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A recuperação de resíduos sólidos atualmente é talvez a maior preocupação da humanidade...Este livro apresenta um roteiro para viabilizar soluções no sentido de minorar a nossa precária situação, pois sem dúvida o livro é...uma verdadeira proposta de proteção ambiental!
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REINALDO ASSIS PELLIZZARO
.MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
RREECCUUPPEERRAAÇÇÃÃOO
DDEE
RREESSÍÍDDUUOOSS SSÓÓLLIIDDOOSS
( Uma proposta técnica de proteção ambiental )
-Edipel-
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
2
RECUPERAÇÃO
DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
3
1@. Edição - 2014
Reinaldo Assis Pellizzaro
PELLIZZARO, Maria Fernanda Dacáz
( Volume 1 - Parte Geral )
(Edição especial para BIBLIOTECA VIRTUAL –EDIPEL- ISSUU
Sugestões e pedidos para EDIPEL - Editora Pellizzaro - Rua 51, nr.100
Ed. JANAÍNA. FONE 047 3670782 Balneário Camboriú SC)
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
4
Índice_______________________
Capítulo I - Introdução e Justificativa................................. 05
Objeivos............................................................. 13
Capítulo II – Resíduos sólidos............................................... 16
Disposição final dos resíduos........................... 16
Reciclagem na construção civil ........................ 20
Capítulo III-Metodologia da pesquisa................................... 18
Capítulo IV- Reciclagem na arte............................................ 48
Capitulo V – Análise & Resultados....................................... 122
Demolição de Obras.......................................... 124
Bibliografia....................................................... 195
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
5
.
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A crescente degradação ambiental ocorrida em todo o
Planeta é, sem dúvida, um dos principais problemas que a
humanidade vem enfrentando desde o século passado.
Esta degradação está intimamente ligada ao intenso
processo de industrialização e urbanização das cidades, às
novas tecnologias e ao elevado crescimento populacional.
Relaciona-se diretamente com o atual modelo de produção
criado pelo homem, que na maioria das vezes utiliza
matérias-primas não-renováveis de origem natural para
gerar os bens de consumo, ocasionando uma intensa
devastação, mineração e exploração dos recursos
encontrados na natureza. Certamente, os recursos naturais
estão sendo esgotados e as transformações no meio
ambiente, gerados pela disponibilidade e acessibilidade
desses recursos, estão causando grandes impactos
ambientais, afetando sensivelmente a qualidade de vida das
espécies e, consequentemente, a sua sobrevivência.
Tendo em vista a precariedade do modelo de produção
alimentado por recursos naturais não-renováveis,
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
6
evidenciou-se uma grande quantidade de resíduos gerados
e dispostos inadequadamente, sendo que os produtos eram
projetados, construídos, utilizados e logo sucateados no
lixo, e os resíduos eram gerados para bens de consumo
duráveis (edifícios, pontes, estradas) ou não-duráveis, tais
como embalagens (CURWELL; COOPER, 1998;
GÜNTHER, 2000; JOHN, 1999; JOHN, 2000 apud ÂNGULO
et al., 2001a). Assim, ao final da vida útil, os bens de
consumo se convertem em resíduos, sendo que a massa de
resíduos gerados supera a quantidade de massa de bens de
consumo na economia em longo prazo (JOHN et al., 2003).
Diante desses problemas, houve necessidade de
implantar um sistema adequado para gerenciamento de
resíduos sólidos. Durante a ECO-92 e com a definição da
Agenda 21, destacou-se a necessidade de redução,
reutilização e reciclagem dos resíduos gerados,
transformando assim as cadeias industriais de ciclo linear
aberto (matérias-primasprodutoresíduos industriais e
pós-consumo) em cadeias de ciclo fechado, minimizando a
saída de resíduos e a entrada de matérias-primas não-
renováveis (JOHN et al., 2003).
Segundo Buttler (2003), a questão da extração e do
consumo de materiais naturais no mundo, atinge níveis
preocupantes. O consumo de matérias-primas no mundo
cresce com a mesma proporção do crescimento da
população e da economia. Para se ter uma idéia, cerca de
9,5 bilhões de toneladas de matérias-primas naturais foram
consumidas no planeta até o ano de 1995. Com este
crescimento acelerado, as jazidas estão se tornando cada
vez mais escassas, problema que se vê facilmente nas
grandes cidades, pelo difícil acesso de extração e pelas
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
7
maiores distâncias a percorrer dos insumos a serem
transportados.
Evidenciou-se, assim, uma preocupação com o
gerenciamento complexo e oneroso dos resíduos de
maneira geral, e outros problemas como a escassez das
áreas para deposição de resíduos, altos custos sociais, falta
de saneamento básico e contaminação ambiental, fazendo
vir à tona uma nova discussão da “não-sustentabilidade” do
modelo proposto pela sociedade até então.
Contudo, surge em 1987, a aplicação do conceito de
Desenvolvimento Sustentável no Relatório de Brundtland,
sendo definido, segundo a World Commission on
Environment and Development (1987 apud MOURA, 2000),
como uma forma de desenvolvimento econômico que
emprega e utiliza os recursos naturais não apenas em
benefício do presente, mas também se preocupando com as
gerações futuras. Moura (2000) caracteriza o conceito de
sustentabilidade, como sendo o melhor aproveitamento das
matérias-primas, o reaproveitamento de resíduos e a
disposição final dos resíduos impróprios para o uso, o que
passou a ser entendido como uma alternativa plausível à
degradação ambiental.
Assim, a busca por um modelo de desenvolvimento
sustentável e a implementação de um sistema de gestão
ambiental adequado para os resíduos sólidos, tem como
uma das soluções - a reciclagem de resíduos. Dentre as
vantagens potenciais da reciclagem, citadas por John (2000,
p.86) estão “a preservação de recursos naturais, a
economia de energia, a redução do volume de aterros, a
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
8
redução da poluição, a geração de empregos, a redução do
custo do controle ambiental pelas indústrias, o aumento da
durabilidade e, até mesmo, a economia de divisas”.
A cadeia produtiva da construção civil é um dos
setores que provoca um grande impacto ambiental devido
ao fato de ser um dos maiores consumidores de matérias-
primas naturais, como areia, rocha, madeira e minérios, de
acordo com Sjöström (1996 apud JOHN, 2000), extraindo
em torno de 14 a 50% dos recursos naturais do planeta.
Outro fator agravante no setor é o alto consumo de energia
e grande geração de poluição e resíduos, devido às
atividades de extração da matéria-prima, produção de
materiais, execução dos processos construtivos,
manutenção e demolição. Diante disso, a reciclagem nas
atividades da construção civil pode ser vista como uma
alternativa para o problema de geração de resíduos,
possibilitando a conservação de recursos naturais e
permitindo uma economia de energia. Para se ter uma idéia,
a substituição de parte do clínquer por cinzas volantes e
escórias, utilizadas como aglomerantes no cimento,
possibilitou uma redução de 28% no consumo de
combustível na indústria cimenteira (YAMAMOTO et al.,
1997 apud JOHN, 2000).
Certamente, a reciclagem de resíduos pela indústria da
construção civil vem se consolidando como uma prática
importante para a sustentabilidade do meio ambiente, seja
atenuando o impacto ambiental ou ainda reduzindo custos.
As pesquisas sobre reciclagem de resíduos
incorporados nos materiais de construção têm apresentado
crescimento significativo nos últimos anos. Os estudos estão
relacionados com a reutilização de materiais da própria
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
9
construção civil, os chamados entulhos, e também com o
reaproveitamento de resíduos provindo de indústrias
metalúrgicas, siderúrgicas, têxteis ou até mesmo de lodo de
Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs). Outros
resíduos de pós-consumo, provindos de diferentes origens e
natureza como: restos de embalagens plásticas, pedaços de
pneus e borrachas, serragem e pedaços de madeira, fibras
vegetais entre outros, também podem ter grande viabilidade
e potencial de serem empregados e reciclados como
materiais na construção civil.
Neste sentido, para Navarro (2001 apud PRADO,
2003, p.14), “a reciclagem pode ser entendida como a
inclusão de um resíduo num novo ciclo produtivo atribuindo-
lhe valor”. Boa parte dos resíduos gerados pela própria
indústria da construção civil ou de outras fontes, poderão
ser reaproveitados ou transformados em um novo produto
alternativo, dando a oportunidade de transformação de uma
fonte de despesa em uma fonte de renda. É importante
salientar que a transformação de um resíduo em um novo
produto deve-lhes conferir a garantia na qualidade na busca
de um mercado mais competitivo, efetivo e diversificado,
além de ambientalmente seguro, com bons desempenhos,
sendo no entanto, uma tarefa complexa (JOHN, 2000).
De modo geral, a reciclagem dos resíduos é uma das
maneiras de lidar com os problemas ambientais e
econômicos gerados por estes, devido os altos custos para
remoção e disposição final, pela escassez de áreas para
deposição e pelo aumento de distância a percorrer. É vista
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
10
como uma tentativa de minimizar impactos ambientais,
aumentando assim a vida útil de aterros.
Pode-se dizer que a reciclagem leva à dispersão de
materiais, ao contrário da simples deposição, que causa sua
concentração. Para John (1997 apud LIMA, 1999) o uso de
resíduo em novos serviços de construção procede-se como
se estivesse “pulverizando” os aterros, desde que se haja
segurança quanto à qualidade do agregado reciclado e das
suas aplicações, evitando riscos ao meio ambiente e à
segurança dos usuários.
Outra questão, é que o incentivo à reciclagem deve ser
uma parte importante em qualquer política ambiental,
aproveitando os resíduos de diversas indústrias como
matéria-prima para outras, salientado os perigos ou risco
inerente à própria reciclagem, pois muitos dos resíduos são
considerados perigosos por apresentar elevados teores de
impurezas e composições químicas variadas, provenientes,
muitas vezes, dos diversos processos produtivos e das
características da matéria-prima utilizada (CARNEIRO et al.,
2001; PRADO, 2003).
Embora haja grande perspectiva para o
desenvolvimento e viabilidade de reciclagem de resíduos
sólidos, a discussão mais sistemática sobre reciclagem de
resíduos sólidos é ainda recente no Brasil. Já em países
como da Europa, como por exemplo, França, Alemanha,
Holanda, Dinamarca, Bélgica, e outros, como o Japão e
Estados Unidos, apresentam políticas ambientais mais
avançadas, principalmente na reciclagem de resíduos de
construção e demolição.
A criação de uma política ambiental mais efetiva
quanto a reciclabilidade de resíduos, torna-se tanto
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
11
necessária quanto urgente, tendo em vista que o modelo
atual gerenciamento dos resíduos pelas administrações
públicas, sendo seus únicos destinos os aterros, lixões e
deposições clandestinas, já vem mostrando sinais de
insustentabilidade. A questão da reciclagem dos resíduos
sólidos é sem dúvida uma questão de sobrevivência para os
municípios, por serem empregados altos recursos
financeiros com a remediação de áreas degradadas e
desperdícios devido ao uso do solo para deposição de
resíduos.
A busca frenética pelo Desenvolvimento e Construção
Sustentável, com a prevenção e redução dos resíduos pela
viabilização e desenvolvimento de tecnologias mais limpas
no uso de materiais recicláveis ou reaproveitáveis, tem
motivado muitos países a pesquisar e adotar uma gestão
diferenciada para os resíduos sólidos, sendo a reciclagem
potencialmente viável.
Diante deste contexto, as pesquisas e tecnologias para
a reutilização ou reciclagem dos resíduos industriais nas
atividades da construção civil, visam contribuir com
algumas soluções aos problemas ambientais relacionados
com a grande quantidade de resíduos sólidos gerados e
depositados diariamente, bem como à limpeza urbana, ora
já justificado pela importância da conservação dos recursos
naturais e geração de energia, além de garantir melhorias à
saúde pública.
O presente trabalho aborda o estado da arte da
reciclagem de resíduos sólidos industriais na construção
civil em diversos países assim como apresenta a situação
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
12
atual na região metropolitana da cidade de Blumenau/SC,
de um ponto de vista ambiental, visando preparar um
documento informativo norteador àqueles que buscam a
reciclagem dos resíduos sólidos industriais.
Numa primeira parte, faz-se avaliação do Estado da
Arte sobre a reciclagem de resíduos sólidos industriais, sob
o ponto de vista ambiental, em uma escala mundial. É de
nosso interesse, poder detectar a natureza dos resíduos
utilizados, os tipos de ensaios realizados para caracterizar
estes resíduos, as aplicações que foram feitas com estes
resíduos e, finalmente, que tipos de ensaios foram
realizados no produto final, elaborado com o resíduo, a fim
de garantir a proteção ao meio ambiente. Estes aspectos
serão analisados com a reciclagem do resíduo sólido
industrial na construção civil.
Num segundo momento, serão estudados os resíduos
sólidos industriais da região metropolitana de Blumenau
S/C, com o objetivo de verificar os tipos de resíduos
gerados, a existência da reutilização do resíduo ou não, o
interesse da indústria em buscar um processo de valoração
destes resíduos.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
O presente trabalho aborda o estado da arte da
reciclagem de resíduos sólidos industriais na construção
civil em diversos países assim como apresenta a situação
atual na região metropolitana da cidade de Blumenau/SC,
de um ponto de vista ambiental, visando preparar um
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
13
documento informativo norteador àqueles que buscam a
reciclagem dos resíduos sólidos industriais.
1.2.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos serão apresentados segundo
as duas diferentes etapas:
1.2.2.1 Estado da arte
descrever a evolução histórica da reciclagem dos
resíduos;
identificar os diversos tipos de resíduos sólidos
industriais que estão sendo reciclados na indústria da
construção civil;
descrever a geração e composição de resíduos
disponíveis;
repertoriar os tipos de ensaios químicos e físicos
realizados para caracterizar os resíduos;
verificar as formas de aproveitamento dos
reciclados como materiais de construção ou seja, a sua
aplicação;
identificar os tipos de ensaios realizados no
produto final obtido e as propriedades do mesmo;
1.2.2.2 Situação atual da reciclagem dos resíduos
sólidos industriais da região metropolitana de Blumenau S/C
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
14
realizar uma amostragem das indústrias segundo
o seu gênero e porte;
definir um modelo de questionário;
definir a maneira segunda a qual o questionário
será aplicado;
tratar os dados.
1.3 ESTRUTURA DO DESENVOLVIMENTO DA
PESQUISA
A descrição do desenvolvimento e os resultados desta
pesquisa estão estruturados em seis capítulos, assim
dispostos:
- Capítulo I – O primeiro capítulo apresenta uma breve
introdução sobre o assunto desta dissertação, com
abordagem de questões relativas à importância e
justificativa da reciclagem de resíduos sólidos industriais
como materiais para a construção civil, enfocando os
aspectos ambientais e legais. Ainda neste capítulo são
apresentados os objetivos da pesquisa.
- Capítulo II – O segundo capítulo apresenta uma
revisão bibliográfica do estado da arte da reciclagem dos
resíduos sólidos, abordando os principais tipos de resíduos
sólidos industriais que são utilizados na indústria da
construção civil, tais como: os Resíduos de Construção e
Demolição – RCD, as Cinzas Volantes (Fly ash) e
Sedimentáveis (Bottom ash), os Resíduos de Pneus e
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
15
Borrachas, os Resíduos Metalúrgicos, os Resíduos de
Estação de Tratamento de Efluentes, os Resíduos de Areia
de Fundição e os Resíduos de Materiais Plásticos. Com a
avaliação destes resíduos, são abordados também os
históricos, as possíveis origens dos resíduos, .....
- Capítulo III – São apresentados a metodologia
aplicada a fim de avaliar o estado da arte da reciclagem dos
resíduos sólidos industriais na indústria da construção civil,
bem como detectar o panorama atual da reciclagem dos
resíduos sólidos industriais na região do Vale do Itajaí...
- Capítulo IV – O quarto capítulo discute os resultados
da pesquisa, repertoriando os principais ensaios e
propriedades de cada resíduo enfocado, buscando em
revisão bibliográfica, alguns resultados das pesquisas para
cada etapa do trabalho. Também são apresentados
resultados quanto à aplicação dada em cada tipo de
resíduo...
- Capítulo V – Neste capítulo são feitas às
considerações finais sobre o trabalho....
- Capítulo VI – O último capítulo apresenta as
referências bibliográficas consultadas ao longo do trabalho.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
16
Este capítulo tem por objetivo dar um enfoque aos
principais aspectos sobre a reciclagem dos resíduos sólidos,
considerando a viabilidade técnica e econômica da
reciclagem na construção civil, as políticas de incentivo à
reciclagem, a disposição de resíduos....
2.1- PROBLEMAS DA DISPOSIÇÂO FINAL DOS
RESÌDUOS
Os resíduos sólidos industriais são geralmente
depositados em aterros sanitários ou industriais, outros são
incinerados, e ainda, muitos lançados a céu aberto, vales,
margens de rios ou em locais irregulares.
Soma-se a isto, os problemas gerados à própria
população e ao meio ambiente, pelo surgimento de
zoonoses, contaminação das águas superficiais, do lençol
freático, além da poluição visual (BUTTLER, 2003).
CAPÍTULO II
RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS:
DESTINAÇÃO, RECICLAGEM E A INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
17
No entanto, a preocupação dos governos e
legisladores ainda está voltada à deposição de resíduos de
maneira controlada, como por exemplo, os aterros sanitários
e industriais, os quais são fiscalizados por órgãos
ambientais. Os aterros sanitários são definidos como:
[...] forma de disposição final de resíduos sólidos
urbanos no solo, mediante confinamento em camadas
cobertas com material inerte, geralmente solo, segundo
normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança, minimizando impactos
ambientais (D’ALMEIDA & VILHENA, 2000, p.252).
Para D’Almeida & Vilhena (2000), a execução,
operação e manutenção dos aterros devem ser
rigorosamente mantidos, com o atendimento às
especificações técnicas. Poderão ocorrer, entretanto,
situações de emergências ocasionando impactos
ambientais, tais como: a ineficiência da drenagem do
percolado ou da impermeabilização de base ocasionando
infiltrações no lençol freático, a erosão nas camadas de
cobertura de solo, ou ainda a ocorrência de trincas e
deformações na camada de cobertura final.
Outro problema característico é a capacidade física
dos aterros sanitários, que vem sendo limitada pelo grande
volume de resíduos gerados que são descartados e
dispostos diariamente nestes locais. Além disso, considera-
se o aterro uma forma de desperdício de recursos.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
18
Pera (1997 apud LIMA, 1999, p.24), cita como motivos
para a diminuição do aterramento de resíduos: “o aumento
dos custos de aterramento, pressões pela preservação
ambiental (inclusive pressão comercial), crescimento do
volume de resíduos e possibilidade de lixiviação de
elementos danosos ao meio ambiente”.
Coelho et al. (1998) ressalta que com a intensa
geração de resíduos provenientes dos entulhos do setor da
construção civil, nas grandes cidades, as áreas para
disposição desses resíduos estão cada vez mais escassas e
com alto custo imobiliário na implantação de aterros. Na
região metropolitana São Paulo, os valores para
normalização de aterros sanitários e o monitoramento para
controlar o risco de acidentes, tem elevado o preço desses
serviços a valores muitas vezes insuportáveis, podendo
ultrapassar a US$100/tonelada (Carneiro et al.,2001).
Diante de fatos como este, a exemplo de cidades como
São Paulo, deve-se analisar e discutir perspectivas de
reciclagem de resíduos devido ao alto valor imobiliário das
áreas para implantação de aterros e o limite de sua
capacidade física. Outro fator relevante, é a grande
dificuldade para a extração de matérias primas, devido a
uma ocupação desenfreada da população urbana próxima
às áreas extrativistas, impossibilitando muitas vezes a
extração dos recursos naturais, implicando em um aumento
dos custos para importação desses materiais (COELHO et
al., 1998).
Na tentativa de amenizar estes problemas, pode-se
dizer que a reciclagem contribui significativamente para a
redução dos resíduos gerados, minimizando as despesas de
deposição e os volumes a serem depositados. Zordan
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
19
(1997) observa que a reciclagem vem influenciando
significativamente a vida útil dos aterros nos EUA, devido a
um pacote de 20 leis, criadas em 1989, sobre o
gerenciamento de resíduos, denominado “Plano Integrado
de Gerenciamento de Resíduos”. Com isso, a reciclagem de
resíduos neste país vem maximizando a capacidade física
dos aterros, passando de 35 anos para mais 50 ou 55 anos
de utilização.
Carneiro et al. (2001 apud PRADO 2003), destaca
ainda a reciclagem vista como oportunidade de
transformação da fonte de despesa (com o gerenciamento e
deposição dos resíduos) em fonte de faturamento
(comercializando os resíduos a preços baixos ou
implementando novos negócios na produção de materiais
com resíduos incorporados).
Além de ser uma opção em relação às demais formas
(como a deposição em aterros ou incineração) e apresentar
vantagens potenciais do ponto de vista da sustentabilidade,
o processo de reciclagem envolve certamente aspectos
legais, onde em um ciclo produtivo, os resíduos gerados são
de responsabilidade do fabricante até sua destinação final.
No Brasil, esta responsabilidade calca-se na Lei 6.938/98,
Art. 14, IV, §1º:
Art.14, IV, §1º - Sem obter a aplicação das penalidades
previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independente
da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade [...].
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
20
Com isso vale ressaltar que o gerador de resíduo se
responsabiliza pelos seus resíduos até a entrega dos
mesmos ao destinatário final, seja este um aterro
sanitário/industrial ou uma usina de reciclagem. Portanto
deve certificar se o destinatário possui a devida licença
ambiental de operação deferida pelo órgão competente de
sua localidade, precavendo-se assim de riscos futuros
(PRADO, 2003). Compete ainda ao gerador, a
responsabilidade por seus resíduos mesmo se estes
estiverem contaminados, proibindo de qualquer modo o
destino de resíduos tóxicos à reciclagem, devendo então,
serem depositados em aterros sanitários.
Através da reciclagem pode-se obter um material
adequado à utilização em diversos serviços de construção,
com economia de recursos financeiros, ficando muitas
vezes, mais barato reciclar os resíduos do que gerenciar
seu aterramento e sua remoção de locais irregulares
(LIMA,1999).
2.2 A RECICLAGEM E A SUSTENTABILIDADE DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
A reciclagem de resíduos sólidos utilizados como
materiais de construção civil pode ser vista como chave
importante na busca por um modelo de desenvolvimento
sustentável para a sociedade até então.
O conceito de desenvolvimento sustentável aplicado à
construção civil, permite avaliar uma série de metas
ambientais que visam potencializar a reciclagem de
resíduos sólidos para este setor (JOHN, 2000). As principais
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
21
contribuições ambientais caracterizadas pelo autor são
comentadas a seguir.
A primeira e mais importante contribuição ambiental da
reciclagem é a preservação dos recursos naturais, pois a
substituição da matéria prima natural por resíduos, minimiza
a destruição da fauna e flora e prolonga a vida útil das
reservas naturais, mesmo que estas sejam abundantes,
como é o caso das reservas de argila ou de calcário. Além
disso, reciclar também contribui na redução dos impactos
causados a paisagem por uma atividade extrativista como
mineração ou até mesmo por um aterro.
Outra vantagem da reciclagem de resíduos é a
redução do volume de aterros (EPA, 1998; JOHN, 2000).
Geralmente, os aterros que concentram grandes
quantidades de resíduos perigosos ou não inertes, com
altas concentrações de substâncias químicas, podem
apresentar riscos à saúde do homem e do meio ambiente
pela contaminação do lençol freático. Além de ser uma
opção em relação às demais, a queima ou calcinação de
resíduos perigosos em fornos da indústria cimenteira,
denominada de co-processamento, vem contribuir para a
reciclagem pela redução de deposição de resíduos
perigosos e a geração de energia.
Muitas vezes, a reciclagem permite a produção de um
determinado bem com redução no consumo energético.
Este é o caso da reciclagem de alguns resíduos como as
escórias de alto forno e as cinzas volantes como
aglomerante na produção do cimento, e de resíduos como o
alumínio e o aço que atuam como fonte de energia para a
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
22
indústria cimenteira. Outro fator atrelado a isso é à distância
com transporte e gestão para a deposição de um resíduo em
um aterro que também desprende grande consumo de
energia.
É importante salientar que a reciclagem contribui para
uma redução na poluição do ar. Segundo YAMAMOTO et
al. (1997 apud JOHN, 1999) utilizar resíduos como adição
ao cimento, como por exemplo cinzas volantes e escórias de
alto forno básicas, pode ocorrer ganhos pela redução da
emissão de dióxido de carbono (CO2) e de compostos de
enxofre (SOx) produzidos pela combustão. Exemplo disso é
a substituição de 60 % do clínquer por escória de alto forno
que permite gerar uma diminuição de dióxido de carbono de
aproximadamente 494 kg por tonelada de cimento fabricado
(YAMAMOTO et al., 1997 apud JOHN, 2000).
Além destes fatores, a reciclagem de resíduos na
construção civil também pode ser vista como um meio para
a redução dos custos de proteção ambiental ou até mesmo
viabilizar um grau de proteção ambiental superior,
permitindo dar valoração a um resíduo que antes se
constituía em despesa e sem finalidade de uso (VRIJLING,
1999 apud JOHN, 2000).
2.3 A RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA
CONSTRUÇÃO CIVIL
Entre os principais problemas enfrentados no país e na
maioria dos grandes centros urbanos do mundo, destaca-se
a intensa geração de resíduos acumulados diariamente.
Tais resíduos, provindos de diferentes áreas, como os de
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
23
hospitais, indústrias em geral, residenciais, da construção
civil e outros, afetam sensivelmente a qualidade de vida das
pessoas (FUKUROZAKI & SEO, MEIRA & ARAÚJO; 2004).
Notadamente, uma das atividades que tem contribuído
significativamente com mudanças e alterações ao meio
ambiente é a construção civil. Certamente, a atividade
construtiva sempre se caracterizou como uma grande fonte
geradora de resíduos sólidos, em virtude do processo de
urbanização ou renovação das cidades (PINTO, 1999;
OLIVEIRA & ASSIS, 2000; CARNEIRO et al., 2001;
ÂNGULO & JOHN, 2002; MEIRA & ARAÚJO, 2004). Além
disso, esta atividade é a maior consumidora de recursos
naturais existentes de qualquer economia, sendo que o
setor construtivo produz os bens com maiores dimensões
físicas do nosso planeta ÂNGULO & JOHN (2002) e JOHN
(2000).
Em contrapartida, a cadeia produtiva da construção
civil aparece como um campo com potencial de absorver
seus próprios resíduos, bem como um enorme potencial em
reciclar e reaproveitar em seus materiais, resíduos
provenientes de outras indústrias. Entretanto, faz-se
necessário realizar uma análise específica antes de se
afirmar sobre a viabilidade ambiental de um processo de
reciclagem (JOHN, 1999). Isto porque, produzir novos
materiais para a construção civil a partir de resíduos, pode
ocasionar sérios danos por contaminação ao meio ambiente,
devido há possibilidade de ocorrer reações químicas que
venham a degradar, por exemplo, o concreto, acarretando a
liberação de elementos químicos perigosos pelos processos
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
24
de lixiviação ou solubilização, quando estes materiais
estiverem em contato com a água (PRADO, 2003).
A questão da reciclagem de resíduos sólidos no Brasil
ainda é tímida, quando comparados a países de primeiro
mundo, exceto a reciclagem praticada pelas indústrias de
cimento e de aço (ÂNGULO & JOHN, 2001a). A reciclagem
de resíduos ainda é tratada com uma visão simplista, como
sendo um problema de preservação da natureza (fauna e
flora), de deposição de resíduos em aterros sanitários e de
controle da poluição do ar. Na opinião dos autores, este
atraso tem como fatores preponderantes os repetitivos
problemas econômicos e sociais que priorizam as
discussões políticas, impedindo o avanço da implantação de
programas de reciclagem de resíduos, como meio de
incentivo à qualidade ambiental.
No entanto, ainda a maior experiência na área de
reciclagem de produtos gerados por outras indústrias na
produção de materiais de construção civil é conduzida pela
indústria cimenteira, reciclando principalmente cinzas
volantes e escórias de alto forno granuladas, reduzindo
assim a geração de CO2 e uma economia de combustível
(YAMAMOTO et al., 1997 apud ANGULO et al., 2001a).
Adicionalmente, segundo Marciano & Khiara (1997
apud ÂNGULO et al., 2001a) estima-se que a indústria
cimenteira economizou entre 1976 e 1995 cerca de 750 mil
toneladas de óleo combustível queimando resíduos como
casca de arroz, serragem e pedaços de madeira, pó de
carvão vegetal, pedaços de pneus e borrachas, escórias de
alto forno, entre outros, contribuindo para a diminuição no
volume de resíduos em aterros e a energia gerada com
transporte e gestão.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
25
Dados apontam que esta indústria recicla mais de 5
milhões de toneladas por ano destes resíduos, sendo que o
setor siderúrgico também recicla pelos menos 6 milhões de
sucata anualmente (JOHN, 2000). Estima-se que a
reciclagem de sucata de aço na siderurgia, permitiu
economizar em 1997, aproximadamente 6 milhões de
toneladas de minério de ferro, evitou gerar cerca de 2,3
milhões de toneladas de resíduos e, emitir cerca de 11
milhões de toneladas de CO2 à atmosfera (MARCIANO &
KHIARA, 1997 apud JOHN, 2000). Porém, diante do grande
potencial de reciclar legalmente estes resíduos, a indústria
cimenteira tem elevado os custos pelo recebimento e
prestação de serviço (PRADO, 2003).
Fatos como este, vem despertando o interesse por
novas pesquisas, na busca de outras aplicações para a
valorização e minimização dos resíduos industriais, que
permitirão conhecer melhor as características de certos
resíduos e as metodologias empregadas para o
desenvolvimento de produtos alternativos.
Neste caso, viabilizar economicamente a reciclagem
de um determinado resíduo, deve-se considerar que os
custos do processo (transporte e estocagem dos resíduos),
sejam no mínimo iguais ou inferiores aos custos associados
os seus descartes (MOURA, 2000). Além disso, deve-se
conhecer muito bem o comportamento físico, químico e
tecnológico, tanto do resíduo quanto do produto final obtido.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
26
2.4 ASPECTOS SOBRE A VIABILIDADE DA
RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Assim como em qualquer tipo de indústria, a inserção
de um novo material ou serviço, requer conhecer suas
características técnicas, econômicas, além dos aspectos
políticos e práticos relacionados a este produto (LEITE,
2001). De modo geral, estes parâmetros também são
direcionados à reciclagem de resíduos, pois a reintegração
de um resíduo a um novo ciclo produtivo, bem como a
valoração deste, requer um bom conhecimento de todos
estes aspectos.
No entanto, para avaliar a viabilidade econômica da
reciclagem de resíduos alguns fatores são levados em
consideração, tais como: a proximidade de instalação de
processamento dos resíduos, o custo com transporte, o
volume de resíduos gerados disponíveis, o custo de
estocagem, entre outros (MOURA, 2000). Segundo Carneiro
et al. (2001) e John (2000), a viabilidade financeira de
utilização de um resíduo aplicado à construção civil, está
intimamente relacionada aos custos do processo da
reciclagem (custos de pré-tratamento, transporte,
licenciamento ambiental, etc), de valoração de mercado,
quando o resíduo é comercializado, e aos custos da
disposição dos resíduos em aterros. Tais parâmetros devem
ser analisados, verificando os maiores ou menores custos
totais com relação à gestão dos resíduos, sendo, muitas
vezes, fator determinante ao interesse à reciclagem.
