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t ;—r ? I ANNO DOMINGO, SI DE JULHO DE 1901 SEM AN A RIO NOTICIOSO, LITTERAR-IO AGRÍCOLA REDACÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E TÍPOGRAPUIA tssignstura Anno, i$ooo réis; semestre, Soo réis. Pagamento adiantado. »3 Na cobrança pelo correio, accresce o premio do vale. Q ------------- U ru a DE JOSÉ MARIA DOS SANTOS Avulso, no dia da publicação, 20 réis. EDITOR — José Augusto Saloio A LDEftALLfciGA. s l*ubli cagões 1: Annuncios— i.a publicação. 40 réis a tnha, nas seguinte: Q.20 réis. Annu cios na 4.1 pagina, contracio esp.cial. Os auto ri graphos nao se rest tuem quer sejam ou não publ cados. PROPRIETÁRIO — José Augiisto Saloio EXPEDIENTE Pedimos ás pessoas a quem enviamos o nosso jornal, “© DOHMGO”, que por qualquer moti vo não queiram dar-nos a honra de lhe coneeder a sua asslgnatura, a fi neza de o devolverem na semana immediata pelo distribuidor. Aeeeltam-se eom grati dão quaesquer notieias que sejam de iuteresse publico. APRESENTAÇÃO Vamos entrar nas lides ia imprensa, de cabeça er- C COÍTI O ilJStlSSOiTl- 'o de quem rtãcí lem.na ua consciência nenhum to a censurar. Comprehendemos a mis- to verdadeira dessa insti tuição sublime; anossa pen- na estará sempre prompta a defender os opprimidos e a castigar os oppressores; a-censurar os que errarem e a louvar incondicional mente os que se conserva rem sempre no verdadeiro caminho. Nada nos fará do brar; nenhumas considera ções especiae-s nos tarão de mover do nosso proposito. Pugnaremos pelos inte resses desta belia terra, a que nos orgulhamos de per tencer e teremos sempre em vista, quanto em nos- sasforças couber, trabalhar assiduamente para o seu progresso e desenvolvi mento. Não vimos fazer pro messas pomposas; vimos, confiando no favor publi co, apresentar modesta mente este semanario, em que iremos successivamen- te introduzindo melhora mentos se a benevolencia dos leitores houver por bem auxiliar-nos. REGRESSO DE SUAS MAGESTADES Depois de uma viagem triumphal e cheia de con tinuas ovações nas ilhas regressaram suas magesta des no domingo, i 5. A en trada da esquadra foi im ponente, apresentando o nosso formoso Tejo um as pecto magnifico. Suasmagestades desem barcaram no Arsenal ás duas horas e cincoenta e cinco minutos da tarde e dirigiram-se para a sala da balança, primorosamente ornamentada, onde recebe ram os cumprimentos das municipalidades, titulares, deputações das duas casas do parlamento, de socieda des scientificas elitterarias, officiaes generaes do exer cito e da armada, officiali- dade de mar e terra, car deal patriarcha, damas da rainha, etc. Durante a re cepção a banda da Guarda Municipal executou varias peças do seu repertorio. A’ sahida foraín lanou das sobre a carruagem reai muitas pétalas de rosas. ' A,’s tres horas e tresquar- os tia tarde chegou o cor tejo á estação do Rocio, onde houve calorosas ac- clamações até o comboio se pòr em marcha para Cintra. * Na rua dos Capellistas estavam as sociedades de Arrentella, Monte de Ca- xirica e Incrivel Almaden- se; na rua do Ouro as so- iedades musicaes Capri cho Setubalense, de Mafra, de Alcochete, Familiar Al- madense, União Artistica da Cova da Piedade, Fan farra Marítima de Porto Brandão e i.° de Dezem bro, da nossa terra, que tambem quiz prestar a sua homenagem aos nossos reis; no Rocio, as de Alen quer, Capricho Barreiren- se e Banda Musical Artis tica. As janellas apinhadas de senhoras, com trajos claros de verão, onde havia ros tos encantadores, produ ziam um effeito agradavel á vista, completando o con- juncto lindas colchas de damasco. Acha-se quasi restabele cido da grave enfermidade que o acommetteu o hon rado lavrador e digno pre sidente da Camara desta villa o ex.mo sr. Domingos Tavares pelo que o felici tamos. AS FESTAS DO ESPIRITO SAN TO E l ALDEGALLIGA Aldegallega está em ple na festa. Por toda a parte bandeiras e festões. Por to da a parte o mesmo enthii- siasmo e em todos os ros tos o mesmo sorriso de in tima satisfação, traduzindo alegria de que os habi- ntes de Aldegallega es tão possuídos por verem coroados do melhor evito os seus esforços e sacrifí cios. E têem razão. A exe cução de trabalhos desta ordem, demanda uma acti vidade enorme. despezas e sobre tildo mui to boa vontade para har- monisar todos os desejos e gostos. Apesar, porém, de todas as difficuldades e attrictos em menos de um mez se preparou a graciosa villa para receber dignamente os numerosos hospedes que hoje a visitam! Pódem os filhos de Al- legallega orgulhar-se de que todos os forasteiros aqui attrahidoe pelas fes tas, guardarão gratas re cordações, não só do bri lhantismo daquellas, mas tambem do acolhimento carinhoso e fidalgo que lhes dispensarem os habitantes desta villa. Eis o programma das festas : guindo-se o almoço ás mes mas creanças na casa do despacho da Irmandade do Santíssimo, tocando duran te o acto a banda da Guar da Municipal, depois 7 c- Dcum. A’s 4 e meia da tarde, sairá a procissão da Egreja Matriz. Tocarão n'esta imponen te procissão tres bandas de musica, que são as primei ras no nosso paiz. Dia 22 .— A’s (j horas da noite, conducção das ima gens de S. Pedro e S. Se bastião para as suas respe ctivas capellas, acompanha das pelas phylarmonicas União Seixalcnse e /.° de Dezembro de Aldegallega. Kermesse, illuminações á venezianna e á moda do VJinho, fogo de artificio, concertos peias pnylarmo- nicas União Setubalense, i.° de Dezembro, União Seixalcnse e a banda da Marinha. Embolação ás 11 da ma nhã, tourada ás 4 e meia da tarde, que será abrilhan tada pela Phylannonica 1 de Dezembro. Dia 23 .— A s 11 da ma nhã, embolação, ás 4 e meia da tarde, tourada, ás 9 da noite, arraial, kermesse e illuminações, tocando na raça Serpa Pinto a Phy lannonica 1 .a de Dezembro. As carreiras dos vapores Lisbonenses são continuas. Dia 27.— A’s 10 horas da manhã sahirao do reco lhimento de N.a Senhora da Conceição, em procis são para a Egreja Matriz, acompanhadas pela Socie dade União Setubalense, as creanças que pela primeira vez vão tomar a Sagrada Communhão. A's 11, missa cantada pe lo reverendo parocho d’es- ta freguezia, a grande ins trumental. Ao Evangelho pregará o desembargador sr. dr. Garcia Diniz. A’ mis sa terá logar a communhão das creanças; depois prati ca pelo mesmo orador, se O CALOR Tem sido intenso quanto possivel, chegando a cau sar alguns damnos nas vi nhas e milhos. Tem estado bastante encommodado de saude, o sr. Sezinando Celestino Pimentel, digno contador e distribuidor cTestacomarea Desejamos-lhe o prom- pto restabelecimento. Está de visita nesta villa o digno juiz de direito da 'comarca de Montemór-o- Novo, o exm." sr. dr. João Antonio de Sousa. Felicitamol-o. A ESCOLA De todas as cousas, a mais bella que os seres or- ganisadores podem pos suir é a instruccão, que abre ás intelligeneías o ca minho para os variados ra mos da sciencia. O homem instruído ele va-se e reconhece-se supe rior ao analphabeto. O analphabetismo é triste e quasi desprezível: o indi víduo ignorante, se não é de todo repeli ido, inspira compaixão. Haverá qualidade mais bella, abaixo da d uma boa moral, que a da instru- cção? Haverá coisa mais triste e commovente que o anal phabetismo? phabeto detestam-se: aquelle por se reconhecer superior pela cultura do seu espirito; este por se ver inferior pela ignorat> cia Se estes ainda hoje os ha em maioria, aquelles em menor numero são os mais fortes — porque a instru- cção é um poder concedido pela escola. A escola é um templo: o seu sacerdote é o pro fessor. A escola é um centro luminoso, cuja claridade pouco a pouco desfaz as trevas da ignorancia. Ensinar os ignorantes é uma obra de caridade. A escola é um santua- rio onde essa obra de mi sericórdia é praticada pe los sacerdotes da instru- cção. ’ Escola— palavra simples composta de tantas sylla- bas quantas as virtudes: Fé, Esperança e Caridade. Fé — a que o professor tem no engrandecimento da sua missão. Esperança — a que elle nutre pelo que poderão vir a ser os seus discípulos af- feiçoados. Caridade — a que tem para as creanças, ás quaes com paciência admiravel arranca 0 véo das negras e tristes trevas que lhes co bre a razão. Cada escola que se le-

REDACÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E ... - mun-montijo.pt ANNO D O M IN G O , S I D E JU LH O D E 1901 SEM AN A RIO NOTICIOSO, LITTERAR-IO AGRÍCOLA ... Depois de uma viagem triumphal e cheia

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I A N NO D O M I N G O , S I D E J U L H O D E 1 9 0 1

SEM AN A R IO N O T IC IO S O , L IT T E R A R -IO A G R ÍC O L A

REDACÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E T Í P O G R A P U I Atssig n stu raAnno, i$ooo réis; semestre, Soo réis. Pagamento adiantado. »3Na cobrança pelo correio, accresce o premio do vale. Q -------------

U r u a DE JOSÉ MARIA DOS SANTOSAvulso, no dia da publicação, 20 réis.

EDITOR— José Augusto Saloio A L D E f t A L L f c i G A .

s l* u b li ca g õ es1: Annuncios— i . a publicação. 40 réis a tnha, nas seguinte:Q.20 réis. Annu cios na 4.1 pagina, contracio esp.cial. Os auto r i graphos nao se rest tuem quer sejam ou não p ub l cados.

PROPRIETÁRIO— José Augiisto Saloio

EXPEDIENTE

P e d im o s á s p e s s o a s a q u em e n v ia m o s o n o s s o jo r n a l, “ © D O H M G O ”, q u e p o r q u a lq u e r m o t i ­v o n ão q u e ir a m d a r-n o s a h o n r a d e lh e c o n e e d e r a su a a s s lg n a tu r a , a fi­n eza d e o d e v o lv e r e m n a sem a n a im m e d ia ta p e lo d is tr ib u id o r .

