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Alexandre

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Na areiaPor: Fabio da Silva Barbosa

Estava sentado na areia da praia, olhando o horizonte, tentando contemplar o que aindahá de bom e belo no mundo, quando senti aquela mão levemente apoiada em meu ombro.Olhei para trás e vi aquele rosto jovem debaixo da barba e do cabelo longo e despenteado.Vestido apenas com uma bermuda suja e amarrotada, pediu um cigarro. Expliquei queaquele era o último, mas daria a ele e isso seria bom para mim, já que levaria um tempo paradescolar outro, ficando assim, algum tempo sem me poluir com todos aqueles agentesnocivos a saúde. O rapaz me agradeceu por dividir o vício suicida e caminhou em direçãoaos quiosques. Encarei mais um pouco o horizonte e me virei procurando o sujeito. Localizeia figura entre as mesas pedindo algo. Depois de correr três mesas, voltou em minhadireção. Fingi estar apreciando qualquer coisa e me fiz de surpreso quando estava bempróximo.

- Opa... Fala aê.

- Fui pedir dinheiro ou comida nos quiosques...

- Eu vi. - Confessei ao observar seus olhos molhados.

- Sabe a última mesa em que parei? - Uma lágrima escorreu.

- Aquela ali. - Apontei com a cabeça.

- A mulher, hoje com aquele cara, um dia disse que me amava e nunca me esqueceria...Acontecesse o que acontecesse... Agora, ela olhou como se nunca tivesse me visto antes.

- Talvez ela não tenha reconhecido...

- Reconheceu. Assim que ela me olhou ficou em dúvida, mas logo em seguida reconheceu.Por um rápido momento achei que fosse me cumprimentar, mas vestiu aquela máscara friae olhou para o outro lado, deixando para o acompanhante o trabalho de dispensar opedinte.

Tentei explicar que não deveria se aborrecer com isso. Afinal, ela tinha se mostrado comosempre fora: Uma pessoa com sentimentos menores. Tinha dado sorte em não terminarcom tal pessoa. Mas, ele não me deu oportunidade para tal explanação. Não estavainteressado no meu ponto de vista. Queria apenas dividir o pesado fardo de sua vida.Quando percebeu que ia emitir alguma opinião, se virou e caminhou pela beira dágua.Fiquei olhando ele ir, pensando em quem realmente seria aquele cara. Muitos o viam comomais um morador de rua, mas, debaixo daquele rótulo, devia haver um cara muitointeressante, sensível e inteligente. Quando ele sumiu do meu campo de visão, levantei,bati a areia da bermuda e comecei a procurar alguém que estivesse fumando. Precisavaconseguir um cigarro.

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Vamos começar por um assunto bem atual:O conflito no Rio de Janeiro. Solta o verbo.O conflito cotidiano é o mais cruel, porquedespreza e exclui gerações e gerações, mi-lhões de vidas atiradas à barbárie, des-truindo a alma, impedindo seu desenvolvi-mento pleno, debaixo de brutal repressão.A sociedade é mais cruel com os mais fragi-lizados, como os covardes. E o massacre écotidiano e é físico, moral e psicológico.Esse conflito que estamos vendo aí, porcausa da copa, do pan e da disputa de ter-ritórios entre facções e milícias – engros-sando o caldo com os interesses imobi-liários nas áreas que vão se valorizando –não é novidade. É mais uma tragédia coti-diana imposta às populações de baixa ren-da, com a “vantagem” da criação de ter-ror, com o aparato de guerra ostentadonas operações. Em 2008 teve a mesma coi-sa, guerra, mortes, tiros, terror. No fim, co-memoraram a “retomada”, com desfile ebanda de música, no Alemão, no clima de“para sempre”. Que nem agora, com ban-deira lá em cima. Isso é um filme velho.Atrás, como sempre, interesses financeirose na exploração, no controle e na conten-ção da população pobre e excluída.O conflito principal da atualidade é o dasmega-empresas contra os povos. É um con-flito dissimulado pela publicidade, ondese convence o povo de que as empresassão ótimas e nos amam e só pensam nobem estar geral – enquanto desalojampopulações, induzem ao consumo compul-

“A minha arte, o meu trabalho, a minha vida, obrigatoriamente,têm que ser úteis.”

Reflexão e arte. Este é o trampo desse guerreiro. Eduardo Marinho divide com seu público

experiências vividas e traz importantes questões que costumam ser empurradas para

debaixo do tapete. Cada obra, um novo tijolo na construção de um mundo mais justo e

igualitário.

Por: Fabio da Silva Barbosa

sivo, financiam campanhas de políticos epressionam por leis e isenções que as be-neficiem, freqüentemente às custas de ma-lefícios gerais. Impedem os investimentosna educação pública, controlam as comu-nicações, mantêm bancadas no Congressoe nas assembléias legislativas locais, seinfiltram no judiciário, no executivo. Masisso não é só no Rio, é no mundo inteiro.

E as questões indígenas? Como resolver?A invasão européia iniciou a era do geno-cídio. Os povos originários são massacra-dos, expropriados, expulsos das suas ter-ras, violentados, derrotados. Sem condi-ções tecnologias para enfrentar as armaseuropéias, os indígenas foram extermina-dos por cinco séculos. Calcula-se que ha-viam cerca de 15 milhões, só na área doBrasil. Em 1970, o censo indicou 180 miloriginários, no Brasil. Com as políticasindigenistas, mesmo cosméticas e restritas,o massacre diminuiu a intensidade e apopulação pôde aumentar um pouco.Acontece que, para o sistema produtivo econsumista, essa estrutura social trazidapelos europeus que funciona com base namaioria pobre, que necessita produzir mi-séria, o índio é um mau exemplo. Em prin-cípio, as populações originárias produ-zem tudo o que necessitam sem dependerdas indústrias, sem ter o consumo como ocentro da vida. O que o índio materialmen-te precisa, ele sabe fazer. Casa, rede, uten-sílios domésticos, armas de caça ou pesca,

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canoa, remédios, tudo tirado da naturezaà sua volta, sem destruição, sem produçãoem massa, sem precisar da escravidão deum emprego mal remunerado, em péssimascondições de trabalho, de transporte,enfim, de vida. Para o índio, a coisa maisimportante da vida é viver. E viver bem.Isso é um perigo para os valores tão hábile meticulosamente plantados no incons-ciente coletivo, que levam as pessoas aaceitarem vidas massacradas como se nãohouvesse outra opção. Narcotizadas pelamídia, desarmadas pela falta de um ensinoque merecesse o nome, as pessoas nãoquestionam o modelo de sociedade em quevivemos. Os “maus” exemplos não podemter perdão, precisam ser destruídos, aomenos moralmente mas, se possível,fisicamente.Você me pergunta como resolver... Como éque eu vou saber? A resistência taí, asações, lentamente, vão aparecendo. O Es-tado continua submetido pelos interessesdo latifúndio, agora rebatizado de “agro-negócio”, com a entrada de diversas mul-tinacionais no meio, reforçando as remo-ções, os ataques, a difamação. Vi um auti-dor, lá no Espírito Santo, posto pela Ara-cruz Celulose – empresa que poluiu o am-biente, encheu de eucaliptos uma áreaenorme do estado e expulsou os originá-rios, décadas atrás – dizendo que “A Ara-cruz trouxe empregos, a Funai trouxe osíndios”. É uma das maneiras de jogar apopulação contra os indígenas. São táti-cas sórdidas. Mas a internet, hoje, tornou-se uma arma de defesa, divulgando asinformações que a mídia esconde, trocan-do informações entre os movimentos de re-sistência e defesa contra os ataques, de-nunciando os crimes e convocando apoiosàs lutas. Se formos minimamente justos, ve-remos que o Estado deve reparação a to-dos os povos indígenas. Primeiro, reco-nhecer o genocídio secular, físico e cultu-

ral. Retirar os invasores de suas terras epor em prática os direitos que já foram re-conhecidos, mas que o poder econômicode minoria não permite que sejam postosem prática.