Além disso, Ângulo et al. (2001a) ressalta que para
viabilizar tecnicamente o processo de reciclagem para o
desenvolvimento de um novo material ou produto a partir de
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
27
um resíduo, como uma alternativa de mercado
ambientalmente segura, são necessárias articular
informações e uma metodologia de pesquisa contendo
alguns tópicos, que são: 1) levantamento de dados
quantitativos, como quantidade de resíduo gerado no país,
volume existente em estoque, eventual sazonalidade na
geração dos resíduos e locais de maior produção; 2)
caracterização química e física dos resíduos e das suas
propriedades através de métodos e ensaios apropriados
para posterior seleção das possíveis aplicações dos
resíduos; 3) avaliação dos usos potenciais dos resíduos, a
partir das características estabelecidas no item anterior, com
base em análises e conhecimentos técnicos, científicos e de
mercado; 4) identificação das propriedades físicas e
mecânicas do produto final e avaliação do produto
desenvolvido em relação a seu desempenho e sua
durabilidade; 5) análise do desempenho ambiental,
avaliando o risco eminente à qualidade do meio ambiente,
pela lixiviação de elementos perigosos provenientes de
resíduos reciclados.
A OECD – Organization for Economic Cooperation and
Development e a RILEM – Réunion International des
Laboratories d’Essais et Matériaux também estabeleceram
uma proposta de avaliação para o uso dos resíduos na
construção civil (CINCOTTO, 1998 apud MOURA, 2000).
Entre os objetivos propostos por este documento, destacam-
se:
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
28
a) a quantidade de resíduo disponível deve ser
suficientemente grande para justificar o desenvolvimento de
sistemas de manuseio, processamento e transporte;
b) as distâncias de transporte envolvidas devem ser
compatíveis com as dos materiais convencionais;
c) o material não deve ser potencialmente
nocivo durante a construção ou posteriormente à sua
incorporação ao produto final.
Outro aspecto inerente à reciclagem de resíduos é a
difícil aceitação de um novo produto que seja competitivo no
mercado de trabalho (LEITE, 2001). Muitas vezes, a
inexistência de incentivos políticos e fiscais para o avanço
da utilização de materiais reciclados, a falta de
especificações e de uma política de qualidade ambiental, ou
até mesmo, a ausência de selos ou marcas de qualidade
ambiental de produtos no mercado brasileiro, levam-no
acreditar que o eventual receio ou desinteresse por parte do
público consumidor leigo, associa-se o produto reciclado a
um produto de baixa qualidade (JOHN, 1999). Diferente de
outros países, as empresas brasileiras que eventualmente
reciclam, ainda não utilizam sua contribuição ambiental
como ferramenta de marketing, apesar do consumidor, em
muitos casos, preferir produtos com menor impacto
ambiental, desde que seja assegurado o preço e a
qualidade dos mesmos (MORENO, 1998 apud JOHN, 1999).
Portanto, a realização de um diagnóstico na
identificação de resíduos gerados em determinada região,
avaliando o conhecimento disponível sobre cada um, e
analisando o seu potencial de aproveitamento na
construção civil é, segundo Carneiro et al. (2001), atividade
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
29
fundamental para o desenvolvimento de pesquisas ou
gestão visando à reciclagem de resíduos.
2.6 POLÍTICAS AMBIENTAIS DE INCENTIVO À
RECICLAGEM
A percepção da importância da reciclagem para a
sustentabilidade do planeta tem levado muitos países à
discussão e implementação de políticas específicas
ambientais, visando dar condições reais para que ela
aconteça (JOHN, 2000).
Em alguns países, existem regulamentações que
proíbem e punem os responsáveis pela deposição massiva
de resíduos ao meio ambiente. Além disso, diante do rápido
esgotamento de áreas de deposição de resíduos sólidos,
países como a França e os Estados Unidos promulgaram
leis e regulamentações proibindo a implementação de novos
aterros sanitários no país, incentivando assim a prática da
reciclagem.
O governo inglês, lançou em 1995 uma política de
gerenciamento sustentável dos resíduos, pelo documento A
way with waste, onde enfatiza que a reciclagem é um meio
de aprimoramento no desempenho ambiental da gestão dos
resíduos (DETR, 1999 apud JOHN, 2000). Neste sentido,
esta política visa conter as barreiras para a reciclagem,
viabilizando a inserção da reciclagem no mercado, exigindo
valores mínimos de resíduos em determinados materiais,
além de imposição de uma taxa pela deposição de todo
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
30
resíduo enviado aos aterros (DESSAI, 1998 apud JOHN,
2000).
Com esta premissa, observa na Inglaterra, que as
taxas cobradas pela deposição de resíduos de concreto em
aterros vêm aumentando significativamente (SEALY et al.,
2001). Segundo o autor, o governo estadual vem cobrando
uma taxa da construtora, sobre todo o resíduo gerado em
obra. Isto mostra que a preocupação não é somente com a
deposição final destes resíduos, mais também, com o
provável desperdício de materiais e impactos que tais
resíduos gerarão ao meio ambiente. Porém, se os resíduos
gerados pela construção civil for previamente separados no
próprio canteiro de obra, a taxa a ser cobrada é reduzida, o
que causa um incentivo ao setor em reduzir e reciclar seus
próprios resíduos.
Já o governo holandês, promulgou em 1978, uma
regulamentação que propõe reduzir a poluição ambiental
causada pelos resíduos de construção através da
minimização do volume desses resíduos até que fosse
possível a viabilização da reciclagem neste país.
Atualmente, a Holanda vem se destacando como grande
recicladora de resíduos, chegando a reciclar mais de 80 %
dos resíduos de construção e demolição, devido à
existência de leis e regulamentações rígidas (BUTTLER,
2003). Paralelo a isso, as conseqüências práticas destas
leis já resultaram no fechamento de vários depósitos
clandestinos de resíduos de construção e no aumento das
taxas para deposição destes resíduos em aterros, cerca de
5 a 6 vezes o preço normal cobrado (ZORDAN, 1997).
Nos EUA, o governo estabeleceu na Ordem Executiva
12873 de 20 de outubro de 1993, atualizada e aperfeiçoada
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
31
em 1998, uma política nacional para compra de produtos e
serviços “ambientalmente preferíveis”, definidos como
àqueles que possuem o menor efeito nocivo à saúde ou ao
meio ambiente, quando comparados com os demais durante
seu ciclo de vida (CLINTON, 1993 apud JOHN, 2000). Outro
destaque a política de incentivo a reciclagem nos EUA, foi à
criação de um órgão de proteção ambiental, a EPA
(Environmental Protection Agency) que vem estabelecendo
metas de quantidade mínima de resíduos para materiais
como o cimento Portland (15 % de cinzas volantes e 25 %
de escórias de alto-forno), carpetes, isolantes térmicos,
tintas látex (de 10 a 50 %), etc (JOHN, 2000).
Outros países, como a Noruega e o Japão, também
contemplam de regulamentações que prevêem a cobrança
de altas taxas pela deposição dos resíduos em aterros ou
multas pesadas pela infração de descarte em locais
impróprios (BUTTLER, 2003).
Com relação à política de reciclagem no Brasil, o
marco inicial se deu em 1999 com o lançamento do
Programa Brasileiro de Reciclagem (PBR), implantado pelo
governo federal através da portaria do antigo Ministério da
Indústria, Comércio e Turismo n. 92, de 6 de agosto de 1998
(JOHN, 2000). Este programa tem como diretrizes,
desenvolver mecanismos para valorizar os resíduos
industriais, minerais e agropecuários, como insumos ou
matérias primas para outros produtos.
Também no Brasil a reciclagem está começando a
receber o apoio de leis. Recentemente, o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), publicou a
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
32
Resolução n. 307 de 5 de julho de 2002, em vigor desde o
início de 2003, que dispõe de diretrizes sobre a gestão dos
resíduos da construção civil.
È importante enfatizar a realização de algumas
pesquisas por diversos autores, feitas no Brasil,
principalmente com relação à reciclagem de resíduos de
construção e demolição. Em 2001, algumas dessas
pesquisas foram compiladas e publicadas em um livro, de
tema “Reciclagem de Entulho para a Produção de Materiais
de Construção”, financiado pela Caixa Econômica Federal e
produzido pelo Projeto Entulho Bom (BUTTLER, 2003). Este
acervo foi premiado pela ONU – Organização das Nações
Unidas, como uma das 100 melhores práticas para melhorar
a qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente.
2.6 PESQUISA SOBRE A RECICLAGEM DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
O desenvolvimento da reciclagem está estreitamente
ligado às atividades de pesquisa. Muitos trabalhos já vêm
sendo desenvolvidos na utilização de resíduos sólidos
industriais reciclados como materiais empregados na
construção civil. Entretanto, existem várias barreiras da
reciclagem a serem vencidas pela inserção de um novo
produto contendo resíduos, tais como: aspectos legais e
regulamentares, educação, informação, barreiras técnicas e
econômicas (BCSD-GM, 1999; LAURITZEN, 1998 apud
JOHN, 2000).
No Brasil, além da utilização de alguns resíduos como
a cinza volante e as escórias de alto forno na indústria
cimenteira, e de resíduos perigosos como combustível no
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
33
co-processamento, o marco inicial das pesquisas sobre a
reciclagem de resíduos sólidos como materiais na
construção civil se deram com a utilização dos resíduos de
construção e demolição, ou também chamados “entulhos da
construção”, em estudos realizados no final da década de
80 por Cincotto e Pinto. A partir daí, uma série de trabalhos
sobre desperdícios, políticas municipais e de técnicas de
reciclagem desses resíduos foram desenvolvidos em alguns
municípios brasileiros como Salvador, Belo Horizonte e
Ribeirão Preto.
No entanto, muitas pesquisas com o uso dos resíduos
de construção e demolição como materiais na construção
civil também vêm sendo realizadas em outros países como a
Alemanha, Noruega, Holanda, Japão, Dinamarca. Nestes
países, a prática da reciclagem vem destacando-se há
muitos anos. Isto porque, o incentivo político dado e a
existência de normas e regulamentações fazem com que
haja um avanço na potencialidade destes resíduos para
diferentes aplicações no campo da engenharia civil. Já o
Brasil, apresenta no cenário atual, lacunas de conhecimento
sobre produção e aplicação do material produzido, pela
necessidade de especificações técnicas que garanta esta
qualidade, devido a recente política de reciclagem de
resíduos de construção estabelecida no país.
Uma visão mais ampla da situação da pesquisa e
desenvolvimento da reciclagem de alguns resíduos
industriais empregados na construção civil, foi levantada por
John (1999), com o objetivo de mostrar os níveis de
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
34
desenvolvimento da pesquisa com resíduos no Brasil. Este
levantamento pode ser observado na Tabela 2 ....
È importante ressaltar a carência de informações e
publicações científicas no que concerne o levantamento de
dados estatísticos sobre quais os resíduos mais utilizados
na indústria da construção, suas propriedades química e
física e suas caracterizações para as aplicações finais.
Poucas também são as publicações que arrolam dados
estatísticos com diferentes resíduos de forma conjunta, ou
seja, em um mesmo artigo. Normalmente, quando existem,
estas pesquisas se atêm a um resíduo específico.
Outro aspecto importante para o efetivo processo de
reciclagem é a avaliação ambiental de um determinado
produto com reciclados e a transferência de tecnologia. No
entanto, dificilmente encontram-se publicações que tratam
destes assuntos. Uma das possíveis causas é a ausência
de uma política ambiental voltada para o desenvolvimento
sustentável mais desenvolvida, que envolva mecanismos
para o desenvolvimento de mercado da reciclagem de
resíduos, como por exemplo através
Não se tem muita certeza alguns dos itens avaliados
pelo autor em cada resíduo sobre o grau de conhecimento
e desenvolvimento de pesquisa com alguns resíduos
brasileiros, muitos resíduos industriais há carência de
informações e publicações científicas que retratam
estatisticamente ausência de informações
Tabela 2 ....- Resíduos reciclados utilizados como
material de construção civil e o grau de desenvolvimento da
pesquisa no Brasil (JOHN, 1999). As áreas em cinza forte
indicam conhecimento consolidado. Cinza fraco
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
35
conhecimento já desenvolvido. Em branco conhecimento
incipiente ou inexistente.
Resíduo Cara
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va
s
Escória de
alto forno
Cinza volante
Escória de
aciaria
Cinzas de
grelha
Entulho de
obra
Cinzas de
casca de arroz
Escória de
cobre
Cinza de xisto
betuminoso
Fosfogesso
Fibras
vegetais
Microsílica
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
36
Cal de
carbureto
Resíduos de
madeira
Areia de
fundição
Beneficiament
o de rochas
Aparas de
plástico
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
37
A pesquisa realizada neste trabalho apresenta uma
metodologia empregada que se difere daquela da maior
parte dos trabalhos nesta área de reciclagem de resíduos
sólidos industrias pelo fato de não se tratar de uma
pesquisa experimental visando à aplicação do resíduo
sólido, que é o que normalmente acontece nesta área de
estudo.
Também, cabe ressaltar que existem duas partes
contempladas neste trabalho, a primeira refere-se a
dissertar sobre o estado da arte da reciclagem dos resíduos
sólidos na construção civil, enquanto que, na segunda,
avalia-se a situação de reciclagem destes resíduos na
região metropolitana de Blumenau/SC.
Sendo assim, para descrever a metodologia aplicada
será necessário apresentá-la em duas etapas distintas,
correspondendo, cada uma, às duas partes da pesquisa
acima citadas.
4.1 METODOLOGIA APLICADA AO ESTADO DA
ARTE DA RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS
INDUSTRIAIS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
CAPÍTULO III
METODOLOGIA DA PESQUISA
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
38
O estado da arte da reutilização de resíduos sólidos na
construção civil foi analisado através de pesquisa
bibliográfica, principalmente, no Brasil, nos Estados Unidos
e países da Europa sem, entretanto, deixar de contemplar
outros países, ainda que em menor escala.
4.1.1 Formas de Acesso ao Material Bibliográfico
A pesquisa bibliográfica, a fim de responder aos
requisitos acima, foi realizada, baseada nas seguintes
formas de acesso:
- Teses e dissertações;
- Artigos científicos de periódicos;
- Artigos científicos de anais de congresso;
- Sites de Agências Nacionais de Proteção ao Meio
Ambiente.
4.1.2 Estrutura Padrão para Análise dos Artigos
No material bibliográfico selecionado, procurou-se
estabelecer uma estrutura padrão que, servisse de
orientação para discorrer sobre a reutilização dos resíduos
sólidos industriais na construção civil. Quatro aspectos
foram selecionados e analisados:
a) natureza do resíduo – tem por objetivo mostrar a
origem do resíduo;
b) características do resíduo – identificar os ensaios
que permitiram de caracterizar os resíduos;
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
39
c) aplicação – colocar em evidência as diversas áreas
da construção civil nas quais o resíduo foi reutilizado e/ou
os produtos finais com ele obtidos.
d) propriedades do produto final – descrever os
ensaios realizados no produto final a fim de comprovar as
propriedades necessárias à aplicação deste.
No entanto, esta é uma estrutura padrão que será
complementada conforme cada tipo de resíduo e de
aplicação estudados, pois, cada um destes irá apresentar
condições específicas que deverão ser levadas em
consideração.
Também, embora não seja o objetivo principal, em
determinadas abordagens haverá a necessidade de levar
em conta alguns aspectos relativos à legislação e à gestão
ambiental, como forma de melhor compreensão das
implicações da reutilização dos resíduos sólidos industriais
na construção civil.
4.1.3 Tipos de Resíduos Enfocados
A escolha dos tipos de resíduos a serem enfocados
está associada com a existência de pesquisas destes
reutilizados na construção civil, relatadas em documentos
científicos, de maneira a se obter os requisitos básicos
estabelecidos na estrutura padrão de análise proposta.
Sendo assim, os resíduos selecionados foram os
seguintes:
a) resíduos de construção e demolição (RCD)
b) resíduos de pneus e borracha
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
40
c) resíduos metalúrgicos
d) cinzas volantes (fly ash)
e) areia verde de fundição
f) polímeros
g) lodos de ETEs
4.2 AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DE RECICLAGEM
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NA REGIÃO METROPOLITANA
DE BLUMENAU/SC
A metodologia adotada nesta etapa da pesquisa,
fundamentou-se na consulta de um catálogo completo de
informações setorizadas sobre as indústrias de Santa
Catarina, o GuiaWeb lançado pela FIESC (Federação das
Indústrias do Estado de Santa Catarina), sendo
complementada com uma publicação que reúne um conjunto
de informações e dados sobre os principais segmentos que
forma a economia catarinense, o Santa Catarina em dados,
também editado pela FIESC.
Com isso, na região denominada de metropolitana,
considerou-se o chamado Núcleo Metropolitano da Região
metropolitana do Vale do Itajaí, o qual é constituído dos
seguintes municípios: Blumenau (município sede), Gaspar,
Indaial, Timbó e Pomerode. No entanto, outros municípios
também fazem parte desta região, que são: Apiúna, Ascurra,
Benedito Novo, Botuverá, Brusque, Doutor Pedrinho,
Guabiruba, Luiz Alves, Rio dos Cedros e Rodeio. Assim,
foram arrolados todos os 15 municípios para a contemplar a
amostragem.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
41
Já o processo investigatório da situação atual da
região metropolitana de Blumenau sobre a reciclagem dos
resíduos sólidos foi executado através da aplicação de
questionário junto ao setor industrial. Para alcançarmos este
objetivo foi necessário realizar uma amostragem, definir um
modelo de questionário e a maneira segunda a qual ele
seria aplicado e, finalmente, tratar estes dados, sendo que
estas etapas serão apresentadas e discutidas a seguir.
4.2.1 Amostragem
Para ser possível realizar a amostragem, o primeiro
passo foi definir a classificação dos gêneros e portes das
indústrias além de levantar o número de cada gênero e
porte das indústrias na região de estudo, para se definir o
universo em questão. A partir deste conhecimento foi, então,
possível, definir a amostra com a qual a pesquisa foi
realizada.
Os gêneros de indústrias basearam-se na classificação
proposta pela FIESC (Federação das Indústrias do Estado
de Santa Catarina), bem como a busca de indicadores
industriais quanto ao número e porte das indústrias. A
seguinte lista define estes gêneros:
- Minerais não metálicos
- Metalúrgica
- Mecânica
- Material elétrico e de comunicações
- Extrativa mineral
- Material de transporte
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
42
- Madeira
- Mobiliário
- Papel e papelão
- Borracha
- Couros e peles
- Química
- Produtos farmacêuticos e veterinários
- Perfumaria, sabões e velas
- Produtos de matérias plásticas
- Têxtil
- Vestuário, calçados e artefatos de tecidos
- Produtos alimentares
- Bebidas
- Fumo
- Editorial e gráfica
- Diversas.
A amostragem foi realizada por gênero e porte das
indústrias sendo que, no caso em que em um ou outro item
possuir um número muito pequeno de indústrias, todas
foram arroladas.
4.2.2 Modelo e Método de Aplicação do Questionário
Ao proceder o levantamento de dados junto às
indústrias da região em questão, elaborou-se, inicialmente,
um modelo do questionário visando obter as seguintes
informações: gênero e porte para caracterização das
indústrias, tipos de resíduos sólidos gerados em cada
processo produtivo, medidas tomadas quanto à destinação
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
43
destes resíduos sólidos e existência do interesse de uma
alternativa de reciclagem.
Cabe salientar o desejo de se obter dados
quantitativos sobre a questão de reutilização dos resíduos
sólidos industriais na região metropolitana de Blumenau.
Entretanto, tomou-se o cuidado de elaborar um questionário
digamos qualitativo, descartando-se, através deste aspecto,
toda e qualquer intenção de policiamento junto às empresas
e, tentando reforçar, o caráter eminentemente científico
desta abordagem.
O questionário apresenta-se conforme o modelo
abaixo:
QUESTIONÁRIO
1) Gênero da Indústria
( ) Minerais não metálicos
( ) Metalúrgica
( ) Mecânica
( ) Material elétrico e de comunicações
( ) Extrativa mineral
( ) Material de Transporte
( ) Madeira
( ) Mobiliário
( ) Papel e papelão
( ) Borracha
( ) Couros e peles
( ) Química
( ) Produtos farmacêuticos e veterinários
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
44
( ) Perfumaria, sabões e velas
( ) Produtos de matérias plásticas
( ) Têxtil
( ) Vestuário, calçados e artefatos de tecidos
( ) Produtos alimentares
( ) Bebidas
( ) Fumo
( ) Editorial e gráfica
( ) Diversas
2) Porte da empresa:
( ) Micro ( ) Pequena ( ) Média
( ) Grande
3) Quais os tipos de resíduos gerados pela indústria:
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
4) Os resíduos sólidos provenientes de diferentes processos
são separados ou não?
( ) SIM
( ) NÃO
Espaço para observação, se for necessário:
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
45
5) Os resíduos sólidos desta indústria são reutilizados?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) ALGUNS
Se a resposta for “ALGUNS”, estes
são:____________________________________________
6) Se os resíduos sólidos são reutilizados, isto é feito pela:
( ) própria indústria
( ) por terceiros
Espaço para observação, se for necessário:
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
7) Qual a proporção dos resíduos sólidos da indústria que são
reutilizados pela própria indústria?
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
Espaço para observação, se for necessário:
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
46
8) Qual a proporção dos resíduos sólidos da indústria que são
reutilizados por terceiros?
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
Espaço para observação, se for necessário:
_________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________
9) Existe a busca de uma alternativa de reutilização dos
resíduos sólidos?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) Nunca havia cogitado
( ) Outra
(Especificar)____________________________________________
______________
10) Existe algum tipo de informação sobre resíduos que seria
de interesse da empresa?
_________________________________________________
______________________________________________________
___________________________________________
Para o procedimento de aplicação deste questionário,
inicialmente, contataram-se as indústrias selecionadas, via
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
47
endereço eletrônico e por correspondência, apresentando
de forma clara e concisa, a finalidade deste trabalho.
Posteriormente, foram enviados os questionários pela
própria mestranda para àquelas que se dispuseram a
colaborar com a pesquisa, sendo que todas as indústrias
foram mantidas no anonimato.
Diante dos poucos questionários devidamente
preenchidos e retornados, foi necessário realizar novos
contatos com as indústrias selecionadas, para que a
amostra pudesse ser representativa.
4.2.3 Tratamento dos Dados
Uma vez obtidos todos os questionários, os dados
foram tratados estatisticamente, por gênero e por porte das
indústrias e pelas questões abordadas.
Também, foi relatado o índice de decisão de não
participação do referido questionário por parte das
indústrias.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
48
CAPÍTULO IV
RECICLAGEM DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS INDUSTRIAIS ESTADO DA ARTE
Neste capítulo será feita uma revisão bibliográfica
abordando o estado da arte sobre a reciclagem dos
resíduos sólidos industrias na construção civil, visando
avaliar alguns tipos de resíduos sólidos que mais vem sendo
reaproveitados por esta indústria, o histórico da reciclagem,
a natureza (origem e composição dos resíduos), a geração e
as principais características de cada resíduo .......
3.1 RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO
E DEMOLIÇÃO (RCD)
3.1.1 Considerações Gerais
Dentre as atividades que geram resíduos, a construção
civil de destaca entre as maiores geradoras de Resíduos de
Construção e Demolição (RCD). De acordo com EU (1999
apud JOHN, 2000), geralmente o volume de resíduos de
construção e demolição nas cidades equivale ou ultrapassa
a quantidade descartada de resíduos sólidos municipais
(PINTO, 1999).
De acordo com os autores Carneiro et al. (2001) e
Oliveira & Assis (2000), as alterações ao meio ambiente
provocados pela geração de resíduos da construção civil,
podem ocorrer, desde a fase de implantação até a execução
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
49
da obra. Entretanto, também, os resíduos podem ser
gerados em toda a vida útil das construções, ou seja,
durante sua manutenção, reforma ou demolição,
ocasionando a eliminação de diversos componentes e
perdas de materiais de construção durante ou após a
execução do serviço.
Outros fatores também estão associados à produção
de resíduos pela indústria da construção civil, tais como:
detalhamento e definição insuficientes nos projetos,
ausência de mecanismos e procedimentos operacionais de
controle nos processos construtivos, mão-de-obra
desqualificada, qualidade inferiorizada dos componentes e
materiais de construção disponíveis no mercado, entre
outros (CARNEIRO et al, 2001).
Diante da grande quantidade desses resíduos, a forma
de deposição dos resíduos gerados em aterros clandestinos
ou aterros públicos, ou até mesmo seu abandono, vem
ocasionando sérios prejuízos de ordem social, econômica e
ambiental. Para Oliveira & Assis, Ângulo et al. (2000),
Ângulo et al (2001a), a dispersão geográfica e temporal dos
resíduos de construção por toda as cidades, acarreta em
danos ao meio ambiente e efeitos negativos sobre as
malhas urbanas, destacando-se o esgotamento das áreas
sadias, o assoreamento e obstrução de corpos d’água, a
poluição ou contaminação dos aqüíferos, o entupimento dos
sistemas de drenagens, a proliferação de vetores, entre
muitos outros. Porém há ainda um prejuízo econômico e um
alto custo social, com gastos para a retirada dos resíduos
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
50
em despejos clandestinos de vias e logradouros públicos, de
terrenos baldios e margens de córregos.
Essa situação tem motivado muitos países a adotar
soluções alternativas visando à reutilização e/ou a
reciclabilidade dos resíduos provenientes da indústria da
construção civil. No caso de países da União Européia,
Dorsthorst & Hendricks (2000 apud MEIRA & ARAÚJO,
2004), mostram que a reciclagem varia de 5% (Irlanda,
Portugal, Grécia e Espanha) até mais de 80% (Holanda,
Dinamarca e Bélgica). Cerca de 50 milhões de resíduos de
construção e demolição são reciclados ou reutilizados, de
um total de 180 milhões de toneladas de resíduos
produzidos. Os demais são incinerados ou depositados em
aterros.
Há de se observar, ainda, que a reciclagem de
resíduos de construção no Japão chega a 57% do volume
total produzido, sendo que o concreto proveniente de
demolições de estruturas e pavimentos corresponde a
aproximadamente 73% desse volume (NOGUCHI &
TAMURA, 2001).
No Brasil, os estudos sobre soluções práticas de
reciclagem e reutilização desses resíduos ainda são
incipientes. Como exemplos destas soluções, pode-se citar
a utilização dos resíduos como agregado para concretos e
argamassas, bem como a utilização em bases e sub-base
em pavimentação (MEIRA & ARAÚJO, 2004; POON & LAM,
2002).
Portanto, a questão da reciclagem dos RCD, bem
como outros tipos de resíduos, surge como uma nova
questão de sobrevivência para os municípios, tanto no setor
econômico quanto ambiental, por serem mais factíveis de
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
51
reaproveitamento e com aplicabilidade e simplicidade
operacional. Os investimentos com a implantação de um
programa de reciclagem de entulhos, são relativamente
pequenos, sendo amortizados em um curto espaço de
tempo (BRITO FILHO, 1999).
Entretanto a deposição dos RCD, tem elevado as
administrações públicas a empregar altos recursos
financeiros para com a remediação das áreas degradadas
pelos mesmos. Não obstante, este modelo de gestão dado
aos resíduos de construção, onde seus destinos são lixões
ou aterros e áreas urbanas clandestinas, vêm mostrando
sinais de insustentabilidade, pelo desperdício de outro
recurso natural: o solo (FUKUROZAKI & SEO, 2004).
3.1.2 Histórico da Reciclagem de Resíduos de
Construção e Demolição
Desde os primórdios da humanidade, a construção civil
era executada de forma artesanal, gerando como
subproduto, uma enorme quantidade de resíduos minerais
(LEVY & HELENE, 2002).
O reaproveitamento, ou seja, a reciclagem dos
resíduos da própria construção, os chamados entulhos ou
RCD, é praticado desde a antiguidade. Observando-se a
história das civilizações antigas, pode-se comprovar o
aproveitamento dos resíduos de construções de
determinado período histórico (igrejas renascentistas, vias
romanas), para dar fundamentação nas construções
seguintes (INSTITUT DE TECNOLOGIA DE LA
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
52
CONSTRUCCIÓ DE CATALUNYA – ITEC, 1995 apud
PINTO, 1999). Há registros também, na época dos romanos,
segundo os autores Schulz; Hendricks (1992 apud
ALTHEMAN, 2002); Brito Filho (1999); Leite (2001); Santos
(1975 apud LIMA, 1999), da utilização de alvenaria britada
(restos de tijolos, telhas, utensílios de cerâmica) como
agregado para a produção de novos concretos
rudimentares, da construção das bases dos pavimentos com
cacos cerâmicos moídos e pasta aglomerante de cal, e da
mistura de argilas, da utilização de cinzas vulcânicas.
Em 1860, na Alemanha, se teve notícia da reciclagem
de RCD, em que blocos de concreto foram britados servindo
de agregado para a confecção de novos artefatos de
concreto (PINTO; LIMA,1999). Já em 1928, neste mesmo
país, são realizados os primeiros estudos das propriedades
dos agregados reciclados de RCD (PINTO, 1999).
A prática significativa da reciclagem de RCD como
material de construção civil, foi impulsionada na Europa
após o fim da Segunda Guerra Mundial (ÂNGULO et al.,
2001a; JOHN & AGOPYAN, 2000; PINTO, 1999). Com o
término da guerra, houve a necessidade da reconstrução
das habitações dos países europeus, iniciando
imediatamente a remoção do grande volume de escombros
das cidades afetadas (SCHULZ; HENDRICKS, 1992 apud
LIMA; PINTO, 1999). Com a falta de locais para a deposição
dos resíduos e devido à carência e urgência de agregados
para a construção das edificações, iniciou-se na Alemanha,
o processo de utilização do entulho britado como agregado
para produção de novos concretos (SCHULZ; HENDRICKS,
1992 apud ALTHEMAN, 2002; LEITE, 2001). Na
interpretação de Schulz; Hendricks (1992 apud PINTO,
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
53
1999) e De Paw & Lauritzen (1994 apud LIMA, 1999), a
República Federal da Alemanha herdou da guerra
aproximadamente 600 milhões de metros cúbicos de
escombros, onde passou a reciclar cerca de 11,5 milhões de
metros cúbicos, produzindo assim 175.000 unidades
habitacionais construídos com materiais reciclados até o
ano de 1955.
No entanto, pode-se avaliar que só a partir de 1946,
marca-se o início do desenvolvimento da tecnologia de
reciclagem de resíduos de construção e demolição na
construção (LEVY & HELENE, 2002).
Outro fato internacional que motivou a pesquisa para o
reaproveitamento dos RCD para a confecção de novos
concretos, ocorreu na Argélia em 1980, com um terremoto
de grandes proporções (LIMA, 1999).
Desde então, alguns países europeus como a
Holanda, a Bélgica, a Dinamarca, a França, a Itália, a
Espanha e o Reino Unido, passaram a se interessar pela
reciclagem dos RCD tendo em vista a demanda não
correspondida de materiais granulares de algumas regiões
e, também, por razões ambientais e econômicas (ITEC,
1995 apud PINTO, 1999; ANVI, 1992, DE PAW &
LAURITZEN, 1994, HANZEN, 1992, LATTERZA, 1997,
LEVY, 1997, MEHTA, 1994, SWANA, 1993, ZORDAN, 1997
apud LIMA, 1999).
Atualmente, apesar da escassez de agregados
naturais e de áreas para aterros nas grandes regiões
metropolitanas, encontra-se o Brasil, com uma política
ambiental sobre reciclagem de resíduos de construção
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
54
ainda dando seus primeiros passos. Diferentemente dos
países europeus, onde há uma política mais abrangente,
como é o caso da Holanda, que recicla aproximadamente
90% dos resíduos de construção e demolição Dorsthorst;
Hendriks (2000 apud ANGULO et al., 2001a), e de países
como os EUA, que no final da década de 60 já possuía uma
política mais abrangente sobre resíduos, chamada de
Resourse Conservation and Recovering Act (RCRA)1 (JOHN
& AGOPYAN, 2000).
