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1 Redes Sociais e o Desempenho Acadêmico: Um Estudo com Alunos de Contabilidade Autoria: Daniel José Cardoso da Silva, Adhemar Ranciaro Neto, Luiz Carlos Marques dos Anjos, Luiz Carlos Miranda RESUMO Este estudo objetivou investigar se o uso de redes sociais pode ser relacionado ao desempenho acadêmico de estudantes de graduação em contabilidade. Para tentar atender ao objetivo, desenvolveu-se método similar ao de Kirschner e Karpinski (2010). Coletaram-se dados de 105 estudantes do curso de Graduação em Ciências Contábeis de uma universidade federal. Foram realizadas análises quantitativa - estatísticas descritivas, análise de variância multivariada (MANOVA) utilizando-se o método da análise qualitativa de dados (QDA). Os resultados apresentados mostraram que não há como afirmar, com base na amostra analisada, que o uso de redes sociais impacta o desempenho acadêmico dos estudantes.

Redes Sociais e o Desempenho Acadêmico: Um Estudo com ... · que o uso de redes sociais impacta o ... desempenho de alunos de Graduação em Contabilidade e a intensidade de utilização

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Redes Sociais e o Desempenho Acadêmico: Um Estudo com Alunos de Contabilidade

Autoria: Daniel José Cardoso da Silva, Adhemar Ranciaro Neto, Luiz Carlos Marques dos Anjos,

Luiz Carlos Miranda

RESUMO Este estudo objetivou investigar se o uso de redes sociais pode ser relacionado ao desempenho acadêmico de estudantes de graduação em contabilidade. Para tentar atender ao objetivo, desenvolveu-se método similar ao de Kirschner e Karpinski (2010). Coletaram-se dados de 105 estudantes do curso de Graduação em Ciências Contábeis de uma universidade federal. Foram realizadas análises quantitativa - estatísticas descritivas, análise de variância multivariada (MANOVA) utilizando-se o método da análise qualitativa de dados (QDA). Os resultados apresentados mostraram que não há como afirmar, com base na amostra analisada, que o uso de redes sociais impacta o desempenho acadêmico dos estudantes.

 

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1. INTRODUÇÃO Em Atenas, a ágora era a praça onde se expressavam as opiniões. A ágora

contemporânea inclui as Redes Sociais e Comunidades da internet que embora virtuais, são a cada dia uma realidade mais latente. Um exemplo da força dessas Redes, poderia ser abstraído das palavras de Orihuela (2011), no seu discurso de encerramento do I congresso iRedes, no final de fevereiro de 2011:“Na Espanha, os partidos políticos ganharão ou perderão as eleições com as mídias sociais (não graças a elas, nem por culpa delas, e sim com elas)”,acrescentando ainda aquele professor: “Além disso, os que ganharem terão que governar com as redes sociais”. Pode ser também acrescentado o emblemático episódio da vitória do presidente dos EUA, Barack Obama, que foi sensivelmente impactada e atribuída por alguns também à sua forte atuação nas mídias sociais.

Porém, é preciso atentar para o fato de que essas redes também podem ter efeitos antidemocráticos. Através delas podem ser divulgadas agressões diversas, discursos de ódio, racismo e exclusão. Para Rossi (2011) A internet coloca novas questões éticas, como deixam claro os processos eleitorais em que ela se fez presente: “Se a internet pode estabelecer formas mais diretas de interlocução entre candidatos e eleitores, também pode ser usada para disseminação de mensagens difamatórias anônimas e calúnias.”

Por sua vez, Macedo e Sandoval (2012) mencionam a declaração de Irene Azevedo, diretora de negócios da consultoria LHH/DBM em entrevista à Revista Veja, de que as redes sociais romperam de vez a barreira entre carreira e vida pessoal ao se referir às informações publicadas num perfil virtual que podem influenciar diretamente a imagem profissional do usuário.

Não se pode também deixar de mencionar o resultado da pesquisa realizada pelo site “Divorce-Online”, que após levantamento em 2011 concluiu que 33% dos pedidos de divórcio na Inglaterra continham a palavra Facebook.

Concomitantemente verifica-se o surgimento de uma geração com habilidades para a execução de diversas tarefas em paralelo, como navegar em Redes Sociais ao tempo que assiste vídeos no Youtube e também estudam ou fazem suas tarefas escolares. Esse comportamento levou Veen e Vrakking (2006) a criar o termo Homo Zappiens.

Este estudo inspirou-se no trabalho de Kirschner e Karpinski (2010) que realizaram investigação envolvendo o uso do Facebook, muitas vezes realizado simultaneamente com as atividades de estudos de secundaristas e universitários, e sua relação com o desempenho acadêmico, medida pelo auto-relato de ponto de classe média (GPA) e horas dedicadas ao estudo por semana. Os resultados, segundo aqueles pesquisadores mostram que os usuários do Facebook relataram ter GPA inferiores e gastar menos horas por semana estudando que os não usuários.

Dessa maneira nasceu a questão problema que norteou esta investigação: O uso de redes sociais pode ser relacionado ao desempenho acadêmico de estudantes de graduação em contabilidade?

Objetivou-se com esta pesquisa verificar se era possível traçar uma correlação entre o desempenho de alunos de Graduação em Contabilidade e a intensidade de utilização das Redes Sociais ou Comunidades Sociais que para fins deste estudo foram tratadas como sinônimos.