A e e e lta m -se eom g r a t i­dão q u a e sq u e r n o t ie ia s q u e sejam d e iu t e r e s s e p u b lic o .

APRESENTAÇÃO

Vamos entrar nas lides ia imprensa, de cabeça er-

C COÍTI O ilJStlSSOiTl-'o de quem rtãcí lem.na

ua consciência nenhum to a censurar. Comprehendemos a mis-

■ to verdadeira dessa insti­tuição sublime; anossa pen- na estará sempre prompta a defender os opprimidos e a castigar os oppressores; a-censurar os que errarem e a louvar incondicional­mente os que se conserva­rem sempre no verdadeiro caminho. Nada nos fará do­brar; nenhumas considera­ções especiae-s nos tarão de­mover do nosso proposito.

Pugnaremos pelos inte­resses desta belia terra, a que nos orgulhamos de per­tencer e teremos sempre em vista, quanto em nos- sasforças couber, trabalhar assiduamente para o seu progresso e desenvolvi­mento.

Não vimos fazer pro­messas pomposas; vimos, confiando no favor publi­co, apresentar modesta mente este semanario, em que iremos successivamen- te introduzindo melhora­mentos se a benevolencia dos leitores houver por bem auxiliar-nos.

REGRESSO DE SUAS MAGESTADES

Depois de uma viagem triumphal e cheia de con tinuas ovações nas ilhas regressaram suas magesta

des no domingo, i 5. A en­trada da esquadra foi im­ponente, apresentando o nosso formoso Tejo um as­pecto magnifico.

Suasmagestades desem­barcaram no Arsenal ás duas horas e cincoenta e cinco minutos da tarde e dirigiram-se para a sala da balança, primorosamente ornamentada, onde recebe­ram os cumprimentos das municipalidades, titulares, deputações das duas casas do parlamento, de socieda­des scientificas elitterarias, officiaes generaes do exer­cito e da armada, officiali- dade de mar e terra, car­deal patriarcha, damas da rainha, etc. Durante a re­cepção a banda da Guarda Municipal executou varias peças do seu repertorio.

A’ sahida foraín lanou das sobre a carruagem reai muitas pétalas de rosas.

' A,’s tres horas e tresquar- os tia tarde chegou o cor­

tejo á estação do Rocio, onde houve calorosas ac- clamações até o comboio se pòr em marcha para Cintra.

*

Na rua dos Capellistas estavam as sociedades de Arrentella, Monte de Ca- xirica e Incrivel Almaden- se; na rua do Ouro as so-

iedades musicaes Capri­cho Setubalense, de Mafra, de Alcochete, Familiar Al- madense, União Artistica da Cova da Piedade, Fan­farra Marítima de Porto Brandão e i.° de Dezem­bro, da nossa terra, que tambem quiz prestar a sua homenagem aos nossos reis; no Rocio, as de Alen quer, Capricho Barreiren- se e Banda Musical Artis­tica.

As janellas apinhadas de senhoras, com trajos claros de verão, onde havia ros­tos encantadores, produ­ziam um effeito agradavel á vista, completando o con- juncto lindas colchas de damasco.

Acha-se quasi restabele­cido da grave enfermidade que o acommetteu o hon­rado lavrador e digno pre­

sidente da Camara desta villa o ex.mo sr. Domingos Tavares pelo que o felici­tamos.

AS FESTAS DO ESPIRITO S AN­TO E l ALDEGALLIGAAldegallega está em ple­

na festa. Por toda a parte bandeiras e festões. Por to­da a parte o mesmo enthii- siasmo e em todos os ros­tos o mesmo sorriso de in­tima satisfação, traduzindo

alegria de que os habi- ntes de Aldegallega es­

tão possuídos por verem coroados do melhor evito os seus esforços e sacrifí­cios. E têem razão. A exe­cução de trabalhos desta ordem, demanda uma acti­vidade enorme. despezas e sobre tildo mui­to boa vontade para har- monisar todos os desejos e gostos.

Apesar, porém, de todas as difficuldades e attrictos em menos de um mez se preparou a graciosa villa para receber dignamente os numerosos hospedes que hoje a visitam!

Pódem os filhos de Al- legallega orgulhar-se de

que todos os forasteiros aqui attrahidoe pelas fes­tas, guardarão gratas re­cordações, não só do bri­lhantismo daquellas, mas tambem do acolhimento carinhoso e fidalgo que lhes dispensarem os habitantes desta villa.

Eis o programma das festas :

guindo-se o almoço ás mes­mas creanças na casa do despacho da Irmandade do Santíssimo, tocando duran­te o acto a banda da Guar da Municipal, depois 7 c- Dcum.

A’s 4 e meia da tarde, sairá a procissão da Egreja Matriz.

Tocarão n'esta imponen­te procissão tres bandas de musica, que são as primei­ras no nosso paiz.

Dia 22 .— A’s (j horas da noite, conducção das ima­gens de S. Pedro e S. Se­bastião para as suas respe­ctivas capellas, acompanha­das pelas phylarmonicas União Seixalcnse e /.° de Dezembro de Aldegallega.

