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REFORMA DE SENTENÇA TERMINATIVA E JULGAMENTO IMEDIATO DO MÉRITO NO PROCESSO DO TRABALHO
Estêvão Mallet
Professor Associado do Departamento de
Direito do Trabalho da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo
Resumo: O efeito devolutivo de recurso contra sentença terminativa (Lei n. 10.352) e o duplo grau de jurisdição em caso de reforma, além de antecedentes legislativos e Direito comparado são itens abordados pelo autor,
Abstract: The returnable effect of the appeal against terminative sentence (Law n. 10.352) and the double jurisdiction grade in reformation cases, added to the legislativos antecedents and Comparated Law are the itens boarded by the author.
Unitermos: reforma de sentença terminativa; compatibilidade com processo trabalhista;
Lei n. 10.352; efeito devolutivo da apelação
1. Introdução.
A reforma da legislação processual, iniciada em 1994, compreende
medidas c o m diferentes graus de importância. Algumas envolvem correção de
imperfeições pouco significativas, por vezes de caráter meramente terminológico, como
é o caso, para mencionar apenas u m exemplo recente, da nova redação dada ao art. 475,
inciso II, do CPC. Substitui-se a equivocada alusão a improcedência da execução pela
referência, tecnicamente mais correta, a procedência dos embargos à execução. Outras
medidas, ao contrário, contêm avanços muito mais expressivos. Alteram diretrizes
tradicionais, deixam de lado princípios sedimentados e abandonam postulados antes
considerados intocáveis, tudo para permitir a prestação mais eficiente e eficaz da atividade
jurisdicional. É o caso do § 3o, introduzido no art. 515, do C P C , que, ao ampliar o efeito
devolutivo da apelação, admite o imediato julgamento do mérito, e m caso de reforma
de sentença terminativa, nos seguintes termos: "nos casos de extinção do processo sem
julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa
versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento "
246 Estêvão Mallet
Para interpretar adequadamente essa regra e bem compreender o seu
significado é preciso ter em mente, em primeiro lugar, as limitações antes impostas ao
eleito devolutivo da apelação.
2. Efeito devolutivo de recurso contra sentença terminativa antes da Lei n. 10.352.
De acordo com o regramento em vigor antes da Lei n. 10.352, a apelação,
tal como o recurso ordinário do processo do trabalho - não há, entre u m meio de
impugnação e o outro, nesse ponto, diferença alguma -, tinha efeito devolutivo mais
limitado. Quando interposta contra sentença terminativa, não permitia, caso reformada
a decisão, o imediato julgamento do mérito do processo1 O retorno dos autos ao juízo
de primeiro grau, para exame do mérito, era de rigor, sob pena de nulidade da decisão,
cm respeito, segundo se imaginava, ao princípio do duplo grau de jurisdição2
N a verdade, porem, a apontada limitação,do efeito devolutivo da
apelação, antes da Lei n. 10.352, era fruto de mera opção legislativa. Não constituía
desdobramento do princípio do devido processo legal ou mesmo da garantia de duplo
grau de jurisdição. É o que cabe doravante demonstrar.
3. Duplo grau de jurisdição, devido processo legal e julgamento imediato do mérito
em caso de reforma de sentença terminativa
O duplo grau de jurisdição, embora possa ser concebido com maior ou
menor amplitude, variando, portanto, de u m ordenamento jurídico para o outro3
normalmente não assegura pelo menos dois juízos sobre todas as questões discutidas
I. José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, Rio de Janeiro, Forense, 2000, vol. V, n. 238, p. 425.
2. Assim, expressamente, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Sobre os limites objetivos da apelação civil, São Paulo, s. e. p., 1986, p. 102, e Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito processual civil, Rio de Janeiro, Forense, 2000, v. I, n. 543, p. 505, nota 58. E m jurisprudência: "Apelação civil. Tantum devolutum quuntum upellutum. Art. 515 do CPC. Duplo grau de jurisdição. Extinto o processo, sem julgamento do mérito, na instância inferior, com base no art. 267, VI, do CPC, não é possível ao juízo de segunda instância, em grau de apelação, apreciar o mérito, julgando procedente a ação, sob pena de comprometer o duplo grau de jurisdição. Recurso extraordinário conhecido e provido."(STF - 1" T., R E n. \l "hl#hl"\l "h3#h3" 103.588/SC, Rei. Min. Rafael Mayer, julg. em 03.12.84 in DJU de 19.12.84, p. 21.920) e "Apelação. Carência de ação reconhecida pela sentença. Impossibilidade do tribunal, apreciando recurso de apelação, julgar o mérito do pedido inicial. Violação do princípio do duplo grau de jurisdição e ofensa ao art. 515, par Io, do CPC. Recurso extraordinário parcialmente conhecido e provido."(STF- Ia
T., REn.M "hl#hl"\l "h3#h3" 84.467/SP, Rei. Min. Bilac Pinto, julg. em 19.10.76/» DJU de 19.11.76).
3. Enrico Redenti, Diritto processuale civile, Varese, Giuffrè, 1985, 2, n. 161, p. 404.
Reforma da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 2i
no processo. Garante simplesmente a possibilidade de a controvérsia, compreendid
e m sua integralidade, passar por duplo exame. C o m o escreve Mario Villani,
consagração do duplo grau de jurisdição "non esige che ogni singola questione veng
esaminata due volta: è Ia controvérsia nel suo complesso che deve pote
passarc.atraverso due gradr* Torna-se isso muito claro quando se consideram c
sistemas jurídicos que, embora acolhendo o princípio do duplo grau de jurisdição
como ocorre no Direito francês -, permitem, com largueza, a apresentação, perante
tribunal, de questões não examinadas no juízo recorrido5 Para essas questões nova
não se oferece duplo exame.
Mesmo no direito brasileiro, que, nessa matéria, seguiu a linha do process
austríaco,6 limitando sensivelmente a possibilidade de exame de questões novas n
juízo recursal, nunca se afastou completamente ojus novorum na apelação. Além d
art. 517, do CPC, a própria extensão conferida pelos §§ Io e 2o, do art. 515, também d
* CPC, ao efeito devolutivo da apelação permite que certas questões fiquem sujeitas
apenas u m julgamento. Se a defesa assenta em dois diferentes fundamentos, pode dai
se a rejeição do pedido por apenas u m deles, sem exame do outro. C o m o recurso d
autor, ao tribunal transfere-se o exame de ambos os fundamentos, inclusive o daquel
não apreciado em primeiro grau de jurisdição. E sobre esse fundamento, não examinad
em primeiro grau, não haverá duplo juízo, mas apenas o juízo emitido pelo tribunal7
Assim entendido o duplo grau de jurisdição, percebe-se que
possibilidade ou-não de exame imediato do mérito do processo, no caso de proviment
4. Appello (diritto processuale civile) em Enciclopédia dei Diritto, Varese, Giuffrè, 1958, II, p. 719. N o mesmo sentido, na jurisprudência trabalhista, colhe-se, em acórdão proferido no R O A R n. 736.660, da SDI - II, do Tribunal Superior do Trabalho, relatado pelo Min. João Oreste Dalazen, a seguinte precisa afirmação:"... para a realização do princípio do duplo grau não se quer que o juízo "a quo" haja exaurido a matéria de mérito no julgamento da lide. Basta que haja julgado o(s) pedido(s)."(julg. e m 05.03.00 in DJU de 12.04.02).
5. A conjugação do art. 564 com o art. 565, do Code de Procédure Civile, permite afirmar a ampl possibilidade de alteração da causa de pedir na apelação do direito francês, desde que não se altere pedido. É, ao que parece, a conclusão de Jean Vincent e Serge Guinchard (Procédure civile, Paris, Dallo: 1999, n. 1.431, p. 971) e de Gérard Cornu e Jean Foyer (Procédure civile, Paris, PUF, 1996, p. 611).
6. A propósito, Luiz Machado Guimarães, Efeito devolutivo da apelação in Estudos de direit processual civil, Rio de Janeiro, Editora Jurídica e Universitária, 1969, p. 216 e segs.
7. Figure-se u m exemplo. E m reclamação envolvendo pedido de pagamento de horas extras, oferec o reclamado defesa e m que alega: a) não-prestação de horas extras e b) exercício, pelo empregado, c cargo de confiança, incompatível com a exigibilidade de horas extras (CLT, art. 62, inciso II). Julgad improcedente o pedido, com o acolhimento do primeiro fundamento da defesa, o recurso ordinári interposto pelo reclamante devolve ao tribunal o exame integral da lide, nos exatos termos do art. 515, $ 1° e 2o, do CPC. Reconhecida a prestação de horas extras, ao tribunal cabe julgar se o empregado exerc ou-não cargo de confiança; embora sobre tal matéria não se tenha pronunciado o juízo de primeiro gra
248 Estêvão Mallet
de recurso interposto contra sentença terminativa, constitui mera decorrência do efeito
devolutivo da impugnação. Se esse efeito é mais limitado, por opção do legislador, o
exame do mérito não pode ter lugar. Se, diversamente, atribui-se ao efeito devolutivo
maior amplitude, pode-se desde logo julgar o mérito do processo. E m qualquer hipótese,
contudo, não se elimina o princípio do duplo grau de jurisdição, que se acha preservado
pela simples permissão do recurso.
