pressão sobre a pele lesada. A temperatura ambiente deve ser elevada
para 28º-32°C (ambiente termoneutro), evitando hipotermia.
Os cuidados de suporte consistem na restauração do equilíbrio hemodinâmico e
hidroeletrolítico1. A reposição de fluidos deve ser iniciada o mais rapidamente possível e
ajustada diariamente.
As doses de fluidoterapia necessárias para repor as perdas durante as primeiras 24 horas
pode ser estimada com o uso da fórmula de Brooke modificada47, sendo que os doentes
com NE tendem a apresentar perdas menos extensas do que os queimados:
• Volume de fluido (nas primeiras 24h) = 1,5mL x %área de pele
destacada/destacável x peso corporal (kg)
O volume de fluido deve ser posteriormente adaptado, essencialmente de acordo com a
diurese (objetivo: 0,5 a 1 mL/kg/h) e com a extensão do descolamento da pele em função
da superfície corporal.
Além do suporte supracitado, a via aérea e a saturação de oxigénio devem ser
monitorizadas devido ao risco de insuficiência respiratória. A ventilação não invasiva
sistemática é desnecessária e está associada a uma elevada mortalidade em contexto
hospitalar, relacionada com as lesões da mucosa e do risco de obstrução das vias aéreas
superiores por envolvimento laríngeo48,49. A broncoscopia pode ser considerada para fins
diagnósticos ou terapêuticos, dependendo da relação risco/benefício30. Em cerca de 25%
a intubação traqueal e a ventilação mecânica são necessárias3.
A alimentação entérica hipercalórica e hiperproteica dos doentes com NE ainda é
alvo de estudo, sendo sistematicamente discutida, mas é frequentemente efetuada por
sonda nasogástrica48,50. A meta nutricional durante a fase aguda deverá ser de 20-25
kcal/kg/dia, aumentando para 25-30 kcal/kg/dia após a primeira semana de cuidados51. Os
níveis séricos de glicose devem ser monitorizados de acordo com as diretrizes atuais52: o
tratamento com insulina intravenosa deve ser iniciado se duas determinações consecutivas
da glicose sérica excederem 180 mg/dL (10 mmol/L) e deve atingir um limite superior ≤180
mg/dL (10 mmol/L). As concentrações de glicose no sangue devem ser monitorizadas a
cada 1–2 horas até que os valores de glicose e as taxas de insulina estejam estáveis e, a
partir de então, a cada 4 horas.
Além disso, são colocados acessos venosos periféricos numa região de pele não envolvida
no quadro, se for possível.
O elevado risco de infeção justifica a colheita de várias amostras de pele para
8
análise microbiológica (swabs de pele ou culturas de pele em meios de cultura próprios a
cada 48-72h), juntamente com amostras de urina, sangue e do cateter44. Além disso, a
profilaxia antibiótica não é recomendada e a prescrição de medicamentos desnecessários
ou não vitais deve ser evitada53.
Não há benefício no desbridamento cutâneo, já que é considerada uma abordagem
agressiva e que atrasa a re-epitelização, sendo que as lâminas epidérmicas necróticas
atuam como um curativo biológico natural. A limpeza das lesões é realizada diariamente
com banhos ou sprays antissépticos diluídos, por exemplo, sprays de clorexidina aquosa.
Devem-se evitar manuseamentos desnecessários das lesões de forma a minimizar o
descolamento epidérmico. Portanto, o transporte e a manipulação do doente devem ser
restritos, assim como o uso de elétrodos adesivos da eletrocardiografia. A aplicação de
vaselina também deve ser aplicada em todas as áreas de pele descolada54. Quando
necessário, os pensos não adesivos (exemplo, hidrocelulares) são usados para cobrir os
pontos do corpo de maior pressão, principalmente nas costas13,43.
A avaliação clínica rigorosa das lesões da mucosa é crucial durante a fase aguda
e deve ser realizada diariamente em locais acessíveis. A lubrificação das mucosas ocular,
oral, nasal, genital ou anal com emolientes é recomendada para reduzir formação de
adesões da mucosa ou outras sequelas funcionais50,55. A hemorragia ou erosões da
mucosa são tratadas com analgesia tópica, bochechos, aplicação de swabs, administração
local de adrenalina e agentes de coagulação54,56. A prevenção de aderências genitais pode
ser realizada pela mobilização diária do prepúcio, com a aplicação de vaselina branca na
glande, e pela utilização de moldes vaginais ou vulvares revestidos com vaselina branca
no sexo feminino57.
Como as sequelas oftálmicas são as mais frequentes58 e incapacitantes, a consulta
oftalmológica deve ser realizada o mais rapidamente possível (dentro de 24h), para
adaptar o tratamento aos sintomas e determinar a frequência da vigilância. O tratamento
sintomático visa proteger a córnea e manter a hidratação da superfície ocular, para
minimizar problemas subsequentes, como o simbléfaro31,59. Portanto, a gestão oftálmica
depende da remoção de detritos inflamatórios com lavagens diárias com solução salina e,
após anestesia tópica, remoção com um cotonete húmido ou instrumento rombo e liso.
No entanto, os tipos de cuidados dermatológicos locais em prática são altamente diversos,
dependendo do centro hospitalar, e não é possível propor uma única abordagem com base
nos dados publicados42.
Relativamente ao tratamento da dor, os agonistas opióides são frequentemente
usados. A morfina é necessária se a pontuação da escala visual analógica (EVA)
permanecer ≥4/101. Como as sequelas psicológicas são frequentes58, podem ser prescritos
ansiolíticos para a prevenção da perturbação de stress pós-traumático.
9
Em paralelo com os cuidados de suporte, o papel de abordagens terapêuticas
dirigidas para o tratamento da NE ainda se encontram em debate. A maioria dos dados e
resultados clínicos provêm de pequenos estudos não controlados. À data, nenhum
tratamento curativo demonstrou ser eficaz na NE1. A corticoterapia sistémica é muito
controversa devido ao risco de mortalidade elevada associada à sépsis19. A esperança
despertada pelo possível benefício das imunoglobulinas intravenosas (IVIg), por meio da
sua ação inibitória sobre a interação Fas-FasL com a apoptose, não foi confirmada nem
em relação a modificar a taxa de mortalidade, nem no sentido de impedir progressão da
doença60,61. A ciclosporina, uma molécula antiapoptótica e inibidora da atividade citotóxica
de linfócitos T CD8+, pode ter uma eficácia que ainda precisa ser confirmada62,63,64.
1.6. Diagnóstico Diferencial Existem várias entidades que devem ser consideradas como diagnósticos
diferenciais:
• Epidermólise estafilocócica ou síndrome da pele escaldada estafilocócica
(associada a descamação muito superficial, marcadamente peri-orificial, ausência
de erosões da mucosa, características histológicas, local de infeção subjacente)53;
• Outras RCMGs: PEAG65, síndrome de DRESS66 (tipicamente não ocorre
descolamento da pele, nem envolvimento das mucosas, mas podem ocorrer
síndromes de sobreposição)67;
• Eritema multiforme major (apresenta lesões em alvo típicas ou atípicas e envolve as
mucosas de forma muito semelhante ao que ocorre na NE), mais frequente em
crianças e adultos jovens. No entanto, existem apresentações intermediárias e de
difícil classificação descritas28, principalmente em casos desencadeados por
Mycoplasma pneumoniae, classificada como outra entidade conceitual: reação
cutânea induzida por Mycoplasma pneumoniae com mucosite 68;
• Outras dermatoses bolhosas medicamentosas: eritema pigmentado fixo
generalizado64 (lesões em placas bem delimitadas, com pouco ou nenhum
envolvimento das mucosas, curto tempo de indução, noção de recorrência),
dermatose IgA linear induzida por medicamentos40;
• Dermatoses bolhosas autoimunes: dermatose IgA linear idiopática, pênfigo vulgar,
pênfigo paraneoplásico (distinguidas com auxílio de histologia e imunofluorescência
direta, anticorpos séricos);
• Lúpus eritematoso sistémico com apresentação do tipo NE (clínica do lúpus
eritematoso, anticorpos circulantes)69, dermatomiosite do tipo dermatomiosite-NE;
• Queimaduras térmicas ou cáusticas, dermatite cáustica (história clínica, ausência
10
de erosões da mucosa, o arranjo das lesões cutâneas, histologia).