Você sempre comenta sobre o governo atrásdo governo. Fale um pouco sobre.Falo sobre os poderes atrás dos governos.Talvez seja melhor dizer acima. Os cartéisbancários, o mercado financeiro, as gran-des indústrias – farmacêutica, de arma-mentos, alimentícia, da construção, da co-municação, etc.-, fizeram do Estado um te-atro de marionetes, usando os políticos co-mo os bonequinhos. Eles não aparecem se-gurando os fios, pois controlam os holo-fotes da mídia, que focalizam a política,não o poder. Como no teatro, parece atéque as marionetes controlam o espetáculo.Essa é a maestria deles. Mas sempre aconte-cem os vazamentos. E me parece que cadavez vaza mais. No governo que entra,anuncia-se uma luta neste sentido. Anopassado houve a Conferência Nacional deComunicações, em que mandaram os re-presentantes da mídia privada e asconquistas foram poucas. Eu vi o blog de-les, no fim do ano. Tinha cerca de 30seguidores, apenas. E o problema afetaquase a totalidade da população, com adistorção das informações, a formação in-sidiosa dos valores baseados no consumo,desde a mais tenra infância, a exploraçãoda sabotagem educacional, o estímulo aosexo, à violência, à competição desen-freada, etc, etc. Na minha opinião, umadas principais frentes de luta, hoje, é rom-per o bloqueio da mídia, democratizar, pul-verizar. E acabar com esse poder incontes-tável de pressão sobre os poderes que,afinal, são públicos, lembremos. E fique-mos atentos ao processo que se inicia.

Boa alimentação é um ato revolucionário?

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Pode. E deve. A alimentação industrialnão tem o menor compromisso com a nutri-ção, com a saúde. Ao contrário, a impres-são que eu tenho é que há um acordo entrea indústria alimentícia e a farmacêutica.A alimentícia acaba com os nutrientes, en-che de químicas nocivas à saúde, conser-vantes, colorantes, aromatizantes e outrosque dá até medo, quando se lê nos rótulos– fora o que não vai escrito. Induz-se oconsumo desta alimentação, a populaçãoadoece e precisa de medicamentos, dandolucro, também à indústria farmacêutica.Ou seja, a ind. alimentícia tira o que presta,enche do que não presta, as pessoas a-doecem e precisam se medicar. Alguém jáviu algum médico receitar arroz integral?Não, ele receita o complexo B. No arrozintegral tem todo o complexo B.Mas o que se come é o arroz branco, que émuito mais amido. Na raspagem do arroz,eles vendem a película (que contém as vita-minas e a fibra) para os laboratórios far-macêuticos. Não parece combinado? Eunão me espantaria. É possível se alimentarcom os produtos da terra, sem precisar dequase nada industrial. É muito melhor prasaúde e um ato revolucionário que afeta opoder da indústria. A Monsanto enfiou ostransgênicos goela abaixo do Brasil, ondeera proibido o plantio e a comercializaçãode tais produtos. Os venenos necessáriosao plantio de transgênicos são os mais for-tes que já existiram. Desde 2007, o Brasilé o maior consumidor de venenos agríco-las do mundo – tá na Caros Amigos denovembro, página 9 -; várias pesquisas a-pontam o aumento de aborto e outrasdoenças nas povoações próximas aos cam-pos de soja transgênica; pesquisas doINCA (Instituto Nacional do Câncer) e daUFCE (Universidade Federal do Ceará)comprovaram o aumento na incidência decâncer sobre a população brasileira, devi-

do ao aumento do uso de agrotóxicos. É aguerra das empresas contra os povos. Oinimigo está infiltrado e enraizado naadministração do Estado, sabotando opovo, controlando as comunicações.Escolher bem o que se come, nestecontexto, é uma atitude revolucionária ede auto preservação.

A arte tem de ser útil?A arte é um instrumento de diálogo com oabstrato do ser. Falando assim, pode pa-recer estranho, mas falo da sensibilidade,do emocional, do psicológico, do incons-ciente, dos sentimentos – tudo no lado abs-trato do ser. Se o artista vai trabalhar nosentido de libertar ou aprisionar, de denun-ciar ou disfarçar, conscientizar ou alienar,ou mesmo fazer trabalhos neutros, decora-tivos, sem nenhum engajamento humano,político ou social, aí é uma questão pesso-al de caráter, de temperamento, de mentali-dade. Eu poderia dizer até uma questãode solidariedade com a família humana.Mas, com os valores vigentes apontandopara o “cada-um-por-si”, hábil e artistica-mente plantados no inconsciente coletivo,através dos noticiários, das novelas, dosfilmes e dos programas de tv, rádio, revis-tas de futilidades e panfletos anti-povo epró consumo desbragado, o estímulo totalao egoísmo, não é de espantar a raridadedos artistas dedicados à evolução da so-ciedade e do ser humano. Além do mais, aarte que aprisiona, ilude, aliena, futiliza eesconde a verdade é muito bem paga, osmelhores são transformados em celebri-dades, como se a fama fosse um objetivoem si. Já o outro tipo de arte é margina-lizado, omitido, desprezado e até perse-guido. A minha arte, o meu trabalho, a mi-nha vida, obrigatoriamente, têm que serúteis, têm que existir nessa direção. Bom,a palavra útil aí pode servir pros dois

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lados. A arte prostituída é útil aos que pre-tendem manter esse estado de coisas emque vivemos. É fácil ser artista, difícil é vi-ver de arte e não a prostituir.

Mesmo vendo tanta merda ao nosso redor,o otimismo está sempre em seu horizonte.Não vejo o otimismo em meu horizonte. Vejoo horizonte e vou andando na direção de-le, atento à minha volta. Enquanto, de umlado, vejo crueldade e egoísmo, do outrovejo generosidade e altruísmo. Tenho vistomuito trabalho de conscientização, deatendimento, de esclarecimento, de sensi-bilização. Claro que são poucos, raros, oEstado não assume suas obrigações. Pode-mos mudar isso, mas não sabemos disso,ainda, por isso o ensino é sabotado, opúblico, e controlado, o privado e o superi-or público. Para que sejamos fáceis de con-duzir pela mídia, pelo massacre publi-citário, em nossos valores, nossos concei-tos, nossos objetivos de vida. Aí está umgrande foco de trabalho. É preciso espa-lhar, causar reflexão, alcançar as pessoasreflexivas e angustiadas, mostrar como aestrutura funciona e como somos todos le-vados a sustentar, com nosso comporta-mento e nossa submissão moral, essa estru-tura social injusta, covarde e suicida, quesabota, aprisiona e martiriza a maior parteda população. Há muitos trabalhando nacorrosão dessa estrutura. Esse é o nossotrabalho, sem ele a vida perde o sentido.Se dará resultado, se será logo ou não, éuma questão menor. O destino é a caminha-da, o objetivo é o trabalho no sentido dailuminação, da claridade, do esclareci-mento, da sensibilização e da conscien-tização.

Encontros/DesencontrosPor: Fabio da Silva Barbosa

“É que de ontem para hoje eu já aprendimuita coisa”Gandhi

Passei por um velho amigo e sentamos nomeio fio para trocarmos idéias. Lembramosde nossa juventude, onde éramos inocenteso suficiente para pensarmos ter descobertoa verdade. Sabíamos o segredo da vida.Hahahaha... Que piada. Foi ao rir quepercebi: Ele ainda tinha as velhas certezas.Comecei a ser bombardeado por uma sériede perguntas e a cada resposta dada elecomparava com respostas antigas que eutinha dado em alguma ocasião (eu nem melembrava mais do que ele estava falando).Por vezes, ele soltava um simples “comovocê está mudado”. Tentei explicar que nãotinha mais aquela vontade de ser “aquilomesmo para sempre” e que corríamos o riscode nos encontrar amanhã e eu já ter mudadode opinião. Aí ele endoidou. Disse que issoera falta de personalidade. Nesse momento,lembrei-me da frase de Gandhi quando umespertinho tentou pegá-lo em contradiçãoe parafraseei sem titubear: É que até amanhãvou ter aprendido muita coisa.

“Não é triste mudar de idéias; tristeé não ter idéias para mudar”Aporelly – Barão de Itararé

CRISE

Por: Wagner T.

