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Tribunal Regional Eleitoral de^Santa Catarina Acórdão n. 2 7 7 6 4 RECURSO ELEITORAL (RE) N. 84-10.2012.6.24.0032 - REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA - 32 a ZONA ELEITORAL - TIMBÓ Relator: Juiz Luiz Henrique Martins Portelinha Relator Designado: Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira Recorrentes: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Timbó e Partido Social Democrático (PSD) de Timbó Recorrido: Laércio Demerval Schuster Júnior RECURSO - REPRESENTAÇÃO - PUBLICIDADE INSTITUCIONAL - DIVULGAÇÃO DAS OBRAS E REALIZAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL - DEVER DE PUBLICIDADE DO ART. 37, § 1 o DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL QUE NÃO SE CONFUNDE COM PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA -INEXISTÊNCIA DOS ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - DESPROVIMENTO DO RECURSO. Não se caracteriza a propaganda extemporânea se no material publicitário não há pedido de votos, menção ao número do candidato ou ao seu partido ou qualquer outra referência à eleição. A propaganda institucional irregular não se confunde com propaganda eleitoral:"(...) ato de propaganda eleitoral é aquele que leva ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que apenas postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais apto ao exercício de função pública [...]" (Ac. no 15.732/MA, DJ de 7.5.99, rei. Min. Eduardo Alckmin) Na mesma direção os seguintes acórdãos da Corte Superior: 5.120/RS, DJ de 23.9.2005, rei. Min. Gilmar Mendes; 18.958/SP, DJ de 5.6.2001, rei. Min. Fernando Neves; 16.426/MT, DJ de 9.3.2001, rei. Min. Fernando Neves [Precedentes: acórdão TRESC n. 23497, de 4.3.2009, Exmo. Juiz Márcio Luiz Fogaça Vicari; acórdão TRE/SC n. 25.459, Exmo. Juiz Sérgio Paladino; acórdão TRE/SC 16.295, Exmo. Juiz Antônio do Rego Monteiro Rocha; Acórdão TRE/SC 18.999, Exmo. Juiz Gaspar Rubik]. Vistos etc. A C O R D A M os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, a unanimidade, em conhecer do recurso, e por maioria de votos - vencidos os Juizes Relator e Eládio Torret Rocha negar provimento ao recurso nos termos do voto do relator designado Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira, que integra a decisão. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral. Florianópolis, 25 de outubro de 2012. PUBLICADO EM SESSÃO

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Tribunal Regional Eleitoral de^Santa Catarina Acórdão n. 2 7 7 6 4

RECURSO ELEITORAL (RE) N. 84-10.2012.6.24.0032 - REPRESENTAÇÃO -PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA - 32a ZONA ELEITORAL - TIMBÓ Relator: Juiz Luiz Henrique Martins Portelinha Relator Designado: Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira Recorrentes: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Timbó e

Partido Social Democrático (PSD) de Timbó Recorrido: Laércio Demerval Schuster Júnior

RECURSO - REPRESENTAÇÃO - PUBLICIDADE INSTITUCIONAL -DIVULGAÇÃO DAS OBRAS E REALIZAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL - DEVER DE PUBLICIDADE DO ART. 37, § 1o

DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL QUE NÃO SE CONFUNDE COM PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA -INEXISTÊNCIA DOS ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Não se caracteriza a propaganda extemporânea se no material publicitário não há pedido de votos, menção ao número do candidato ou ao seu partido ou qualquer outra referência à eleição. A propaganda institucional irregular não se confunde com propaganda eleitoral:"(...) ato de propaganda eleitoral é aquele que leva ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que apenas postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais apto ao exercício de função pública [...]" (Ac. no 15.732/MA, DJ de 7.5.99, rei. Min. Eduardo Alckmin) Na mesma direção os seguintes acórdãos da Corte Superior: 5.120/RS, DJ de 23.9.2005, rei. Min. Gilmar Mendes; 18.958/SP, DJ de 5.6.2001, rei. Min. Fernando Neves; 16.426/MT, DJ de 9.3.2001, rei. Min. Fernando Neves [Precedentes: acórdão TRESC n. 23497, de 4.3.2009, Exmo. Juiz Márcio Luiz Fogaça Vicari; acórdão TRE/SC n. 25.459, Exmo. Juiz Sérgio Paladino; acórdão TRE/SC 16.295, Exmo. Juiz Antônio do Rego Monteiro Rocha; Acórdão TRE/SC 18.999, Exmo. Juiz Gaspar Rubik].

Vistos etc.

A C O R D A M os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, a unanimidade, em conhecer do recurso, e por maioria de votos - vencidos os Juizes Relator e Eládio Torret Rocha negar provimento ao recurso nos termos do voto do relator designado Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira, que integra a decisão.

Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Florianópolis, 25 de outubro de 2012.

PUBLICADO EM SESSÃO

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R E L A T Ó R I O

Trata-se de recurso interposto pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e pelo Partido Social Democrático (PSD) contra a sentença do Juiz Eleitoral da 32a Zona Eleitoral de Timbó (fls. 73-76), que julgou improcedente o pedido formulado na representação proposta em face de Laércio Demerval Schuster Júnior, por propaganda eleitoral antecipada ao pleito municipal de 2012, nos termos do art. 36, § 3o, da Lei n. 9.504/1997.

Na inicial consta que:

há aproximadamente quatro meses o Prefeito Municipal de Timbó, Laércio Demerval Schuster Júnior, teria colocado mais de cinqüenta enormes placas em obras espalhadas por diversos locais da cidade, "numa clara demonstração de propaganda política-eleitoral";

as placas, conforme fotos impressas e CD com gravação, foram divididas em duas categorias distintas, com os seguintes títulos: "OBRA ENTREGUE" e "A PREFEITURA DE TIMBÓ TRABALHA EM TODOS OS BAIRROS";

"há uma escancarada menção à obra feita e a inserção da marca "PREFEITURA DE TIMBÓ" e da "BANDEIRA DO MUNICÍPIO DE TIMBÓ", com a finalidade de caracterizar a atual administração e a promoção pessoal do representado, através de recursos públicos" (fl. 3);

"as placas com o título £OBRA ENTREGUE' evidenciam atendimento de promessa de campanha e promoção da atual administração, inclusive muitas delas ainda estão colocadas nas obras que já foram concluídas há tempo" (fl. 3);

há placas que se encontram em local distante da obra, como é o caso das intituladas "OBRA - NOVO PRONTO-SOCORRO NO HOSPITAL OASE"; há obras que são divulgadas por várias placas; também há placas em obras que sequer foram iniciadas, como a "BINÁRIO CENTRAL - COMPLEXO VIÁRIO ROLANDO MUELLER".