2. Síndrome Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms
2.1. Epidemiologia A incidência do síndrome de DRESS é superior à da NE. No entanto, especula-se
que a sua incidência esteja subestimada, sendo que muitos dos casos podem não ter sido
devidamente identificados devido à expressão heterogénea das suas apresentações
clínicas e analíticas. Portanto, para os doentes em terapêutica recente com fármacos
antiepiléticos (por exemplo, carbamazepina ou fenitoína), a incidência do síndrome de
DRESS é estimada em cerca de 1/10000 a 1/10003.
No síndrome de DRESS é relatada uma ligeira predominância no sexo feminino6.
A mediana da idade ao diagnóstico de DRESS é cerca de 51.4 anos para o sexo masculino
e 55.7 anos para o sexo feminino70. Não parecem haver associações com variações
sazonais ou nenhum aumento na incidência em doentes com história familiar de atopia ou
de reação cutânea medicamentosa70.
Segundo o estudo do RegiSCAR66, o síndrome de DRESS está menos relacionado
com neoplasias comparativamente a NE. Há também uma particularidade relevante,
confirmada recentemente: infeções virais normalmente antecedem um quadro desta
patologia71. Esta descoberta é consistente com a teoria de que os vírus têm um papel
crítico no desenvolvimento e ativação de linfócitos T específicos a um fármaco,
principalmente em doentes com doenças autoimunes concomitantes70.
As atividades enzimáticas de um indivíduo ou a forma individual como este efetua
a absorção, distribuição, metabolismo e eliminação de fármacos aumentam o risco de
várias reações de hipersensibilidade. Desta forma, quando as doses iniciais de alguns
medicamentos como, por exemplo, a lamotrigina, sobrecarregam a capacidade de
desintoxicação enzimática, poderá ocorrer síndrome de DRESS em indivíduos de risco,
por toxicidade cutânea70,72. Portanto, em doentes com doença renal crónica ou doença
hepática crónica a prescrição de fármacos com semi-vida longa, particularmente os já
descritos na literatura por causarem RCMG, deverá ser cautelosa. Nestes doentes a taxa
de mortalidade é significativamente superior.
Além disso, alguns polimorfismos nos genes que codificam as enzimas metabolizadoras
de fármacos, como a enzima do citocromo P450 e a N-acetiltransferase, também podem
contribuir para a ocorrência de síndrome de DRESS. Os acetiladores lentos estão
predispostos ao desenvolvimento de RCMG, como as variantes em genes que codificam
a enzima do citocromo P450, como o CYP34A73, CYP2C974, mieloperoxidase75, o gene da
11
subunidade catalítica glutamato-cisteína ligase76 (GCLC).
Serão necessários mais estudos para explorar este conceito em evolução de
hipersensibilidade e reações dependentes da concentração do medicamento.
2.2. Clínica Comparativamente à NE, o síndrome de DRESS geralmente apresenta uma taxa
inferior de descolamento de pele e de envolvimento mucocutâneo, podendo mesmo não
ocorrer. Por outro lado, esta doença caracteriza-se por um maior envolvimento de órgãos
viscerais e por anormalidades hematológicas associadas, tais como: eosinofilia, linfocitose
atípica, hepatite aguda, febre elevada e reativações de vírus da família herpes-vírus
humano (HHV). As alterações histopatológicas características do síndrome de DRESS são
a espongiose epidérmica, disqueratose e a vacuolização da interface dermo-epidérmica77.
Clinicamente, o quadro desenvolve-se em 2-6 semanas após a exposição ao
fármaco, sendo um período mais prolongado do que nas outras reações cutâneas
mediadas por células. O tempo poderá ser mais curto, no caso de uma re-exposição. A
febre e o exantema cutâneo são os sintomas mais comuns, ocorrendo em 85%66 e 75%78
dos doentes, respetivamente. O envolvimento cutâneo geralmente inicia-se como um rash
morbiliforme que progressivamente vai-se tornando edematoso, frequentemente com
acentuação folicular. Outras manifestações menos comuns envolvem vesículas, pústulas
foliculares ou não-foliculares (cerca de 20% dos doentes), eritrodermia e lesões
purpúricas1. A face, região superior do tronco e membros são normalmente os primeiros
lugares de envolvimento cutâneo. Um achado típico do síndrome de DRESS é o edema
da face e, ao contrário da NE, o envolvimento das mucosas, se presente, costuma ser leve.
Além disso, podem ocorrer linfadenopatias nas regiões cervical, axilar ou inguinal. O
edema bilateral das glândulas salivares é frequentemente observado no início da doença,
sugerindo reativação do vírus da parotidite epidémica. Estes sinais e sintomas parecem
depender mais das características individuais do doente do que do medicamento
causador79.
O grupo de estudo RegiSCAR propôs que os doentes apresentassem pelo menos
três dos seguintes critérios para fazer um diagnóstico de síndrome de DRESS:
(1) reação cutânea aguda;
(2) febre (>38°C);
(3) linfadenopatia em pelo menos dois locais distintos;
(4) envolvimento de pelo menos um órgão interno;
(5) linfocitose (> 4×10^3/μL) ou linfocitopenia (<1,5×10^3/μL);
(6) eosinofilia sanguínea (>10% ou 700/ μL);
(7) trombocitopenia (<120 ×10^ 3/μL).
12
Com base neste sistema de pontuação, os doentes foram classificados em
definitivo, provável, possível ou sem probabilidade de diagnóstico de síndrome de
DRESS80.
A presença de taquicardia, leucocitose, taquipneia, coagulopatia, hemorragia
gastrointestinal ou a ocorrência do síndrome da resposta inflamatória sistémica são fatores
associados a um mau prognóstico55. O envolvimento hepático é observado em mais de
80% dos doentes, associado principalmente a parâmetros de citólise, colestase ou ambos.
Por vezes, pode ocorrer hepatite fulminante, responsável pela maioria dos cursos fatais1.
A lesão renal aguda, quando ocorre, é caracterizada principalmente por nefrite
intersticial. Por outro lado, o sistema pulmonar é afetado em até 15% dos casos, com
manifestações como dispneia, tosse, pneumonite eosinofílica e, numa menor frequência,
insuficiência respiratória. O envolvimento cardiovascular ocorre por miocardite ou
pericardite, evidenciado por eletrocardiograma, TC ou alterações das enzimas cardíacas,
podendo ser fatal66. Além destes sistemas de órgãos, também podem ocorrer sintomas
neurológicos que se manifestam como encefalite límbica. Interessantemente, podem
ocorrer todos estes sintomas e sinais muito após a resolução das reações cutâneas1. Essa
variabilidade clínica na apresentação e no curso dos sintomas clínicos causa um atraso no
diagnóstico que pode ser devastador para o doente.
Além disso, o agravamento paradoxal dos sintomas clínicos pode ocorrer 3-4 dias
após a suspensão do medicamento culpado70, podendo ser confundido com uma doença
infecciosa grave para profissionais de saúde que não estejam familiarizados com o quadro
e levar à instituição de antibioterapia empírica desnecessária devido ao alto nível de
suspeita de infeção. Essas terapias empíricas podem aumentar o risco de desenvolver
reações medicamentosas adicionais, porque os doentes com síndrome de DRESS
geralmente apresentam reatividade cruzada inexplicada a vários medicamentos com
estruturas diferentes, incluindo aqueles usados após o início do quadro81. Portanto, os
doentes com síndrome de DRESS devem ser aconselhados a evitar não apenas os
medicamentos que causaram o quadro, mas também quaisquer antibióticos e antipiréticos,
a não ser que haja evidência definitiva de infeção66.
