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(CO) EXISTIR: Arquitetura e a natureza de REGÊNCIA AUGUSTA PRISCILA CEOLIN GONÇALVES PEREIRA

Regencia Augusta e arquitetura (parte 01)

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Projeto de Graduação Arquitetura e Urbanismo UFES

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(CO) EXISTIR: Arquitetura e

a natureza de REGÊNCIA AUGUSTA

PRISCILA CEOLIN GONÇALVES PEREIRA

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(CO) EXISTIR: Arquitetura e

a natureza de REGÊNCIA AUGUSTA

PRISCILA CEOLIN GONÇALVES PEREIRA

VITÓRIA2013

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PRISCILA CEOLIN GONÇALVES PEREIRA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao De-partamento de Arquitetura e Urbanismo da Universi-dade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Prof. Rogério Almenara Ribeiro

Co-orientador: Prof.ª Ione Mota Marroquim de Souza

Convidado: Prof.ª Daniella do Amaral Mello Bonatto

VITÓRIA - ES2013

Universidade Federal do Espírito SantoCentro de Artes

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

(CO) EXISTIR: Arquitetura

e a natureza de REGÊNCIA AUGUSTA

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FOLHA DE APROVAÇÃO

PRISCILA CEOLIN GONÇALVES PEREIRA

PROJETO DE GRADUAÇÃO APROVADO EM: ____/____/_______

ATA DE AVALIAÇÃO DA BANCA:

AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA

APROVADO COM NOTA FINAL: __________

Universidade Federal do Espírito SantoCentro de Artes

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Nota Data Assinatura

Nota Data Assinatura

Nota Data Assinatura

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AG

RAD

ECIM

ENTO

S

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À minha mãe, pessoa iluminada que mais me com-preende nesse universo tão confuso.

Ao meu pai, sempre ao meu lado, mesmo quando não nos compreendemos.

Aos meus avós, Laurides e Paulo, pelo carinho e amor sem limites. E em memória ao meu avô Pedro.

Aos amigos Linharenses, sempre prontos a me le-vantar nas horas difíceis e me ensinar como a vida é boa: Lelli, Aline, Camila, Dayana, Sabrina, Leo Robert, Zé Renato. (Em especial a Lelli, Sabrina, e Aline pelas ajudas diretas e indiretas ao trabalho.)

À Bia, irmã-amiga, que mesmo distante é e sempre será especial.

À Mayara, que foi chegando assim de mansinho na minha vida, trazendo muita alegria.

Ao trio, Larissa, Carol e Júlia, que mesmo depois de alguns tropeços, estão ao meu lado desde o início do curso.

Aos bons amigos que encontrei ao longo do curso, obrigada pelas conversas que mesmo sem querer muitas vezes me inspiram.

Ao Renan, amigo, companheiro de projetos da facul-dade, e quem teve muita disposição para me ajudar nos últimos minutos.

Ao Marcelo, que me ensinou que longe é um lugar que não existe, e me ajudou com muito carinho nas correções mesmo a distância.

Aos professores que muito me ensinaram, em espe-cial ao Rogério, mestre paciente, pelas excelentes orientações, sempre me recebendo com muito bom humor.

À Ione e Fernando Marroquim, com quem tive a opor-tunidade ímpar de estagiar e aprender muito.

Ao Julimar, menino dedicado, morador de Regência, obrigada por sempre responder minhas perguntas estranhas sobre a vila.

Ao projeto Tamar pela ajuda com pesquisas bibli-ográficas e por cuidar tão bem da região.

Aos integrantes da Fubica, por alegrar Regência e impregnar de cultura e musicalidade esse lugar.

À todos os moradores e visitantes que se preocupam com Regência Augusta e querem sua preservação.

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“Sou uma filha da natureza:

quero pegar, sentir, tocar, ser.

E tudo isso já faz parte de um todo,

de um mistério.

Sou uma só... Sou um ser.

E deixo que você seja. Isso lhe assusta?

Creio que sim. Mas vale a pena.

Mesmo que doa. Dói só no começo.”

Clarice Lispector

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SUM

ÁRI

O01

INTRODUÇÃO 12

1.1 APRESENTAÇÃO 13

1.2 METODOLOGIA 15

02A VILA 16

2.1 HISTÓRIA E GEOGRAFIA 20

03IMPACTO AMBIENTAL 46

3.1 O MARKETING DA (IN)SUSTENTABILIDADE 47

3.2 POLÍTICA, ECONOMIA E ECOLOGIA 50

3.3 NORMAS, SELOS E CERTIFICAÇÕES 54

04REDUZIR O IMPACTO 58

4.1 PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS 59

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4.2 MATERIAIS 60

4.3 AUTONOMIA ENERGÉTICA 65

4.4 RECURSOS HÍDRICOS E ESGOTAMENTO SANITÁRIO 69

4.5 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 73

05PROPOSTA 78

5.1 DIRETRIZES URBANAS PARA

REGÊNCIA AUGUSTA 81

5.2 DIRETRIZES PROJETUAIS 96

5.3 USOS 98

5.4 PROGRAMA DE NECESSIDADES 102

5.5 TERRENO 104

5.6 PROJETO 110

06CONSIDERAÇÕES FINAIS 170

ÍNDICE DE IMAGENS 172

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 184

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01INTRODUÇÃO

Fig. 01: Charge Involução, Maurí-cio Nunes, 2012.

