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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA AGRICULTURA REFLEXÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO DO ALGODÃO DOCUMENTO APROVADO NA XXII SESSÃO DO CONSELHO DE MINISTROS DE, 16/09/2008. Maputo, 16/09/2008

REFLEXÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO DO ALGODÃO · d) Realização do estudo de base, através de revisão bibliográfica e auscultação de actores (camponeses e empresas), autoridades

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

REFLEXÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO DO ALGODÃO

DOCUMENTO APROVADO NA XXII SESSÃO DO CONSELHO DE

MINISTROS DE, 16/09/2008.

Maputo, 16/09/2008

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Reflexão Sobre Modelos de Fomento do algodão em Moçambique

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ÍNDICE CONTEÚDO PÁGINA INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 2 I. ENQUADRAMENTO E RACIONAL DA REFLEXÃO............................................... 2 II. HISTÓRIA RECENTE SOBRE A PROMOÇÃO DO ALGODÃO EM MOÇAMBIQUE................................................................................................................. 4 III. COMPARAÇÃO DO SISTEMA DE FOMENTO POR CONTRATO ENTRE ALGODÃO E TABACO.................................................................................................... 7 IV. OBJECTIVOS DA REFLEXÃO.................................................................................. 9 V. REFLEXÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO...................................................... 9

5.1. Aspectos a Tomar em Consideração na Reflexão.................................................... 9 5.1.1 Aspectos Económicos ........................................................................................ 9 5.1.2. Aspectos Comerciais......................................................................................... 9 5.1.3. Aspectos agronómicos .................................................................................... 10 5.1.4. Aspectos de Desenvolvimento........................................................................ 10 5.1.5. Aspectos de Políticas ...................................................................................... 11 5.1.6. Perspectivas de desenvolvimento do algodão em Moçambique..................... 11

5.2. Modelos de Fomento do Algodão a Nível da Africa Sub Sahariana ..................... 13 VI. OPÇÕES DE DECISÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO DO ALGODÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA MOÇAMBIQUE ............................................................ 19 VII. CONCLUSÃO E ACÇÕES DE SEGUIMENTO..................................................... 25 ANEXOS ........................................................................................................................... A

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INTRODUÇÃO O Conselho de Ministros, na sua XII Sessão Ordinária, realizada aos 29 de Maio de 2007, e por ocasião da apreciação do preço mínimo do algodão a vigorar na compra do camponês, na campanha 2006/07, instruiu ao MINAG a fazer uma reflexão profunda sobre modelos de fomento desta cultura fibrosa, pretendendo avaliar outras opções de fomento, para que uma deliberação bem informada seja tomada sobre esta matéria. Em consequência, e porque o subsector algodoeiro se preparava para implementar a avaliação do desempenho das concessões, este subsector decidiu integrar os dois trabalhos, assegurando que não só se reflicta sobre modelos de fomento numa base teórica e com base na experiência internacional, mas sobre tudo se use a evidência local de desempenho. Assim, o processo de formulação da reflexão sobre modelos de fomento é resultado da combinação dos resultados do estudo de base por consultores independentes e análise pela equipa do IAM/MINAG, em consulta com os actores do sector e outras entidades relevantes para o processo. De maneira específica, o processo obedeceu à seguinte sequência: a) Formulação dos Termos de Referência para o estudo de base para reflexão; b) Contratação, por meio de concurso público, de uma entidade independente para realização do

estudo; c) Debate da metodologia e processo de reflexão entre a equipa e os actores, havido na Cidade

de Nampula durante o mês de Novembro de 2007; d) Realização do estudo de base, através de revisão bibliográfica e auscultação de actores

(camponeses e empresas), autoridades locais e parceiros do sub sector; e) Circulação do rascunho do estudo de base para comentários; f) Apresentação do rascunho do documento de base, em seminário aberto, expondo-o a debates

e interrogação pelos actores, parceiros e público em geral, havido em Fevereiro de 2008; g) Formulação da reflexão sobre modelos de fomento algodoeiro, esta que deverá ser levada à

apreciação e decisão ao alto nível; h) Submissão da reflexão para comentários formais de entidades relevantes, nos sectores

público, privado, camponeses e parceiros de cooperação; i) Auscultação aos actores sobre a proposta final da reflexão, havida na Cidade da Beira, Abril

2008. Estiveram também presentes membros de Governo aos vários níveis. Depois que enriquecido por contribuições dos actores, o documento segue para debate e deliberação superior. I. ENQUADRAMENTO E RACIONAL DA REFLEXÃO A cultura do algodão é praticada por mais de 300.000 famílias camponesas, de cinco membros cada, representando por isso fonte segura de rendimento para mais de 1.500.000 habitantes rurais. Da renda resultante da venda do algodão, as famílias compram alimentos, roupas, produtos de consumo de primeira necessidade, instrumentos e insumos agrícolas, suportam custos de acesso à educação das crianças, à saúde das famílias, particularmente assistência sanitária às mulheres grávidas, crianças e etc, dentre outras facilidades. É assim que a cultura do algodão se torna grande instrumento da luta contra a pobreza rural das populações residentes nas zonas produtoras.

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Por outro lado, ao longo da sua cadeia de produção e manuseamento, algodão cria mais de 20.000 postos de trabalho assalariado, incluindo os sazonais, assegurando que estes milhares de famílias encontrem na cadeia desta cultura fonte de satisfação de suas necessidades, iguais às acima descritas. Para o país, volta de 10 empresas têm no algodão a sua actividade principal, caracterizando-se por investimentos em fábricas de descaroçamento, facilidades de armazenamento, escritórios, meios de transporte e equipamento de produção agrícola. Cada empresa algodoeira representa um investimento de capital de não menos de 5.000.000,00 USD. O País tem no algodão grande contribuinte do Produto Interno Bruto, fonte para captação de divisas, contribuindo positivamente para equilíbrio da balança de pagamento. É assim que cultivar algodão em Moçambique é simultaneamente lutar contra fome e contra a nudez, os dois males mais humilhantes para o ser humano, e é contribuir para o equilíbrio e crescimento micro e macroeconómicos do país. Entretanto, a produção do algodão em Moçambique é feita por sistema de concessões em que o estado assina contratos de fomento e extensão rural, atribuindo territórios para promoção desta cultura à empresas privadas, que assistem no total cerca de 300.000 famílias directamente envolvidas na produção e comercialização do algodão. Note-se que esta atribuição não confere às empresas nenhuns Direitos de Uso e Aproveitamento de Terra. Com o sistema de fomento em discussão o produtor tem assegurado 3 aspectos essenciais: garantia dos insumos - necessários para a sua actividade, com pagamento prorrogado, i.e. crédito em espécie; garantia da assistência técnica - com cedência temporária de meios (pulverizadores, sacaria para acondicionamento do algodão, etc.); o mercado - a venda de toda a sua produção a um preço mínimo supervisionado pelo sector público, independentemente da dinâmica do mercado local e internacional. Só no algodão e tabaco é que tais garantias são dadas ao agricultor. Como resultado desse sistema, Moçambique vem registando aumentos significativos de produção de algodão e, na campanha 2005/6, o país alcanço produção recorde do período pós independência de 122 mil toneladas. É de referir que a maior produção de algodão em Moçambique foi alcançada em 1973, com 144 mil toneladas de algodão caroço, altura em que 45% da produção era proveniente do sector familiar e os restantes 55% do sector empresarial. Embora o modelo de contrato de fomento e extensão rural estabeleça direitos e deveres entre as partes contratantes (Governo e empresas de fomento) os contratos nunca foram revistos por qualquer das partes, para assegurar um criterioso cumprimento das obrigações impostas contratualmente, daí que se assiste a uma diversidade de desempenho das empresas, o que resulta em diferente qualidade de serviços prestados aos camponeses. Como consequência, verifica-se fraco desempenho de parte das Concessionárias, relativamente à assistência técnica e provisão de insumos aos produtores, criando nestes desmotivação, que resulta em baixos rendimentos por hectare. Este aspecto negativo, associa-se a não abrangência na actuação dentro da área sob Concessão, remanescendo por isso muitos camponeses desprovidos de serviços de apoio à produção.