"E há placas enganosas, como aquela afixada em frente a Escola Municipal Tiroleses (VIDE FOTO), que de forma dissimulada leva a população a acreditar que a 'OBRA [ENTREGUE]' foi a escola, quando, na verdade, naquele estabelecimento escolar apenas foi implantada a 'escola em tempo integral', pois a escola foi construída, concluída e entregue à comunidade pelo ex-prefeito Waldir Ladehoff" (fl. 4).

todas as placas, de conformidade com a destinação de cada uma, contêm o mesmo "slogan", a caracterizar a atual administração e a promoção

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no recém-inaugurado "Parque Central de Timbó" também teria sido colocada placa com dizeres que caracterizariam a promoção pessoal do Prefeito e do Vice-Prefeito;

não há dúvida de que houve propaganda antecipada e promoção pessoal do representado, o que é vedado por lei. Prova disso é o "astronômico" aumento das despesas com publicidade, às custas do erário municipal;

o representado vem investindo abusivamente em publicidade no Jornal do Médio Vale, responsável pela publicação legal do Município, e no Jornal A Cidade, que publicam semanalmente a coluna "PRESTANDO CONTAS -MELHORANDO A VIDA DAS PESSOAS", que traz, em destaque, a bandeira do Município, bem como o "slogan" da atual administração "NOSSA SAÚDE, NOSSA CIDADE, NOSSA VIDA".

"Na verdade, a citada coluna não faz publicações legais, mas uma clara propaganda política da atual administração, enaltecendo ações do representado. Faz comparações da atual administração, que considera como de vanguarda, com administrações passadas postas em segundo plano" (fl. 5);

o Jornal "PRESTANDO CONTAS" (exemplar anexo), informativo produzido em dezembro de 2011 pela Assessoria Institucional de Comunicação Social da Prefeitura de Timbó às custas do erário municipal, com larga distribuição nos arredores do município nos últimos meses, "é a mais forte evidência de propaganda governamental" (fl. 5);

além de servir de veículo de promoção pessoal do representado, tal jornal "qualifica a atual administração como a mais eficiente e competente que as anteriores" e "induz em erro a população pois faz menção a obras que nem sequer iniciaram como a do Complexo Viário Rolando Mueller e a do Binário Central, divulgadas na página 2 e 3" (fl. 5);

diversas publicações (entre fôlderes, cartazes e publicações em revistas) financiadas pelos cofres públicos estariam sendo distribuídas em todos os quadrantes do município, no intuito de promover o representado e colocar em destaque a atual administração;

a Revista "INFORMATIVO SAMAE" (exemplar anexo), edição 2011, apesar de impresso pela autarquia (SAMAE - Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto), com custos da impressão pagos pela autarquia, traz propaganda política da atual administração e das ações do representado nas páginas 2 e 3;

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há no referido informativo destaque para o PARQUE CENTRAL e o "slogan" da atual administração ("NOSSO LAZER, NOSSA CIDADE, NOSSA VIDA"), causando estranheza o fato de a edição, datada de 2011, conter fotografia do referido Parque, o qual só teria sido concluído e inaugurado no mês de fevereiro de 2012; além disso, o informativo traz notícia cujo título, "INOVAÇÃO E QUALIDADE PARA MELHORAR A VIDA DOS TIMBOENSES", objetiva, de modo sutil, enaltecer a atual administração, comparando-a com as anteriores;

"A Revista MEGANOTÍCIA (dois exemplares anexos), traz na última página significativa propaganda governamental da prefeitura, inserindo o 'slogan' da atual administração, respectivamente 'NOSSA TIMBÓ, NOSSA CIDADE, NOSSA VIDA' e 'NOSSO LAR, NOSSA CIDADE, NOSSA VIDA', além do título 'A GENTE TRABALHA PARA MELHORAR TIMBÓ, O LAR DE TODOS OS TIMBOENSES'" (fl. 6);

fôlder intitulado "PARA VOCÊ NÃO FICAR PARADO NO TRÂNSITO, A GENTE NÃO PARA DE TRABALHAR - COMPLEXO VIÁRIO DA ÁREA CENTRAL ROLANDO MUELLER" (exemplar em anexo), distribuído por toda a cidade, com extensiva propaganda da atual administração em relação ao Complexo Viário da Área Central Rolando Mueller, citando uma relação de "Trevos Centrais" [ENTREGUES] e uma séria de outras obras do binário central [EM EXECUÇÃO];

"parte da propaganda governamental inserida no citado folder é mentirosa, pois a implantação do binário central com a construção da nova ponte, a capa asfáltica nas avenidas Getúlio Vargas e 7 de setembro, o asfaltamento nas ruas Pomeranos e Fritz Lorenz e o conjunto semafórico nas ruas Fritz Lorenz, Pomeranos e Indaial nem sequer foram iniciadas" (fl. 6);

o referido fôlder também contém em destaque o "slogan" da atual administração: "NOSSA GENTE, NOSSA CIDADE, NOSSA VIDA";

enormes CARTAZES com o título "PRESTANDO CONTAS -MELHORANDO A VIDA DAS PESSOAS" (vários exemplares em anexo), produzidos pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Timbó com recursos públicos, contendo o título PREFEITURA DE TIMBÓ e a bandeira do Município, "fazem propaganda governamental da prefeitura de forma acintosa, sem limites e sem respeito à lei" (fl. 6);

referidos cartazes, que fazem propaganda da atual administração e promovem a imagem pessoal do representado, estão afixados em todas as repartições públicas, inclusive em postos de saúde do município, local de concentração de grande número de pessoas;

também nas duas rádios do município são veiculadas inserções diárias promovendo pessoalmente o representado, conforme mídia (CD) em anexo;

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resta "evidente que o representado vem realizando propaganda eleitoral antecipada em seu favor numa eventual candidatura à reeleição ou, então, em prol da pré-candidatura do Partido Progressista (PP) e do Partido dos Trabalhadores (PT), numa conduta que golpeia frontalmente o princípio isonômico, o qual possui como uma de suas expressões a paridade de armas dos concorrentes a cargos públicos eletivos" (fl. 7);

é indubitável a intenção de influir na vontade do eleitorado timboense;

o conjunto probatório demonstra que "estão sendo propagadas mensagens eleitorais que definem a candidatura à reeleição do representado e o qualificam como o mais apto para novamente exercer a função de prefeito, fato que potencializa, e muito, o vilipêndio à legislação eleitoral e acentua o tão indesejado desequilíbrio dos pleitos eleitorais";

"[...] o representado está se utilizando do poder político que detêm e dos recursos que gerencia para a dispendiosa e bem montada estratégia de, antecipadamente, sair com vantagem no certame eleitoral deste ano";

Requerem, ao final, a procedência do pedido (petição e documentos de fls. 2-53).