A fim de alcançar esse objetivo, procedeu-se inicialmente a uma revisão da literatura pertinente à temática e partiu-se para uma pesquisa de campo onde foram entrevistados alunos de graduação de contabilidade de uma universidade federal com a intenção de mapear os

 

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hábitos de uso de internet e redes sócias daqueles estudantes e em seguida, após a devida autorização dos mesmos, fez-se o levantamento dos desempenhos acadêmicos individuais os quais foram tratados estatisticamente e dessa forma embasam empiricamente os resultados desta investigação.

Justifica-se este estudo pela relevância de avaliar os impactos na vida cotidiana e neste caso específico na acadêmica, desse fenômeno social conhecido por redes sociais ou comunidades virtuais que dado o vulto atual não pode passar despercebido da academia.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Uma geração aparentemente dotada de novas habilidades É comum, hoje em dia, ver jovens (principalmente) assistindo televisão enquanto “estudam” ou preparam suas tarefas e ao mesmo tempo usando o Facebook, Twitter ou se divertindo com vídeos do Youtube. Esse comportamento levou Veen e Vrakking (2006) a criar o termo Homo Zappiens que definiria essa geração multitarefa que teria a habilidade de executar todos essas ações sem que houvesse perda para a tarefa atual. Já Kirschner e Karpinski (2010), questionam até que ponto realmente é aplicável esse conceito.

2.2 Homo Zappiens O que Veen e Vrakking (2006) tentaram provar com seu conceito é que as crianças de

hoje teriam desenvolvido por conta própria habilidades cognitivas necessárias a aprendizagem experencial, em rede, colaborativa além de uma capacidade de auto-regulação e de resolução de problemas superior às gerações passadas. Acrescente-se que Beastall (2008) observa que não só as crianças, mas também jovens e adultos da atualidade possuem uma relação avançada com a tecnologia adquirida, segundo ele, já no nascimento. Prenksy (2001) descreve os jovens da atualidade como seres imersos na tecnologia, rodeados de computadores, videogames, filmadoras digitais, celulares enfim uma verdadeira parnafernália eletrônica. Para ela essa relação tão estreita com a tecnologia promoveria uma competência inata que poderia ser classificada como multitarefa (Prensky, 2003) devido ao processamento em paralelo de varias atividades.

Por outro lado Margaryan e Littejohn (2008) apontam que os atuais estudantes universitários acabam utilizando uma gama limitada de tecnologia para a aprendizagem e socialização, ficando restritos a ambientes virtuais de aprendizagem, ao Google, a Wikipedia e telefones celulares. O que é preocupante para aqueles autores é que é baixo o nível de utilização e familiaridade com ferramentas de criação colaborativa e outras tecnologias sociais emergentes. Kirschner e Karpinski (2010), Bullen, Morgan, Belfer, e Qayyum (2008); Ebner, Schiefnere Nagler, (2008) e Kvavik, 2005, questionam a existência do “Homo Zappiens” verificando também que os conhecimentos de tecnologia dos universitários acabam se limitando a leitura de e-mails, mensagens de texto, Facebook e navegação pela internet. Isso seria, segundo Kirschner e Karpinski (2010), um uso passivo da tecnologia e apesar do aparato digital, para aqueles autores, é evidente a falta de competências para efetivamente encontrar as informações e também qual a forma adequada de se determinar a relevância ou a verdade do que for encontrado.

2.3 Multitarefa

 

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Segundo Kirschner e Karpinski (2010) Multitarefa seria a execução/processamento simultâneo de duas ou mais atividades. Esclarecem aqueles professores que na verdade o Ser Humano não tem a capacidade de ser Multitarefa. Porém o fato de se ver crianças aparentemente executando diversas ações ao mesmo tempo induz o senso comum a um dos dois seguintes entendimentos: a) elas na verdade são multitarefa, e / ou b) que são capazes de fazer isso sem qualquer perda de eficiência ou eficácia e isso seria uma evolução específica de seus cérebros. Diante disso Kirschner, Sweller e Clark (2006); Sweller, Kirschner e Clark, (2007) argumentam que o fenômeno que se verifica com jovens e crianças é na melhor das hipóteses uma capacidade de mudar rapidamente de uma atividade para outra. Em se tratando de habilidades em paralelo as atividades que os seres humanos estão aptos a desenvolver são aquelas exercidas pelo sistema parassintético que controla, por exemplo, a respiração, a digestão entre outras.

Partindo desses pressupostos o que se pode deduzir é que a prática tem permitido a alternância de tarefas com uma velocidade maior a cada dia. Porém isso não representa necessariamente um bom indicativo no tocante à aprendizagem, pois segundo constatou a American Psychological Association (2006) esse comportamento de alternância quando comparado à realização de tarefas em série, tem se mostrado menos eficaz culminando em resultados mais pobres de assimilação nos alunos e pior desempenho na execução das atividades.

Como exemplo, Wallis (2006) exemplifica que se um adolescente está tentando ter uma conversa em um bate-papo ao estudar álgebra, ela vai sofrer uma diminuição na eficiência, se comparado a outro adolescente que só pensava em álgebra do início ao fim da tarefa. Kirschner e Karpinski (2010) ressaltam que as pessoas podem pensar de outra forma, mas é um mito, uma vez que diante de tarefas mais complexas o ser humano jamais será capaz de superar limitações inerentes ao cérebro para processamento de informações multitarefas.