Kermesse, illuminações á venezianna e á moda doVJinho, fogo de artificio,

concertos peias pnylarmo-nicas União Setubalense,i.° de Dezembro, União Seixalcnse e a banda da Marinha.

Embolação ás 11 da ma­nhã, tourada ás 4 e meia da tarde, que será abrilhan­tada pela Phylannonica 1 de Dezembro.

Dia 2 3 .— A s 11 da ma­nhã, embolação, ás 4 e meia da tarde, tourada, ás 9 da noite, arraial, kermesse e illuminações, tocando na

raça Serpa Pinto a Phy­lannonica 1 .a de Dezembro.

As carreiras dos vapores Lisbonenses são continuas.

Dia 27.— A’s 10 horas da manhã sahirao do reco­lhimento de N.a Senhora da Conceição, em procis­são para a Egreja Matriz, acompanhadas pela Socie­dade União Setubalense, as creanças que pela primeira vez vão tomar a Sagrada Communhão.

A's 11, missa cantada pe lo reverendo parocho d’es- ta freguezia, a grande ins­trumental. Ao Evangelho pregará o desembargador sr. dr. Garcia Diniz. A’ mis sa terá logar a communhão das creanças; depois prati­ca pelo mesmo orador, se­

O CALO R Tem sido intenso quanto

possivel, chegando a cau­sar alguns damnos nas vi­nhas e milhos.

Tem estado bastante encommodado de saude, o sr. Sezinando Celestino Pimentel, digno contador e distribuidor cTestacomarea

Desejamos-lhe o prom- pto restabelecimento.

Está de visita nesta villa o digno juiz de direito da 'comarca de Montemór-o- Novo, o exm." sr. dr. João Antonio de Sousa.

Felicitamol-o.

A ESCOLADe todas as cousas, a

mais bella que os seres or- ganisadores podem pos­suir é a instruccão, que abre ás intelligeneías o ca­minho para os variados ra­mos da sciencia.

O homem instruído ele­va-se e reconhece-se supe­rior ao analphabeto.

O analphabetismo é triste e quasi desprezível: o indi­víduo ignorante, se não é de todo repeli ido, inspira compaixão.

Haverá qualidade mais bella, abaixo da d uma boa moral, que a da instru- cção?

Haverá coisa mais triste e commovente que o anal­phabetismo?

phabeto detestam -se: aquelle por se reconhecer superior pela cultura do seu espirito; este por se ver inferior pela ignorat> cia

Se estes ainda hoje os ha em maioria, aquelles em menor numero são os mais fortes — porque a instru- cção é um poder concedido pela escola.

A escola é um templo:o seu sacerdote é o pro­fessor.

A escola é um centro luminoso, cuja claridade pouco a pouco desfaz as trevas da ignorancia.

Ensinar os ignorantes é uma obra de caridade.

A escola é um santua- rio onde essa obra de mi­sericórdia é praticada pe­los sacerdotes da instru- cção.

’ Escola— palavra simples composta de tantas sylla- bas quantas as virtudes: Fé, Esperança e Caridade.

Fé — a que o professor tem no engrandecimento da sua missão.

Esperança — a que elle nutre pelo que poderão vir a ser os seus discípulos af- feiçoados.

Caridade — a que tem para as creanças, ás quaes com paciência admiravel arranca 0 véo das negras e tristes trevas que lhes co­bre a razão.

Cada escola que se le-

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O D O M I N G O

vanta é um passo dado para a civilisação dum povo.

Onde não ha escola, não ha desenvolvimento intel- lectual.

A construcção dum tem­plo escolar onde o não ha, não é somente uma neces­sidade, é um dever. Todo aquelle que independente­mente, por si só, dá cum­primento a esse dever, todo aquelle que contribue parao desenvolvimento da instru- cção popular, torna-se be- nemerito da patriá; dar as matérias para accender o facho que deve brilhar na treva analphabetica, é um acto generoso, que os que hoje receberam os effeitos da sua luz, ámanhã, quan­do a razão desenvolvida bemdirão,* como no pre sente, todos os que amam verdadeiramente a sua pa- tria.

Por difliculdades susci­tadas á ultima hora e ab soiutamente estranhas nossa vontade, não pude mos publicar ante-hontem este jornal, do que pedimo desculpa a todos os estimá­veis leitores.

cas e de grande multidão, composta não só dos ha­bitantes da villa, mas tam­pem de forasteiros que já lontem aqui affluiram em grande numero.

A illuminação produziu um effeito surprehendente. As barracas fizeram, se-

undo nos consta, bom ne­gocio.

Nos dois coretos, na raça, tocaram alternati­

vamente a União Setuba­lense e a i.° de Dezembro, desta villa. Um bravo a ambas, pela maneira cor recta como tocaram varias peças de musica, recordan- do-nos ainda com saudade de dois lindos pot-pourris executados pelas duas phy- larmonicas.

Apezar da muita gente que se encontrava na Pra­ça e ruas, nenhum incidente desagradavel se deu, o que mostra a indole pacifica e ordeira d este povo e que sabe fazer-se respeitar e respeitar os outros.

