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ENIVALDO LUCAS DE MELLO REFLEXÃO SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E EDUCAÇÃO Trabalho Final apresentado para o Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em convênio com a Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho CURITIBA 2008

REFLEXÃO SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E EDUCAÇÃO · A análise é feita a partir do estudo de vasta literatura, aula de campo, exposição de documentários audiovisuais sobre a

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ENIVALDO LUCAS DE MELLO

REFLEXÃO SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E EDUCAÇÃO

Trabalho Final apresentado para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em convênio com a Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho

CURITIBA2008

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ENIVALDO LUCAS DE MELLO

REFLEXÃO SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E EDUCAÇÃO

Trabalho Final apresentado para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em convênio com a Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho

CURITIBA2008

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REFLEXÃO SOBRE AGRICULTURA FAMILIAR E EDUCAÇÃO

Enivaldo Lucas de Mello1

RESUMO

O propósito deste artigo consiste em refletir sobre a agricultura familiar no estado

do Paraná, sua importância socioeconômica e suas relações com os processos

ensino aprendizagem, por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), voltado para o aperfeiçoamento dos professores da rede pública de ensino

básico. Destacam-se os seguintes aspectos: origem e evolução da atividade

agrícola no Brasil e no estado do Paraná, áreas de maior concentração,

organização da produção familiar, relação com órgãos públicos e políticas oficiais,

viabilidade socioeconômica dos agricultores familiares, sua importância para a

economia local e regional.

A análise é feita a partir do estudo de vasta literatura, aula de campo, exposição

de documentários audiovisuais sobre a realidade da agricultura familiar no estado

do Paraná e no Brasil. O estudo contribuiu muito para o aprimoramento da prática

pedagógica bem como na ampliação dos conhecimentos por parte dos alunos.

Palavras-chaves:

Agricultura. Agricultura familiar. Modernização agrícola. Imigração. Ruralidade.

Movimentos sociais do campo. Agroecologia. Agricultura convencional.

Agricultura orgânica.

1 Professor PDE 2007/2008. Atua na rede de ensino público do estado do Paraná desde 1992. Licenciado em Geografia pela UNINTER. Bacharel em Ciências Econômicas e especialista em Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná.

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ABSTRACT

The purpose of this article is to reflect on the family farm in the state of Parana,

their importance and their socioeconomic relations with the teaching learning

processes, through the Program for Educational Development (EDP), toward the

improvement of teachers in public education Basic. Among them the following:

origin and evolution of agricultural activity in Brazil and the state of Parana, areas

of highest concentration, organization of production family, relationship with public

bodies and official policies, socioeconomic viability of family farmers, their

importance to the economy local and regional levels.

The analysis is based on the study of vast literature, class of field, exposure to

audiovisual documentaries on the reality of family farming in the state of Parana

and Brazil. The study contributed a lot to the improvement of practice teaching as

well as the expansion of knowledge on the part of students.

Key words

Agriculture. Family farming. Agricultural modernization. Immigration. Rurality.

Social movements of the field. Agroecology. Conventional agriculture. Organic

agriculture.

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INTRODUÇÃO

O objeto deste artigo é o estudo da agricultura familiar através do Programa

de Desenvolvimento Educacional (PDE), que envolve professores da rede pública

de ensino básico do Estado do Paraná. O programa tem duração de dois anos,

com liberação de 100% da carga horária no primeiro ano e 25%, no segundo.

Teve início em 2006, com a seleção de 1200 professores por meio de concurso

interno, abrangendo todas as disciplinas da grade curricular. Estes profissionais

cumpriram uma carga horária de 952 horas, envolvendo diversas atividades, tais

como participação em seminários, cursos específicos por área do conhecimento,

realização de disciplinas isoladas junto às Instituições de Ensino Superior (IES),

encontros de orientação, elaboração e aplicação de um “objeto de estudo” na

escola e produção de materiais didáticos.

Outra atividade extremamente importante foi a participação nos “Grupos de

Trabalho em Rede” (GTR). Cada professor PDE assumiu um determinado número

de professores da rede pública estadual, com os quais promoveu uma discussão

do seu “Objeto de Estudo”, utilizando o ambiente virtual MOODLE.

Por fim, a implementação do “Objeto de Estudo” na escola, realizada no

primeiro semestre de 2008, envolvendo 120 alunos do segundo ano do ensino

médio.

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O Objeto de Estudo

Em 2007, cada professor PDE elaborou um Plano de Trabalho contendo

um “Objeto de Estudo”, o qual foi desenvolvido sob a orientação de um professor

das IES e a sua implementação junto a comunidade escolar.

Com a orientação do Professor Luís Lopes Diniz Filho, do Departamento de

Geografia da Universidade Federal do Paraná, este trabalho teve como tema de

intervenção o “Desenvolvimento Agrícola” com título “A agricultura familiar no

estado do Paraná” destacando os seguintes aspectos: origem e evolução da

atividade agrícola no Brasil e no estado do Paraná, áreas de maior concentração,

organização da produção, principais produtos produzidos, suas relações com a

saúde dos agricultores, dos consumidores e do meio ambiente, relação com

órgãos públicos e políticas oficiais, viabilidade socioeconômica dos agricultores

familiares, sua importância para a economia local e regional, e produção de

materiais didáticos para a rede.