Indeferida a liminar (fls. 55-56), o representado apresentou defesa (fls. 63-67), seguindo os autos ao Ministério Público Eleitoral, que se posicionou pela rejeição da pretensão (fls. 70-72).

Sobreveio então a sentença de fls. 73-76, na qual o Magistrado de primeiro grau, considerando não configurada a propaganda eleitoral extemporânea, julgou improcedente o pedido.

Em suas razões (fls. 81-84), os recorrentes sustentam que:

em todo material de campanha está embutido o "slogan" da atual administração;

conforme dito na inicial da representação, as placas colocadas em metal, na praça central do município, contêm o nome do representado, o que é comprovado pela foto em anexo;

depois do ajuizamento da representação, mais cartazes foram colocados na cidade, evidenciando a propaganda política antecipada;

em caso semelhante, ocorrido no município de Florianópolis, este Tribunal condenou o representado por propaganda antecipada.

Instam, em arremate, pelo conhecimento e provimento do recurso.

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Juntam documentos (fls. 85-147).

Em contrarrazões (fls. 156-160), Laércio Demerval Schuster Júnior postula a manutenção da sentença, com base nos seguintes argumentos:

não há vinculação direta entre as publicações referidas na inicial e a imagem do recorrido;

é necessário que a propaganda tida por irregular faça menção, ao menos de forma implícita, à eleição vindoura, promovendo pessoalmente o agente público que se supõe beneficiado com a veiculação da publicidade institucional, o que não ocorreu no caso em apreço;

o trinômio "nome do candidato", "cargo que pretende concorrer" e "pedido de voto" é indispensável à caracterização da infração prevista no art. 36 da Lei n. 9.504/1997;

nem de forma implícita houve promoção pessoal do agente público;

"De acordo com a própria narrativa dos requerentes, todo o material compilado não faz qualquer referência ao nome do Prefeito (ou de qualquer outro agente público que venha a ser eventualmente beneficiado), não faz qualquer referência (direta ou indireta) ao pleito eleitoral vindouro, além do que, não veicula nenhuma imagem do prefeito ou de marca que faça apologia a sua pessoa. Ademais, ao arremate, todos os símbolos utilizados durante a propaganda institucional são exatamente os símbolos da própria Prefeitura Municipal. Portanto, o Representado agiu dentro das raias estritas da legalidade e seguindo as diretrizes jurisprudenciais fixadas pelos tribunais pátrios" (fl. 159);

o precedente invocado pelos recorrentes em nada se assemelha com a hipótese dos autos.

A Procuradoria Regional Eleitoral opina pelo conhecimento e provimento do recurso (fls. 164-173).

É o relatório.

V O T O

O SENHOR JUIZ MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA: Sr. Presidente, pedi vista dos autos por entender que é necessário fazer a distinção entre a propaganda eleitoral e a publicidade institucional.

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A propaganda visa difundir, espalhar, idéias, informações e crenças, com vistas à adesão dos destinatários na lição de J. J. Gomes1. A propaganda eleitoral, de seu turno, é "elaborada por partidos e candidatos com a finalidade de captar votos do eleitorado para investidura em cargo público eletivo", segundo o mesmo autor.

A publicidade institucional, dever do Administrador, encontra arrimo e contorno no artigo 37 da Constituição Federal. Esta publicidade institucional ao desbordar dos limites da impessoalidade e da legalidade, pode bem se configurar como ímproba, mas não, inequivocamente, ainda que publicidade irregular, será propaganda eleitoral ilícita.

Isto porque, com todo o respeito ao magnífico voto do Exmo. Relator Juiz Portelinha, a propaganda eleitoral tem uma nota a mais, qual seja, o seu conteúdo e finalidade de captação de votos para a investidura em cargo público eletivo de alguém. Toda propaganda institucional, via de regra (a exceção seria uma campanha de vacinação ou outra para a economia de água, por exemplo, de inequívoca necessidade pública) - sempre será favorável ao Chefe do Executivo e, assim, importará em quebra de igualdade entre os postulantes, porque não se pode crer numa campanha que demonstre os vícios e defeitos de uma determinada administração produzido por ela mesma.

No entanto, esta desigualdade gerada, d.m.v., é aquela permitida pelo ordenamento jurídico ao conceber o instituto da reeleição e encontra tratamento próprio no artigo 73 da Lei n. 9504/97, quando são abordadas as condutas vedadas aos agentes políticos. Assim, a limitação da publicidade institucional já encontra previsão legal expressa no artigo 73, não sendo uma atividade ilícita, mas um dever do administrador público.

Vejo com dificuldade a tentativa de limitação da publicidade institucional como meio para mitigação da desigualdade legal - e sobre a disparidade de armas não há dúvida - entre o Chefe do Executivo, postulante à reeleição, e os outros concorrentes.

Por isso, comungo da opinião do Ministério Público de Primeiro Grau, Exmo. Dr. José Renato Corte e do ilustre Juiz sentenciante, Exmo. Juiz Ubaldo Ricardo da Silva Neto sobre a não configuração da propaganda eleitoral, pedindo vênia ao minucioso trabalho do Exmo. Juiz Portelinha.

O TRE/SC, por exemplo, entendeu que as expressões "nosso orgulho é seguir construindo uma cidade melhor para você"; "nossa alegria é seguir trabalhando para você" dispersas em placas pela cidade não configuram propaganda eleitoral indevida. O Exmo. Juiz Gaspar Rubik deixou assentado no Acórdão TRE/SC 18.999, de 9 de agosto de 2.004:

1 Direito Eleitoral. 3°edição. Del Rey editora: MG, 3o edição, p. 274, 2.008. 7

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"Conclui-se, pois, consoante a doutrina de Alberto Rollo que "ou estão presentes os três elementos, de forma concomitante e somados, ou não existe propaganda eleitoral. Se a mensagem ou o trabalho perseguido ocorreu antes do período permitido, inexistindo os três elementos, inexiste a propaganda eleitoral. E quando se fala em induvidosa intenção, tem-se a necessidade de presença de elementos determinados, que não sejam sub-reptícios, disfarçados ou insetos em zona cinzenta (Rollo, Alberto, Propaganda eleitoral: teoria e prática. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2.002, p. 48- grifei). Reforçando este entendimento, a Resolução TSE 21.620/2.004- que dispõe sobre a propaganda eleitoral nas eleições municipais de 2.004 estabeleceu, ainda que de forma indireta, os requisitos identificadores da propaganda extemporânea, a teor do que prescreve o seu art. 3o, parágrafo primeiro, in verbis: "Art. 3o A propaganda eleitoral somente será permitida a partir de 6 de julho de 2.004 (Lei n. 9.504/97, art. 36, caput) Paragrafo 1o Não caracteriza propaganda extemporânea a manutenção de página na internet, desde que nela não haja pedido de votos, menção ao número do candidato ou ao seu partido ou qualquer outra referência à eleição, (grifei). Nas expressões utilizadas pela administração municipal de Joinville para identificar as obras realizadas, não se vislumbra a presença de nenhum dos mencionados elementos. Poder-se-ia até conjeturar que a colocação das placas teria a intenção de demonstrar os méritos do representado para o exercício do cargo de Prefeito, todavia, ainda assim, não há fotografia dele, menção ao seu nome ou ao do seu partido político"(grifei).

Mais adiante, conclui o Des. Gaspar Rubik: "há de se atentar para o fato de que nem toda veiculação de propaganda institucional em desacordo com os princípios constitucionais que a regem (art. 37, parágrafo primeiro da Constituição Federal) caracteriza necessariamente propaganda eleitoral extemporânea, assim o sendo somente quando preenche os pressupostos acima delineados".

Na mesma direção é o acórdão TRE/SC 16.295, rei. Juiz Antônio do Rego Monteiro Rocha: "Não caracteriza propaganda eleitoral extemporânea a divulgação de obras e programa do governo realizada pela administração da prefeitura, quando o material publicitário não divulgar o nome ou foto de candidato bem como for distribuído no período permitido para realização da propaganda institucional".

Noutro precedente da lavra do Exmo. Juiz Sérgio Paladino, acórdão TRE/SC n. 25.459 cuidava-se, dentre os itens examinados da seguinte situação descrita no voto: "atribui-se, ademais, a utilização da propaganda institucional para fins de promoção pessoal, ao fundamento de que "o Prefeito Municipal de Blumenau, ora investigado, passou a veicular uma campanha intensa e contundente, disfarçada de publicidade institucional, que divulga as obras realizadas em sua gestão, dando ênfase, inclusive, àquelas que ainda não foram realizadas, bem como, implicitamente, fazendo comparações entre a atual gestão municipal e às gestões anteriores, extrapolando, assim todos os limites que norteiam a publicidade na esfera pública". O recorrente afirma, ainda, que a publicidade foi "divulgada diariamente, cujas veiculações se deram centenas de vezes em todos os veículos".

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A conclusão do Exmo. Des. Paladino sobre o tema é interessante porque após afirmar a inexistência de "qualquer identificação nominal dos gestores" aponta ainda: "Também não há no informativo qualquer declaração que expresse a idéia de propaganda eleitoral, assim entendida como "o ato de levar ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, a ação política ou as razões que contribuam para inferir que o beneficiário é o mais apto para a função pública"".

E segue o relator: "analisando detidamente o conteúdo da propaganda atacada, infere-se que a administração é tratado como ente impessoal, dissociado dos agentes públicos. O intuito da mensagem publicitária é evidente: ressaltar a excelente qualidade de vida do Município de Blumenau, sem qualquer apologia a figura pessoal do prefeito. Não há de se cogitar de lesão jurídica tão somente em razão da qualidade da produção publicitária que, de igual modo, não foi veiculada no período vedado pela legislação eleitoral".

Fiz menção, igualmente, no Acórdão TRESC n. 27.535, de 19.9.2012, de minha relatoria, ao seguinte precedente deste Egrégio Tribunal: "A propaganda extemporânea é, antes de tudo, propaganda eleitoral, de modo que deve conter elementos que visem à obtenção de votos para determinada candidatura. O incentivo indireto ao voto no então prefeito, com valorização enfática de suas realizações e seus programas por meio de divulgação desproporcional de sua imagem em periódico de circulação local, caracteriza a propaganda eleitoral que, feita a destempo, acarreta as sanções legais próprias [TRESC Acórdão n. 23497, de 4.3.2009, Relator Juiz Márcio Luiz Fogaça Vicari]".

O Tribunal Superior Eleitoral, de igual forma, entende "[...] como ato de propaganda eleitoral aquele que leva ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que apenas postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais apto ao exercício de função pública [...]" (Ac. no 15.732/MA, DJ de 7.5.99, rei. Min. Eduardo Alckmin). Na mesma direção os seguintes Acórdãos da mesma Corte: 5.120/RS, DJ de 23.9.2005, rei. Min. Gilmar Mendes; 18.958/SP, DJ de 5.6.2001, rei. Min. Fernando Neves; 16.426/MT, DJ de 9.3.2001, rei. Min. Fernando Neves.

No caso concreto, percorrendo todos os jornais, os panfletos, os afiches, não verifico a concatenação específica entre o Chefe do Executivo (por meio de imagem ou símbolo), partido político ou menção à eleição e a maciça campanha, ainda que a publicidade se valha das expressões "nosso lazer, nossa cidade, nossa vida", em alguns itens - e seja claramente enaltecedora das ações da atual administração.

Por fim, ainda que o alentado voto do relator suscite questões de alta indagação e exsurja como tentativa de mitigação da desigualdade e da necessidade de redução da publicidade institucional em benefício de determinado partido ou cidadão, tenho também como relevante o fato de que os administradores públicos ao lançarem mão de suas campanhas publicitárias cuidaram de observar os limites que

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL (RE) N. 84-10.2012.6.24.0032 - REPRESENTAÇÃO -PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA - 32a ZONA ELEITORAL - TIMBÓ a jurisprudência eleitoral apontava para elas. Nesta direção vale o alerta do jurista Samuel Bertolino dos Santos2: "a necessidade de serem observadas as decisões anteriores é instrumento de autovinculação do Poder Judiciário e que pode contribuir para promover o estado ideal de coisas imposto pelos princípios da igualdade e da segurança jurídica. (...) Referida autovinculação aos próprios precedentes funciona como fator de calculabilidade do Direito pelo ganho em previsibilidade da atuação do Poder Judiciário. Ao restringir a atuação futura com base na atuação passada, o princípio da igualdade reduz o espectro e a variabilidade das conseqüências atribuíveis a atos praticados pelos cidadãos3. Igualdade e Segurança Jurídica, acima referidas, são princípios que podem ser reconduzidos, facilmente, ao Sobreprincípio do Estado de Direito. É dizer, o Estado de Direito, como limitação ao arbítrio e ao poder somente se realiza efetivamente com a exigência, dentre outras, de previsibilidade, estabilidade, calculabilidade e igualdade das suas normas e do tratamento dispensado àqueles que se encontrem numa mesma situação. A idéia de submissão do Estado ao Direito traz ínsita a necessidade de que as regras jurídicas sejam previamente demarcadas e conhecidas por todos aqueles que por elas poderão ser influenciados".