Na mesa a folha pálidaNa mão a caneta ávida

E no final o papel permanece intocado.Por quê?

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Por: Fabio da Silva Barbosa

Para começar, apresente o Barraco.Barraco@dentro é um espaço virtual des-tinado, principalmente, aos moradores decomunidades, mas, também, está aberto pa-ra todos os que se interessam por assuntoscomunitários. A finalidade do site é ofere-cer aos moradores de comunidades um ou-tro olhar sobre a sua realidade - diferentedas mídias convencionais - usando umalente jornalística que não seja precon-ceituosa, nem superficial.

De onde surgiu essa idéia?A idéia da construção do site já é um poucoantiga. Desde os tempos da faculdade, fi-cava imaginado um meio de comunicaçãodiferenciado dos tradicionais. O fato deser morador da favela da Rocinha tambéminfluenciou na decisão de querer criar umespaço para comunicação desse gênero -um espaço não só noticioso, mas de refle-xão e valorização cultural e social. Mas,a principal inspiração desse projeto só co-nheci durante a produção do meu trabalhode conclusão de curso, quando fiz um do-cumentário sobre a TV Tagarela, da Roci-nha. Uma galera que faz a diferença.Dentro das suas produções, procuram le-var aos moradores um pouco de reflexãosobre o cotidiano da favela, desenvol-vendo a conscientização sócio-política.

Qual o benefício para as comunidades?Espero que, ao adentrar nas comunidades,o Barraco esteja ajudando a valorizar umacultura que é excluída, a desenvolver aconscientização social e política e, acimade tudo, enfatizar os verdadeiros valo-res das pessoas dessas regiões que não sãoreconhecidos pela classe média alta, nempor sua mídia representante.

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Cleber Araújo apresenta o Barraco

Você já trabalhava com blogs. Como elesvão ficar? O Pauta Grande continua?O blog Pauta Grande teve e tem duas fun-ções na minha vida, apesar de não ser a-tualizado com frequência. Primeiro: Foiuma forma de manter-me ligado ao meusonho de exercer o jornalismo cidadão. Jáque o mercado jornalístico está difícil deemprego, principalmente para pessoasque queiram trabalhar por um mundo me-lhor, tive de criar meu próprio espaço paraexpor minhas reflexões e críticas. Segundo:Funcionar como válvula de escape, umafuga do estresse cotidiano através dosmeus pensamentos e palavras escritas.Quanto a continuar alimentando o blog,isso ainda é incerto. Primeiro vou ter queorganizar meu tempo e me empenhar bra-vamente para o obter o sucesso esperadocom o Barraco@dentro.

Como a galera faz para participar?Minha intenção é criar uma rede com osblogueiros e com os sites que já atuam nomeio comunitário. Não pretendo publicarsomente o que é produzido pelo barraco,mas disponibilizar espaço para outras pes-soas e intituições que partilham do mesmoideal. O que estou propondo não é nadade novo. Isso é uma prática comum entreos blogueiros e os sites de esquerda e fun-ciona com muito sucesso. Vamos sempreestar receptivos à artigos, matérias, entre-vistas, fotos, vídeos e críticas pelo e-mail:[email protected] [email protected].

Uma mensagem para fechar bonito:Só vamos viver numa pátria mais justa efraterna quando o povo tiver a consciênciade que a vida política não se vive apenasde quatro em quatro anos nas urnas.

www.barracoadentro.com

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Certas coisas não entram em minha rude cabeça. Por exemplo: Se o ch tem o mesmosom do x, qual a necessidade do ch? Questiono o ch por terem unido duas letras para fazero som de uma que já existe. Eu sei que muitos irão falar sobre a origem da palavra e toda es-sa história, que embora seja interessante para estudiosos do assunto, não serve muito pa-ra os que usam a língua em sua real finalidade, a comunicação. O fato é que sou um oxige-nador. Sou a favor das mudanças. Mudar sempre. Até o que está morto muda. De um jeitoou de outro muda. Apodrece. Muda a forma, a consistência, o cheiro... É a mudança queresta aos que se mantêm firmes às velhas normas: o apodrecimento e o mofo.Cérebrosengessados não produzem, apenas repetem o que já foi dito, tocado e feito.

O falar serve como um meio de comunicação, assim como o escrever. Não é maisque isso. É apenas uma forma de se comunicar. E a língua muda como muda o povo que ausa. Ela tem de atender a necessidade do povo, ao em vez do povo atender as suasnecessidades.

Para não acharem, os simplistas, que apenas abolindo o ch se resolverá a questão,vou citar também o caso do s. De forma geral, s faz som de z e ss som de ç. Preciso con-tinuar o raciocínio? Preciso ainda falar que, na prática, essas regras têm exceção? Que, porvezes, o s faz outro som? E de que serve isso? Isso é riqueza da língua? Preciso perguntara utilidade de uma letra que faz som de outra? Preciso chegar ao cúmulo de passar pelo hantes de uma palavra como o nome Hugo? Há países em que isso faz uma grande diferença,mas vamos falar de Brasil. Qual a diferença de Ugo e Hugo, a não ser o h, é claro? E o g comsom de j, ou vice versa? Poderia ficar o dia inteiro desfiando banalidades lingüísticasimpostas, mas acho (ou axo, tanto faz) que já consegui passar a idéia geral.

A história ou etimologia da palavra não é camisa de força para prender um povo aum sistema confuso de signos que perde o foco de sua real função. Dizer que ia ser compli-cado mudar tudo seria uma grande besteira. Não seria dificuldade nenhuma uma pessoa,independente da idade, ser informada de que a partir de agora apenas o x fará som de x.Olha que coisa difícil de explicar. A internet trouxe mudanças muito mais complexas ao co-tidiano da escrita e todos absorveram muito mais rápido do que essa linguagem empoladaque nos empurram goela a baixo desde a alfabetização, sem conseguir nunca que nós fi-quemos confortáveis ao usá-la. Somos sempre vítimas dela, que nos assalta com dúvidascriadas por suas regras arbitrárias. Engraçado que nunca vi aula de MSN para ensinar quevc significa você, ou qualquer outra coisa do tipo. A coisa flui naturalmente quando éagradável ao usuário. O desengorduramento lígüístico tem de acontecer. Nunca vai estarbom o suficiente ao ponto de não precisar mudar mais. A perfeição é utópica.

Ainda bem que existem as gírias para nos salvar dessa estagnação que tanto agra-da aos senhores do saber. A gíria é o enriquecimento da língua. Isso sim é riqueza. O povocriando e transformando o que é seu. Dia após dia. Palavra por palavra. Mudando conceitossem nenhum tipo de preparação ou aviso, nem por isso deixando de compreender o signifi-cado da palavra assim que é dita. É por isso que o teórico fica tão aborrecido com essasmudanças. Ele fica de fora e não é consultado. Aí só resta desfiar seu conhecimento ultra-passado, com cheiro azedo, tentando provar que tudo que escapa ao controle é blasfêmia.VIVA A LITERATURA MARGINAL! VIVA AS TRANSGRESSÕES LIGÜISTICAS! VIVA OVIVO!

Língua rica ou confusa?Por: Fabio da Silva Barbosa

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Fiquei nas nuvens. Ela não é só um rostinhobonito e tem uma força espiritual fora docomum. Com a escolha do Igor Cotrim prafazer o meu papel nas dramatizações a coisaficou mais consistente ainda. Mas seengana quem pensa que esse vai ser apenasmais um documentário sobre quadrinhoscomo o “Malditos”. É muito mais. Claroque os quadrinhos vão estar presentes otempo todo, mas será um filme para todomundo ver, não só os fanáticos porquadrinhos. Ouso dizer que esse filme mu-dará também o conceito de documentário.

E o segundo volume do Relatório Ota?A série dos Relatórios continua. Será umacoleção enorme. Estou colocando no liqui-dificador tudo que fiz na época da Mad eadaptando pros dias de hoje. Na verdade,não é um livro de quadrinhos, mas um gêne-ro novo, que pode ser classificado como“literatura desenhada”. Mas o ritmo daslivrarias é mais lento. Está demorandomais a acontecer do que eu queria.