O curso pode ser prolongado, com duração de alguns meses a um ano, mesmo
após a descontinuação do medicamento indutor do quadro, intercalado com remissões
clínicas e laboratoriais e recidivas, possivelmente explicadas por reativações virais71,82–84 .
Podem ocorrer sequelas a longo prazo, principalmente falência orgânica em fase terminal
e doenças autoimunes, como Diabetes Mellitus tipo 1, lesões semelhantes à doença do
enxerto contra o hospedeiro, tiroidite autoimune e lúpus eritematoso sistémico. As
sequelas autoimunes ocorrem em aproximadamente 10% dos doentes que sobrevivem ao
DRESS, independentemente de terem sido ou não tratados com corticoterapia sistémica.
13
Estes doentes podem ocasionalmente morrer devido a essas complicações sistémicas70,83.
2.3. Imputabilidade Farmacológica Os medicamentos mais comumente associados ao síndrome de DRESS são os
antiepiléticos como o fenobarbital, carbamazepina, fenitoína, lamotrigina, a minociclina, o
alopurinol, a dapsona, alguns antirretrovirais como a nevirapina e o abacavir, as sulfamidas
como a sulfasalazina, o sulfametoxazol, os sais de ouro, e os inibidores da bomba de
protões (IBPs)66,80.
2.4. Mecanismos Fisiopatológicos Tal como na NE, a fisiopatologia do síndrome de DRESS está associada às
respostas mediadas por linfócitos T. A hipótese atual, não totalmente compreendida,
sugere que o síndrome de DRESS é o resultado de uma associação entre uma reação de
hipersensibilidade retardada específica a um medicamento e sequenciais reativações
virais85.
Em suma, a teoria mais recente é a seguinte: o fármaco é reconhecido pelos
linfócitos T, levando a uma expansão das populações linfocitárias, culminando em
reativações virais por desregulação imunitária. Esta reativação poderá interagir com as
vias de metabolização e excreção dos fármacos, mas, acima de tudo, modificar e prolongar
a resposta imunitária84,86,87. A ativação dos linfócitos T contribui para a libertação de IL-5 e
para o recrutamento de eosinófilos, que são elementos-chave nesta reação cutânea
medicamentosa88. Além disso, estima-se que a função linfocitária, principalmente a dos
linfócitos T reguladores, que são responsáveis pela inibição da resposta imune, esteja
prejudicada, prolongando-se mesmo após a primeira fase de resolução clínica89. Apesar
desta característica ser transversal tanto para o síndrome de DRESS como para a NE, na
última verifica-se a recuperação da atividade normal dos linfócitos T reguladores mais
precocemente. Este facto poderá explicar o percurso mais prolongado do síndrome de
DRESS e o risco associado ao desenvolvimento de doenças autoimunes66.
Em relação à quantidade de doentes cujo quadro cursa com reativação de HHV-6,
sabe-se que varia de acordo com o medicamento subjacente e está entre 36% a 62% dos
doentes com o síndrome de DRESS66. A reativação de HHV-6 geralmente ocorre 2–3
semanas após o início da reação cutânea. Essa associação temporal sugere uma
interação complexa entre esta família de vírus e a fisiopatologia do síndrome de DRESS.
Quando ocorre, geralmente associa-se a um quadro mais grave desta doença.
A reativação de outros vírus parece ocorrer de forma sequencial, sendo descrita de forma
semelhante à verificada na doença do enxerto contra o hospedeiro: HHV-6 e/ou EBV,
14
seguido por HHV-7 e subsequentemente o CMV71.
2.5. Tratamento O prognóstico do síndrome de DRESS é variável e imprevisível. As possíveis
complicações incluem miocardite, pneumonia por Pneumocystis jirovecii e sépsis, a
maioria dos quais apresentam morbimortalidade significativas se não forem reconhecidos
e tratados atempadamente90–93.
Alguns autores apoiam o uso de um score que identifique os doentes com maior
prioridade de gestão clínica, determinada pela gravidade do quadro e em risco de
complicações a longo prazo70. As variáveis deste sistema de classificação são: a idade,
duração da exposição ao fármaco até à admissão, exposição ao alopurinol, toma de
prednisolona, envolvimento cutâneo (% corporal com rash eritematoso, % corporal com
lesões erosivas), duração da febre (≥38ºC), anorexia, disfunção renal (creatinina, mg/dL),
disfunção hepática (ALT, IU/L) e PCR. Os doentes são então estratificados em 3 grupos:
leve (pontuação <1), moderada (pontuação 1-3) e grave (pontuação 4). Em casos
selecionados poder-se-á valorizar a reativação de CMV e de outros vírus como
complicações possíveis, sendo que esses quadros serão automaticamente identificados
como “grave”79.
Assim como acontece na NE, os doentes com rash grave e com sintomas
sistémicos severos devem ser internados para avaliação e tratamento. Alguns doentes
com critérios menos graves poderão ser tratados em contexto de ambulatório, com
tratamento sintomático associado a uma monitorização clínica e laboratorial rigorosa, de
forma a acompanhar possíveis atingimentos de órgãos.
Mais uma vez, o primeiro passo passará por descontinuar o fármaco suspeito, evitando a
introdução de novos medicamentos que possam causar reatividade cruzada. Além disso,
cuidados de suporte como fluidoterapia, com reposição hidroeletrolítica, e apoio nutricional
são fulcrais. Os cuidados dermatológicos devem envolver emolientes e banhos de água
tépida.
Ao longo das semanas da doença, deve-se efetuar um estudo clínico, laboratorial e
imagiológico regular, além de consultas com especialistas de gastroenterologia, nefrologia,
pneumologia, conforme as ocorrências e necessidade prevista.
Em relação a formas de tratamento dirigido, a corticoterapia sistémica é
considerada o gold standard para os casos graves de síndrome de DRESS94. Após o início
da terapêutica, em alguns dias, rapidamente verifica-se uma resolução da febre e do rash
cutâneo. No entanto, reserva-se esta terapêutica para os casos severos, sendo que em
alguns casos a corticoterapia sistémica associou-se a taxas elevadas de reativações virais,
sépsis e internamentos em UCI95.
15
Nos casos selecionados para corticoterapia sistémica, normalmente usa-se prednisolona,
40-50mg/dia29. O uso contínuo destes fármacos exige uma descontinuação progressiva ao
longo de 6-8 semanas, mesmo após resolução clínica, de forma a prevenir os sintomas
que constituem o síndrome, portanto devem ser administrados durante 2-3 meses.
O uso de prednisolona em pulsoterapia demonstrou contribuir para a reativação de CMV
durante o curso da doença, em alguns doentes79. Embora a corticoterapia sistémica em
pulso demonstre eficácia a minimizar a fase de inflamação aguda do síndrome de
DRESS79, alguns casos parecem sugerir que tais terapias agressivas, particularmente em
doentes pediátricos96, possam paradoxalmente aumentar o risco de sequelas autoimunes
a longo prazo, particularmente do síndrome autoimune poliglandular tipo III. Portanto, a
redução gradual da corticoterapia sistémica evita este risco acrescido de síndrome
inflamatório de reconstituição imune, que inclui um amplo espectro de doenças infecciosas
oportunistas relacionadas com a terapêutica imunossupressora e à própria descontinuação
ou redução da mesma, se não for efetuada dentro da norma estabelecida. As
manifestações deste grupo de complicações são diversas e dependem da carga viral
tecidual pré-existente durante o estado de imunossupressão29.
Quanto ao uso de IVIg no síndrome de DRESS os resultados são duvidosos. Enquanto
alguns estudos demonstram eficácia no uso nos seus doentes, outros apontam que a
terapêutica não deverá ser usada em monoterapia. Além disso, outros agentes
demonstraram ter alguma eficácia como a ciclosporina97, ciclofosfamida98, micofenolato de
mofetil e rituximab95. À parte dos corticóides sistémicos ou IVIg, as terapias com antivirais
como o ganciclovir têm sido usadas em doentes com quadros graves e com confirmação
de reativação viral85. No entanto, esse tratamento deve ser considerado cautelosamente
em relação ao seu risco-benefício.