Por estes motivos, pedindo todas as vênias ao Exmo. Juiz Portelinha, ouso divergir para negar provimento ao recurso e manter a sentença que julgou improcedente a representação.

É como voto.

2 Em artigo inédito: A evolução do sistema de precedentes no direito brasileiro: alguns avanços ainda necessários. A jurisdição constitucional difusa, a cláusula de reserva de plenário e o stare decisis. Trabalho apresentado como requisito para a conclusão do curso Teoria da Justiça Constitucional, Professor André Ramos Tavares, Mestrado em Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC/SP, 2.012.

3 ÁVILA, Humberto. Segurança Jurídica. Entre permanência, mudança e realização no Direito Tributário. Malheiros Editores, São Paulo, 2011.

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VOTO VENCIDO

O SENHOR JUIZ LUIZ HENRIQUE MARTINS PORTELINHA (Relator): Senhor Presidente, o recurso é tempestivo e preenche as demais condições de admissibilidade, motivo pelo qual dele conheço.

Constou da inicial que o representado Laércio Demerval Schuster Júnior, Prefeito do Município de Timbó, teria se utilizados dos mais diversos engenhos publicitários (como "outdoors", placas, cartazes, informativos impressos, fôlderes, entre outros) custeados com recursos públicos para, a pretexto de divulgar as obras realizadas pela Administração Municipal, fazer indevida propaganda eleitoral antecipada.

O Magistrado julgou improcedente o pedido, por entender que não restou caracterizada propaganda eleitoral extemporânea, tratando-se, a rigor, de regular publicidade institucional.

Penso, contudo, de maneira diversa.

Está previsto no § 1o do art. 37 da Constituição Federal de 1988 que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

[...]

§ 1o. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos [grifei].

A publicidade institucional, portanto, deverá observar os limites impostos pela regra de regência; do contrário, desvirtuando-se de sua finalidade, sobretudo em ano de eleições, poderá caracterizar propaganda eleitoral antecipada, ensejando a aplicação da penalidade estatuída no art. 36, § 6o, da Lei n. 9.504/1997 (reproduzido no art. 3o, § 4o, da Resolução TSE n. 23.370/2012), que assim dispõe:

Art. 36. A propaganda eleitoral somente é permitida após o dias 05 de julho do ano da eleição.

[...]

§ 3o A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável pela divulgação da propaganda eXquando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário, à mI l tá no (cinco mil reais) a R$

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25.000,00 (vinte e cinco mil reais) ou ao equivalente ao custo da propaganda, se este for maior.

A propósito desses dispositivos, José Jairo Gomes pondera:

Na verdade, tem-se assistido a verdadeiras propagandas eleitorais travestidas de "institucionais", pagas, portanto, pelo contribuinte. A rigor, a maioria delas carece de caráter informativo, educativo ou de orientação social, constituindo pura exibição midiática. Muitas vezes promessas são feitas. Um cenário maravilhoso é desenhado. Um futuro feliz e promissor é colocado em perspectiva, ao alcance de todos. Isso, é claro, se o governo em questão ou o seu afilhado político sagrar-se vitorioso nas urnas e for mantido na cadeira que ocupa [in, Direito Eleitoral. 7. Ed. Sáo Paulo: Atlas, 2011. p. 372].

Portanto, o exame das provas constantes dos autos, levando em consideração as particularidades de cada caso concreto, é que permitirá afirmar se houve ou não propaganda eleitoral antecipada, a qual, consoante a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, deve ser entendida como qualquer manifestação que, previamente aos três meses anteriores ao pleito e fora das exceções previstas no art. 36-A da Lei n. 9.504/1997, leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que somente postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou as razões que levem a inferir que o beneficiário seja o mais apto para a função pública.

Na espécie, a prova colacionada demonstra que a publicidade realizada pelo poder executivo municipal de Timbó transbordou o limite da mera informação ou orientação social previsto na Constituição Federal de 1988, configurando verdadeira propaganda eleitoral antecipada.

Essencialmente, o conjunto probatório é integrado por fotos de "outdoors" e placas, com pelo menos 13 (treze) inscrições diferentes, afixados em pontos distintos da cidade (fls. 31-39); exemplares do "Jornal do Médio Vale" e do "Jornal a Cidade" (fl. 43), do "Informativo Prestando Contas" (fl. 45), do Informativo SAMAE Timbó/SC (fl. 46) e da Revista Meganotícia (fl. 49), todos contendo matérias enaltecendo as realizações da Administração Pública Municipal; e, finalmente, exemplares de cartazes (fls. 52-53) intitulados "Prestando Contas - Melhorando a Vida das Pessoas", os quais foram afixados em vários locais da cidade, inclusive em sede de repartições públicas.

De pronto, o que sobressai é a vastidão da publicidade elaborada para divulgar as realizações do Município, que impressiona, igualmente, pela excelente qualidade gráfica. A conclusão pela realização de propaganda eleitoral antecipada, contudo, decorre de modo inequívoco é do exame de seu conteúdo.

Quanto às fotografias dos "outdoors" que teriam sido espalhados pelo município, constato que todo^ següèpn idêntica formatação: no centro, em letras maiores, aparece em d e s t a g w e e m todos os

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Assim como os "outdoors", também as placas que foram afixadas em diversos pontos da cidade seguem uma padronização que traz grande destaque para a palavra "obra", em detrimento do que, a meu juízo, realmente interessaria aos munícipes, ou seja, informações sobre o investimento realizado.

Veja-se, por amostragem, a placa retratada na fotografia de fl. 34: no centro, em letras garrafais, aparece destacada a palavra "Obra"; abaixo, em letras bem menores: "Prefeitura de Timbó"; no canto superior esquerdo de quem vê, em letras menores que "obra" e maiores do que "Prefeitura de Timbó", consta: "Novo Pronto-Socorro no Hospital OASE". Já os dados acerca do investimento que fora realizado - cuja divulgação, no meu entender, seria o objetivo da norma do art. 37, §1°, da Constituição Federal de 1988 - aparecem com muito pouco destaque.