D e todo modo, o duplo grau de jurisdição não constitui - cumpre dizê-lo
com clareza - decorrência necessária da garantia do devido processo legal, de modo
que não está posto ao abrigo de qualquer limitação por parte do legislador ordinário.
Prova-o a previsão, na Constituição brasileira - em que expressamente se acolhe a
garantia do devido processo legal -, de causas julgadas e m única instância (art. 102,
incisos I e III). A questão é, aliás, absolutamente pacífica na jurisprudência da Suprema
Corte norte-americana, e m torno da qual se construiu, em grande medida, o conceito
de devido processo legal. E m McKane v. Durston, por exemplo, registrou a Corte: "A
review by an appellate court of the final judgment in a criminal case, however grave
the offense ofwhich the accused is convicted, was not at common law, and is not now,
a necessary element ofdue process oflaw. It is wholly within the discretion ofthe state
to allow or not to allow such a review. A citation of authorities upon the point is
unnecessary"*. Já em National Union v. Arnold reafirma-se a mesma idéia em matéria
civil, consignando-se que "a statutory review...is not a requirement ofdue process"1*
Não discrepa a Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, como mostra decisão
com a seguinte ementa: "Diante do disposto no inciso III do artigo 102 da Carta
Política da República, no que revela cabível o extraordinário contra decisão de última
ou única instância, o duplo grau de jurisdição, no âmbito da recorribilidade ordinária,
não consubstancia garantia constitucional" 10
8. 153 U.S. 684.
9. 348 U.S. 37. Ainda em Reetz v. People of State ofMichigan (188 U.S. 505) pode-se ler: "Neither is the right ofappeal essential to due process ofluw...In civil cases a common rule is that the amount in controversy limits the entire litigation to one court..." Finalmente, em Luckenbach S.S. Co. V. United States (272 U.S. 533) encontra-se a seguinte assertiva: "The constitutional requirements are ali satisfied ifone opportunity is hadfor the trial ofallparts ofa case. Everything beyond that is matter of legislative discretion, not of constitutional right" Não é sem interesse notar que Thomas Cooley, ao indicar as características do due process oflaw, depois de se referir ao direito de ser previamente ouvido por um tribunal imparcial, com jurisdição adequada e aplicação de punição apenas depois do julgamento, não menciona, em nenhum momento, o direito ao recurso (The general principies of constitucional law, N e w Jersey, The Lawbook Exchange, 2000, p. 224).
10. STF - 2a T„ A g R g AI n. 209.954-l/SP, Rei. Min. Marco Aurélio, julg. em 15.09.98 in D.J.U. de 4.12.98. Sempre no mesmo sentido, STF, 2a T, R H C 80.919-SP, Rei. Min. Nelson Jobim, julg. em 12.06.01
Reforma da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 249
Em síntese, a possibilidade de julgamento imediato do mérito, em caso
de reforma de sentença terminativa, não conflita, de modo algum, com a regra do
duplo grau de jurisdição, ao menos nos termos em que ela é tradicionalmente concebida
no Direito brasileiro, a qual, ademais, não exterioriza desdobramento necessário da
garantia constitucional do devido processo legal.
4. Antecedentes legislativos e Direito comparado.
A nova previsão do § 3o, do art. 515, do CPC, não é completa novidade
no direito brasileiro e muito menos no comparado.
As Ordenações Filipinas, que tratavam com largueza o efeito devolutivo
da apelação, estendendo-o a ambas as partes, inclusive à que não havia apelado"
impunham, como regra, o imediato julgamento do mérito do processo em caso de
reforma de sentença terminativa, repelindo a devolução dos autos ao juízo de primeiro
grau para novo julgamento. Apenas excepcionalmente, havendo requerimento de ambas
as partes, é que prevalecia solução diversa. Dispunha o Livro III, Título LXVIII,
principio, das Ordenações Filipinas: "Quando alguma das partes appellarda sentença,
que contra elle for dada...e depois que ofeitofôr concluso, vejam-no os Julgadores, a
que o conhecimento de tal appellação pertencer; e se for appellado da sentença
interlocutória, e acharem que foi bem appellado, e que o appellante foi aggravado
pelo Juiz, assi o determinam, e não mandem tornar o feito ao Juiz, de que foi appellado,
mas vão por elle em diante, e o determinem finalmente, como acharem por Direito,
salvo, se o appellante e o appellado ambos requererem, que se torne o feito á terra
perante o Juiz, de que foi appellado, porque então se tornará, e será assinado termo,
a que o vão lá seguir" O Código de Processo da Bahia manteve tal diretriz,
preceituando, no art. 1.290: "Tendo o juiz de primeira instância deixado, por qualquer
motivo, de julgar a causa de meritis, a turma ou o juiz da appellação, si entender que
isto não obsta que se conheça do pedido, julgará a causa defintivamente "
N o Direito comparado é paradigmática a solução vigente no Direito
francês. O art. 568, do Code de Procédure Civile, preocupado com a rápida solução do
in Informativo STF 232, de 11 a 15 de junho de 2001, STF, Ia T, AgAICrim n. 248.761/RJ, Rei. Min. limar Galvão, julg. em 11.04.00 in DJU de 23.06.00, p. 10 e, ainda, STF, laT.,HC-71.I24/RJ, Rei. Min. Sepulveda Pertence, julg. em 28.06.94 in DJU de 23.09.94, p. 25.314. Isolada e minoritária, pois, a seguinte pronúncia: "...o princípio constitucional da ampla defesa...por si, pressupõe mais de u m grau de jurisdição"(STJ - Ia Sec, M S n. 4.831 -DF, Rei. Min. Demócrito Reinaldo in DJU de 16.06.97, p. 27.308!).
11. Almeida e Sousa considera certíssima a máxima segundo a qual a apelação é comum a ambas as partes (Segundas linhas sobre o processo civil, Lisboa, Imprensa Nacional, 1855, parte II, nota 645, p. 385).
250 Estêvão Mullet
litígio12 determina: "Lorsque Ia cour d'appel est saisie d'un jugement qui a ordonné
une mesure d "mstruction, ou d 'un jugement qui statuant sur une exception de procédure,
a mis fin à l "instance, elle peut évoquer les points non jugés si elle estime de bonne
justice de deonner à l 'ajfaire une solotion définitive, après avoir ordonné elle-même, le
cas échéant, une mesure d "mstruction" N o Cantão de Genebra a mesma possibilidade
existe, mas depende de concordância das partes. O art. 311, da Lei de Procedimento
Civil, de 1987, acha-se assim redigido: "Jugement sur incident. 1. Si le jugement n'a
tranche qu 'un incident, Ia cour ne statue que sur cet incident; Ia décision du fond est
renvoyée aujuge de première instance. 2. Si toutes les parties le requièrent, Ia cour peut
toutefois, en infirmant Ia décision du prender juge, par le même arrêt, prononcer sur le
fond\ Já no direito belga impõe-se ao juízo do recurso o imediato julgamento do mérito
do litígio, ainda quando terminativa a decisão impugnada, impedindo-se mesmo o reenvio
da causa ao juízo recorrido, salvo se confirmada determinação de realização de medida
instrutória. O art. 1.068, do Code Judiciaire, tem, na redação francesa, o seguinte texto:
"Tout appel d'un jugement définitif ou avant dire droit saisit dufond du litige le juge
d'àppel. Celui-ci ne renvoie Ia cause au premier juge que s'il confirme, même
partiellement, une mesure d'instruction ordonnée par le jugement entrepris". O direito
português mostra-se ainda mais avançado. Embora preveja recurso específico em caso
de extinção do processo sem julgamento do mérito, correspondente ao agravo, reservando
a apelação para os casos de extinção com julgamento do mérito,13 admite que, ao julgar
o agravo, o tribunal desde logo resolva em definitivo o litígio. Preceitua o art. 753, n. 1,
do Código de Processo Civil: "Sendo o agravo interposto de decisão final e tendo o juiz
de 1a instância deixado, por qualquer motivo, de conhecer do pedido, o tribunal, se julgar
que o motivo não procede e que nenhum outro obsta a que se conheça do mérito da
causa, conhecerá deste no mesmo acórdão em que revogar a decisão de Ia instância"
N o Direito chileno merece referência o art. 208, do Código de
Procedimiento Civil, assim redigido: "Podrá ei tribunal de alzadafaliar Ias cuestiones
ventiladas en primem instância y sobre Ias cuales no se haya pronunciado Ia sentencia
apelada por ser incompatibles con lo resuelto en ella, sin que se requiera nuevo
pronunciamiento dei tribunal inferior"
Mesmo nos ordenamentos jurídicos da common law, a despeito das sensíveis
diferenças que apresentam frente aos da civil law, encontra-se solução similar à do art.
12. Jean Vincent e Serge Guinchard, Procédure civile cit., n. 1447, p. 978.
13. É a regra geral, como exposto por João de Castro Mendes, que sublinha a existência de casos duvidosos e de situações excepcionais, envolvendo decisão de mérito suscetível de agravo (Direito processual civil, s. 1. e., Edição A A F D L , 1989, IIIo vol., p. 87 e segs.).