Considera-se que a reciclagem dos resíduos de
construção e demolição em diversos países, contribui
expressivamente com a necessidade de solucionar
problemas de destino do grande volume de RCD que são
gerados devido ao crescimento populacional dos centros
urbanos e pela expansão do grande número de habitações.
Não obstante, com a busca pelo desenvolvimento
econômico nos dias de hoje, faz-se prevalecer tanto nos
países desenvolvidos como aqueles em fase de
desenvolvimento, a adesão às políticas de reciclagem e
valoração dos resíduos, aliando-se a preservação do meio
ambiente, a fim de reduzir o impacto ambiental pela
incessante deposição da grande massa destes resíduos,
bem como minimizar as extrações das jazidas naturais e
leitos de rios.
Diante das diversas soluções que a reciclagem e
utilização dos resíduos de construção e demolição vem
trazendo, verifica-se que desde meados dos anos 80 no
Brasil, diversos estudos e trabalhos vêm sendo
desenvolvidos pelas instituições de pesquisa visando a
1 Traduzida como Lei de Conservação e Reciclagem de Recursos
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
55
ressaltar a potencialidade desses resíduos (ALTHEMAN,
2002).
Altheman (2002), cita exemplos de algumas
realizações de reciclagem de RCD, a iniciar um estudo
sistemático concluído por Pinto em 1986, com a análise do
uso de RCD na produção de argamassas, sendo seguido
em 1995 pelos autores Levy e Helene. Estudos com material
reciclado na produção de concretos foram elaborados por
Zordan, dois anos mais tarde. As experiências brasileiras
limitam-se pelas ações municipais na gestão dos resíduos
sólidos da construção urbana, sob os aspectos econômicos
e ambientais, abordados por Pinto em 1999. Ainda neste
mesmo ano, Lima propõe diretrizes para a produção e
normalização dos resíduos de construção reciclado
aplicados em argamassas e concretos. Já Angulo em 2000,
pesquisa sobre a influência e a variabilidade dos agregados
de resíduos de construção e demolição no concreto.
A reciclagem de resíduos de construção iniciou-se
efetivamente no Brasil em 1991, em Belo Horizonte, e hoje,
verifica-se a existência de algumas usinas de reciclagem
deste material em diversos estados brasileiros. Atualmente,
vários estudos estão sendo desenvolvidos nas
universidades nacionais para melhor compreensão e
informações do comportamento deste material (LEITE,
2001).
3.1.3 Definição e Classificação dos Resíduos de
Construção e Demolição
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
56
O termo Resíduo de Construção e Demolição,
comumente citado como RCD, assim como o termo entulho,
geralmente tem conceitos iguais (ALTHEMAN, 2002). De
forma geral, defini-se o termo RCD ou entulho da
construção civil como sendo um resíduo proveniente das
atividades de construção, reformas, reparos, e demolições
de estruturas e estradas (LEITE, 2001).
Zordan (1997 apud LEITE); Brasil (2002) e Huang et
al., (2002) definem o resíduo de construção como material
proveniente da atividade de construção de edificações
residenciais e comerciais, das reformas e reparos
ocasionados nestas e outras estruturas, além dos resíduos
resultantes da preparação e da escavação de terrenos. Já
os materiais provenientes da destruição de construções são
caracterizados como resíduos de demolição.
Altheman (2002) e Pietersen et al. (1998 apud LEITE
2001) ressaltam ainda a definição de agregado reciclado
como sendo um material granular resultante de um processo
de reciclagem. Recentemente, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA (BRASIL, 2002), publicou a resolução
nº. 307, em vigor desde janeiro de 2003, que estabelece,
critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil. Para efeito dessa resolução, adota-se uma
definição mais completa de agregado reciclado, como
sendo “todo material granular proveniente do
beneficiamento de resíduos de construção que apresentem
características técnicas para a aplicação em obras de
edificação, infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras
obras de engenharia”.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
57
De maneira geral, quaisquer que forem os resíduos,
todos devem ser classificados do ponto de vista do risco
ambiental, para que possam objetivar o seu correto
manuseio e destino. Deste modo, os resíduos de construção
e demolição são classificados de acordo com a norma
brasileira NBR 10004/87 – “Resíduos Sólidos –
Classificação”, como resíduos de Classe III – inertes (LEITE,
2001). Isto se deve ao fato deste resíduo possuir compostos
minerais não poluentes e serem praticamente inertes
quimicamente (LEVY, 1997; TORRING, 1998, VAZ FILHO &
CORDEIRO, 2000 apud LEITE, 2001).
Embora os RCD sejam classificados como inertes,
alguns estudos comprovam que este fato pode não ser
totalmente verdadeiro (JOHN & AGOPYAN, 2000; LEITE,
2001). Isto porque os resíduos de construção e demolição
consistem em materiais pesados e de grande volume e que,
quando depositados indiscriminadamente, contribui para o
depósito de outros tipos de resíduo, podendo gerar
contaminações devido à lixiviação ou solubilização de
algumas substâncias nocivas (LEITE, 2001). Além disso, os
RCD podem conter tintas e substâncias de tratamento de
superfície, bem como materiais de pintura, amianto e
pequenas quantidades de metais pesados que podem estar
aderidos ou misturados ao resíduo, gerando assim um
material que pode percolar ao solo, e conseqüentemente
contaminá-lo de forma significativa (DORSTHORST &
HENDRICKS, 2000; PENG et al., 1997, TORRING, 1998
apud LEITE, 2001). Diante disso, Zordan (2000) e Carneiro
et al. (2001), ressalta que o resíduo de construção e
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
58
demolição, por apresentar uma heterogeneidade de
materiais que podem estar contaminados ou não, pode
alterar a classificação dada pela NBR 10004/04 em
qualquer uma das classes: perigoso, não-inerte ou inerte.
Com isso, para que haja uma garantia de que estes
resíduos não tragam riscos ao meio ambiente é de grande
valia, realizar ensaios de lixiviação e solubilização nos
resíduos de construção e demolição para comprovar a
existência e a quantidade de materiais contaminantes.
Conforme já mensurado acima, a Resolução nº. 307 de
05/07/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA, também estabelece algumas diretrizes quanto à
classificação dos resíduos de construção. Para efeito desta
resolução, o Art. 3º classifica os resíduos de construção civil
em quatro classes distintas:
Classe A : são resíduos reutilizáveis ou recicláveis na
forma de agregados;
Classe B : são os resíduos recicláveis para outras
destinações, tais como plásticos, papel, metais, vidros,
madeiras e outros;
Classe C : são os resíduos para os quais não foram
desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente
viáveis que permitam a sua reciclagem e/ou reutilização, a
exemplo de produtos oriundos do gesso;
Classe D : são os resíduos perigosos provenientes do
processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos
entre outros.
Vale ressaltar que o Art. 10º da Resolução nº. 307 do
CONAMA estabelece que os resíduos da construção civil
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
59
devem ser destinados conforme a classificação mensurada
no seu Art. 3º.
Outra proposição de classificação dos resíduos de
construção e demolição também é estudada por Lima
(1999). A classificação é baseada no teor de impurezas ou
no tipo de componente predominante nos resíduos
(concreto, resíduos de alvenaria, etc.) que chegam até as
usinas de reciclagem. Para tanto, Lima considera em sua
proposta os seguintes fatores: os diferentes tipos de
resíduos disponíveis para a reciclagem ou reutilização; as
exigências para os agregados reciclados em seus diversos
usos potenciais; os sistemas de classificação existentes no
Brasil e outros países; as condições de operação das
centrais de reciclagem; as experiências estrangeiras sobre a
implantação da reciclagem e a necessidade de consumir
quantidades significativas de resíduos de construção.
Analisando estes critérios, o autor elaborou uma proposta
com seis classes de resíduos de construção, sendo
apresentadas a seguir:
Classe 1: Resíduo de concreto sem impurezas –
composto predominantemente de concreto estrutural
(simples ou armado), limitando teores de argamassa,
alvenaria e impurezas como gesso, terra, vegetação, vidro,
papel, madeira, metais, plásticos e outros;
Classe 2: Resíduo de alvenaria sem impurezas –
material composto de argamassas, alvenaria e concreto,
com presença de outros materiais minerais inertes como
areia, pedra britada, e outros teores limitados de impurezas;
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
60
Classe 3: Resíduo de alvenaria sem materiais
cerâmicos e sem impurezas – resíduo composto de
argamassa, concreto e alvenaria, com baixa presença de
materiais cerâmicos. Também pode conter materiais inertes
(areia, pedra britada, fibrocimento) e quantidades limitadas
de impurezas (terra, vegetação, gesso, madeira, plástico e
outros);
Classe 4: Resíduo de alvenaria com presença de
terra e vegetação – resíduos compostos com materiais
basicamente iguais aos do resíduo classe 2, porém admite-
se a presença de uma quantidade no volume de terra ou
terra misturada à vegetação. O teor de impurezas nesta
classe é maior que nas demais;
Classe 5: Resíduo de composto por terra e vegetação
– material composto principalmente por terra e vegetação,
admitindo valores acima dos da classe 4. Nesta classe
tolera-se a presença de argamassas, alvenaria e concreto,
além de outros materiais inertes como areia, fibrocimento e
pedra britada com teores de impurezas maiores que nas
demais classes;
Classe 6: Resíduo com predominância de material
asfáltico – resíduo composto basicamente de material
asfáltico, sendo limitado outras impurezas como argamassa,
restos de alvenaria, vegetação, terra, gesso, vidros entre
outros.
Observa-se que na classificação proposta por Lima
(1999), admite-se em quase todas as classes acima
mencionadas, uma grande quantidade no teor de impurezas.
Leite (2001) comenta que esta classificação, não muito
restritiva, se deve ao fato de que há cultura ainda incipiente
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
61
sobre a reciclagem dos resíduos de construção dentro do
próprio setor construtivo. Acredita-se que à medida que o
conceito de reciclagem se fortalecer dentro da indústria da
construção civil, talvez possa partir para uma classificação
com maiores restrições, podendo assim originar materiais
reciclados mais homogêneos e a possibilidade um aumento
nos tipos de aplicações com estes resíduos e garantia de
maior qualidade para cada uso potencial proposto.
3.1.4 Origem, Composição e Características dos
Resíduos de Construção e Demolição
Dentro da cadeia produtiva da construção a maior
parte da geração dos resíduos é proveniente de obras e
demolições. Outra parcela contributiva é as falhas
tecnológicas estruturais ou estruturas obsoletas, além dos
desastres naturais, como: incêndios, furacões, terremotos,
guerras, desabamentos, e outros (CARNEIRO et al., 2001;
LEVY, 1997 apud LEITE, 2001).
O setor da construção civil desenvolve várias
atividades no canteiro de obras e os empreendimentos
realizados são compostos por uma gama de diferentes
materiais. Evidencia-se pois, que os resíduos gerados sejam
eles pela construção, reforma e manutenção, ou quando
ocorre a sua demolição, têm uma composição variada, que
depende muito da fonte que o originou e do momento em
que foi colhida a amostra para análise (LEVY, 1997 apud
LEITE, 2001). Segundo Zordan (2000), o resíduo de
construção e demolição é considerado o mais heterogêneo
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
62
de todos os resíduos industriais, e sua composição química
está intimamente relacionada com a composição dos
materiais que o compõe.
O RCD é composto de diferentes materiais,
constituídos em cerca de 90% da massa em frações de
natureza mineral (argamassas endurecidas, concretos,
areia, pedras-britadas, tijolos e cacos cerâmicos, metais
ferrosos) e componentes orgânicos (como madeiras,
plásticos, solos, materiais betuminosos, etc). Esta análise é
verificada tanto no Brasil como em países da Europa
(CARNEIRO et al., 2000, FERRAZ et al., 2001, EC, 2000
apud ÂNGULO et al., 2003b; ANGULO et al., 2002; BRITO
FILHO, 1999; JOHN, 2000; PINTO, 1999; HUANG et al.,
2002). A variação na composição destes resíduos (em
massa), é estimada em termos de seus materiais
componentes, ou ainda, em função dos insumos presentes,
como cimento, areia, cal e outros (ÂNGULO et al., 2002).
Do ponto de vista químico, Angulo et al. (2003b) estima
que a composição média de óxidos nos resíduos de
construção e demolição do Brasil, é majoritariamente a
sílica, seguida pela alumina e óxido de cálcio.
Soma-se a isto, que basicamente 95% dos RCD
contêm em sua formação uma grande quantidade de
parcelas recicláveis, onde os materiais constituintes desses
resíduos são verdadeiros potenciais de matérias-primas,
sendo passíveis de serem explorados (BRITO FILHO,
1999).
Entretanto, a proporção de materiais constituintes nos
resíduos de construção, como solos, materiais cerâmicos,
metálicos e orgânicos podem variar de acordo com a origem
dos resíduos. “Resíduos produzidos por manutenção de
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
63
obras de pavimentação, naturalmente, irão apresentar
composição compatível com os materiais empregados,
revelando especialmente asfaltos” (JOHN & AGOPYAN,
2000, p.8).
Ora já mencionado, sabe-se que a constituição do
resíduo depende da fonte que o gerou – reformas,
demolições, construção, métodos construtivos, natureza da
obra, etc. Diante dos diferentes aspectos que interferem na
composição, quantidade e características desse resíduo,
algumas características podem ser destacadas, como: o
nível de desenvolvimento da indústria da construção local,
treinamento e qualidade da mão-de-obra, tipos de materiais
disponíveis ou predominantes na região, o desenvolvimento
econômico regional, a demanda por novas obras, etc
(CARNEIRO et al., 2001). Além disso, quando se estuda a
composição média dos resíduos de construção, também
devem atrelar-se a isso, os índices de perdas de materiais
mais significativos na construção civil (LEITE, 2001).
Neste sentido, Carneiro et al. (2001), observam a
importância da análise das características do resíduo de
construção correlacionada a parâmetros específicos de
cada região geradora, bem como a avaliação de variações
ao longo do tempo. Exemplo disso, são as construções de
edifícios em países desenvolvidos, que geram altos teores
de plásticos e papéis advindos de embalagens dos materiais
para consumo. Em contrapartida, neste mesmo tipo de
atividade em países em desenvolvimento, a quantidade
gerada de resíduos de concreto, blocos, argamassas, e
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
64
outros são altíssimos, devido às perdas encontradas no
processo.
Embora exista, de forma geral, dados sobre a
composição dos resíduos de construção, ainda não se tem
um estudo nacional abrangendo cada região. De acordo
com John (2000 apud PINTO, 1999), a constituição dos
resíduos avaliada no Brasil se assemelha com aquela dos
países europeus, sendo diferente daquela dos países norte-
americanos. Estima-se que nos EUA, segundo dados
fornecidos pela EPA em 1995, a quantidade de madeira,
proveniente de construções de edifícios, na massa de
resíduos era de 30%. Já na massa de resíduos em
construções residenciais, os resíduos de concreto e
alvenaria indicam valores entre 1 a 8%, e nas construções
comerciais, valores entre 10 a 20%.
De acordo com os dados disponíveis para a
Comunidade Européia (ITEC, 1995 apud PINTO, 1999), a
composição estimada dos RCD para os diversos países
europeus é em média 45% de componentes de alvenaria de
vedação, 40% de concreto, 8% de madeira, 4% de metal e
3% de plásticos, papel e outros materiais. Levy (1997, apud
LEITE, 2001) cita em seu trabalho alguns índices levantados
pela Hong Kong Polytechnic em 1993, da composição média
dos resíduos de construção e também a composição média
dos resíduos de demolição em Hong Kong, sendo
graficados nas Figuras 3-1 e 3-2.
Figura 3-1 – Composição média dos resíduos
provenientes de construção em Hong Kong (LEVY, 1997
apud LEITE, 2001).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
65
Madeira - 18,22%
Areia - 3,24%Tijolos Maciços -
11,94%
Poeira, Solo e Lama
- 16,09%
Papel e Matéria
Orgânica - 2,62%
Blocos de Concreto -
1,12%
Cascalho - 15,25%
Metais - 6,08%
Concreto - 16,34%Pedra Britada -
7,76%
Outros - 0,9%
Figura 3-2 – Composição média dos resíduos
provenientes de demolição em Hong Kong (LEVY, 1997
apud LEITE, 2001).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
66
Areia - 1,43%
Outros - 1,21%
Poeira, Solo e Lama -
11,91%
Cascalho - 4,6%
Concreto - 53,10% Pedra Britada - 6,82%
Madeira - 7,14%
Tijolos Maciços - 6,33%Asfalto - 1,61%
Metais - 3,4%
Papel e Matéria
Orgânica - 1,3%
Blocos de Concreto -
1,16%
Como pode ser observado nos gráficos acima
inseridos, há uma maior quantidade de material de concreto
nos resíduos de demolição, por se tratar da demolição das
estruturas, enquanto que o percentual deste material é bem
menor nos resíduos de construção, devido às sobras
existentes de materiais ou perdas ocasionadas pela
atividade construtiva, reforma ou manutenção. Outra
comparação analisada é a madeira, que está muito mais
presente nos resíduos de construção, diante da utilização
de fôrmas para execução das estruturas de concreto, por
exemplo.
No Brasil, pesquisas realizadas em alguns municípios
indicam uma pequena variabilidade na composição dos
RCD gerados. Brito Filho (1999) faz uma análise da
composição média em massa dos resíduos de construção e
demolição depositados no aterro de Itatinga na cidade de
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
67
São Paulo, conforme mostra a Figura 3-3. Nesta análise,
verifica-se que em torno de 95% destes resíduos (33% de
concreto e argamassa, 32% de solo e areia, 30% de
materiais cerâmicos, 5% de outros materiais) são
classificados como resíduo Classe A, pela resolução nº. 307
do CONAMA, havendo a possibilidade de reciclagem como
forma de agregados para a construção civil (ANGULO et al,
2002a).
Pinto (1989 apud LIMA, 1999) analisou a composição
média dos resíduos de construção em São Carlos/SP,
provenientes da coleta de 33 amostras de diferentes pontos
espalhados pelo município, em 1985 (Figura 3-4). Verifica-
se que a presença mais significativa de materiais no resíduo
é as argamassas (aproximadamente 64%) e os
componentes cerâmicos (30%), sendo que os demais
compostos contribuem em menores quantidades.
Figura 3-3 – Composição média dos entulhos
depositados no aterro de Itatinga, São Paulo – PMSP
(a partir de BRITO FILHO, 1999).
Orgânicos
1%
Outros
4% Cerâmicos
30%
Argamassas
25%
Concreto
8%
Solo
32%
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
68
Figura 3-4 – Composição média dos resíduos de
construção no município de São Carlos, em 1985 (PINTO,
1989).
Argamassa (64%) Produtos cerâmicos (29,1%)Concreto (4,2%) Pedras (1,4%) Ladrilhos de concreto (0,4%) Cimento amianto (0,4%)Papel e matéria orgânica (0,2%) Solo (0,1%)Blocos de concreto (0,1%) Madeira (0,1%)Vidro (0%) Metais e plasticos (0%)
Zordan (1997) estudou a composição de reciclado
produzido na usina de reciclagem pública de Ribeirão Preto
em 1986, onde coletou amostras com intervalos
aproximados de uma semana entre as coletas. Latterza
(1997 apud LIMA, 1999) também determinou a composição
de reciclado produzido nesta mesma recicladora. Pode-se
observar os resultados destas duas pesquisas pelas
Tabelas 3-1 e 3-2. É possível perceber, que a composição
do resíduo para a mesma usina de reciclagem e mesma
localidade, varia um pouco de uma pesquisa para outra.
Entretanto, esta variabilidade não atinge grandes
proporções apesar das amostras serem coletadas em
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
69
diferentes períodos, verificando assim que as porcentagens
dos materiais componentes estão na média de cada amostra
coletada em um mesmo local.
Tabela 3-1 – Composição do reciclado produzido em
Ribeirão Preto/SP no período de setembro e outubro de
1996 (ZORDAN, 1997).
Materi
al
Presente
Porcentagem dos materiais presentes (% em
massa)
Amostras
A B C D
M
édia
Argamassa
3
6,
8
3
5,
7
3
7,
9
3
9,
4
3
7,4
Concreto
1
9,
8
2
1,
6
2
1,
5
2
1,
7
2
1,1
Cerâmica
1
4,
6
2
5,
9
2
3,
8
1
8,
9
2
0,8
Pedras
2
7,
4
1
3,
4
1
2,
4
1
7,
6
1
7,7
Cerâmica Polida
1
,2
2
,6 4
1
,9
2
,5
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
70
Outro
s
0
,2
0
,8
0
,4
0
,5
0
,5
Total
1
00
1
00
1
00
1
00
1
00
Tabela 3-2 – Composição do agregado reciclado
produzido na Central de Reciclagem de Ribeirão Preto/SP
(LATTERZA, 1997 apud LIMA, 1999).
Mater
ial
presente
Porcentagem de cada material (% em massa)
Arga
massa 46,2
Cerâ
micos 19,2
Brita 19,1
Concr
eto 14,6
Torrõ
es 0,9
Total 100
Em estudos feitos por Carneiro et al. (2001),
determinou-se que a composição do resíduo de construção
e demolição em Salvador/Ba, apresenta 94% de materiais
com alto potencial de reciclabilidade, sendo utilizado como
agregado na construção civil. A composição média do
entulho de Salvador pode ser observada pelo gráfico da
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
71
Figura 3-5. Os resultados mostram a maior parte dos
resíduos de construção e demolição que podem produzir
agregados com grande potencial de reciclagem são
constituídos por concreto e argamassa (53%), seguido dos
materiais cerâmicos (14%) e rochas (5%) que perfazem em
torno de 72% de todo o material que compõem a amostra.
Figura 3-5 – Composição média dos resíduos de
construção no município de Salvador/Ba (CARNEIRO et al.,
2001).
Concreto e
Argamassa 53%
Rochas 5%
Solo e Areia 22%
Cerâmica Branca
5%Cerâmica Vermelha
9%
Outros 2%
Plástico 4%
De maneira geral, as diferenças observadas na
composição dos resíduos de construção e demolição podem
ser atribuídas ao tipo de construção ou obra em que o
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
72
mesmo foi gerado, as técnicas e os insumos utilizados no
setor construtivo. Outro aspecto atrelado a isso é a técnica e
o período de amostragem utilizada, bem como o local de
coleta da amostra (canteiro de obra / aterro) (CARNEIRO et
al., 2001). Diante disso, evidencia-se que nos resíduos
analisados em obras brasileiras típicas, ocorre o predomínio
na composição destes, a argamassa e materiais cerâmicos
(Figuras 3-3 e 3-4), sendo geralmente provenientes dos
resíduos de construções. Por outro lado, estas mesmas
porcentagens não são fortemente evidenciadas nos índices
levantados em Hong Kong (Figuras 3-1 e 3-2).
Há de se observar ainda, no Brasil, um pequeno
número de resíduos advindos de demolições, constatando
assim, a predominância de resíduos originados de
construção, sendo este fato verificado pela quantidade
reduzida de concreto e alvenaria na composição dos
resíduos de demolição.
Outra importante ressalva é mencionada por Leite
(2001), que observa uma grande quantidade de materiais
inertes (argamassas, concretos e cerâmicos) com alto
potencial de reaproveitamento para a produção de
agregados, aproximadamente 40 e 70% para os resíduos de
construção e demolição, respectivamente.
3.1.5 Geração de Resíduos de Construção e
Demolição
Os resíduos gerados pelas atividades da construção
civil, apresentam atualmente os maiores índices de
crescimento, dentre os outros tipos de resíduo produzidos
nas grandes cidades. Os resíduos de construção e
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
73
demolição representam 20 a 30%, e às vezes até mais de
50% dos resíduos sólidos depositados em cidades no
mundo (CHUNG & LO, 2003). Como já comentado
anteriormente, os resíduos de construção e demolição são
gerados pelas atividades de reformas, reparos e demolições
de edificações, além de uma grande quantidade de
materiais desperdiçados e danificados, resultante do método
de execução dos serviços (CARNEIRO et al., 2001; BRITO
FILHO, 1999; ÂNGULO et al., 2002).
Conforme a Revista Téchne (2001), ainda é inevitável
a geração de resíduos de construção e demolição, mesmo
com o avanço no controle de desperdícios dos materiais de
construção. Verifica-se no Brasil, que o desperdício varia
muito de obra para obra, estimando valores médios em
torno de 8%. Grigoli (2000 apud MEIRA & ARAÙJO, 2004)
aponta que do total de materiais de construção
desperdiçados em obra, cerca de 50% são reincorporados à
obra, enquanto que a outra metade é considerado entulho.
Tendo em vista o aumento do número de construções
nas cidades, conseqüentemente, há uma grande geração de
resíduos (MEIRA & ARAÙJO, 2004). Pinto (2000 apud
MEIRA & ARAÙJO, 2004) estima que para cada metro
quadrado construído geram-se 150 quilos de resíduos de
construção.
Segundo John (2000), nos estudos feitos por Pinto
(1999) nas grandes cidades brasileiras, mostram que
aproximadamente 50% dos RCD, provêm de atividades
realizadas no canteiro de obra, enquanto que as obras de
manutenção e demolição geram a outra metade. Em países
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
74
desenvolvidos, onde há intensa atividade de renovação das
edificações, grande área urbana e infra-estrutura, a
freqüência de resíduos proveniente de demolições é maior
(PERA, 1996 apud PINTO, 1999). Na Europa Oriental e
Alemanha, estimativas apontam que apenas 2/3 da
quantidade de resíduos são gerados pela atividade de
demolição e manutenção, e os outros 1/3, por atividades de
construção (BOSSING et al., 1996 apud JOHN, 2000).
Estima-se que nos Estados Unidos à produção de
resíduos de construção chega a 31,5 milhões de
toneladas/ano, equivalendo a quase 25% de todo resíduo
sólido produzido (PENG et al., 1997). De acordo com a EPA
(1998), neste mesmo país, 33% dos resíduos de construção
provêm de demolições não residenciais e que somente 8%
dos resíduos são caracterizados pelas atividades de
construção. Tais relações na variação da quantidade de
resíduos geradas, são função principalmente da tecnologia
e sistema construtivo empregado, da intensidade da
atividade construtiva de cada região, das taxas cobradas
contra desperdícios de materiais e manutenção das
construções, da atuação da indústria da construção na
economia do país.
Pode-se avaliar, de maneira geral, que a quantidade
em volume de resíduos de construção e demolição gerados
nas cidades é igual ou maior que o volume de resíduos
sólidos municipais (EU, 1999 apud JOHN, 2000; JOHN &
AGOPYAN, 2000).
A geração de resíduos de construção e demolição em
muitos países tem índices elevados, variando entre 136 a
3.359 kg/hab.ano e contribuindo com uma percentagem em
torno de 13 a 67% em massa, na geração dos resíduos
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
75
sólidos urbanos (MIRANDA & SELMO, 2003; ÂNGULO et
al., 2003a; ÂNGULO et al., 2001b; JOHN & AGOPYAN,
2000). Pinto (1999), em estudos feitos no Brasil, estimou
que a geração de resíduos de construção em algumas
cidades brasileiras de médio a grande porte, como
Campinas, Jundiaí, Belo Horizonte, Santo André, São José
dos Campos, Ribeirão Preto, Salvador e Vitória da
Conquista, variou de 230 kg a 760 kg/hab.ano,
representando a massa dos resíduos gerados entre 41%
(Salvador, BA) a 70% do resíduo sólido municipal em
massa. A geração per capita de RCD estudada em algumas
cidades brasileiras pôde ser estimada pela mediana de 500
kg/hab.ano (JOHN & AGOPYAN; JOHN, 2000; ÂNGULO et
al., 2002, ÂNGULO et al., 2003a). Porém, a Prefeitura
Municipal de São Paulo estima uma geração per capita de
aproximadamente 280 kg/hab.ano (BRITO FILHO, 1999).
De acordo com Environmental Protection Department
(2000, apud POON et al., 2001); Chung & Lo (2003), em
2000, 42% do total de resíduos gerados em Hong Kong
(16500 toneladas de resíduos sólidos dispostos nos aterros)
são considerados resíduos de construção e demolição.
Estima-se que na Inglaterra são gerados em torno de
40 milhões de toneladas por ano de resíduos de construção
e demolição, excluindo os resíduos de escavações, o qual
represente mais de 30 milhões de toneladas (MCGRATH,
2001).
Na União Européia, aproximadamente 180 milhões de
toneladas de resíduos de construção e demolição são
produzidos anualmente (DORSTHORST & HENDRICKS,
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
76
2000 apud MEIRA & ARAÙJO, 2004). Atrelado a isso, gera-
se na Europa uma média de entulho em torno de 600 a 918
kg/hab.ano, superior a estimativa de 390 kg/hab.ano de
resíduos sólidos municipais (LAURITZEN, 1998 apud JOHN,
2000). Analisando estes dados, os resíduos de construção
contribuem nas seguintes parcelas: concreto – 41%,
alvenaria – 40%, asfalto – 10%, cerâmica e azulejos – 7%,
sendo que os resíduos de concreto representam
consideravelmente 68 milhões de toneladas/ano no volume
total de material de RCD (BUTTLER, 2003).
Países como a Alemanha, produz cerca de 45 milhões
de toneladas/ano de resíduos, sendo que 25% do volume
total são compostos por resíduos de concreto (KILBERT &
CHINI, 2000 apud BUTTLER, 2003). A Finlândia gera
anualmente 1 milhão de resíduos de demolição
(WAHLSTRÖM et al., 2000), assim como a França,
aproximadamente 25 milhões de toneladas de material de
demolição são gerados a cada ano, o que representa 50%
de todo o resíduo sólido que é gerado anualmente no país
(QUEBAUD & BUYLE-BODIN, 1999 apud LEITE, 2001).
Já na Grécia, a indústria da construção teve um
desenvolvimento rápido nos últimos anos devido aos
preparativos aos Jogos Olímpicos em Atenas em 2004.
Estudos recentes desenvolvidos pelo National Statistical
Service of Greece (NSSG), estimou que a quantidade de
RCD gerados para o ano de 2000, não incluindo os resíduos
de construção e conservação das atividades de
infraestrutura, foi de 2.092.387 toneladas, gerando uma
média de 191 kg per capita. Em nível de comparação, a
média gerada (191 kg/hab.ano) é mais baixa que a média do
resto dos estados membros da União Européia
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
77
(aproximadamente 656 kg/hab.ano incluindo os resíduos
das atividades de infraestrutura) (FATTA et al., 2004).
Diferente de outros países, nos Estados Unidos, a
geração per capita de RCD é de 463 kg/hab.ano (EPA,
1998), valor inferior ao estimado de resíduo municipal: 720
kg/hab.ano (EPA, 1996 apud JOHN, 2000). Esta inversão na
taxa de geração de resíduos per capita, pode estar atrelada
ao menor peso da construção civil na economia norte-
americana (6,58% do PIB), ou atribuída a menor geração de
resíduos pelas atividades construtivas (HENDRICKSON;
HARVOATH, 2000 apud JOHN, 2000).
De modo geral, a Tabela 3-3 resume a grande
variabilidade das estimativas na produção dos resíduos de
construção e demolição encontrados na bibliografia.
Observa-se que existe uma grande variação das
estimativas. Uma das razões é a classificação do que é
considerado resíduo de construção, sendo que outras
razões dependem relativamente da idade das edificações,
da tecnologia empregada, da intensidade da atividade de
construção em cada país, entre outras (JOHN & AGOPYAN,
2000).