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Esta realidade desacelera os esforços do governo, traduzidos na sua estratégia do desenvolvimento do subsector, em aumentar e melhorar o apoio aos produtores do algodão, causando certo descontentamento por parte dos produtores, induzindo a uma leitura adversa e hostil ao algodão, por parte dos observadores de desenvolvimento agrário. Ao mesmo tempo, as continuadas queixas de baixo preço, numa situação em que os custos de produção estão crescendo, faz com que o algodão leve cada vez menos renda aos produtores, estes que estão adstritos a um único fomentador, por imposição de contrato de fomento assinado pelo sector público, e são pagos respeitando um preço mínimo, também estabelecido pelo sector público, o que levanta debate que tende a culpabilizar a este. De facto, e de acordo com a legislação específica em vigor (Decreto 7 e 8/91 de 24 de Abril e o Diploma Ministerial nr. 91/93), um órgão competente do Estado fixa o preço mínimo de comercialização do algodão caroço dos pequenos produtores, abaixo do qual nenhuma empresa deverá comercializar, podendo entretanto comprar o algodão a um preço maior, mas esta hipótese nem sempre é recordada pelos críticos. Portanto, o sector público tem dupla responsabilidade para o produtor, uma em que negoceia e vincula produtores de dado território a uma empresa, que obtém direitos exclusivos de compra, e outra porque é ele que aprova o preço mínimo a ser respeitado na compra do algodão, e portanto ponto de partida negocial entre as empresas e os produtores. É esta responsabilidade que apela para uma reflexão contínua sobre o melhor modelo de fomento e comercialização do algodão. Por outro lado, o paradigma de fomento mostrou desafios de desenvolvimento, nem os produtores nem as empresas de fomento mostraram estar a acumular riqueza ao longo do tempo, pelo contrário, todos clamam por continuado apoio do sector público para viabilizar a sua economia. Embora o MINAG tenha levado a cabo uma reflexão sobre sistemas de fomento de algodão num passado recente (2001), torna-se necessário actualizar esta reflexão, trazendo ao de lume elementos conjunturais mais actuais, que iluminem uma eventual decisão diferente sobre esta matéria, ou decisão de reafirmar adequacia deste modelo, indicando os reajustes para que este mesmo modelo responda ainda mais os actuais desafios de luta contra pobreza nas zonas rurais. Para fazer esta reflexão, o MINAG leva a cabo este exercício específico, que culminará com recomendações de decisão estratégica, para orientação futura do fomento desta cultura. II. HISTÓRIA RECENTE SOBRE A PROMOÇÃO DO ALGODÃO EM MOÇAMBIQUE Logo após a Independência Nacional, o Governo criou as empresas estatais do algodão, que basicamente faziam a produção própria desta cultura, no esquema empresarial, e apoiavam a produção do sector familiar, entregando os insumos de produção e comercializando o produto resultante. Este esforço não se mostrou durável, sobretudo devido a intensificação da Guerra de destruição, que tinha nas unidades de produção e fabris como seus alvos, resultando na deslocação das populações das zonas produtoras, em consequência, a produção nacional baixou para seu mínimo histórico, cerca de 5.000 toneladas colhidas em 1985.

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Com o Programa de reajustamento Económico e Social, e no final da década de 80, o Governo convidou empresas privadas a, em parceria com o Governo, intervir na produção directa do algodão e no apoio ao sector familiar, altura em que formaram as empresas mistas (exemplo LOMACO, SODAM, SAMO, CANAM e etc). Devido à necessidade de garantir o aprovisionamento da produção nas zonas rurais e segurança de retorno pelo sector privado, o Governo assinava com estas empresas contratos de fomento e extensão rural, atribuindo a estas empresas responsabilidades de fomento da cultura nestes territórios ou áreas. Dentro destas áreas e em paralelo com a situação de guerra que se vivia, as empresas tinham o dever de, além de fomentar a produção do algodão, promover a produção de culturas alimentares, abastecimento às populações com produtos de primeira necessidade e, através das forças miliciais, garantir segurança das infra-estruturas, equipamento e populações locais. Para além destas actividades, eram as empresas que asseguravam reparação das vias de acesso para aprovisionamento e escoamento da produção. Com o fim da guerra, o MINAG lançou então o programa de relançamento do algodão, atraindo novos investidores, basicamente privados, a promoverem a produção em todas as áreas que outrora tenham produzido algodão. É com este programa que se estabelecem no país empresas privadas como AGRIMO, SAN/JFS, CNA, AGRI-BÚZI, MOCOTEX, SAAM, Sable Transporte, entre outras. Todas estas empresas se fixaram no modelo de contratos de fomento e extensão rural que, embora parte das funções históricas da concessão tenham caído no desuso devido ao fim da guerra, mantinham a obrigação face ao aprovisionamento e comercialização de toda a produção e o privilégio de exclusividade na compra do algodão. Este programa trouxe bons resultados, é das zonas onde o algodão foi relançado nesta fase que provém 60% da produção nacional e nessas zonas, o algodão jogou papel preponderante para fixação das populações e reabilitação da base produtiva, exemplo típico dessas regiões é o Centro - Norte de Sofala. A atracção do sector privado nesta fase de relançamento se mostrou muito facilitada devido à:

a) Clima de paz e re-assentamento das populações, ávidas em produzir para recuperar a base económica familiar e social;

b) Segurança de amortização e retorno dos investimentos necessários na reabilitação ou construção de infra-estruturas e equipamentos, destruídos durante a guerra, assegurada pela longevidade dos contratos (10 a 25 anos);

c) Segurança na recuperação dos insumos adiantados, garantida pela exclusividade na compra do algodão;

d) Mecanismo de fixação do preço mínimo, que sendo participativo confere responsabilidade colectiva no preço resultante e evita competição na base de preço, que em muitos casos leva a níveis de inviabilidade;

e) Qualidade assegurada pelo sistema de classificação e controlo de uma única empresa, portanto facilidade de transmitir uma única mensagem e de maneira consistente;

f) Preço internacional favorável. Assim, as empresas foram-se estabelecendo com o pressuposto de exclusividade de promoção e de compra do algodão ao preço mínimo fixado pelo Governo. Nos meados da década de 90 e face à deterioração da qualidade dos serviços prestados aos produtores, nomeadamente deficiente treinamento e assistência técnica, atrasos na entrega de

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insumos de produção e em quantidade inadequada, o sistema foi desafiado por diversas entidades, que justamente apontavam que ao não permitir competição dentro da concessão, o sistema de fomento não incentivava a melhoria de serviços e preço ao produtor. Efectivamente, devido a subida repentina de preço do algodão no mercado internacional, havia diversidade de operadores interessados em desenvolver o negócio do algodão, todos se juntavam em campanha contra este modelo. Em consequência, um modelo alternativo foi desenvolvido, que permitia que operadores alternativos, mediante aprovação por pelo menos 2/3 dos membros das comunidades, apoiassem pequenas unidades geográficas ou associações dentro das concessões, o que ficou conhecido como ensaio do modelo de concessão aberta. Na sua base, foi desenvolvida a Estratégia para Desenvolvimento do Subsector do Algodão (Resolução Interna do Conselho de Ministros Nr. 15/98), que apresentava a visão de liberalização do subsector a longo termo, mediante a criação das seguintes condições:

1. Disponibilidade de insumos de produção nas zonas rurais – para que os produtores possam os adquirir localmente e nas quantidades ajustadas às suas necessidades;

2. Disponibilidade de opções de crédito de campanha - sobretudo para insumos de produção, com processamento simplificado e facilitado, uma vez os camponeses não poderem comprar os insumos a pronto pagamento e não qualificarem para o crédito normal;

3. Auto organização dos produtores em associações e outras formas organizacionais - para que sirvam de interlocutores competentes tanto no diálogo de políticas como na negociação dos preços de insumos e do algodão caroço, assim como para organização de serviços próprios de extensão rural e baseados na comunidade;

4. Existência de unidades de descaroçamento alternativos, para que as empresas de fomento não se sirvam do preço de descaroçamento para inviabilizar a produção independente.

Este esquema de concessão aberta manteve-se em implementação até ao ano 2001. Infelizmente, a complexidade e multiplicidade destas unidades e associações dificultaram o acompanhamento do sector público, o que resultou em produtores receberem assistência técnica de um dado operador e venderem a produção a outro comprador, incluindo compras ilegais nocturnas, sem observância de qualidade e nem da separação varietal. Esta realidade, embora teve vantagens a curto prazo visto o produtor recebia melhor preço, ela levou aos seguintes problemas:

i) Retracção dos investimentos em assistência técnica e insumos, com receio de não recuperar o crédito adiantado – o que parou o crescimento de produtividade;

ii) Retracção dos investimentos na melhoria das infra-estruturas e equipamentos de produção, devido a incerteza de volumes a médio e longo termo – mantendo-se fábricas e equipamentos obsoletos;

iii) Deterioração da qualidade do algodão, devido a misturas de algodões, de variedades e compras sem observar a classificação – degradando a imagem do algodão moçambicano no mercado internacional;

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iv) Desresponsabilização das empresas na manutenção das vias, uma vez receando que seus concorrentes as possam melhor usar – aparecendo as primeiras bolsas de áreas não acessíveis, onde o algodão continuava não comprado;

v) Criação do hábito de não pagar crédito de insumos e comportamento desonesto por parte de alguns produtores, devido a facilidade de fuga da dívida;

vi) Concorrência na base do preço, que levou a subida do preço ao produtor a níveis inviáveis para as empresas - resultando em enfraquecimento e até falência de certas empresas, deixando produtores abandonados e suas dívidas se tornaram fardo para o sector público;

vii) Difíceis rondas anuais de negociação sobre as regras a vigorarem em cada campanha sob orientação da Direcção máxima do MINAG, caracterizadas por acusações mútuas entre as empresas e produtores, muitas vezes não pacíficas e alegações de imparcialidade do sector público.