Em alguns casos, as placas sequer contêm informações sobre os contratos e respectivos recursos públicos que seriam utilizados para custear a obra propalada, como, por exemplo, aquelas referentes ao "Complexo Viário Rolando Mueller" (fl. 35), ao "Mutirão de Calçadas" (fl. 38) ou à "Creche no Bairro Padre Martinho" (fl. 38).

Essas circunstâncias evidenciam que o objetivo dos engenhos publicitários, na forma como se apresentam, é incutir no inconsciente dos cidadãos a imagem da atual administração como aquela que mais trabalha em prol do município, em inequívoca promoção pessoal do agente público, o que é vedado pela norma constitucional de regência.

Quanto aos exemplares de publicações impressas que acompanharam a inicial, o intuito de promoção pessoal do agente público revela-se ainda mais incontestável.

De acordo com os representantes, nos periódicos "Jornal do Médio Vale" e "Jornal a Cidade" é veiculada a coluna PRESTANDO CONTAS -MELHORANDO A VIDA DAS PESSOAS, produzida e editada (conforme consta no rodapé da respectiva página) pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Timbó.

Novamente por amostragem, tomo a edição de 27 de março de 2012 do Jornal do Médio Vale. Consta da eâpa a seguinte notícia: "Timbó registra melhor Gestão Fiscal entre os municíptà^o jyíe(^o-Vate^xRegistra a nota que "A Prefeitura

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posição entre as cidades brasileiras".

Ora, fácil perceber que a nota estabelece verdadeira comparação entre a administração atual e as anteriores, levando o eleitor a inferir que a atual é a que melhor administra o município.

Já no Informativo Prestando Contas, que contém a inscrição "produzido pela Assessoria Institucional de Comunicação Social da Prefeitura de Timbó/Dezembro de 2011" (fl. 45), chama a atenção, primeiramente, o uso das cores azul e vermelha, coincidentes com as cores do partido do recorrido, ao fundo do título.

Na capa desse informativo - que impressiona pela alta qualidade gráfica dentre várias fotos de obras na cidade, há uma chamada intitulada: "TIMBÓ, Uma cidade que se renova com planejamento e trabalho". No seu bojo, há um apanhado de todas as obras realizadas pelo poder executivo municipal, sejam elas concluídas, em andamento e que ainda estão por vir (muitas delas coincidentes com aquelas divulgadas nos "outdoors" e placas anteriormente mencionados).

Além disso, na maioria das páginas do encarte há entrevistas com moradores do município, os quais exaltam as obras realizadas pela atual administração em detrimento das anteriores. Para exemplificar, menciono:

A Prefeitura tinha somente 20 médicos especialistas até 2008 e hoje são 28. Foram 12.527 consultas em 2008 contra 26.174 em 2010. A Prefeitura também dobrou o número de cirurgias gerais e começou a realizar a cirurgia de proctologia, que não era ofertada dentro do município até 2008.

A comparação entre a administração atual e as anteriores - o que em muito se assemelha ao que costumeiramente é observado nas propagandas eleitorais - , é evidente, passando ao largo do caráter educativo, informativo ou de orientação social exigido pelo art. 37, § 1o, da Constituição Federal de 1988.

A realização de propaganda eleitoral extemporânea, pelo que foi demonstrado até aqui, revela-se, a meu juízo, irrefutável.

Todavia não é só.

Do Informativo SAMAE Timbó/SC (fl. 47) extraio o seguinte fragmento, que bem demonstra o interesse dp Podei^ Executivo Municipal, sempre com vistas ao "passado" (leia-se, administraçq^ari^^ os feitos realizados pela sua ad m i n ist ração: \ ^ ^ ^ ^ ^

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"Com os investimentos realizados desde 2009, o SAMAE amenizou a falta de água no município, que há anos preocupava os moradores, principalmente nos meses de maior consumo.

Compra de veículos, capacitação dos servidores, instalação de booster e bombas para facilitar a vazão da água, instalação de redes de água, nova ETA, educação ambiental, ações sociais e nova adutora são algumas das ações realizadas pelo SAMAE para que Timbó possa abastecer todos os locais da cidade. [...]

É o SAMAE Timbó pensando no futuro e ajudando a melhorar a qualidade de vida das famílias timboenses" [grifei].

As provas acima referidas são mais do que suficientes para demonstrar que houve verdadeira promoção pessoal travestida de publicidade institucional, caracterizando, dessa forma, propaganda eleitoral antecipada.

O argumento de que não haveria vinculação direta entre a publicidade ora combatida e a imagem do representado, e, por conseguinte, não caberia falar em violação ao art. 36 da Lei n. 9.504/1997, não se sustenta.

Afinal, o Tribunal Superior Eleitoral já assentou que, "a fim de verificar a existência de propaganda subliminar, com propósito eleitoral, não deve ser observado tão somente o texto dessa propaganda, mas também outras circunstâncias, tais como imagens, fotografias, meios, número e alcance da divulgação" (TSE. Recurso Especial Eleitoral n. 19.905/GO, Rei. Min. Fernando Neves).

Nesse particular, reporto-me à judiciosa manifestação do Procurador Regional Eleitoral, que sintetizou com propriedade a questão, valendo transcrever, como razão de decidir, o seguinte excerto:

No presente caso, muito embora possa parecer que a publicidade guerreada tenha restado circunscrita no âmbito regular da propaganda institucional prevista no dispositivo constitucional acima transcrito, na modalidade informativa, tem-se que, considerado o 'conjunto da obra\ esta desbordou da seara institucional para a eleitoral em sentido estrito.

Com efeito, fosse apenas a regular divulgação de uma obra pública determinada, de modo consentâneo e apropriado ao caráter informativo que a eventual propaganda institucional deve (ou deveria) ter, nos termos do dispositivo constitucional acima transcrito, nada de ilícito restaria a se apurar.