O que está acontecendo no mundo das HQs?Está havendo uma transição. Os quadri-nhos deixam de ser um produto de massa eviram cult. Parei um pouco de acompanharporque é difícil separar o joio do trigo. Aomesmo tempo que tem coisas geniais, temmuita porcaria sendo lançada.

Loucura ou sanidade?Bom, normal eu não sou, né? Não sou exa-tamente louco, mas tendo a ser classificadoassim porque fujo dos padrões. Mas, é claroque não regulo bem da bola.

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Principal fato desses 40 anos de carreira?Acho que o que me tornou conhecido foio Relatório Ota, que comecei a publicarna segunda série da Mad, mas acho im-portante a fase das revistas de terror daVecchi. Durou só uns 4 anos, mas muitagente importante no cenário das HQs apareceu ali. Acho que fiquei na Madtempo demais. Deveria ter pulado foraquando a Record parou de publicar em2000. Mas acho que a parte mais impor-tante está começando. Só que os quadri-nhos estão ficando num plano menor.

Chegada da internet e novas tecnologias:Acho que fui, se não o primeiro, um dosprimeiros cartunistas brasileiros a terum site. Assim que começou a sepopularizar no Brasil, entrei e não saímais. Comecei a me movimentar nessesentido. Hoje, estou produzindo gamespara crianças. É uma linguagem que mefascina.

Muitas coisas estão acontecendo. Entreelas está seu relacionamento com o cine-ma. Depois do “Malditos Cartunistas”,um filme sobre sua trajetória está acaminho.Um amigo de longa data, o Franz Valla,falou que eu merecia virar tema de umdocumentário. Iria ser um curta, masquando ele falou do projeto pra TatianaIssa, ela disse que ela mesma, junto como Raphael Alvarez, iria dirigir o filme eque seria um longa. Foi a melhor notíciaque recebi em 2010. Não é qualquer umque vira tema de filme da Tatiana Issa.

Entrevistando o OTA

Por: Fabio da Silva BarbosaOtacílio Assunção, o fantástico Ota, foi super receptivo ao meu convite para estaentrevista. O resultado não poderia ser melhor. Curtam esse bate papo, aproveitandopara conhecer um pouco mais desta carismática figura.

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Santidade ou pecado? Nem um nem outro. Não sou santo, mas nãochego a ser pecador. Na verdade, tenho umcódigo de princípios muito forte.

Público ou privado?A privacidade é uma coisa que não existemais nos dias de hoje. Antes era só Deus quevia tudo, agora é o dono do Google.

Ota no momento da criação:As idéias vêm o tempo todo. Ando com umbloquinho no bolso e anoto tudo. Mas, nahora que preciso produzir para cumpriralgum prazo, vêm do mesmo jeito.

Para aquele garoto que está começando a fazerseus primeiros rabiscos e sonha em conseguirviver de seus futuros desenhos.No meu tempo, havia mais veículos impres-sos, então, um garoto de 17 anos podiachegar na redação de um jornal e no diaseguinte sua tira estar sendo publicada...Eu sei que tive muita sorte, mas antes era mais fácil.Hoje não tem essa sopa.Entretanto, há a possibilidade de publicarna internet. O problema é se sobressair namultidão. O conselho que dou é: Se o garoto,ou garota, quer mesmo seguir a carreira,deve perseguir seus objetivos e se agarraràs oportunidades que aparecem.

Liberdade(O quarto poema sobre gatos)

Por: Winter Bastos

Tinha tudoleite, peixeafago, afeto

Mas issonão o tinhasatisfeito

Visões/Tormentas

Por: Alexandre Mendes, Fabio da SilvaBarbosa e Murilo Pereira Dias

- Samangoia!!! Pula para lá. Gritava a en-tidade pulando de um pé só. A vida naselva, era tudo que lhe restava. Sua su-bsistência dependia dos arbustos, com-postos por cereais, plantados pelas doni-nhas do Leste. A vida não era mais a mes-ma. Grande amigo Jorge mauro que na an-gustia dos conflitos sub racionais dascontra razõs...estava lá no momento emque trovão não parecia mais agüentar...enquanto na cidade outros conformes tra-duziam questões nao expressivas...a pres-são dentre tantas outras quest~es...umahora dessas ....a onda ...pas-sando e asentidades querendo sempre mais.....sente´se na pele a angustia...nas palavrasdescoexas sente-se que as palavras nãoquerem sair se não se sob um efeito demo-mostrativo de enenfermidades espiritu-ais...se essas provem da floresta ...nnreal-mente não sbasa-bemos...e oo s erros real-mentes...ficxam cada vez mais visíveis....Nem dor Nem cor Nem por “Não crer Nãoter Não ser” Cooncreto puro e gasolinaGritos na madrugada. Todos ficaram aler-tas na cidade. Oswaldo trabalhava dia enoite, mas não adiantava. Sua casa serialeiloada pelo governo. Suas vestesestavam rotas. Seu carro tinha o motor deKombi trepado. O sapato de bebêenfeitava o retrovisor, pendurado por umfio de nylon.. Se perdeu...enfim, como semrecordação de um tempo inde as pessoasque precisam de concentração e estamosprestes a acreditar que as coisas poderãoestar para nosso favor...e certamente como tempo as coisa vão ao nossofavor...pórém se em conquenta anos vcnão ainda tiver conseguido atingir o quevc precisa ...isso não significa que está

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Por: Murilo Pereira Dias

sucumbida a missão de nada estar rprestando......na grande verdade...se toda essabanalidade é uma ciência...quem escreveu isso???a ciência assim com os seres queremser deus e quyerem que esse deus seja sua própria semelhança...uma simples fuga semrazão de suas angustias mais uma vez aqui materializada em linhas sem sentido..........masporra o que queremos chegar numa montagem onde numa sexta feira....uns camaradasdas antigas resovem beber algumas cervejas fumando alguns cigarros e refletindo sobrea merda da vida que que existe um sieema de merda que não ajuda nem mesmos os quequerem ajudar.......................foda-se esta se esgotando o tempo......e todos devempartir........acabou a onda,...acabou a inspiração............,.....e se esse texte render algumacoisa ....que a s pessoas que poosam ler...sqaibam que isso foi um fruto de uma onda...eserve de exemplo para futuros viciados....escritos malditos das madrugadas de sextafeira....... Eu quero é que se foda Vou gozar na cara Comer a bunda E quem não gostou quechame o Papa. Um dia perceberão que a expressão que iniciou e onde tudo voltará é onada. A existência pede uma explicação para isso e sempre pediu. A vergonha é a insistênciaem cultuar tradições maléficas para o comportamento social. Crenças em Deuses e diabos.O certo e o errado, o bem e o mal são postos em cheque. O homem perdendo o sentido davida. O nada fará com que ele reproduza uma cultura adversa. O sentido de evoluçãotradicional já está jogado por terra. Viva para porra nenhuma. Se drogue, beba álcool emtodos os teores . Viva a vida em diversas cores e seja feliz . A vida pode durar apenas maisuma hora...........................então para acabara essa historinha... tabm não temos maiscigarros...nem queremos mais beber cachaça...apesar da porra da entidade estar pedindomuita cana,,,,,,mas uma vez mais....como acimaescrito....eu quero é que sefoda....mas....não,,,,,me desculpe....isso não foi com vcs....espiritos...............medesculpem........vcs estão enendendo.....então eu vou parar vou parar por aqui.....................Façam sexo. Pêssego em caldas. Amém!!!!!!!!!!

títuloNão tem Título

Seres humanos complicados....depositam concreto na liberdade semeada

grades fechando a visão universal...diminuindo o alheio semelhante.

..se distanciando....ficando mesquinho....

absorvido em suas razãoes obsoletasfavorecido pelo medo do mundo dos outros

numa história de um unico personagemuma arma social

um ser letalnão aprendeu valores

não recebeu flores

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não teve amoresrumores de dores

horroresseres que querem governar

dominarretirar...extinguir...