Face a estes desafios, o MINAG, em coordenação com o Banco de Moçambique e parceria com a Agencia Francesa de Desenvolvimento, encomendou um estudo internacional que deveria apreciar a situação e recomendar em definitivo a abordagem a seguir, dentre concessão rígida, concessão aberta ou liberalização. O estudo ocorreu em 2001 e recomendou o retorno à concessão rígida. A implementação deste modelo foi parcialmente facilitado devido a queda drástica dos preços internacionais do algodão, que faziam deste negócio não atractivo, portanto só comprava algodão a entidade que tivesse obrigação contratual de o fazer e que tivesse interesse genuíno de viabilizar investimentos de longo termo. Por outro lado, este paradigma de fomento mostrou desafios de desenvolvimento, nem os produtores nem as empresas de fomento mostraram estar a acumular riqueza ao longo do tempo, pelo contrário, todos clamam por continuado apoio do sector público para viabilizar a sua economia. A comprovar esta realidade, inúmeras empresas têm estado a encerar suas portas por falência, a LOMACO, SAMO, SODAN, entre outras, faliram neste ambiente. Felizmente, enquanto umas empresas falem, outras entram no negócio, por isso foi possível substitui-las por novas, que agora operam nas suas antigas zonas de fomento. Actualmente, regista-se outra relativa melhoria dos preços internacionais do algodão, resultante da conversão de muitos farmeiros do algodão para cereais, orientados aos bio-combustíveis e consequente menor oferta do algodão no mercado global. Com esta melhoria de preço, pode se antever novo fluxo de investidores para o subsector e consequentemente novas pressões sobre o sistema. É oportuno que o sector público faça esta reflexão para que não seja colhido de surpresa por pressões externas. III. COMPARAÇÃO DO SISTEMA DE FOMENTO POR CONTRATO ENTRE ALGODÃO E TABACO É sabido que outra cultura onde o sistema de fomento com atribuição da exclusividade do direito de compra à fomentadora é o tabaco, por isso, a análise tentou estabelecer paralelismo entre as duas culturas tendo concluído que, embora com aparências visuais, na essência os dois sistemas têm pressupostos distintos, como tal as decisões deverão ser específicas para cada caso, conforme apresentado na tabela abaixo.

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Tab. 1: Comparação do sistema de fomento entre as culturas de algodão e tabaco Item de comparação

Algodão Tabaco

Mecanismos de coordenação

Triangulo IAM, FONPA, AAM. Embora existam as instituições pública e associação empresarial (AFTM), a sua interacção não está consolidada.

Operadores privados

10 Empresas detêm contratos de fomento e extensão rural e outras têm interesse de entrar, embora em áreas geográficas limitadas.

Uma empresa domina o sector, baseado em Tete.

Financiamento da componente pública

A indústria financia o IAM através da taxa de transacção sobre o algodão fibra.

A indústria não financia a componente pública.

Preço ao produtor É negociado entre as partes (empresas e produtores), sob facilitação do MINAG e fixado pelo Conselho de Ministros, que, através do IAM/MINAG, vela pelo seu cumprimento.

As empresas fixam individualmente o preço e a sua aplicação é sem monitoria pelo sector público.

Classificação do produto

Simples, composta por 2 tipos, geridos pelo IAM/MINAG, que produz e distribui padrões de referencia todas as campanhas para estarem presentes nos mercados.

Muito complexa, composta por 24 opções, geridas pela empresa.

Contratos Conferem direito a fomento, com prazos diversos, sempre superiores que um ano.

Atribuem zonas de influência e são renovados anualmente, à excepção da MLT que tem 10 anos.

Compromisso com o crescimento de áreas e de rendimentos

Os contratos de longo termo conferem responsabilidade e incentivo para investimento na pesquisa e sistemas de inovação técnica.

À excepção duma empresa, as outras não tem certeza de continuidade da actividade para além de um ano, como tal com menos incentivo.

Apoio ao camponês em outras culturas

Apoio esporádico, de iniciativa dos operadores ou em programas específicos com fundos da ajuda externa.

Apoio activo nas culturas alimentares e boas práticas agrícolas, por imposição do mercado.

Responsabilidade social

Empresas não estão activas nesta área.

Activo apoio aos sectores de educação e saúde, por imposição do mercado.

Competitividade Muitos países produzem no mundo, incluindo os desenvolvidos.

Poucos países produzem, praticamente somente os em desenvolvimento.

Determinantes de crescimento

Governação local do subsector com igual relevância como forças do mercado externo.

Forças de mercado externo mais influentes que governação local do sector.

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Assim, fica claro que as situações são distintas e as opções políticas para uma cultura não serão necessariamente aplicáveis para outra cultura, como tal é de se encorajar análises profundas contínuas para cada caso. IV. OBJECTIVOS DA REFLEXÃO

1. Fazer uma reflexão geral sobre o actual modelo de fomento algodoeiro, recomendando medidas concretas sobre o fomento (manutenção ou eliminação do regime de concessões) e propor alternativas, se for o caso e ainda definir acções de seguimento para qualquer das opções que for recomendada.

2. Criar condições para acelerar o desenvolvimento da cultura do algodão e incremento de

sua contribuição na luta contra a pobreza absoluta no país e na economia nacional, através do aumento da produção, produtividade, qualidade e renda do algodão.

V. REFLEXÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO 5.1. Aspectos a Tomar em Consideração na Reflexão

5.1.1 Aspectos Económicos Em linha com a orientação macroeconómico do país, os negócios são desenvolvidos em condições de igualdade de circunstâncias e livre concorrência, como tal, o objectivo final das políticas públicas é de criar condições para esta competição. Ou seja, o objectivo final será de produzir algodão em ambiente de liberalização e livre concorrência. Algodão é quase que na totalidade produzido pelo sector familiar, é importante contribuinte para economia nacional e das populações, representa 20% das vendas agrícolas dos camponeses, enquanto nas zonas produtoras do algodão, ele representa 52 a 84% das receitas das populações. Algodão é sobretudo fonte segura do rendimento, não necessariamente a cultura mais remuneradora em termos de retorno por hectare. O acesso a insumos a crédito, o preço mínimo garantido pelo Governo e a obrigatoriedade de compra que a empresa concessionária tem, são elementos de segurança de rendimento que outras culturas liberalizadas não oferecem. Esta cultura demanda uma infinidade de serviços ao longo da sua cadeia de valor, o que é grande dinamizador da economia local (insumos de produção, equipamento especializado, serviços de manutenção, transportes e carga, combustíveis e outros consumíveis, electricidade, e etc).

5.1.2. Aspectos Comerciais Moçambique não tem significância no contexto mundial (0.1 %), embora a nível regional/SADC tenha representado 15 % há dois anos e 9 % em 06/07. O negócio do algodão é de escala em

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termos de volume e de tempo de recuperação dos investimentos. É negócio muito dinâmico, como tal muito competitivo, requer domínio do mercado internacional e tomada de medidas de reajuste de maneira diária. Os factores de preço ao produtor são o preço internacional (com tendência decrescente) e a taxa de cambio (muito imprevisível), que são fora do controle do subsector, requerendo por isso uma cuidadosa partilha da cada vez decrescente receita potencial entre os actores. A produção nacional, sendo assegurada pelo sector familiar, depende dos investimentos de facilitação em termos de infra-estruturas e equipamentos de fomento e beneficiamento, investimentos em crédito em insumos e assistência técnica ao produtor, fornecidos pelo sector empresarial. A base de continuidade e sustentabilidade dos investimentos é probabilidade e garantia do retorno desses mesmos investimentos.

5.1.3. Aspectos agronómicos Por ser cultura exigente, requerer do produtor competências técnicas e disciplina agro técnicas acrescidas, contribuindo assim para modernização dos sistemas de produção, sobretudo nas operações como sementeira em linha, semente de boa qualidade, sachas, desbaste, tratamento contra pragas e aplicação de insecticidas correctos e em doses certas, colheita atempada e separação de qualidades. Algodão não tolera falta de cuidados, sobretudo os tratamentos fitossanitários com produto adequado para cada praga, em dose certa e em tempo específico. Estes produtos mudam continuamente, requerendo uma ligação contínua com o mercado global e competências de reajuste dos métodos de tratamento. Portanto, tecnicamente, o algodão exige que os nossos produtores tenham acesso, a crédito, a produtos agro-químicos muito dinâmicos e os consequentes serviços de treinamento e extensão específica. Ao mesmo tempo, a fase de colheita é crucial para preservação da qualidade e valor comercial do algodão, como tal exige disciplina e cumprimento de normas internacionais também dinâmicas. Estas competências e hábitos que são mobilizadas pelo algodão, podem ser facilmente convertidas para outras culturas no âmbito da revolução verde.

