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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO Procedimento administrativo nº 1.26.000.000605/2009-85 Recomendação nº 014/2010/2º OTC/PRPE Recomenda à Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos-CPRH,, na pessoa do seu Diretor Presidente, Helio Gurgel Cavalcanti, que suspenda imediatamente todas as autorizações, licenças ambientais ou qualquer outro tipo de autorização ambiental para atividades turísticas por meio de navio transatlântico (cruzeiro) em Fernando de Noronha, repassando ao IBAMA, em atenção aos ditames da Resolução Conama nº 237/1997 (art. 4º, inciso I), todos os processos em que referidas autorizações/licenças foram solicitadas. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da República signatária, no exercício das atribuições que lhe são conferidas pelos artigos 127, caput, e 129, incisos II, III e IX da Constituição da República; artigo 5º, incisos I, II, alínea “d”, III, alíneas “a” e “d”, V, alínea “b”, e VI, e artigo 6º, incisos VII, alínea “b”, XIV, alínea “g”, XIX e XX, todos da Lei Complementar nº 75/1993; artigo 4º, inciso IV e artigo 23, ambos da Resolução 87/2006, do CSMPF, e demais dispositivos pertinentes à espécie, considerando: 1- que a Constituição da República de 1988 estabelece em seu art. 225 a necessidade de preservação para as gerações futuras do meio ambiente: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações; 2- que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano causado (artigo 225, § 3º, da Constituição da República); ________________________________________________________________________________________________________ PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO - Av. Agamenon Magalhães, 1800 – Espinheiro – Recife/PE - CEP.: 52.021-170 - Fone: (081)2125-7300 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCOProcedimento administrativo nº 1.26.000.000605/2009-85

Recomendação nº 014/2010/2º OTC/PRPE

Recomenda à Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos-CPRH,, na pessoa do seu Diretor Presidente, Helio Gurgel Cavalcanti, que suspenda imediatamente todas as autorizações, licenças ambientais ou qualquer outro tipo de autorização ambiental para atividades turísticas por meio de navio transatlântico (cruzeiro) em Fernando de Noronha, repassando ao IBAMA, em atenção aos ditames da Resolução Conama nº 237/1997 (art. 4º, inciso I), todos os processos em que referidas autorizações/licenças foram solicitadas.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da

República signatária, no exercício das atribuições que lhe são conferidas pelos artigos

127, caput, e 129, incisos II, III e IX da Constituição da República; artigo 5º, incisos I,

II, alínea “d”, III, alíneas “a” e “d”, V, alínea “b”, e VI, e artigo 6º, incisos VII, alínea

“b”, XIV, alínea “g”, XIX e XX, todos da Lei Complementar nº 75/1993; artigo 4º,

inciso IV e artigo 23, ambos da Resolução 87/2006, do CSMPF, e demais dispositivos

pertinentes à espécie, considerando:

1- que a Constituição da República de 1988 estabelece em seu art. 225 a necessidade de

preservação para as gerações futuras do meio ambiente: Art. 225. Todos têm direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações;

2- que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de

reparar o dano causado (artigo 225, § 3º, da Constituição da República);

________________________________________________________________________________________________________PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO - Av. Agamenon Magalhães, 1800 – Espinheiro – Recife/PE - CEP.:

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3- que são bens da União: as praias marítimas, o mar territorial, as ilhas oceânicas, os

terrenos de marinha e seus acrescidos e a unidade de conservação federal (CF/88, art.

20, IV, VI e VII);

4- os objetivos e diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza – SNUC, instituído pela Lei nº 9.985/2000;

5- o termos da Lei nº 11.516/2007, que atribuiu ao Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade – ICMBio a missão institucional de gerir, proteger,

monitorar e fiscalizar as unidades de conservação instituídas pela União;

6- que o arquipélago de Fernando de Noronha abriga duas unidades de conservação

federal: o Parque Nacional Marinho, o qual ocupa 70% do Arquipélago (área de

proteção integral), criado pelo Decreto nº 96.693/88; e a Área de Proteção Ambiental de

Fernando de Noronha – Rocas – São Pedro e São Paulo, criada em 1986 (unidade de

uso sustentável), criada pelo Decreto nº 92.755/86.;

7- as disposições da Lei nº 9.985/2000, que estabeleceram critérios e normas para a

criação, implantação e gestão dessas unidades de conservação e definiram, como órgão

executor, em relação às unidades de conservação federais, o Instituto Chico Mendes e o

IBAMA, em caráter supletivo (art. 6º, III, com a redação da pela Lei nº 11.516/2007 );

8- que o art. 11, da Lei nº 9.985/200 (Lei do SNUC), estabelece que o parque nacional

tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande

relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas

científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de

recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico;

9- o § 2º do art. 11 da Lei nº 9.985/200 (Lei do SNUC), que dispõe que a visitação

pública no parque nacional está sujeita às normas e restrições estabelecidas no

Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por

sua administração e àquelas previstas em regulamento;

10- a Resolução Conama nº 237/1997, que regulamenta o licenciamento ambiental

estabelecido na Política Nacional do Meio Ambiente, especialmente o seu art. 4º, inciso

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCOI, que estabelece a competência do IBAMA para licenciar empreendimentos e

atividades desenvolvidos I) no mar territorial, na plataforma continental, na zona

econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação federal; II)

localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

11- a Resolução Conama nº 13/1990, que estabelece: a) que cabe ao órgão responsável

por cada Unidade de Conservação, juntamente com o órgão licenciador, definir as

atividades que afetem a biota da unidade; e b) que nas áreas circundantes das Unidades

de Conservação (dez quilômetros) qualquer atividade que possa afetar a biota deverá ser

obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente e que tal licenciamento só

será concedido mediante autorização do responsável pela administração da Unidade

de Conservação;

12- o disposto no art. 19 da Resolução CONAMA nº 237/1997, in verbis:

“Art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada,

poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e

adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando

ocorrer:

I - violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas

legais.