2.6. Diagnóstico Diferencial Os principais diagnósticos diferenciais do síndrome de DRESS são as reações
cutâneas secundárias a quadros virais70, tanto por infeção primária ou por reativação em
doentes imunocomprometidos, a doença do soro, pseudolinfoma, linfoma cutâneo e a
síndrome hipereosinofílica primária ou secundária.
3. Pustulose Exantemática Aguda Generalizada
3.1. Epidemiologia A incidência da PEAG é estimada em cerca de 5 casos/milhão/ano65. No entanto, a sua
incidência tem sido subestimada, parcialmente por ser confundida clinicamente com a
psoríase pustulosa.
16
Nesta doença, uma mutação do gene antagonista do recetor da interleucina-36
(IL36RN) foi proposta como um fator genético contribuidor, em casos raros99.
3.2. Clínica A PEAG é uma reação cutânea aguda, associada a febre alta, caracterizada por
numerosas pústulas de pequenas dimensões não-foliculares e estéreis que se
desenvolvem sob áreas de eritema edematoso. Mais de 90% dos casos de PEAG são
induzidos por fármacos, mais comumente antibióticos1. Os 10% restantes podem ser
secundários a uma etiologia alimentar, infecciosa ou a uma picada de aranha100. Em relação à clínica, a febre geralmente é superior a 38ºC e acompanha-se por lesões
que se iniciam na face ou nas principais áreas intertriginosas, como as axilas e as virilhas,
cuja disseminação ocorre em algumas horas. Nas grandes zonas de eritema edematoso,
portanto, ocorrem pústulas estéreis e numerosas, de pequenas dimensões (<5mm),
primariamente não-foliculares101. Podem também estar associadas a sensação de
queimadura e/ou prurido. O edema da face, das mãos, a púrpura, as vesículas e bolhas e
lesões semelhantes a eritema multiforme, são observadas em cerca de 50% dos doentes99.
Estas lesões tipicamente duram 1 a 2 semanas e são seguidas por uma descamação
epidérmica superficial. A confluência da pústula, durante a fase inicial, pode resultar num
sinal de Nikolsky positivo, com descolamento superficial, enquanto que uma descamação
pós-pustulosa é observada numa fase mais tardia65.
Em menos de 20% dos casos, pústulas ou erosões desenvolvem-se nas membranas
mucosas, geralmente orais65. O curso é relativamente benigno, mas 1% dos casos de
PEAG ainda evoluem para situações com risco de vida102.
Analiticamente, pode ocorrer leucocitose, neutrofilia, hipercalcemia e, raramente,
eosinofilia. Num estudo com uma amostra de 58 doentes, 17,2% apresentaram
manifestações sistémicas com lesão hepática, renal, medular ou pulmonar102. A histologia
demonstra pústulas sub-córneas e intraepidérmicas típicas com um padrão espongiforme.
Além disso, neutrófilos e eosinófilos podem ser encontrados na derme.
Na ausência de exames específicos, o diagnóstico da PEAG depende
principalmente da análise dos padrões clínicos e histológicos.
Finalmente, foram propostos critérios de validação do quadro de PEAG a fim de
estabelecer o diagnóstico65:
• reação cutânea pustulosa aguda;
• histologia compatível;
• febre >38ºC;
• neutrofilia (> 1500/mm3) com ou sem eosinofilia;
17
• regressão dos sintomas em 15 dias.
3.3. Imputabilidade Farmacológica Os medicamentos mais frequentemente associados encontram-se a pristinamicina,
ampicilina, quinolonas, hidroxicloroquina, sulfonamidas, terbinafina e diltiazem65,103. A confirmação da imputabilidade farmacológica pode ser conseguida de forma mais
segura para a PEAG e com maior sensibilidade e especificidade através dos testes
epicutâneos3, mostrando-se superior para esta entidade de RCMG (seguido pelo síndrome
de DRESS). No entanto, não está padronizado na prática clínica, guardando-se para
situações de dúvida, num doente polimedicado.
3.4. Mecanismos Fisiopatológicos A fisiopatologia da PEAG ainda é pouco compreendida. Sabe-se que se trata de
uma reação neutrofílica caracterizada pela libertação de citocinas ativadoras de neutrófilos,
associada a interação com linfócitos T específicos a alguns medicamentos (IL-3, IL-8, G-
CSF)4.
3.5. Tratamento Quanto ao tratamento, após a suspensão imediata dos fármacos suspeitos, é
importante manter uma hidratação adequada da pele101. O tratamento sintomático com
corticóides tópicos pode encurtar a duração da descamação superficial. Quando
necessário, a gestão da membrana mucosa deve ser a mesma usada para a NE. A PEAG
é geralmente uma reação transitória e benigna, mas é recomendado o tratamento por uma
equipa experiente se mimetizar NET com envolvimento visceral extenso ou grave.
3.6. Diagnóstico Diferencial O principal diagnóstico diferencial da PEAG é a psoríase pustulosa de Zumbusch,
que ocorre em doentes com história de psoríase. Mais raramente, a intoxicação por
mercúrio deve ser excluída, causando um quadro clínico semelhante (eritema de mercúrio)
e que ocorre classicamente após a inalação de vapor de mercúrio104.
As formas graves de PEAG por vezes são confundidas com NET devido à
confluência das pústulas, contudo, a forma como poupa as membranas mucosas e o
caráter superficial do descolamento excluem esse diagnóstico. Um componente pustuloso
também pode ser observado durante o DRESS, mas a eosinofilia, a presença de linfócitos
atípicos, o envolvimento visceral e a evolução prolongada diferenciam as duas entidades.
Existem casos de sobreposição entre NET, DRESS e PEAG, mas continuam a ser
18
entidades raras67.
Conclusão
Apesar da mortalidade associada às RCMG terem diminuído na última década,
mantêm-se taxas morbimortalidade e custos na área da saúde consideráveis. O aumento
do consumo de fármacos pela população, a polifarmácia, o aumento da longevidade
humana e a escassa informação acerca das capacidades metabólicas e de eliminação
tóxica dos doentes são fatores importantes para o aumento do número de internamentos
devido a efeitos secundários dos fármacos.
A identificação de indivíduos de risco para as RCMG, como os doentes
imunodeprimidos, e o rastreio populacional para portadores de determinados alelos de
HLA é particularmente relevante em algumas regiões geográficas. Além de fatores
genéticos dependentes de HLA e independentes de HLA, outras variantes, como por
exemplo, enzimas metabólicas como GSTM1, devem ser consideradas como fatores
complementares.
Por outro lado, os doentes com neoplasias, por exemplo, apresentam frequentemente
outras co-morbilidades, associando-se a sequelas multissistémicas e a um pior
prognóstico105, aumentando as complexidades e dificuldades na gestão destas reações.
A abordagem em relação à imputabilidade farmacológica é essencial para a prevenção de
recorrências, evitando, também, que no futuro ocorra uma re-exposição a moléculas ou
fármacos estruturalmente similares. A notificação de fármaco-vigilância deve ser
incorporada na gestão clínica assim que o diagnóstico de toxidermia for feito, tanto por
interesse individual e pessoal, quanto pelo interesse da saúde pública. Além disso, se não
ocorrer a identificação de um fármaco em específico, a realização de um patch test pode
apresentar alguma utilidade, particularmente na PEAG e no síndrome DRESS3.
Os mecanismos fisiopatológicos das RCMG são complexos. Avanços recentes no
conhecimento destes quadros proporcionaram-nos uma melhor compreensão acerca do
papel da resposta imune dos linfócitos T e a consequente libertação de moléculas que
lesam os queratinócitos. No entanto, é necessário aprofundar o conhecimento acerca de
como os fármacos ativam os linfócitos T e do valor preditivo positivo, geralmente muito
baixo, do risco associado a alelos de HLA para uma determinada toxicidade a um fármaco
e a forma como isso condiciona uma determinada resposta do sistema imune.
As sequelas mucocutâneas da NE podem afetar potencialmente a saúde cutânea,
ocular, geniturinária, pulmonar, gastrointestinal, renal e psicológica dos doentes.