Ocorre que, no caso ora em apreço, a conotação eleitoral decorrente das divulgações das inúmeras e grandes obras e serviços da Prefeitura de Timbó efetuadas nos meses de fevereiro, março, abril, maio e junho do corrente ano, por meio de mais de 50 (cinqüenta) outdoors espalhados pelo referido Município afora (fls. 31-39),^oültçidade em rádios locais (fls. 40-41), além de diversas inserções em j^ lo merios-dois^Jorna^ circulação local

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custeadas pela referida Prefeitura timboense (fls. 42-43), livretos do SAMAE (fls. 46-47), revista Meganotícia (48-49), folder ilustrativo e colorido do novo complexo viário de Timbó (fls. 50), grandes cartazes distribuídos nas repartições públicas, especialmente nos postos de saúde (fls. 51-53), dentre outros meios midiáticos - é inequívoca, na medida em que, por ocasião daquelas divulgações, o Prefeito ora recorrido já era - senão declarado, mas a toda evidência, de fato - pretenso candidato à reeleição - tanto é que atualmente, conforme acima se fez menção, é candidato à reeleição pela Coligação 'As Famílias Em Primeiro Lugar' (PP/PT/PTB/PR/DEM/PSDB/ PTdoB).

Houve, portanto, de modo inequívoco, abuso no tocante ao caráter informativo que deveria nortear a propaganda institucional alegada pelo político apelado, inferindo-se que esta serviu de mero pretexto para que fosse, efetivamente, efetuada propaganda eleitoral em sentido estrito, conforme acima mencionado; essa modalidade antecipada de propaganda é, como se viu, vedada pela legislação eleitoral de regência.

E isso por que, na época em que efetuada aquela divulgação publicitária abusiva, verifica-se que o objetivo eleitoral era nítido, o qual é deveras acentuado quando se identifica, embutido de forma dissimulada naqueles meios publicitários, o invariável jargão (o bloco entre colchetes aparece de forma alternada, dependendo da matéria da respectiva propaganda) "[Nosso Lazer, Nosso Bairro, Esporte, Saúde, Infraestrutura, etc.], nossa cidade, nossa vida", o qual é composto de três vertentes, sendo que as duas últimas permanecem inalteradas ("nossa cidade, nossa vida'), e a primeira varia conforme a matéria a ser veiculada na mídia (especialmente, no presente caso, nos aludidos outdoors), sendo que a expressão em si fica vinculada na propagação da imagem positiva do Prefeito recorrido, que é, afinal, aquela pessoa que surge por detrás de toda essa publicidade como a pessoa mais apta a dar continuidade que é toda essa maravilha que subjaz de tal quadro.

Melhor dizendo, esse verdadeiro slogan é capaz de sugerir na mentalidade do eleitorado uma verdadeira propaganda eleitoral antecipada de grande vulto -já que o mencionado expediente midiático foi massivo e de grande monta, conforme antes registrado - , com as características de ser direta, objetiva e sugerida, hábil a atingir a população de Timbó por meio de mensagem clara, visando fortalecer e fixar a imagem do Prefeito recorrido perante o eleitorado mediante artifício que denota o acerto que é em votar nesse (então) pretenso (e atual) candidato nas eleições vindouras, cuja campanha já se iniciou de forma adiantada em relação aos demais potenciais candidatos a Prefeito no apontado Município, vislumbrando-se de antemão que o então potencial candidato à reeleição, o ora apelado, Laércio Demerval Schuster Júnior, é o melhor dentre todos os outros para exercer o cargo público que almeja concorrer, no caso, o de Prefeito por mais uma vez - se como Prefeito já realizou todas as obras e investimentos citados nos outdoors e demais meios publicitários antes mencionados^ caso seja reeleito irá poder fazer muito mais, o que é facilmente perceptível nürri eleitorado como aquele de Timbó, que é uma cidade de porte médio e com potencial de desenvolvimento.

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Claro está que tal modalidade de propaganda extemporânea dispensa referências a cargo, legenda ou ideais políticos, pois o confronto eleitoral ainda não foi iniciado; vale-se deste meio de publicidade justamente o pretenso candidato que desfruta de reconhecimento e nome dentro de uma determinada comunidade onde disputa votos, buscando construir o perfil do homem preocupado com o bem-estar geral e, portanto, apto a ocupar um cargo público por seus próprios méritos e atitudes, valendo-se da condição de político inequivocamente reconhecido e com grande prestígio em Timbó para alçar sua imagem de forma adiantada frente aos demais candidatos que, à época, igualmente pretendiam disputar o referido cargo majoritário.

Em verdade, o que se proíbe é a conduta de utilizar meios publicitários para fazer valer mensagem de conteúdo eleitoral, adiantando a prática de campanha em detrimento dos demais possíveis e pretensos candidatos, violando, assim, o princípio da igualdade nas eleições, ainda que de forma dissimulada ou sub-reptícia, já que o atual Prefeito de Timbó, o ora apelado, Laércio Demerval Schuster Júnior, então virtual candidato à reeleição no Município em questão (atualmente já é candidato, frise-se), foi alçado - ainda que de forma disfarçada ou dissimulada - como aquele capaz de fazer mais por Timbó na continuidade de seu mandato no Executivo local, já que transpareceu - já mesmo antes do início do período eleitoral em sentido estrito - ser o mais indicado para continuar exercendo esse posto executivo, o que traduz inequívoca prática de propaganda eleitoral extemporânea; nessa linha, transcreve-se o seguinte precedente do Tribunal Superior Eleitoral -TSE:

REPRESENTAÇÃO. OBRA PÚBLICA. INAUGURAÇÃO. PRONUNCIAMENTO DE GOVERNANTE. PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA. CONFIGURAÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO. DESPROVIMENTO.

1. Considerados os dois principais vetores a nortearem a proibição do cometimento do ilícito, quais sejam, o funcionamento eficiente e impessoal da máquina administrativa e a igualdade entre os competidores no processo eleitoral, a configuração de propaganda eleitoral antecipada independe da distância temporal entre o ato impugnado e a data das eleições ou das convenções partidárias de escolha dos candidatos.

2. Nos termos da jurisprudência da Corte, deve ser entendida como propaganda eleitoral antecipada qualquer manifestação que, previamente aos três meses anteriores ao pleito e fora das exceções previstas no artigo 36-A da Lei n° 9.504/97, leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que somente postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou as razões que levem a inferir que o beneficiário seja o mais apto para a função pública.

3. Conforme jurisprudência da Corte, "a fim de verificar a existência de propaganda subliminar, com propósito eleitoral, não deve ser observado tão somente o texto dessa prcpagancja, mas também outras circunstâncias, tais como imagens, fotografias, ^eiefs, namer^e ^ance-daaiiYU (Recurso Especial Eleitoral ^ /

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n° 19.9Ü5/GO, DJ de 22.8.2003, rei. Min. Fernando Neves).

4. O caráter oficial de evento exige de qualquer agente público ou político redobrada cautela para que não descambe em propaganda eleitoral antecipada atos legitimamente autorizados como a inauguração e entrega de obras públicas.