G R A C I O S A

Foi hontem o primeirodia dos festejos; Desde mami. j , ,Lreinava unia anima ç ao grande. Na praça 'os ope­rários davam á pressa os últimos retoque.s nas bar­racas, as quaes, diga~se a verdade, produzem nm lin­do effeito, alliando-se per­feitamente o gosto artistico com a simplicidade da fór- rna. A' tarde chegou a phv- larmonica União Sduba- lense, impressionando-nos agradavelmente a boa or­dem e a attitude marcial dos músicos que a compu­nham.

Dep'ois de cumprimen­tar a Sociedade /." de De-embro percorreu a vil­la, tocando- alguns ordi­nários.

A' noute realisou-se a procissão, acompanhada pilas mesmas phylarmoni-!

ANNIVERSARIOS

Completou hoje o seu terceiro anniversario nata­lício a menina Lucinda, fi­lha do proprietário deste semanario.

Faz annos no dia 23 do corrente mez, a meninaiTlíti Id i iiicts íiiirvi viwJacob Rodrigues e Catha- rina Rodrigues.

Os nossos sinceros pa­rabéns.

Uma commissão, presi­dida pelo ex."“ sr. dr. De­legado desta comarca, de­liberou dar um jantar aos presos da cadeia desta vil­la, no dia 23 do corrente, pela uma hora da tarde.

Louvamos sinceramente tão digna acção.

Fomos hoje visitados pe­los nossos amigos e colle- gas Joaquim dos Anjos e Carlos Hermenegildò de Mello; Este primeiro, collã- borador do nosso semana­rio.

Agradecemos a visita.

Ella vae ligeira, mal pisando a rua,Como uma avestnha prestes a voar.Brilha mais um rosto do que a hi~ da lua, Brilha mais que o sol o seu fulgente olhar.

Tem viço e belle^a — seu maior thesouro —Sabe que é bonita, graciosa, amada . . .N ’essa cabecita quantos sonhos douro,Gaste lios erguidos por bondosa fada!

Vejam a formosa da rapariguinha . . .Vestido modesto, mas'gentil, taful! . . .Vae tão magestosa como uma rainha Com seu longo manto de vèlludo a^ul.

Com que doce encanto, seducção graciosa,Nós fitamos nelle demorado olhar Quando vae na rua, tão ligeira, airosa,Como uma avesinha prestes a voar!

J o a q u im d o s A n j o s .

A MAIOR DOR

Ha uma dor terrivel de di-cr,Que os olhos deixa tristes e sem brilho; E a da pobre mãe que vê morrer

0 seu amado filho.

Ainda outra ha como a primeira,Que se tradu~ em lamentosos ais;E quando a morte— a fera carniceira —

Nos rouba os nossos paes.

Mas a dor mais cruel— pezar profundo Que disseca p ra sempre os corações, í ‘T ar quem virás magiuis d este inunde

Eperde as iIlusões.

J c ■AQUIM DOS 4 nJMOS.

Á MINHA AFILHADA

Anjo bom de candura e innocencia, F lo r inda em botão, creança linda, Que sempre te destine a Providencia Um risonho porvir meiga Lucinda.

C a r l o s d e M e l l o

E’ cavalleiro na primeira corrida o distincto e lau-

eado Fernando d’OHveira, acompanhado dos sympa- thicos bandarilheiros: João Calabaça, Jorge Cadete, José Martins, Torres Bran­co, Filippe Thomaz da Ro­cha e do applaudido ban- darilheiro açoriano Luiz Canario.

Na segunda corrida os_, touros pertencem tambem ao acreditado lavrador o i exm.° sr. Antonio José da Silva.'

Toma parte nesta corri­da, como cavalleiro, o não: menos laureado F. Simões Serra, trabalhando tam­bem Fernando d’01iveira.

O' espada cia tarde e o insigne e arrojado matador de novilhos Thomaz Alar- còn Ma~~antinilo, que em ambas as corridas torna parte, assim como os ban­darilheiros acima mencio­nados.

Tambem um valente e arrojado grupo de moços de forcado, cie Aldegalle­ga, capitaneados por José Peixinho, tomam parte nas duas corridas.

São abrilhantadas pela phylarmonica i,° , de De­zembro.

A G R I C U L T U R AMaaieií*» s tn r <Ufc.*£

T O U R A D A S

Re alisam-se ámanhá e depois dYimanhã, duas es­plendidas corridas de tou­

ros, que estão despertando um vivo enthusiasmo.

Na primeira tarde os touros pertencem ao acre­ditado lavrador o exm.° sr. João 1 homaz Piteira.

g n ie iá ta r a p ro d n e ç ã o á a s b atata s

Na ultima sacha ou na amontoa abate-sea rarna da batateira,sem com- tudo n quebrar.

Para isso. •;> trabalhador, durante a sacha ou amontoa, nada mais faz do que assentar um pé sobre a p rte mé­dia da rama da batateira, comprimin­do-a contra o terreno. Se se trata de sachar simplesmente, sacha da mesma fórma sem inconveniente, se se trata de amontoar, amontoa da mesma ma­neira, ficando tombada a rama da ba­tateira, que em geral, ao fim de vinte e quatro horas, torna á sua primitiva posição.

Mas.emquanto ella não volta á per­pendicular, vae-se-lhe formando, no ponto em que mais arqueou, um nó, um endurecimento ou contracção, que de futuro impedirá a passagem 'da seiva para a rama, onde não é ne- cessaria, o que reverterá toda ou quasi toda em proveito dos tubércu­los, que d’e'ta maneira se desenvol­verão muito mais.