é apenas o lado sombrio da vida...de onde não extrai-se beleza

mas trai a si próprio ao ceder acerteza

precisa do caos...do fim da paz...da destruição... exterminio

mas ao deitar não sente-se satisfeitoprecisa estar desfeito

para que bem feito possa desejara mesma dor que há no peitodaquele que não aprendeu

amar... arrogante...ultrajante...que julga no olhar...ser pensante

intolerantenão vai me mandar...

ouse tentar...pretendo por mim essaguerra começar

sabias armas em argumentospreciosos

comece atirar ... ter acertado nãosignifica matar

atire mais até esgotarnão tenho pressa desse lado

estarei vendo sua morte sentadoum reino afogado...

restam aqueles de fora da históriae aqueles que tentam reiniciar....

os que trazem na memoriaantes da vida começar....

Por: Fabio da Silva Barbosa- jhzbckcc acaba de chegar.- Bem vindo jhzbckcc. Como foi a pesquisaentre os habitantes da Terra?- Assustadora. Os seres denominados hu-manos dominam todas as criaturas vivas.Escravizam, roubam, matam e torturam... A-tacam até seus semelhantes se isso lhestrouxer lucro.- Lucro?- Existe um papel chamado dinheiro quedetermina as ações humanas. Para acumu-lar esse papel, destroem todo o planeta.- Impressionante.- Isso, porque ainda não falei das guerras.- Guerras?- É a ocasião onde armas terríveis entramem ação. Matar se torna permitido e nemmesmo suas crianças são poupadas.- São os que eles chamam de filhos?- Exato.- Talvez devêssemos esclarecer...- Estão entorpecidos. Não conseguem per-ceber ou compreender o que acontece asua volta. Entre os meios utilizados paranarcotizá-los está a televisão.- Li sobre isso. É uma caixa colorida quesubmete os terráqueos ao pior nível deinformação, deformando a realidade e tiran-do a potência transformadora humana. Epor que eles se submetem a tal aparelho?- A ganância humana é tanta, que o quetem mais dinheiro domina o que tem menospara poder ganhar mais dinheiro deste.- Isso não faz sentido.- Quanto mais nos aprofundarmos no rela-tório, mais sem sentido tudo fica. Aindanem falei sobre as faces da mentira, a omis-são, a divisão do mundo em países...- Conte tudo.- Primeiro temos de nos afastar ao máximodeste planeta. Temo que o comportamentohumano seja contagioso.- Para outra constelação! Velocidade da luz!

O RELATÓRIO

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Por: Fabio da Silva Barbosa

Para quem ainda não conhece: Quem és tu?Sou gaúcha de Pelotas, RS, jornalista porformação e taquígrafa de profissão. Morono Rio de Janeiro há 15 anos e atualmente,às vésperas dos 64 anos, já nem sei me defi-nir. O que fui, já não sou e é possível queainda esteja em mutação. Mas alguma coi-sa não muda; sou pisciana, gosto de leitu-ra, música, cinema e praia, não nessa or-dem. Não gosto de hipocrisia e de pipocano cinema. A literatura preencheu o vazioque ficou após a morte de minha filha, Ali-ce, embora eu já escrevesse antes disso.Meu filho, Gabriel, minha nora Gisela eminha neta, Cora, são os motivos para quenão tenha queixas da vida. Sofri o meu qui-nhão, mas aprendi a reconhecer os bonsmomentos que me couberam. Tenho muitosdefeitos, mas eles incomodam mais a mimdo que aos outros, pelo menos é o que acho.

.Projetos, livros e trabalhos:Tenho oito livros publicados, entre poesia,contos e crônicas e editei muitos livros pelaEditora da Palavra, que inventei em 2001.Já fui mais dinâmica na realização de pro-jetos. Talvez o panorama da palavra - even-to de poesia no teatro que durou quatroanos - tenha sido o de maior repercussão.Junto com ele, criei um jornal com o mesmonome, que existe ainda, em 70ª edição. Emantenho o blogwww.integradaemarginal.blogspot.comHoje em dia, a burocracia tomou conta daarte e me desestimula. Não me agrada tra-tar o filme, o livro, a peça como se fossempasta de dentes, ou seja, apenas um produ-to à venda. Na minha opinião, o autor estámuito submetido a questões mercadoló-gicas. E a iniciativa privada, como sempre,não quer perder nada. Cito, por exemplo,

o caso do Santander, que aproveita ainvasão no Complexo do Alemão para pe-dir aos clientes que doem brinquedos àscrianças da comunidade, coisa que elemesmo deveria fazer, se quer, de fato, con-quistar clientes. Da mesma forma, as insti-tuições ditas culturais exigem tanto do ar-tista que ele deixa de criar para se trans-formar num burocrata, às voltas com docu-mentos e notas fiscais.

Como seria sua vida sem a poesia?Não posso imaginar. A poesia me ajudoua suportar, entender e recriar a vida. E re-petindo Luiza Viana, poeta da minhaadmiração, eu diria que a poesia é a únicasaída para o nada.

No seu blog, a legalização das drogas ésempre um assunto abordado. Qual seria obenefício da legalização para a sociedadede uma forma geral?Sou contra qualquer invasão na vida pri-vada de qualquer indivíduo, desde que is-so não prejudique a outrem. Não é o casoda música alta, contra a qual não há ne-nhuma campanha, ou do lixo na rua - coi-sa para a qual ninguém dá a mínima.Houve um tempo em que as drogas nãoeram proibidas, e se o foram é porque havia(e ainda há) um interesse não revelado.Fora isso, a proibição das drogas é umpretexto sempre usado para perseguir osmais pobres, haja vista a “abordagem”da polícia junto a pobres ou ricos, favelasou condomínios. Além disso, todos estãocansados de saber que o álcool é a drogamais letal que existe, no entanto, aí estásem que ninguém seja incomodado, a nãoser quando dirige, mas aí já morreram al-guns. Se algumas pessoas podem usar dro-gas, então, todas podem usar e cada umadecida por si. As consequências disso

Poesia e resistência

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dizem respeito ao próprio usuário. Mas, osubtexto dessa política é: você é incapazde gerir suas escolhas. E tome controleestatal. Hoje, os bancos sabem onde vocêanda, as câmeras sabem o que você faz, eo Grande Irmão é cada vez mais real.

A cultura é outro tema muito abordado.Cultura seria o antídoto para a sociedade?Certamente a cultura seria um antídoto,mas já perdemos muito tempo. Deixamosque a cultura de massa nos invadisse. Dis-traídos, achamos que o entulho que a cul-tura norte-americana nos enviava era pro-gresso. Perdemos o hábito e a coragem decriticar, e esse era justamente o objetivo.A cultura de massa nos quer como consu-midores, e não como agentes da criação.Qualquer manifestação artística que surjaem qualquer lugar é imediatamentecooptada. O artista deixa de ser o porta-voz da sua comunidade, que reflete tam-bém os seus anseios e preocupações, e serende à pasteurização. Afinal, é como po-derá sobreviver. O que hoje se chama cul-tura é apenas entretenimento e às vezes a-té lavagem cerebral. Há alguma coisa no-va, no entanto, que é exatamente a culturaque emerge das periferias, que não obede-ce às regras da educação formal, e brilhacomo uma pedra sem lapidar, justamentepor ser verdadeira. Digamos que daí vema esperança.