O ponto de partida deste estudo foram duas constatações. A primeira

refere-se ao grande desconhecimento da realidade rural pelos alunos,

principalmente os que vivem nas cidades, por conta de fatores históricos e

culturais. A sociedade atual está produzindo uma geração deslocada das coisas

da natureza, conseqüentemente, com muita dificuldade de entender a importância

das atividades rurais bem como o modo de vida dos agricultores e as relações do

homem com a natureza.

A segunda constatação refere-se à evolução dos processos produtivos,

seus desdobramentos econômicos e sociais. No estado do Paraná, bem como em

todo o Brasil, após a década de 1970, verificou-se um rápido processo de

modernização agrícola. As principais conseqüências desse modelo foram a

concentração fundiária, expulsão de grande parte dos pequenos e não

proprietários do campo para as cidades, gerando um crescente empobrecimento

da população.

Por outro lado, o modelo agrícola promoveu o aumento da produção de

produtos para a exportação e de matérias-primas para a indústria em detrimento

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da geração de alimentos, principalmente nas pequenas e médias propriedades,

desativando a policultura de subsistência.

A modernização da agricultura

No Brasil e no estado do Paraná, a modernização da agricultura foi muito

intensa gerando um processo de esvaziamento populacional no campo. No estado

do Paraná, segundo dados do IBGE, de 1960 a 1991, a população rural passa de

69,09 para 26,65%. No ano de 2000, a população urbana paranaense chegou a

81,4% e a rural caiu para 18,6%, assinalando que o êxodo rural ainda está muito

presente no cenário estadual.

A modernização agrícola deu origem a diversos movimentos sociais de

resistência no campo. Os principais são: o Novo Sindicalismo de Trabalhadores

Rurais e O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujas

principais reivindicações são reforma agrária, crédito agrícola, saúde e valorização

da produção.

Juntamente com o MST, outro segmento importante passa a se organizar.

São os pequenos proprietários rurais que conseguiram resistir no campo. Para

garantir sua permanência no meio rural, passaram a formar associações de

produção, cooperativas de produção e comercialização, grupos de ajuda mútua,

etc.

Atualmente, a chamada agricultura familiar é responsável por quase a

metade da produção agropecuária do Brasil e do Paraná. Segundo o Censo

Agropecuário de 1995, no estado do Paraná, ela está presente em 86,89% dos

estabelecimentos rurais, atingindo 48,15% do valor bruto da produção.

Tendo em vista a importância desse segmento na economia estadual e

nacional surgem as seguintes preocupações: o que e para quem produzir,

desenvolver formas alternativas de organizar a produção, desenvolver o saber

agrícola com o aperfeiçoamento de técnicas alternativas, produzir alimentos de

boa qualidade, sem uso de agrotóxicos e preservando a natureza, viabilizar a

permanência dos pequenos agricultores no campo.

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O tema agricultura familiar está intimamente ligado ao modelo agrícola

adotado no país. Jaques CHONCHOL define este modelo como sendo “o

processo de modernização conservadora, iniciado nos anos 70, mesmo com um

impacto produtivo e um aumento dos excedentes exportáveis, agravou

simultaneamente a concentração da terra, com um acelerado processo de

migração rural-urbana, e das tensões sociais no campo” (CHONCHOL in:

FERREIRA & BRANDENBURG,1999, p. 10).

Outro aspecto importante refere-se à distribuição da população rural no

Brasil, no período de 1966 a 1992 passou de 55,3% para 21,6% e a urbana

aumentou de 44,7% para 78,4%, resultado da modernização agrícola por que

passou o país (IBGE in: DESER, 2000, p.19).

Outro dado ilustrativo refere-se à distribuição das terras rurais no Brasil no

período de 1966 a 1992. Segundo STÉDILE, em 1966, as propriedades com

menos de 100 hectares detinham 20,4% do total das terras, decaindo para 15,4%

em 1992. Por outro lado, as propriedades com mais de 100 hectares, passaram de

45,1% para 55,2% no período. Estes dados comprovam uma diminuição

significativa da pequena propriedade, fruto do modelo agrícola que priorizou a

produção de gêneros para a indústria e exportação.

Na década de 1980, contrapondo-se a esses problemas, surgiram no

campo diversas organizações populares envolvendo os trabalhadores rurais,

destacando-se o Movimento Sem Terra e o novo sindicalismo de trabalhadores

rurais. No período de 1979 a 1999, a ação do MST gerou 3.958 assentamentos

rurais envolvendo 475.801 famílias, ocupando uma área de 22.996.197 ha

(FERNANDES, in: MELLO, 2000, p. 54).