Tabela 3-3 - Estimativas da geração de resíduos de
construção civil (segundo JOHN, 2000)
P
aí
Quantida
de Anual Fonte
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
78
s M
t
o
n/
a
n
o
k
g/h
ab.
S
u
é
ci
a
1
,2
–
6
1
36
–
680
TOLSTOY, BÖRKLUND &
CARLSON (1998); EU (1999
H
ol
a
n
d
a
1
2,
8
-
2
0,
2
8
20
-
130
0
LAURITZEN (1998);
BROSSINK; BROUWERS & VAN
KESSEL (1996); EU (1999)
E
U
A
1
3
6
–
1
7
1
8
22
–
130
0
EPA (1998); PENG,
GROSSKOPF, KIBERT (1994)
U
K
5
0
–
7
8
80
a
112
DETR (1998); LAURITZEN
(1998)
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
79
0 0
B
él
gi
c
a
7
,5
–
3
4,
7
7
35
–
335
9
LAURITZEN (1998); EU (1999)
D
in
a
m
ar
c
a
2
,3
–
1
0,
7
4
40
–
201
0
I
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3
5
–
4
0
6
00
–
690
A
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7
9
–
3
0
0
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63
–
365
8
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
80
J
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p
ã
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9
9
7
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P
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3
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3
25 EU (1999)
B
ra
sil
n
.a
.*
2
30
–
660
PINTO (1999)
*não avaliado
Vale ressaltar que em cidades metropolitanas, os
resíduos de construção e demolição são responsáveis pela
exaustão das áreas de aterro, já que estes correspondem a
mais de 50% (m/m) dos resíduos sólidos municipais.
Considerando a ausência de áreas adequadas,
próximas e disponíveis para a deposição destes materiais, o
gerenciamento integrado dos RCD, é atualmente, um dos
grandes desafios para as administrações públicas e
privadas, principalmente no município de São Paulo, tendo
em vista que 1200 toneladas/dia dos resíduos de construção
e demolição são dispostos irregularmente em locais como
mananciais e margens de cursos d’água, embaixo de
viadutos, próximos a rodovias, ruas pouco movimentadas e
terrenos baldios (FUKUROZAKI & SEO, 2004). A exemplo
são gastos a cada ano em São Paulo, aproximadamente R$
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
81
45.000.000 em coleta, transporte e deposição destes
resíduos, gerando assim, um alto custo sócio-econômico e
ambiental (ANGULO et al., 2003b).
No Brasil, estima-se que os resíduos de construção e
demolição descartados contribuem na ordem de 68,5 x 106
toneladas/ano. Contudo, 95% destes resíduos (65,0 x 106
toneladas/ano) são de interesse para a reciclagem
(natureza mineral inorgânica) (ÂNGULO et al., 2003b;
ÂNGULO et al., 2002).
3.1.5.1 Perdas e desperdício de materiais na
construção civil
As perdas de materiais nos processos construtivos
implicam em um aumento do impacto ambiental,
ocasionados pelo maior consumo de materiais e energia,
quando este ultrapassa os índices pré-estabelecidos em
projeto para a produção ou manutenção de um determinado
bem (ANDRADE, 1999; SOUZA et al., 1999 apud JOHN,
2000).
John (2000, p.19) verifica que na maioria dos
procedimentos de construção utilizados é inevitável a
ocorrência de um determinado volume de perdas. Para
tanto, o autor cita que “a fração das perdas que excede a
este limite mínimo característico da tecnologia é
considerada desperdício”. Os desperdícios de materiais
podem ser caracterizados pelos resíduos de construção
retirados das obras ou também de materiais incorporados
por defeitos de execução e pela correção de serviços
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
82
(argamassas com espessura excessiva ao estabelecido em
projeto ou nas especificações técnicas) (PINTO, 1989,
FRANCHI et al., 1993, SOUZA et al., 1998, apud LIMA,
1999).
De acordo com Leite (2001); John & Agopyan (2000),
as perdas podem ser geradas nas diferentes etapas do ciclo
de vida da obra, devido à ingerência dos processos
construtivos, desde a fase de planejamento e
implementação da obra até a fase final quando da
manutenção. Alguns exemplos mais comuns que acabam
traduzindo em perdas são citados como: a seleção de uma
tecnologia inadequada, falta de especificações técnicas e
padronização dos elementos construtivos, danificações de
serviços já prontos quando na execução de serviços
subseqüentes, a falta de um gerenciamento efetivo quanto à
recepção, estocagem, transporte, aplicação e manuseio dos
materiais.
Pesquisas apontam que os índices de perdas de
materiais são significativamente maiores quando
comparados aos valores utilizados nos cálculos do custo do
empreendimento construtivo (SOIBELMAN, 1993;
FORMOSO et al., 1993; FORMOSO et al., 1998 apud
LEITE, 2001). Segundo Pinto (1999), estima-se que a
intensidade da perda de materiais realizada pelas pesquisas
brasileiras situa-se entre 20 e 30% da massa total de
materiais nos setores da construção empresarial. Para
tanto, como uma das conseqüências do alto índice de
perdas de materiais do setor construtivo está a onerosidade
dos custos finais do empreendimento, podendo chegar a um
aumento de 7,89% do custo total da obra (LEITE, 2001).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
83
È importante ressaltar que as perdas de materiais
durante a fase de construção, ou até mesmo em reformas e
manutenção são as principais causas da geração do resíduo
de construção (JOHN & AGOPYAN, 2000; CARNEIRO et
al., 2001). Entretanto, parte das perdas fica incorporada na
própria obra, na forma de componentes com dimensões
finais superiores àquelas projetadas. A outra parcela
converte-se em resíduo de construção, onde quantidade de
resíduo gerado corresponde, em média, 50% dos materiais
desperdiçados (PINTO, 1999; PINTO, 1995 apud
CARNEIRO et al., 2001).
Alguns índices mais recentes sobre perdas de
materiais na construção formal, realizados em
aproximadamente 63 novos canteiros de obras no Brasil,
estão presentes na Tabela 3-4.
É possível observar a grande variação nas perdas
entre os diferentes canteiros de obra de qualquer empresa
que usa uma mesma tecnologia. Dentre os materiais que
apresentam os maiores valores de perdas, se destacam as
argamassas. Tal fato advém de que muitas vezes, as
mesmas cumprem erroneamente, o papel de “consertar”
problemas acontecidos em serviços que precedem aqueles
que utilizarão estas argamassas (SOUZA et al., 2000).
Logo, esta variabilidade demonstra que é possível
combater as perdas e conseqüentemente minimizar a
geração de resíduos, sem haver uma mudança nas técnicas
ou metodologias utilizadas. Deste modo, devem ser
previstas a modulação e integração dos projetos, a definição
de uma política administrativa dos materiais (controle
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
84
sistemático de estocagem, manuseio e aplicação), investir
em mão de obra qualificada, utilizar ferramentas adequadas,
optar pela melhor técnica construtiva, buscar melhorias para
a redução dos desperdícios, almejando assim na menor
geração de resíduos e da racionalidade no uso dos recursos
não renováveis (PINTO, 1999; LIMA, 1999; JOHN &
AGOPYAN, 2000).
Tabela 3-4 - Perdas de materiais em novos canteiros
de obras e estimativas dos resíduos de construção (SOUZA
et al., 1999; ANDRADE, 2001apud ÂNGULO et al., 2002b).
Mate
riais
(%) Perdas de
materiais
(%)
Resíduos
M
í
n
i
m
o
M
é
di
a
M
áxi
mo Média
Conc
reto 2
9
2
3 1,3
Aço 4
1
1
1
6 7,7
Bloc
os e
tijolos
3 1
3
4
8 13
Plac
as 5
1
3
1
9 13
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
85
cerâmicas
Arga
massas 8
4
2
2
88 2,1
3.1.6 Impacto Ambiental Causado pelos Resíduos de
Construção e Demolição
Com o fenômeno da urbanização e adensamento das
cidades, o progresso da indústria e economia, o crescimento
no setor de transportes, nas últimas décadas, colocou em
evidência várias mudanças climáticas no planeta,
ocasionando o aquecimento global, o aumento do buraco da
camada de ozônio, as chuvas ácidas, os desmatamentos e
extinção partes da fauna e flora. Neste sentido, outro fator
responsável pelos impactos causados ao meio ambiente é
os produtos da construção civil: as edificações e suas
conexões viárias, hidráulicas e elétricas, que se fazem
presentes em todas as regiões ocupadas pelo homem, seja
ela urbana ou rural (JOHN, 2000).
O desenvolvimento da atividade construtiva, assim
como todas as atividades industriais contribuem diariamente
com o aumento da degradação ambiental, devido à enorme
quantidade de recursos naturais e energia consumida para
abastecer o setor, além do descarte e disposição
inadequada desses resíduos ou ainda, à falta de soluções
que absorvam essa produção gerada (CARNEIRO et al.,
2004; MANFRIN et al., 2004).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
86
No ambiente construído, além do consumo de recursos
na fase de construção, também são causados impactos
sobre o ambiente circundante, diante do grande consumo de
energia e água (ALAVEDRA et al., 1997 apud LEITE, 2001).
Os edifícios são responsáveis pelo consumo de 50% da
energia elétrica no Brasil (LAMBERTS & WESTPHAL, 2000
apud CARNEIRO et al., 2001), e na Inglaterra, cerca de
10% do consumo total de energia está associado à
produção e transporte de materiais da construção civil
(JOHN, 2000). Em atividades de canteiro, manutenção e
demolição geram, entre outros, resíduos, poeira e ruído. O
material particulado respirável, assim como os que são
gerados no processo de extração de agregados e moagem
de matérias-primas, como o cimento e a cal, são fontes
sérias de poluição do ar, liberando grandes quantidades de
CO2 .
Outros aspectos ainda considerados irrelevantes do
ponto de vista do processo construtivo, como a
contaminação de água pela limpeza de caminhões
betoneiras ao final de cada dia de trabalho, também já vem
recebendo atenção de pesquisadores (CHINI; MBWAMBO,
1996 apud JOHN, 2000).
Desta forma, reduzir os impactos ao meio ambiente
causados pelos resíduos advindos da construção civil é uma
forma de aproximar o setor da sustentabilidade. Repensar
nos métodos e técnicas para a melhoria da questão
ambiental vem promovendo à indústria da construção a
incorporação de materiais reciclados para a produção das
argamassas de concreto. Essa tendência à construção
sustentável visa no fechamento do ciclo de vida de um
produto ou material, de forma a reduzir a quantidade
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
87
descartada de matéria-prima, e maximizar a reciclagem e
reutilização das mesmas (PIETERSEN et al., 1998 apud
LEITE, 2001).
De um modo geral, para que se reduza o nível de
impacto da demanda ambiental sobre a atividade
construtiva, principalmente no que se diz respeito à geração
dos resíduos de construção e demolição, faz-se necessário
avaliar a hierarquia da política de gestão dos resíduos.
Peng et al. (1997), apresenta um modelo hierárquico
esquematizado na Figura 3-6. A formulação deste modelo
está presente nas principais legislações relativas a
resíduos, elaborado diante da experiência com os resíduos
sólidos municipais, onde a redução do volume do resíduo
implica diretamente em uma redução no custo e impacto
ambiental gerado (JOHN, 2000).
Como mostra esta hierarquia, a redução na geração
de resíduos na fonte é apontada como a melhor solução
para minimização da degradação ambiental e econômica. O
descarte de materiais impróprios para determinada
aplicação pode vir a ser reutilizado em outras, fazendo com
que o resíduo de determinado setor possa a ser utilizado
por outros, utilizando pouca energia e processamento. A
reciclagem dos resíduos vem a seguir, ocasionando a
transformação e incorporação destes resíduos em novos
produtos. Abaixo desta, encontra-se a compostagem, que
utiliza a parte orgânica dos resíduos e transforma em húmus
para o tratamento do solo; a incineração dos resíduos,
contribuindo com a geração de energia; e por fim o
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
88
aterramento, para resíduos contaminados e aqueles que se
tornarem impróprios para as demais alternativas.
BAIXO
ALTO
Figura 3-6 – Hierarquia da disposição dos resíduos de
construção e demolição (PENG et al., 1997).
A busca pelo reaproveitamento ou reciclagem dos
resíduos de construção e demolição como novo material
agregado no seu processo construtivo vem a contribuir na
diminuição dos impactos ambientais atualmente, já que a
tendência mundial é que a geração desses resíduos e o
desperdício das atividades da construção civil aumentem
ainda mais (ALTHEMAN, 2002).
Pinto (2000 APUD LEITE, 2001) enfatiza da
responsabilidade da indústria da construção com o seu
resíduo gerado no ambiente urbano. Gerenciar os resíduos
I
M
P
A
C
T
O
A
M
B
I
E
N
T
A
L
REDUÇÃO
REUTILIZAÇÃO
RECICLAGEM COMPOSTAGEM
INCINERAÇÃO
ATERRAMENTO
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
89
de construção e demolição, confinando no próprio canteiro
de obra ou no seu local de origem, representa, além da
minimização da degradação ambiental, menor gasto quanto
à remoção para locais distantes e futuros problemas com os
órgãos públicos.
3.2 RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE PNEUS E
BORRACHA
3.2.1 Considerações Gerais
Com o desenvolvimento da indústria química
petrolífera, o número de produtos elaborados com resina
sintética ou material polimérico vem aumentando
acentuadamente (FANG et al., 2001). Dentre os produtos
manufaturados com este tipo de material está a borracha,
sendo utilizada por diversas indústrias no mundo como
matéria-prima para a fabricação de seus produtos, por
exemplo, a indústria automobilística e de transporte, que
atualmente é uma das maiores consumidoras de borracha
(FUKUMORI et al., 2002).
Dentre os produtos manufaturados, um que mais se
destaca, ao nível de reciclagem são os pneus.
A deposição de pneus inteiros tem sido proibido na
maioria das operações em aterros sanitários, diante do
tamanho e volume expressivo deste tipo de material a ser
depositado, e a tendência deles flutuarem à superfície do
aterro com tempo (ELDIN & SENOUCI, 1992). O
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
90
acondicionamento de pneus em aterros vem resultando em
um esgotamento e minimização da vida útil dos mesmos,
além de empregar altos custos perante as taxas cobradas
com transporte e gestão.
O armazenamento de pneus usados em áreas
clandestinas ou empilhados em locais impróprios, como
terrenos baldios, é sem dúvida outra ameaça ao potencial
ambiental, causando riscos quanto à sua inflamabilidade e
proliferação de vetores (SIDDIQUE & NAIK, 2004; NEHDI &
KHAN, 2001). A queima clandestina ou acidental de pneus
usados gera grande poluição do ar, pois, uma vez os pneus
acesos, queimam a altas temperaturas e devido à
combustão incompleta, libera uma fumaça negra tóxica à
atmosfera contendo alto teor de dióxido de enxofre e outras
substâncias nocivas (NEHDI & KHAN, 2001, ELDIN &
SENOUCI, 1992). Além disso, o abandono ou acúmulo
deste material não traz apenas um problema ambiental, mas
também de saúde pública, diante do acúmulo das águas das
chuvas, formando ambientes propícios à disseminação de
doenças como a febre amarela e a dengue.
Recentemente, alguns países como a China, Coréia,
Japão, Estados Unidos têm dado maior atenção para a
utilização de pneus usados visando alcançar as metas de
proteção do meio ambiente e reciclagem dos mesmos
(FANG et al., 2001). Para se ter uma idéia, nos EUA, a
reciclagem saltou de 11% para 33% do total de sucata
produzida, devido ao uso como fonte de energia, em
pavimentação asfáltica e na transformação em outros
produtos
(http://www.bsi.com.br/unilivre/centro/experiencias/experienc
ia1332.html).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
91
A reciclagem de resíduos de borracha, bem como
outros resíduos materiais são de grande importância para
todas as indústrias no mundo (FUKUMORI et al., 2002).
Segundo Fang et al. (2001), a crescente importância da
reciclagem dos resíduos de pneus e borracha, se deve a (a)
Proteção do meio ambiente: a poluição ambiental causada
pelo acúmulo de resíduos de pneus e borracha torna o lugar
próprio para a proliferação de animais peçonhentos e
insetos, disseminando infecções e epidemias à população
(malária, cefalite, etc). Estudos epidemiológicos nos EUA
correlacionaram as epidemias fatais com a existência de
grandes estoques resíduos de pneus (ELDIN & SENOUCI,
1992). (b) Conservação de energia: as fontes de energia do
planeta estão diminuindo significativamente. A matéria-
prima para a indústria da borracha depende do petróleo em
sua grande parte, especialmente em países onde os
recursos da borracha natural são escassos. As borrachas
sintéticas e as fibras são muito usadas nestes países, sendo
que mais de 70% das matérias-primas são feitas a partir do
petróleo. Entretanto, os resíduos de pneus e borracha têm
alto valor energético, com aproximadamente 3,3 x 104 kJ/kg,
o qual tem o maior poder calorífico no setor dos resíduos
industriais, e é similar ao do carvão. Porém, se os resíduos
de pneus e borracha não forem reciclados, o valor teórico
perdido alcançará 3 x 1014
kJ, o que torna a reciclagem
destes resíduos significativos. (c) Uso como matéria-prima
industrial: fabricação de novos produtos feitos com a
reutilização dos resíduos de borracha (FANG et al., 2001).
3.2.2 Quantidade de Resíduos Gerados
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
92
Mundialmente, a indústria da borracha vem
consumindo anualmente mais de 15 milhões de toneladas
de borracha natural e mais de 31 milhões de toneladas de
produtos que utilizam esse material como matéria-prima
(FANG et al., 2001).
Entretanto, os pneus descartados em todo o planeta
têm alcançado uma quantidade em torno de 10 milhões
toneladas/ano, resultando em um relevante problema
ambiental, haja vista a necessidade de acondicioná-los em
aterros sanitários (FUKUMORI et al, 2002).
Atualmente, nos Estados Unidos, a grande quantidade
de resíduos sólidos gerados e depositados diariamente em
aterros ou em áreas clandestinas, vem se tornando um
problema sério. São gerados em torno de 5 bilhões de
toneladas de resíduos sólidos não-inertes a cada ano, dos
quais, mais de 270 milhões são considerados resíduos de
pneus (aproximadamente 3,6 milhões de toneladas de
pneus amontoados ao redor dos centros urbanos)
(SIDDIQUE & NAIK, 2004; RAGHAVAN et al., 1998). Além
disso, 300 milhões de pneus têm sido armazenados a cada
ano, sendo que apenas 45% desses resíduos são
depositados em aterros sanitários e/ou estocados em locais
irregulares (SIDDIQUE & NAIK, 2004). Esta estimativa de
mais de 270 milhões de resíduos de pneus, equivalem a
uma taxa de 1 pneu/pessoa (EPA, 1999 apud PIERCE &
BLACKWELL, 2003).
Segundo os autores Fedroff et al. (1996), a cada ano
nos EUA, são descartados aproximadamente 250 milhões
de pneus automotivos e 25 milhões de pneus de caminhões.
Estes números obtiveram um crescimento nos últimos cinco
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
93
anos, pois além do aumento da frota automotiva e desgaste
natural dos pneus, ocorreram “recalls” com a troca de
milhões de pneus defeituosos pelas montadoras de veículos
(PIERCE & BLACKWELL, 2003).
A partir do ano de 2000, 48 estados dos 50 que
compõe os EUA, obtiveram uma legislação e/ou
regulamentação quanto à disposição dos resíduos de pneus
em aterros, minimizando a entrada destes resíduos, diante
do rápido esgotamento da área para deposição. Destes 48
estados, trinta e três proibiram totalmente os pneus
dispostos em aterros, outros doze estados, proibiram todas
as formas de resíduos de pneus estarem dispostos fora dos
aterros, e cinco estados não teve restrições quanto a
deposição dos resíduos de pneus (SIDDIQUE & NAIK,
2004). Outro exemplo é a França, que produz
aproximadamente 10 milhões de tiras de pneus a cada ano,
não aceitou a abertura ou a implantação de novos aterros
sanitários a partir de julho de 2002, devido à criação de uma
nova lei que proíbe qualquer novo aterro no país.
Devido à proibição de aberturas de novos aterros em
países acima citados, métodos inovadores para a
reciclagem de resíduos de pneus e borracha vêm sendo
demandados. No estado da Carolina do Sul (EUA), o
Departement of Helth and Environmental Control (DHEC),
criou um fundo de amparo aos governos municipais, como
suporte às pesquisas para reciclagem de resíduos de pneus
(PIERCE & BLACKWELL, 2003).
De acordo com dados disponíveis durante o ano de
2000 nos EUA, segundo a Rubber Manufacture’s
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
94
Association (2000 apud SIDDIQUE & NAIK, 2004),
aproximadamente 15 milhões dos 270 milhões dos resíduos
de pneus gerados anualmente são exportados, 10 milhões
são reciclados em novos produtos, 20 milhões são
processados como borracha moída, 125 milhões são usadas
como combustível e 30 milhões dos resíduos são utilizados
em aplicações na engenharia civil.
No Japão, aproximadamente 1 milhão de toneladas de
resíduos de pneus são gerados a cada ano (FUKUMORI et
al., 2002). Com base no balanço de energia, a reciclagem
de resíduos de borracha tem sido preferível, diante das
outras formas de reciclagem. Porém, a reciclagem de
materiais na forma de pedaços e reformulação das
borrachas resultou somente 11% do total de resíduos de
pneus gerados no Japão em 1998 (TIRE INDUSTRY OF
JAPAN, 1998 apud FUKUMORI et al., 2002).
No Brasil, 100 milhões de pneus usados estão
espalhados e estocados em aterros, leitos de rios e lagos,
terrenos baldios, segundo a estimativa da Associação
Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip)
(http.//revista.fapemig.br/10/pneus.html). Em 2001, foram
produzidos 45 milhões de pneus, sendo que
aproximadamente 15 milhões exportados e 30 milhões
destinados ao consumo interno.
Para deter a grande quantidade de pneus descartados
em diversos países do mundo, faz-se necessário à
motivação e a proposição de medidas mitigadoras dos
impactos ambientais e a realização de pesquisas e novas
tecnologias visando à reciclagem de pneus e borrachas.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
95
3.2.3 Composição e Características dos Resíduos
Os pneus são compostos por uma complexa
formulação elastomérica, por fibras e arames de aço, sendo
que estes são feitos pelo entrelaçamento das fibras
reforçando toda a extensão transversal dos pneus
(SIDDIQUE & NAIK, 2004).
Os componentes presentes em maior quantidade na
borracha dos pneus são a borracha natural e as borrachas
sintéticas de estireno-butadieno e de polibutadieno
(GOULART et al., 1999). Porém há outros tipos de materiais
usados para a manufatura dos pneus, tais como, os
compostos de enxofre, a resina fenólica, os óleos, as ceras
de petróleo, os pigmentos (óxido de zinco e dióxido de
titânio), as fibras de poliéster e nylon, o negro de fumo
(carvão), os ácidos gordurosos, os materiais inertes e os
arames de aço (RUBBER MANUFACTURE`S
ASSOCIATION, 2000 apud SIDDIQUE & NAIK, 2004).
As principais características das borrachas de pneus
são o negro de fumo (carvão), utilizado para conferir à
borracha, resistência aos esforços e à abrasão. Já os óleos
são misturas de hidrocarbonetos aromáticos que servem
para conferir maciez à borracha e aumentar sua
trabalhabilidade durante a confecção dos pneus. O enxofre
é usado para ligar as cadeias de polímeros dentro da
borracha e também para endurecer e prevenir deformação
excessiva pelas elevadas temperaturas. O acelerador é
tipicamente um composto organo-sulfúrico que age como
um catalisador para o processo de vulcanização. O óxido de
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
96
zinco e o ácido esteárico também agem para controlar a
vulcanização e realçar as propriedades físicas da borracha
(GOULART et al., 1999).
3.2.4 Origem e Processos de Transformação dos
Resíduos
3.2.4.1 Origem
Os resíduos de borracha são provenientes de diversas
fontes como pneus usados e sucateados, produtos de pós-
consumo, tubos de borracha, solados de sapatos, entre
outras sobras de borracha geradas pelos diferentes
processos de industrialização desse tipo de produto (FANG
et al., 2001; FUKUMORI et al., 2002).
A procedência da maior parte dos resíduos vem do
descarte dos pneus chamados inservíveis – sem condições
de rodagem ou de reforma. Milhões destas unidades de
pneus são gerados anualmente em todo o mundo. Isto se
deve ao crescimento abrupto do número de veículos que
vem sendo comercializados, somados aos milhões de pneus
que são trocados perante o desgaste natural, por defeitos
ocorridos na industrialização ou atém mesmo pelo fim da
vida útil dos mesmos.
Na indústria de pneus, a origem ou a maior parte na
geração destes resíduos geralmente são provenientes de
falhas no sistema operacional da máquina de cortar pneus
ou também gerados no processo primário e/ou secundário,
em função do acabamento dado a cada pneu produzido
(SIDDIQUE & NAIK, 2004).
No entanto, a classificação dos resíduos de pneus é
verificada de acordo com a origem dos resíduos
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
97
descartados em cada um dos diferentes processos da
indústria. Sendo assim, Siddique & Naik (2004) classificam
os resíduos de pneus em:
a) Pneus defeituosos
Estes tipos de resíduos são produzidos pelas
máquinas que executam os cortes dos pneus. Na operação
destas máquinas podem ocorrer falhas, podendo cortar o
pneu em duas partes, ou ainda, separar as paredes laterais
da linha dos pneus.
b) Pneus fragmentados / lascados
A produção de pneus fragmentados ou lascados
geralmente envolve o processo primário e secundário, ou
ambos as operações associadas. Os tamanhos dos
fragmentos de pneus produzidos no processo primário
podem variar, nas maiores, entre 300 a 460 mm de
comprimento por 100 a 230 mm de largura, e nas menores,
entre 100 a 150 mm em comprimento, dependendo do
modelo das máquinas e da condição com que elas
executam os acabamentos.
A produção de lascas de pneus, normalmente
classificada entre 76 a 13 mm, vem sendo requerida por
ambos processos (primário e secundário) visando alcançar
uma quantidade adequada para redução do volume (READ
et al., 1991 apud SIDDIQUE & NAIK, 2004).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
98
3.2.4.2 Processamento dos resíduos
As borrachas moídas para aplicação comercial podem
ser classificadas segundo seu tamanho. Para tanto, as
maiores tem aproximadamente 19 mm e as menores 0,15
mm (retidos na peneira 100). Isto depende do tipo de
equipamento de redução de tamanho e de qual a finalidade
da aplicação com uso deste material (SIDDIQUE & NAIK,
2004). Para tanto, se utilizam na transformação dos
resíduos de pneus em borracha moída, basicamente dois
estágios: a separação magnética, para capturar as
impurezas (fios de aço e fibras) presentes nos pneus, e,
peneiramento onde se podem recuperar, pela retenção nas
peneiras do material moído, várias frações de tamanho das
borrachas.
Para a obtenção de finas partículas ou pó de borracha,
sendo que as suas dimensões variam entre 4,75 mm
(passante na peneira 4) até 0,075 mm (retidos na peneira
200), geralmente utilizam-se os processos de moagem
mecânica, processo granular ou peneiramento e processo
de micro-moagem (SIDDIQUE & NAIK, 2004).
Na moagem, os resíduos de pneus são colocados em
um moedor com tambores corrugados e rotatórios, com
aberturas de vários tamanhos na malha do tambor, sendo
reduzido o material e separado por várias frações de
tamanho. Neste processo é comum encontrar irregularmente
partículas com área superficial maior, entre 5 mm a 0,5 mm
(passante da peneira 4 e retidos na peneira 40,
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
99
respectivamente), sendo comumente consideradas como
borrachas moídas.
No processo granular envolve a separação das
partículas pela agitação de peneiras justapostas com
aberturas de diferentes tamanhos, retendo assim em cada
peneira, partículas com diferentes dimensões, variando de
9,5 mm a 0,5 mm (retidos na peneira 40).
Já o processo de micro-moagem é usado quando se
deseja obter uma redução dos resíduos a micro partículas.
Estas partículas variam de 0,5 mm a 0,075 mm.
Outra forma de redução no volume de resíduos de
pneus em qualquer tamanho pode ser alcançada por
processo criogênico ou mecânico.
O processo de moagem criogênica consiste em resfriar
os resíduos de pneus e borracha para atingir e ultrapassar a
temperatura de transição vítrea. Este processo é realizado
pela exposição de nitrogênio líquido aos resíduos, onde que
pela fragilidade do material e pela moagem do processo, os
mesmos se quebram em pequenas partículas gerando uma
superfície lisa e angular (ELDIN & SENOUCI, 1992, ALI et
al., 1993). Segundo o autor, a moagem criogênica é um dos
meios apropriados por obtenção das impurezas contidas
nos pneus, tais como os fios de aço e pequenas fibras
existentes.
Pneus e borrachas moídas por processo mecânico é
muito mais barato e vantajoso, se comparado a outros
processos acima citados. Os moedores mecânicos visam
fragmentar ou reduzir pneus e borrachas para tamanhos de
partículas que variam de polegadas a frações de uma
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
100
polegada, sendo possível também à remoção dos fios de
aço e das fibras das partículas de borracha por um sistema
a vácuo e magnético acoplado a qualquer um dos
processos.
Outro tipo de processamento para transformação dos
resíduos de pneus em matéria-prima para outros produtos é
o processo pirolítico. A pirólise é um processo de
termoconversão realizado sob atmosfera isenta de oxigênio
e proporcionado pela adição de calor a um material
carbonáceo. (GOULART et al., 1999). Este processo
emprega altos custos na reciclagem dos resíduos de pneus,
tornando esta técnica de reciclagem um pouco inviável.
Para se ter uma idéia, os resíduos de pneus como matéria-
prima na produção de negro de fumo por processo pirolítico,
apresentam baixa qualidade dos que provém de óleo de
petróleo e, além disso, são mais caros (SIDDIQUE & NAIK,
2004).
3.2.5 Possíveis Aplicações dos Resíduos de Pneus e
Borracha
Certamente, os impactos ambientais causados pela
geração e disposição dos resíduos de pneus e borracha em
diversos países, impulsionaram nas últimas décadas,
algumas propostas de pesquisas na reciclagem e/ou
reutilização dos resíduos de pneus e borracha.
Segundo Siddique & Naik (2004), Hernández-
Olivares et al. (2002), Nedhi & Khan (2001), Raghavan
(1998), Eldin & Senouci (1992) algumas alternativas para a
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
101
redução do impacto causado pelos resíduos de pneus e
borracha já vem sendo aplicada há muitos anos.
Uma possível aplicação é a incineração dos pneus
para produção de energia ou vapor. Resíduos de pneus
podem ser utilizados em fornos da indústria cimenteira,
como combustível alternativo no lugar do carvão, sendo
tecnicamente possível, mas economicamente inviável,
devido ao grande capital de investimento envolvido na
modificação e manipulação do sistema alimentador de
combustível.
No que concerne a reciclagem pelo processo de
moagem mecânica, muitas são as aplicações dos resíduos
de pneus e borracha, seja como uso potencial na fabricação
de bons produtos industriais (materiais de carpetes e pisos
emborrachados, paralamas e acessórios para veículos,
produtos plásticos, selantes, solados para sapatos, etc),
seja como materiais utilizados na construção civil (material
de enchimento como sub-base para estradas e rodovias,
tijolos, divisórias e paredes, pisos emborrachados, mistura
asfáltica para pavimentação, como mistura no concreto,
entre outras) e também em combustíveis para alimentar
fornos industriais (SIDDIQUE & NAIK, 2004; FANG et al.,
2001).