Preconceito, intolerância e egoísmo. Algumdia o homem irá abandonar esta malditatrindade?Acredito que não. Faz parte da naturezahumana rir do que não reconhece, maltra-tar o mais fraco, troçar do diferente. Àsvezes, temos alguns avanços, como porexemplo: sabemos que a tese do brasileirocomo sendo um “homem cordial” é falsa.A cordialidade é uma máscara que usamospara não enfrentar alguma coisa que nosprovoca e incomoda. Não sabemos o queé, então rimos do que nos causa estranhe-za. Damos tapinha nas costas. Dizemos “ébrincadeirinha”. O mito do brasileiro sempreconceito já caiu. Hoje sabemos que so-mos preconceituosos em relação a tudo;hostilizamos aqueles que não reconhece-mos como um dos nossos. Odiamos oadversário que não é do nosso time, o gayque quer apenas viver em paz com seu par-ceiro, a mulher que não quer ter filhos, ojovem que quer apenas estudar... Isso tudosem falar nas pessoas que apresentam ca-racterísticas físicas diferentes da nossa.Achamos que as negros não avançamporque são menos inteligentes, que os ín-dios são preguiçosos e os velhos são inú-teis. Isso sem falar nas mulheres, todasumas piranhas na hora da briga. E quemerecem apanhar. Nada disso é novidade.Foram muitos anos para reconhecer quesomos preconceituosos, precisaríamos de

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tempo igual para entendermos o motivo.Defesa, medo, inveja? Mais mil serãonecessários para nos reconstruir e olharo outro não como um igual, mas comosemelhante, e que portanto merececonsideração igual a que julgamosmerecer. Fora isso, há o preconceito declasse. E atenção: às vezes nosconsideramos libertários porquecombatemos um tipo de preconcei-to, massem que percebamos, carregamos umasérie de outros.

Um desejo:Estar viva quando as drogas foremlegalizadas.

Um sonho:Comprar todos os prédios de que asigrejas evangélicas se apossaram etransformá-los outra vez em cinemas.

Uma idéia:A educação pela arte.

Despedida :Agradecendo a gentileza do entre-vistador pelo convite. Por algum motivoconsiderou que a minha voz merece serouvida. Espero que tenha razão. Quealguma palavra do que escrevi germinena cabeça e no sentimento de um leitor.Um que seja. E que desperte a necessi-dade de que seja íntegro, verdadeiro,seguidor do seu instinto, sem dar valorao que dizem, mas ao que ele mesmo sediz, profundamente. Eis o sonho.

Crème de la crème

Por: Fabio da Silva Barbosa

Estava tudo em um ritmo lento, quasepastoso. Tentava tirar o cigarro do maço, masacabei por desistir. Já havia passado horasnaquela batalha. Melhor! Assim ficava maistempo sem fumar. Fiquei estático por algumtempo. Não sei quanto. Completamentecatatônico. Ouvi um barulho na sala. Penseiem ver quem era, mas desisti. Não devia sernada importante. Percebi a televisão ligada.Estava passando alguma bobagem semimportância (Bobagens importantes nãofazem parte da programação. Algo que nãoseja bobagem então... Aí é pedir demais paraa mídia convencional. Será?). Procurei ocontrole remoto para mudar de canal. Nãoencontrei. Peguei alguma coisa que jazia aomeu lado e taquei na tela. Não usei força osuficiente. Pensei que veria tudo explodindoe sairia pela rua podendo me orgulhar de nãoter mais aquele aparelho boçal em casa. Olheipara o cinzeiro e reparei que tinha um cigarroqueimando sozinho. Pensei em pegar. Tenteimexer o braço, mas o esforço era grande demais para mim. Fiquei apenas observando afumaça azul subindo no ar.

Juvenal

Por: Fabio da Silva Barbosa

Perdeu o ônibus. Olhou para o relógio e viuque estava no atraso. A marmita caiu, vomi-tando todo o feijão passado.- Puta que o pariu! - Assim não podia ser.Meia hora depois, veio outro lotação. Espre-meu-se entre os demais.- Dá licença!?Engarrafamento, falta de ar.... Uma hora deviagem. Pensou em quanto tinha na carteira.“Melhor voltar a pé”. O caminho nem era tãolongo.- Com licença!?

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Desceu no ponto. Por pouco não perdia adescida. Dois minutos de caminhada entrepedestres furiosos.- Novamente atrasado, Juvenal!?- É que...- Eu sei, eu sei... Vai botar a culpa no ônibusde novo. Sai mais cedo de casa, ué!- Mas...- Vai! Assume logo seu posto que hoje nãotô para conversa fiada! Vai ser descontado!- Mas...- Anda, Juvenal! Não se aproveita de minhacompreensão!

Segunda no bar

Por Fabio da Silva Barbosa

Ari já vinha por conta. Dois passinhos paraa direita, dois passinhos para a esquerda.Passou por Dir171pastorassis na porta dobar.Dir171pastorassis: Fala, Ari. Vamos tomaruma gelada?Ari: Tô duro!Dir171pastorassis: Tá duro nada, rapá. Táaí, se mexendo. Como é que tá duro? Pedeuma lá. Pode pedir.Ari: Vai pagar? Euuuuu...Dir171pastorassis: Pega logo isso, rapaz.Tô falando para pegar é porque vou pagar...Ué.Ari: Me vê uma cerveja aí, meu camarada. –Pede, entrando no bar com os braçoslevantados.Cerveja aberta. Copos cheios. Os dois semantém em pé. Um de cada lado da mesa.Dir171pastorassis: Dia horrível é segunda.Detesto. É o pior dia da semana. Se fosseterça, à essa hora, isso aqui já tinha gente.Domingo é outro diazinho miserável. Nãotem ninguém na rua. A semana começa naterça. Aí sim.Ari se balança de um lado para o outrotentando dizer alguma coisa.Dir171pastorassis: A não ser que o cara

vá para o funk que está rolando lá em SãoGonçalo. Aí sim. Aí o cara sai de lá e jáemenda no forró. – Faz que está dançando.– Mas isso é programa para garoto. Nãotenho mais idade para isso. Né não?Ari dá um sorriso bêbado.Dir171pastorassis: Se eu tivesse 17 anosnão tava aqui a essa hora não. É ruim deestar heim. Né não?Ari alarga o sorriso.Dir171pastorassis: Agora sou um caratranqüilo. Amanhã tenho de acordar cedopara trabalhar. Se não ó... – Volta a fazer suadança solitária, como se estivesse com amais bela das damas. – Tenho nojo desegunda feira. – Fala segurando o copo efazendo cara de sério. Esvazia de uma vezsó e enche de novo.Ari: Eu gosto de beber segunda. –Consegue, enfim, dizer.Dir171pastorassis: Que isso, rapaz. –Revolta-se – Eu heim. Segunda não é bompara nada. Eu não gosto de segunda.Iiiiiiiiiiiiiiiii... – Olha o relógio. – Já está nahora. Vou embora que amanhã tenho deacordar cedo para trabalhar. – Vira o copo.– Aparece amanhã. Aí a gente troca umaidéia melhor.Ari tenta falar alguma coisa, masDir171pastorassis já ia alguns passos rá-pidos dali. Ficou sentado por algum tempotentando terminar o copo de cerveja. Viroua garrafa, mas Dir171pastorassis secou acoitada tão rápido que ele nem percebeu.Levantou com alguma dificuldade. Na me-tade do primeiro passo sentiu a mão emseus ombros.Dono do Bar: Falta essa cerveja

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.

Por: Fabio da Silva Barbosa

Página 1

Quadro único:Externa geral (panorâmica) de uma ruadecadente em um dia chuvoso. Prédiosaltos e decrépitos e calçadas repletas detravestis e prostitutas. Muito lixo espa-lhado. Mendigo sentado no canto compernas encolhidas e fumando cigarro. Al-guns poucos transeuntes (típicos vaga-bundos). Entre eles passa o narrador demãos nos bolsos e ar melancólico (nessaprimeira aparição ele estará caminhando decostas). Usando botas militares, bermudajeans rasgada (que um dia já teria sido cal-ça), camisa preta sem nada escrito (mais doque desgastada), óculos escuros, apesarda escuridão, e cabelos desgrenhados, va-ga como uma alma penada. Esse é nossoherói e narrador caminhando por seumundo. Seu nome? Lodo. Na rua existe ape-nas um carro (velho/acabado) parado, comuma prostituta (ou travesti?) dependuradana janela, conversando com o motorista.Narração:Ainda lembro do mundo antes da GrandeQuebra. Foi assim que os humanos chama-ram o fenômeno criado por eles mesmos. Ofenômeno que transformou o mundo nesse

grande balde de lixo em que vivemos.