Reformo du Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 251
515, § 3o, do CPC brasileiro. No art. 909, do Code of Civil Procédure do Estado norte-
americano da Califórnia, por exemplo, ao disciplinar o julgmento de apelação interposta
e m causas não sujeitas a julgamento por júri, estatui o legislador: "The reviewing court
mayfor the purpose ofmaking thefactual determinations orfor any other purpose in the
interests of justice, take additional evidence ofor concerning facts occurring at any time
prior to the décision ofthe appeal, and may give or direct the entry of any judgment or
order and may make any further or other order as the case may require. This section
shall be liberally construed to the end among others that, where feasible, causes may be
finally disposed of by a single appeal and without further proceedings in the trial court
except where in the interests of justice a new trial is requiredon some orall ofthe issues"
C o m o se vê, a solução consagrada no § 3o, do art. 515, encontra amplo
respaldo nos mais diferentes diplomas legislativos.
5. Fundamentos da regra.
A possibilidade de imediato exame do mérito, em caso de acolhimento
de recurso interposto contra sentença terminativa, acha-se respaldada na idéia de
obtenção de maior rendimento na atividade jurisdicional.
É desejável, desde que não se comprometam as garantias fundamentais
dos litigantes, que o processo ofereça o máximo possível de rendimento, com menor
custo e dispêndio de tempo, em respeito ao princípio da economia processual.14
É igualmente desejável que, na medida do possível e respeitadas as
condições pertinentes, leve o processo a decisão de mérito, resolvendo em definitivo o
conflito existente entre os litigantes15 finalidade principal da atividade jurisdicional.Ift
14. Teve o Supremo Tribunal Federal ocasião de registrar: "Princípio da oralidade Economia processual. Tanto quanto possível, busca-se, com u m mínimo de atuação judicante, a máxima eficácia das normas que compõem a ordem jurídica."(STF - Pleno, RCL-37 l/RR, Rei. Min. Marco Aurélio, julg. c m 25.08.92, in D J U de 02.04.93, p. 5.613).
15. Interessante notar, a propósito, que o Revised Code do Estado norte-americano de Washington, em seu Título 2.04.190, ao atribuir à Suprema Corte do Estado a prerrogativa de editar normas sobre pleuding, pruetice, and procédure generully ("The supreme court shall have the power to prescribe, from time to time, theforms ofwrits and ali other process, the mode und manner offraming andjiling proceedings and pleadings; ofgiving notice and serving writs and process ofall kinds; oftuking and obtaining evidence; ofdrawing up, entering and enrolling orders and judgments; and generully to regulute und prescribe by rule theforms for and the kind and charueter ofthe entire pleuding, practice and procédure to be used in ali suits, uctions, uppeuls und proceedings ofwhutevernuture by the supreme court, superior courts, and district courts ofthe state"), impõe levem essas normas em conta o seguinte propósito: "In prescribing such rules the supreme court shall have regará to the simplification ofthe system of pleuding, practice und procédure in saia courts to promote the speeáy determination oflitigation on the merits". A preocupação com a promoção do rápido julgamento do mérito do litígio evidencia a relevância da nova regra do art. 515, § 3o, do C P C brasileiro.
16. A propósito, Cario A. Nicolleti, La conciliazine nel processo civile, Milano, Giufrè, 1963, n. 147 e segs.
252 Estêvão Mullet
Assim, se a causa, quando de seu exame nó juízo do recurso, diante do
estado e m que se encontra, já comporta julgamento de mérito, não há razão suficiente
para que se devolvam os autos ao juízo de primeiro grau, a fim de que nova sentença
seja proferida, tanto mais quando é muito provável que a nova decisão venha a ser
impugnada, retornando o feito ao exame do tribunal. Haveria considerável gasto
adicional de tempo e significativo acréscimo de custo para o aparelho judiciário, com
ganho qualitativo pouco expressivo. Daí a preocupação do legislador, subjacente à
regra do art. 515, § 3o, do CPC, de evitar os "incômodos, despesas e demoras resultantes
do vai-vem do processo", para utilizar as palavras de José Alberto dos Reis.17
É verdade que o julgamento do mérito apenas no juízo do recurso tem
pelo menos u m inconveniente: afasta a pronúncia sobre o fundo do litígio pelo órgão
judiciário que colheu as provas, quebrando o vínculo que deve haver entre a atividade
de produção da prova e a de julgamento da lide. Essa quebra é ainda mais indesejável,
quando - como ocorre com freqüência no processo do trabalho - a análise das provas
testemunhais é importante para a correta solução da lide. Isso porque os juizes que não
ouviram as testemunhas depondo - ressalta François Gorphe, e m estudo dedicado
exatamente à valoração da prova testemunhai - "n'ont aucun moyen d'apprécier les
témoignages"n Nas palavras de Denti, "il vero giudizio di fatto è quello che sipone in
rapporto di immediatezza com l 'assunzione delle prove e discende da una participazione
direita dei giudice alie attività istruttorie"19 Hazard e Taruffo ainda sublinham: '"il
giudice dei dibattimento di primo grado si trova in una posizione in cui può meglio
valutare Ia credibitlià dei testimoni"20
Mas o julgamento fundado em apreciação das provas testemunhais por
quem não acompanhou a sua produção não é problema causado apenas pela regra do §
3° do art. 515, do CPC, e nem seria eliminado com a sua revogação. Trata-se de
dificuldade produzida pela amplitude do duplo grau de jurisdição no Direito brasileiro,
que confere ao juízo do recurso a possibilidade de reexaminar o litígio e m todos os
17. Código de Processo Civil anotado, Coimbra, Coimbra Editora, 1985, vol. VI, p. 184.
18. La critique du témoignage. Paris, Dalloz, 1927. p. 85.
19. Riforma o controriforma dei processo civile ? e m Un progetto per Ia giustizia, Bologna, II Mulino, 1982, p. 288. E m termos quase idênticos, Mauro Cappelletti, Un idolo falso: ei Código de 1942 e m Proceso, ideologias, sociedad, Buenos Aires, EJEA, 1974, p. 289.
20. Lu giustizia civile negli Stati Uniti, Bologna, II Mulino, 1993, p. 209. Veja-se ainda, no mesmo sentido, a categórica advertência de Edoardo F. Ricci: "Se 1'immediatezzu-concentrazione è un valore dei processo moderno, il secondo grado non è un processo degno di questo nome"(Doppio grado di giurisdizione (principio dei), I) Diritto processuule civile e m Enciclopédia giuridica, Roma, 1989, v. 12, p. 8).
Reforma da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 253
seus aspectos21 Mesmo que, após a reforma de sentença terminativa, fosse proferido
novo julgamento pelo órgão judiciário perante o qual se produziram as provas,
especialmente a testemunhai, a interposição de recurso devolveria ao tribunal o reexame
da causa, quebrando a imediação.
E m síntese, nos sistemas em que não há garantia efetiva de imediação -
como é o do Direito Processual brasileiro -, a regra do § 3o, do art. 515, do CPC, traz mais
vantagens, em termos de economia de tempo e de custos, do que desvantagens. Sua adoção
mostra-se, pois, plenamente justificável. Só deixaria de o ser se o recurso de apelação
fosse sensivelmente limitado em seu efeito devolutivo, do ponto de vista da profundidade,
para tomar soberana a decisão do juízo recorrido no tocante aos fatos em debate na causa.
6. Compatibilidade com o processo do trabalho.
A possibilidade de julgamento imediato do mérito, em caso de reforma
de sentença terminativa, é perfeitamente compatível com o processo do trabalho.
O recurso ordinário do processo do trabalho, no tocante aos seus efeitos,
não se distingue e m nada da apelação regulada no direito comum. Trata-se exatamente
do m e s m o recurso, apenas com alteração nominal e com pequenas peculiaridades no
tocante a certas condições de admissibilidade, tais como prazo e depósito recursal. A
falta, no Direito brasileiro, de preceito como o art. 87°, do Código de Processo do
Trabalho português, sujeitando expressamente os recursos do processo do trabalho ao
regime de julgamento estabelecido pelo processo civil22, não tem relevo, suprida que
se acha a lacuna pelo comando genérico do art. 769, da CLT. Aliás, tanto jurisprudência
como doutrina já haviam realçado a aplicação das regras dos §§ Io e 2o, do art. 515, ao
recurso ordinário do processo do trabalho23 Não há razão para que se passe de modo
diverso com o novo preceito adicionado a esse artigo.
21. Como escreve Pedro Batista Martins, o duplo grau de jurisdição "importa o sacrifício de um dos princípios cardeais do sistema oral: o da imediação"(Recursos e processos da competência originária dos tribunais, Rio de Janeiro, Forense, 1957, n. 109, p. 150).
22. O art. 87°, do Código de Processo do Trabalho português, com a redação dada pelo Decreto-Lei n. 480/99, tem o seguinte teor: "O regime de julgamento dos recursos é o que resulta, com as necessárias adaptações, das disposições do Código de Processo Civil que regulamentam o julgamento do recurso de agravo, quer interposto na 1* instância, quer na 2a instância, conforme os casos".
23. E m Jurisprudência: "Recurso - Devolutividade -Amplitude. Se o reclamado em sua defesa articulou mais de u m fundamento mas apenas um deles foi acolhido pela sentença de primeiro grau, o recurso ordinário interposto devolverá ao Tribunal o conhecimento dos demais fundamentos da defesa, ainda que não apreciados pela Junta de Conciliação e Julgamento. Inteligência do art. 515 do CPC. Recurso conhecido e provido."(TST - SBDI1 - E R R n. 208.313/95-1, Rei. Min. Vantuil Abdala in DJU de 21.05.99, p. 87). E m doutrina, cf. Estêvão Mallet, Procedimento sumaríssimo trabalhista, São Paulo, LTr, 2002, n. 38, p. 100/101.