3.2.5.1 Aplicações potenciais dos resíduos de pneus e
borracha na construção civil
As pesquisas com o uso de resíduos de pneus sejam
eles triturados, fragmentados ou moídos, aplicados na
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
102
construção civil, vem sendo encorajado nos últimos anos. A
reciclagem destes resíduos na indústria da construção vem
se tornando uma prática importante quanto à minimização
da degradação ambiental ocasionada pelo volume de pneus
descartados todos os anos ao meio ambiente.
Os pneus inteiros ou em pedaços podem ser
reutilizados na construção de recifes artificiais em
ambientes marinhos, em quebra-mares, controle de erosão
dos
solos, muros de arrimo, drenagem de gases em aterros
sanitários, como meio filtrante em tanques sépticos, como
camada de drenagem para estradas, entre outros (PIERCE
& BLACWELL, 2003; ELDIN & SENOUCI, 1992;
http.//revista.fapemig.br/10/pneus.html).
Também, estudos recentes comprovam que a
utilização de resíduos de pneus em misturas asfálticas tem
sido muito promissora. Os resultados mostram que os
asfaltos emborrachados têm melhor resistência à
derrapagem, redução das rachaduras por fadiga e maior
vida útil do pavimento, quando comparado aos asfaltos
convencionais (SIDDIQUE & NAIK, 2004; NEHDI & KHAN,
2001; RAGHAVAN et al., 1998; FEDROFF et al., 1996).
Entretanto, o custo inicial de asfaltos emborrachados é 40 a
100% maior que os asfaltos convencionais, e seus
benefícios em longo prazo ainda são incertos (FEDROFF et
al., 1996; NEHDI & KHAN, 2001). Ainda assim, a indústria
asfáltica absorve aproximadamente 30% a 40% de resíduos
de pneus gerados (NEHDI & KHAN, 2001; RAGHAVAN et
al., 1998).
Embora o uso de pneus de borracha reciclado em
pavimentos asfálticos seja muito praticado, outras possíveis
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
103
aplicações dos resíduos de pneus e borrachas vêm sendo
avaliadas como, material de enchimento (sub-bases) na
construção de estradas e rodovias, em barreiras acústicas,
e outras estruturas de transporte cuja resistência mecânica
na estrutura, não é a principal importância (RAGHAVAN et
al., 1998).
Além disso, nas últimas décadas, uma maior atenção
tem sido dada ao uso de pneus e borrachas reciclados em
misturas de concreto de cimento Portland (CCP),
particularmente para aplicações na construção de rodovias
(NEHDI & KHAN et al., 2001; RAGHAVAN et al., 1998). Esta
solução proposta tem melhorado as propriedades de
plasticidade e trabalhabilidade dos concretos,
principalmente na Espanha e alguns países da Europa,
onde os pavimentos de concreto estão cada vez mais
escassos, devido a maior dificuldade da aplicação do
concreto convencional, e por estas apresentarem
comportamento rígido e serem factíveis à rachadura, diante
da menor plasticidade deste concreto (HERNÁNDEZ-
OLIVARES et al., 2002).
Porém, grandes benefícios podem resultar do uso de
resíduos de pneus e borrachas em misturas de CCP,
especialmente em circunstâncias onde as algumas
propriedades como, baixa densidade, aumento da dureza e
ductibilidade, alta resistência ao impacto, e um maior
isolamento térmico e acústico são desejados (NEHDI &
KHAN, et al. 2001; PIERCE & BLACWELL, 2003). Siddique
& Naik (2004), apontam outros possíveis usos dos concretos
emborrachados em diversas áreas da engenharia civil, tais
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
104
como em bloco de fundação, em estação de estrada de
ferro, lajes para pavimentação, tubos de concreto pré-
fabricado, em barreiras de concreto e fachadas.
Entretanto, em estudos feitos em concretos de alta
resistência confeccionados com sílica fume e modificados
com uma baixa fração volumétrica de resíduos de borracha,
comprovou-se que a incorporação de materiais
elastoméricos como os resíduos de borracha, na pasta de
concreto, vêm melhorando o desempenho contra o fogo,
reduzindo assim o risco de fragmentação do concreto de
alta resistência na ocorrência de um incêndio
(HERNÁNDEZ-OLIVARES & BARLUENGA, 2004).
Além dos concretos, a aplicação de resíduos de pneus
reciclados em argamassas também vem se tornando viável.
Em estudo feitos por Al-Akras & Smadi (2002 apud
SIDDIQUE & NAIK, 2004) demonstram que a adição de
partículas de borracha em argamassas, como parte da
substituição da areia em cinco traços diferentes (em peso),
variando de 0 a 10%, onde resultaram em uma menor
trabalhabilidade destas argamassas com pó de borracha,
devido a grande área superficial de material cimentício.
Outras propriedades também foram conferidas como um
aumento na resistência à compressão, tensão e flexão
quando comparado ao traço padrão. Com isso, verifica-se a
possibilidade de aplicação dos resíduos de pneus e
borrachas também em argamassas.
Outro material reciclado com resíduos de pneus,
conhecido comumente como flowable fill, vem sendo
rapidamente aceitável em aplicações de construções
maiores. Este pode ser definido como um material de
preenchimento de engenharia contendo agregados finos
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
105
(TAHA et al, 2004). O flowable fill, assim como o concreto
de cimento Portland é um material cimentício,
caracterizados por alta trabalhabilidade e baixa resistência e
densidade, produzido em mistura padrão com cimento
Portland, fly ash (cinzas volantes), agregado finos e água,
sendo que os agregados finos representam a maior
composição na mistura padrão do flowable fill
(aproximadamente 23% do peso total dos componentes).
Este material é aplicado em estado fluido, pois uma vez
endurecido, não se desfaz mais. De fato, a baixa resistência
do material freqüentemente reproduz as resistências do
solo, sendo um bom material para nivelamento e
compactação do solo, atribuindo uma economia de tempo na
compactação mecânica, quando comparados a outros
materiais utilizados para as camadas de preenchimento
(PIERCE & BLACKWELL, 2003; TAHA et al., 2004).
Recentemente, pesquisas com material reciclável
como pó de borracha, surgiu como alternativa para as fontes
de agregado leve em flowable fill, substituindo a areia por
pó de borracha (PIERCE & BLACWELL, 2003; SIDDIQUE &
NAIK, 2004). Os flowable fill produzidos com finas partículas
de borracha, correspondem similarmente à baixa densidade
da massa específica dos flowable fill padrão, podendo ser
utilizados como uma alternativa às fontes de agregados
para confecção do flowable fill (PIERCE & BLACKWELL,
2003). Para os autores, os resultados experimentais indicam
que pó de borracha pode ser muito utilizado para favorecer
um peso leve (1,2 – 1,6 g/cm3) nos flowable fill, sendo que
aos 28 dias a resistência à compressão atingiu de 0,02 a
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
106
0,09 MPa. Baseado nisso, as aplicações deste material na
construção civil variam amplamente (em obras de
escavações e preenchimento), incluindo tanques de
abastecimento, bases e sub-bases para pavimentos,
preechimento de paredes de túneis, tanques de
armazenamento subterrâneos, preenchimento de encontro
de cabeceiras das pontes, preenchimento de fundações
(ACI, 1999 apud PIERCE & BLACKWELL, 2003; SIDDIQUE
& NAIK, 2004, TAHA et al., 2004).
3.2.6 Propriedades dos Materiais com Agregados de
Pneus e Borracha
Preliminarmente, para que possa haver a reciclagem
de materiais como um todo, faz-se necessário apontar a
classificação dos resíduos segundo a norma brasileira NBR
10004 em (Classe I – resíduos perigosos; II – não-inertes e
III – inertes). A possível reutilização dos resíduos de forma
geral só poderá ocasionar se estes estiverem enquadrados
nas classes II e III. Neste caso, verifica-se que os resíduos
de pneus e borracha classificam-se em não-inertes, sendo
passíveis de reaproveitamento.
Para uma possível reciclagem ou reutilização dos
resíduos de pneus e borrachas aplicados na construção
civil, além dos ensaios de classificação dos resíduos
(características químicas) é extremamente importante
determinar por normas as características físicas dos
resíduos tais como, granulometria, forma e textura dos
agregados, absorção de água e porosidade, massa
específica e unitária, inchamento. Outra análise também
presente é a caracterização ambiental, avaliando a possível
presença de elementos potencialmente prejudiciais as meio
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
107
ambiente e a saúde humana, podendo então comprovar a
potencialidade de aplicação ou reutilização dos resíduos
como materiais para as obras de engenharia.
Diante disso, em diversas pesquisas com o uso dos
resíduos de pneus e borrachas com aplicados nas
atividades construtivas, verifica-se algumas vantagens nas
propriedades dos materiais confeccionados com estes
resíduos. De forma geral, Humphrey (1999 apud PIERCE &
BLACWELL, 2003) ressaltam, dentre as propriedades
conferidas aos resíduos de pneus e borracha, a baixa
densidade do material, o aumento da permeabilidade, o alto
isolamento térmico, a grande durabilidade e a alta
compressibilidade.
3.2.6.1 No concreto asfáltico
Algumas propriedades do concreto são importantes
parâmetros quanto à avaliação do seu comportamento e
desempenho. As propriedades são caracterizadas ou
dividida em duas partes, sendo que a primeira faz referência
às propriedades do concreto fresco e, a segunda, quanto às
propriedades do concreto endurecido.
Propriedades do concreto fresco
a) Trabalhabilidade
A trabalhabilidade é definida segundo NEVILLE (1997)
como sendo “a propriedade do concreto ou da argamassa
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
108
recém-misturados que determina a facilidade e a
homogeneidade com a qual podem ser misturados,
lançados, adensados e acabados”. Usualmente a
trabalhabilidade é medida através do ensaio de abatimento
do tronco pela consistência da massa, caracterizada como
simples índice de mobilidade ou fluidez do concreto fresco
(METHA & MONTEIRO, 1994).
Khatib & Bayomy (1999 apud NEHDI & KHAN, 2001;
SIDDIQUE & NAIK, 2004) constataram que em misturas de
concreto emborrachado há um decréscimo na
trabalhabilidade quando se proporciona um acréscimo de
partículas de borracha como uma percentagem no volume
total de agregado na mistura. Além disso, observa-se que
em misturas de concreto contendo 40% do volume total de
agregados, a trabalhabilidade chega a quase zero e,
portanto, não é possível trabalhar o concreto manualmente.
Para tanto, tais misturas, para serem compactadas,
necessitam de vibradores mecânicos para sua aplicação.
Vale ressaltar também que em misturas feitas com
finas partículas ou pó de borracha são mais trabalháveis
que aquelas com agregados graúdos de borracha ou com a
combinação de pedaços de pneus com pó de borracha
(SIDDIQUE & NAIK, 2004).
No entanto, segundo Nehdi & Khan (2001), ainda não
é possível comprovar, se o efeito das partículas de borracha
na trabalhabilidade do concreto é atribuída devido à
redução na densidade do concreto ou a mudanças atuais no
valor de rendimento e viscosidade plástica da mistura.
b) Peso Unitário
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
109
Devido ao baixo peso específico, o peso unitário dos
concretos emborrachados diminui com o aumento na
percentagem de borracha na mistura (NEDHI & KHAN,
2001; SIDDIQUE et al., 2004; FEDROFF et al., 1996). Além
disso, o aumento da percentagem de resíduos de borracha
implica também em um aumento de incorporação de ar na
mistura, reduzindo assim o peso unitário das misturas de
concretos (FEDROFF et al., 1996). O decréscimo do peso
unitário em concretos emborrachados é negligenciado
quando as misturas contendo resíduos de borracha são
menores que 10 a 20% do volume total de agregados
(KHATIB & BAYOMY, 1999; SIDDIQUE & NAIK, 2004).
c) Conteúdo de ar incorporado na mistura
De acordo com Fedroff et al. (1996) e Khatib & Bayomy
(1999) observou-se que o conteúdo de ar aumenta nas
misturas de concreto emborrachado com o acréscimo de
uma quantidade de resíduos de borracha moída na mistura,
até mesmo, em misturas controladas sem o uso de entrada
de ar. Certamente, isto se deve a natureza não-polar das
partículas de borracha e sua tendência de atrair ar em sua
superfície de textura áspera ou denteada. Quando as
partículas de borracha são adicionadas a massa de
concreto, elas podem, por um lado, atrair o ar devido à sua
textura denteada como, também, repelir a água. Com isso, o
acréscimo de partículas de borracha resulta em uma
quantidade muito grande de ar nas misturas do concreto
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
110
emborrachado, mas em contrapartida, diminui o peso
unitário das mesmas.
Propriedades do concreto endurecido
a) Resistência mecânica à compressão e à tração
Para uma melhor compreensão, pode-se definir a
resistência mecânica de um material como sendo a
capacidade deste resistir às tensões sem ruptura (METHA &
MONTEIRO, 1994). Sabe-se que o concreto resiste mais às
tensões de compressão do que aos outros esforços, sendo
que esta resistência caracteriza quais as possíveis
aplicações de determinado concreto ou até mesmo o seu
limiar de aplicação. De acordo com a norma brasileira (NBR
5739/94), a resistência mecânica à compressão dos
concretos é estabelecida aos 28 dias através do ensaio de
compressão axial.
Vários autores (Ali et al., 1993, Rostami et al., 1993,
Eldin & Senouci, 1993, Topcu, 1995, Fedroff, 1996 apud
Siddique & Naik, 2004), têm mostrado, em suas pesquisas,
os resultados das tensões de compressão em concretos
emborrachados. Os resultados de vários estudos indicam
que o tamanho, a proporção e a textura da superfície das
partículas de borracha, notoriamente afetam a resistência à
compressão das misturas dos concretos emborrachados.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
111
Para Eldin & Senouci (1993 apud SIDDIQUE & NAIK,
2004), as misturas de concreto com fragmentos/lascas e pó
de borracha como agregado resultam em uma baixa
compressão e baixa resistência à tração em concretos de
cimento Portland. Comprova-se que há uma redução de
aproximadamente 85% nas resistências à compressão e
uma perda de até 50% nas resistências à tração quando o
agregado graúdo é substituído completamente por agregado
graúdo de borracha. Entretanto, a redução em torno de 65%
na resistência à compressão e de 50% nas resistências à
tração é observado, quando o agregado miúdo é totalmente
substituído por agregados finos ou pó de borracha. Ambas
estas misturas demonstram uma baixa flexão e são hábeis
para absorver uma quantidade de energia abaixo da
compressão e das cargas de tração.
Fedroff et al. (1996), apontam em seus estudos a
variação da resistência à compressão nos concretos
emborrachados com a idade. Comprovou-se também que a
resistência à compressão diminui com o aumento na
quantidade de resíduos de borracha. Aos 28 dias a
resistência à compressão perde aproximadamente 50% em
misturas contendo 10% de concreto emborrachado e quase
75% para cada 30% de mistura de concreto emborrachado.
De modo geral, conclui-se que nos concretos jovens, a
resistência à compressão diminui com o acréscimo de
quantidade de resíduos de borracha e é maior que a
redução da resistência em concretos com idades mais
avançadas. A magnitude da perda relativa de resistência,
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
112
numa idade particular de teste, diminui com o aumento da
quantidade de borracha.
4.5.1 - Argamassa
4.5.2 – Flowable fill
4.5.3 – Concreto de proteção ao fogo
3.3 RECICLAGEM DAS CINZAS VOLANTES (FLY
ASH) E DAS CINZAS SEDIMENTÀVEIS (BOTTOM ASH)
3.3.1 Geração
Minimizar o consumo dos recursos naturais e a
geração de resíduos é atualmente um freqüente tópico de
discussão em todas as partes do mundo (KIKUCHI, 2001).
Devido às regulamentações e políticas ambientais mais
abrangentes, as práticas atuais do manejo dos resíduos
sólidos quanto à sua eliminação e deposição em aterros
sanitários, vem se tornando impraticáveis (AUBERT et al.,
2004).
Isto se deve pela promulgação de leis ambientais que
vedam a abertura de novos aterros sanitários, em face de
esses gerarem grandes impactos ambientais, dificultando
assim o seu controle e monitoramento além do esgotamento
rápido das áreas disponíveis, além de contribuir para uma
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
113
cadeia de desenvolvimento econômico insustentável, como
já comentado em capítulos anteriores.
Para tanto, outras alternativas, como a incineração de
resíduos vem sendo difundida, visando amenizar os
problemas de deposição dos resíduos sólidos em aterros
sanitários.
Essa alternativa de incineração é comumente aceita
em todo o mundo como solução promissora para a
administração da grande quantidade de resíduos sólidos
municipais gerados, além de outros tipos de resíduos como
industriais, comerciais, hospitalares, vegetais e diante das
poucas áreas disponíveis para a implantação de aterros
(FERREIRA et al., 2003; GENAZZINI et al., 2003; KIKUCHI,
2001).
Embora a incineração reduza significativamente a
quantidade de resíduos sólidos municipais em torno de 65%
a 80% em massa, e 85% a 90% em volume, além de
possibilitar uma recuperação de energia, essa alternativa
contribui para novos problemas como o aumento da
poluição do ar e a geração de um fluxo secundário de
resíduo: as escórias e as cinzas (European Environmental
Agency, 1999 apud KIKUCHI, 2001; FERREIRA et al., 2003;
BERTOLINI et al., 2004).
Dentre os poluentes que são liberados na atmosfera
pela incineração dos resíduos sólidos municipais e
industriais, pode-se citar as poeiras, o monóxido de carbono
(CO), os compostos do enxofre e nitrogênio (SOx e NOx), o
ácido clorídrico (HCl), metais pesados (Cd, Hg, Pb, Ni) a as
dioxinas. Porém recentemente, o controle da emissão de
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
114
dioxinas na atmosfera vem recebendo maior atenção,
devido ao fato destas serem de alto grau de toxicidade
(KIKUCHI & PELOVSKI, 1999 apud KIKUCHI, 2001).
É notável que a incineração decresce o volume de
resíduos sólidos, solucionando em parte os problemas
quanto aos grandes volumes depositados em aterros
sanitários. Por outro lado, há um aumento na quantidade de
cinzas volantes (fly ash), caracterizadas por finas partículas
altamente poluentes e tóxicas, que são liberadas à
atmosfera gerando assim um novo problema ambiental
(KIKUCHI, 2001).
Destaca-se que a produção de resíduos sólidos
municipais na Comunidade Européia é estimada em 150
milhões de toneladas por ano, sendo que desse montante,
aproximadamente 20% são incinerados (PECQUEUR et al.,
2001). Atualmente na França são incinerados 35% dos
resíduos sólidos municipais (AUBERT et al., 2003).
No entanto, a deposição em aterros sanitários dos
resíduos provenientes da incineração como é o caso das fly
ash, que são materiais perigosos, necessitam de tratamento
prévio de inertização das cinzas para a redução dos
elementos contaminantes, visando assegurar os níveis de
proteção ambiental necessários à saúde humana e do
ambiente (MANGIALARDI, 2001).
Diante disso, políticas ambientais como a
regulamentação européia para o manejo dos resíduos
sólidos, priorizam o reuso, a reciclagem e recuperação dos
materiais provenientes dos resíduos sólidos, não priorizando
os aterros sanitários como a melhor alternativa para a
deposição (POLETTINI et al., 2001).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
115
3.3.2 Origem e Classificação
Dentre as cinzas produzidas pela incineração,
originam-se as cinzas sedimentadas (bottom ash) e as
cinzas volantes (fly ash). As bottom ash são coletadas na
base da câmara de combustão e consistem de um tipo de
escórias. As fly ash são as coletadas nos dutos da chaminé
pelo sistema de controle de poluição do ar, contribuindo
com apenas 1% a 3% do total de resíduos sólidos
municipais incinerados mas, trazendo maiores riscos e
problemas ambientais (FERREIRA et al., 2003; BERTOLINI
et al., 2004).
As cinzas sedimentadas (bottom ash) são classificadas
como resíduo não-inerte de acordo com a Europe Waste
Catalogue, e são tipicamente compostas de fases de
aluminosilicatos e contêm relativamente pequenas
quantidades de metais pesados, como metais voláteis
(mercúrio, cádmio, zinco) e altas concentrações de metais
litofílicos como níquel, cromo, cobre (POLETTINI et al.,
2001).
Em contrapartida, as cinzas volantes (fly ash) são
classificadas como resíduos perigosos e consistem em finas
partículas que são normalmente caracterizadas por alta
concentração de cloretos (valores estimados acima de
10%), o que significa uma grande quantidade de metais
pesados com alta capacidade de lixiviação e de substâncias
orgânicas altamente tóxicas, como dioxinas e furanos
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
116
(FERREIRA et al., 2003; POLETTINI et al., 2001;
BERTOLINI et al., 2004, LIN et al., 2003).
Além disso, quando cinzas volantes (fly ash) são
produzidas a partir da combustão do carvão, podem-se
classificá-las em dois principais tipos, o tipo F e o tipo C. O
tipo F é produzido quando o carvão antracita carvão
betuminoso ou o carvão sub-betuminoso é queimado e
contém baixa concentração de óxido de cálcio (cal) (valores
menores que 7%), e alta concentração de sílica, alumina e
óxidos de ferro. Já as cinzas volantes do tipo C provêm de
carvão lignita e contém mais óxido de cálcio (15 a 30%)
(FISCHER et al., 1978 apud IYER & SCOTT, 2001).
3.3.3 Características e Composição
Os componentes primários das cinzas volantes (fly
ash) são as sílicas (Sio2), a aluminas (Al2O3) e os óxidos de
ferro (Fe2O3), com quantidades de carbono, cálcio (como cal
ou gesso), magnésio e enxofre (sulfatos e sulfitos) que são
variáveis. Outros elementos como arsênio, mercúrio e
antimônio também são componentes presentes nas cinzas,
e a sua estrutura mineralógica é a chave principal para
determinação da reatividade (IYER & SCOTT, 2001).
Já as cinzas sedimenadas (bottom ash), provenientes
da incineração dos resíduos sólidos municipais, tem uma
composição química que não é muito diferente da das fly
ash. De fato, elas são compostas principalmente por sílica
amorfa (em mais de 50%), de alumina, óxidos de cálcio e
óxidos de ferro (BERTOLINI et al., 2004).
As fly ash são consideradas como pozolanas, ou seja,
substâncias que contém sílica e alumina em sua
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
117
composição, onde a sílica reage com o hidróxido de cálcio
(Ca(OH)2), que é liberado por hidratação dos silicatos de
cálcio para produzir hidratos de silicatos de cálcio
(NONAVINAKERE & REED, 1995 apud IYER & SCOTT,
2001). Estas cinzas volantes tendem a ser pozolânicas,
quando na fase silicosa tem uma estrutura amórfica em
lugar de cristalina, contribuindo para a hidratação dos
produtos quando atacados por hidróxidos (IYER & SCOTT,
2001).
Vale ressaltar ainda, que as cinzas volantes contêm
uma superfície hidrofílica e altamente porosa diante de suas
pequenas partículas onde comprovam a maior reatividade.
De modo geral, as partículas mais finas tendem a ser mais
reativas por duas razões, a primeira: elas têm uma
superfície específica maior para ser atacada pelos
hidróxidos; a segunda: talvez a mais importante, as
partículas menores esfriam mais rapidamente ao encerrar a
combustão, resultando em uma estrutura mais desordenada,
e então, em uma estrutura mais reativa (IYER & SCOTT,
2001).
3.3.4 Usos Potenciais das Fly Ash
A deposição das fly ash em aterros sanitários ainda
vem sendo a principal opção em muitos países. Entretanto,
o progressivo fechamento dos aterros e a definição de
novos padrões e medidas ambientais mais restritivas quanto
à deposição de resíduos especiais, como é o caso das
cinzas volantes, em aterros sanitários, têm contribuído para
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
118
a inserção da reciclagem ou reutilização destes resíduos em
novas aplicações potenciais (FERREIRA et al., 2003).
As cinzas volantes comumente chamadas de fly ash
são ricas em alguns elementos e componentes (tais como
metais e sais) sendo passíveis de reutilização como
matérias-primas em muitos produtos. A aplicação potencial
de fly ash resulta em três principais vantagens: primeiro, o
custo zero de matéria-prima, a segunda, a conservação de
recursos naturais, e a terceira, na eliminação dos resíduos
(FERREIRA et al., 2003).
Com isso, observa-se, na literatura especializada,
várias publicações para os possíveis usos e aplicações das
cinzas sedimentadas (bottom ash) ou das cinzas volantes
(fly ash). Muitas destas pesquisas têm reportado a
possibilidade de reciclagem das cinzas volantes ou
sedimentadas incorporadas na indústria da construção, tais
como agregados ou aditivo mineral em cimentos e
concretos, em produtos cerâmicos (como tijolos e azulejos),
em pavimentos de estrada, em barragens ou diques para
contenção de água, entre outros (TARGAN et al., 2003;
IYER & SCOTT, 2001; LIN et al., 2003; PECQUEUR et al.,
2001; FERREIRA et al., 2003). Outras opções possíveis são
os usos como fertilizantes de solo, materiais adsorventes
para tratamento de efluentes, em compostos plásticos, para
condicionamento e estabilização das lamas provenientes
dos tratamentos de resíduos líquidos e outros (FERREIRA
et al., 2003; IYER & SCOTT, 2001).
3.3.4.1 Aplicações das fly ash e bottom ash como
materiais de construção
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
119
Dentre as opções de aplicação e reuso das cinzas
volantes (fly ash) e das cinzas sedimentadas (bottom ash),
estão os compósitos cimentícios (produção de cimento ou
concreto), materiais cerâmicos e vitrificados (FERREIRA et
al., 2003).
a) Produção do cimento-Portland
O cimento Portland é um dos vários tipos de cimento
encontrados sendo fabricados a partir do carbonato de
cálcio ou calcário (CaCO3) misturado com cinzas e outros
materiais que contém em sua composição alumina e sílica.
Esta mistura é então aquecida em fornos rotativos em
temperaturas entre 1540 a 1600°C, resultando em um
produto chamado “clinquer”, que consiste em diferentes
proporções de silicatos tricálcicos (3CaO.SiO2), aluminato
tricálcico (3Cao.Al2O3), e silicato dicálcico (2CaO.SiO2),
além de pequenas quantidades de magnésio, gesso e
componentes de ferro (FERREIRA et al., 2003).
Deve ser registrado que a produção de cimento é uma
atividade que consome uma larga quantidade de matérias
primas, além de uma grande percentagem de energia
desprendida na decomposição dos carbonatos de cálcio
(CaCO3) para óxido de cálcio (CaO). Tem-se assim, que,
para cada tonelada de cimento produzido, aproximadamente
a mesma quantidade de dióxido de carbono (CO2) é emitida,
sendo este, o maior contribuinte para o agravamento do
efeito estufa e conseqüentemente do aquecimento global do
planeta (FERREIRA et al., 2003).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
120
Tendo a fly ash em sua composição de 24 a 27% de
óxido de cálcio (cal), além de silicatos (aproximadamente 40
a 50%) e aluminosilicatos, esta é potencialmente apropriada
para a produção de cimento (FERREIRA et al., 2003;
KIKUCHI, 2001). Assim sendo, a fly ash pode ser utilizada
como fonte de óxido de cálcio para a produção de cimento,
reduzindo consideravelmente as emissões de dióxido de
carbono (CO2) o que contribui para a redução do
aquecimento global (FERREIRA et al., 2003).
Além disso, adicionar diferentes quantidades de fly ash
e outros resíduos industriais como sílica fumê e escórias de
alto forno na fabricação do cimento, resultam entre outros
benefícios, na diminuição do calor de hidratação e melhor
durabilidade deste, economia de energia e de matérias-
primas, bem como, na redução da poluição atmosférica
(BERTOLINI et al., 2004; LIN et al., 2002).
A mistura da fly ash na indústria do cimento é tão
relevante que já vem sendo regulamentada por muitos
países a exemplo da União Européia através da EN 450,
dos Estados Unidos (ASTMC 618-94), da Austrália (AS
3582.1) e do Japão (JIS A-6201) (MANZ, 1995 apud
KIKUCHI, 2001).
Outra aplicação da fly ash resultante da incineração
dos resíduos sólidos municipais é a produção de cimento
com baixa energia, também chamado de cimento
sulfoaluminato de cálcio, sendo fonte de alumina para a
formação dos sulfoalumintos de cálcio, e a sílica para os
silicatos de cálcio. Este é um cimento especial que são
sintetizados a baixas temperaturas e o qual apresenta alta
resistência e rápido endurecimento (FERREIRA et al.,
2003).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
121
Deve ser relevado que o uso da fly ash proveniente da
incineração dos resíduos sólidos municipais na fabricação
do cimento, pode trazer problemas técnicos, pois a adição
desse material em fornos de cimento poderá aumentar a
concentração de cloretos e metais pesados no pó de
cimento resultando na obstrução dos fornos (FERREIRA et
al., 2003).
b) Concreto
Para a confecção do concreto, utiliza-se agregado
miúdo e graúdo, cimento e água que, adicionada ao cimento
provoca a reação de hidratação do mesmo, e forma uma
mistura homogênea com os demais componentes presentes
no concreto. Com a hidratação do cimento, cria-se uma
estrutura tri-dimensional que liga todas as substâncias
presentes na massa de concreto, produzindo uma
cristalização dos elementos. Nesta estrutura tri-dimensional,
inclui-se a água, pequenas bolhas de ar, e partículas de
areia ou brita, bem como a inclusão de finas partículas
(<150μm), como as fly ash, onde esta tem a finalidade de
preencher os espaços vazios e ser encapsulada na matriz
do concreto (FERREIRA et al., 2003).
As reações que ocorrem na matriz do concreto são as
bases para os processos de estabilização/solidificação
aplicados para o tratamento de inertização dos resíduos
perigosos.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
122
4
.
1 A RECICLAGEM DOS RESÍDUOS DE
CONSTRUÇAÕ E DEMOLIÇÃO ou “PROCESSOS DE
PRODUÇÃO DO AGREGADO RECICLADO”
A necessidade de reduzir a quantidade de resíduo
gerado, e reutilizar materiais descartados sem passar por
nenhum processo de beneficiamento é dado como solução
ideal para amenizar os problemas ambientais de extração
de recursos naturais, geração, gerenciamento e impactos
ambientais causados por estes resíduos (LEITE, 2001).
Verifica-se que nem sempre o objetivo de reduzir ou
reutilizar é possível. Para tanto, a reciclagem é a terceira
prática, como observado na hierarquia da disposição dos
resíduos de construção e demolição, Figura 4.1 do item 3.6,
comumente aceita e priorizada em diversas partes do
mundo atualmente. Com isso, diante da impossibilidade de
utilização dos resíduos de construção e demolição na forma
a qual foi gerado, faz-se necessário utilizar algum tipo de
beneficiamento na reciclagem do material para a sua
posterior aplicação.
CAPÍTULO V
ANÁLISE E APRESENTAÇÃO
DOS RESULTADOS
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
123
De modo geral, utiliza-se na reciclagem dos resíduos
de construção e demolição, equipamentos provenientes do
setor da mineração (LIMA, 1999). Para o beneficiamento
tradicional destes resíduos é necessário que se promova
limpeza e a pré-seleção dos entulhos (separando
manualmente as fases indesejáveis como: plásticos,
borrachas, madeiras, vidros e outros que se mostrem
inconvenientes ao produto final) (BRITO FILHO, 1999), em
seguida a homogeneização, a britagem, o peneiramento,
bem como o armazenamento dos agregados reciclados para
posterior expedição (CARNEIRO et al., 2001; LEITE, 2001;
JOHN & AGOPYAN, 2000).