5.1.4. Aspectos de Desenvolvimento A cultura do algodão deve garantir cada vez crescente contributo na redução da pobreza, desenvolvimento das economias das populações e das zonas de produção, como tal, deverá apontar para redução dos custos de produção e aumento do rendimento e da partilha do produtor na receita do algodão. Tais tendências só podem ser assegurados com incentivos à eficiência, que, nas economias abertas se conseguem pela competição, e nas fechadas por medidas administrativas específicas.

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Por outro lado, o traço histórico do algodão leva consigo registos negativos (foi cultura forçada e de exploração no passado) que urge reverter por acções e evidencias de que o algodão é de facto contribuinte da batalha contra pobreza, gerando cada vez maior receita, provocando maior produção de comida, melhor aplicação da receita do algodão e equilíbrio ambiental e social nas zonas de produção. Finalmente, é importante notar que, o aumento da contribuição do algodão na luta contra pobreza absoluta e na economia nacional passa necessariamente pela industrialização de fibra, da semente e de outros subprodutos. Neste aspecto, afigura-se de capital importância a fiação e tecelagem da fibra, a produção de algodão hidrófilo para fins hospitalares, a prensagem de óleo alimentar, a produção de sabão, o aproveitamento do bagaço para suplementos alimentares pecuários, o aproveitamento da fibrilha e etc, para todos os casos considerando tanto grandes unidades de processamento, como pequenas fabriquetas. Como tal, as medidas futuras deverão contemplar incentivos adicionais para atrair e fixar investimentos nestas áreas.

5.1.5. Aspectos de Políticas A sustentabilidade do negócio do algodão assenta na competitividade da fibra do algodão em relação às outras fibras, incluindo as sintéticas, competitividade de Moçambique em relação aos outros países produtores e competitividade do algodão em relação a outros produtos agrícolas junto do produtor. As políticas deverão estar orientadas à promoção de boas práticas em:

• Atracção de investimentos em infra-estrutura, equipamento e meios de produção; • Estimular investimento em insumos e outros factores de produção; • Encorajar o crescimento do rendimento de campo (Kg/Ha) e industrial (% da fibra); • Facilitar programas robustos de pesquisa e desenvolvimento; • Propiciar a melhoria continua da qualidade de fibra e sua ligação com tendências e

padrões internacionais; • Facilitar o desenvolvimento da industrialização a jusante (têxteis, óleos, sabões e outras

sub-cadeias e utilizações).

5.1.6. Perspectivas de desenvolvimento do algodão em Moçambique O desenvolvimento do algodão em Moçambique aponta para aumento crescente da produção nacional a uma média de 10 a 15% ao ano, o que deverá permitir superar o actual recorde em cinco anos, altura em que o país deverá produzir acima de 145.000 toneladas de algodão caroço. Acto contínuo, o subsector deverá manter o crescimento, assegurando a utilização integral da capacidade de descaroçamento de 450.000 toneladas em 10 a 12 anos, produção que também significaria auto-suficiência do país em termos de fibra para vestir a sua população, cerca de 7 Kg de fibra por pessoa/ano. Este crescimento significará também aumento da contribuição do algodão na resposta à crise alimentar, particularmente na produção nacional de óleo alimentar, progredindo das actuais cerca de 35.000 toneladas / ano, de semente disponível para óleo alimentar, para acima de 190.000 toneladas / ano.

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Outros indicadores do crescimento do subsector a alcançar paulatinamente nos próximos 10 anos são, aumento de produtividade agrícola dos actuais 550 Kg/Ha para cerca de 1000 Kg/Ha; aumento do rendimento industrial, dos actuais 38% de fibra para cerca de 41%; aumento de área por produtor dos actuais 0,7Ha/família para 2 Ha/família; aumento do uso da tracção animal dos actuais níveis insignificantes para cerca de 50% da área sob cultivo do algodão, consolidação do princípio de partilha do preço internacional com o produtor a receber 50 a 55% da receita. Por outro lado, estando as empresas algodoeiras estabelecidas nas zonas algodoeiras, onde prestam serviços à produção, que a área de produção alimentar não consegue prestar, as empresas algodoeiras deverão, sem prejuízo à sua vocação comercial, passar a prestar serviços na produção alimentar, nomeadamente no aprovisionamento da campanha, assistência técnica aos produtores e comercialização da produção excedentária.

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5.2. Modelos de Fomento do Algodão a Nível da Africa Sub Sahariana Na África Sub Sahariana, destacam-se quatro modelos distintos de fomento do algodão, todos eles têm em vista estabelecer balanço entre a coordenação e competição. Esquematicamente, a diferença entre os modelos de fomento se pode representar assim: Fig. 1 - Representação esquemática dos modelos de comercialização do algodão

Monopsónio Nacional – onde por lei, uma dada entidade ou empresa tem o exclusive privilégio de fomentar e comercializar a produção do algodão para um dado país. Este modelo predominou no passado recente nos países da Africa ocidental (Mali, Borquina Fasso, Costa do Marfim, Benin, Senegal e etc), todos estão a abandonar devido a necessidade de desinvestimento público das empresas que detinham o monopólio nacional. Monopsónio Local – onde por lei, uma dada entidade ou empresa detém o direito de fazer o fomento e a comercialização do algodão em dado espaço geográfico (vulgarmente designado concessão), é o que está em vigor em Moçambique e no Borquina Fasso. Entretanto, no caso moçambicano, esse monopsónio e falso (situação melhor que no monopsónio típico), uma vez que

É permitida competição na compra do algodão caroço?

Sim Não

Baseada no mercado? Regulamentado?

Há muitas ou poucas empresas de compra no mesmo local?

Muitas Pouca

Sistema competitivo

Concentração Geográfica

Haverá mais de uma empresa no pais?

Monopsónio Nacional

Cada empresa é dada área exclusiva para compra do

algodão?

Sim Não

Monopsónio local (concessão)

Modelo misto (quotas,

leilões, com ou sem fomento)

Não Sim

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a empresa não dita unilateralmente o preço, mas sim negoceia-o em fórum aberto e sob mediação do sector público. Concentração geográfica – Em que uma dada entidade ou empresa concentra-se num dado território onde faz actividades de fomento e comercialização com alguma exclusividade, sem que esteja formalmente estabelecido, podendo ser por consenso/acordo informal entre as empresas ou por isolamento geográfico ou da instabilidade militar (no Malawi, Zâmbia, Zimbabwe e Uganda acontece por acordo entre as empresas, no sul do Uganda e no Sudão acontece por isolamento). Entretanto, em todos estes países este modelo está em alteração, devido a entrada de novos operadores ou a quebra de acordo pelas partes. Modelo Competitivo – onde as empresas têm o direito de fazer livremente o fomento e a comercialização no mesmo espaço geográfico (liberalização), pela informação disponível neste momento, nenhum país da África Sub Sahariana adoptou este modelo de maneia típica, entretanto, Gana que acabou de adoptar o modelo de concessão e Uganda que está no modelo misto aplicaram no passado recente este modelo, tendo o abandonado por causa dos mesmos problemas que ocorreram em Moçambique na altura do ensaio da concessão aberta. Modelo Misto – Consiste na combinação dos vários modelos acima, de acordo com a decisão de cada estado, por exemplo:

• Na Tanzânia, o sector público faz o fomento (produz e distribui sementes, aprovisiona pesticidas e equipamento de aplicação, presta assistência técnica) e autoriza para comercialização um número limitado de operadores para cada região, que dentro competem livremente.

• Na era colonial em Moçambique, o IAM fazia fomento e leiloava anualmente o direito de compra em cada região a um único comprador.

• Em Uganda, duas ou mais empresas são atribuídas quotas de compra dentro duma zona geográfica, onde também fazem fomento.

• No Benin, todas as empresas são atribuídas quotas de compra a nível nacional, sem limitação da zona geográfica donde comprar e o sector público faz o fomento.