O processo é facil, e os seus resul­tados conformam-se com as observa­ções de muitos p-aticos que teem notado nas batateiras cuja rama o vento derrubou, uma produeçáo muito mais rica a todos os respeitos.

FOLHETIM

TíaducçáO de J. DOS ANJOS

Á U L T Í M A C R U Z A D Ai

— O ultimo lance! exclamou de re­pente o rnarquez Guilherme de Tail-iemaure.

E um pouco pallido, apesar da sua mascara de indifTerença, os labios íranzidos n'um sorriso febril, deu car­tas sem olhar sequer para o que es­tava sobre o panno verde.

A partida estava a findar, na clari­dade agónisante dos eandieiros com oafcat-jours» verdes. E de chapéo na tabeca. a maior parte d V les de pé, bocejando; com as psk'pebras cahiclas, os rins quebrados por causa da noite

perdida, feitos n ’um feixe, outros ajoelhados com uma pèrná sobre a cadeira, os pontos atiravam com os tentos aos punhados, como se quizes- sem acabar de vez com o desgraçado que se debat;a contra o maldito azar. Por momentos havia silêncios pesa­dos, em que não se ouvia senão o deslisar dos dedos pelas cartas e o ruído das respirações opprimidas.

--O ito ! disse Taiilemaure, pondo as cartas na mesa com gesto enfra- qrecido.

— Nove ! exclamou ao mesmo tem­po La Croix-Ramillies com um echo de zombaria.

As mãos crispadas do marquez ba­te1 ara na mesa. e pelo olhar atono passou-lhe um clarão de loucura. De­pois. resolutamente, corno querendo acabar com aquillo. exclamou:

— Vamos; meus senhores, façam ó seu jogo !

— .la estou satisfeito! disse baixinho La Croix-Ramillies.

E foi fumar unia cigarrilha para a janclla.

Lórd Shelley e Ribea c c ir t segui­ra n-n’o. O ar fresco da manhã fusti­ga1, a-lhes salubremente as t’.:ces.

i inham-se encostado á varanda. A praça da Concórdia ainda dornra,qu: uoeme :parecia m is rosado pi desmaiado que aigur- 1 savam. Lm im>>

mrrpet i írue d as e de nfass ■a -çe do iurdirti

ma. er; lha' n;evupo- T iiilcr,;Lr. ■ dode palavra r a-. r ju>. nijentt. • < a Içada ian mar,c s o'h ;t - .1 OÍIlTCj

1 sulivio a atmo . £0 U.ITUIÍÍ; • <

lanac- iíis c*■-tirito

loucar

Pum

eqmmoç< 1 hypaori' mer^s sen

nmrqciz c orti ròz jík ijíiiíí \ oz que 1 aucout encolheu

)ue imt-ccil! disse

disco que bui w do céo

s atraves- :1 de pri- do de to­em flor,

.ícioso das

ra quente rutecedor ases iirva- machinal-

3110 re nasciam ^ue quei- ) coração,

h- :s 1 articu- c;. 1 vez mais

:i:trisiecia.o- iiombros. élic Está com

azar medonho e e •Meu carf>,interro

'ntmua a jogar! iii er La Croix-I

Ramillies, eu não acho graça nenhu­ma a isto; antes, acarretar pedra até ajj fim da v da c[ue arrostar uma vida assim íó por uma semana !

Os outro; olharam-se. admirados da commoção verdadeira e do tom de profunda piedade daquella repiica repentina.

Ellí- continuou:— Sim. com a breca! um imbecil

que adora a mulher e que lhe obedece de joelhos. E realmente pena, porque elle não nasceu p, ra isto! Vejam lá o que faz casar-se com uma boneca de Paris, porque uma noite, no baile, elle lhe riu de um modo seduetor, porque tem cabeilos louros e falia em calão quando quer. Nasceu para viver; com todo o socego, n'um ra­iano . d provincia, e condemna-se perpetuamente a P a ris! C h e g o u áquillo que se v ê ! — a estar pegado todas as noites num a cadeira, deante da mesa do jogo, a perder o que tem e o que não tem e a dar cabo de si mais dia menos dia!

E contou a historia dolorosa de

Taiilemaure. Era uma historia onde havia lagrimas que se reprimem, para se apparecer sempre impassível e cor­rectamente indiiiérente ao combate pela vida; uma especie de tragédia íntimae do orosa neste tempo de ho­mens decahidos e de sociedade torpe e corrompida.

O marquez possuia uma fortuna re­gular, trinta ou quarenta mil libras de rendimento, apenas com que viver tres mezes com a vida que leva a mu­lher. As dividas açcumulavam-se. O buraco— esses buracos onde se afun­da e desaparece sinistramente a honra immaculada de uma familia— ia-sealar- gando cada vez mais de semana para semana.

A sr.a de Taiilemaure ignorava-o ou não pensava n’isso senão rindo, po r­que era parisiense até á ponta das unhas nacaradas, incapaz de vestir duas vezes o mesmo vestido, de ter uma idéa razoavel no cerebro, de pen­sar n'outra coisa que não fosse as mo­das e o espelho. [ContinuaJ.

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O D O M I N G O

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3 C í l O L I T T E R A R I AÔ I D I O T A .