Uma meta do MST, além da conquista da terra, passou a ser o

desenvolvimento de formas alternativas de produção que permitissem a

viabilidade socioeconômica dos assentados. Para tal, passou a organizar a

produção chamada de “Cooperação agrícola”, nas diversas modalidades, como

associações de produtores, cooperativas de produção e comercialização,

fazendas coletivas, grupos de ajuda mútua, etc.

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Os sindicatos de trabalhadores rurais que ajudaram na organização do

MST, passaram a se preocupar com a organização da produção dos pequenos

proprietários rurais familiares como forma de resistência ao agronegócio.

A origem da agricultura familiar no Brasil e em especial na Região Sul está

relacionada a dois eventos, um, mais antigo e outro mais atual. O primeiro refere-

se à vinda dos imigrantes europeus que trouxeram seu saber rural voltado para a

agricultura de subsistência, os chamados colonos. Os imigrantes chegaram no

Brasil a partir de meados do século XIX, se estabelecendo, primeiramente no Vale

do Rio dos Sinos (RS) e no litoral de Santa Catarina. No século XX passaram por

um processo de remigração, buscando novas terras, povoando a região do Alto

Uruguai (RS), o Oeste de Santa Catarina, Sudoeste e Oeste do Paraná. Estas

regiões concentram até hoje a pequena propriedade rural. O segundo, é resultado

da modernização agrícola que expulsou do campo milhões de camponeses

pobres. Trata-se, portanto de uma reconquista, tanto dos filhos dos imigrantes

como dos sem terra, de uma nova ruralidade nos moldes modernos.

Esta nova ruralidade pressupõe a construção de sistemas de produção diversificados, necessitando para isso da recuperação do conhecimento dinâmico e de experimentações locais. Estes agricultores, a partir do conhecimento local/tradicional, aliado ao conhecimento mais elaborado, constroem referências para um conhecimento novo e bases para o desenvolvimento sustentável e a reprodução da agricultura familiar (CRESOL BASER, 2006, p. 1).

Atualmente, existe inúmeras organizações de produtores rurais familiares

trabalhando para desenvolver uma “outra agricultura”, voltada para a sua

permanência no campo, produzindo gêneros alimentícios de boa qualidade e

cuidando do meio ambiente.

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Figura 01 – Agricultores ligados ao MST cultivando hortaliças.

A agricultura é a atividade econômica que se caracteriza pela produção de

alimentos e matérias-primas decorrentes do cultivo de plantas e da criação de

animais (SANDRONI, 1985, p.12).

A agricultura é uma atividade muito antiga. Surgiu quando o homem deixou

de ser nômade e se fixou em um determinado lugar. Observando a natureza ele

viu que era possível cultivar algumas espécies de plantas e animais para se

alimentar.

Historicamente, no Brasil, a agricultura se desenvolveu com base na

monocultura e no latifúndio. Prova disso são as diversas atividades desenvolvidas,

em especial o cultivo da cana-de-açúcar, do café, e a partir do século XX, da soja,

da laranja, etc.

A ocupação do território nacional se dá a partir do litoral. Primeiramente,

ocorre no Nordeste com a extração do Pau Brasil e, posteriormente pela

monocultura canavieira com uso de mão-de-obra escrava.

Na região Sudeste, teve início com o cultivo do café, a partir do estado do

Rio de Janeiro, alcançando as terras férteis do estado de São Paulo e, no século

XX, atingiu o norte do estado do Paraná.

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Também, o Ciclo do Ouro procura integrar o Sul ao Sudeste por conta do

tropeirismo, transformando o estado do Rio Grande do Sul no maior fornecedor de

carne e de muares para as Minas Gerais. Na região Sul, a pecuária extensiva e a

agricultura familiar de imigrantes foram a base da ocupação do território.

Atualmente, a ocupação do interior do país ocorre por conta do avanço das

novas fronteiras agrícolas das regiões Centro-Oeste e Norte.

Para entender a realidade atual, se buscou informações sobre os processos

históricos de ocupação territorial do estado do Paraná e dos fluxos imigratórios

ocorridos na Região Sul do país, os quais contribuíram intensamente na formação

socioeconômica do nosso estado.

A ocupação do território paranaense se dá a partir do litoral no início do

século XVIII. Primeiramente pela mineração, depois pelo desenvolvimento da

pecuária, atingindo os Campos Gerais. No século XIX, o estado do Paraná se

integra ao ciclo do ouro servindo como passagem das tropas que vinham do Rio

Grande do Sul para as Minas Gerais. Este fato deu origem a inúmeras cidades tais

como Castro, Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Piraí, Tibagi, Jaguariaíva e

Guarapuava (NADALIN, 2001, p. 49).

Origens da agricultura familiar paranaense

Um segmento importante na formação étnica e geográfica do estado do

Paraná foi a imigração européia. A exemplo dos estados do Rio Grande do Sul e

de Santa Catarina, teve início a imigração européia para o Paraná, num contexto

nacional de substituição da mão-de-obra escrava por trabalhadores livres,

ocupação do território e branqueamento da população. Vale ressaltar a idéia

predominante das elites paranaenses daquela época.