Strayer, Drews e Crouch (2006) compararam o desempenho ao volante daqueles que falam em seu telefone celular com o de motoristas embriagados. Em um ambiente controlado de laboratório, os resultados mostraram que quando os motoristas estavam se comunicando em um telefone celular, as reações de frenagem foram retardadas, e isso acarretava mais acidentes de trânsito em comparação que quando não estavam conversando ao telefone celular. Motoristas bêbados se comportaram de forma semelhante, embora demonstrem um estilo de condução mais agressiva.

2.4 Redes Sociais e o Facebook

Atualmente o Facebook apresenta números bem expressivos dentre as redes sociais e pode ser considerado como a maior rede social do planeta. Segundo Pavão Junior e Sbari (2011) para exemplificar, de agosto de 2010 a agosto de 2011 a referida rede teve uma evolução global na ordem de 598 milhões de usuários para 753 milhões, o que lhe renderia se agrupados todos os usuários em um só território o status de 3º maior país mais populoso do planeta. Só no Brasil no mesmo período a rede passou de 9 milhões de usuários para 28,6 milhões. Ainda conforme informações daqueles jornalistas, utilizando dados do eMarketer, diariamente os usuários: publicam 250 milhões de fotos, comentam ou “curtem” 2 bilhões de posts, interagem com 900 milhões de “atrações” (páginas individuais, eventos e comunidades). O quadro 1 demonstra um comparativo entre as diversas redes sociais com base em números de agosto 2011:

 

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Nome da Rede Social Número de Usuários em Milhões

Facebook 753 Twitter 156 MySpace 56,5 Linked In 52 Orkut 51 Badoo 32,5 Google + 25 Hi5 14 Tagged 13 Ning 8,5 Foursquare 5 Digg 5 Meetup 1,5 Delicious 1,4 Friendster 0,9 Total 1.175,30

Quadro 1 – Quantitativo de usuários das principais redes sociais do mundo. Fonte: Elaboração própria baseada nas informações de Pavão Junior e Sbari2011 e

ComScoreTechnology, SNS, and academic performance Ainda segundo Pavão Junior e Sbari (2011), a ascensão do Facebook pode significar

uma profunda transformação da internet. A passagem definitiva da era das buscas para a era social. O surgimento do Google na década de 90, com seu mecanismo de consulta, permitiu organizar o acesso à miríade de informações esparsas do mundo virtual. O Google usa cálculos que levam em conta dezenas de fatores para indicar quais páginas são mais relevantes para quem faz a busca. Para aqueles articulistas, o Facebook deu um passo além pois são as interações pessoais do usuário (aquilo que seus amigos indicam, curtem, reprovam) que conferem peso a uma informação. É uma mudança tão relevante que até o Google decidiu introduzir o fator humano em suas pesquisas. Criou uma rede social, a Google+, e, um botão, o +1, que permite recomendar conteúdos na web, isso influencia no resultado da busca.

Como mencionado no início deste artigo, o JORNAL DO COMMERCIO (www.jc.com.br) noticiou: Facebook é motivo de um em cada três divórcios na Inglaterra com base em pesquisa do site “divorce-online”. Constatou-se que os advogados de divórcio estão vasculhando o Facebook em busca de sinais de infidelidade. Além disso, eles procuram comentários depreciativos feitos pelos esposos ou esposas sobre o parceiro após a separação. O porta-voz do Divorce-online, Mark Keenan, explica que como as redes sociais tornaram-se uma das principais ferramentas de comunicação, elas viraram também o lugar mais fácil para pessoas se relacionarem com alguém do sexo oposto.

2.5 Tecnologia versus desempenho acadêmico Espinosa, Laffey, Whittaker, e Sheng (2006) investigaram o papel da tecnologia no

desenvolvimento da primeira infância a partir de dados do Estudo Longitudinal da Primeira Infância. Os resultados indicaram que o acesso contribuiu para o potencial de aprendizagem dos alunos, mas os autores advertem que os pais devem incentivar o uso educacional da tecnologia para melhorar o desempenho acadêmico. Para Lei e Zhao (2005) no tocante às especificidades de acesso, concluem que quantidade não é tão importante como a qualidade quando se trata de uso de tecnologia e desempenho do aluno. Especificamente, quando a qualidade do uso da tecnologia não é acompanhada de perto ou assegurada, o uso do

 

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computador pode fazer mais mal do que bem para o rendimento escolar do aluno. Além disso, o uso de tecnologia que foi encontrada para ter um impacto positivo no desempenho acadêmico, ou tecnologia com valor educativo, não era conhecido e ela era usada com menos frequência.

Estudos como o de Hunleyet al. (2005) também documentaram a inexistência de relação entre a utilização do computador e desempenho acadêmico. Por exemplo, nenhuma relação Fo iencontrada entre o tempo gasto no computador em casa e a performance de uma amostra de adolescentes.

O trabalho de Kubey, Lavin e Barrows (2001) evidenciou que o uso recreativo da Internet está fortemente correlacionado com desempenho acadêmico deficiente. Aproximadamente 10-15% dos participantes do estudo relataram sentir não estar no controle completo de seu uso da Internet, e que tem prejudicado seu trabalho escolar. Os estudantes que relataram problemas escolares gastavam cinco vezes mais horas online do que aqueles que não fizeram, além disso, eles mencionaram que o uso da Internet fez com que eles ficassem acordados até tarde, dormindo menos durante a noite e chegando, em consequência disso, a perder aulas. Os estudantes que apresentaram problemas acadêmicoseram mais propensos a utilizar a Internet em tempo real com atividades sociaistais como salas de bate-papo e mensagens instantâneas.