Página 2

Primeiro quadrinho:Lodo de perfil. Plano médio. Parede pichadaao fundo (partes de palavras ilegíveis).Narração:A poluição atingiu níveis altíssimos. Temosum mínimo de claridade 4 horas por dia noverão e o Sol há muito não aparece. A chuvaé constante e tem um gosto horrível.

Segundo quadrinho:Lodo passa por um cara esfaqueado nacalçada. Lodo sendo visto de frente. An-dando com ar indiferente, nem olha para opresunto.Narração:Desemprego em massa, epidemias, saquesa lojas e supermercados... Loucura edesespero por onde quer que olhe.

Terceiro quadrinho:Lodo entra em um beco.Narração:As únicas grandes indústrias que nãoparam de enriquecer são as tabagistas, asfarmacêuticas e a do álcool. O resto vivefechando as portas, agravando a crise.

Quarto quadrinho:

Roteiro para revista em quadrinhosMesmo não conseguindo dar conta do excesso de atividades em que busco me envolver,sempre que me deparo com alguma novidade, não resisto e acabo acrescentando algo naminha lista. Há um tempo, andei pesquisando roteiros de quadrinhos e decidi brincar defazer um. As coisas foram se acumulando e deixei a idéia em uma pasta do meu PC. Certodia, estava selecionando algo para postar no blog (www.rebococaido.blogspot.com) e medeparei com o início deste roteiro. Pois bem, taquei lá. Hoje (27/03/2011), estava organizandoos escritos que iriam compor a versão impressa do blog (este zine) e novamente medeparei com esse roteiro e achei bem apropriado utilizá-lo, mesmo inacabado. Enquantonão arranjo uma brechinha entre os carrascos ponteiros do relógio para terminar, aí vai umaperitivo. (FSB)

LODO

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Lodo para diante de uma portaNarração:Mas existe o outro lado do muro.

Quinto quadrinho:Olha para os lados, se certificando queninguém o está seguindo.Narração:Onde uma minoria privilegiada vive gordae corada, apesar de submetida ao mesmocaos climático. Usam máscaras com filtrospurificadores de ar.

Sexto quadrinho:Bate na porta (onomatopéia (toc toc)).Narração:O dinheiro ergueu esse muro.

Sétimo quadrinho:Super close nos óculos escuros:Narração:E o Lodo vai derrubá-lo

Oitavo quadrinho:Janelinha retangular se abre na porta,deixando aparecer dois olhos femininosbelíssimos (o segundo olho ainda não estácompletamente exposto) (onomatopéia(zipt)). Close na janelinha com parte dosolhos.

Nono quadrinho:Close em LodoDiálogo:Lodo: - Abre essa porra, Clementina!

Décimo quadrinho:Os olhos pela janelinha já completamenteexpostos. Olhos mais femininos e atraentesjá vistos. De novo close na janelinha.Diálogo:Clementina: - O que você tem para pagar aentrada?

Décimo primeiro quadrinho:

Lodo tira uma lada de sardinha da cinturapor de baixo da camisa.Lodo: - Sardinha em lata. E tá na validade.

Décimo segundo quadrinho:Olhos tomam expressão de contrariedade.Diálogo:Clementina: - Sardinha em lata?

Décimo terceiro quadrinho:Lodo começa a se exaltar. A janelinha retan-gular se fecha. Plano aberto/geral para pegaro personagem e mostrar a janelinha fechan-do. Onomatopéia (zipt)Diálogo:Lodo: - Qual é Clementina? Deixa eu entrarlogo.

Décimo quarto quadrinho:Lodo diante da porta. Onomatopéias de-monstram que a porta está sendo aberta.

Décimo quinto quadrinho:A porta mal se abre e Lodo já entra pelafresta.

Décimo sexto quadrinho:

O quadrinho ainda não revela o ambienteinterior, mostrando apenas Lodo e Clemen-tina em local escuro. Plano geral. Lodo jogaa lata de sardinha para Clementina que jáestá de mão aberta para pegar. O rostoextremamente feminino de Clementinacontrasta com o corpo absurdamentemusculoso e as roupas sado masoquistas.A sunga de couro tem um daqueles pênisde borracha acoplado.Diálogo:Lodo: - Você sabe o quanto é difícil conse-guir uma dessas latas de sardinha?

Décimo sétimo quadrinho:Panorâmica interna. Quadro único (páginainteira). Lodo atravessa um grande salão.

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Um homem pendurado do teto recebechicotadas de uma garota franzinaencapuzada. A garota se encontra apenasde calcinha e espartilho. Poltronas e sofásse espalham pelo ambiente acomodandocasais conversando intimamente. Em umdos sofás uma garota faz sexo oral com umhomem. Em uma poltrona tem um homemcom uma garota no colo (não estão fazendosexo, apenas conversando). Tem um rapazsentado em uma cadeira com as calçasarriadas e uma moça sentando em seu pênis,de frente para ele e de costas para o leitor.Uma moça se encontra encostada com umdos pés na parede, bebendo alguma coisa.O salão está repleto de situações peculiaresque não chamam a atenção de Lodo. Ele jáestá acostumado a freqüentar o lugar. Nãoencontra nenhuma novidade.Narração:O antro de dona Mimi é o ponto de encontrode figuras bem interessantes.

Décimo oitavo quadrinho:Lodo entra por uma porta no final do salão,ao lado da cadeira do casal que faz sexosentado.Narração:E hoje venho com uma proposta especialpara eles.

Décimo nono quadrinho:Lodo escuta um som atrás de sua nuca.Onomatopéia (click)

DARCY RIBEIRO E O POVO BRASILEIROPor: Fabio da Silva Barbosa

O Povo Brasileiro é de 2000 e traz os 10 programas que visam elucidar a questão central:Quem é o povo brasileiro? O filme, baseado no livro homônimo de Darcy Ribeiro, nãopoderia decepcionar. Uma obra que deveria ser passada nas escolas, para que víssemosnovas gerações brotarem. Novas concepções e novas dimensões. Impossível assistir econtinuar o mesmo. Modifica o ser. A força do conhecimento é impressionante. Oconhecimento é uma das maiores (se não for a maior) forças transformadoras que existem.Explica e descreve situações ainda nebulosas para muitos. Uma verdadeira chave de abrircabeças. Um filme para expandir horizontes. Vale a pena fazer essa viagem.

BUKOVSKI

Por: Fabio da Silva Barbosa

Adquiri o livro Hollywood, do Bukovski,mas logo que vi, na capa, que se tratava daobra prima do cara, fiquei em dúvida se nãoera melhor escolher outro. Geralmente essesavisos não são um bom presságio. Agoraque li, posso garantir que estava certo. Essetrampo passa longe de ser a melhor coisaescrita pelo Velho Safado, mas têm boaspassagens. A seguir, transcrevo uma dasminhas preferidas:

“- Que tem em mente?- É sobre um bêbado. Fica dia e noitesentado num banco de bar.- Acha que alguém vai se interessar porum cara desses?- Escuta, Jon, se eu fosse me preocupar como que as pessoas se interessam, jamaisescreveria coisa alguma.”

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Por: Fabio da Silva Barbosa

Como nasceu o Aviso Final?Nasceu de uma conversa que tive com oLaércio Gonçalves no início de 1990, noensaio da banda Insulto Oculto, na qualele era guitarrista. Até então eu era cola-

O Aviso Final

Chegando aos 21 anos, o Aviso Final ainda ecoa pelos quatro cantos do planeta redondo.Renato Donisete trocou uma idéia a respeito e dividiu um pouco de seu tempo conosco.

A característica fundamental, que nuncapode ser perdida:VERDADE no que você faz!!!!

O que é o sucesso?

AVISO FINAL ZINE

CAIXA POSTAL 1035

BAIRRO BARCELONA

SÃO CAETANO DO SUL - SP

CEP 09560-970.

borador do fanzine paulis-tano Mundo Underground.Falei do meu desejo de es-crever sobre as bandas doABC paulista e ele deu omaior apoio para fazer meupróprio zine. Isto está indopara 21 anos, o zine aindaexiste e nossa amizade sóaumentou. Legal, né?