Numa mesquinha caba­na, na extremidade de uma

I pequena villa situada na po­sição mais poética e riso­nha, viviam ha alguns an- nos, a viuva de um bravo mi-tar, morto no campo da honra, e seu filho unico. Este, posto que na edade de vinte e cinco annos, não

1 t irha ainda sahido da infân­cia, e o céo, recusando-lhe o mais precioso (e talvez o mais cruel; de seus dons, a intelligencia, tinha-lhe pro- digalisado um sentimento que o prendia á vida, isto é, um amor filial sem limi­tes. Para elle o vêr sua mãe era o mesmo que viver; as­sentado a seus pés, occu- pava mui Las horas do dia a olhar para ella, ouvil-a falar sem a comprehendèr; c :;e oor acaso as dores que lhe causavam as enfermi­dades, augmentadas pela miséria, lhe arrancavam um grito lastimoso, elle cho­rava.

Todos os habitantes da aldèa conheciam a mãeBer- tha e seu desgraçado filho, todos proviam as suas ne­cessidades quanto lhe per­ra itt ia.rn os seus recursos;

'rrRvv.elles* na^rrhçs podiatfi dar o.s cuidados que exigia o seu estado, e ella cahiu Perigosamente ente r m a. Pedro, acostumado a sahir •,) com a mãe, nunca tinha sdírido desgosto algum

jQs rapazes da villa zomba­vam d’elie; mas, detidos pelo respeito que sempre inspiram a velhice e a des­graça, não ousavam insul- tal-o.

Uma tarde que Bertha ■e sentia mais doente que ie costume, enviou seu fi­lho a procurar um campo- nez, que exercia na aldèa a profissão de facultativo, ou antes de charlatão, recoln- mendando-lhe que viesse depressa. P assou-se uma hora, duas, tres, e nem o medico, nem Pedro appa- recia. Inquieta, e não po­dendo conceber o que po dia demorar seu filho'tanto tempo fóra de sua casa, a desgraçada mãe reanima todas as suas forças, e di rige seus trémulos passos

.para fóra da cabana. Ape­nas tinha chegado ao limiar da porta,.quando seu mal aúgmentou, e ella não pó de avançar: um suor frio cobriu sua fronte, seus membros en velhecidos tre miam de febi'e; mas, por um eslorço sobrenatural, ella conseguiu reanimar-se e dirigir seus passos para o sitio onde cosf imavam reu­

nir-se os rapazes da aldèa. Ao principio licou admira­da de não ouvir o costu­mado rumor de seus jogos; mas notou logo um nume- 'oso grupo, que se abas­

tava á medida que ella se approximava; e viu seu ti- lho deitado por terra, com os olhos banhados em la­grimas, e com bastantes contusões nas costas, que manifestavam e vid en te- mente os maus tratamen­tos que tinha soffrido. Ber­tha, que a este expectaculo tinha recuperado toda a sua energia, correu para

u filho, e o apertou em seus braços.

O idiota, apoiando-se nellapara levantar-se, olha- va-a com um ar de sup- plica para que o livrasse dos seus perseguidores.

Parai! exclamou Ber­tha com força aos rapazes, que confusos se retiravam apressadamente; parai, e ouvi a maldição de uma mãe! Dizei-me que mal vos fez o meu pobre filho?

— Pedro não quiz jogar com os rapazes, porque sua mãe lho tinha prohibido, murmurou o idiota.

— E foi por isso que te hão maltratado? disse a af­ilie ta mãe.

Bertha quiz levantar seu filho, mas suas forças já ex- haustas lhe faltaram, e ella cahiu desfallecida em seus braços. Pedro olhou algum tempo para ella com espan­to, e depois tomando-lhe as mãos frias entre as suas, esforçou-se para as aque­cer, gritando:

— Minha mãe! m i nha mãe!

Ella nada respondeu . . . Pedro tomando-o em seus braços a conduziu á sua ca­bana, assentou-a numa pol­trona, procurou reanimar o lume quasi extincto, e de novo começou como seu la­mento de Minha mãe! mi­nha mãe!

Mas ah! aquella que elle tanto amava tinha cessado de existir; pois que se al­guma cousa a podia cha­mar á vida seria a voz de seu filho.

Finalmente, vendo que todos os seus esforços eram inúteis, Pedro pensou que sua mãe se achava enfada­da com elle; e deitando-se a seus pés passou toda a noite a chorar, e a pedir- lhe perdão..

No 'dia seguinte um an­tigo amigo de seu pae veiu vêr Bertha, e achou o idiota banhado em lagrimas, e na posição que referimos. Elle lhe perguntou a causa des­ta desgraça.

Minha mãe está enfa- e não me

quer falar, repetia sem ces­sar o idiota; porque a sua fraca intelligencia, nenhu­

ma edéa tinha da morte.De tarde vieram buscar

o corpo de Bertha para o conduzir para o cemiterio! Pedro, que até então tinha £ S ta d o tristemente assen­tado a um canto da caba­na, levantou-se impetuosa­mente e arrojou-se contra os camponezes.

— Que quereis vós? lhes disse elle bruscamente (e um clarão de intelligencia se manifestou em seus olhos ordinariamente amorteci­dos).

— Porque embrulhaes assim minha mãe? onde a quereis conduzir? Cobri-a com o seu chaile, que tal­vez tenha frio ; na sua ida­de precisa da sua poltrona e do seu brazeiro. . . Mi­nha mãe ! minha mãe! . . . vós quereis ficar commi-

dada commigo

go, nao e assim

A F O R M O S U R A

Ella morreu, desgra­çado mancebo; disse um dos assistentes, cheio de compaixão.