O processo de reciclagem é extremamente simples,
sendo basicamente igual ao da produção dos agregados
naturais (LEITE, 2001). Consiste em britar o resíduo,
obtendo agregados em dimensões desejadas, classificando-
os por faixas de granulometria (diâmetros máximos e
mínimos) tal como os agregados naturais, ou seja, com
dimensões granulométricas equivalentes a pedras-britradas
n.1, 2, pó-de-pedra, etc (BRITO FILHO, 1999). No entanto,
dependo qual é a finalidade do agregado reciclado, pode-se
fazer mais de uma britagem, para a diminuição das
dimensões das partículas (LIMA, 1999), além de escolha
dos tipos de peneiras que deverão ser utilizadas para
obtenção da granulometria ideal para tal aplicação (BRITO
FILHO, 1999). O procedimento de reciclagem se completa
com a execução de uma análise laboratorial, objetivando
determinar as propriedades ou características dos materiais
obtidos, correspondente ao tipo de utilização que se
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
124
pretende dar ao agregado reciclado, visando à garantia de
qualidade e segurança ambiental para melhor forma de
reaproveitamento dos mesmos (BRITO FILHO, 1999).
4.1.1 A Reutilização de Resíduos de Construção e
Demolição na Própria Obra
De acordo com Altheman (2002) a quantidade de
resíduos no canteiro de obra varia conforme o cronograma
de execução dos serviços. A reutilização de grande parte
dos resíduos de construção e demolição no próprio canteiro
de obra advém da fração mineral (matéria orgânica e
cerâmica). As demais frações (madeira, gesso, metais,
plásticos e papéis) geralmente são encaminhadas aos locais
de coleta seletiva ou descarte em aterros.
Para que o processo de reutilização dos entulhos no
canteiro de obra seja eficiente, torna-se imprescindível à
cooperação e conscientização de todos. Separar os
resíduos gerados por cada fração, seguindo os
procedimentos pré-fixados pela construtora, é sem dúvida,
uma forma de manter a obra limpa, organizada, e sem riscos
com acidentes de trabalho. Entretanto, a separação do
entulho no canteiro de obra, ou in situ, não é tarefa
complexa, pois os resíduos podem ser separados em cada
atividade que está ou já foi executada. Exemplificando, no
uso de argamassas os resíduos serão somente material
cimentício, enquanto que nas atividades de carpintaria,
restos de madeira serão descartados (REVISTA TÈCHNE,
2001).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
125
Esta técnica também é válida no processo de
demolição (ou “desconstrução”) seletiva. Evitar a mistura de
concretos, argamassas e outros materiais recicláveis com
madeiras, plásticos, papéis, gesso reduz significativamente
a geração de resíduos e os impactos ocasionados pelos
processos de demolição (CARNEIRO et al., 2001).
Altheman (2002), apresenta um fluxograma do
procedimento dado à gestão dos resíduos de construção e
demolição em canteiros de obra, como mostra a Figura 3-7.
Este fluxograma representa que os resíduos recicláveis
(cimentícios e cerâmicos) são previamente separados e
posteriormente beneficiados, sendo que os demais são
descartados.
Basicamente, as operações que envolvem o
beneficiamento dos resíduos de construção e demolição
recicláveis são a britagem e o peneiramento. Para a
britagem, geralmente são utilizados equipamentos de
pequeno porte, dependendo da oferta de resíduos e da
demanda por agregado reciclado. Dentre os equipamentos
utilizados para a trituração dos resíduos, destacam-se: as
argamasseira-moinho, moinho de martelos, moedor de
caliça ou britador de mandíbulas (PINTO, 2000 apud
ALTHEMAN, 2002).
O processo de beneficiamento em obra produz em
média 2m3/hora, geralmente com alimentação e remoção
manual dos materiais a serem reciclados. As frações
recicladas, bem como o resíduo a ser reciclado, devem estar
dispostos conjuntamente e localizados próximo aos locais
de uso, como em centrais de concreto e argamassa,
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
126
evitando com isso, o transporte desnecessário entre os
processos (ALTHEMAN, 2002).
Figura 4-1 – Fluxograma da gestão do entulho na obra
(ALTHEMAN, 2002).
4.1.2 Usinas de Reciclagem
4.1.2.1 Aspectos gerais
Quando se pretende inserir um programa de
reciclagem de resíduos, a implantação da unidade de
operação ou de beneficiamento do material é considerada o
ponto chave para o sucesso na adoção da gestão dos
resíduos de construção e demolição. Com isso, é
extremamente importante conhecer algumas premissas que
devem ser relevantes para o bom funcionamento de uma
Entulho
Gerado Separação
Madeiras
Metais
Plásticos/Papéis
Contaminantes
e outros resíduos
Cimentícios e
Cerâmicos
Beneficiamento
Agregados
Reciclados
Descarte
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
127
recicladora. Brito Filho (1999 apud LEITE, 2001) aponta três
requisitos básicos que são levados em consideração:
volume de geração de resíduo de construção e
demolição possível de ser reciclado;
o tipo de resíduo e a aplicação que se pretende
dar ao mesmo;
local de instalação da unidade recicladora.
Lima (1999) propõe que o local de instalação de uma
usina recicladora de resíduos de construção e demolição
não deve estar distantes das fontes geradoras e dos locais
de uso. A melhor localização da uma central de reciclagem
é sua inserção na malha urbana, objetivando amenizar as
distâncias entre os geradores e a unidade a ser implantada,
além de captar o maior volume possível de resíduos a serem
reciclados. O autor afirma ainda, do cuidado para que as
usinas não estejam situadas em áreas predominantemente
residenciais, nem em áreas centrais, para que o tráfego
circunvizinho não seja sobrecarregado, e para que ocorra a
minimização da emissão de ruído e material particulado.
È interessante que a implantação localize-se próximo a
aterros, onde já existe toda infra-estrutura necessária.
Adotar pontos de coleta dos resíduos de construção e
demolição distribuídos estrategicamente pela cidade,
também contribui para uma economia de transporte e gestão
(LEITE, 2001).
A implantação de usinas de reciclagem pode
diversificar dos processos utilizados nos canteiros de obras,
pelo seu porte e complexidade (LIMA, 1999). Isto depende
do volume e variabilidade dos resíduos de construção e
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
128
demolição, assim como das características desejadas para o
produto final.
4.1.2.2 Tipos de plantas para o beneficiamento do
agregado reciclado
Além da escolha do local de implantação da central de
reciclagem, é importante identificar os tipos de plantas
existentes para a reciclagem dos resíduos de construção e
demolição. Estas plantas podem ser divididas em
instalações fixas e plantas móveis (GEHO, 1997 apud
CARNEIRO et al., 2001).
a) Instalações fixas para reciclagem dos resíduos
de construção e demolição
De acordo com Cairns et al. (1998 APUD LEITE), as
plantas fixas permitem maior diversidade e qualidade de
produtos reciclados, quando comparados com os que são
produzidos pelas plantas móveis, além disso, estas
possibilitam melhor processo de britagem, de peneiramento
e de retirada de contaminantes, diante da utilização dos
equipamentos de grande porte.
As instalações fixas contribuem em um maior controle
do impacto ambiental em relação às instalações móveis e de
pequeno porte (CARNEIRO et al., 2001).
Por outro lado, a disponibilidade de grandes áreas
(aproximadamente 50000 m2) e os altos valores para
investimento, podem ser os fatores preponderantes quando
da escolha do custo/benefício para sua instalação (CAIRNS
et al., 1998 apud LEITE, 2001).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
129
b) Instalações móveis para reciclagem dos
resíduos de construção e demolição
As plantas móveis, por sua vez, proporcionam maior
flexibilidade e versatilidade, quando da quantidade de
material a reciclar, ainda que constante, não atinja grandes
volumes (CARNEIRO et al., 2001). Entre as principais
vantagens relacionadas por Cairns et al. (1998 apud LEITE,
2001) estão:
Menores custos de implantação dos que as
instalações fixas;
Menor tempo de instalação;
Redução dos custos de transporte do material de
demolição a ser beneficiado.
Segundo Banthia & Chan (2000), muitas vezes estas
instalações são utilizadas quando se deseja reciclar um
pavimento antigo com a implantação de um novo, no mesmo
local. No entanto, verifica-se uma diminuição de gastos com
transporte e extração de materiais, pois o beneficiamento
dos resíduos pode ser realizado no próprio local de origem,
e seqüencialmente, os resíduos produzidos, poderão ser
aplicados na construção do novo pavimento. Diante disso,
muitas empresas de mineração, visam o interesse na
participação deste mercado, com a implantação de usinas
de reciclagens móveis para o beneficiamento dos resíduos
de construção e demolição.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
130
4.1.2.3 Processos utilizados na produção dos
agregados reciclados
A maioria das centrais de reciclagem instalada no
Brasil utiliza plantas simples e fixas, compreendendo
equipamentos diversos como pá carregadeira, alimentador
vibratório, britador, eletroímã para coleta de metais ferrosos,
peneiras, transportador de correia, e eventualmente,
sistemas mais sofisticados para eliminação de
contaminantes (madeiras, plásticos, metais não ferrosos)
(ÂNGULO et al., 2002b; ÂNGULO & JOHN, 2002;
CARNEIRO et al., 2001; LIMA, 1999). A remoção de baixos
níveis de elementos contaminantes pode ser feitos
manualmente, tanto antes como após a britagem, pois
dificilmente a aquisição de equipamentos mais sofisticados,
como tanques de flotação e ciclone são viáveis
economicamente em um primeiro momento (POON, 1997;
ÂNGULO & JOHN, 2002).
Observa-se ainda que no processo de produção das
usinas de reciclagem, as características dos agregados
reciclados (como classificação e composição, granulometria,
teor de impurezas, forma e resistência dos grãos) estão
diretamente relacionadas com os procedimentos e
equipamentos utilizados no beneficiamento (CARNEIRO et
al., 2001; LIMA, 1999).
Não há um tipo de equipamento que forneça os
melhores resultados em todos os aspectos. Dependendo
das características iniciais do resíduo e do seu grau de
processamento para determinada aplicação específica é
que podemos classificar os sistemas de reciclagem dos
resíduos de construção e demolição. De forma sucinta,
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
131
GEHO (1997 apud CARNEIRO et al., 2001) apresenta a
classificação dos sistemas de reciclagem em função dos
critérios usados para a eliminação de impurezas:
Plantas de primeira geração – necessitam de
elementos magnéticos que possam eliminar metais. Neste
sistema os resíduos a serem reciclados devem estar livres
de impurezas como plásticos, papéis, madeiras, vidros,
terra, e outros;
Plantas de segunda geração – similares às de
primeira geração, contendo apenas sistemas preliminares
(mecânicos ou manuais) de eliminação de contaminantes
antes da britagem. Depois de britados, a limpeza e
classificação dos resíduos são executadas por via seca ou
úmida;
Plantas de terceira geração – visam remover todo
o material secundário, considerado como contaminantes dos
agregados reciclados.
No Brasil, grande maioria das plantas recicladoras é de
1ª geração, por ser o processo mais simplificado de todos.
Já as plantas de 2ª e 3ª geração são por sua vez, processos
caros que podem tornar a reciclagem inviável. Para se ter
uma idéia, a primeira usina de reciclagem implantada em
Salvador/Ba pela LIMPURB (Limpeza Urbana de Salvador)
é uma planta fixa de primeira geração, processando 200
toneladas a cada 8 horas de operação (CARNEIRO et al.,
2001). Entretanto, quando as aplicações necessitarem de
agregados reciclados com desempenho superior, o gerador
deve buscar processos de gestão dos resíduos que
permitam separar previamente os resíduos recicláveis dos
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
132
contaminantes, no próprio canteiro de obra (CARNEIRO et
al., 2001).
4.1.3 Equipamentos de britagem dos resíduos de
construção e demolição
Como já mencionado no item 3.7.2.3, os equipamentos
utilizados pelas centrais de reciclagem compõem-se de:
alimentador tipo calha vibratória, britador, correia
transportadora, extrator de metais ferrosos, peneiras, entre
outros (BRITO FILHO, 1999 apud LEITE, 2001).
Talvez, dentre os equipamentos de maior relevância
no processo de beneficiamento dos resíduos de construção
e demolição estão os britadores, que conferem grande parte
das características dos agregados obtidos, assim como a
escolha do equipamento quanto ao seu desempenho é fator
primordial, sob ponto de vista econômico (LEITE, 2001).
Neste sentido, Lima (1999) e Leite (2001) caracterizam
alguns tipos de britadores mais usuais e comumente
encontrados no mercado, que serão relacionados a seguir.
a) Britador de impacto
Este tipo de equipamento é dotado de câmara de
impacto onde o material é triturado pelo choque de martelos
maciços fixados por um rotor e por placas de impacto fixas.
Podem ser utilizados em britagem primária ou secundária e
são muito usados nas recicladoras, por apresentar algumas
vantagens:
Robustez, processa peças de concreto ou madeira;
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
133
Reduz significativamente as dimensões das peças
britadas. Muitas vezes dispensa a rebritagem do material,
pois gera uma boa quantidade de agregados finos;
Geração de grãos cúbicos com boas características
mecânicas;
Baixa emissão de ruído;
Fornece materiais reciclados com uma distribuição
granulométrica ideal para obras de pavimentação.
Apesar das inúmeras vantagens, Lima (1999) aponta,
entretanto, que o britador de impacto tem um alto custo de
manutenção, devido às trocas periódicas com os martelos e
as placas de impacto.
b) Britador de mandíbula
Verifica-se neste tipo de britador, que o rompimento
das partículas é dado por compressão (esmagamento).
Assim como os britadores de impacto, os britadores de
mandíbula são freqüentemente usados em centrais de
reciclagem como britadores primários para a produção de
agregados para concreto, pois não reduzem muito o
tamanho dos grãos, gerando, contudo, alta porcentagem de
agregados graúdos. Geralmente, para reduzir o tamanho
das partículas, o material processado é rebritado em outro
equipamento de britagem secundária, a exemplo dos
moinhos de martelo, britadores de mandíbula de pequeno
porte, entre outros.
Como vantagens, os britadores de mandíbula
oferecem:
Baixo custo de manutenção;
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
134
Obtenção das melhores curvas granulométricas
dos agregados reciclados sendo adequados para o uso em
concreto;
Produção de apenas 20% de finos abaixo de 4,8
mm.
Em contrapartida, o equipamento apresenta as
seguintes desvantagens:
Necessita de rebritagem do material, com outro
equipamento de britagem, devido a grandes concentrações
de agregados graúdos, o que encarece os custos do
processo;
Geram grãos lamelares com linhas de fratura muito
pronunciadas, que podem ocasionar pontos fracos nas
aplicações, como por exemplo em pilares e vigas, quando
submetidos aos esforços mecânicos;
Dificuldade de britagem de peças armadas e de
madeira de grandes dimensões, por ocasionar quebras no
eixo do britador;
Alta emissão de ruído;
Menor produtividade que os britadores de impacto.
c) Moinhos de martelo
São equipamentos também conhecidos como moinhos
rotativos ou britadores cilíndricos (LEITE, 2001). O sistema
de ruptura dos materiais é semelhante aos dos britadores de
impacto, que esmagam o material pelo impacto de martelos
e placas fixas. Utiliza-se comumente como equipamento de
britagem secundária associados a outros equipamentos,
como os britadores de mandíbula.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
135
Os moinhos de martelo apresentam grelha na boca de
saída, impedindo a passagem de materiais mais grossos
saiam da câmara de britagem. No entanto, pode-se retirar a
grelha quando se quer produzir agregados mais graúdos.
Esta prática traz como a principal vantagem à
produção de materiais finos, porém com baixa produção de
materiais graúdos. Não é considerado um sistema muito
vantajoso, pois necessita muitas vezes, introduzir mais uma
etapa no beneficiamento do material a ser britado, para
haver a redução nos tamanhos das partículas dos materiais.
4.1.4 PROPRIEDADES DOS AGREGADOS
RECICLADOS
4.1.4.1Considerações gerais
De acordo com a RILEM (Réunion Internationale des
Laboratories d’Essais et de Recherches sur les Matériaux et
les Constructions) os materiais que resultam do processo de
reciclagem dos resíduos de construção e demolição são
assim denominados de agregados reciclados. Para
Carneiro et al. (2001, p. 152), “tal denominação é adequada
para o novo material produzido, uma vez que esse não é
mais considerado um subproduto (entulho), e sim um
agregado reciclado, a ser utilizado no mesmo processo em
que foi gerado, a construção civil”.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
136
Os agregados reciclados, obtidos pela reciclagem dos
resíduos de construção e demolição, apresentam grande
variação em suas propriedades, em função da composição
do resíduo processado, da quantidade de impurezas, dos
tipos de equipamentos utilizados, entre outros (LIMA, 1999;
LEITE, 2001). Observa-se que algumas propriedades dos
agregados reciclados são diferentes das propriedades dos
agregados convencionais, que são analisadas nas
características do concreto e das argamassas, bem como
nas condições de aplicação em que se utiliza o agregado
reciclado (LIMA, 1999). De acordo com o autor as principais
propriedades que se diferenciam em relação à dos
agregados convencionais estão: a maior absorção de água
dos grãos, heterogeneidade na composição, menor
resistência mecânica dos grãos reciclados.
No entanto, quando se estuda a utilização dos
resíduos de construção e demolição como agregados na
confecção do concreto, evidencia-se como características
importantes dos agregados: a granulometria, absorção de
água dos grãos, a composição, a forma e textura, a
resistência à compressão, o módulo de elasticidade e os
tipos de substâncias deletérias presentes nos materiais
(MEHTA & MONTEIRO, 1994).
Leite (2001) enfatiza que todas essas características
devem ser consideradas na análise da utilização dos
agregados para a produção de concreto, principalmente
quando se estudam novos materiais, como é o caso do
agregado reciclado. Verifica-se ainda, que a viabilidade
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
137
técnica de seu emprego dependerá de amplo conhecimento
do seu comportamento na estrutura do concreto.
De uma forma geral, ao analisar os agregados
reciclados faz-se necessário avaliar as particularidades do
material utilizado na sua produção, para que possa servir de
parâmetro na qualidade e durabilidade dos serviços em que
for empregado (LIMA, 1999). Segundo Carneiro et al.
(2001), a utilização do agregado reciclado está
condicionada aos materiais que o compõem, como já
observado no item 3.4, sendo necessário caracterizar
sistematicamente os agregados produzidos a partir de
resíduos de construção e demolição.
Para tanto, como um dos objetivos principais da
pesquisa, buscou-se na revisão bibliográfica, identificar as
principais características do agregado reciclado em relação
à obtenção e usos desses materiais, tendo em vista a
viabilidade técnica de sua inclusão e da aceitação do
material e dos compósitos com ele elaborado (concretos e
argamassas). A seguir são abordadas e descritas as
propriedades gerais dos agregados reciclados.
4.1.4.2 Granulometria
A distribuição granulométrica é um importante
parâmetro na dosagem de concretos e argamassas, o que
exerce influência na trabalhabilidade, no consumo de
materiais aglomerantes, na absorção de água, na
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
138
resistência mecânica, permeabilidade, entre outras
(ALTHEMAN, 2002; LIMA, 1999).
Os agregados reciclados são uma mistura tanto de
agregado miúdo – material passante na peneira de malha
4,8 mm, quanto de agregado graúdo – passante na peneira
de 19 mm (CARNEIRO et al., 2001), sendo que a sua
granulometria final, depende do tipo do resíduo a ser
processado, das características dos equipamentos
(britadores), e das regulagens periódicas no sistema de
peneiramento utilizado (BANTHIA & CHAN, 2000; LIMA,
1999; ALTHEMAN, 2002). Pequenos ajustes na abertura do
equipamento de britagem também podem ser feitos, quando
se deseja uma granulometria diferenciada do agregado
reciclado (CARNEIRO et al., 2001).
Em geral, os agregados reciclados de concreto
apresentam curvas granulométricas similares às dos
agregados convencionais (areia e pedra), para o uso em
concretos e argamassas (LIMA, 1999). Porém, a
granulometria obtida com agregados reciclados de alvenaria
vem dificultando o controle das usinas de reciclagem quanto
ao enquadramento às normas exigidas de granulometria
para agregados naturais (SCHULZ & HENDRICKS, 1992
apud LIMA, 1999). Para o autor, pode-se considerar que a
curva granulométrica é uma particularidade para cada tipo
específico de resíduo reciclado.
A maioria das recicladoras do Brasil, onde utilizam
britadores de impacto, produzem até 60%, em massa, de
agregados miúdos, o que representa uma porcentagem
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
139
significativa de material fino. Isto acontece devido ao tipo de
resíduo e do tipo de britador usado, além da não existência
de uma pré-seleção da parcela miúda do resíduo, antes do
processo de britagem (LIMA, 1999).
Entretanto, os teores de material finos gerados, tanto
na parcela de material miúdo ou de graúdo, podem conferir
diferentes desempenhos nas várias aplicações em que se
utiliza o agregado reciclado de construção e demolição
(ALTHEMAN, 2001). Segundo o autor, verifica-se que nas
argamassas, a grande quantidade de finos na mistura pode
provocar pequenas fissuras. O que é diferente em
concretos, pois o ajuste das partículas do agregado e suas
superfícies, conferem a estes, bons desempenhos
mecânicos.
Em pesquisas realizadas por LATTERZA & MACHADO
Jr. (1999 apud LEITE, 2001) na usina de reciclagem de
Ribeirão Preto/SP, constatou-se que em torno de 50% do
material reciclado amostrado, era passante na peneira 4,8
mm (agregado miúdo), e que 70% de agregados graúdos
ficou compreendido entre as peneiras 19 e 4,8 mm. Este alto
percentual de materiais finos, pode estar atrelado ao fato do
resíduo beneficiado ser composto predominantemente de
argamassa, alvenaria e materiais cerâmicos (LEITE, 2001),
possibilitando maior desagregação do material, além do uso
de britador de impacto (LIMA, 1999), o que ocasiona na
diminuição significativa das dimensões das peças
processadas.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
140
Além disso, na composição granulométrica dos
agregados reciclados, deve-se analisar também, os níveis
de substâncias consideradas contaminantes ou impuras que
podem estar contidas nos agregados, mesmo em pequenas
frações. De modo geral, Carneiro et al. (2001) citam alguns
principais contaminantes e impurezas, encontradas nos
resíduos de construção e demolição, que são: os selantes
para impermeabilização das juntas, o gesso, a cerâmica
refratária, cloretos, vidros, metais, solos em geral e matéria
orgânica, substâncias reativas e concreto de cimento
aluminoso, entre outros. Acredita-se que na parcela de
agregados miúdos é que se encontra a maior concentração
de substâncias contaminadas por outros materiais, o que
implica no comprometimento técnico e no desempenho dos
materiais aplicados com estes agregados reciclados
(COLLINS, 1998 apud LEITE, 2001).
4.1.4.3 Massa Específica e Massa Unitária
Os agregados reciclados de construção e demolição
geralmente apresentam, em sua maioria, massas
específicas e unitárias com valores inferiores aos que são
encontrados pelos agregados naturais (LIMA, 1999; LEITE,
2001; ALTHEMAN, 2002). Esta tendência se explica, devido
ao fato dos agregados obtidos pela britagem dos resíduos
de construção e demolição serem materiais mais porosos
que os naturais (CARNEIRO et al., 2001), sendo a
porosidade intrínseca à massa específica do material
(NEVILLE, 1994). Conseqüentemente, isto também é
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
141
observado nas massas específicas dos concretos e
argamassas elaborados com os agregados reciclados, que
por sua vez, também são inferiores aos valores encontrados
nas argamassas e concretos convencionais (LIMA, 1999).
Topçu & Sengel (2004) e Hansen (1985 apud
BUTTLER, 2003) observam que devido à grande quantidade
de argamassa aderida à superfície do material reciclado, o
valor da massa específica dos reciclados é em média 5 a 10
% menor que os valores encontrados para a dos agregados
naturais.
Em estudos realizados por Barra (1996 apud LEITE,
2001), com agregados reciclados de concreto e materiais
cerâmicos, demonstraram em seus resultados que a massa
específica diminui quanto maior a porosidade do material.
Segundo os autores Metha & Monteiro (1994), os
valores encontrados para a massa específica aparente dos
agregados naturais está compreendido entre 2,60 a 2,70
kg/dm3, e a massa unitária entre 1,30 a 1,75 kg/dm
3. No que
se diz respeito aos agregados reciclados pode-se notar uma
variação na massa em relação agregados naturais, sendo
que a composição e origem do agregado interferem no valor
da massa específica (ALTHEMAN, 2002). O autor compila
alguns resultados avaliados no Brasil por diferentes autores
para o agregado de construção e demolição reciclado.
Tabela 3-5 – Massas específicas e unitárias do
agregado reciclado (ALTHEMAN, 2002).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
142
AGRE
GADO
MAS
SA
Kg/dm3
L
EITE
(2001
)
B
RITO
(2001)
B
RUM
et al.
(2001)
ZO
RDAN
(1997)
GRAÚ
DO
Esp
ecífica
2
,51
2
,31
2
,19 -
Unit
ária
1
,12 -
1
,07
1,0
9
MIÚDO
Esp
ecífica
2
,53 -
2
,59 -
Unit
ária
1
,21 -
1
,3
1,4
1
É importante salientar, em relação à massa específica
e unitária do agregado, que a composição, o tipo de
beneficiamento, a granulometria, entre outros fatores,
podem interferir na densidade dos agregados reciclados
(LEITE, 2001). Além disso, é necessário conhecer as
massas específica e unitária para os estudos de dosagem
dos concretos. A autora comenta que pelos valores
apresentados nas massas dos agregados reciclados, deve-
se realizar uma compensação do quantitativo de material
reciclado a ser utilizado nas misturas de concreto, quando o
traço (em massa) dos concretos reciclados for o mesmo do
que é aplicado em concretos convencionais. Este
procedimento deve ser realizado, para que não haja uma
discrepância entre os volumes de concreto reciclado e
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
143
convencional, para um mesmo traço unitário, ou seja, sem
esta compensação, o volume de material reciclado
correspondente à massa do agregado convencional seria
maior.
4.1.4.4 Porosidade e Absorção de Água
A taxa de absorção de água para os agregados
naturais não tem muita importância, pois estes apresentam
pouca ou nenhuma porosidade, o que não exerce influência
nas misturas de concretos. Por outro lado, os agregados
reciclados, que são compostos por materiais mais porosos,
como argamassas, alvenaria, materiais cerâmicos, e outros,
apresentam índices mais elevados de absorção de água.
Esta propriedade depende da composição dos
resíduos de construção e demolição que gera o agregado
(CARNEIRO et al., 2001) e da faixa granulométrica
(ALTHEMAN, 2002). Segundo (2000 apud ALTHEMAN,
2002) as massas específica e unitária influi relativamente na
taxa de absorção dos reciclados, sendo que, quanto maior é
a densidade, menor é a absorção, devido à maior
porosidade do material.
A absorção de água no material também depende
outros fatores como a condição inicial de umidade do
agregado, o tempo que o material fica imergido com a água,
do contato do agregado reciclado inicialmente com a água
ou com a pasta, a partir das misturas de argamassas e
concreto, entre outros (BARRA, 1996 apud LEITE, 2001).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
144
Banthia & Chan (2000); Lima (1999) e Topçu & Sengel
(2004) admitem também que a quantidade de argamassa
aderida às partículas, no caso dos agregados reciclados de
concreto, tende na maior absorção de água. No que se
refere Lima (1999), a absorção máxima dos reciclados de
concreto, está em torno de 10 %. Já o caso dos
componentes cerâmicos encontrados na composição destes
agregados, pode apresentar um índice ainda maior de
absorção de água, com valores superiores a 15 %,
concluindo maior absorção dos reciclados de alvenaria,
quando comparados com os de concreto.
Estudos realizados pelo I&T, citado por Lima (1999)
em várias amostras de reciclados mostram que o tempo
necessário para a pré-umidificação do agregado reciclado é
na ordem de 5 minutos de imersão em água, o que
absorveram no máximo 95% de água. De acordo o autor, os
resultados apontaram uma taxa de absorção de água nos
reciclados na ordem de 3 a 8% para os agregados
reciclados predominantemente argamassas, concretos e
blocos de concreto; de 6 a 11% em reciclados compostos de
argamassas e materiais cerâmicos, e 12 a 18% para
argamassas e tijolos cerâmicos maciços.
Segundo Topçu (1997), na pesquisa publicada pela
Building Contractors Society in Japan (B.C.S.J.), os valores
encontrados na taxa de absorção foram de 3,6 a 8 % para
os agregados reciclados graúdos e 8,3 a 12,1 % para os
agregados miúdos, ambos provindos dos resíduos de
concreto.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
145
Katz (2002) encontrou na taxa de absorção, valores de
3,2 % a 12 % para a fração graúda e miúda,
respectivamente. Para Topçu & Günçan (1995), o índice
alcançado para os agregados reciclados graúdos foi de 7 %,
sendo esta absorção medida em 30 minutos.
Assim sendo, a absorção de água é extremamente
importante na confecção de concretos com agregados
reciclados, pois esta taxa pode alterar as propriedades
físicas e mecânicas dos novos materiais. Evidencia-se que a
quantidade de água absorvida por estes agregados interfere
diretamente na relação a/c final das misturas (LEITE, 2001).
Se a absorção não for considerada, além da relação a/c ser
reduzida, haverá uma menor trabalhabilidade das misturas
(LEITE, 2001), vindo a influenciar a aderência entre o
agregado e a pasta, a resistência à compressão e à
abrasão, a estabilidade química, e a resistência ao
congelamento e degelo (NEVILLE, 1994).
4.1.4.5 Forma e Textura das Partículas
A forma e textura superficial dos agregados exercem
maior influência no volume total da pasta e na plasticidade
dos concretos, principalmente no estado fresco do que no
endurecido (REVISTA TÉCHNE, 2003; MEHTA &
MONTEIRO, 1994). Segundo Mehta & Monteiro (1994), as
partículas irregulares (angulosas e alongadas) e de textura
áspera, requerem em um maior consumo de cimento na
produção dos concretos e conseqüentemente no maior
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
146
custo do concreto, quando comparadas com as partículas
lisas e arredondadas.
Leite (2001) comenta que a textura dos agregados
reciclados é mais rugosa e porosa do que a textura dos
agregados naturais. A superfície dos agregados naturais
pode ser classificada como polida e dos agregados
reciclados como áspera ou muito áspera (HAMASSAKI et
al., 1996 apud LEITE, 2001). No entanto, a composição, a
argamassa aderida às partículas e o tipo de beneficiamento
dos resíduos a serem reciclados refletem na maior
angulosidade do material (ALTHEMAN, 2002).
Diante disso, a forma e textura dos agregados
reciclados nas misturas de concreto tornam a pasta mais
coesa e de menor trabalhabilbidade, quando comparados
com os a mesma mistura feita com agregados naturais. A
maior absorção de água pelos poros superficiais do
agregado reciclado, proporciona um aumento do consumo
de cimento para produzir misturas mais trabalháveis,
elevando assim o custo do concreto. Por outro lado, a maior
absorção da pasta de cimento pelos poros superficiais
permite maior precipitação dos cristais de hidratação nestes
poros, tornando a matriz do concreto e o agregado um bloco
único de material, melhorando com isso o desempenho das
propriedades do concreto endurecido (LEITE, 2001).
4.1.4.6 Desgaste por Abrasão do Agregado
O ensaio de perda por abrasão Los Angeles tem o
objetivo de avaliar o desgaste do material reciclado, o que
determina a resistência mecânica dos agregados por
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
147
fragmentação a choque e por atrito. Por sua vez, esse
ensaio é um indicativo de qualidade do material quando é
utilizado na produção de concreto (LEITE, 2001).
O limite de perda de massa por abrasão Los Angeles é
especificado pela norma brasileira NBR 6485/84 e pela
ASTM 33, que considera inadequado para o uso em
concretos, os agregados que apresentam índices superiores
a 50 % em massa de perda por abrasão (LIMA, 1999;
LEITE, 2001).