Dessa forma, a imigração européia revela-se também uma estratégia de povoamento com finalidades de inovação técnica e industrial, fundamentada no pressuposto da qualidade superior do elemento estrangeiro enquanto produtor de trabalho. Pôr este ângulo, apurar a raça significava também ensinar o nacional a trabalhar (NADALIN, 2001, p. 75).

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No período de 1853 a 1879 foram criados 26 núcleos coloniais com um total

de 11.805 imigrantes de diversas origens, no litoral, nos arredores de Curitiba e

nos Campos Gerais, dando origem à organização da agricultura familiar de

subsistência e a produção de gêneros alimentícios para o mercado interno. Os

principais grupos de imigrantes foram os alemães, suíços, italianos, poloneses,

franceses, suecos e ingleses (NADALIN, 2001, p. 72 e 77).

A política imigratória paranaense teve dois segmentos. A primeira foi

pública, que se esgotou em 1875. Daí em diante optou-se pela organização de

sociedades privadas de imigração, em especial, pelas companhias

concessionárias para construção de ferrovias que fizeram grande divulgação no

sentido de atrair grandes contingentes estrangeiros ou oriundos de outras áreas

da Região Sul, num processo chamado de “remigração”. No período de 1885 a

1934, fixaram-se no estado do Paraná, cerca de 116.000 imigrantes,

principalmente poloneses, italianos, alemães, ucranianos e holandeses (NADALIN,

2001, p. 78).

As áreas ocupadas por imigrantes eram aquelas menosprezadas pelos

fazendeiros ou pelas sociedades tradicionais, formadas por florestas, que no dizer

de JEAN ROCHE:

Com efeito, tendo como ponto de partida os primeiros núcleos coloniais plantados no Rio Grande do Sul desde a década de 1820, descendentes de imigrantes ocuparam as regiões florestais desdenhadas pela sociedade tradicional. Desde o Vale do Rio dos Sinos, para o leste e para o oeste, depois para o norte, ultrapassaram as fronteiras gaúchas, colonizando o Oeste de Santa Catarina e, na prática, a partir de 1920, povoando e colonizando o Sudoeste e o Oeste do Paraná (...) (ROCHE Jean, in: NADALIN, p. 80).

Tendo em vista o crescimento populacional, na década de 1940, o Rio

Grande do Sul está praticamente ocupado e a migração começa a avançar para o

Oeste de Santa Catarina, Sudoeste e Oeste do Paraná. Estas regiões, ainda hoje,

se caracterizam por uma estrutura fundiária fundada na pequena propriedade

colonial. Portanto, com forte presença da agricultura familiar.

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O Paraná teve, nos anos de 1950, uma rica experiência de colonização em

suas regiões Norte e Oeste (Maringá, Cascavel), com a Companhia de Terras do

Paraná, de origem inglesa, e que desenvolveu uma ocupação planejada,

articulando o assentamento dos colonos em lotes bem distribuídos, com a

implantação de uma infra-estrutura econômica e social, que viabiliza a fixação

daquelas populações.

Ainda no Paraná, em sua Região Nordeste, avançou a lavoura do café,

vinda de São Paulo, implantando grandes propriedades de cafeicultores, que

demandavam mão-de-obra assalariada. Posteriormente, com as várias crises do

café, essa atividade foi abandonada na região, sendo substituída pelo gado,

aproveitando as grandes propriedades lá existentes. A pecuária, foi em parte

substituída pela rentabilidade dos grãos, permitindo algum desmembramento das

propriedades (CARDIM, S.E et al in: www.incra.gov.br).

A semelhança da Campanha Gaúcha, ficou a Região Central do Paraná, as

terras de Guarapuava, como a representante da grande propriedade pecuarista.

Hoje, também grande produtora de grãos, principalmente soja, trigo e milho.

O processo de ocupação territorial do estado do Paraná foi concluído na

década de 1950. A partir dessa década inicia-se um outro processo que se

caracterizou pela modernização do campo, a chamada “modernização

conservadora” por que não rompeu com a tradicional concentração fundiária.

Também, concorreu para espoliar milhares de pessoas ligadas às atividades

agropecuárias, acentuando o êxodo rural e a miséria.

A Região Norte foi a primeira atingida pela modernização, por possuir uma

economia baseada na monocultura cafeeira, estruturada na pequena e média

propriedades, com uso intensivo de mão-de-obra.

No início da década de 1960, o mercado de café entra em profunda crise

devido ao excesso de oferta do produto em relação à demanda do mercado, a

excelente participação do café africano no mercado mundial, ao programa do

governo federal de erradicação da cafeicultura e de incentivo às culturas

temporárias, em especial da soja e do trigo. Contribuíram também, a ocorrência de

geadas na região e da ferrugem que atacou os cafezais.