254 Estêvão Mullet
Ademais, a finalidade perseguida pela norma do § 3° do art. 515, do
CPC, encontra-se afinada com o art. 765, da CLT, que sublinha a importância do rápido
andamento das causas trabalhistas.
Não há, pois, como pôr em dúvida a possibilidade de aplicação do § 3o,
do art. 515, do CPC, no processo do trabalho24
7. Pressupostos para o julgamento imediato do mérito cm caso de reforma de sentença
terminativa.
No Direito brasileiro o exame do mérito do litígio, em caso de reforma
de sentença terminativa, depende, consoante o texto do § 3o do art. 515, do CPC, da
natureza da questão em debate, que deve ser, segundo a fórmula legal, "exclusivamente
de direito", e da possibilidade de se dar, desde logo, o seu julgamento.
Logo de início percebe-se o equívoco do legislador em referir-se a questão
exclusivamente de direito. Na verdade, questão alguma é exclusivamente de direito
porque - como lembra Lopes da Costa - a discussão sobre a norma a aplicar "não
pode ser de modo absoluto separada da questão de fato. É do fato que nasce o direito.
Exfacto ius oritur"25
Realmente, pretender separar, de modo rígido, fato e direito não se
compreende. A própria análise dos fatos não é simplesmente atividade voltada à
consideração da realidade. A discriminação dos fatos a serem considerados supõe já
certo enquadramento jurídico da situação, porque os fatos são sempre constatados tendo
em vista "um determinado sentido jurídico"26 Daí dizer Karl Larenz que todas as
situações de fato a apreciar juridicamente "não representam uma pura enumeração de
fatos, mas são o resultado de uma certa escolha...em atenção ao que nisso pode ser
juridicamente relevante" 21 Os fatos são muito variados e nem todos os aspectos da
situação ocorrida revestem-sc de relevância jurídica. Assim, é preciso separar, entre os
24. E m Jurisprudência, aplicando já a nova regra no processo do trabalho: "A lei processual e m vigor pôs fim ao formalismo inútil da chamada supressão de instância. Sc o juiz declarar extinto o processo nos termos do art. 267 do CPC, pode o Tribunal afastar o motivo e decidir a lidc..."(TRT - 2a Reg., 9a T, R O n. 20010377039, Ac. n. 20020198595, Rei. Juiz Luiz Edgar Ferraz de Oliveira, julg. e m 01.04.02 in Revista Nacional de Direito do Trabalho, n. 50, junho de 2002, p. 163).
25. Direito processual civil, Rio de Janeiro, Forense, 1959, v. 111, n. 419, p. 409.
26. Jan Schapp, Problemas fundamentais da metodologia jurídica, Porto Alegre, Fabris Editor, 1985,
p. 40.
27. Metodologia da ciência do direito, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1989, p. 335.
Reformo da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 255
diversos acontecimentos, aqueles efetivamente importantes para a análise jurídica do
problema. M a s a própria delimitação dos acontecimentos relevantes supõe já possível
enquadramento jurídico da situação, porque conforme seja uma ou outra a norma
aplicável, variam os fatos dignos de consideração. E m conseqüência, a definição dos
fatos e a determinação da norma de regência não são momentos distintos e estanques
do processo de formulação da sentença. Muito ao contrário, "a constatação dos fatos
está inserida na apreciação jurídica ", consoante adverte Schapp28 o que transforma a
atividade decisória e m verdadeiro "círculo hermenêutico "2l>, para utilizar a expressiva
fórmula cunhada por Larenz.
E m perfeita sintonia com esse entendimento, lembra Mandrioli ser
impossível conceber como duas operações absolutamente distintas ps juízos sobre os
fatos e sobre o direito, "perché il giudizio di diritto presuppone, nella sua stessa
impostazione...un primo orientamento che non può esser dato che daifatti, mentre il
giudizio di fatto presuppone Ia cernita e Ia messa afuoco degli elementi rilevanti, Ia
quale presuppone a sua volta il riferimento alia portata delia norma"™ Aliás, nem
mesmo no juízo abstrato de constitucionalidade das normas - em que presumivelmente
menos importância poderia ter a realidade concreta - a separação entre fatos e direito
mostra-se cabível, aludindo a doutrina à necessidade de "investigação integrada de
elementos fáticos e jurídicos"31 E tanto é verdade que a Lei n. 9.868, ao regular o
procedimento para julgamento da ação direta de inconstitucionalidade c da ação
dcclaratória de constitucionalidade, reconheceu a importância que os fatos podem ter
no exame da controvérsia, admitindo sejam solicitados pareceres ou ouvidos
especialistas.32
E m conseqüência, superada a pretendida separação rígida entre questão
de fato e questão de direito, a inadequada fórmula do § 3o, do art. 515, do C P C , passa
a dirigir-se às situações em que já há nos autos elementos suficientes para resolução da
controvérsia sobre os fatos relevantes no processo, tornando desnecessárias novas
diligências. É, aliás, a mesma solução estabelecida para hipótese assemelhada-embora
28. Problemas fundamentais da metodologia jurídica cit., p. 40.
29. Metodologia da ciência do direito cit., p. 337.
30. Corso di diritto processuale civile, Torino, Giappichelli, 1993,1, § § 17, p. 81.
31. Gilmar Ferreira Mendes, Controle de constitucionalidade: hermenêutica constitucional e revisão de fatos e prognoses legislativos pelo órgão judicial in Jurisdição constitucional, São Paulo, Saraiva, 1999, p. 356.
32. Arts. 9o, § l°e20, § Io
256 Estêvão Mullet
não idêntica, sublinhe-se -, consoante previsão do parágrafo único, do art. 740, do
CPC: "Não se realizará audiência, se os embargos versem sobre matéria de direito
ou, sendo de direito e de fato, a prova for exclusivamente documental, caso em que o
juiz proferirá a sentença no prazo de 10 (dez) dias" E m ambos os casos, a
desnecessidade de novas diligências impõe o pronto julgamento da causa.
Definido o correto significado da imprópria referência a "questão
exclusivamente de direito", cabe agora apurar se as duas condições mencionadas no §
3o, do art. 515, do CPC, antes indicadas, são aditivas. A esse propósito cumpre ter em
vista que a utilização da partícula "e" nem sempre traduz idéia de adição, ao contrário
do que a alguns pareceu.33 Por vezes serve apenas como "designativa de ordem", como
sublinhou Corrêa Telles, nas notas que apôs à Teoria da interpretação das leis de Domat,
demonstrando sua afirmação com o seguinte exemplo: "se me perguntarem...quaes
são os herdeiros necessários, e eu responder, que são os descendentes e ascendentes,
nem por isso quero dizer, que os ascendentes succedem junctamente com
descendentes"™ Outras vezes a partícula tem significado alternativo. É o que ocorre
quando, para a pergunta sobre os caminhos para se chegar a determinado local, indica-
se que se pode adotar o caminho A e o caminho B35 Tome-se exemplo ainda mais
próximo da questão em debate. Refere-se o art. 475, inciso I, do CPC, ao tratar do
reexame necessário, à sentença "proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal,
o Município, e as respectivas autarquias e fundações de direito público". A despeito
do duplo emprego do "e" a ninguém ocorrerá dizer que está sujeita ao reexame
necessário apenas a sentença simultaneamente contrária a todas as pessoas mencionadas.
A função alternativa - e não-aditiva - das partículas é, no caso, inegável.
Pois bem, se, como visto, o "e" não indica necessariamente adição, não
faria sentido algum que tivesse esse significado no § 3o, do art, 515, do CPC. Qual o
motivo para afastar o exame imediato do mérito do litígio quando semelhante resultado
se pode logo obter, embora não seja "exclusivamente de direito" a questão? Buscou-
33. César Marcos Klouri, Comentários às alterações do Código de Processo Civil in Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo, RT, n. 9, janeiro-junho de 2002, p. 201
34. Auxiliar jurídico -Apêndice às Ordenações Filipinas, Lisboa, Calouste Gulbenkian, 1985, v. I, p. 431.
35. Interessante notar que por vezes é o contrário o que se verifica. Adquire a partícula "ou" significado aditivo e não-alternativo. Exemplo expressivo encontra-se no caput, do art. 286, do CPC. Sobre essa hipótese, cf. José Carlos Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro, Rio de Janeiro, Forense 1993, p. 13, e José Joaquim Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil Rio de Jnnpim' Forense, 1989, v. 3, p. 214. ' '
Reformo da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 257
se, com a dispensa de retorno dos autos ao juízo de primeiro grau, permitir a prestação
mais eficiente, eficaz e rápida da atividade jurisdicional, ideal a ser prestigiado e
favorecido. Logo, não há razão alguma para limitar os casos em que a providência tem
lugar. Daí porque não é preciso estarem presentes simultaneamente as duas condições
mencionadas no art. 515, § 3o, do CPC, para que se julgue o mérito logo após a reforma
da sentença terminativa.