Alguns ensaios realizados levam à conclusão que os
agregados reciclados apresentam menor resistência ao
impacto e desgaste por abrasão que os agregados naturais,
o que revelam que a perda nos agregados reciclados é 20 a
50 % maior que os agregados naturais (LEITE, 2001).
Hansen (1992 apud LEITE, 2001) ressalta que no caso dos
agregados de concreto, a composição e o tipo de material
que deu origem ao reciclado, exerce influência nos
resultados obtidos pelo ensaio de abrasão. Portanto, o valor
de perda por abrasão nos agregados reciclados será tanto
menor, quanto maior for a resistência do concreto que os
originou.
Na maioria dos resultados encontrados na bibliografia
de perda por abrasão para agregados reciclados satisfazem
o limite exigido pelas normas. Para Carneiro et al. (2001), o
agregado reciclado graúdo apresentou uma perda de 45 %.
Barra (1996 apud LEITE, 2001) encontrou valores para os
agregados graúdos reciclados, entre 20 a 30 % de perda
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
148
por abrasão, sendo que estes agregados eram provenientes
do beneficiamento de concreto e materiais cerâmicos
separadamente.
4.1.4.7 Impurezas Orgânicas e Materiais
Contaminantes
No uso dos agregados reciclados, deve-se ater
também, as impurezas ou materiais contaminantes
presentes nos resíduos que podem permanecer nos
agregados, mesmo com uma prévia separação antes e após
a britagem (ALTHEMAN, 2002).
Consideram-se substâncias impuras ou deletérias no
reciclado, praticamente todos os materiais minerais não
inertes ou àqueles que prejudicam a qualidade de concretos
e argamassas: matéria orgânica, plásticos, resíduos de
pavimentos betuminosos, gesso, madeira, plásticos em
geral, vidros, metais, substâncias contaminadas com
cloretos, sulfatos, álcalis, nitratos, entre outras. Tais
substâncias podem tornar prejudicial à fabricação de novos
materiais quando estas forem incorporadas aos agregados
reciclados (HANSEN, 1992 apud LEITE, 2001).
Em estudos desenvolvidos no sentido de avaliar os
efeitos negativos de algumas impurezas encontradas nos
resíduos de construção e demolição, observou-se que das
propriedades do concreto, a resistência mecânica, pode vir
a sofrer uma redução significativa, acarretando na maior
instabilidade quanto à durabilidade desse concreto.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
149
A exemplo, Leite (2001) comenta alguns dos principias
problemas decorrentes de certas substâncias deletérias ou
contaminantes. Verifica-se que a resistência à compressão
dos concretos pode ser afetada pela presença de matéria
orgânica (ocorrendo na instabilidade e quantidades
indesejáveis de ar no concreto) e material betuminoso
(diminuição de 30 % da resistência à compressão quando
adicionados 30 % em volume de asfalto no agregado
reciclado de concreto). O efeito do gesso, pela formação de
etringita secundária, que é muito expansiva, e dos cloretos,
podem comprometer as estruturas de concreto pelo
aparecimento de fissuras, resultando na corrosão das
armaduras. Já a presença do vidro vem a acarretar a
existência da reação álcali-sílica em meio aquoso dos
agregados, o que também pode ocasionar expansões
seguidas de fissuras e baixa resistência do concreto.
Pequenas quantidades de metais (aço ou pedaços de
arame), podem causar manchas e pequenos danos à
superfície dos concretos, pela presença dos cloretos. Além
disso, a penetração dos íons cloreto nas estruturas,
principalmente em áreas marinhas ou em pontes, pode
provocar problemas de corrosão nas armaduras (LEITE,
2001).
De acordo com Lima (1999), alguns contaminantes
(como solo, madeira, betume, matéria orgânica e outros),
tem os teores admissíveis estabelecidos por normas
estrangeiras. Como boa parte dessas substâncias
apresentam massa específica bem abaixo à dos resíduos
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
150
minerais inertes, uma das formas de controle de seus teores
é limitar à presença de materiais abaixo de determinada
massa, conforme é proposto à norma japonesa e a Diretriz
121-DRG (item 3.9a). Porém, para os materiais
contaminantes com massa específica igual ou superior à do
reciclado, a sua eliminação é feita por outros métodos (p.
ex. vidro e metais)
Entretanto, o uso pretendido para o agregado reciclado
é que determinará os limites dos teores admissíveis por
estes materiais contaminantes (LIMA, 1999).
4.1.5 RECOMENDAÇÕES NORMATIVAS E
ESPECIFICAÇÕES PARA OS AGREGADOS RECICLADOS
Para se atingir o desenvolvimento sustentável é
importante que o processo de reciclagem torne-se viável, e
o sucesso deste processo depende do mercado privado dos
componentes reciclados de resíduos de construção e
demolição. Para tanto, é necessário estabelecer padrões de
qualidade e uma metodologia confiável, rápida e de baixo
custo, de forma que seja possível a re-inserção do resíduo
em um novo ciclo produtivo possibilitando a valoração
destes.
Poucos, ainda, são os países onde a reciclagem dos
resíduos de construção e demolição já se faz presente.
Apenas alguns países como Alemanha, Dinamarca, Holanda
e Japão, possuem propostas, decretos e especificações
normativas do material, garantindo a forma mais correta
para a aplicação dos agregados reciclados, desenvolvidos,
em particular, na indústria da construção civil.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
151
Recentemente, no Brasil, foi desenvolvido pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a Resolução n. 307
de 05 de julho de 2002, que aborda os aspectos normativos
referentes à gestão dos resíduos de construção e
demolição.
Diante disso, neste tópico serão apresentadas algumas
propostas ou diretrizes para normalização do material
reciclado, visando contribuir para o estudo, tendo em vista o
melhor desempenho e a melhor forma de utilização desses
resíduos em locais onde os agregados reciclados ainda não
são utilizados. È importante ressaltar que muitos dos
documentos são referentes a outros países, e as
informações neles contidas, foram objetos de análise para a
adequação à realidade da construção e da inserção da
reciclagem dos resíduos de construção e demolição no
Brasil (LIMA, 1999).
a) “Especificações da RILEM para uso de
agregados reciclados para concreto” – Diretriz 121-DRG
do RILEM (The International Union of Testing and
Research Laboratories for Materials and Strutures)
A recomendação Européia RILEM (1994) trata de
especificar e considerar o campo de aplicação dos
concretos com agregados graúdos de resíduos de
construção e demolição em suas misturas. Além disso, o
documento determina critérios para o cálculo de estruturas
de concreto com agregados reciclados, tendo como base às
exigências para os concretos convencionais.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
152
Segundo a RILEM, os agregados reciclados podem ser
divididos em três categorias definidos pelas seguintes
aplicações:
TIPO I – agregados reciclados graúdos provenientes
de resíduos de alvenaria. Podem ser utilizados em
concretos cuja resistência característica à compressão é
avaliada entre 16 a 20 MPa, com controle à classe de
exposição da norma ENV 206 (durabilidade).
TIPO II – agregados reciclados graúdos provenientes
de resíduos de concreto. O emprego é limitado em
concretos com resistência característica à compressão de
50 a 60 MPa, sem comprometimento em função da classe
de exposição, porém com controles de cloretos e ciclos de
ação gelo-degelo.
TIPO III – mistura de agregados reciclados (no máximo
10 % em massa de agregados de alvenaria) e agregados
naturais (porcentagem mínima é de 80 % em massa). Neste
caso, sem limite de resistência e classe, apenas controles
de cloretos e ação gelo-degelo.
De maneira geral, para todos os tipos de aplicações,
controlar a reação álcali-agregado se faz necessário.
A Tabela 3-6 mostra os critérios de classificação
utilizada pela RILEM segundo Ângulo & John (2001) quanto
ao uso dos agregados reciclados em concretos. Também,
deve-se levar em consideração as propriedades relativas
aos aspectos ambientais e de saúde. Neste caso, a
contaminação dos agregados reciclados por metais
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
153
pesados; características de lixiviação, presença de materiais
radioativos são critérios que deverão ser atendidos para
uma possível aplicação.
Tabela 3-6 – Recomendação da RILEM para uso de
agregados reciclados graúdo para fabricação de concretos
(RILEM, 1994 apud ÂNGULO & JOHN, 2001).
Especificações
Con
creto
com
agregado
graúdo
reciclado Méto
do de
Ensaio T
I
P
O
I
T
I
P
O
I
I
T
I
P
O
I
I
I
Massa Específica mínima do
material seco (kg/m3)
1
5
0
0
2
0
0
0
2
4
0
0
ISS
O 6783 e
7033
Absorção de água máxima
(%)
2
0
1
0 3
ISS
O 6783 e
7033
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
154
Quantidade máxima de
material SSS < 2200 kg/m3 (%)
a
1
0
1
0
AST
M C 123
Quantidade máxima de
material SSS < 1800 kg/m3 (%)
1
0 1 1
AST
M C 123
Quantidade máxima de
material SSS < 1000 kg/m3 (%) 1
0
,
5
0
,
5
AST
M C 123
Quantidade máxima de
impurezas (vidro, betume,
plásticos) (%) 5 1 1
Visu
al
Quntidade máxima de
metais (%) 1 1 1
Visa
ul
Quantidade máxima de
matéria orgânica (%) 1
0
,
5
0
,
5
NEN
5933
Quantidade máxima de finos
< 0,063 mm (%) 3 2 2
pr
EN 933-1
Quantidade máxima de areia
< 4 mm (%)b 5 5 5
pr
EN 933-1
Quantidade máxima de
sulfatos (%)c 1 1 1
BS
812, parte
118
a- Condição saturada com superfície seca
b- Se for excedido o limite de fração da areia, esta
parte do agregado deverá ser considerada como parte da
areia total a ser utilizada
c- Quantidade de sulfato deverá ser calculada como
SO3
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
155
SSS – Superfície Saturada Seca
As porcentagens constantes na tabela referem-se à
massa/massa
b) “Proposição de norma para o uso de agregado
reciclado e concreto com agregado reciclado” – JAPÃO
Uma das mais antigas especificações para utilização
de agregado reciclado em concretos foi proposta pelo
Building Contractors’ Society of Japan, em 1977. Segundo
Hansen (1992 apud LEITE, 2001) este documento prevê
somente a utilização de concreto para os agregados
reciclados. Para o autor, as principais especificações do
concreto reciclado são boa qualidade, ausência de materiais
contaminantes ou com teores de impurezas acima do
permitido, ser classificado de acordo com o tipo (dimensão e
composição) de agregado usado.
Nesta proposta, também são apresentados os
possíveis usos dos concretos reciclados (Tabela 3-7)
relacionados com os tipos de concreto de agregado
reciclado especificados pela resistência à compressão de
projeto, conforme (Tabela 3-8).
Tabela 3-7 – Tipos de concretos de agregados
reciclados e valores máximos de resistência à compressão
(HANSEN, 1992 apud LIMA, 1999).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
156
T
ipo de
concr
eto de
agreg
ado
recicl
ado
Tipo de
agregado
Valores máximos
admissíveis de resistência à
compressão (MPa)
G
ra
ú
d
o
M
iúd
o
Resi
stência
de
projeto
(fck)
Resis
tência de
dosagem
(fcj)
I
R
ec
icl
ad
o(1
)
C
onv
enc
ion
al 18 30(2)
II
R
ec
icl
ad
o(1
)
M
istu
ra
de
con
ven
cio
nal
e
reci
cla
do 15 27(2)
II
I
R
ec
icl
ad
R
eci
cla
do 12 24(2)
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
157
o(1
)
Nota: (1) Incluindo mistura com agregados de massa
específica visual
(2) Podem ser usados valores maiores, desde
que o consumo de cimento não se torne excessivo
Tabela 3-8 – Usos indicados para concretos de
agregados reciclados (HANSEN, 1992 apud LIMA, 1999).
Tipo
de
concreto Objetivos principais de uso
I
Fundações de prédios em geral, funações de
edifícios de apartamentos, edificações resienciais
unifamiliares, edificações familiares de um
pavimento, fundações pesadas, etc.
II
Fundações para blocos de concreto pré-
fabricados, construções leves não residenciais,
fundações de máquinas, etc.
III
Fundações de edifícios de madeira, portões,
cercas, funações de máquinas simples, lajes em
declive, etc.
Talvez a escassez de matéria-prima e o esgotamento
de espaço territorial no Japão, foram, ainda que remotos, os
principais motivos de elaboração de uma proposta de norma
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
158
com concretos reciclados. Dado o avanço nas pesquisas
nos últimos anos quanto às propriedades dos concretos
reciclados, pode-se considerar este documento um tanto
quanto conservador (LEITE, 2001).
c) “Recomendações do CUR para uso de agregado
reciclado em concretos” – HOLANDA
A norma holandesa proposta pelo CUR (Commissie vor
Uitvoering van Research – Comissão de desenvolvimento e
pesquisa) apresenta informações gerais sobre os processos
de reciclagem dos resíduos de construção e demolição
(LIMA, 1999).
Segundo a norma holandesa NEN 6720 “Construction
Requirements and Calculating Methods (VBC 1995)”
permite-se substituir na confecção de concretos, tanto
simples, armado ou protendido, de até 20 % da massa de
agregado graúdo por agregado reciclado de concreto. Caso
contrário, se a substituição for menor que este valor,
considera-se o concreto como convencional. Para os
agregados de alvenaria, o percentual de substituição é de
no máximo 10 % (BUTTLER, 2003). Outra norma utilizada é
a NEN 5905:1997 “Aditives for Concrete”, que contém os
parâmetros de qualidade para os agregados reciclados.
Lima (1999) aponta as principais propriedades do
agregado reciclado descrito no documento: menor
densidade, a qual leva à necessidade de correções dos
traços, para manter as proporções massa/volume dos
materiais; alta absorção de água, que pode gerar retração
por secagem ou expansão no umedecimento, diminuição
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
159
das resistências mecânicas dos concretos reciclados (10 a
35 % menor que as resistências dos concretos
convencionais); aumento da retração (30 a 65 % a mais que
os concretos convencionais); diminuição do módulo de
deformação, entre outros. Na Tabela 3-9 são apresentadas
as relações entre os parâmetros de concreto convencional e
com agregados reciclados.
Tabela 3-9 – Relação entre os parâmetros de concreto
com reciclado e concreto convencional (CUR, 1986 apud
LIMA, 1999).
Parâmetro
Reciclado de
concreto
Reciclado
de alvenaria
Concreto
grau:
B
17,5
e B
22,5
B
27,
5 e
B
45
B 17 e B
22,5
Coef. de
expansão térmica
10-6/ºC
1
3,6
1
3,1 14,9
Resistência à
tração 1 1 1
Módulo de
Elasticidade
0
,95
1
,55 1,25
Retração
1
,35
1
,55 1,25
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
160
Relaxação
1
,45
1
,25 1,15
Atualmente, na Holanda, há um grande avanço no uso
de agregados reciclados de construção e demolição (LEITE,
2001). Isto porque, segundo Dorsthorst & Hendriks (2000
apud LEITE, 2001), desde o ano 2000 foram proibidos
depositar em aterros, resíduos com alto potencial de
reutilização.
Com o incentivo a reciclagem, o país já dispõe em
algumas empresas de certificados de qualidade para os
agregados reciclados produzidos, desenvolvidos pela
Organização de Produtores de Agregados Reciclados
(BRBS) (LEITE, 2001).
d) Normalização alemã para especificação de
agregados reciclados
Na Alemanha, foi elaborado pelo Instituto Alemão, um
documento intitulado de “Materiais de construção reciclados
para a construção de estradas. Garantia de qualidade. RAL-
RG 501/1” que estabelece diretrizes para a utilização de
agregado reciclado em pavimentação, garantindo qualidade
nos procedimentos de obtenção, beneficiamento,
armazenagem e classificação dos resíduos de construção a
serem reciclados (LIMA, 1999).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
161
Leite (2001) referencia as especificações para o uso
de agregados reciclados de concreto em misturas de
concreto observadas no Novo Código Alemão “Concreto
com agregado reciclado de concreto” (Beton mit rezykliertem
Zuschlag – título original em alemão). Este documento é
dividido em duas partes, retratando na primeira, a
Tecnologia do concreto (referentes à produção e manuseio
do concreto) e na segunda, o Agregado reciclado de
concreto em forma de pedra britada e areia britada, devendo
cumprir as exigências estabelecidas pelos agregados
reciclados, em paralelo com as especificações da DIN 4226
“Agregado para concreto: itens, correções e exigências”
para agregados naturais.
O novo Código faz referências as propriedades do
concreto reciclado, que deve ser relacionado diretamente
com as propriedades do concreto convencional. Deve-se
também avaliar, as variações nas partidas de material,
determinando regularmente a massa unitária e a absorção
de água, para que não comprometa a utilização desses
materiais reciclados.
e) Especificações para uso de agregados
reciclados em outros países
Nos Estados Unidos, estudos têm direcionado a
normalização e controle de aceitação de agregados
reciclados de concreto para aplicação em pavimentação
rodoviária. As normas ASTM C 33-82 e ASTM 125-79,
fazem alusão na definição do agregado graúdo e miúdo
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
162
obtidos através do beneficiamento do concreto de cimento
hidráulico, respectivamente, para uma possível utilização do
material reciclado em rodovias (LEITE, 2001).
Na Comunidade Européia, o uso de reciclados é
regulamentado pelo Comitê CEN 154-AHG- Recycled
Aggregates, que trata das propriedades de reciclados
exigíveis para a utilização em argamassas, concretos e
outros (LIMA, 1999).
A recomendação dinamarquesa, publicada pela Danish
Concrete Association em 1990 e uma emenda aprovada em
1995, retratam os aspectos envolvendo agregados
reciclados de concreto e sua aplicação. O texto define as
terminologias, classificação dos agregados reciclados e
recomendações para o tipo de uso de cada agregado
definido.
f) Proposta de especificação para o uso de
agregado reciclado - BRASIL
Segundo Assis & Oliveira (2000 apud BUTTLER,
2003), a Prefeitura Municipal de São Paulo, através do
Decreto n. 37.952, de 10 de maio de 1999, vem tentando
disciplinar a coleta e a destinação final dos resíduos
descartados pela obras de construção civil. Entretanto, este
texto não deixa claro no que diz respeito à gestão dada a
estes resíduos: gerenciamento, manuseio, áreas de triagem
e transbordo, forma de escolha de locais utilizados para
deposição final, entre outros. Com isso, a difusão da
reciclagem dois resíduos de construção e demolição vem
sendo prejudicada, talvez, por falta de um embasamento
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
163
técnico-científico ou pela falta de normas específicas ou
inadequadas ao uso de materiais reciclados.
No entanto, Lima (1999) compilou alguns trabalhos
realizados no país e no exterior onde propôs em sua
dissertação, especificações para uso de agregado reciclado
em concretos. O objetivo geral de sua proposta foi
estabelecer os agregados recicláveis para uso em concretos
comuns ou em concretos reforçados (usado em fundações
de pequenas edificações, regularização de pisos, passeios,
produção de blocos, tijolos ou outros materiais pré-
fabricados), sem fins estruturais e resistentes a água.
Na sua especificação, o autor define três tipos de
agregados reciclados para concreto, usando as frações de
agregado miúdo e graúdo reciclado, sendo substituídos
parcial ou totalmente, conforme mostra a Tabela 3-10. A
estes tipos de agregados reciclados foram definidos alguns
requisitos mínimos para a aplicação em concretos (Tabela
3-11).
Além da proposta abordada por LIMA para a aplicação
do agregado reciclado, outra normalização foi publicada
recentemente no Brasil. A implantação da Resolução n. 307
de 05 de julho de 2002 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA (2002), determina a responsabilidade
sobre o resíduo ao gerador e sobre a gestão dos resíduos
da construção civil. Para efeito desta resolução são
definidas algumas terminologias, classificação dos resíduos
(item 3.3) e pontos fundamentais para estabelecer um plano
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
164
de gerenciamento dos resíduos de construção e demolição.
Alguns destes pontos são enumerados a seguir:
Os geradores deverão priorizar a não geração de
resíduos e, secundariamente a redução, reutilização, a
reciclagem e a destinação final dos resíduos de construção
e demolição, sendo que estes, não poderão mais ser
depositados em aterros de resíduos domiciliares, em áreas
de “bota fora”, em corpos d’água, em encostas, em lotes
clandestinos e em áreas protegidas por Lei.
Na implementação da gestão dos resíduos da
construção civil deverá ser realizado o Plano de
Gerenciamento Integrado de Resíduos da Construção Civil,
elaborado pelos Municípios e Distrito Federal, abordando os
seguintes itens: 1) cadastramento das áreas aptas para
recebimento, triagem e armazenamento temporário de
menores volumes para uma posterior destinação dos
resíduos até as áreas de beneficiamento; 2) em áreas não
licenciadas fica proibida a disposição dos resíduos de
construção; 3) incentivo à re-inserção dos resíduos
reutilizáveis ou reciclados no ciclo produtivo; 4) ações de
educação, de orientação, fiscalização e controle dos
agentes envolvidos.
O Distrito Federal e os Municípios deverão
elaborar seus Planos de Gerenciamento Integrado dos
Resíduos de Construção Civil no prazo máximo de doze
meses, e implementando-o no máximo, em dezoito meses,
sendo que esta Resolução entra em vigor a partir de 02 de
janeiro de 2003.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
165
Os resíduos de construção classificados por esta
Resolução deverão ser assim destinados: Resíduos de
Classe A deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de
agregados, ou dispostos em áreas de aterro de resíduos da
construção civil, para posterior utilização ou reciclagem. Os
de Classe B, poderão ser encaminhados em áreas de
armazenamento temporário, serem reciclados ou
reutilizados, permitindo também sua reciclagem futura ou
utilização. Já os resíduos de Classe C e D deverão ser
transportados, destinados e armazenados conforme as
normas técnicas específicas para estes tipos de resíduos.
4.1.6 POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DO
AGREGADO RECICLADO DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO
As inúmeras pesquisas relacionadas ao estudo de
agregados reciclados e as características apresentadas
pelos resíduos de construção e demolição confirmam o
grande potencial de utilização desse material reciclado para
diferentes aplicações em serviços e obras de engenharia.
Os países desenvolvidos vêm consolidando o uso dos
resíduos de construção e demolição reciclados
principalmente como material de enchimento em obras de
pavimentação (no emprego de bases e sub-bases na
construção de rodovias e estradas, tanto de concreto quanto
de asfalto) (POON, 1997; POON et al., 2002; PINTO, 1999;
HANSEN, 1992 apud LIMA, 1999). Além disso, os
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
166
agregados reciclados também podem ser usados na
produção de argamassas para revestimento e assentamento
de alvenarias (MIRANDA & SELMO, 2003; ÂNGULO et al.,
2001b; LIMA, 1999), em obras de drenagem, como lastro,
assentamento de tubos, camadas drenantes (TOPÇU, 1995;
BRITO FILHO, 1999), em nivelamento de terrenos e
cascalhamento de ruas de terras (CARNEIRO et al., 2001),
em coberturas para aterros de inertes, em contenção de
taludes (LIMA, 1999), em concretos de diferentes
resistências mecânicas (ANGULO et al., 2003b),
componentes pré-fabricados de concreto não armado para
infra-estrutura urbana, como blocos de concreto para
pavimentação, briquetes, tubos, tijolos maciços, meio-fio,
entre outras (LIMA, 1999).
Os estudos que vem sendo desenvolvidos no Brasil
desde o final da década de 80, em algumas pequenas
municipalidades que possuem políticas adequadas para a
prática da reciclagem dos resíduos de construção e
demolição, já apontam que o uso dos agregados reciclados
no setor da pavimentação ainda não é suficiente para
permitir a reciclagem completa ou o consumo integral dos
resíduos de construção e demolição gerados, até porque,
parte do agregado natural é utilizado na fabricação do
concreto asfáltico e não todo na base ou sub-base do
pavimento (ANGULO, 2002; ANGULO et al., 2003b), e
também, devido a pouca demanda para a pavimentação em
alguns centros urbanos brasileiros (PINTO, 1999).
Em contrapartida, a utilização em camadas de
pavimentação, ainda é uma das formas de reciclagem mais
difundidas para este tipo de resíduo, por exigir processos de
reciclagem menos sofisticados (CARNEIRO et al., 2001).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
167
È importante ampliar no máximo as opções e a solidez
dos usos dos agregados de construção reciclados em novos
mercados. Estudos referentes à utilização desses
agregados em outras aplicações, como em argamassas e
concretos, vem se destacando em países como Japão,
Inglaterra e Holanda (ANGULO & JOHN, 2002). Segundo os
autores, tais países têm buscado a diversificação das
aplicações de componentes, pela consolidação de seu
processo de reciclagem, tanto pela substituição parcial ou
total dos agregados naturais (areia e brita) pelos agregados
reciclados. Já no Brasil, o uso desse material em
argamassas e concretos tem avançado nos últimos anos,
sendo que, a utilização argamassas em várias empresas
construtoras do país já é bastante significativa (PINTO,
1999).
Do ponto de vista técnico, os agregados reciclados de
construção e demolição têm uma grande variabilidade em
sua composição, influenciando assim nas possibilidades de
aplicação dos reciclados, como é o caso do uso em
concretos, que demanda certa confiabilidade nas
características dos agregados. No entanto, quando são
atingidas as propriedades especificadas, a utilização dos
reciclados pode acontecer em qualquer situação.
Neste sentido, a Revista Téchne (2003) comenta que a
Bélgica já vem produzindo Concreto de Alto Desempenho
(CAD) com entulhos. No Brasil, a iniciativa privada já atua
na reciclagem do concreto, como é o caso do concreto DI
(deformável e isolante), que incorpora vários rejeitos
industriais na composição, sendo recomendável para
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
168
defensas de rodovias, pela alta capacidade de absorção de
impactos, além da utilização em lajes, paredes e muros, por
criar barreiras de absorção térmica e acústica.
De acordo com John & Agopyan (2000), praticamente
quase a totalidade da fração cerâmica pode ser beneficiada
como agregado para diferentes aplicações conforme sua
composição específica e as limitações técnicas. As frações
compostas por resíduos de concretos estruturais e de
agregados naturais, em sua grande maioria, podem ser
reciclados e aplicados na produção de novos concretos
estruturais. Já os agregados mistos, compostos de
argamassas e produtos de cerâmica vermelha e de
revestimento, provocam uma maior absorção de água e
redução na resistência dos agregados, tendo sua aplicação
limitada a concretos de baixa resistência mecânica, como
blocos de concreto, contra-pisos, camadas drenantes, entre
outras. Outra aplicação possível com agregados mistos é
produção de argamassas em canteiro de obras, embora
ainda apresente problemas técnicos devido à utilização de
equipamentos específicos.
Ainda, segundo John & Agopyan (2000) são usadas
frações recicladas de solo misturado a materiais cerâmicos,
com baixos teores de gesso, empregados na forma de base
e sub-base para pavimentação. Os componentes metálicos
podem ser vendidos a indústria da sucata. As demais
frações que compõe os resíduos de construção e demolição,
em especial a madeira, embalagens e gesso ainda não
dispõem de tecnologia suficiente para reciclagem.
Certamente, para o desenvolvimento de mercado para
reciclagem de resíduos de construção e demolição é
necessário obter melhorias na gestão do processo de
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
169
reciclagem, estabelecer critérios de qualidade e tecnologia
do beneficiamento dos reciclados (ANGULO et al., 2003b),
como por exemplo, a utilização da técnica de pilhas de
homogeneização para que seja reduzida a variabilidade dos
agregados (ANGULO et al., 2001b).
Vale ressaltar que os resíduos de construção e
demolição quando convenientemente selecionados,
reciclados e classificados de modo que se obtenha materiais
com qualidade e segurança ambiental, podem ser
empregados na construção civil em diferentes formas de
reaproveitamento, adequando o material reciclado aos
possíveis usos, tomando como base à compatibilidade entre
as características das matérias-primas, dos componentes
gerados e dos usos a serem estipulados.
4.1.7 PROPRIEDADES E ESPECIFICAÇÕES GERAIS
DOS MATERIAIS CONFECCIONADOS COM AGREGADOS
RECICLADOS
Neste item são apresentadas as considerações gerais
sobre o desenvolvimento e as aplicações potenciais do
material reciclado, analisando suas propriedades e
características, baseado em informações das pesquisas
realizadas no Brasil e no exterior.
Nas análises, avaliaram-se predominantemente as
características quanto ao uso do reciclado em bases de
pavimentação, em concretos e argamassas, devido à maior
experiência realizada ao emprego de agregado obtido pela
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
170
reciclagem dos resíduos de construção e demolição, sendo
que as demais aplicações, em condições particulares, não
foram objeto de análise específica.
4.1.7.1 Caracterização do uso dos agregados
reciclados em pavimentos
Os agregados reciclados de construção e demolição
empregados em obras de pavimentação, sobretudo em
camadas de base e sub-base de vias urbanas, têm-se
mostrado viável na base tecnológica existente (CARNEIRO
et al., 2001). Várias cidades brasileiras, como São Paulo,
Ribeirão Preto e Belo Horizonte, já vem obtendo resultados
satisfatórios no uso em larga escala do agregado para base
de pavimentação (PINTO, 1999; ÂNGULO, 2002). A
experiência realizada em outros países vem utilizando o
agregado reciclado como material para nivelamento de
terrenos, drenagem, reforços de subleito e sub-bases de
rodovias e estradas.
Para a utilização dos agregados reciclados em
pavimentação é indispensável conhecer certas propriedades
do material para determinação das características
mecânicas e geotécnicas. As propriedades e especificações
dos materiais (solos e agregados) são destacadas a seguir:
a) Granulometria
O sistema de classificação de solos e agregados
aplicados à pavimentação (bases, sub-bases, subleitos, vias
secundárias, aterros , entre outros), utiliza a curva
granulométrica proposto pela AASHTO – American
Association of State Highway and Transportation Officials,
apresentado sob duas formas: granulometria contínua
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
171
(presentes todos os tamanhos de partículas em um
determinado intervalo granulométrico, que proporciona um
material melhor compactado e resistente) e granulometria
descontínua (quando há uma uniformidade no tamanho dos
grãos ou deficiência significativa na faixa de diâmetro dos
grãos presentes no material, acarretando um material mal
graduado) (CARNEIRO et al., 2001).
No Brasil, as especificações para materiais de base e
sub-base de pavimentos estabilizados granulometricamente
são obtidas através da norma NBR 11804, a qual apresenta
das necessidades do enquadramento da curva
granulométrica contínua. Ressalta-se que, para a execução
de camadas estabilizadas granulometricamente, a
porcentagem de material passante na peneira 0,075 mm
deve ser inferior a 2/3 da porcentagem passante na peneira
0,42 mm.
b) Limites de consistência ou limites de Atterberg
O teor de finos, a umidade, a composição química e
mineralógica das partículas também são propriedades que
devem ser levadas em consideração na avaliação da
aplicação do material com agregados reciclados em
pavimentos. Para tanto, ensaios de Limites de Consistência
ou também conhecidos como Limites de Atterberg, segundo
as Normas Brasileiras NBR 6459 e NBR 7180, permitem
avaliar a presença da água em diferentes estados, obtendo
assim, os limites de liquidez e plasticidade, bem como o
índice de plasticidade dos materiais usados (CARNEIRO et
al., 2001).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
172
Segundo a NBR 11804, os índices máximos permitidos
para o limite de liquidez e o índice de plasticidade na
execução de base e sub-base de pavimentos devem ser
inferiores a 25 % e a 6 %, respectivamente. Tais proporções
tendem evitar a perda de suporte ou a grande expansão da
camada do pavimento, gerada pelo aumento da umidade ou
pela infiltração de água após a construção da
pavimentação.