Por outro lado, o síndrome DRESS tem o potencial de causar desregulação imunológica e
19
sequelas adversas variáveis a longo prazo, tanto como resultado da própria doença como
da corticoterapia sistémica, se não realizada dentro dos parâmetros ideais.
Adicionalmente, existe um foco crescente na investigação acerca de como o síndrome
DRESS poderá contribuir para o desenvolvimento de doenças autoimunes. A corticoterapia
sistémica continua a ter sucesso no tratamento do síndrome DRESS, apesar de uma
pequena percentagem dos doentes não responder à terapia.
Na PEAG, é importante monitorizar doentes com doenças dermatológicas
preexistentes e realizar uma investigação a respeito de possível envolvimento visceral.
De uma forma geral, o tratamento das RCMG é baseado na suspensão imediata
do fármaco e numa abordagem multidisciplinar. Embora a corticoterapia sistémica e/ou
IVIg sejam usados em alguns Centros, como formas de terapêutica dirigida, existem
estudos emergentes sobre a eficácia da ciclosporina na NE, e isso justifica uma
investigação mais aprofundada.
Desta forma, destacamos a dificuldade e necessidade do diagnóstico precoce e
preciso das RCMG. Os médicos devem estar informados acerca do risco de que um
determinado fármaco possui, acerca da potencialidade de desencadear RCMG,
particularmente quando os fatores predisponentes estão presentes. No entanto, como
estes quadros clínicos apresentam uma baixa incidência, a realização de estudos clínicos
em grande escala está limitada, o que, por sua vez, leva à falta de evidência clínica para
sustentar, por exemplo, a gestão dessas doenças. Além dos estudos realizados acerca do
tratamento de doentes com NE, para doentes com outras RCMG, há uma grande lacuna
entre a prática clínica e a gestão baseada em evidência. São necessários esforços
adicionais para melhorar o conhecimento da gestão das RCMG.
20
Bibliografia 1. Lebrun-Vignes B, Valeyrie-Allanore L. Toxidermies. Rev Med Interne.
2015;36(4):256-270. doi:10.1016/j.revmed.2014.10.004
2. Garcia-Doval I, LeCleach L, Bocquet H, Otero X-L, Roujeau J-C. Toxic Epidermal
Necrolysis and Stevens-Johnson Syndrome: Does Early Withdrawal of Causative
Drugs Decrease the Risk of Death? Arch Dermatol. 2000;136(3):323-327.
doi:10.1001/archderm.136.3.323
3. Duong TA, Valeyrie-Allanore L, Wolkenstein P, Chosidow O. Severe cutaneous
adverse reactions to drugs. Lancet. 2017;390(10106):1996-2011.
doi:10.1016/S0140-6736(16)30378-6
4. Pichler WJ. Delayed Drug Hypersensitivity Reactions. Ann Intern Med.
2003;139(8):683. doi:10.7326/0003-4819-139-8-200310210-00012
5. Ghislain P-D, Roujeau J-C. Treatment of severe drug reactions: Stevens-Johnson
syndrome, toxic epidermal necrolysis and hypersensitivity syndrome. Dermatol
Online J. 2002;8(1):5.
6. Thong BY-H, Tan T-C. Epidemiology and risk factors for drug allergy. Br J Clin
Pharmacol. 2011;71(5):684-700. doi:10.1111/j.1365-2125.2010.03774.x
7. Lerch M, Mainetti C, Terziroli Beretta-Piccoli B, Harr T. Current Perspectives on
Stevens-Johnson Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis. Clin Rev Allergy
Immunol. 2018;54(1):147-176. doi:10.1007/s12016-017-8654-z
8. Chng HH, Leong KP, Cheng YK, Tang CY, Chia FL, Tan JW. Elderly inpatients
have drug allergy manifestations and outcome similar to the non-elderly but serious
reactions are less common: results of a 9-year prospective study. Allergy. 2008;63.
9. Quirke KP, Beck A, Gamelli RL, Mosier MJ. A 15-Year Review of Pediatric Toxic
Epidermal Necrolysis. J Burn Care Res. 2015;36(1):130-136.
doi:10.1097/BCR.0000000000000208
10. Palmieri TL, Greenhalgh DG, Saffle JR, et al. A Multicenter Review of Toxic
Epidermal Necrolysis Treated in U.S. Burn Centers at the End of the Twentieth
Century. J Burn Care Rehabil. 2002;23(2):87-96. doi:10.1097/00004630-
200203000-00004
11. Cartotto R, Mayich M, Nickerson D, Gomez M. SCORTEN Accurately Predicts
Mortality Among Toxic Epidermal Necrolysis Patients Treated in a Burn Center. J
Burn Care Res. 2008;29(1):141-146. doi:10.1097/BCR.0b013e31815f3865
12. Mahar PD, Wasiak J, Cleland H, et al. Mortality and Use of the Auxiliary Score in
Extensive Toxic Epidermal Necrolysis Patients Admitted to an Adult Burns Referral
Centre. Dermatology. 2013;227(2):180-185. doi:10.1159/000354264
21
13. Firoz BF, Henning JS, Zarzabal LA, Pollock BH. Toxic epidermal necrolysis: Five
years of treatment experience from a burn unit. J Am Acad Dermatol.
2012;67(4):630-635. doi:10.1016/j.jaad.2011.12.014
14. CHANTAPHAKUL H, SANON T, KLAEWSONGKRAM J. Clinical characteristics
and treatment outcome of Stevens-Johnson syndrome and toxic epidermal
necrolysis. Exp Ther Med. 2015;10(2):519-524. doi:10.3892/etm.2015.2549
15. Mittmann N, Knowles SR, Koo M, Shear NH, Rachlis A, Rourke SB. Incidence of
Toxic Epidermal Necrolysis and Stevens-Johnson Syndrome in an HIV Cohort. Am
J Clin Dermatol. 2012;13(1):49-54. doi:10.2165/11593240-000000000-00000
16. Irungu K, Nyamu D, Opanga S. Characterization of Stevens–Johnson Syndrome
and Toxic Epidermal Necrolysis Among Patients Admitted to Kenyatta National
Hospital: A Retrospective Cross-Sectional Study. Drugs - Real World Outcomes.
2017;4(2):79-85. doi:10.1007/s40801-017-0105-x
17. Tseng J, Maurer T, Mutizwa MM. HIV-Associated Toxic Epidermal Necrolysis at
San Francisco General Hospital. J Int Assoc Provid AIDS Care. 2017;16(1):37-41.
doi:10.1177/2325957415614651
18. Kannenberg SMH, Jordaan HF, Koegelenberg CFN, Von Groote-Bidlingmaier F,
Visser WI. Toxic epidermal necrolysis and Stevens-Johnson syndrome in South
Africa: a 3-year prospective study. QJM. 2012;105(9):839-846.
doi:10.1093/qjmed/hcs078
19. Kardaun S, Jonkman M. Dexamethasone Pulse Therapy for Stevens-Johnson
Syndrome/Toxic Epidermal Necrolysis. Acta Derm Venereol. 2007;87(2):144-148.
doi:10.2340/00015555-0214
20. Frey N, Jossi J, Bodmer M, et al. The Epidemiology of Stevens-Johnson Syndrome
and Toxic Epidermal Necrolysis in the UK. J Invest Dermatol. 2017;137(6):1240-
1247. doi:10.1016/j.jid.2017.01.031
21. Phillips EJ, Chung W-H, Mockenhaupt M, Roujeau J-C, Mallal SA. Drug
hypersensitivity: Pharmacogenetics and clinical syndromes. J Allergy Clin Immunol.