Karpinski e Duberstein (2009) identificaram uma relação negativa entre o uso do Facebook e o desempenho acadêmico. Porém segundo Kirschner e Karpinski (2010) o consenso geral é que mais pesquisas precisam ser feitas, pois o questionamento referente à relação entre uso de tecnologia e desempenho acadêmico permanece em grande parte sem resposta. Vale salientar, segundo eles, que a investigação deste fenômeno é difícil devido às metodologias envolvidas e na definição e mensuração de variáveis de interesse. Um exemplo disso seria a obtenção de uma população de indivíduos que nunca tenha encontrado, usado, ou ouvido falar de Facebook ou de Redes Sociais, tal situação é praticamente inimaginável. Outra situação difícil e improvável seria encontrar voluntários que concordassem em não usar seus acessos à tecnologia ou Redes Sociais por longos períodos detempo. Dessa forma, abstrai-se que a experimentação e metodologias necessárias para estudar adequadamente o tema acabam prejudicando as pesquisas e até as inviabilizando.

Outro fato relevante é que, desempenho acadêmico é conceituado de forma diferente, não só entre escolas, mas também entre os estados e até países. Karpinski (2009) questiona a precisão da mensuração do referido desempenho com tal diversidade de definições operacionais, para aquele autor fazer comparações entre os estudos se torna quase impossível

Apesar disso Kirschner e Karpinski (2010) tentaram verificar se existiam diferenças no desempenho acadêmico de estudantes universitários usuários e não usuários do Facebook. A relação negativa encontrada naquele estudo pode ser, segundo os autores, uma indicação de um efeito deletério de tentar implementar estes dois processos simultaneamente, ou seja, uma ação multitarefa.

3. METODOLOGIA

3.1 Participantes Foram coletados dados de 105 estudantes do curso de Graduação em Ciências

Contábeis de uma universidade pública da região Nordeste do Brasil. A amostra foi extraída de uma população finita (N=486) e pode ser aceita com um erro de 7%, conforme equação

 

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descrita por Megliorini (2007, p. 57). Do total de elementos da amostra, 57,1% (N=60) pertenciam ao sexo masculino. A idade média dos alunos foi de 24,6 anos e desvio padrão de 5,82 anos.

O instrumento de coleta desta pesquisa foi confeccionado com base no que foi elaborado por Kirschner e Karpinski (2010), uma vez que se pretendia fazer análises comparativas com os resultados deste com aquele estudo. Os questionários foram aplicados no período de Agosto a Novembro de 2011. Os entrevistadores faziam a leitura da pergunta para os respondentes que após respondida era assinalada pelos responsáveis pela coleta dos dados. Ao final da entrevista era colhida do aluno respondente a autorização formal no corpo do instrumento de coleta, para que fosse acessado o sistema acadêmico e utilizados os dados obtidos na análise deste estudo. O quantitativo total de alunos de Contabilidade da referida universidade é de 486. Ressalte-se que esta pesquisa se dedica a avaliar os impactos sobre os alunos de contabilidade da UFAL o que é uma limitação já previamente estabelecida no tocante aos resultados obtidos.

Neste trabalho foram realizadas análises, quantitativa e qualitativa. Na primeira, foram utilizadas estatísticas descritivas e análise de variância multivariada (MANOVA) para testar a hipótese de relação entre o uso de redes sociais e o desempenho acadêmico do aluno do curso de Graduação de Ciências Contábeis. Foram elaboradas as seguintes hipóteses de pesquisa:

• H0: O uso de redes sociais pode ser relacionado ao desempenho acadêmico de estudantes de graduação em contabilidade.

• H1: O uso de redes sociais tem impacto diferente no desempenho acadêmico de estudantes de graduação de contabilidade calouros e veteranos.

• H2: O uso de redes sociais impacta o desempenho acadêmico de alunos veteranos.

Na segunda, utilizou-se o método da análise qualitativa de dados (QDA) para as questões com resposta aberta visando a ser mais um critério no sentido de fornecer informações para a comparação dos resultados obtidos com aqueles atribuídos à análise quantitativa.

O tipo de análise qualitativa utilizada foi a análise de conteúdo conforme descrita em Gibson e Brown (2009), na qual as sentenças contidas nas respostas das questões abertas foram interpretadas pelos pesquisadores e distribuídas em categorias distintas. Inicialmente se pretendia utilizar como categorias o status “alunos calouros” e “alunos veteranos”. No entanto observou-se que todos os sujeitos classificados como calouros utilizavam as redes sociais. Em seguida foi feita a análise com base nas seguintes categorias dentre os alunos veteranos: “usuários” e “não usuários” de redes sociais.

Para a definição de algumas das categorias apresentadas na seção ‘Análise dos Resultados’, foram utilizadas as presentes no trabalho de Kirschner e Karpinski (2010) e outras foram definidas pelos autores deste estudo devido à diversidade das respostas obtidas.

3.2 Análise dos Resultados

3.2.1 Estatísticas Descritivas Foi determinada, neste trabalho uma divisão da amostra em alunos veteranos e

calouros. Definiu-se calouro como o sujeito que freqüentou o curso, até o momento da aplicação do questionário, por 2 semestres. O calouro foi diferenciado do veterano, pois estudos de Ciavarri(2008) e Kramer, Higley e Olsen (1994) apontaram efeitos que

 

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diferenciariam o desempenho destas categorias relacionados à aclimatação do calouro ao novo ambiente universitário e à mudança de curso que, normalmente ocorre nos primeiros anos após o ingresso no ensino superior. Aqueles considerados calouros totalizaram 8,6% (N=9) da amostra. Um participante não declarou o tempo que freqüentou o curso.