E m conseqüência, mesmo havendo controvérsia sobre direito e também
sobre fatos, seja foram realizadas todas as diligências pertinentes ao esclarecimento
desses fatos, após larga instrução processual, sem, todavia, decisão de mérito -
pronunciando-se, por exemplo, a carência de ação, o que sabidamente pode ocorrer a
qualquer tempo (CPC, art. 267, § 3o)36 -, o acórdão que reformar a sentença poderá
desde logo reconhecer a procedência do pedido. Diversamente, se, pelo acolhimento
de preliminar de inépcia, suscitada em defesa, o julgamento terminativo ocorreu sem
que as provas tenham sido produzidas, afastada a inépcia, o julgamento do mérito não
pode se dar de imediato. E m síntese, teria sido muito mais simples se houvesse o
legislador brasileiro deixado claro, com melhor técnica, que o imediato julgamento do
mérito depende apenas da inexistência de qualquer obstáculo, seja.por não ter havido
controvérsia sobre os fatos no juízo recorrido, seja por já haverem sido produzidas
todas as provas necessárias ao deslinde da controvérsia.
8. Natureza da atribuição de julgamento imediato do mérito.
Presentes os pressupostos antes analisados, o julgamento imediato do
mérito não constitui mera faculdade conferida ao juízo do recurso. Trata-se, ao
36. Cf., sobre o tema, Liebman, Manual de direito processual civil, São Paulo, Forense, 1985, vol. I, n. 74, p. 154. E m jurisprudência: "Acerca dos pressupostos processuais e das condições da ação, não há preclusão para o juiz, a quem é lícito, em qualquer tempo e grau da jurisdição ordinária, reexaminá-los, não estando exaurido o seu ofício na causa."(STJ - 4a T, Resp n. 18.71 l/SP, Rei. Min. Barros Monteiro, julg. de 31.05.93 in DJU de 30.08.93, p. 17.296.); "O tribunal da apelação, ainda que decidido o mérito na sentença, poderá conhecer de ofício da matéria concernente aos pressupostos processuais e às condições da ação. Nas instâncias ordinárias não há preclusão para o órgão julgador enquanto não acabar o seu ofício jurisdicional na causa pela prolação da decisão finaI."(STJ - 4a T, A G R E s p n. 192.199/RS, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julg. e m 10.08.99 in DJU de 20.09.99, p. 66). De modo ainda mais abrangente, admitindo até mesmo o reexame de decisão de saneamento, para declarar carência de ação antes afastada: "Após declarar saneado o processo, não fica o juiz impedido de declarar a ilegitimidade da parte. A preclusão é sanção imposta à parte e não ao juiz, que pode examinar os pressupostos processuais e as condições da ação desde a petição inicial até o julgamento definitivo da lide."(STJ - Ia T., Resp n. 199.471 /RJ, Rei. Min. Garcia Vieira, julg. e m 04.05.99, in DJU de 21.06.99, p. 87). N o sentido do último julgado, e m doutrina, Ovídio Batista da Silva, Curso de processo civil, São Paulo, RT, 1998, vol. 1, p. 211 e José Rogério Cruz e Tucci, Sobre a eficácia preclusiva da decisão declaratória de saneamento in Revista dos Tribunais, v. 640, passim, especialmente p. 23.
258 Estêvão Mallet
contrário, de verdadeiro dever.37 O fato de haver o legislador disposto que o tribunal
"pode julgar desde logo a lide" não o impondo claramente, não é de modo algum
determinante.
E m primeiro lugar, é sabido que muitas vezes a expressão utilizada
pelo legislador, reconhecidas as deficiências e as limitações da interpretação gramatical,
não constitui o argumento decisivo no campo da hermenêutica jurídica.3K Poder-se-ia
dizer, repetindo Celso: "conhecer as leis não é ater-se a suas palavras, mas
compreender sua força e efeitos" ?* Mais tarde Emilio Betti afirmaria ser a superação
da interpretação "alia lettera delia legge" a principal exigência imposta ao verdadeiro
interprete do Direito40, até porque o correto sentido de qualquer declaração, não apenas
das declarações jurídicas, depende sempre "de pressupostos mais complexos que o
puro sentido literal"41. Não custa sublinhar o que teve a Suprema Corte norte-americana
ocasião de assentar, e m United States v. American TruckingAssns, de 1940, ao expor
as limitações da interpretação meramente literal, que por ela nunca foi considerada
decisiva e determinante: "There is, of course, no more persuasive evidence of the
purpose ofa statute than the words by which the legislature undertook to give expression
to its wishes. Often these words are sufficient in and of themselves to determine the
purpose ofthe legislation. In such cases we have followed their plain meaning. When
that meaning has led to absurd orfutile results, however, this Court has looked beyond
the words to the purpose ofthe act. Frequently, however, even when the plain meaning
did not produce absurd results but merely an unreasonable one plainly at variance
with the policy of the legislation as a whole' this Court has followed that purpose,
37. N o mesmo sentido, de modo hesitante, porém, e sem indicação de fundamentos para a conclusão, Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda Alvim Wambier, Breves Comentários à 2a Fase da Reforma do Código de Processo Civil, São Paulo, RT, 2002, p. 142.
38. Cf., dispensando outras referências, Francesco Ferrara, Truttuto di diritto civile italiano, Roma, Athenaeum, 1921, t. 1, p. 214. Na jurisprudência vale a alusão ao seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça: "Muitas vezes a interpretação literal contraria profundamente o espírito da lei"(STJ Ia T, REsp. n. 23I.3I3-RS, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, julg. e m 22.08.00 in Revista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 140, p. 143/144).
39. Digesto, I, III, 17.
40. Interpretazione delia legge e degli atti giuridici, Milano, Giuffrè, 1949, 179/180.
41. Philipp Heck, Interpretação da lei e jurisprudência dos interesses, São Paulo, Saraiva, 1948, p. 53. E m Helvering v. New York Trust Co., de 1934, assinalou a Suprema Corte norte-americana: "a thing which is within the intention ofthe mukers ofa statute is as much within the stutute as ifit were within the letter, anda thing which is within the letter ofa statute, is not within the statute, unless.it is within the intention ofthe mukers" (292 U.S. 455).
Reformo du Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 259
rather than the literal words"42 Certamente não será preciso insistir ainda mais no
ponto.
Não bastasse o já exposto, freqüentemente exprime o legislador
verdadeira obrigação imposta ao juiz por meio da alusão a algo que pode ele fazer43
U m bom exemplo encontra-se no art. 273, do CPC, que igualmente alude à possibilidade
de o juiz antecipar a tutela pedida, já havendo a doutrina sublinhado que o provimento
tem de ser concedido, tanto que presentes os seus pressupostos44 Por isso mesmo,
quando se está diante de verdadeira faculdade, a fórmula legal é clara e induvidosa,
como ocorre, por exemplo, no direito francês, em que o julgamento imediato do mérito
fica condicionado a que o tribunal considere "de bonne justice de donner à 1'affaire
une solution définitive", nos termos do art. 568, do Code de Procédure Civile,
anteriormente mencionado45
Cabe lembrar ainda, e m terceiro lugar, que a obtenção do maior
rendimento com a atividade processual, idéia que, em correspondência com o princípio
da economia processual, inspira a norma do § 3o, do art. 515, do CPC,46 não pode ficar
na dependência da vontade do julgador. Constitui, pelo contrário, objetivo a ser
perseguido permanentemente, sem prejuízo das garantias conferidas aos litigantes. E
tanto é assim que o Superior Tribunal de Justiça já realçou ser o julgamento antecipado
da lide providência de caráter obrigatório e não facultativo.47
42. 310 U.S. 534. Também em Helvering v. Morgans Inc., de 1934, a Corte sublinhou a mesma proposição, aduzindo, e m material tributária: "...the true meaning ofa single section ofa statute in a setting as complex us that ofthe revenue acts, however precise its language, cunnot be uscertuined ifit be considered upurt from relate d sections, or if the mind be isolated from the history of the income tax legislation of which it is an integral purt"(293 U.S. 121).
43. Sobre o tema, amplamente, Carlos Maximiliano, Hermenêutica e aplicação do direito, Rio de Janeiro, Forense, 1991, n. 331 e ss., p. 270 e ss.
44. No processo civil, cf. José Carlos Barbosa Moreira, A antecipação da tutela jurisdicional na reforma do Código de Processo Civil in Revista de Processo, São Paulo, RT, 1996, n. 81, p. 208, e, no processo do trabalho, Estêvão Mallet, Antecipação da tutela no processo do trabalho, São Paulo, LTr, 1999, p. 94.
45. Compreende-se, ante tal fórmula, considere a doutrina francesa o julgamento imediato do mérito "une simple faculte, nullement une obligution"(iean Vincent e Serge Guinchard, Procédure civile cit., n.
1445, p. 977).
46. Antes, item 5.
47.0 acórdão tem a seguinte ementa: "Presentes as condições que ensejam o julgamento antecipado da causa, é dever do juiz, e não mera faculdade, assim procedcr"(STJ - 4a T, REsp n. 2.832-RJ, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo in DJU de 17.09.90, p. 9.513). Ainda na mesma linha: "Cerceamento de defesa. Dispensa de testemunha. Não configuração...não configura cerceamento de defesa a dispensa de testemunha quando o julgador, sentindo-se convencido com a prova colhida, inclusive testemunhai, entender desnecessária a oitiva das demais testemunhas arroladas face a inexistência de controvérsia acerca do fato probante"(STJ - 3a T, R E S P n. 40.212/BA, Rei. Min. Cláudio Santos in DJU de 02.05.94, p. 10.008).
260 Estêvão Mullet
Por fim, no processo do trabalho é ainda mais evidente o caráter imperativo
do julgamento imediato do mérito, quando presentes os pressupostos mencionados no
§ 3o, do art. 515, diante da obrigação imposta ao juízo pelo art. 765, da CLT.