2011;127(3):S60-S66. doi:10.1016/j.jaci.2010.11.046
22. Chung W-H, Hung S-I, Hong H-S, et al. A marker for Stevens–Johnson syndrome.
Nature. 2004;428(6982):486-486. doi:10.1038/428486a
23. Chung WH, Wang CW, Dao RL. Severe cutaneous adverse drug reactions. J
Dermatol. 2016;43(7):758-766. doi:10.1111/1346-8138.13430
24. Ciccacci C, Latini A, Politi C, et al. Impact of glutathione transferases genes
polymorphisms in nevirapine adverse reactions: a possible role for GSTM1 in
SJS/TEN susceptibility. Eur J Clin Pharmacol. 2017;73(10):1253-1259.
doi:10.1007/s00228-017-2295-2
22
25. Tassaneeyakul W, Prabmeechai N, Sukasem C, et al. Associations between HLA
class I and cytochrome P450 2C9 genetic polymorphisms and phenytoin-related
severe cutaneous adverse reactions in a Thai population. Pharmacogenet
Genomics. 2016;26(5):225-234. doi:10.1097/FPC.0000000000000211
26. Sassolas B, Haddad C, Mockenhaupt M, et al. ALDEN, an Algorithm for
Assessment of Drug Causality in Stevens–Johnson Syndrome and Toxic Epidermal
Necrolysis: Comparison With Case–Control Analysis. Clin Pharmacol Ther.
2010;88(1):60-68. doi:10.1038/clpt.2009.252
27. Bequignon E, Duong TA, Sbidian E, et al. Stevens-Johnson Syndrome and Toxic
Epidermal Necrolysis. JAMA Dermatology. 2015;151(3):302.
doi:10.1001/jamadermatol.2014.4844
28. Auquier-Dunant A, Mockenhaupt M, Naldi L, Correia O, Schröder W, Roujeau J-C.
Correlations Between Clinical Patterns and Causes of Erythema Multiforme Majus,
Stevens-Johnson Syndrome, and Toxic Epidermal Necrolysis. Arch Dermatol.
2002;138(8). doi:10.1001/archderm.138.8.1019
29. Cho YT, Chu CY. Treatments for Severe Cutaneous Adverse Reactions. J Immunol
Res. 2017;2017. doi:10.1155/2017/1503709
30. Lebargy F, Wolkenstein P, Gisselbrecht M, et al. Pulmonary complications in toxic
epidermal necrolysis: a prospective clinical study. Intensive Care Med.
1997;23(12):1237. doi:10.1007/s001340050492
31. Gueudry J, Roujeau J-C, Binaghi M, Soubrane G, Muraine M. Risk Factors for the
Development of Ocular Complications of Stevens-Johnson Syndrome and Toxic
Epidermal Necrolysis. Arch Dermatol. 2009;145(2).
doi:10.1001/archdermatol.2009.540
32. Fouchard N, Bertocchi M, Roujeau J-C, Revuz J, Wolkenstein P, Bastuji-Garin S.
SCORTEN: A Severity-of-Illness Score for Toxic Epidermal Necrolysis. J Invest
Dermatol. 2000;115(2):149-153. doi:10.1046/j.1523-1747.2000.00061.x
33. Guégan S, Bastuji-Garin S, Poszepczynska-Guigné E, Roujeau J-C, Revuz J.
Performance of the SCORTEN During the First Five Days of Hospitalization to
Predict the Prognosis of Epidermal Necrolysis. J Invest Dermatol. 2006;126(2):272-
276. doi:10.1038/sj.jid.5700068
34. Bansal S, Garg VK, Sardana K, Sarkar R. A clinicotherapeutic analysis of Stevens-
Johnson syndrome and toxic epidermal necrolysis with an emphasis on the
predictive value and accuracy of SCORe of Toxic Epidermal Necrolysis. Int J
Dermatol. 2015;54(1):e18-e26. doi:10.1111/ijd.12466
35. Wong DT, Knaus WA. Predicting outcome in critical care: the current status of the
APACHE prognostic scoring system. Can J Anaesth. 1991;38(3):374-383.
23
doi:10.1007/BF03007629
36. Mockenhaupt M, Viboud C, Dunant A, et al. Stevens–Johnson Syndrome and Toxic
Epidermal Necrolysis: Assessment of Medication Risks with Emphasis on Recently
Marketed Drugs. The EuroSCAR-Study. J Invest Dermatol. 2008;128(1):35-44.
doi:10.1038/sj.jid.5701033
37. Posadas SJ, Padial A, Torres MJ, et al. Delayed reactions to drugs show levels of
perforin, granzyme B, and Fas-L to be related to disease severity. J Allergy Clin
Immunol. 2002;109(1):155-161. doi:10.1067/mai.2002.120563
38. Schlapbach C, Zawodniak A, Irla N, et al. NKp46+ cells express granulysin in
multiple cutaneous adverse drug reactions. Allergy. 2011;66(11):1469-1476.
doi:10.1111/j.1398-9995.2011.02677.x
39. Chung W-H, Hung S-I, Yang J-Y, et al. Granulysin is a key mediator for
disseminated keratinocyte death in Stevens-Johnson syndrome and toxic
epidermal necrolysis. Nat Med. 2008;14(12):1343-1350. doi:10.1038/nm.1884
40. Chanal J, Ingen-Housz-Oro S, Ortonne N, et al. Linear IgA bullous dermatosis:
comparison between the drug-induced and spontaneous forms. Br J Dermatol.
2013;169(5):1041-1048. doi:10.1111/bjd.12488
41. Côté B. Clinicopathologic Correlation in Erythema Multiforme and Stevens-Johnson
Syndrome. Arch Dermatol. 1995;131(11):1268.
doi:10.1001/archderm.1995.01690230046008
42. Creamer D, Walsh SA, Dziewulski P, et al. UK guidelines for the management of
Stevens-Johnson syndrome/toxic epidermal necrolysis in adults 2016 (print
summary – Full guidelines available at
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjps.2016.01.034). J Plast Reconstr Aesthetic Surg.
2016;69(6):736-741. doi:10.1016/j.bjps.2016.04.018
43. Struck MF, Hilbert P, Mockenhaupt M, Reichelt B, Steen M. Severe cutaneous
adverse reactions: emergency approach to non-burn epidermolytic syndromes.
Intensive Care Med. 2010;36(1):22-32. doi:10.1007/s00134-009-1659-1
44. de Prost N, Ingen-Housz-Oro S, Duong T anh, et al. Bacteremia in Stevens-
Johnson Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis. Medicine (Baltimore).
2010;89(1):28-36. doi:10.1097/MD.0b013e3181ca4290
45. Ducic I, Shalom A, Rising W, Nagamoto K, Munster AM. Outcome of Patients with
Toxic Epidermal Necrolysis Syndrome Revisited. Plast Reconstr Surg.
2002;110(3):768-773. doi:10.1097/00006534-200209010-00008
46. McGee T, Munster A. Toxic Epidermal Necrolysis Syndrome: Mortality Rate
Reduced with Early Referral to Regional Burn Center. Plast Reconstr Surg.
1998;102(4):1018-1022. doi:10.1097/00006534-199809040-00014
24
47. PRUITT BA, MASON AD, MONCRIEF JA. HEMODYNAMIC CHANGES IN THE
EARLY POSTBURN PATIENT THE INFLUENCE OF FLUID ADMINISTRATION
AND OF A VASODILATOR (HYDRALAZINE). J Trauma Inj Infect Crit Care.
1971;11(1):36-46. doi:10.1097/00005373-197101000-00003
48. Weinand C, Xu W, Perbix W, et al. 27 years of a single burn centre experience with
Stevens–Johnson syndrome and toxic epidermal necrolysis: Analysis of mortality
risk for causative agents. Burns. 2013;39(7):1449-1455.
doi:10.1016/j.burns.2013.03.011
49. de Prost N, Mekontso-Dessap A, Valeyrie-Allanore L, et al. Acute Respiratory
Failure in Patients With Toxic Epidermal Necrolysis. Crit Care Med.