Ainda, 43,8% (N=46) dos sujeitos estudavam no turno diurno e 3 alunos não declararam o turno em que frequentavam o curso.

Com relação ao desenvolvimento de atividade profissional em horário distinto ao das aulas, 82,9% (N=87) dos participantes trabalharam ou estagiaram até a data da realização do questionário. Somente um sujeito não respondeu a esta pergunta.

Além disso, 4,8% (N=5) dos elementos possuíam outro curso de graduação e 86,7% (N=91) declararam-se usuários de pelo menos uma rede social.

3.2.2 Resultados do MANOVA

Os testes MANOVA foram realizados utilizando-se o Statistical Package for Social Science SPSS versão 17.

Da amostra de alunos selecionada, dois dos elementos ainda não possuíam o coeficiente de desempenho acadêmico inserido no sistema de digitação de notas da universidade, o que inviabilizou o aproveitamento destes para a realização do teste.

Outros elementos foram descartados da amostra inicial por não terem respondido o questionário sobre o período em que estavam cursando ciências contábeis à época da aplicação do questionário (1 sujeito). Também foram descartados elementos que apresentaram observações extremas nos campos número de horas dedicadas ao estudo (4 sujeitos) e coeficiente de desempenho acadêmico (4 sujeitos).

Por fim, foram descartados da aplicação do MANOVA os calouros (9 elementos), pois todos faziam uso de pelo menos uma rede social.

O total de elementos analisados com MANOVA após os cortes aplicados foi de 86.

O teste MANOVA aplicado possuía um fator sendo este a variável uso de redes sociais e duas variáveis dependentes: coeficiente de desempenho acadêmico e horas semanais de estudo.

Foram verificadas as hipóteses de normalidade dos dados. Tais hipóteses não foram satisfeitas sendo que, na variável coeficiente de desempenho acadêmico, a assimetria foi negativa entre os grupos e dentro dos grupos e, na variável horas semanais de estudo, a assimetria foi positiva entre os grupos e dentro de cada grupo. Nenhum dos histogramas analisados se assemelhou a uma distribuição normal. Baseado nesta situação a análise dos resultados foi feita utilizando-se outros critérios descritos ao longo deste trabalho.

O teste de homogeneidade de Box resultou em não rejeição da hipótese nula de matriz homogênea de covariância (valor p =0,065).

O teste de Levene para homogeneidade das variâncias mostrou que esta não pôde ser rejeitada tanto para o coeficiente de desempenho acadêmico (valor p =0,051) como para o número de horas semanais de estudo (valor p= 0,532).

Para o teste MANOVA, verificou-se que, para um nível de significância de 1% ( 0,01 não foi possível verificar diferenças entre os usuários de redes sociais e os não usuários (Lambda de Wilks: 0,924; F = 3,391; df = 2; valor p =0,038). Como tal resultado não foi significativo, testaram-se cada uma das variáveis dependentes de forma separada, resultando em testes de comparação entre duas médias. Os resultados do teste ANOVA para o

 

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coeficiente de desempenho acadêmico e para as horas semanais de estudo não foram significativos (F = 5,419; df = 85; valor p = 0,022 e F = 1,510; df = 85; valor p = 0,223, respectivamente).

Repetiu-se o procedimento MANOVA para a mesma amostra utilizada no procedimento anterior, com o mesmo fator (uso de redes sociais) e com as mesmas variáveis dependentes (coeficiente de desempenho acadêmico e horas semanais de estudo), porém estas foram transformadas em escala ordinal para que parte do procedimento fosse similar ao proposto por Kirschner e Karpinski (2010).

A escala adotada para o coeficiente de desempenho acadêmico foi: 0 para nota inferior ou igual a 6,0, 1 para nota inferior ou igual a 6,8 e maior que 6,0, 2 para nota inferior ou igual a 7,6 e maior que 6,8, 3 para nota inferior ou igual a 8,4 e maior que 7,6 e 4 para nota superior a 8,4. Ressalte-se que a escala foi mudada apenas para a realização do teste, mas para fins de aprovação ou reprovação pela instituição vale a escala utilizada no instrumento de coleta.

A escala adotada para horas de estudo por semana foi: 0 para menos ou igual a 2 horas; 1 para mais de 2 horas e menos ou igual a 6 horas; 2 para mais de 6 horas e menos ou igual a 10 horas; 3 para mais de 10 horas e menos ou igual a 14 horas; 4 para mais de 14 horas.

Foram verificadas as hipóteses de normalidade dos dados com as escalas alteradas. Tais hipóteses não foram satisfeitas sendo que, na variável coeficiente de desempenho acadêmico, a assimetria foi negativa entre os grupos e dentro dos grupos, exceto para o grupo dos não usuários de redes sócias que a assimetria foi positiva e, na variável horas semanais de estudo, a assimetria foi positiva entre os grupos e dentro de cada grupo. Nenhum dos histogramas analisados se assemelhou a uma distribuição normal.

O teste de homogeneidade de Box resultou em não rejeição da hipótese nula de matriz homogênea de covariância (valor p =0,832)

O teste de Levene para homogeneidade das variâncias mostrou que esta não pôde ser rejeitada tanto para o coeficiente de desempenho acadêmico (valor p =0,727) como para o número de horas semanais de estudo (valor p= 0,504).