Do começo até hoje: O quemudou e o que ficou?Por incrível que pareça,ainda tenho o mesmoentusiasmo do início. Fico

ansioso na copiadora... Muita coisamudou, eu amadureci, acredito que o textoe a parte gráfica melhoraram. Sem contarque o cenário musical é outro.

Como você vê o resurgimento e a valo-rização dos zines?Fico muito feliz com toda esta movi-mentação. Muita coisa acontecendo (En-contro de zineiros, Anuário de fanzines,documentário, etc). Isto é positivo na me-dida que todo mundo pode colocar suasidéias em prática, divulgar seus textos etrabalhos artísticos. Enfim, ser autor deuma obra. Fazer fanzine é isto!

Circular suas idéias eatravés delas criaramizades.

E o fracasso?Impossibilidade de de-senvolver seus projetos,seja de que natureza for.

Consciência ou incons-ciência?Consciência e respon-sabilidade sempre!!!!

Improviso ou roteiro?Roteiro, mas de vez emquando é necessárioimprovisar. Quantas

vezes tive que adequar meus projetos de-vido a grana curta ou outros imprevistos.Olha que já lancei dezenas de edições,duas coletâneas em cd, etc. Nesta hora oimproviso é fundamental para não deixara peteca cair.

www.fotolog.com/aviso_final

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Por Evandro das Santos Pinheiro e Fabioda Silva Barbosa

Desde a chegada dos europeus aoBrasil, os povos originários vêm sendomassacrados e saqueados pelos invasores.Mesmo depois de tanto tempo, o capi-talismo ainda insiste em destruir o poucoque esse povo conseguiu conservar. Cons-tantemente ameaçados de perder suas ter-ras, sofrendo, inclusive, ameaças de morte(isso quando a morte não ocorre de fato),as comunidades indígenas vivem entre ainsegurança e a opressão. A invasão deontem e de hoje insiste em ir mais longe. Acultura destes povos é completamentedestruída pela cultura dominante (o cultoao lixo modista e a mentalidade individualis-ta). Quando os portugueses se apossaramdessas terras, trouxeram elementos devas-tadores para as crenças e costumes locais.Os jesuítas fizeram parte das engrenagensdessa máquina mortífera impondo suaverdade aos nativos. Verdade colocadacomo a única possível.

E os negros seqüestrados na África,trazidos como escravos até aqui? Foramobrigados a adorar deuses brancos e tive-ram seus direitos totalmente usurpados.Reis viraram escravos do dia para a noite ecrianças ficaram órfãs de pai e mãe. O Brasilrecebia 37% de escravos de todo conti-nente e em três séculos e meio de escra-vatura, nosso país recebeu aproximada-mente cinco milhões de negros, sem contarque 55% morriam nos porões dos naviosdurante o trajeto. Após a bravura de gran-des guerreiros e a pressão de outros países,o Brasil foi o ultimo a abolir a escravidão.Os negros estavam libertos, mas e daí? Semassistência do estado, emprego, acesso a

educação... foram jogados a própria sorte(que não era nada boa em uma sociedadeextremamente racista). Sua cultura foi nega-da, sendo impedidos os cultos de religiõesde matrizes africanas como o candomblé. Acapoeira foi proibida e a lei da vadiagementrou em vigor. Hoje a capoeira corre livree aparentemente a opressão acabou.

Aparentemente!O racismo dissimulado no Brasil

mostra constantemente suas garras. Isso éde tal forma imposto que negros acham quesão brancos, sendo 50% da população ne-gra e apenas 6% se assume como tal. Issose deve ao nosso ensino eurocêntrico epouco ser falado sobre o continente africa-no. Quando se fala deste continente é deforma preconceituosa, como se o conti-nente fosse um único pais e só é retratadode forma estereotipada como o continenteda fome, das guerras e da AIDS.

Voltando aos índios, que eram donosoriginais do país, como apresentado noinício do artigo, esses foram ficando cadavez mais encurralados em pequenas áreasinsuficientes para a sobrevivência das al-deias, sendo chacinados e oprimidos pelosgrandes proprietários de terra. Atualmente,são perseguidos como bandidos, quando,na verdade, estão lutando por seus direitos.Como condenar os métodos dessa luta senão existe a possibilidade de um diálogohonesto? Não deveríamos propor formasrealmente eficazes para conquistarem seusdireitos, ao invés de engordarmos os nú-meros carcerários?

Na época da chegada dos europeus,nossa população indígena passava de 10milhões e hoje está em torno de 400 milíndios. O relatório do CIMI (Conselho Indi-genista Missionário) mostra que a situação

“Todo mundo sabe, mas ninguém quer comentar”ou

“Dois assuntos que resultam em um”.

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está insustentável, principalmente no Ma-to Grosso do Sul. Dos 60 assassinatos deindígenas no país, 42 ocorreram no nesteEstado, cujas vítimas pertencem ao povoGuarani Kaiowá. O que nos chama tambéma atenção é que dos 34 suicídios regis-trados, todos ocorreram nessa população,sendo que 25 vítimas possuíam idadeentre 13 e 25 anos. Ainda segundo orelatório do CIMI, no estado do MatoGrosso do Sul, foram localizados 409 tra-balhadores nas usinas de cana de açúcarem condições degradantes ou análogas aotrabalho escravo. Desses 409, 150 eram in-dígenas dos povos Terenas, Kaiowá eGuarani.

Então é isso!Negros e índios continuam sofrendo asmazelas de um povo que vem sendo opri-mido há muito tempo. Isto está certo? Istoé justo? Vamos por a mão na consciência.A grande maioria não pode continuarapoiando os privilégios de uma minoriaconservadora que não quer perder a ma-mata. Temos de gritar por mudanças en-quanto é tempo. Descruzem os braços. Ahora é agora. Não adianta tapar o Sol coma peneira. Não há mais porque esperar.Talvez, “daqui a pouco” seja tarde de mais.

Na internet

- www.rebococaido.blogspot.com

- www.twitter.com/RebocoCaido- w w w . y o u t u b e . c o m / u s e r /fabiodasilvabarbosa- www.umanodeberro.blogspot.com-www.impressodascomunidades.blogspot.com- www.comunidadeeditoria.blogspot.com/- www.slideshare.net/ARITANA- www.slideshare.net/ComunidadEditoria

Sarau no Comitê Cultural PopularRevolucionário Poeta Deley de

Acari

Por: Fabio da Silva Barbosa

Foi com muita satisfação que pudeconhecer o Comitê Cultural PopularRevolucionário Poeta Deley de Acari duranteo Cachasarau Torresmo a Milanesa, nacomunidade de Acari (RJ). O eventoaconteceu dia 23/02/2011, reunindo poetase músicos em um evento sem igual. OColetivo Lutarmada (coletivo de hip hopcarioca) e a APAFUNK (Associação dosProfissionais e Amigos do Funk) marcarampresença e prestaram seu apoio ao evento.O poeta e ativista Deley de Acari tambémcompareceu e a galera que está produzindoum documentário sobre o cara capturoualgumas cenas do evento.

Cada pessoa que recitasse umapoesia tinha direito a uma dose de cachaçamineira. Entre os poemas recitados, houve aapresentação musical de nomes comoWesley DelirioBlack, que levantou a galeracom um rap consciente e contagiante. Real-mente é um projeto que merece ser conhecidopor todos que desejam aprender um poucomais sobre a cultura da periferia. Eventoscomo esse, expõe a verdadeira cultura popu-lar e confirma que a verdadeira política, aque-la que pode promover mudanças realmentesignificativas, ocorrem longe dos gabinetese dos ares condi-cionados. A verdadeira revo-lução está longe dos intelectualóides e dosque se limitam a academia. Está em espaçoscomo o Comitê Cultural Popular Revolucioná-rio Poeta Deley de Acari. E não precisa deninguém guiando. A rapaziada sabe muitobem como agir.

Toda força a essa galera e espero vol-tar sempre nesse maravilhoso espaço, que,além de oferecer eventos culturais, aindaoferece cursos e atividades à comunidade.

Comitê Cultural Popular Revolucionário Poeta Deley de Acari-Rua Pereira Silva,44,Acari/RJ

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