2014;42(1):118-128. doi:10.1097/CCM.0b013e31829eb94f
50. Rajaratnam R, Mann C, Balasubramaniam P, et al. Toxic epidermal necrolysis:
retrospective analysis of 21 consecutive cases managed at a tertiary centre. Clin
Exp Dermatol. 2010;35(8):853-862. doi:10.1111/j.1365-2230.2010.03826.x
51. Kreymann KG, Berger MM, Deutz NEP, et al. ESPEN Guidelines on Enteral
Nutrition: Intensive care. Clin Nutr. 2006;25(2):210-223.
doi:10.1016/j.clnu.2006.01.021
52. Rhodes A, Evans LE, Alhazzani W, et al. Surviving Sepsis Campaign: International
Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care
Med. 2017;43(3):304-377. doi:10.1007/s00134-017-4683-6
53. Harr T, French LE. Toxic epidermal necrolysis and Stevens-Johnson syndrome.
Orphanet J Rare Dis. 2010;5:39. doi:10.1186/1750-1172-5-39
54. Vignes S, Albuisson J, Champion L, et al. Primary Lymphedema French National
Diagnosis and Care Protocol (PNDS; Protocole National de Diagnostic et de
Soins). Orphanet Journal of Rare Diseases 16, 1-11 (2021). doi:10.1186/s13023-
020-01652-w
55. Wei C-H, Chung-Yee Hui R, Chang C-J, et al. Identifying prognostic factors for
drug rash with eosinophilia and systemic symptoms (DRESS). Eur J Dermatology.
2011;21(6):930-937. doi:10.1684/ejd.2011.1550
56. Khanna R, Vaudreuil A, Lake E. Outpatient management and follow-up
recommendations for adverse drug reactions: Guidelines for posthospitalization
care. Cutis. 2019;103(5):254-258.
57. Kaser DJ, Reichman DE, Laufer MR. Prevention of vulvovaginal sequelae in
stevens-johnson syndrome and toxic epidermal necrolysis. Rev Obstet Gynecol.
2011;4(2):81-85. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22102931
58. Yang C, Cho Y, Chen K, Chen Y, Song H, Chu C. Long-term Sequelae of Stevens-
Johnson Syndrome/Toxic Epidermal Necrolysis. Acta Derm Venereol.
25
2016;96(4):525-529. doi:10.2340/00015555-2295
59. Morales ME, Purdue GF, Verity SM, Arnoldo BD, Blomquist PH. Ophthalmic
Manifestations of Stevens-Johnson Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis and
Relation to SCORTEN. Am J Ophthalmol. 2010;150(4):505-510.e1.
doi:10.1016/j.ajo.2010.04.026
60. Bachot N, Revuz J, Roujeau J-C. Intravenous Immunoglobulin Treatment for
Stevens-Johnson Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis. Arch Dermatol.
2003;139(1):33. doi:10.1001/archderm.139.1.33
61. Lee HY, Lim YL, Thirumoorthy T, Pang SM. The role of intravenous
immunoglobulin in toxic epidermal necrolysis: a retrospective analysis of 64
patients managed in a specialized centre. Br J Dermatol. 2013;169(6):1304-1309.
doi:10.1111/bjd.12607
62. Ar??valo JM, Lorente JA, Gonz??lez-Herrada C, Jim??nez-Reyes J. Treatment of
Toxic Epidermal Necrolysis with Cyclosporin A. J Trauma Inj Infect Crit Care.
2000;48(3):473-478. doi:10.1097/00005373-200003000-00017
63. Valeyrie-Allanore L, Wolkenstein P, Brochard L, et al. Open trial of ciclosporin
treatment for Stevens-Johnson syndrome and toxic epidermal necrolysis. Br J
Dermatol. 2010;163(4):847-853. doi:10.1111/j.1365-2133.2010.09863.x
64. Lipowicz S, Sekula P, Ingen-Housz-Oro S, et al. Prognosis of generalized bullous
fixed drug eruption: comparison with Stevens-Johnson syndrome and toxic
epidermal necrolysis. Br J Dermatol. 2013;168(4):726-732. doi:10.1111/bjd.12133
65. Sidoroff A, Halevy S, Bavinck JNB, Vaillant L, Roujeau J-C. Acute generalized
exanthematous pustulosis (T) - A clinical reaction pattern. J Cutan Pathol.
2001;28(3):113-119. doi:10.1034/j.1600-0560.2001.028003113.x
66. Kardaun SH, Sekula P, Valeyrie-Allanore L, et al. Drug reaction with eosinophilia
and systemic symptoms (DRESS): an original multisystem adverse drug reaction.
Results from the prospective RegiSCAR study. Br J Dermatol. 2013;169(5):1071-
1080. doi:10.1111/bjd.12501
67. Bouvresse S, Valeyrie-Allanore L, Ortonne N, et al. Toxic epidermal necrolysis,
DRESS, AGEP: Do overlap cases exist? Orphanet J Rare Dis. 2012;7(1):72.
doi:10.1186/1750-1172-7-72
68. Canavan TN, Mathes EF, Frieden I, Shinkai K. Mycoplasma pneumoniae–induced
rash and mucositis as a syndrome distinct from Stevens-Johnson syndrome and
erythema multiforme: A systematic review. J Am Acad Dermatol. 2015;72(2):239-
245.e4. doi:10.1016/j.jaad.2014.06.026
69. Ting W, Stone MS, Racila D, Scofield RH, Sontheimer RD. Toxic epidermal
necrolysis-like acute cutaneous lupus erythematosus and the spectrum of the acute
26
syndrome of apoptotic pan-epidermolysis (ASAP): a case report, concept review
and proposal for new classification of lupus erythematosus vesiculobullous skin.
Lupus. 2004;13(12):941-950. doi:10.1191/0961203304lu2037sa
70. Shiohara T, Mizukawa Y. Drug-induced hypersensitivity syndrome (DiHS)/drug
reaction with eosinophilia and systemic symptoms (DRESS): An update in 2019.
Allergol Int. 2019;68(3):301-308. doi:10.1016/j.alit.2019.03.006
71. Kano Y, Hiraharas K, Sakuma K, Shiohara T. Several herpesviruses can reactivate
in a severe drug-induced multiorgan reaction in the same sequential order as in
graft-versus-host disease. Br J Dermatol. 2006;155(2):301-306. doi:10.1111/j.1365-
2133.2006.07238.x
72. Grossman I. ADME pharmacogenetics: current practices and future outlook. Expert
Opin Drug Metab Toxicol. 2009;5(5):449-462. doi:10.1517/17425250902902322
73. Denisov IG, Grinkova Y V., Baylon JL, Tajkhorshid E, Sligar SG. Mechanism of
Drug–Drug Interactions Mediated by Human Cytochrome P450 CYP3A4 Monomer.
Biochemistry. 2015;54(13):2227-2239. doi:10.1021/acs.biochem.5b00079
74. Ota T, Kamada Y, Hayashida M, Iwao-Koizumi K, Murata S, Kinoshita K.
Combination Analysis in Genetic Polymorphisms of Drug-Metabolizing Enzymes
CYP1A2, CYP2C9, CYP2C19, CYP2D6 and CYP3A5 in the Japanese Population.
Int J Med Sci. 2015;12(1):78-82. doi:10.7150/ijms.10263
75. Ogese MO, Jenkins RE, Maggs JL, et al. Characterization of Peroxidases
Expressed in Human Antigen Presenting Cells and Analysis of the Covalent
Binding of Nitroso Sulfamethoxazole to Myeloperoxidase. Chem Res Toxicol.