Para o teste MANOVA, verificou-se que, para um nível de significância de 1% ( 0,01 não foi possível verificar diferenças entre os usuários de redes sociais e os não usuários (Lambda de Wilks: 0,963; F = 1,594; df = 2; valor p =0,209). Como tal resultado não foi significativo, testaram-se cada uma das variáveis dependentes de forma separada, resultando em testes de comparação entre duas médias. Os resultados do teste ANOVA para o coeficiente de desempenho acadêmico e para as horas semanais de estudo com as escalas alteradas não foram significativos (F = 2,601; df = 85; valor p = 0,111 e F = 0,631; df = 85; valor p = 0,429, respectivamente).

Outrosdois novos testes MANOVA foram aplicados, agora com o fator sendo o número de horas semanais que o sujeito dedica ao uso das redes sociais. Este foi apresentado em uma escala ordinal com 4 níveis: 0 – não utiliza redes sociais, 1 – até 5 horas, 2 – de 5 a 10 horas e 3 – mais de 10 horas. Esta escala está diferente da que foi utilizada no questionário, pois os graus 4, 5 e 6 apresentados neste possuíam 1 observação cada um. Com isso, aqueles foram agrupados no grau 3 formando, assim, a escala adotada no teste. Também neste caso, de forma similar, ressalte-se que a escala utilizada no restante do trabalho foi a que aparece no instrumento de coleta, a mudança deste momento foi somente para a realização do teste.

As variáveis dependentes foram as mesmas utilizadas em outros testes MANOVA (com e sem a mudança de escala).

 

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Foram verificadas as hipóteses de normalidade dos dados. Tais hipóteses não foram satisfeitas sendo que, na variável coeficiente de desempenho acadêmico, a assimetria foi negativa entre os grupos e dentro dos grupos para os dois tipos de escala adotados e, na variável horas semanais de estudo, a assimetria foi positiva entre os grupos e dentro de cada grupo, com exceção daquele que utiliza as redes sociais por mais de 10 horas semanais, apresentando assimetria negativa e daquele que não utiliza redes sociais no caso da variável com escala alterada, apresentando assimetria nula. Nenhum dos histogramas analisados se assemelhou a uma distribuição normal.

O teste de homogeneidade de Box resultou em não rejeição da hipótese nula de matriz homogênea de covariância (valor p =0,035) para as variáveis sem a mudança de escala e o mesmo ocorreu para as variáveis com mudança de escala (valor p = 0,691)

O teste de Levene para homogeneidade das variâncias mostrou que esta não pôde ser rejeitada tanto para o coeficiente de desempenho acadêmico (valor p =0,011 para escala não alterada, valor p = 0,074 para escala alterada) como para o número de horas semanais de estudo (valor p =0,251 para escala não alterada, valor p = 0,465 para escala alterada).

Para o teste MANOVA, verificou-se que, para um nível de significância de 1% ( 0,01 não foi possível verificar diferenças entre indivíduos que utilizam as redes sociais durante períodos diferentes (Lambda de Wilks: 0,904; F = 1,394; df = 6; valor p =0,220 para variáveis sem a escala alterada e Lambda de Wilks: 0,906; F = 1,360; df = 6; valor p =0,234 para variáveis com a escala alterada). Como tal resultado não foi significativo, testaram-se cada uma das variáveis dependentes de forma separada, resultando em testes de comparação entre duas médias. Os resultados do teste ANOVA para o coeficiente de desempenho acadêmico e para as horas semanais de estudo sem as escalas alteradas não foram significativos (F = 0,575; df = 85; valor p = 0,633 e F = 2,291; df = 85; valor p = 0,084, respectivamente). Os resultados do teste ANOVA para o coeficiente de desempenho acadêmico e para as horas semanais de estudo com as escalas alteradas não foram significativos (F = 0,227; df = 85; valor p = 0,877 e F = 2,552; df = 85; valor p = 0,061, respectivamente)

3.2.3 Outros resultados descritivos. Utilizando a amostra tratada para a aplicação do MANOVA (N=86), foi observado

que, dentre os usuários de redes sociais (N=72), 71,4% (N=47) utilizam a internet por até 14 horas semanais (média de 2 horas por dia) e 65,2% (N=10) possuem a mesma característica entre os não usuários de redes sociais. Ainda sobre a parcela de usuários de redes sociais, 66,7% (N=48) utilizam as redes sociais para assuntos acadêmicos e 87,5% (N=63) utilizam outros sites que têm ligação com a atual formação. Daqueles, 90,3% (N=65) trabalham ou estagiam, 83,3% (N=60) acessam a internet mais de uma vez por dia, 66,7% (N=48) dizem ter nível alto de familiaridade com computadores (nível 3 na escala) apesar de 73,6% (N=53) dizerem não ter conhecimento algum em criação ou manutenção de redes, 98,6% (N=72) fazem parte de algum grupo e 79,2% (N=57) utilizam aplicativos dentro de redes sociais sendo que a maior parte (54,2%, N=39) faz uso, pelo menos, de fotos e 40,2% (N=29) utilizam até 2 aplicativos.

Dentre os não usuários de redes sociais, 85,7% (N=12) visitam páginas ligadas à formação acadêmica atual, 78,6% (N=11) trabalham ou estagiam, 50% (N=7) declararam possuir alto nível de familiaridade com computadores (nível 3) apesar de 71,4% (N=10) declararem nenhuma habilidade em criação ou manutenção de redes, 50% (N=7) acessam a

 

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internet diariamente. Dentre os que não acessam a internet diariamente, o número máximo de dias, em média, por semana de acessos declarado foi de 5 dias por semana.