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Segundo dados do IBGE, as conseqüências da modernização, no período

de 1970 e 1985 são visíveis: redução da área destinada à cafeicultura em cerca

de 59%; aumento da área com pastagens em torno de 32%; aumento das

lavouras temporárias em 59%; diminuição do emprego no campo e aumento do

êxodo rural; concentração fundiária, marcada pelo desaparecimento de 66.257

estabelecimentos agrícolas de 0 a 10 ha. e 28.689 com área entre 10 e 100 ha.;

aumento do trabalho temporário e surgimento dos “sem terra” (MORO, D.A.,2000

p. 39).

Outro aspecto importante é a dinâmica da situação rural-urbana da

população que até no início da década de 70 tinha uma base rural, superando em

muito o contingente urbano. As raízes desta situação encontram-se na história de

sua economia, até então, fundamentada em atividades ligadas ao mundo rural,

definida nos ciclos econômicos da mineração, do tropeirismo, da erva-mate, da

madeira e do café.

Durante a década de 70 essa situação se inverte, a população urbana

superaria a rural. Segundo dados do IBGE, em 1960, a população urbana atingia

30,91% e a rural era de 69,09%. Em 1980, a população urbana passou para

58,93% e a rural decaiu para 41,07%. Em 1991 este quadro se acentuou ainda

mais. A população urbana atingiu 73,35% e a rural diminuiu para 26,65%. As

causas dessa inversão são a modernização da agricultura e as geadas que em

muito contribuíram para o êxodo rural. No ano 2000, a população urbana

paranaense chegou a 81,4% e a rural caiu para 18,6%, assinalando que o êxodo

rural ainda está muito presente no cenário estadual.

A modernização agrícola gerou grandes transformações no cotidiano da

paisagem rural paranaense, passou a ser lugar comum de conflitos sociais

envolvendo milhares de trabalhadores sem terra, por meio de acampamentos e

ocupações de latifúndios e, conseqüentemente, implantação de assentamentos

rurais. Vale ressaltar que no estado do Paraná entre 1979 e 1999, foram

implantados 233 assentamentos rurais envolvendo 15.059 famílias, numa área de

294.465 ha. (FERNADES, B. M. in: MELLO, 2000, p. 54). Com a conquista da

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terra, os assentados passaram a organizar a produção de forma familiar e

cooperativada.

Juntamente com o MST, outro segmento importante passa a se organizar.

São os pequenos proprietários rurais que conseguiram resistir no campo. Para

garantir sua permanência no meio rural, passaram a formar associações de

produtores, cooperativas de produção e comercialização.

Importância da agricultura familiar

A agricultura familiar é uma forma de produção em que o núcleo de

decisões, gerência, trabalho e capital é controlado pela família. A agricultura

familiar é aquela cuja direção do estabelecimento é exercida pelo produtor, ou

seja, quando a produção é realizada pela própria família e o trabalho familiar é

superior ao trabalho contratado. A área dos estabelecimentos é inferior a 15

módulos fiscais regionais (PROJETO TERRA SOLIDÁRIA, CUT/DESER, 2000, p.

12 e 13).

Atualmente, a agricultura familiar é responsável por quase a metade da

produção agropecuária do Brasil e do Paraná, por isso é importante recorrer aos

dados estatísticos oficiais pra ilustrar essa realidade.

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, CATEGORIAS FAMILIARE PATRONAL - ESTADO DO PARANA - 1995

MESORREGIÃO Total Familiar Patronal Part. (%)Familiar

Centro Ocidental 24.041 20.620 3 .322 85,77Centro Oriental 21.802 17.653 3.583 80,97Centro-Sul 38.660 33.789 3.794 87,40Metropolitana de Curitiba 24.493 22.117 2.216 90,30Noroeste 38.835 30.822 7.448 79,37Norte Central 52.150 41.996 9.702 80,53Norte Pioneiro 30.689 25.290 5.052 82,41Oeste 56.753 50.985 5.278 89,84Sudeste 35.175 33.222 1.837 94,45Sudoeste 47.277 44.886 2.041 94,94Total 369.875 321.380 44.273 86,89

Fonte: Censo Agropecuário 1995 – IBGE – Convênio INCRA/FAONota: Dados elaborados pelo DESER.

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A tabela acima é ilustrativa. Em 1995, existiam 369.875 estabelecimentos

rurais no estado do Paraná. Desse total, 321.380 se caracterizavam como sendo

familiares, perfazendo 86,89% do total. O valor bruto da produção total era de

48,15%. Pode-se afirmar que praticamente a metade de toda produção rural é

realizada nas pequenas e médias propriedades o que realça a importância desse

segmento produtivo.