A situação actualmente prevalecente na região é tal que, a maior parte dos países se encontram no modelo de monopsónio geográfico ou está migrando para aquele modelo. Por outro lado, são poucos os países que não têm nenhuma forma de monopólio, veja-se a tabela seguinte:

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Tab. 2 – Modelos de fomento adoptados por alguns países da região subsahariana de África

Monopólio Nacional

Monopólio Local

(“Concessão”) Concentração geográfica

Modelo Competitivo Modelo misto

Camarões

Mali Chade Senegal

1

Moçambique Burkina Faso

Costa do Marfim Ghana

Zâmbia Zimbabué Malawi

2

Benin

Uganda

Tanzânia

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Tab. 3: DIFERENTES MODELOS DE FOMENTO DO ALGODÃO MODELO CARACTERÍSTICAS PRECONDIÇÕES VANTAGENS DESVANTAGENS Liberalizado 1. Não há empresa que faz

fomento; 2. Os produtores vendem a

quem quiserem e a preço pontualmente negociado;

3. Não se regula o preço de compra;

4. Empresas compradoras competem para adquirir a algodão;

5. Eventuais pré financiamentos e apoios são na base contratual.

1. Insumos disponíveis nas zonas de produção;

2. Camponeses podem adquirir a pronto pagamento ou tem acesso a crédito;

3. Extensão rural pública abrangente;

4. Há muitos operadores interessados pelas mesmas regiões.

5. Camponeses têm conhecimento das variáveis de mercado para negociar;

6. Camponeses organizados em associações que facilitam ligações com as empresas e sector público;

7. Resolvidos pelo sector público os principais constrangimentos (estradas, IVA, taxa de diesel, transportes, etc.

8. Ética no negócio e respeito aos contratos;

9. Sistema judicial célere e com alta capacidade de vazão.

1. Concorrência na base de preço beneficia aos produtores;

2. Sector público tem pouca intervenção e nunca acusado de favorecer um ou outro lado;

3. Aplicação de princípios de economia de mercado livre;

4. Alguma celeridade na compra e escoamento do algodão caroço do campo para as fábricas de descaroçam;

5. Operadores de insumos com mercado e facilidade de desenvolver negócios na zona rural.

1. Se as pré condições não estiverem criadas o sistema colapsa;

2. Se não há muitos operadores, os poucos ou único tem mais campo para explorar os produtores;

3. Controle varietal e de qualidade do algodão torna-se impossível;

4. Desmotiva investimentos a longo termo, incluindo infraestruturais.

5. Produtor não está protegido, em casos de queda do preço internacional fica com o algodão.

6. Operadores interessados na quantidade em detrimento da qualidade, o que leva ao desconto no mercado internacional;

7. Muita incerteza no aprovisionamento com insumos, a crédito, aos camponeses.

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Monopólio nacional

1. Uma única empresa ou instituição a fazer fomento e comercialização;

2. Geralmente forte ou totalmente participada pelo Estado;

3. Preços são estabelecidos numa base de médio termo;

4. Algodão é sempre comprado, mesmo que caia o preço internacional;

5. Fortemente criticado pelos parceiros internacionais (OMC, FMI, BM e etc).

1. Decisão politica superior; 2. Estado preparado para

estar na operação de produção;

1. Fácil de fazer intervenção pública como por exemplo subsídio ou assegurar preço remunerador;

1. Sector público fica no centro das críticas pelo empresariado ávido em intervir, camponeses nos anos de baixo preço, pelos parceiros de cooperação, por ser Estado produtor;

2. Requer grandes investimentos em redes de extensão, infra-estruturas, equipamentos e insumos, para alem de fundos para comercialização;

Monopólio local (concessão)

1. Várias empresas com pequenos mopsónios, atribuídos por contratos com o Estado;

2. Preço mínimo é estabelecido por um órgão público na base anual;

3. Camponeses não escolhem parceiros, estando adstritos a um por médio a longo termo;

4. Sector público intervém apenas na regulação e inovação técnica.

1. Decisão política; 2. Legislação em vigor permite

este modelo, de mercado não totalmente livre;

3. Há operadores privados diversos interessados em todas as áreas de produção;

4. Empresas mantém vontade de implementar boas práticas e alto desempenho;

5. Sector público incentiva boas práticas e bom desempenho por diálogo e medidas administrativas corajosas;

1. Incentiva investimentos privados a médio e longo termo e por operadores profissionais e especializados;

2. Motiva investimentos em infra-estruturas, equipamentos, extensão e insumos;

3. Fácil controle varietal e de qualidade;

4. Desonera o sector público de investimentos de produção;

5. Assegura índices de crescimento e desempenho razoáveis mesmo com falhas de mercado e de serviços públicos de apoio;

1. Sector público responsabilizado pelos contratos de fomento e pela marcação de preço mínimo;

2. Correntes académicas e sociais criticam o modelo por restringir concorrência;

3. Empresas podem se aproveitar e prejudicar produtores nos custos de produção e negociação do preço;

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Concentração geográfica

1. Várias empresas com pequenos monopólios conseguidos na base negocial e informal;

2. Nem sempre significa não marcação de preço pelo sector público;

3. Camponeses não escolhem comprador, estando adstritos a um por consenso das empresas;

4. Quando há violações o Sector Público não é chamado a intervir.

1. Existência de poucos operadores e de perfis muito honestos;

2. Sector público preparado para aceitar a diversidade resultante de falta ou pouca regulamentação;

3. Número de operadores mantém se estável, portanto não há pressão de novos actores interessados em entrar no negócio;

4. Preço internacional atraente para todos comprarem seu algodão.

1. Sector público não é responsabilizado pelos pequenos problemas, até que o sistema colapse;

2. Motiva investimentos em extensão e insumos mas não em infra-estruturas, equipamentos;

3. Desonera o sector público de fazer investimentos de produção;

1. O zoneamento é frágil, não é vinculativo, podendo se quebrar a qualquer momento por novos entrantes ou por operadores que não satisfaçam a necessidades nas suas zonas;

2. O controle varietal e de qualidade se tornam frágeis;

3. Incentiva investimentos privados a curto termo e nem sempre por operadores profissionais e especializados, vista a fragilidade do modelo;

Modelos Mistos (reconhecendo a sua diversidade)

1. Operadores não têm garantias de territórios com monopsónios, entretanto podem ter quotas locais ou nacionais ou podem adquirir exclusividade de comercialização por uma única campanha;

2. O sector público faz promoção da cultura;

3. Não é estabelecido preço pelo sector público.

1. Decisão politica para o efeito;

2. Há operadores interessados em investir sem garantias de longo termo;

3. Sector público disposto a intervir nas actividades de promoção (extensão e insumos)

1. A concorrência, normalmente na base de preço, resulta em ganhos de curto prazo aos produtores.

2. Sector público não é responsabilizado pelo preço pago ou outros pequenos problemas;

3.

1. Requer avultados investimentos de promoção pela parte do sector público;

2. Requer fortes serviços de monitoria e controle;

3. As empresas não aderem a processos negociais com o sector público e muito menos a condições deste;

4. Reduz indicadores do ambiente de negócios devido à insegurança de retornos em investimentos.

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VI. OPÇÕES DE DECISÃO SOBRE MODELOS DE FOMENTO DO ALGODÃO E SUAS IMPLICAÇÕES PARA MOÇAMBIQUE Compulsando sobre os aspectos analisados acima, o exercício de reflexão aponta para as seguintes opções de decisão:

1. Liberalização imediata do subsector; 2. Introdução do modelo de concentração geográfica; 3. Reforma da concessão com roteiro paulatino rumo a liberalização do subsector; 4. Manutenção do Modelo de concessão;

Cada um dos cenários de decisão acima terá acções a serem desenvolvidas a curto e a médio e longo e prazos e terá implicações. Estes aspectos são descritos abaixo:

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Tab.4: Análise das opções de decisão sobre modelos de fomento e implicações para Moçambique

Modelos de fomento

Condições prevalecentes Acções a curto prazo Impacto Acções a médio e longo prazos

Liberalização imediata

Contratos em vigor com duração diversa; Empresas com desempenho diverso, incluindo o fraco; Estabilidade económica das empresas não satisfatória. Não há insumos nas zonas de produção; Redução de pobreza nas zonas produtoras abaixo das expectativas; Produtores não podem aceder a crédito; Preços internacionais voláteis; Produtores habituados que os preços são estabelecidos pelo sector público (sensação de estarem protegidos).

Rescisão unilateral dos actuais contratos de fomento, pelo Governo; Alteração profunda do quadro legal em vigor; Sector público coloca insumos a crédito e serviços de extensão nas zonas produtoras; Produtores acedem a informação sobre preço internacional e suas variáveis para competente negociação.

Expõe o governo a disputas legais; Transmite mensagem negativa em relação à segurança de investimentos e ambiente de negócios no país; Produtores se sentiriam desprotegidos por não se marcar o preço e provavelmente abandonem a produção. Concorrência à base de preço resultaria em ganhos de curto prazo para os produtores; Possibilidade de algodão ficar no campo nos anos de preços baixos.

Monitorar o desempenho do subsector com periodicidade anual, quinquenal e de 10 anos. Preparar um plano robusto para relançar o subsector em caso do muito provável colapso, incluindo a remoção dos constrangimentos não agronómicos.

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Concentração geográfica

Contratos em vigor com duração diversa; Não há insumos nas zonas de produção e produtores não podem aceder a crédito; Redução de pobreza nas zonas produtoras abaixo das expectativas; Produtores habituados que os preços são estabelecidos pelo sector público (sensação de estarem protegidos); Estabilidade económica das empresas não satisfatória. Empresas com preferência exagerada para a região de Nampula e Cabo Delgado; Parte das empresas com história de desonestidade (compras ilegais); Sector público não interessado em intervir directamente na produção.