Dentre os 9 calouros, todos utilizam redes sociais, 55,5% (N=5) trabalham ou estagiam, 77,8% (N=7) navegam na internet até 14 horas semanais, todos utilizam as redes sociais para assuntos acadêmicos, 77,8% (N=7) utilizam outros sites que têm ligação com a atual formação, 44,4% (N=4) declararam ter alto nível de familiaridade com computadores (nível 3) apesar de, 55,5% (N=5) declararem nenhuma habilidade em criação ou manutenção de redes, 88,9% (N=8) fazem parte de algum grupo e 77,8% (N=7) utilizam aplicativos dentro de redes sociais sendo que a maior parte 44,4% (N=4) faz uso, pelo menos, de fotos e 66,7% (N=6) utilizam mais de 2 aplicativos. O número médio de horas de estudo é 11,22 horas com desvio padrão de 5,48 horas e 66,7% (N=6) utilizam as redes sociais por até 5 horas semanais. Todos os calouros apresentaram coeficiente de desempenho acadêmico superior a 7,0 (sete). Valores acima de 7,0 são considerados satisfatórios pela instituição analisada.

3.2.4 Resultados Qualitativos. A análise qualitativa foi realizada de forma semelhante à apresentada em Kirschner e

Karpinski (2010). Foi perguntado para cada participante se achava que o uso de redes sociais estava relacionado com seu desempenho acadêmico e o motivo de sua resposta. A questão proposta sem o uso de categorias (questão aberta) para que fossem avaliados os motivos de forma menos restrita.Para os usuários de redes sociais da amostra utilizadapara a elaboração do MANOVA (N=86), aproximadamente 66,3% (N=57) declararam que as redes sociais não impactam o desenvolvimento acadêmico. Um participante não respondeu a questão.

Com relação ao motivo da resposta, das pessoas que responderam que as redes sociais não impactam o desenvolvimento acadêmico (N=57), aproximadamente 75,4% (N=43) descreveram a razão de sua réplica. Para aqueles que manifestaram opinião oposta (N=28), aproximadamente 89,3% (N=25) motivaram, por escrito, a declaração.

Observando somente o grupo dos usuários de redes sociais da amostra determinada no primeiro parágrafo desta seção (N=72), aproximadamente 36,1% (N=26) afirmam que seu uso provoca impacto no desempenho acadêmico e, destes, aproximadamente 88,5% (N=23) descreveram o motivo de sua opinião. Já para aqueles que não acreditam que o uso de redes sociais esteja associado com o desempenho acadêmico (N=46), aproximadamente 76,1% (N=35) explicitaram suas razões para o fato.

Para os calouros (N=9) sendo todos usuários de redes sociais até o momento da realização da pesquisa, aproximadamente 55,5% (N=5) afirmam que seu uso provoca impacto no desempenho acadêmico e, destes, todos descreveram o motivo de sua opinião. Já para aqueles que não acreditam que o uso de redes sociais esteja associado com o desempenho acadêmico (N=4), 75% (N=3) explicitaram suas razões para o fato.

Ao realizar a análise de conteúdo das respostas, foi possível determinar categorias (grupos) de razões para as duas respostas possíveis. De acordo com a interpretação das sentenças, os usuários de redes sociais que explicitaram os motivos pelos quais acreditam que as redes sociais provocam impacto no desempenho acadêmico (N=23), aproximadamente 17,4% (N=4) responderam que tal associação é negativa, 65,2% (N=15) declararam que a associação é positiva e 17,4% (N=4) escreveram suas opiniões de forma a não ter sido possível interpretar o sentido do impacto.

Dentre as declarações de associação positiva entre redes sociais e desempenho acadêmico, 80% (N=12) dos alunos declararam que há facilidade de acesso à informação nas

 

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comunidades e, dentre estes, 41,6% (N=5) declararam que obtêm informação nas redes sociais tirando dúvidas sobre as disciplinas com os colegas que também são usuários e 16,6% (N=2) declararam que a informação também é obtida por meio da comunicação com professores nas comunidades virtuais. Todos os participantes que, após interpretação dos pesquisadores, declararam que as redes sociais relacionam-se negativamente com o desempenho acadêmico informaram, em seus motivos, que o problema está na falta de organização do tempo entre estudo e uso das comunidades virtuais.

Já com relação aos usuários de redes sociais que informaram não sentirem impacto em seu desempenho acadêmico devido ao uso das redes sociais e que explicitaram o motivo de sua resposta (N=35), 25,7% (N=9) afirmaram utilizar as redes sociais com baixa freqüência, 20% (N=7) declararam ter capacidade de organização do tempo para o estudo, 34,3% (N=12) declararam não utilizar as redes sociais para estudo, mas sim outras fontes, como livros e periódicos, 5,7% (N=2) utilizam as redes sociais como complemento para o estudo e 14,3% (N=5) escreveram suas opiniões de forma a não ter sido possível haver interpretação condizente com a resposta dada na parte fechada da questão.

No caso dos calouros, 40% (N=2) dos que responderam que há impacto do uso das redes sociais sobre o desempenho acadêmico, explicaram que isto ocorre, de forma positiva, devido à obtenção de informações sobre as disciplinas por tirar dúvidas com outros colegas nas redes sociais e 60% (N=3) daqueles declaram que a associação é negativa, pois não conseguem organizar o tempo para poderem estudar. Todos os que acreditaram não haver impacto e descreveram as razões de sua resposta (N=3), afirmaram que utilizam as redes sociais por pouco tempo.