9. Julgamento imediato do mérito e conduta do recorrente.
Do que acaba de ser dito no item anterior tira-se que o julgamento
imediato do mérito, e m caso de reforma de sentença terminativa, não depende de
requerimento do recorrente. Não cabe argumentar, para justificar solução diversa, com
o caput, do art. 515,48 porque o § 3o constitui exceção à primeira norma. Tampouco
importa o desejo da parte de, com o retorno dos autos ao juízo recorrido, produzir
provas adicionais.49 D e duas, uma: ou as provas que a parte pretende produzir são
pertinentes, ou não. Sendo pertinentes, não cabe aplicação do § 3o, do art. 515, porque
não se encontram presentes as condições para o julgamento imediato do mérito no
juízo do recurso.50 Se são impertinentes as provas, não serão produzidas nem mesmo
em primeiro grau de jurisdição (CPC, art. 130, parte final), por mais que o deseje a
parte.51 A vontade do litigante é, no particular, irrelevante. O que importa é a necessidade
objetiva da prova. Logo, se entende o juízo do recurso, diante do estado do processo,
desnecessárias novas provas, deverá de imediato julgar o mérito do litígio. Fazendo-o
não cerceará a defesa de quem quer que seja52. Claro está, de todo modo, que, equivocado
o seu entendimento - porque era necessária a prova indeferida -, se configura error in
procedendo, tornando-se a decisão suscetível de anulação.
Desnecessário, como visto, requerimento para que se aplique o § 3o, do
art. 515, do CPC, não há se falar em oposição do recorrente ou mesmo do recorrido ao
48. O argumento encontra-se em Cândido Rangel Dinamarco, Os efeitos dos recursos in Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis, São Paulo, RT, 2002, p. 38.
49. Novamente Cândido Rangel Dinamarco, Os efeitos dos recursos cit., p. 39.
50. Antes, item 7.
51. "Ao julgador incumbe indeferir as diligências inúteis ou meramente protelatórias, na esteira do entendimento do art. 130 do Código de rito" (2o Trib. Alçada Civil - SP, 1 Ia Câm., Ap. n. 593.076-00/0, Rei. Juiz Mendes Gomes in Boletim A D C O A S n. 8192095). Invocando expressamente a aplicação subsidiária do art. 130, do CPC, no processo do trabalho, cf. T R T - 12a Reg., 3a T, Ac. n° 5365/98, Rei" Juíza Lourdes Dreyer in DJSC de 22.06.98, p. 74.
52. E m termos gerais, veja-se, a propósito, o seguinte aresto: "Não pratica cerceamento de defesa a decisão que julga antecipadamente a lide, afirmando ser dispensável a realização de perícia com vistas a constituir prova sobre fato cuja comprovação documental cabia à concordatária, que não cuidou de fazê-la oportunamente"(STJ - 4a T. Ag n. 43.975-5-RS, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo in DJU de 23.05.94, p. 12.616).
Reforma da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 261
imediato julgamento do mérito. A conclusão do processo não fica sujeita à iniciativa
das partes (CPC, art. 262). Se o litígio já se encontra em condições de julgamento, não
podem as partes se opor a que isso ocorra, nem lhes cabe produzir diligências inúteis
ou protelatórias (CPC, art. 130, parte final).
10. Âmbito de incidência.
O julgamento imediato do mérito, no campo trabalhista, tem cabimento,
normalmente, no julgamento do recurso ordinário. Hipótese mais freqüente é a de
cumulação objetiva de ações. Pleiteando o reclamante, por exemplo, o pagamento de
horas extras e equiparação salarial, realizada a instrução em torno de ambos os pedidos,
o segundo é, ao ensejo do julgamento, considerado inepto. Afastada, no julgamento do
recurso ordinário, a inépcia, segue-se o exame do mérito do pedido de equiparação salarial.
Pode-se aplicar o § 3o, do art. 515, mesmo sem que haja cumulação
objetiva de ações. Ajuizada a reclamação apenas para o pagamento de horas extras,
sem a prévia tentativa de conciliação (CLT, art. 625-D, caput), equivocadamente se
pronuncia, após a completa instrução do feito, a carência de ação53. Sobrevindo reforma
da decisão, com o julgamento do recurso, prossegue-se desde logo no exame do mérito
do litígio. O mesmo se pode dizer no caso de incompetência absoluta da Justiça do
Trabalho, afirmada após a produção de todas as provas requeridas pelas partes. Afastando
o Tribunal a incompetência, julgará de imediato o mérito.
Também na hipótese de reconvenção pode haver aplicação do § 3°, do
art. 515, do CPC. Repelida a reconvenção, depois de regularmente contestada, por
53. A solução é equivocada porque, como se procurou mostrar em outra oportunidade (Primeiras linhas sobre as comissões de conciliação in Revista LTr, São Paulo, v. 64-04, p. 444), a falta de prévia tentativa de conciliação não obsta o julgamento do mérito do pedido. Nesse sentido: "Comissão de conciliação prévia - Submeter a controvérsia à Comissão de Conciliação Prévia não é um dos pressupostos da ação. É uma faculdade da parte. Raciocinar em sentido contrário seria obstaculizar o exercício da cidadania constitucionalmente previsto, e que assegura a todos o acesso ao Poder Jurisdicional para dirimir questões que envolvem violação a direito, a uma normu de hierarquia inferior, no caso a Lei n. 9958/2000. "(TRT 2a Reg., 4a T, R O R S n° 07873200290202009, Rei. Juiz Sérgio Winnik, julg. e m 09.04.02 in DJ de 19.04.02) e "Comissão de Conciliação Prévia. Artigo 625-D, da CLT. Não há cominação para o não comparecimento à comissão de conciliação prévia, razão pela qual, constituindo uma faculdade (e não uma obrigação), não impede o ajuizamento da ação na Justiça do Trabalho."(TRT - 2a Reg., 6a T, R O n. 20010369320, Rei. Juíza Rita Maria Silvestre, julg. em 16.04.02, in DJ de 03.05.02). Existem, porém, julgados e m sentido contrário. Por exemplo: "...qualquer demanda de natureza trabalhista, inclusive sobre obrigação de fazer, será submetida à \1 "hll#hll" \1 "h!3#hl3" Comissão de \1 "hl2#hl2" \1 "hl4#hl4" Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, ela houver sido instituída no âmbito da empresa ou do sindicato (art. 625-D), sob pena de \1 "hI3#h!3" \1 "hl5#h!5" extinção do feito."(TRT - 3a Reg., 2a T, R O n. 12.121/2001, Rei. Juíza Alice Monteiro de Barros, julg. em 09.10.01 in D J M G d e 17.10.01, p. 21).
262 Estêvão Mallet
considerar-se ausente o pressuposto da conexão, mencionado no art. 315, caput, do
CPC, se a instrução realizada na ação principal permite o esclarecimento da matéria
suscitada na reconvenção, o tribunal, reformando a sentença de extinção, examinará
logo o pedido deduzido pelo reclamado.
Se o recurso ordinário é interposto em processo de competência originária
do Tribunal Regional, como em dissídio coletivo, ação rescisória ou mesmo mandado
de segurança, a regra do § 3o do art. 515, do CPC, satisfeitos os seus pressupostos
específicos, tem plena aplicação. Daí porque, extinto o dissídio coletivo sem exame do
mérito, por considerar-se que não se esgotou a tentativa de negociação, a reforma da
decisão devolve ao Tribunal Superior do Trabalho, não havendo necessidade de novas
provas, o exame do mérito do litígio. Julga-se logo o pedido, sem necessidade de baixa
dos autos ao Tribunal Regional.
E m procedimento sumaríssimo, incide igualmente a permissão de
julgamento imediato do mérito, em caso de reforma de sentença terminativa. A
especialidade desse procedimento não é incompatível com a norma do art. 515, § 3o,
do CPC.
O mesmo não se verifica, todavia, no procedimento sumário da Lei n.
5.584, não derrogado pela Lei n. 9.957.54 É que nesse último procedimento não se
admite a interposição de recurso ordinário, mas apenas de recurso extraordinário, em
caso de ofensa à Constituição55
U m a vez que o exame imediato do mérito, em caso de reforma de sentença
terminativa, não contraria o duplo grau de jurisdição, como se procurou mostrar acima,56
54. Estêvão Mallet, Procedimento sumaríssimo trabalhista cit., pp. 21/22.
55. Sobre a questão, Estêvão Mallet, D o recurso de revista no processo do trabalho, São Paulo, LTr, 1995, n. 6.1, pp. 43/44. E m jurisprudência: "Recurso extraordinário. Causas de alçada. Decisão, em instância única, de primeiro grau, versando matéria constitucional. Dela cabe recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (...) e não recurso a órgão judiciário de segundo grau"(STF - 2a T, Proc. R E n. 140.169-9, Rei. Min. Neri da Silveira in DJU n. 53, de 19.3.93, p. 4.283) e "A existência de contencioso constitucional, a ser dirimido pelo Supremo Tribunal Federal, viabiliza a interposição de recurso extraordinário contra a decisão emanada de juizes de primeiro grau, nas causas de alçada" (STF - Ia T, R E n. 182.995-8, Rei. Min. limar Galvão, julg. em 08.11.94 in DJU n. 164, de 25.08.95, p. 26.078). Sempre no mesmo sentido, STF - Ia T, Proc. R E n. 136.149-2, Rei. Min. Moreira Alves in DJU n. 213, de 06.11.92, p. 20.107, e STF - Plenário, R E C n. 510-1, Rei. Min. limar Galvão, julg. e m 23.02.95 in DJU n. 85, de 05.05.95, p. 11.904. Sem razão, portanto, o seguinte acórdão do Tribunal Superior do Trabalho: "Cabe recurso ordinário das sentenças proferidas nos dissídios de alçada que versem matéria constitucional" (TST 4a T, Proc. R R n. 115.591/94, Rei. Juiz convocado Rider Nogueira de Brito in DJU n. 238, de 16.12.94, p. 35.138).