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VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO TOTAL, FAMILIAR E PATRONAL POR MESORREGIÕES - ESTADO DO PARANÁ - 1995

MESORREGIÃO Total(em reais)

Familiar(em reais)

Patronal(em reais)

Part.(%) Familiar

Centro Ocidental 424.405.625 193.727.383 230.278.264 45,65 Centro Oriental 565.997.921 110.128.014 449.006.082 19,46 Centro-Sul 430.292.735 9.368.329 8.050.942 41,69 Metropolitana de Curitiba

238.708.080 2.442.644 3.784.742 68,05

Noroeste 521.467.678 4.222.359 4.107.926 35,33 Norte Central 924.881.868 360.426.902 560.834.841 38,97 Norte Pioneiro 453.107.677 156.785.004 294.878.497 34,60 Oeste 1.148.467.518 16.472.953 29.203.168 62,39 Sudeste 303.252.212 205.750.576 96.749.222 67,85 Sudoeste 563.308.235 414.671.447 143.224.705 73,61 Total 5.573.889.549 2.683.995.611 2.860.118.389 48,15 Fonte: Censo Agropecuário – IBGE – Convênio INCRA/FAONota: Dados elaborados pelo DESER.

A presença da agricultura familiar é muito forte em todo o território

paranaense, principalmente nas regiões Metropolitana de Curitiba, Oeste,

Sudoeste e Sudeste, nas quais o valor total da produção é superior a 50%.

Figura 02 – Cultivo de hortaliças em assentamento do MST

No estado do Paraná, agricultura familiar atinge 41% da área total agrícola.

Vale destacar os produtos mais expressivos, acompanhados da porcentagem do

Valor Bruto da Produção: café (43%), arroz (71%), feijão (74%), fumo (97%),

mandioca (74%), milho (53%), soja (48%), pecuária de corte (31%), pecuária de

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leite (64%), suínos (56%) e aves/ovos (50%). A participação no Valor Bruto Total

da Produção é de 48%. (Censo Agropecuário – 1995/96, IBGE, Convênio

INCRA/FAO).

Para efeito de comparação, a agricultura familiar ocupa lugar importante no

cenário nacional. Na região Sul ela abrange 907,6 mil estabelecimentos (90,5% do

total) com área de 19,4 milhões de hectares, perfazendo 43,8% da área da região.

O valor bruto da produção atinge 8,5 bilhões de reais, ou seja, 57,1% da produção

regional. No Brasil, ela ocorre em 85,2% dos estabelecimentos rurais, ocupa uma

área de 107,7 milhões de hectares. Alcança um valor bruto da produção de 18,1

bilhões de reais, ou seja, 37,9% do valor bruto da produção nacional (Censo

Agropecuário 1995/96, IBGE).

Os dados acima citados confirmam que a agricultura familiar não

significa pobreza. Pelo contrário, é uma forma de produção em que o núcleo de

decisões, gerência, trabalho e capital é controlado pela família. É o sistema

predominante no mundo inteiro. No Brasil, são cerca de 4,5 milhões de

estabelecimentos (80% do número de estabelecimentos agrícolas), dos quais 50%

no Nordeste. O segmento detém 20% das terras e responde por 30% da produção

nacional. Em alguns produtos básicos da dieta do brasileiro - como o feijão, arroz,

milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais - chega a ser responsável por

60% da produção. Em geral, são agricultores que diversificam os produtos

cultivados para diluir custos, aumentar a renda e disponibilidade de mão-de-obra.

Por ser diversificada, a agricultura familiar traz benefícios socioeconômicos e

ambientais.

Este segmento tem um papel crucial na economia das pequenas cidades,

pois, 4.928 municípios têm menos de 50 mil habitantes. Destes, mais de quatro mil

têm menos de 20 mil habitantes. Estes produtores e seus familiares são

responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas

pequenas cidades. A melhoria de renda deste segmento, por meio de sua maior

inserção no mercado, tem impacto importante no interior do país e, por

conseqüência, nas grandes metrópoles (EMBRAPA, 2007, p.1 ).

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Para possibilitar o devido incremento na renda, é necessário que

agricultores que trabalham sob regime familiar tenham acesso a mais tecnologia e

crédito barato. E precisam modernizar seus sistemas gerenciais e organizativos,

verticalizar a produção, descobrir nichos de mercado e desenvolver atividades

não-agrícolas, para complementação de renda. Por isso, há uma preocupação,

principalmente de parte de órgãos governamentais e de entidades de assessoria

em apresentar alternativas tecnológicas, gerenciais e organizativas, que possam

ser utilizadas pelos diferentes estratos da agricultura familiar, nas diversas regiões

do país. Entre outros benefícios, está a inserção da produção das famílias em

mercados de importantes centros consumidores, garantindo sua viabilidade

econômica e social.

O objeto de estudo na Escola

As diversas atividades relacionadas ao “Objeto de estudo” foram sendo

realizadas a partir da montagem do Plano de Trabalho, levando-se em

consideração os seguintes eventos: estudos orientados, pesquisa bibliográfica,

elaboração de um “Folhas”, elaboração de textos complementares, aplicação do

objeto de estudo no GTR e implementação na escola.