4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Os resultados apresentados pelas estatísticas descritivas e pelo MANOVA mostraram

que não há como afirmar, com base na amostra analisada e com o nível de significância adotado, que o uso de redes sociais impacta o desempenho acadêmico dos estudantes. O uso de redes sociais pareceu não estar relacionada ao nível de desempenho dos alunos tanto entre usuários e não usuários como entre grupos que utilizam as redes sociais por diferentes períodos.

Um fato importante foi observado com relação aos calouros que, em sua totalidade, fizeram uso das redes sociais e tiveram coeficiente de desempenho acadêmico superior a 7,0 pontos (escala de 0 a 10,0 pontos).

Não foi possível fazer comparações utilizando os calouros, pois não foi detectada, na amostra, a presença de indivíduos que não faziam uso de redes sociais.

Os usuários de redes sociais da amostra possuíram uma fração maior que o grupo complementar no uso de sites com conteúdo acadêmico. A maior parte daqueles utiliza as redes para a discussão de assuntos acadêmicos.

Ao se comparar os dados qualitativos obtidos na última questão (vide apêndice 1) com os resultados de outras questões, foi possível perceber que, na amostra analisada (usuários de redes sociais utilizados no MANOVA), aqueles que declararam haver impacto positivo entre o uso das redes sociais e desempenho acadêmico e que utilizaram como motivo a facilidade de obtenção de informação, tiveram coeficiente de desempenho de 7,32 (média) e 1,05 (desvio padrão), o número de horas despendido com estudo foi de 6,33 (média) e 4,01 (desvio padrão) e 40% (N=6) destes discentes utilizam as redes sociais por até 5 horas sendo que somente um utiliza faz uso destas por até 15 horas semanais.

 

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Os que declararam haver impacto negativo entre o uso das redes sociais e desempenho acadêmico e que utilizaram como motivo a dificuldade de organização do tempo, tiveram coeficiente de desempenho de 6,49 (média) e 1,40 (desvio padrão), o número de horas despendido com estudo foi de 3,25 (média) e 0,95 (desvio padrão) e 50% (N=2) destes discentes utilizam as redes sociais por até 10 horas semanais.

Os que declararam não haver impacto entre o uso das redes sociais e desempenho acadêmico e que utilizaram como motivo acessá-las com baixa freqüência, tiveram coeficiente de desempenho de 6,83 (média) e 1,65 (desvio padrão), o número de horas despendido com estudo foi de 5,77 (média) e 4,68 (desvio padrão) e 77,8% (N=7) destes discentes utilizam as redes sociais por até 5 horas semanais.

Ainda com base na mesma declaração do parágrafo anterior, mas com o motivo de capacidade de organização do tempo para o estudo, a amostra analisada teve coeficiente de desempenho de 7,50 (média) e 1,18 (desvio padrão), o número de horas despendido com estudo foi de 6,57 (média) e 4,11 (desvio padrão) e 100% (N=7) destes discentes utilizam as redes sociais por até 5 horas semanais.

O último grupo analisado foi o de usuários de redes sociais que não percebem o impacto dessas em seus estudos, cujo motivo foi não utilizar as redes sociais para estudo, mas sim outras fontes, como livros e periódicos, tiveram coeficiente de desempenho de 7,29 (média) e 1,00 (desvio padrão), o número de horas despendido com estudo foi de 6,25 (média) e 3,76 (desvio padrão) e 75% (N=9) destes discentes utilizam as redes sociais por até 5 horas semanais. Os demais (N=3) as acessam por até 15 horas semanais.

Com isso, os resultados da pesquisa qualitativa pareceram estar de acordo com o declarado em outros itens do questionário. Somente foram utilizadas estatísticas descritivas, pois não havia número suficiente de respondentes nas amostras para que testes de hipóteses fossem realizados. Devido ao alto valor de desvio padrão em comparação à media, não foi possível analisar satisfatoriamente o tempo alocado para estudo dentre as categorias observadas.

Levando-se em conta a relevância da temática, verifica-se a necessidade de consecução de outros estudos que possam aferir conclusivamente a existência de relação entre o nível de utilização/navegação em Redes Sociais e o desempenho acadêmico dos alunos.

Constatou-se a dificuldade mencionada por Kirschner e Karpinski (2010) de que a investigação deste fenômeno é difícil devido à metodologias envolvidas e na definição e mensuração do variáveis de interesse.

Concordam os autores deste estudo com os pesquisadores acima mencionados quando aqueles afirmam que mais pesquisas precisam ser feitas, e que a indagação da relação entre Redes Sociais/Tecnologia e desempenho acadêmico permanece em grande parte sem resposta.

Sugere-se como possibilidades de novas pesquisas: aumentar o estudo sobre os calouros do impacto das redes sociais. Outro trabalho seria: comparar as percepções de uso das redes sociais dos veteranos versus calouros e pessoas mais velhas versus pessoas mais novas com uma amostra maior para as categorias, estendendo a pesquisa a outros cursos e a estudantes de instituições privadas. O terceiro: estudo longitudinal, com a verificação da evolução de cada aluno ao longo do tempo com instrumento de aferição de desempenho independente do utilizado pela universidade e com maior monitoramento sobre o tempo utilizado acessando redes sociais.

 

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Autorizo a Universidade Federal de Alagoas a consultar meu histórico escolar, objetivando o atingimento da proposta do presente estudo, já descrita anteriormente.

Assinatura___________________________________________________________________