2015;28(1):144-154. doi:10.1021/tx500458k
76. Lu SC. Glutathione synthesis. Biochim Biophys Acta - Gen Subj.
2013;1830(5):3143-3153. doi:10.1016/j.bbagen.2012.09.008
77. Bocquet H, Bagot M, Roujeau JC. Drug-induced pseudolymphoma and drug
hypersensitivity syndrome (drug rash with eosinophilia and systemic symptoms:
DRESS). Semin Cutan Med Surg. 1996;15(4):250-257. doi:10.1016/S1085-
5629(96)80038-1
78. Ortonne N, Valeyrie-Allanore L, Bastuji-Garin S, et al. Histopathology of drug rash
with eosinophilia and systemic symptoms syndrome: a morphological and
phenotypical study. Br J Dermatol. 2015;173(1):50-58. doi:10.1111/bjd.13683
79. Mizukawa Y, Hirahara K, Kano Y, Shiohara T. Drug-induced hypersensitivity
syndrome/drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms severity score: A
useful tool for assessing disease severity and predicting fatal cytomegalovirus
disease. J Am Acad Dermatol. 2019;80(3):670-678.e2.
doi:10.1016/j.jaad.2018.08.052
27
80. Peyrière H, Dereure O, Breton H, et al. Variability in the clinical pattern of
cutaneous side-effects of drugs with systemic symptoms: does a DRESS syndrome
really exist? Br J Dermatol. 2006;155(2):422-428. doi:10.1111/j.1365-
2133.2006.07284.x
81. Adler NR, Aung AK, Ergen EN, Trubiano J, Goh MSY, Phillips EJ. Recent
advances in the understanding of severe cutaneous adverse reactions. Br J
Dermatol. 2017;177(5):1234-1247. doi:10.1111/bjd.15423
82. Shiohara T, Iijima M, Ikezawa Z, Hashimoto K. The diagnosis of a DRESS
syndrome has been sufficiently established on the basis of typical clinical features
and viral reactivations. Br J Dermatol. 2007;156(5):1083-1084. doi:10.1111/j.1365-
2133.2007.07807.x
83. Kano Y, Tohyama M, Aihara M, et al. Sequelae in 145 patients with drug-induced
hypersensitivity syndrome/drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms:
Survey conducted by the Asian Research Committee on Severe Cutaneous
Adverse Reactions (ASCAR). J Dermatol. 2015;42(3):276-282. doi:10.1111/1346-
8138.12770
84. Tohyama M, Hashimoto K, Yasukawa M, et al. Association of human herpesvirus 6
reactivation with the flaring and severity of drug-induced hypersensitivity syndrome.
Br J Dermatol. 2007;157(5):934-940. doi:10.1111/j.1365-2133.2007.08167.x
85. Almudimeegh A, Rioux C, Ferrand H, Crickx B, Yazdanpanah Y, Descamps V.
Drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms, or virus reactivation with
eosinophilia and systemic symptoms as a manifestation of immune reconstitution
inflammatory syndrome in a patient with <scp>HIV</scp> ? Br J Dermatol.
2014;171(4):895-898. doi:10.1111/bjd.13079
86. Mardivirin L, Descamps V, Lacroix A, Delebassée S, Ranger-Rogez S. Early
effects of drugs responsible for DRESS on HHV-6 replication in vitro. J Clin Virol.
2009;46(3):300-302. doi:10.1016/j.jcv.2009.08.006
87. Descamps V, Valance A, Edlinger C, et al. Association of human herpesvirus 6
infection with drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms. Arch
Dermatol. 2001;137(3):301-304. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11255328
88. Choquet-Kastylevsky, Intrator, Chenal, Bocquet, Revuz, Roujeau. Increased levels
of interleukin 5 are associated with the generation of eosinophilia in drug-induced
hypersensitivity syndrome. Br J Dermatol. 1998;139(6):1026-1032.
doi:10.1046/j.1365-2133.1998.02559.x
89. Hanafusa T, Azukizawa H, Matsumura S, Katayama I. The predominant drug-
specific T-cell population may switch from cytotoxic T cells to regulatory T cells
during the course of anticonvulsant-induced hypersensitivity. J Dermatol Sci.
28
2012;65(3):213-219. doi:10.1016/j.jdermsci.2011.12.002
90. Asano Y, Kagawa H, Kano Y, Shiohara T. Cytomegalovirus Disease During Severe
Drug Eruptions. Arch Dermatol. 2009;145(9). doi:10.1001/archdermatol.2009.195
91. Ikari T, Nagai K, Ohe M, Harada T, Akiyama Y. Multiple cavities with halo sign in a
case of invasive pulmonary aspergillosis during therapy for drug-induced
hypersensitivity syndrome. Respir Med Case Reports. 2017;21:124-128.
doi:10.1016/j.rmcr.2017.04.017
92. ARAKAWA M, KAKUTO Y, ICHIKAWA K, CHIBA J, TABATA N, SASAKI Y.
Allopurinol Hypersensitivity Syndrome Associated with Systemic Cytomegalovirus
Infection and Systemic Bacteremia. Intern Med. 2001;40(4):331-335.
doi:10.2169/internalmedicine.40.331
93. Giri P, Bhattyacharya S, Dhar S, Roy S, Pal P. Dress syndrome with sepsis, acute
respiratory distress syndrome and pneumomediastinum. Indian J Dermatol.
2011;56(6):763. doi:10.4103/0019-5154.91850
94. Ingen-Housz-Oro S, Duong TA, de Prost N, et al. Treatment of severe cutaneous
adverse drug reactions. Ann Dermatol Venereol. 2018;145(6-7):454-464.
doi:10.1016/j.annder.2018.02.014
95. Cho Y-T, Yang C-W, Chu C-Y. Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic
Symptoms (DRESS): An Interplay among Drugs, Viruses, and Immune System. Int
J Mol Sci. 2017;18(6):1243. doi:10.3390/ijms18061243
96. Morita C, Yanase T, Shiohara T, Aoyama Y. Aggressive treatment in paediatric or
young patients with drug-induced hypersensitivity syndrome (DiHS)/drug reaction
with eosinophilia and systemic symptoms (DRESS) is associated with future
development of type III polyglandular autoimmune syndrome. BMJ Case Rep.
Published online October 27, 2018:bcr-2018-225528. doi:10.1136/bcr-2018-225528
97. Kirchhof MG, Wong A, Dutz JP. Cyclosporine Treatment of Drug-Induced
Hypersensitivity Syndrome. JAMA Dermatology. 2016;152(11):1254.
doi:10.1001/jamadermatol.2016.2220
98. Laban E, Hainaut-Wierzbicka E, Pourreau F, et al. Cyclophosphamide Therapy for
Corticoresistant Drug Reaction With Eosinophilia and Systemic Symptoms
(DRESS) Syndrome in a Patient With Severe Kidney and Eye Involvement and
Epstein-Barr Virus Reactivation. Am J Kidney Dis. 2010;55(3):e11-e14.
doi:10.1053/j.ajkd.2009.10.054
99. Navarini AA, Valeyrie-Allanore L, Setta-Kaffetzi N, et al. Rare Variations in IL36RN
in Severe Adverse Drug Reactions Manifesting as Acute Generalized
Exanthematous Pustulosis. J Invest Dermatol. 2013;133(7):1904-1907.
doi:10.1038/jid.2013.44
29
100. Raison-Peyron N. “Cutaneous adverse drug reactions” are not always drug-
induced. Eur J Dermatology. 2013;23(4):439-442. doi:10.1684/ejd.2013.2055
101. Choi MJ, Kim HS, Park HJ, et al. Clinicopathologic manifestations of 36 korean
patients with acute generalized exanthematous pustulosis: a case series and
review of the literature. Ann Dermatol. 2010;22(2):163-169.
doi:10.5021/ad.2010.22.2.163
102. Hotz C, Valeyrie-Allanore L, Haddad C, et al. Systemic involvement of acute
generalized exanthematous pustulosis: a retrospective study on 58 patients. Br J
Dermatol. 2013;169(6):1223-1232. doi:10.1111/bjd.12502
103. Saissi E-H, Beau-Salinas F, Jonville-Béra A-P, Lorette G, Autret-Leca E, Centres
Régionaux de Pharmacovigilance. [Drugs associated with acute generalized
exanthematic pustulosis]. Ann Dermatol Venereol. 130(6-7):612-618.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13679697
104. Lerch M, Bircher AJ. Systemically induced allergic exanthem from mercury.
Contact Dermatitis. 2004;50(6):349-353. doi:10.1111/j.0105-1873.2004.00366.x
105. Wu J, Lee YY, Su SC, et al. Stevens-Johnson syndrome and toxic epidermal
necrolysis in patients with malignancies. Br J Dermatol. 2015;173(5):1224-1231.
doi:10.1111/bjd.14052