5. Configura propaganda eleitoral antecipada reação à manifestação popular, ainda que surgida espontaneamente entre os presentes a evento, que leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, eventual candidatura, mesmo que somente postulada.

6. Recurso desprovido.4

Com efeito, no que tange, por exemplo, aos mais de 50 outdoors publicados, verifica-se uma proporção de fontes semelhante à abaixo reproduzida (fl. 31):

A PREFEITURA DE TIMBÓ

TRABALHA EM TODOS OS BAIRROS

AR CONDICIONADO EM TODAS AS SALAS

DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL

Pergunta-se, portanto, qual a mensagem que referida comunicação efetivamente transmite e, assim, qual seu verdadeiro objetivo? Tenho por evidente que a intenção desses anúncios é o de fixar na mente do eleitor a primeira mensagem, de letras garrafais, sendo a outra meramente secundária e subsidiária.

Conclui-se, pois, que a prática de propaganda eleitoral fora de época está plenamente caracterizada no presente caso, de forma direta e cristalina, ensejando desequilíbrio eleitoral antecipado e ensejando a quebra da lisura do pleito municipal vindouro, razão pela qual o recurso interposto pelas mencionadas agremiações partidárias comporta provimento [fls. 168-172].

Em reforço, no que se refere à alegação do recorrido de que não houve, ao menos de forma implícita, menção à eleição, menciono recente julgado desta Corte acerca da matéria:

ELEIÇÕES 2012 - RECURSO - REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA - LEGITIMIDADE PASSIVA DO ENTÃO PREFEITO PARA FIGURAR NO PÓLO PASSIVO. [•••]

4 Representação - Rp n. 1406 - TSE, Relator Ministro Joelson Costa Dias, publicado no DJ Eletrônico de 10.05.2010, p. 28 - grifou-se.

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PROPAGANDA PUBLICITÁRIA DA PREFEITURA QUE ULTRAPASSA OS LIMITES ESTABELECIDOS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - ART. 36 DA LEI N. 9.504/1997 - PLACAS AFIXADAS EM DIVERSOS IMÓVEIS MUNICIPAIS - ENALTECIMENTO DAS REALIZAÇÕES E INVESTIMENTO DOS RECURSOS DO GOVERNO ESTADUAL - DESNECESSIDADE DE MENÇÃO À FUTURA CANDIDATURA OU EXPRESSO PEDIDO DE VOTO • CONOTAÇÃO ELEITORAL CONFIGURADA - DECISÃO CONDENATÓRIA -MANUTENÇÃO - DESPROVIMENTO DO RECURSO (Precedentes: TSE. RESP. N. 19.905, DE 25.2.2003, RELATOR MIN. FERNANDO NEVES; TRESC. Acórdão n. 26.644, de 9.7.2012 Rei. Designado Juiz Júlio Schattscneider).

"Configura propaganda eleitoral antecipada a realização de publicidade institucional, divulgada no primeiro semestre do ano eleitoral, que se utiliza de textos passionais e narrações autoelogiosas às ações administrativas, desviando-se do caráter estritamento objetivo de que deve se revestir, com o objetivo de beneficiar o titular da prefeitura, sabidamente candidato à reeleição" [Acórdão TRESC n. 25.542, de 26.10.2010, Rei. Juíza Cláudia Lambert de Faria] [TRESC. Ac. N. 27.535, de 19.9.2012. Rei. Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira - grifei]

O reconhecimento da realização de propaganda eleitoral antecipada, portanto, revela-se impositivo.

Quanto à penalidade de multa a ser aplicada, a publicidade extemporânea levada a efeito pelo recorrido é de volume expressivo, sobretudo em se considerando o porte do Município de Timbó; essa circunstância, aliada à multiplicidade de meios utilizados e à repetição da conduta, torna apropriada e recomendável sua fixação em grau máximo, qual seja, R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), nos termos do art. 36, § 3o, da Lei n. 9.504/1997.

Diante do exposto, voto pelo conhecimento e provimento do recurso, para julgar procedente o pedido formulado na injçialr-CQndenando o representado ao pagamento de pena de multa^ fixada em-R$^5f.000,00 (vifyte e cinco mil reais).

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Fl.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL N° 84-10.2012.6.24.0032 - RECURSO ELEITORAL -REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA POLÍTICA - PROPAGANDA ELEITORAL - BANNER I CARTAZ / FAIXA - IMPRENSA ESCRITA - JORNAL / REVISTA / TABLOIDE - OUTDOORS -RÁDIO • EXTEMPORÂNEA / ANTECIPADA - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 32a

ZONA ELEITORAL - TIMBÓ RELATOR: JUIZ NELSON MAIA PEIXOTO RELATOR DESIGNADO: JUIZ MARCELO RAMOS PEREGRINO FERREIRA

RECORRENTE(S): PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO DE TIMBÓ ADVOGADO(S): MARCOS GADOTTI; PAULO FRETTA MOREIRA; ENIO FRANCISCO DEMOLY NETO; ANDRÉ LUIZ BERNARDI; KARINY BONATTO DOS SANTOS; LUCIANO CHEDE RECORRENTE(S): PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO DE TIMBÓ ADVOGADO(S): MARCELO WORMSBECKER RECORRIDO(S): LAÉRCIO DEMERVAL SCHUSTER JÚNIOR ADVOGADO(S): MAURÍCIO PONTUAL MACHADO NETO; CARLOS EDOARDO BALBI GHANEM; FERNANDO ARTUR RAUPP; RODRIGO DE ABREU; JOSÉ SILVESTRE CESCONETTO JÚNIOR; LUIZ MAGNO PINTO BASTOS JÚNIOR; ALESSANDRO BALBI ABREU

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ LUIZ CÉZAR MEDEIROS

PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL

Decisão: Após a apresentação do voto-vista do Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira, o Tribunal decidiu, à unanimidade, conhecer do recurso e, por maioria -vencidos o Relator e o Juiz Eládio Torret Rocha -, a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator designado, Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira. Presentes os Juizes Luiz Cézar Medeiros, Eládio Torret Rocha, Júlio Guilherme Berezoski Schattschneider, Nelson Maia Peixoto, Luiz Henrique Martins Portelinha, Marcelo Ramos Peregrino Ferreira e Bárbara Lebarbenchon Moura Thomaselli.

PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE 24.10.2012.

ACÓRDÃO N. 27764 PUBLICADO, ÀS 16H47MIN, NA SESSÃO DE 25.10.2012.