Os desdobramentos do Plano de Trabalho foram muitos. O primeiro foi o

estudo de uma vasta bibliografia relacionada à “Agricultura Familiar” para dar

suporte teórico ao tema. Também, se buscou informações junto a diversos órgãos

governamentais e não-governamentais, tais como, Ministério da Agricultura,

Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria da Agricultura do Estado do

Paraná, Departamento de Estudos Rurais (DESER), Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra, entre outros.

A coleta de dados resultou na elaboração de dois textos. O primeiro refere-

se à evolução das questões agrária e agrícola no Brasil, com o título “Aspectos

históricos da questão agrária e agrícola no Brasil”, que apresenta uma análise dos

processos de ocupação do espaço territorial, seus diversos ciclos econômicos, as

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relações de trabalho no campo, processo de concentração fundiária, os

movimentos sociais no campo, a modernização da agricultura e suas

conseqüências sociais e econômicas.

O segundo texto é um “Projeto Folhas” que trata da ocupação do território

paranaense, do processo de modernização da agricultura, suas conseqüências,

surgimento dos movimentos sociais no campo e fortalecimento da agricultura

familiar. É um texto dialogado que permite ao aluno buscar outras informações

sobre o tema.

As diversas atividades relacionadas à aplicação do “Objeto de estudo” se

realizaram no segundo bimestre de 2008, envolvendo 120 alunos do segundo ano

do ensino médio, turno noturno.

O estudo teve vários momentos, iniciando pela apresentação do tema e as

diversas atividades a serem realizadas: estudo de textos, aula de campo,

exposição de documentários audiovisuais, fotografias e elaboração de relatórios.

O processo avaliativo se deu por meio dos seguintes instrumentos: participação

nas diversas atividades e entrega de relatórios.

Foram estudados dois textos: “A agricultura brasileira” (MOREIRA E SENE,

p. 179 a 197) e “A agricultura familiar no estado do Paraná”, este último em forma

de “Folhas”.

Os aspectos mais importantes do texto “A agricultura brasileira” são:

ocupação histórica, o estatuto da terra e a estrutura fundiária, distribuição e uso

das terras no Brasil, nossa produção agropecuária, os trabalhadores agrícolas e

reforma agrária. A metodologia aplicada foi: breve exposição do conteúdo, leitura

e sistematização do texto, ressaltando os principais conceitos e debate sobre a

importância social e econômica do tema.

O estudo do Projeto Folhas, sob o título “Agricultura familiar no estado do

Paraná” ocorreu por meio de um trabalho em grupos, onde cada grupo respondeu

algumas questões e as apresentou para toda a turma seguido de debate.

A aula de campo ocorreu no dia 18 de maio de 2008, com visita a duas

propriedades familiares localizadas no município de Colombo, Região

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Metropolitana de Curitiba, estado do Paraná, com participação de 38 alunos e 5

professores.

Esta atividade teve início na escola, por meio da apresentação de um vídeo

sobre a agricultura familiar nos assentamentos rurais do MST e pela elaboração

de um roteiro de estudo com questões que os alunos responderiam durante a

visita às propriedades, objetivando a preparação do estudo “in loco”.

O dia de campo se iniciou com a visita ao “Sítio Mãe Terra”. A proprietária

(Sra. Aparecida de Fátima Bianchini) mostrou a propriedade e discorreu sobre os

diversos aspectos da agricultura orgânica bem como as exigências da

agroecologia. Explicou como a propriedade está organizada destacando quatro

funções importantes: ser local de moradia, produzir dentro da concepção

agroecológica, educação ambiental e turismo rural. A propriedade faz parte do

“Circuito de Turismo Rural de Colombo”, portanto, integrada à economia da região.

A produção de frutas, verduras e legumes é comercializada na própria

propriedade e nas feiras de produtos orgânicos da Grande Curitiba.

Figura 03 – Aula de campo sobre agricultura ecológicano Município de Colombo - PR

A segunda propriedade familiar visitada, está organizada de forma

convencional, cuja produção de vinho, verduras e legumes destina-se ao turismo

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rural e aos mercados da capital paranaense. O proprietário da “Vinícola

Strapasson”, Sr. Luizinho explicou todo o processo de produção, as diversas

técnicas utilizadas na produção tais como irrigação, produção de mudas, controle

de pragas, comercialização, etc.

Figura 04 – Propriedade familiar convencional de Luiz Strapasson no Município de Colombo - PR

A visita às duas propriedades, uma convencional e outra ecológica teve

como objetivo ressaltar as diferenças e particularidades.

Após o dia de campo, os alunos montaram um relatório respondendo as

questões propostas (roteiro de estudo), suas impressões sobre a viagem e os

principais conceitos ressaltados, com complementação de estudo por meio de

pesquisa bibliográfica.

Também, foram expostas fotografias feitas durante o dia de campo e a

discussão do tema, reforçando os diversos aspectos e conceitos apresentados

pelos agricultores que nos receberam em suas propriedades.

Como encerramento da intervenção na escola foram apresentados dois

vídeos. Um sobre as “Inovações tecnológicas da agricultura familiar do estado do

Paraná”. Este audiovisual feito por IAPAR, IPARDES e DESER, com objetivo de

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divulgar dezenas de experiências de adaptação de implementos agrícolas às

necessidades das pequenas propriedades rurais.