Rescisão unilateral dos actuais contratos de fomento; Alteração profunda do quadro legal em vigor; Sector público coloca insumos a crédito e serviços de extensão nas zonas produtoras onde as empresas não mostrem interesse; Fortificar serviços de monitoria e fiscalização;

Expõe o governo a disputas legais; Transmite mensagem negativa em relação à segurança de investimentos e ambiente de negócios no país; Produtores e críticos não sentiriam mudanças reais devido à continuação do monopsónio; Produtores se sentiriam desprotegidos por não se marcar o preço e provavelmente abandonem a produção; Possibilidade de certas regiões serem preteridas e como tal ficarem sem operadores.

Monitorar o desempenho do subsector com periodicidade anual, quinquenal e de 10 anos. Preparar capacidade logística e financeira do Sector Público para intervir nas zonas de falha do sistema, tanto na promoção como na comercialização;

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Reforma da concessão com roteiro paulatino rumo a liberalização

Contratos em vigor com duração diversa; Não há insumos nas zonas de produção e produtores não podem aceder créditos em insumos ou monetários; Estabilidade económica das empresas não satisfatória. Redução de pobreza nas zonas produtoras abaixo das expectativas; Produtores habituados que os preços são estabelecidos pelo sector público (sensação de estarem protegidos).

Negociação de adendas para reajustes dos contratos (harmonização de prazos, obrigações, direitos e paulatinidade rumo a liberalização); Alteração pontual do quadro normativo em vigor; Reforçar monitoria da produção, da comercialização e do desempenho, com base em indicadores concordados (custo do pacote tecnológico, preço pago, rácio entre custo de insumos e preço pago, promoção da tracção animal e etc, com possibilidade de rescisão em situação de fraco desempenho. Introduzir a obrigatoriedade de desenvolver agricultores avançados dentro das concessões. Adoptar fórmula de cálculo de preço de modo que o preço a aprovar se situe dentro de um intervalo concordado.

Pressão para melhorar o desempenho através de diálogo e respeitando tempo para retorno dos investimentos; Produtores teriam o conforto da protecção do sector público cientes que a visão é de liberalização; Críticos positivos do sistema estariam dispostos a colaborar na tomada de medidas rumo a criação de condições para liberalização.

Monitorar o desempenho do subsector com periodicidade anual, quinquenal e de 10 anos. Estabelecer sistema de insumos e a crédito nas zonas de protecção; Promover unidades de descaroçamento de pequena dimensão; Reactivar a indústria têxtil nacional para que vendam sem necessidade de passar por complexos processos de exportação; Promover sistemas de treinamento e extensão rural; Promover associativismos para prestação de serviços, incluindo os de comercialização.

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Manutenção do monopsónio

Contratos em vigor com duração diversa; Empresas com desempenho diverso, incluindo o fraco; Estabilidade económica das empresas não satisfatória. Redução de pobreza nas zonas produtoras abaixo das expectativas; Não há insumos nas zonas de produção; Produtores não podem aceder a crédito; Preços internacionais voláteis; Produtores habituados que os preços são estabelecidos pelo sector público (sensação de estarem protegidos).

Revisão pontual do quadro normativo; Fortificar monitoria da produção e fiscalização da comercialização; Adoptar fórmula de cálculo de preço de modo que o preço a aprovar se situe dentro de um intervalo concordado.

Sinal de que o Sector Público não toma medidas para melhorar o sistema e incentivar melhor desempenho; Empresas continuariam no conforto do monopsónio e as que têm fraco desempenho não teriam incentivos para melhorar a eficiência; Embora os produtores continuem no conforto de protecção, insistiriam na melhoria de suas condições.

Monitorar o desempenho do subsector com periodicidade anual, quinquenal e de 10 anos. Preparar conteúdos melhorados para os novos contratos de fomento e extensão rural.

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Modelo misto Contratos em vigor com duração diversa; Empresas com desempenho diverso, incluindo o fraco; Estabilidade económica das empresas não satisfatória. Não há insumos nas zonas de produção; Redução de pobreza nas zonas produtoras abaixo das expectativas; Produtores não podem aceder a crédito; Preços internacionais voláteis; Produtores habituados que os preços são estabelecidos pelo sector público (sensação de estarem protegidos); Sector público não interessado em intervir directamente na produção.

Rescisão unilateral dos actuais contratos de fomento; Alteração profunda do quadro legal em vigor; Sector público coloca insumos a crédito e serviços de extensão nas zonas produtoras onde as empresas não mostrem interesse; Fortificar serviços de monitoria e fiscalização;

Expõe o governo a disputas legais; Transmite mensagem negativa em relação à segurança de investimentos e ambiente de negócios no país; Concorrência à base de preço resultaria em ganhos de curto prazo para os produtores; Produtores se sentiriam desprotegidos e provavelmente abandonem a produção. Possibilidade de algodão ficar no campo nos anos de preços baixos

Monitorar o desempenho do subsector com periodicidade anual, quinquenal e de 10 anos. Preparar capacidade logística e financeira do Sector Público para intervir nas zonas de falha do sistema, tanto na promoção como na comercialização; Preparar um plano robusto para relançar o subsector em caso de colapso.

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VII. CONCLUSÃO E ACÇÕES DE SEGUIMENTO Face ao acima discutido, o exercício de reflexão conclui que: 1. Em linha com a orientação macroeconómico do país, o objectivo a médio e longo termo é de

produzir algodão em ambiente de liberalização e de livre concorrência.

2. Face às insuficiências que o mercado rural apresenta actualmente, é proposta uma fase transitória de 7 anos, denominada FASE DE REFORMA DAS CONCESSÕES COM ROTEIRO PAULATINO RUMO A LIBERALIZAÇÃO.

3. Esta reforma se caracteriza por negociação imediata de contratos com as empresas, no

sentido de introdução de adendas que, dentre outros aspectos, incorporem os seguintes aspectos:

a) Harmonização da validade dos contratos por um período inicial de mais 7 anos a partir de

2009, tempo proposto para o processo de criação de condições rumo à liberalização; b) Introdução de matriz de indicadores de desempenho nos contratos, a serem monitorados

com a seguinte periodicidade: i. Anual (a ser feito pelo IAM e os Órgão Locais do Estado), que, salvo em

situações extraordinárias de fraco desempenho, faz recomendações de medidas para melhorar o desempenho mantendo o contrato em vigor. Em situações extremas de fraco desempenho, estas monitorias propõe à Direcção do MINAG a rescisão do contrato ou outras medidas de choque;

ii. De 3 anos - a ser feito por uma entidade independente, culminando com relatório a ser submetido à Direcção do MINAG, e julgando necessário, esta poderá submeter ao Conselho de Ministros, que deverá avaliar o progresso ou existência de condições para a liberalização e, caso ainda não existam, sugerir medidas para sua aceleração e prazo razoável para prorrogação da fase transitória;

iii. Obrigatoriedade de apresentação ao IAM/MINAG, do relatório anual de contas, permitindo monitorar a saúde financeira das empresas concessionárias e tomada de decisões em tempo oportuno (exemplo, sempre que os passivos da empresa forem superiores que o capital social, sugerir cancelamento do contrato de fomento);

iv. Obrigatoriedade de apresentação anual do pacote de insumos, dos critérios e provas de cálculo de seu custo ao produtor;

c) Implementação de um programa de indução de agricultores comerciais locais, que

deverão prestar serviços aos seus vizinhos em situação de liberalização; d) Cumprimento do intervalo de 50 a 55% da receita internacional do algodão na aprovação

do preço mínimo ao produtor, conforme a fórmula consensual de paridade em uso no subsector. Isto é, sempre que a proposta for inferior a este intervalo, a autoridade competente fará os devidos reajustes para que esteja dentro do intervalo;

e) Desenvolvimento de um mecanismo de gestão de choques de clima e riscos ou crises de

mercado, em linha com as tendências internacionais nesta matéria;

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f) Desenvolvimento de um programa de investigação e transferência de tecnologia robusto e

mais autónomo e especializado para a produção do algodão; g) Criar um mecanismo (fórum ou grupo) contínuo de articulação inter-institucional para

desenvolvimento do algodão, incluindo, para além do MINAG, AAM e FONPA, as seguintes instituições MPD, MIC, MF, MOPH, a Banca (incluindo o BM), as Seguradoras, entre outras instituições a identificar, com o fim de acompanhar e resolver os constrangimentos não agronómicos que retardam o desenvolvimento do algodão;

h) Fortificação da capacidade organizacional e operativa dos actores, com destaque para as

associações dos produtores e seu fórum especializado, Fórum Nacional dos Produtores do Algodão.

4. A decisão sobre a liberalização do subsector deverá ser mediante o surgimento das condições

necessárias para que o algodão se desenvolva sem contratos de concessão. Como tal, de 5 em 5 anos, deverá se avaliar o surgimento de condições para liberalização, nomeadamente:

i. Disponibilidade de insumos nas zonas de produção; ii. Acesso dos produtores a crédito de campanha; iii. Grau de auto organização dos produtores; iv. Existência de produtores autónomos de referencia que prestam serviços aos seus

vizinhos; v. Funcionamento de mercado para colocação da produção; vi. Existência de opções de descaroçamento para associações e produtores autónomos

(mini-descaroçadeira).