56. Antes, item 3.
Reforma áa Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 263
a regra do § 3°, do art. 515, do CPC, abrange-ainda o recurso ordinário ex ojficio,
previsto no art. 1° inciso V, do Decreto-Lei n. 779.57
A nova disciplina estabelecida pela Lei n. 9.756 estende a aplicação do
§ 3o do art. 515, do C P C até mesmo ao julgamento proferido após o provimento de
agravo de instrumento. Denegado recurso ordinário interposto contra sentença
terminativa, o provimento do agravo, nos termos do art. 897, § 7o, da CLT, leva ao
exame do recurso denegado, o que permite o imediato julgamento do mérito do litígio.
Também em agravo de petição, que pouco se distingue do recurso
ordinário, pode ter lugar o julgamento imediato do mérito. Se a impugnação à sentença
de liquidação ou os embargos à execução não são examinados no mérito, porque acolhida
a alegação de intempestividade, a reforma dessa decisão transfere ao tribunal o
julgamento do litígio, descabendo a devolução dos autos ao juízo de primeiro grau
para prolação de nova sentença.
É claro que não tem pertinência o § 3o, do art. 515, do CPC, se o juízo do
recurso entende não ser o caso de julgamento do mérito. Afirmando o tribunal a
incompetência da Justiça do Trabalho para julgamento da causa, deverá aplicar o disposto
no art. 113, § 2o, do CPC, sendo-lhe vedado julgar o mérito do litígio ou mesmo deixar
de anular a decisão recorrida. Tampouco se aplica o § 3° do art. 515, do CPC, se não
houve extinção do processo sem exame do mérito em primeiro grau de jurisdição. Assim,
se determinada Vara do Trabalho rejeita exceção de incompetência relativa, prosseguindo
até decisão de mérito, reiterada a alegação no recurso, deverá o tribunal, julgando-a
fundada, anular a sentença e remeter os autos à Vara do Trabalho competente.
Tampouco importa para a aplicação da regra do § 3o, do art. 515, quando,
por deficiência técnica, proclama-se a extinção do processo sem julgamento do mérito,
embora se tenha examinado a pretensão deduzida. Exemplifique-se com a decisão
proferida em reclamação com pedido de reconhecimento de existência de contrato de
trabalho, julgada, após a completa instrução processual, extinta sem exame do mérito,
porque considerado autônomo o reclamante. A conclusão sobre a natureza não-
empregátícia da relação envolve juízo de mérito.58 A alusão à extinção do processo
57. Em sentido diverso, partindo, segundo parece, da premissa de que o art. 515, § 3o, do CPC, contrastaria com a regra do duplo grau de jurisdição, cf. Luiz Eduardo Gunther e Cristina Maria Navarro Zorning, As novas alterações do C P C e o processo do trabalho in Jornal Trabalhista, Brasília, 15 de junho de 2002, p. 923/11.
58. A propósito: "Afirmando o autor, em sua peça inaugural, a existência de uma relação empregatícia, está constituída a causa de pedir remota, substrato de todos os pleitos vindicados, sendo isso o suficiente para a fixação da competência, no plano lógico e abstrato. Aámite-se, então, segundo a ótica da
264 Estêvão Mallet
sem julgamento do mérito mostra-se, pois, equivocada. De todo modo, esse equívoco,
meramente terminológico, não altera a natureza do pronunciamento, de modo que,
mesmo antes da reforma introduzida pela Lei n. 10.352, em caso de reforma da sentença,
ao juízo do recurso cabia desde logo examinar os pedidos deduzidos, sem devolução
dos autos ao juízo recorrido.59
11. Procedimento aplicável.
O procedimento a observar para a aplicação do § 3o, do art. 515, não
apresenta peculiaridades significativas. Algumas poucas merecem referência.
E m primeiro lugar, não há necessidade e nem mesmo é tecnicamente
correta a cisão do julgamento em diferentes sessões, uma para reforma da sentença
terminativa, outra para julgamento do mérito do litígio. N a sessão designada para
apreciação do recurso ordinário, considerando o relator estarem presentes os
pressupostos do § 3o, do art. 515, do CPC, apresentará de imediato pronunciamento
atinente à reforma da sentença, examinando o mérito da pretensão. Acolhida sua
manifestação, julgar-se-ão na mesma assentada e no mesmo acórdão todas as matérias.
Não haverá u m acórdão para a reforma da sentença e outro para julgamento do mérito.
N e m é pertinente o adiamento da sessão, para julgamento do mérito, e m outra
oportunidade,<lo mérito. Se, no entanto, por equívoco assim se fizer, não ocorre nulidade,
diante da ausência de prejuízo para as partes (CLT, art. 794).
E m segundo lugar, e como decorrência do exposto, ao impugnar o recurso
interposto contra sentença terminativa, deve o recorrido desde logo oferecer suas
alegações atinentes ao mérito do litígio. Não terá oportunidade subseqüente para fazê-
lo. D o mesmo modo, ao recorrente cabe discutir o mérito dè sua pretensão. Diversamente
do que ocorre no Direito português, em que o tribunal, ao reformar a sentença
reelaborada teoria abstrata do direito de ação, a veraciáaáe provisória dos fatos constantes da exordial, relegando ao julgamento meritório a apuração do juízo de certeza quanto a estes."(TRT 13a Reg., R E O R n. 2074/99, Rei. Desig. Juiz Francisco de Assis Carvalho e Silva, Ac. n. 55.617, julg. e m 08.09.99 in DJ de 20.04.00.
59. Assim, na Jurisprudência de Direito comum: "Para verificar se houve exame do mérito, há que pesquisar se a pretensão formulada foi decidida. Isso tendo ocorrido, não importa que a sentença haja, equivocadamente, afirmado que o autor era carecedor da ação. Fica o tribunal, no julgamento da apelação, autorizado a examinar todas as questões pertinentes ao merecimento"(STJ - 3a T, REsp n. 31.766-0-RS, Rei. Min. Eduardo Ribeiro in DJU de 30.05.94, p. 13.480) e "É lícito ao acórdão examinar o pedido pelo mérito, se a sentença não deixou de fazê-lo, embora tenha extinto o processo sem julgamento do mérito. Inocorrência de ofensa ao art. 515 do CPC"(STJ - 3a T, Resp n. 7.417-SP, Rei. Min. Nilson Naves in DJU de 22.04.91, p. 4.787).
Reforma da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 265
terminativa, convida as partes "a produzir alegações sobre a questão de mérito"60 o
regime do § 3o, do art. 515, do C P C brasileiro não assegura o direito de manifestação
em separado sobre o mérito, após a interposição do recurso. Tem o recorrido, pois, o
ônus de falar, já em sua resposta ao recurso, sobre o mérito do litígio.
Sem embargo, serão votadas separadamente as questões relativas à
reforma da sentença, ao cabimento do exame do mérito e, finalmente, ao próprio
mérito.61 Concebe-se, pois, que, após a reforma unânime da sentença terminativa, fique
vencido o relator na proposta de imediato exame do mérito, por entenderem os demais
julgadores não estarem presentes os pressupostos do § 3o, do art. 515, do CPC, caso em
que haverá a baixa dos autos, para prosseguimento do processo (CPC, art. 560). Os
juizes vencidos no julgamento de qualquer uma das questões deverão votar nas
subseqüentes, consoante o art. 561, do CPC. A o julgador que votara pela confirmação
da sentença terminativa, vencido na questão, compete pronunciar-se sobre o mérito, se
assim decidir a maioria.
Outro ponto a assinalar diz respeito ao depósito recursal. O julgamento
imediato do mérito prescinde de depósito recursal específico e não autoriza a
posterior exigência de garantia duplicada. Por isso, se houve extinção do processo
sem julgamento do mérito e m relação a todos os pedidos, o recurso do reclamante
chega ao tribunal sem que tenha sido feito depósito recursal algum. Reformada a
sentença e julgado procedente o pedido, o recurso de revista do empregador
dependerá apenas do depósito do valor limite previsto e m lei para este último recurso,
não cabendo a exigência cumulada do valor exigido também para a interposição do
recurso ordinário.
12. Impugnação do pronunciamento sobre a aplicação do § 3o, do art. 515, do CPC.
A aplicação ou não da regra do § 3o, do art. 515, do CPC, não envolvendo
mera faculdade do juízo do recurso62 sujeita-se, em tese, a impugnação. O recurso
apropriado para tanto é, no caso de decisão proferida por Tribunal Regional, a revista,
prevista no art. 896, da CLT. Não incide o óbice previsto no Enunciado 126, do Tribunal
Superior do Trabalho, até porque a discussão sobre a necessidade ou não de novas
60. Código de Processo Civil português, art. 753, n. 2.
61. Sobre o tema, amplamente, José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil cit., n. 372, p. 663 e ss.
62. Antes, item 8.
266 Estêvão Mallet
provas não envolve reexame de fatos, mas aplicação de normas legais sobre direito
probatório63
N e m sempre, porém, o recurso de revista poderá ser oferecido. Se o
tribunal nega a aplicação do § 3° do art. 515, do CPC, determinando o retorno dos
autos ao juízo de primeiro grau, qualquer que seja o motivo, seu pronunciamento reveste-
se de caráter interlocutório e não comporta imediata impugnação por meio de recurso,
como decorrência do disposto no art. 893, § Io, da CLT, e Enunciado 214, do Tribunal
Superior do Trabalho64 Eventual equívoco será reparado posteriormente.