II - omissão ou falsa descrição de informações relevantes que

subsidiaram a expedição da licença.

III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.”

13- o teor da Instrução Normativa do ICMBio nº 05, de 02/09/2009, que estabeleceu o

procedimento para análise dos pedidos e concessão de autorização para o

Licenciamento Ambiental de empreendimentos ou atividades que afetem as unidades de

conservação federais, suas zonas de amortecimento ou áreas circundantes;

14- que, de acordo com disposto no plano de manejo da APA/FN1, o licenciamento

ambiental será de competência do IBAMA, para obras ou atividades que: a) possam

causar impacto regional ou nacional; b) possam causar impacto no mar territorial,

na plataforma insular e na Zona Econômica Exclusiva – ZEE;

15- o disposto no artigo 67 da Lei nº 9.605/98, que tipifica como crime ambiental a

conduta do Administrador Público que concede licença, autorização ou permissão

1 Aprovado e instituído pela Portaria IBAMA nº 36, de 03 de junho de 2005 (Encarte 4, p. 33).________________________________________________________________________________________________________

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCOem desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja

realização depende de ato autorizativo do Poder Público;

16- o disposto no art. 11, inciso II, da Lei nº 8.429/1992, que considera ato de

improbidade administrativa a conduta do gestor público que atenta contra o

princípio da legalidade e que retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de

ofício;

17- o Procedimento Administrativo nº 1.26.000.000605/2009-85, instaurado na

Procuradoria da República em Pernambuco para apurar notícia de irregularidades no

licenciamento ambiental e na operação de navio transatlântico de turismo nas unidades

de conservação Federais de Fernando de Noronha, por meio da embarcação Ocean

Coutess, de responsabilidade da empresa Brazilian Cruises Representation Ltda., no

qual restou demonstrado o alto potencial de impacto ambiental e a complexidade de tal

atividade, conforme Relatório de Vistoria Técnica PARNAMAR/FN nº 01/2010;

18- o Procedimento Administrativo nº 1.26.000.000769/2010-46, instaurado na

procuradoria da República em Pernambuco para apurar notícia de infração ambiental

por parte da Brazilian Cruises Representation Ltda. em razão de deixar de atender às

condicionantes estabelecidas na licença ambiental para operação do navio Orient

Queem, no qual restou demonstrado que as Chefias do ICMBIO em Fernando de

Noronha, PARNAMAR/FN e APA/FN, oficiaram o a Superintendência do IBAMA/PE

solicitando a avocação da competência para o licenciamento de atividades de navios

transatlânticos de turismo no arquipélago de Fernando de Noronha;

19- que, também no bojo dos procedimentos administrativos mencionados, restou

demonstrada uma série de incompatibilidades e infrações ambientais cometidas pelo

empreendedor (AI nº 449176/D, Termo de embargo/Interdição nº 500311/C, AI nº

017627/A);

20- que a Procuradoria Federal Especializada junto ao IBAMA/ICMBIO/PE informou

que, no intuito de avocar a competência licenciadora do IBAMA para as atividades

turísticas de navios transatlânticos em Fernando de Noronha, procurou resolver

administrativamente a questão junto à CPRH, não tendo obtido êxito todavia;

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO21- que as Chefias do ICMBio em Fernando de Noronha, PARNAMAR e APA/FN

comunicaram que o processo de licenciamento da atividade turística por meio de navio

transatlântico continua em andamento no órgão estadual, não entendendo adequado o

pronunciamento das unidades de conservação em Fernando de Noronha enquanto não

houver definição sobre a competência para o processo de licenciamento;

RESOLVE:

expedir, RECOMENDAÇÃO à Companhia Pernambucana de

Recursos Hídricos-CPRH,, na pessoa do seu Diretor Presidente, Helio Gurgel

Cavalcanti, para que:

a) suspenda imediatamente todas as autorizações, licenças

ambientais ou qualquer outro tipo de autorização ambiental para atividades turísticas

por meio de navio transatlântico (cruzeiro) em Fernando de Noronha, repassando ao

IBAMA, em atenção aos ditames da Resolução Conama nº 237/1997 (art. 4º, inciso I),

todos os processos em que referidas autorizações/licenças foram solicitadas;

b) remeta ao ICMBio (PARNAMAR/FN) e ao IBAMA/Recife

informações sobre todas as licenças ambientais ou qualquer outro tipo de autorização

ambiental para atividades de navio transatlântico de turismo em Fernando de Noronha

em vigor.

Ante a urgência do caso, fixa-se o prazo de 10 (dez) dias para o

atendimento da presente recomendação. Requisita-se, desde logo, que, dentro desse

lapso temporal, seja enviado a este Órgão do Ministério Público Federal informações

sobre as providências tomadas, inclusive por fax e/ou meio digital.

O Ministério Público Federal adverte, ainda, que a presente

recomendação dá ciência e constitui em mora o destinatário quanto às providências

solicitadas, podendo a omissão na adoção das medidas recomendadas implicar o manejo

de todas as medidas administrativas e ações judiciais cabíveis, em sua máxima extensão,

contra os que se mantiverem inertes e que poderão, ainda, vir a ser responsabilizados

por eventuais danos materiais e/ou morais suportados pela Administração Pública.

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCOCiência à 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, ao ICMBio/

Fernando de Noronha e ao IBAMA/Recife, por meio do envio de cópia da presente

recomendação.

Recife/PE, 03 de setembro de 2010.

Mona Lisa Duarte Abdo Aziz IsmailProcuradora da República

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