Segundo Triches & Kryckyj (1999), os agregados
reciclados são considerados materiais não-plásticos,
podendo ser aplicado em locais com presença de água ou
utilizado como redutor da plasticidade na estabilização de
solos plásticos, como é o caso do solo saprolítico,
contribuindo, contudo, na geração de pouca ou nenhuma
lama.
c) Massa específica seca máxima e umidade ótima
A massa específica seca máxima e o teor de umidade
do material usado na pavimentação são avaliados pelo
ensaio de compactação, segundo a norma brasileira NBR
7182, através de processos manuais ou mecânicos
utilizando diferentes energias (Proctor Normal, intermediário
e Modificado). Carneiro et al. (2001) comenta que a escolha
da energia empregada relaciona-se em função do uso dado
ao material analisado. Quanto menor a energia de
compactação, menor será o valor teor de umidade ótima e
maior será o valor da massa específica seca.
Em estudos desenvolvidos na Usina de asfalto da
Prefeitura Municipal de São Paulo, baseados nas
características dos solos tropicais típicos da região (solo
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
173
laterítico e saprolítico)1, constatou-se que os teores de
umidade ótima do agregado reciclado tiveram
comportamento similar ao do solo, permitindo melhor
homogeneização dos materiais e menor dispersão da
umidade em qualquer mistura de solo / agregado reciclado
(PINTO, 1998 apud CARNEIRO et al., 2001).
Triches & Kryckyj (1999) mostram que os agregados
reciclados apresentam baixa expansibilidade, contribuindo
para a não expansão das camadas compactadas quando
estas estiverem submetidas à saturação.
d) Abrasão los angeles
Esta propriedade tem por objetivo avaliar o desgaste
do material submetido a esforços de impacto e atrito. A
norma brasileira, NBR 6465 apresenta o ensaio para
determinação desta propriedade. Segundo a NBR 11804, o
valor máximo permitido no uso para bases e sub-bases de
pavimentos estabilizadas granulometricamente são de 55 %
de perda de material. Entretanto, de acordo com os padrões
americanos estabelecidos pela AASHTO, permite-se o uso
de agregados com índice de abrasão Los Angeles
superiores aos estabelecidos pelas normas brasileiras,
tendo em vista o comportamento adequado desse material
nas experiências realizadas (CARNEIRO et al., 2001).
1 Solo laterítico – típico de regiões tropicais úmidas, podendo ser tanto residual quanto
transportado;
Solo saprolítico – resulatnte da decomposição in situ da rocha que deu origem ao solo,
sendo exclusivamente residuais. Tendem a ser mais plásticos (CARNEIRO et al.,2001).
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
174
e) Índice de suporte califórnia (CBR)
O Índice de Suporte Califórnia (CBR – Califórnia
Bearing Ratio) é analisado através da NBR 9895, que
apresenta as características de deformabilidade, de
capacidade de suporte e expansão do material reciclado em
pavimentos quando submetido à carga estática em
condições saturadas (CARNEIRO et al., 2001).
Segundo a NBR 11804, os valores exigidos de CBR no
desempenho de materiais para leitos, subleitos, bases e
sub-bases de pavimentos, são:
Bases de pavimentos - CBR maior ou igual a 60 %
e expansão menor ou igual a 0,5 %;
Sub-bases de pavimentos – CBR maior ou igual a
20 % e expansão menor ou igual a 1 %.
Estudos realizados por técnicos da Usina de Asfalto da
Prefeitura de São Paulo, mostram que em mistura de solo
com baixas adições de agregado reciclado (20 a 30 %), em
estabilização da camada com solo laterítico, apresentou
ótima capacidade de suporte, com valores do CBR de até
100 % (CARNEIRO et al., 2001).
Outros trabalhos feitos nesta mesma usina, também
atingiram para os agregados reciclados valores de CBR
variando de 40 % (com resíduos praticamente cerâmicos)
até 120 % (resíduos brancos) (BRITO FILHO, 1999).
Tais resultados propiciam o emprego dos agregados
reciclados de construção e demolição para execução de
pavimentos, proporcionando assim uma economia
significativa nos custos de execução, quando comparados
com os materiais convencionais.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
175
4.1.7.2 Caracterização das argamassas de
revestimento com agregado reciclado
Uma das formas de aproveitamento dos resíduos de
construção e demolição é a utilização de agregados
reciclados em argamassas de revestimento de superfícies
(PINTO, 1999), principalmente em emboços (LIMA, 1999).
Nas últimas décadas, países como o Brasil, Argentina e
Israel vêm empregando em diversas obras, argamassas com
agregado reciclado (LEVY, 1997).
O uso da fração fina dos reciclados, obtidos através do
beneficiamento dos resíduos de construção e demolição,
pode ser utilizado na produção de argamassas como
materiais de substituição aos agregados naturais e às
adições dos aglomerantes (LEVY, 1997).
As argamassas com agregados reciclados vêm
mostrando, em muitos casos, desempenho superior as
argamassas convencionais. Experiências mostram que a
granulometria dos reciclados é bastante semelhante a da
areia, e que o uso de agregados reciclados miúdos nos
traços das argamassas, reduzem o consumo de cimento em
torno de 30 % e contribuem para um aumento nas
resistências mecânicas (LEVY, 1997).
Outro fato atribuído ao bom desempenho das
argamassas produzidas com agregados reciclados é à
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
176
presença de resíduos cerâmicos com características
pozolânicas, e de aglomerantes ainda não inertizados, além
da maior porosidade de suas partículas, que propicia o
início das reações químicas, aumentando as propriedades
mecânicas das argamassas (PINTO, 1998 apud CARNEIRO
et al., 2001).
Porém, há carências de informações quanto algumas
propriedades e durabilidade das argamassas de
assentamento utilizado com agregados reciclados, o que
não é indicado sua aplicação em alvenaria estrutural ou em
locais sujeitos a umidade (LIMA, 1999). Em contrapartida,
com o avanço nas pesquisas e melhoria da qualidade do
reciclado, podem ser viabilizados outros usos, como aplicar
argamassas com agregado reciclado em revestimentos de
superfícies, principalmente emboços.
Neste sentido, avaliar o comportamento e o bom
desempenho dos produtos feitos com argamassas de
revestimento, requer conhecer as principais propriedades
das argamassas que os constituem nos seus diferentes
estágios. Algumas destas propriedades são descritas a
seguir.
Propriedades da argamassa no estado fresco
Conhecer as propriedades da argamassa no estado
fresco é de suma importância para que seja garantida a
qualidade dos revestimentos, no estado endurecido. Os
principais ensaios que devem ser atendidos nas
argamassas no estado fresco são relacionados a seguir.
a) Consistência
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
177
Pelas normas brasileiras, o ensaio de consistência é
descrito segundo a NBR 13276/95, que apresenta
parâmetros indicadores de trabalhabilidade das
argamassas.
O índice de consistência da pasta é determinado em
função da quanitdade de água necessária a fim de obter
uma trabalhabilidade desejável. O bom desempenho na
trabalhabilidade das argamassas é importante para que o
revestimento tenha uma boa aderência e um acabamento
superficial adequado ao uso proposto (CARNEIRO et al.,
2001).
A relação água/aglomerante, aglomerante/agregado,
bem como a qualidade e a natureza do aglomerante podem
alterar a consistência das argamassas (CINCOTTO et al.,
1995 apud CARNEIRO et al., 2001).
b) Massa específica e teor de ar incorporado
Conhecer as propriedades de massa específica real e
a quantidade de ar incorporado na mistura é fundamental
para que se possa calcular o consumo real de cimento por
metragem cúbica, e verificar o custo de produção das
argamassas. Para as argamassas de revestimento, tais
propriedades são determinadas de acordo com o método de
ensaio proposto pela NBR 13278/95.
Segundo Carneiro et al. (2001), estudos realizados em
Salvador usando agregado reciclado em argamassa de
revestimento, apresentaram valores de massa específica
entre 1,60 e 1,71 kg/dm3, sendo menos densas que as
argamassas produzidas com areia (1,85 kg/dm3) e com cal
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
178
(2,06 kg/dm3). Houve um aumento na quantidade de ar
incorporado nas argamassas confeccionadas em betoneiras,
devido este equipamento provocar maior incorporação de
ar.
c) Retenção de água
Segundo Carneiro et al (2001), mede-se a retenção de
água pela capacidade da argamassa manter sua
trabalhabilidade desejável quando esta sofrer alterações
como sucção ou evaporação, acarretando perda de água da
pasta. O ensaio que determina esta propriedade é a NBR
13277/95.
De maneira geral, as argamassas com material
reciclado apresentam consistência similar às convencionais.
Entretanto, verifica-se que a retenção de água das
argamassas produzidas com agregado reciclado diminui
significativamente ao longo do tempo, quando comparadas
com àquelas confeccionadas com areia (CARNEIRO et al.,
2001). Esta perda de água pode influenciar na menor
trabalhabilidade da pasta durante o processo de aplicação.
Propriedades da argamassa no estado endurecido –
ensaios em corpos de prova
As especificações das argamassas no estado
endurecido são avaliadas em laboratório, realizando
ensaios de resistência mecânica e de permeabilidade em
corpos de prova.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
179
a) Resistência à compressão e a tração por
compressão diametral
As argamassas de revestimento são geralmente
solicitadas a resistir as tensões de compressão, tração e
flexão provindas de cargas estáticas ou dinâmicas
resultantes de fenômenos térmicos, mudanças climáticas ou
te outras solicitações no decorrer do uso da edificação
(CARNEIRO et al., 2001).
Portanto, para determinar a resistência mecânica das
argamassas endurecidas, deve-se realizar ensaios de
resistência à compressão axial (NBR 13279/95) e ensaios
de resistência à tração (NBR 7222/83).
Nas argamassas estudadas em Salvador, a
substituição de 50 % de areia por agregado reciclado,
apresentou resistência à tração e compressão superiores a
argamassa com traço padrão (sem nenhuma substituição de
reciclados) (CARNEIRO et al., 2001). Muitos pesquisadores
atribuem isto à atividade pozolânica dos materiais cerâmicos
que são moídos, que penetram nos vazios da matriz e
aumenta a resistência das argamassas (LIMA, 1999).
b) Permeabilidade
Segundo Carneiro et al. (2001), a passagem de água
por meio de infiltração, capilaridade ou difusão de vapor
através do material de argamassa, pode ser caracterizada
de permeabilidade. Considera-se que a relação
água/cimento, a granulometria do agregado, o tipo e a
quantidade de aglomerante utilizados nas argamassas são
os principais fatores que influenciam na permeabilidade.
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
180
Os ensaios que determinam a quantidade de água
absorvida nas argamassas por capilaridade e por imersão
são descritos na NBR 9779/87 e NBR 9778/87,
respectivamente.
Argamassas produzidas com agregados reciclados
também mostram uma menor absorção de água por
capilaridade que às convencionais, excelente para
aplicação em revestimentos (CARNEIRO et al., 2001).
Avaliação do desempenho das argamassas de
revestimento em serviço
Para avaliar o desempenho da aplicação das
argamassas, deve-se conjuntamente relacionar as
propriedades das argamassas no estado endurecido com as
características do substrato ou da superfície de
revestimento em que a mesma será aplicada (CARNEIRO et
al., 2001).
De acordo com Lima (1999) e Carneiro et al (2001),
várias são as propriedades que influenciam na durabilidade
e desempenho das argamassas de revestimento, porém
faltam informações e parâmetros sobre o comportamento
das argamassas com reciclados em serviço.
No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas
– ABNT, estabelece o ensaio de resistência de aderência à
tração (NBR 13528/95), e apresenta critérios de avaliação
do desempenho das argamassas de revestimento apenas
para esta propriedade (NBR 13749/96).
No entanto, não existe norma brasileira para avaliação
das demais propriedades. Muitos pesquisadores vêm
utilizando a análise comprovada do desempenho das
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
181
argamassas como critério para avaliação do comportamento
do material (CARNEIRO et al., 2001).
4.1.7.4Caracterização dos concretos com agregados
reciclados
Inicialmente, para produção de concretos com
agregados reciclados, deve-se realizar várias misturas
experimentais com diferentes dosagens que permitam
avaliar a influência das propriedades do agregado reciclado
sobre às do novo concreto (LEITE, 2001). Pequenos ajustes
na dosagem dos concretos produzidos com agregados
reciclados são necessários para que obtenha propriedades
desejáveis e um bom desempenho no uso do material
(BANTHIA & CHAN, 2000). Isso porque, as características
dos concretos convencionais são diferentes da dos
concretos com agregados reciclados, tendo como principal
influência desta diferença alta variabilidade da composição
e qualidade do reciclado (LIMA, 1999).
Certas propriedades do concreto com agregados
reciclados são importantes parâmetros para avaliação do
seu desempenho e do seu comportamento nas diversas
aplicações. Segundo Brito Filho (1999), o uso de concreto
com agregados reciclados ainda devem ser limitados a
elementos não-estruturais, tais como: contra-pisos,
passeios, peças pré-moldadas (como floreiras, guias, blocos
de alvenaria, etc), por serem submetidos a baixas tensões
de compressão ou tração. Utilizar concretos com reciclados
em peças de estruturas de concreto armado com elevada
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
182
carga de compressão e tração, ainda é arriscado e não
recomendado, em virtude da heterogeneidade na
composição e qualidade dos agregados, podendo
comprometer a estabilidade da estrutura (GRIGOLI, 2000).
Outro fator relacionado a isso é a carência de estudos
complementares ao uso deste tipo de concreto em
elementos estruturais.
Entre as propriedades modificadas no concreto pelo
uso de agregados reciclados estão: a resistência mecânica,
a absorção de água, a porosidade e a permeabilidade, o
módulo de elasticidade, a massa específica, entre outras
(LIMA, 1999).
Com isso, buscou-se na revisão bibliográfica, analisar
as principais características dos concretos com agregados
reciclados, tanto no estado fresco como no estado
endurecido.
Propriedades do concreto fresco com reciclados
a) Massa específica
Determinam-se as massas específicas dos concretos
no estado fresco de acordo com a NBR 9833/87, tanto para
concretos com reciclados quanto para os concretos com
agregados convencionais.
De acordo com Metha & Monteiro (1994), a massa
específica do concreto no estado fresco é diretamente
relacionada com a massa específica dos agregados e da
sua porosidade, além da forma e textura dos grãos. Lima
(1999) complementa que a massa específica do concreto
reciclado é menor que a do concreto convencional, devido à
diferença de massa dos agregados reciclados
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
183
Segundo Leite (2001) e Gómez-Soberón (2002) quanto
maior o teor de substituição do agregado reciclado, menor é
a massa específica do concreto. Isto ocorre, devido a maior
porosidade e menores valores na massa específica do
agregado reciclado, quando comparados com os agregados
naturais. Outro fator que também contribui para a diminuição
da massa específica do concreto é a influência no tamanho
das partículas. Para os autores, quanto maior o tamanho do
agregado reciclado, maior é a porosidade incorporada a
mistura e, portanto, menor será a massa específica do
concreto.
Considera-se também que a massa específica do
concreto é tanto menor, quanto maior a relação
água/cimento, pois menor será a quantidade de cimento
para se combinar com a água existente (LEITE, 2001). Além
disso, o aumento na incorporação de ar nas misturas reflete
na redução da densidade dos concretos frescos (KATZ,
2003).
b) Trabalhabilidade
A trabalhabilidade dos concretos confeccionados é
medida através do ensaio de abatimento do tronco de cone,
prescrito na NBR 7223/82. Esta propriedade tem por
objetivo determinar o índice de consistência das pastas com
concretos produzidos com agregados reciclados.
Os agregados reciclados têm grande influência na
trabalhabilidade dos concretos, pois quando há um aumento
na proporção de agregados reciclados, paralelamente há
uma diminuição da consistência da pasta (TOPÇU &
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
184
SENGEL, 2003). Isto se explica devido os agregados
conterem uma textura mais áspera e rugosa, uma forma
mais irregular dos grãos, e por ter grande absorção de água
nas misturas (LEITE, 2001). Tais características acabam
causando menor consistência pela redução de água livre
nas misturas, dificultando assim a trabalhabilidade dos
concretos no estado fresco.
Neville (1995) salienta ainda do teor de água das
misturas como fator primordial na influência da
trabalhabilidade das pastas de concreto, sendo que este,
independe da relação água/cimento e da quantidade de
cimento para um determinado tipo e granulometria de
agregado. Para Leite (2001), quanto menor e mais anguloso
for o agregado, maior será o teor de água nas misturas para
objetivar o abatimento desejado.
Segundo Montgomery (1998 apud BUTTLER, 2003), o
índice de consistência dos concretos também pode ser
influenciado pela quantidade de argamassa aderida à
superfície do agregado reciclado. O abatimento diminui com
o aumento da quantidade de argamassa aderida às
agregados. Neste sentido, ressalta-se que a argamassa
residual presente nas partículas dos agregados gera maior
absorção de água pelos agregados (SAGOE-CRENTSIL et
al., 2001).
Levando em consideração a relação água/cimento,
quanto maior esta relação, o abatimento do tronco de cone
tende a ser menor. Isto pode ser entendido pelo fato de que
as misturas com alta relação água/cimento, apresentam
menores quantidades de cimento, tornando-as mais
ásperas, o que conseqüentemente tendem no maior
travamento das partículas e queda no valor do abatimento
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
185
dos concretos, quando comparados com os concretos com
agregados convencionais (LEITE, 2001). Além disso, o
aumento na relação água/cimento acarreta na redução da
resistência à compressão dos concretos com agregados
reciclados.
Neville (1995) considera que as influências das
propriedades dos agregados no menor abatimento ou na
consistência do concreto, podem ser minimizadas com um
aumento na proporção de cimento nas pastas. Geralmente,
os teores de agregado/cimento devem compreender de 2,5
a 3,0, valores estes que podem reduzir significativamente o
efeito das propriedades dos agregados na trabalhabilidade
dos concretos.
Contudo, o concreto deve apresentar uma
trabalhabilidade que possibilite o adensamento compatível
com uma energia máxima razoável, sendo que o abatimento
não mede a facilidade para o adensamento dos concretos,
em condições dinâmicas (NEVILLE, 1995). Isso mostra que
o agregado mais poroso apresenta maior incorporação de ar
na mistura, resultando no melhor adensamento, comparado
com menor valor do abatimento (LEITE, 2001).
Do ponto de vista dinâmico, outros ensaios podem ser
usados complementarmente com o abatimento tronco de
cone. Neste caso o ensaio de tempo de vibração VeBe,
ainda não muito difundido, permite avaliar a capacidade de
compactabilidade das misturas de concreto como parâmetro
para controlar sua trabalhabilidade. Com isso, pode-se dizer
que a maior ou menor facilidade de adensamento das
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
186
misturas é o parâmetro fundamental para limitar seu uso
(LEITE, 2001).
Contudo, é possível fazer concretos reciclados com a
mesma trabalhabilidade dos concretos convencionais,
mesmo que isto signifique um aumento no consumo de
cimento nas misturas (LIMA, 1999).
Propriedades do concreto endurecido com agregados
reciclados
a) Resistência mecânica à compressão
A resistência à compressão axial é avaliada em corpos
de prova cilíndricos preenchidos com concreto, ensaiados
nas idades definidas de acordo o programa experimental
segundo o que prescreve a NBR 5739/94.
Esta propriedade é considerada uma das mais
importantes na avaliação do desempenho de uma estrutura,
pois a resistência à compressão está intimamente ligada à
capacidade de resistência dos materiais à ruptura (LEITE,
2001).
Em estudos de concretos convencionais, por conter
agregados naturais com maior densidade e resistência,
fazem com que esta propriedade seja basicamente
influenciada pela porosidade da matriz do cimento e do
agregado graúdo, bem como a porosidade da zona de
transição entre a matriz e o agregado (LEITE, 2001). Já no
caso dos concretos com agregados reciclados, a porosidade
do agregado passa a ter papel importante nas resistências à
compressão dos concretos, pois a ruptura também se faz
nos agregados (ALTHEMAN, 2002).
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
187
Concretos com agregados reciclados exercem maior
influência na resistência à compressão do que os fabricados
com agregados naturais (FRANÇA & CAON, 2004).
Geralmente para consumos de cimento médios ou altos, a
resistência à compressão dos concretos com agregados
reciclados tende a ser menor que à dos concretos
convencionais, já para baixos consumos, a resistência pode
atingir valores maiores que dos convencionais (LIMA,
1999).
Estudos comprovam que a resistência à compressão
tende a reduzir quando a relação água/cimento aumenta
(TOPÇU & SENGEL, 2004; GÓMEZ-SOBERÓN, 2002),
devido ao aumento da porosidade que enfraquece a matriz
do concreto (LEITE, 2001).
De modo geral, a resistência à compressão de
concretos com agregados reciclados é aproximadamente 5 a
10 % menor que a do concreto convencional, a não ser os
concretos confeccionados com agregados reciclados
provenientes de concretos de alta resistência (com baixa
relação água/cimento = 0,40), onde os resultados para a
resistência à compressão são superiores à do concreto
padrão (HANSEN, 1985 apud BUTTLER, 2003).
A diferença entre a resistência à compressão do
concreto convencional e com reciclado varia conforme o tipo
de material a ser reciclado, a qualidade do resíduo e o
consumo de cimento (LIMA, 1999). Segundo o autor, a
perda de resistência de concretos com reciclado de concreto
pode chegar a 30 %, enquanto que nos reciclados de
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
188
alvenaria chega até a 50 %, dependendo do consumo de
cimento e composição do resíduo.
Usando frações graúda e miúda do reciclado, a
redução na resistência à compressão pode ser ainda maior
(30 % em média) (LIMA, 1999). Esta queda é verificada pelo
fato do agregado graúdo ser menos denso, mais poroso e
frágil, podendo ocorrer ruptura no agregado com maior
dimensão, ocasionando na menor resistência à compressão
(FRANÇA & CAON, 2004). Em contrapartida, as autoras
afirmam que o agregado miúdo pode ser benéfica à
resistência, por conter maior quantidade de finos, auxiliando
na diminuição da segregação, e no fechamento de vazios, e
na contribuição do enrijecimento da matriz de concreto.
b) Resistência à tração
Após a idade de cura (28 dias), realiza-se ensaios para
determinar a resistência à tração na flexão dos concretos
em corpos de prova prismáticos, como especifica a NBR
12142/94. A determinação da resistência à tração por
compressão diametral também é realizada segundo a NBR
7222/94.
A resistência mecânica à tração é tão importante
quanto à resistência à compressão quando se pensa em
estrutura de concreto. São as tensões de tração que
controlam a fissuração dos concretos, seja ele produzido
com agregado natural ou reciclado.
De modo geral, analisando o comportamento dos
concretos com agregados reciclados quanto à resistência à
tração, indicam, segundo Leite (2001), que a maior
proporção da relação água/cimento leva a uma maior
tendência de redução das resistências à tração por
compressão diametral do que as resistências à tração na
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
189
flexão. Isto pode ser entendido diante das propriedades
características dos agregados reciclados, como a maior
porosidade, densidade, absorção de água, maior dimensão
dos agregados e outras que afetam diretamente a
diminuição da resistência mecânica dos concretos.
c) Módulo de elasticidade
O módulo de elasticidade dos concretos é descrito
segundo a NBR 8522/83.
Geralmente, o módulo de elasticidade dos concretos
com agregados reciclados é menor que o dos concretos
convencionais (LIMA, 1999). Pesquisas mostram que esta
redução em relação ao concreto convencional é em média
15 a 40 % com concretos com reciclados de concreto
(HANSEN, 1992 apud LIMA,1999; ALTHEMAN, 2002) e, 43
a 50 % em concretos com reciclados de alvenaria (SCHULZ
& HENDRICKS, 1992 apud LIMA, 1999). Esta ocorrência
pode ser explicada pela presença de argamassa aderida
nos agregados reciclados utilizados, tanto a fração miúda
quanto graúda, que já apresenta menor valor no módulo de
elasticidade, o que vem ocasionar no baixo módulo do
concreto com reciclados (LIMA, 1999).
Os agregados graúdos reciclados também contribuem
para a diminuição do módulo de elasticidade, quando se
aumenta a quantidade desses agregados no concreto
(LEITE, 2001). Para Metha & Monteiro (1994) aumentando a
quantidade de agregados densos em concretos, o módulo
de elasticidade tende a aumentar. Também é válido afirmar
que com o aumento de agregados reciclados nos concretos,
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
190
há uma queda no módulo de elasticidade. Como em outras
propriedades, a maior porosidade, a maior dimensão dos
reciclados e a maior relação água/cimento são fatores
preponderantes para a redução do módulo de elasticidade.
Ressalta-se ainda que o módulo de elasticidade de
concretos com agregados reciclados tendem uma redução
de até 40 % (LEITE, 2001; TOPÇU & GÜNÇAN, 1995). Os
resultados apontam que quanto maior a substituição de
agregado graúdo natural por reciclado e, quanto menor for a
resistência mecânica do concreto, menor será o valor
encontrado para o módulo de elasticidade do concreto com
agregado reciclado quando comparado com o concreto
convencional (LEITE, 2001).
d) Resistência à abrasão
A perda de massa por abrasão é uma propriedade
importante quando se utiliza concreto na aplicação em pisos
e ladrilhos hidráulicos para pavimentação (ALTHEMAN,
2002).
Zordan (1997 apud ALTHEMAN, 2002) utiliza-se como
referência ao desgaste por abrasão superficial do concreto a
NBR 9457 para ladrilhos hidráulicos.
Estudos revelam que concretos contendo agregados
graúdos reciclados reduzem a resistência à abrasão em
aproximadamente 12 % em comparação ao concreto
convencional (SAGOE-CRENTSIL, 2001).
Durabilidade e avaliação ambiental dos concretos com
agregados reciclados
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
191
Um dos grandes enfoques presentes nas pesquisas
em determinada aplicação de concretos com o
reaproveitamento de um resíduo, são as exigências quanto
à durabilidade, englobando desde as propriedades físicas e
químicas até o desempenho ao ambiente exposto. O
concreto durável, implica na boa conservação da sua forma
original, qualidade garantida e capacidade de utilização
quando exposto as ações das intempéries ou por processos
de deterioração (METHA & MONTEIRO, 1994).
Porém, observa-se que na maioria das pesquisas,
ainda não é tão abrangente o enfoque dado sob o ponto de
vista da caracterização ambiental, quanto à utilização de
novos materiais produzidos com resíduos de qualquer
natureza.
Neste sentido, analisar as propriedades mais
significativas quanto a maior durabilidade dos concretos são
fatores importantes no contexto ambiental, pois a
integridade dos concretos com reciclados durante a sua vida
útil garante que estes resíduos e os possíveis elementos
perigosos presentes, permaneçam imobilizados na massa
de concreto (PRADO, 2003), visando à saúde humana e do
meio ambiente.
Para tanto, os parâmetros de avaliação da
durabilidade dos concretos sob os aspectos ambientais mais
abordados são: permeabilidade, lixiviação de elementos
perigosos e resistência à corrosão (carbonatação,
resistência ao ataque por sulfatos e cloretos).
a) Permeabilidade
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
192
Segundo Hansen (1992 apud LIMA, 1999) a
permeabilidade está indiretamente relacionada com a
absorção de água, e a deterioração dos concretos depende,
em partes, da permeabilidade, pois esta propriedade
estabelece a taxa de fluxo ou penetração de água para o
interior do sólido (METHA & MONTEIRO, 1994).
Quanto menor a permeabilidade do concreto, maior
será a resistência ao ataque por agentes externos
(ALTHEMAN, 2002). Para o autor, quanto maior a relação
água/cimento, maior será a permeabilidade do concreto.
Isto demonstra que concretos com agregados
reciclados são mais permeáveis que os concretos
convencionais, pela maior relação água/cimento e alta
absorção do reciclado (LIMA, 1999; ALTHEMAN, 2002).
Lima (1999) cita estudos que apontam uma maior a
permeabilidade de concretos com agregados reciclados de
concreto, cerca de 2 a 5 vezes maior que a dos concretos
convencionais. b) Ensaios de lixiviação do concreto
Os ensaios de lixiviação permitem avaliar o
comportamento dos materiais, como o concreto pela
presença de água, analisando se há ou não a liberação de
compostos ou elementos tóxicos e perigosos (como cádmio,
chumbo, cromo, cálcio, arsênio, ferro) capazes de
contaminar o meio ambiente ou até mesmo prejudicar a
saúde do homem (PRADO, 2003).
No Brasil, a NBR 10005/87 apresenta o ensaio de
lixiviação. No caso deste ensaio apresentar substâncias
com concentrações acima dos obtidos pela norma, pode
constatar a toxicidade desses materiais. Esta averiguação é
analisada pela NBR 10004/87 que aborda parâmetros como
a inflamabilidade, corrosividade e toxicidade dos materiais.
RECUPERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
193
Além das normas brasileiras, a norma alemã DIN
38414-S4 e a norma holandesa NEN 7341 e NEN 7345/97
também apresentam metodologias para assegurar a
integridade ambiental dos materiais confeccionados com
resíduos reciclados (PRADO, 2003).
c) Carbonatação
A alta alcalinidade do concreto (pH entre 12,5 a 13,5)
obtida através da presença do hidróxido de cálcio, pode ser
reduzida com o tempo pela ação do gás carbônico.
Observa-se que esta diminuição do pH fica sobre a camada
superficial do concreto, que é exposto ao ambiente
(ALTHEMAN, 2002).
A presença do gás carbônico (CO2) proveniente da
atmosfera reage com os compostos do cimento, gerando o
processo químico de carbonatação dos concretos
(ALTHEMAN, 2002).
Esta propriedade também depende da permeabilidade
do concreto e da quantidade de cimento que pode combinar
com o CO2 . Para controlar a carbonatação dos concretos
com reciclados, deve-se produzir matriz de cimento com
maior densidade, compensando assim a maior porosidade
do agregado reciclado (LIMA, 1999).
No entanto, ensaios como o de difração de raios X
visam caracterizar esta bem como outras propriedades que
influenciam na durabilidade dos materiais, principalmente
àqueles produzidos com resíduos (LIMA, 1999)
d) Ataque por cloretos e sulfatos
MARIA FERNANDA DACÁZ PELLIZZARO
194
A corrosão dos concretos por ação química é
verificada pelo ataque dos gases contidos na atmosfera,
como o dióxido de oxigênio (CO2) e o dióxido de enxofre
(SO2), que em presença da umidade e da chuva, se
transformam em ácidos, podendo reagir com os compostos
dos cimentos hidratados (PRADO, 2003). Para a autora,
entre os compostos produzidos, estão os sulfatos de cálcio
que reagem somente com o aluminato tricálcico hidratado
(3CaO. Al2O3. 6H2O) constituinte dos cimentos, onde
formam o sulfoaluminato de cálcio, também denominado de
etringita, sendo que este composto contribui na
desagregação e fraturas na massa do concreto.
O aluminato tricálcico é o composto constituinte do
cimento que provoca maiores danos ao concreto quando há
presença de águas sulfatadas. Na presença de soluções
salinas, compostos como o silicato tricálcico formam cristais
ou sais de cálcio que originam novos compostos
degradantes (CÁNOVAS, 1988 apud PRADO, 2003).
As reações químicas entre o cimento e os íons
sulfatos, resultado do efeito do ataque por sulfatos,
ocasionam na expansão e deterioração do concreto, em
função dos produtos das reações gerarem maior volume que
os compostos iniciais (ALTHEMAN, 2002).
Diante disso, analisar os concretos quanto à
resistência à corrosão, é de extrema importância para a sua
durabilidade e o desempenho ambiental. Dentre os ensaios
para a verificação desta característica, podemos citar: os
ensaios acelerados em câmaras úmidas (NBR 8095), em
câmara de névoa salina (NBR 8094), e em câmara de
dióxido de enxofre (NBR 8096).
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