Determinando o tribunal o retorno dos autos ao juízo de primeiro grau,
após reformar sentença terminativa, sem examinar a possibilidade de aplicação do § 3o,
do art. 515, do CPC, tem-se por configurada omissão. Admite-se, na hipótese, a
apresentação de embargos de declaração (CPC, art. 535, inciso II), os quais poderão
revestir-se de efeito modificativo (Enunciado 278, do Tribunal Superior do Trabalho,
combinado com Orientação Jurisprudencial n. 142, da, Subseção de Dissídios Individuais
do Tribunal Superior do Trabalho) e, em conseqüência, propiciar a continuação do
julgamento já no tribunal, independentemente da prolação de nova sentença.
63. E m sentido contrário, sem razão, todavia: "A verificação da necessidade ou não de outras provas para alicerçar o julgamento da causa demandaria...o reexame das provas dos autos, vedado nesta Instância Especial, a teor do Verbete Sumular n. 7-STJ"(STJ - 4a T, REsp n. 210.607-RJ, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo /// Revista do Superior Tribunal de Justiça, junho de 2002, vol. 154, p. 393). A mesma diretriz prevalece no Supremo Tribunal de Justiça de Portugal, como mostra o seguinte acórdão: "A suficiência ou insuficiência de factos para julgar de mérito no despacho saneador e a apreciação das provas integram, e m princípio, questão de facto da exclusiva competência das instâncias."(STJ - Processo n. 1.527, Rei. Correias de Paiva, julg. e m 16.01.87).
64. De acordo com isso, em situação assemelhada: "\l "h3#h3" \1 "h5#h5" Recurso de \1 "h4#h4" \1 "h6#h6" revista - Descabimento. Acórdão regional que ordena o retorno dos autos ao primeiro grau de jurisdição, para providências, sem julgamento definitivo da causa. Irrecorribilidade. A teor do En. n° 214 do TST, "as decisões \1 "h5#h5" \1 "h7#h7" interlocutórias, na Justiça do Trabalho, só são recorríveis de imediato quando terminativas do feito, podendo ser impugnadas na oportunidade da interposição de \1 "h6#h6" \1 "h8#h8" recurso contra a \1 "h7#h7" \l "h9#h9" decisão definitiva, salvo quando proferidas e m acórdão sujeito a \1 "h8#h8" o mesmo tribunal". Tal verbete espelha o comando do art. 893, § Io, da CLT, no sentido de que "os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões hl0\l "h9#h9" \1 "hll#hll" interlocutórias somente e m \1 "hl0#hl0" \1 "h 12#h 12" recursos da \1 "h 11 #h 11" \1 "h 13#h 13" decisão definitiva". A este princípio se curva o acórdão, que, decidindo questões preliminares ou prejudiciais, devolve os autos ao primeiro grau de jurisdição, para prosseguir no julgamento ou adotar providências, que adiem o provimento regional definitivo para u m segundo momento. Tal \1 "hl2#hl2" \1 "hl4#hl4" decisão, por teratológica que possa ser, não desafiará \1 "hl3#hl3" \1 "hl5#hl5" recurso de \1 "hl4#hl4" \1 "hl6#hl6" revista, eis que não represente a última manifestação jurisdicional, e m grau ordinário. Tem-se, aqui, salutar expressão de celeridade processual, enquanto se evita o percurso desnecessário dos autos entre as instâncias recursais. \1 "h 15#h 15" \1 "h 17#h 17" Recurso de \1 "hl6#hl6" \1 "hl8#hl8" revista não conhecido."(TST - 2a T, R R n. 372.244, Rei. Juiz Convocado Alberto Luiz Bresciani Pereira, julg. e m 14.02.01 in DJU de 16.03.01, p. 737).
Reforma da Sentença Terminativa e Julgamento Imediato do Mérito no Processo do Trabalho 267
13. Direito intertemporál.
A afirmação, tão freqüente, de que as normas de Direito Processual têm
aplicação imediata, apanhando os processos cm curso,65 c, em sua generalidade,
excessiva. N e m sempre há como compatibilizar os atos já praticados com as novas
disposições legais, como se pôde verificar com o procedimento sumaríssimo previsto
no Código de Processo Civil de 197366 e, mais recentemente, com o procedimento
criado pela Lei n. 9.957.67
N o caso da Lei n. 10.352 a aplicação da regra do § 3o do art. 515* do
CPC, aos recursos interpostos antes de sua vigência, embora julgados posteriormente,
comprometeria o contraditório, na medida em que o recorrido, dispensado, pela
regulamentação anterior, de discutir o mérito do litígio em sua resposta ao recurso,
poderia ser surpreendido pela decisão do tribunal.
O critério mais adequada para a solução do conflito de leis no tempo em
matéria recursal corresponde à observância da norma vigente quando da prolação da
sentença. O direito ao recurso surge com o julgamento, segundo bem assentado em
doutrina68 regendo-se, pois, pelas regras então vigentes. Alterações posteriores não
repercutem, em regra, sobre a posição processual da parte. N e m mesmo a aplicação da
lei vigente ao tempo da publicação da decisão recorrida - critério que antes se
propusera69 e que conta com amplo apoio da doutrina™ e da jurisprudência71 - é correto.
65. Por todos, Paul Roubier, Le droit transitoire, Paris, Dalloz, 1960, n. 101, p. 545.
66. A propósito, decidiu o Supremo Tribunal Federal: "Procedimento sumaríssimo. Este ganha feição própria a partir da petição inicial (CPC, art. 276). Esta sua configuração, que surge, portanto, da propositura da ação, impede que, iniciada a demanda pelo procedimento ordinário e ate contestada, tal ainda na vigência da antiga lei adjetiva civil, venha, quando em grau de recurso, e aí já vigorando o novo Código, ser aplicado o prazo de 5 dias do parágrafo único do art. 508. Recurso extraordinário conhecido e provido."(STF - laT., R E n. 82.357/PR, Rei. Min. Bilac Pinto, julg. em 04.11.75 in DJU de 26.12.75 e RTJ v. 76, p. 653).
67Cf. T S T - 2aT., AIRR n; 698.747/00, Rei. Min. José Luciano de Castilho Pereira, julg. e m 21.02.01 in DJU de 23.03.01, p. 608; T S T - 5a T, AIRR n. 717.985/00, Rei. Min. João Batista Brito Pereira, julg. e m 09.05.01 in DJU de 24.05.01, p. 731 e T S T - 4a T, R R n. 715.592/00, Rei. Juiz Convocado Renato de Lacerda Paiva, julg. e m 06.06.01 in DJU de 29.06.01, p. 837.
68. Cf., a propósito, Galeno de Lacerda, O novo direito processual e os feitos pendentes, Rio de Janeiro, Forense, 1974, p. 70, e Athos de Gusmão Carneiro, Lei nova e admissibilidade de recursos in Revista de Processo, São Paulo, RT, vol. 108, p. 213 e segs.
69. Estêvão Mallet, Reforma de sentença terminativa e julgamento imediato do mérito no processo do trabalho in Revista da A M A T R A II, São Paulo, n. 7, p. 16 e segs.
70. José Manoel de Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, São Paulo, RT, vol. l,n. 13.
71. "Segundo princípio de direito intertemporál, o recurso se rege pela lei vigente à data e m que
268 Estêvão Mallet
Apresenta falhas e inconvenientes, na medida em que pode fazer com que decisões
proferidas na mesma data fiquem, sem qualquer razão relevante, sujeitas a normas
legais diversas somente porque publicadas em diferentes momentos, por conta de diversa
tramitação burocrática dos processos.72
E m síntese, o § 3o, do art. 515, do CPC, aplica-se desde logo aos recursos
interpostos contra decisões prolatadas após o início da vigência da Lei n. 10.352, não
importando o momento e m que ajuizada a ação, encerrada a instrução ou publicada a
sentença. Os recursos interpostos contra decisões prolatadas anteriormente,, porém,
ficam ainda sujeitos ao regime do direito anterior, mesmo quando julgados já sob a
vigência das disposições da Lei n. 10.352.
São Paulo, junho de 2003.
publicada a decisão..."(STJ - 4a T., R M S n. 38-SP, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo in DJU de 04.06.90, p. 5.061) e "É entendimento pacífico nesta Corte que a lei vigente à data da publicação da sentença é a que rege a interposição de recursos"(STJ - 5a T., AgRgAgRgAI n. 391.043-RJ, Rei. Min. Felxi Fischer in Boi. A A S P n. 2297/649). A Súmula n. 1, do Tribunal Regional Federal da Ia Região tem o seguinte teor: "A lei regente do recurso é a em vigor na data da publicação da sentença ou decisão."
72. Athos de Gusmão Carneiro, Lei nova e admissibilidade de recursos cit., p. 219.