Um segundo vídeo refere-se ao “PRONAF, Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar”, produzido pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário. Apresenta a organização da produção agropecuária em

diversas propriedades familiares espalhadas pelo país. Ressalta as diversas

modalidades de crédito destinado ao fortalecimento dos pequenos agricultores.

Após a exposição destes recursos ocorreram debates e elaboração de

relatórios onde os alunos puderam expor suas idéias sobre os temas estudados.

A aula de campo cumpriu seus objetivos, principalmente os relacionados

aos diversos aspectos da teoria e prática, ampliação dos conhecimentos sobre o

ambiente rural e a realidade dos agricultores, possibilidades de aplicação dos

conceitos e teorias estudados.

O uso das novas tecnologias na educação

Atualmente, um dos maiores desafios que se coloca para os educadores é

o uso das novas tecnologias na escola, principalmente as relacionadas à

informática. Tendo em vista este desafio, o PDE desenvolveu uma série de

atividades para aprimorar a prática dos professores. As principais foram um

curso virtual (PROAVA) e o Grupo de Trabalho em Rede (GTR).

As atividades com os Grupos de Trabalho em Rede ocorreram no segundo

semestre de 2007 e primeiro semestre de 2008, com participação de milhares de

professores, com duração de 64 horas.

Coube aos professores PDE fazerem a tutoria, onde cada um trabalhou

com uma equipe, por meio do ambiente virtual MOODLE.

No nosso GTR participaram 18 professores os quais desenvolveram

diversas atividades relacionadas ao PDE bem como ao “Objeto de estudo”.

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O GTR é composto de seis módulos, cada um com tarefas específicas e

três ferramentas de interatividade: Fórum, Diário de bordo e Biblioteca do

professor.

Durante a realização do curso, tutor e professores da rede puderam

interagir por meio do estudo de inúmeros textos disponíveis no Portal

Diadiaeducação, bem como, avaliar o material didático (Folhas) produzido pelo

tutor. A proposta de intervenção na escola foi amplamente discutida e

implementada, também pelos participantes do GTR, cada um levando em

consideração sua realidade.

O curso virtual foi um grande avanço tanto no conhecimento como no

domínio e aplicação das ferramentas da informática nos processos educacionais.

Por outro lado, a maior dificuldade foi de ordem técnica, ou seja, de acessibilidade,

por conta do sistema adotado e pela falta de prática e de conhecimento da maioria

dos professores.

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CONCLUSÃO

As diversas atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional

serviram como um laboratório de ensino e pesquisa. Cabe destacar três aspectos

significativos, do ponto de vista dos processos educacionais.

O primeiro refere-se aos aspectos gerais da formação dos profissionais da

educação. Esta formação é fundamental para o desenvolvimento de novas

metodologias de ensino e abordagens contextualizadas, maior clareza do caráter

científico e social de seu trabalho.

O segundo aspecto importante é a relação teoria e prática. É por meio do

contato com a realidade, que alunos e professores testam seus conhecimentos,

dando a este conhecimento, um caráter mais orgânico, dialético e holístico. A

visita às propriedades rurais permitiu aos educandos maior entendimento da

importância econômica, social e ambiental das atividades desenvolvidas no meio

rural. Também, contribuiu no aprimoramento da metodologia educacional, ou seja,

na captação da realidade e seu registro, por meio da elaboração de relatórios.

O estudo “in loco” permitiu a muitos alunos resgatar parte de seu passado,

pois muitos são de origem rural, devido aos processos migratórios, resultantes do

modelo agrícola adotado pelo país que resultou em acentuado êxodo rural e

conseqüente crescimento desordenado das cidades. Muitas famílias que, hoje

moram nas cidades, são de origem rural. Por isso, guardam no seu imaginário,

lembranças do seu antigo modo de vida, que infelizmente não volta mais.

Outro aspecto importante é o resgate do saber rural, ou seja, as tradições,

os valores, as técnicas agrícolas que, aos poucos vão sendo esquecidas por conta

de seu afastamento do meio rural.

O intenso processo de modernização vivenciado por toda a humanidade

também atinge a agricultura familiar. Este estilo de vida também se aperfeiçoa e

acompanha as mudanças sociais, econômicas e culturais. Que é possível viver no

meio rural com conforto, produzindo com qualidade, cuidando do meio ambiente e

contribuindo para o desenvolvimento do país.

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Um último aspecto fundamental são os usos das novas tecnologias em

educação, principalmente as ligadas à informática e audiovisuais. Torna-se

indispensável aos profissionais da educação o aprimoramento do “saber virtual”,

principalmente na produção de materiais didáticos e uso dos diversos

equipamentos disponíveis nas escolas, como TV pendrive, multimídia, laboratórios

de informática e outros. O PDE permitiu progredir neste saber, mas, ainda há

muito por fazer e aprimorar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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