— Partamos! partamos! disse o que devia levar o corpo.

Pegaram íTelle, apesar dos esforço^ de seu filho, que seguiu machinalmente o fúnebre cortejo; mas quando foram lançar o cor­po na cova, elle deu um profundo gemido, dizendo:

— Minha m ãe!.. . Vede que assim a maltrataes !

Fizeram-no á força reti­rar para longe dalíi.

Era alta noite; e, todos os camponezes eançados repousavam t r an q u il 1 a- mente dos trabalhos de to­do um dia. Um homem se levantou vagarosamente de cima de uma sepultura onde tinha estado deitado: era o idiota.

— E’ necessário voltar a casa, minha mãe, disse el­le, pois que os maus já partiram ...

Elle começou a abrir a sepultura, e tomou entre seus dedos o corpo inani­mado do unico ente que tinha amado, e correu pre­cipitadamente a refugiar-se na sua cabana.

Accendeu alli bom lume; assentou sua mãe na sua poltrona, desembrulhou-a do panno que a cobria, e pondo-se de joelhos dian­te delia, como costumava, começou a brincar com seus dedos gelados, e a di- rigir-lhe de tempo em tem­po supplicas e sinceras ex­pressões de ternura.

O primeiro lavrador que se dirigiu ao trabalho na manhã seguinte, viu péla porta meia aberta da caba­na o pobre idiota morto junto ao cadaVer de sua mãe.

Correu a acordar os ha­bitantes da villa para ve­rem tão dolorosa, como pungente scena.

A dizermos a verdade não ha* nem houve jámais n’este mundo coisa mais adoravel e vaporosa como a formo­sura ! Um corpo quanto mais bonito fòr menos corpo é. Material absolu­tamente só a fealdade informe póde gabar-se de o ser.

Para nspirar amor, para persuadir da verdade, para dar luz ao que fòr de justiça o que haverá mais fecundo, vehemente e luminoso do que a bel- leza. se tudo deriva d'ella ? Está-se vendo todos os dia; que sem ser ab­solutamente correcta e formosa uma senhora agrada, faz filar de si.

Com o talento e com a formosura dá-se o mesmo que com as flòres. os ângulos e os defeitos é que dão a cer­tas physionomias a attracção que os semblantes correctos não possuem. Porque razão, rozeiros, tereis vós es­pinhos ? — etlas responderiam •

—■ Porque não ha graça sem um certo toque de pique; se não tivés­semos espinhos, daríamos rosas sem cheiro. . .

D0M1NIC0 DE VIC

Este illustre guerreiro era governador de Amiens e de Calais, evice-almirante de França. Em uma bata­lha teve a coxa direita que­brada por um tiro de fal­cão, e posto que appafen- temente curado da ferida, como sentisse frequentes vezes dores violentas, reti- tou-se do exercito para as suas terras da Guienna : e ahi vivia menos incom- modado depois de tres an­nos, quando soube da mor­te do rei Henrique 3.", e que Henrique 4.” carecia de todos os seus fieis ser­vidores para recobrar o throno que lhe disputavam. Immediatamente de Vic manda cortar a sua perna enferma, vende uma parte de seus bens, e logo que póde suster-se a cavallo, marcha a reunir-se ao rei, a quem fez assignalados serviços na batalha de Ivry, e em outras muitas occa- siões.

Dois dias depois do as­sassínio de Henrique 4.0, Dominico de Vic passando na rua da Feronneric, on­de se havia commettido o abuminavel regicidio, foi repentinamente tomado de uma tão forte dôr, que ca­hiu para o lado moribundo e expirou dahi a poucas horas.

ANECDOTAS

O conde de... muito conhecido pe­las sjuas liberalidades, foi certo dia, elevado a marquez e dirigiu-se ao tío- defroy para que fizesse a.barba e lhe aparasse as pastilhas, parte ornamen­tal da sua cara, em que, dizem, faz muito gosto.

O barbeiro concluiu e perguntou :í— Está .bem.assim, sr. con.de ?— U p a ! u p a !O barbeiro cortou as pastilhas rés

vés dos olhos.- E agora. sr. conde ?

— l'p a ! lipa !O barbeiro cortou rente da orelha.— E s ará agora bem. sr. conde ?— 1 pa ! u p a !— Agora, só se lh’as cortar pela

t"sta dentro. . .— Cortar o quê ?—• As pastilhas! V . ex.a não acaba

de dizer upa, up.i ?— Upa ! upa ! porque sou já mar­

quei. . . Estou desgiaçado. . . E saiu,

correndo, a dar agua circassiana nas faces.

Dois sujeitos desafiam-se para um duello. Diz um d'elles:

— Como se chama ?— Manoel Quintino Coelho.— N..o posso bater-me com você. —■ Porquê ?

* -— Porque ainda não tirei a licença para caçar.

N’uma casa de pasto:Freguez — Então quando vem essa

sòpa ?Creado — Faz favor de esperar fre­

guez. Estamos-lhe tirando as moscas.’

— O senhor não toma café ?— Não ; quando o tomo não posso

dormir.— Pois commigo dá-se o contrario:

quando durmo é que o não posso to­mar.

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