Caso a avaliação conclua que ainda não existam condições para liberalização, esta deverá sugerir medidas para sua aceleração e extensão do período de transição.

5. Em paralelo com a avaliação das condições supra, o desempenho das empresas

concessionária deverá ser continuamente avaliado, através duma lista de indicadores, propostos no anexo 1.

6. Para implementação do roteiro rumo à liberalização, o MINAG deverá, em encontro negocial

específico com o patronato das empresas que operam em Moçambique e/ou com as grandes empresas com forte interesse de entrar para o país, estabelecer visão partilhada sobre o desenvolvimento do subsector em Moçambique integrado com a produção alimentar e sobre os aspectos críticos da reforma ora proposta.

7. Por forma a aumentar a contribuição do algodão na luta contra pobreza absoluta e na

dinamização da economia nacional, o processamento da fibra e outros subprodutos do algodão é tomado como prioridade, nomeadamente a fiação e tecelagem da fibra, a produção de algodão hidrófilo para fins hospitalares, a prensagem de óleo alimentar, a produção de sabões, o aproveitamento do bagaço para suplementos alimentares pecuários, o aproveitamento da fibrilha e etc, para todos os casos considerando tanto grandes unidades de

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processamento, como pequenas fabriquetas. Para tal, o Ministério da Indústria e Comércio, o Centro de Promoção de Investimentos / Ministério de planificação e Desenvolvimento, o Ministério das Finanças e o Ministério da Agricultura deverão empreender esforços conjuntos e criar incentivos adicionais para atrair e fixar investimentos nestas áreas.

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A

ANEXOS Anexo 1: PROPOSTA DE INDICADORES PARA AS AVALIAÇÕES PERIÓDICAS DO PROCESSO PREPARATÓRIO RUMO À LIBERALIZAÇÃO DO SUBSECTOR A. Desempenho individual das concessões (continuamente)

i. Nível de aumento das áreas de produção no total e a média por produtor, bem como da produtividade (produção total, rendimento por hectare e industrial) e sua correlação com a estratégia e investimentos da empresa.

ii. Nível de evolução dos produtores dentro da concessão, tomando em conta as Classes previstas

no Regulamento para a Cultura do algodão - Diploma Ministerial nº 91/94, vide o programa de agricultores avançados no anexo 2.

iii. Historial dos últimos 5 anos da produção, rendimentos, e analisar o valor e percentagem

efectivamente pagos pelas empresas aos produtores, comparados com o mercado internacional, cruzados com os valores descontados em crédito a insumos, assim como a razoabilidade dos custos destes.

iv. Contribuição das Concessionárias no melhoramento do nível de vida das Comunidades,

incluindo melhoria do sistema de produção no geral como introdução de tecnologias inovativas e melhoradas, actividades e investimentos de desenvolvimento social e ambiental, estimando a percentagem que estes representam para a base de facturação e/ou lucro da empresa, o nível de envolvimento da empresa na assistência técnica aos produtores de algodão para produção de culturas e espécies alimentares diversas como complemento e suplemento da economia familiar.

v. Capacidade técnico-financeira das empresas Concessionárias, através de infra-estruturas,

afectação de meios técnicos e financeiros, a entrega atempada de insumos em quantidade e qualidade adequadas às necessidades dos produtores e oportunidade e eficiência na comercialização.

vi. A rede de assistência técnica (técnicos da rede de extensão) existente, sua qualificação, sua

localização territorial, bem como os meios logísticos postos à sua disposição.

vii. Nível de conflitos dentro da concessão e papel da empresa na prevenção e resolução destes mesmos conflitos.

viii. Avaliar o nível de cumprimento das obrigações fiscais para com o Sector Público a vários níveis.

ix. Avaliar o nível de investimentos e seus ganhos, incluindo capacidade e habilidade de exploração

de mercados remuneradores (destinos, clientes finais ou intermédios e etc).

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B

x. Contemplar e descrever o estado económico-financeiro das empresas concessionárias, incluindo apreciação do nível de cumprimento de suas obrigações com fornecedores, a banca, ou outros credores.

xi. Avaliar os constrangimentos que a Concessionária enfrenta e alistar as instituições responsáveis

por tais áreas, assim como propostas de medidas para sua resolução. B. Condições para liberalização (de 5 em 5 anos)

xii. Surgimento de condições para eventual liberalização com enfoque, dentre outros parâmetros, nos seguintes aspectos:

a) Disponibilidade de insumos nas zonas de produção; b) Acesso dos produtores a crédito de campanha; c) Grau de auto organização dos produtores; d) Existência de produtores autónomos de referencia que prestam serviços aos seus

vizinhos; e) Funcionamento de mercado para colocação da produção; f) Existência de opções de descaroçamento para associações e produtores autónomos

(mini-descaroçadeira).

xiii. Para qualquer das opções, propor medidas concretas para implementação ou operacionalização do modelo recomendado, assegurando medidas de aumento da eficácia do mercado e continuado crescimento da produção, mesmo em situação de falha do mercado rural. Caso a avaliação conclua que ainda não existem condições para liberalização, esta deverá sugerir medidas para sua aceleração e extensão do período de transição.

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Reflexão Sobre Modelos de Fomento do algodão em Moçambique

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Anexo 2: PROGRAMA DE PROMOÇÃO DE AGRICULTORES AVANÇADOS A luta contra pobreza deve ser evidenciada por resultados numéricos de produtores que, com base no algodão, transitam de um padrão de vida e base produtiva para outro, mais alto. Na realidade, quanto mais concentrada estiver a produção de algodão, e quanto mais evoluído técnica e comercialmente for o agricultor, menores serão os custos e riscos, maior será a produção e melhor será a qualidade do algodão. Por isso, o surgimento duma classe empresarial agrícola de pequena-média dimensão, deveria interessar ao Estado e a qualquer empresa de fomento estruturada. Os factores essenciais e determinantes de produção estão hoje assegurados pelo regime em vigor, nomeadamente insumos, a preços e quantidades adequadas, tecnologia e ao apoio técnico para aumentar a produção e a qualidade acesso e garantia de mercados para venda da produção, um quadro fiscal e de serviços a montante e a jusante, que facilitem a actividade do agricultor e seu crescimento contínuo. Por outro lado, deveria ser a cultura de algodão, tal como outras com garantia de mercado, motores para desenvolvimento do sistema de produção e do produtor, visto gerar sempre receita para cobrir eventuais créditos, desde que favoráveis. No caso do algodão, o facto de existirem empresas de fomento agro-industrial – verdadeiros pólos dinamizadores nas áreas rurais, segurança para uma verdadeira parceria publico - privada para surgimento de agricultores de pequena e média dimensão. Os factores essenciais referidos acima e garantidas pelas empresas têm impacto enquanto a dimensão do agricultor não ultrapassa os 20-30 há. Acima desta área colocam-se novas limitantes fora do âmbito exclusivo das empresas, nomeadamente o acesso a crédito bancário directo de curto e médio prazo. A experiência da empresa Dunavant em parceria com a GAPI e os agricultores de Morrumbala e Mutarara, em implementação desde 98/99, embora muito localizada poderá ser uma fonte de análise para eventual extrapolação a outras regiões, com as necessárias adaptações. O crédito financeiro é prestado pela GAPI via rede de fomento (e com aval técnico da Dunavant) a agricultores algodoeiros com áreas superiores a 2 ha. Na actual campanha 07/08, o portfolio de crédito é de 4,0 Milhões de Meticais, equivalente a 170.000,00 USD para 1.500 beneficiários, em 4.300 ha (média de 2,5 ha/agricultor). A proposta é de se mobilizar recursos financeiros específicos para que se desenhe linhas de crédito específicas, envolvendo o IAM/MINAG, AAM, FONPA e GAPI ou outras instituições financeiras, assim se iria operacionalizar as seguintes linhas: a) Linha de crédito de campanha - devidamente dotada e com regras específicas, a serem aplicadas pelo triângulo GAPI - Empresa de fomento – FONPA, para agricultores de determinada região algodoeira e com certa dimensão. Sugere-se abordagem de regiões algodoeiras – Zambézia/Tete, Sofala, C.Delgado e Nampula. Esta abordagem estimularia o surgimento de vendedores de bens e serviços aos produtores, que a se consolidarem resultariam em provedores profissionais. Um projecto similar seria para 3 a 5 campanhas, com montantes crescentes.

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b) Linha de crédito para força de tracção - aspecto limitativo e ainda sem solução, também reconhecido como principal determinante para melhoria da base produtiva do sector familiar. Aqui poderia se abordar em dois pacotes:

i. Tracção animal – o IAM lançou um programa que pode servir de base, desde que sustentado

numa maior dimensão e capacidade de intervenção. Como indicação, refere-se a um montante de cerca de 32.500,00 Mt / kit tracção animal / produtor composto pela junta de dois animais, uma charrua, um sachador e uma carroça.

ii. Lavoura mecânica - a dificuldade está na aquisição de kits de lavoura mecanizada (tractor 75

HP, charrua de 3 discos, grades, atrelado de duplo eixo). Como indicação, refere-se a um montante na ordem dos 45.000 USD por kit / produtor.

c) Programa de Capacitação de produtores avançados - que englobaria registo e licenciamento empresarial dos produtores de algodão mais avançados; treinamento em práticas empresariais, que engloba gestão, contabilidade, fiscalidade e etc; alargamento e melhoramento da base produtiva para níveis empresariais, através de apoio na preparação de projectos de financiamento, transmissão de conhecimentos mais apurados do itinerário técnico de produção e comercialização do algodão e outras culturas do mesmo sistema de produção;

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I

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

INSTITUTO DO ALGODÃO DE MOÇAMBIQUE

PROCESSO DE APROVAÇÃO DO PREÇO MÍNIMO DO ALGODÃO CAROÇO

INTRODUÇÃO A fixação do preço mínimo de compra do algodão caroço ao produtor a vigorar em cada campanha, é da responsabilidade dos órgãos competentes, sob proposta do IAM – Instituto do Algodão de Moçambique, conforme o artigo 6 do Decreto nº. 8/91 de 23 de Abril do Conselho de Ministros. A alínea f) do artigo 3 do Estatuto Orgânico do Instituto do Algodão de Moçambique – Decreto nº. 7/91, também de 23 de Abril indica que compete ao IAM propor os preços de algodão caroço que, em cada campanha, hão-de vigorar e zelar pelo seu cumprimento. Até aqui, o preço era fixado uma vez por ano e para minimizar o risco de descrepancia entre o preço fixado e a dinâmica das variáveis preço internacional e taxa de câmbio, foi se adaptando a prática de fixar o preço na véspera da comercialização, em Abril/Maio de cada ano. Esta prática, fazia com que o produtor realizasse uma campanha inteira (da preparação da terra à colheita) sem conhecer o preço que iria receber pelo seu algodão. De modo a colmatar esta situação é adoptado o princípio de marcação do preço em duas fases sendo uma em Outubro/Novembro (antes da sementeira) denominado preço indicativo e outro preço mínimo, em Abril/Maio de cada ano, este que é aprovado pelas autoridades competentes. O preço provisório ou indicativo para a compra do algodão caroço é dado a conhecer aos produtores antes do início da respectiva campanha. DESCRIÇÃO DO ROTEIRO PARA APROVAÇÃO DO PREÇO MÍNIMO A marcação do preço obedece a um processo negocial e participativo, em que as partes devem concordar na fórmula e no preenchimento das variáveis da fórmula, concordando num preço consensual que depois segue o roteiro de aprovação oficial durante o qual poderá sofrer reajustes que as autoridades acharem bem relevantes. Assim, o roteiro obedecerá a: A – PREÇO INDICATIVO A.1 - Reunião do Conselho Geral do Instituto do Algodão de Moçambique. O Conselho Geral do IAM é composto pela Direcção do IAM e vogais representando empresas algodoeiras (visa preparar a proposta preliminar do preço do algodão caroço). Nesta

Anexo 3:

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II

reunião afere-se o entendimento sobre a dinâmica das variáveis do preço mínimo, simulando assim intervalos dentro dos quais o preço deverá cair.

A.2 - Reunião Anual do Subsector Algodoeiro, organizada pelo IAM e conta com a participação de todos os actores do subsector algodoeiro. Este encontro a ter lugar em Outubro/Novembro de cada ano, visa perspectivar a campanha e discutir os problemas do sector, em especial negociar o preço indicativo do algodão, que é anunciado antes da sementeira, sem seguir o roteiro de sua aprovação oficial.

B. PREÇO MÍNIMO DO ALGODÃO CAROÇO B.1 - Reunião do Conselho Geral do Instituto do Algodão de Moçambique. O Conselho Geral do IAM é composto pela Direcção do IAM e vogais representando empresas algodoeiras (visa preparar a proposta preliminar do preço mínimo do algodão caroço). Nesta reunião afere-se o entendimento sobre a dinâmica das variáveis do preço mínimo, simulando assim intervalos dentro dos quais o preço deverá cair.

B.2 - Reunião para negociação do preço mínimo, esta reunião acontece em Abril/Maio do ano seguinte, dirigida por S.Excia. o MINAG, com a participação do IAM, AAM e FONPA para definição da proposta do preço mínimo a partir da decisão da reunião de Outubro/Novembro, do preço indicativo. As partes, em reunião aberta, negociam a evolução das variáveis do preço no intervalo de Outubro/Novembro anteriores à época de Abril/Maio, verificando necessidade de reajuste do preço, tanto a partir de indicadores matemáticos e objectivos, como por relevância subjectiva que for concordada nas negociações. Como princípio estabelece-se que o preço mínimo a ser concordado nesta reunião não deverá ser inferior que o preço indicativo. Este que orientou toda uma campanha do produtor.

B.3 - Submissão pelo MINAG da proposta do preço mínimo definitivo ao órgão competente para aprovação.

B.4 - Aprovação do preço mínimo definitivo pelo órgão competente. Face à extinção da Comissão Nacional de Salários e Preços (CNSP), órgão multiforme competente para a aprovação do preço até a campanha 2005/2006, esta responsabilidade compete ao Conselho de Ministros ou outra entidade por este indicado, actualmente o Comité Interministerial de Preços.

B.5 – Publicação do preço pelos órgãos de informação e sua divulgação multiforme. FÓRMULA DO CÁLCULO DO PREÇO MÍNIMO Desde a campanha de 1994/1995 que foi adoptado e está em uso o critério de paridade na determinação do preço mínimo, que tem em vista uma partilha “justa” da receita bruta potencial do algodão (fibra e semente) entre as partes (produtores e empresas) competindo a cada parte gerir os custos de produção de modo a garantir renda e lucros sustentáveis. A fórmula de cálculo do preço mínimo ao produtor por paridade é a seguinte:

PM = {[ IA – ((FS+DQ) – TT) x FC x TC] x TD +VS} x PP

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III

DESCRIÇÃO DOS PARÂMETROS DA FÓRMULA DO PREÇO 1-IA→ É o chamado Índex “A”, e é o preço internacional de referência da fibra, expresso em cêntimos do dólar por libra-peso. Embora no passado se tenha usado o NE (norte da Europa), a deslocalização da indústria têxtil deste continente para Ásia fez com que se passasse a usar o FE (Este Asiático). O IA é publicado diariamente pela empresa cotlook (www.cotlook.org) e refere-se, em termos de qualidade, no algodão de referência ou base STRICT MIDDLING. nos padrões internacionais, equivalente ao tipo I com o comprimento de 1”1/16, na tipificação nacional. Para inserção na fórmula do preço mínimo, convenciona-se o uso da média dos últimos 6 meses anteriores ao dia do cálculo do preço. 2-FS (frete e seguro)→ É o custo do Frete e Seguro para os portos de destino, neste caso Este Asiático, cuja média é de 10,00/cêntimos do dólar por libra-peso da fibra. 3-DQ→Diferencial de qualidade da fibra é o somatório das bonificações menos as penalizações calculadas com base no algodão do tipo I com o comprimento de 1” 1/16. Calcula-se o diferencial de qualidade das últimas 3 campanhas(das últimas duas completas e a que estiver a decorrer), obtendo assim a tendência estável da evolução deste indicativo 4-TT→Taxa de transacção imposta pelo decreto 8/91 de 23 de Abril e alterado pelo decreto 33/91 de 30 de Dezembro, e recai sobre todo algodão em rama transaccionado, produzido pelo sector familiar. 5-FC→Factor de conversão de libra-peso para quilograma(2.2046). Prende-se com o facto do algodão ser comercializado pelo sistema britânico de peso enquanto em Moçambique usa-se o sistema internacional (quilograma). 6-TC→Taxa de câmbio é a média de câmbio ponderado a nível do Banco Central. Utiliza-se a média da taxa de câmbio dos últimos 6 meses, antes da negociação, publicado no Jornal Notícias e é utilizada para conversão do dólar para o metical. 7-TD→Taxa de descaroçamento é calculada a partir do rendimento industrial do processo de descaroçamento do algodão caroço. Este rendimento, dependendo da variedade utilizada, pode variar de 33 a 41%, neste caso aplica-se a média das últimas 3 campanhas. 8-VS→Valor da semente depois de deduzido 12% do total da semente resultante do descaroçamento, devolvida gratuitamente ao produtor para a sementeira seguinte, multiplicado pelo custo do quilograma da semente. 9-PP→Partilha do produtor na receita FOB expressa em percentagem, que varia de 50 a 55%. Isto é, a partir do valor obtido calcula-se a partilha do produtor na receita, ou seja, o preço do algodão caroço que varia de 50 a 55 %.