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“É por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada

pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao

mesmo tempo, cria espaço.”

SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp, 2002.

1.1 APRESENTAÇÃO

O ser humano consegue viver e ocupar sem causar impactos a natureza? Sabendo que toda ocupação gera modificação ao ambiente

natural, é impossível dizer que exista o impacto zero, porém, lembrando que os humanos também fazem parte da natureza, ao escolhermos o modo de vida em comunidade, é possível sim reduzirmos o nosso

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impacto ao optarmos por pequenas mudanças em nossos hábitos.

A arquitetura e urbanismo possuem importante papel nessa mudança. Com essa premissa, esta pesquisa visa investigar formas de se reduzir este impacto através da arquitetura, suas estratégias de construção, materiais utilizados e tectônica. Como trabalhar a questão dos resíduos sólidos, da água e da energia, gerando o mínimo de impacto pos-sível à natureza.

É em Regência Augusta que este trabalho atua: in-vestigando a vivência e a cultura de uma pequena vila em meio a maior área de restinga preservada do Brasil, e como é possível melhores relações entre sociedade e preservação da natureza.

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1.2 METODOLOGIA

As pesquisas para desenvolvimento deste trabalho foram realizadas de forma simultânea, e após obter uma base de dados relevantes foi iciada a elaboração da proposta, não sendo finito neste período a procura por materiais teóricos de embasamento para o projeto.

Para o desenvolvimento do segundo capítulo foram utilizadas ferramentas de pesquisa e investigação, como sites e bibliografias na forma de livros, artigos e outros trabalhos acadêmicos, conversas com moradores e vivência na comunidade, com visitas a locais que resguardam a história e cultura local (museu histórico, biblioteca e Associação de Moradores) para elaboração de um diagnóstico local, traçando um panorama histórico e geográfico, com o intuito de detectar as demandas, qualidades e fragilidades da vila.

O terceiro capítulo tem como base a revisão crítica da bibliografia encontrada sobre a temática ecológica e sua relação com a arquitetura e urbanismo. O tema é abordado de forma a desmistificar sua atual corre-lação com o marketing, traçando seu desenvolvimento histórico, econômico e as políticas já desenvolvidas e necessárias a sua evolução.

No quarto capítulo, por meio de pesquisa em sites de fabricantes de materiais e bibliografias especializa-das são pontuadas técnicas tradicionais e inovações viáveis para desenvolver um projeto arquitetônico de baixo impacto ambiental.

A partir da compreensão da temática, de sua importância e influência na arquitetura e urbanismo, de reco-nhecimento da vila e sua comunidade, foram traçadas diretrizes urbanas para o desenvolvimento local e uma proposta arquitetônica incorporando itens relatados nos capítulos anteriores.

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02A VILA

“O que se chama de bela paisagem não me causa senão cansaço.”

Clarice Lispector em Água Viva

(página ao lado)Fig. 02: Making Off do filme “A Onda da Vida”, Regencia Au-gusta, 2010. Foto: Vinicius Santos.

Fig. 03: Making Off do filme “A Onda da Vida”, Regencia Au-gusta, 2010. Foto: Vinicius Santos.

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Um lugar é feito de gente, sua história e cultura. É isso que forma a comunidade, influencia o urbano e a arquitetura, e atrai quem visita, não apenas

cenas e imagens paradisíacas. A beleza está na vivência, escondida nos detalhes não vistos em outros locais.

Regência Augusta, dita feia por alguns, mas que tanto toca o coração de outros, apaixonados pelos pés na terra e pela sua musicalidade, pelo folclore e pelas ondas, que nunca cessam. A beleza da vila está na liberdade que se tem ao viver o lugar.

Quem visita a vila encontra paz para descansar, conversas triviais travadas em minúsculas casas, crianças que brincam na rua, na praia e no rio. As festas de São Benedito e Cabo-clo Bernardo1, herói nacional que já se tornou uma lenda na memória popular; a Fubica2 nos carnavais, com suas marchinhas e composições que já viraram tradição no verão da pacata vila, e a cada ano descobertos por novos entu-siastas. Uma miscigenação impregnada de cor, cheios da cultura popular do norte capixaba, o forró, o congo e a praia de mar agitado (de acesso controlado dentro da reserva de Comboios, evitando a urbanização desordenada), é eleita pelos surfistas como a melhor do estado para a prática do esporte, atraindo jovens de todo o Brasil. Recentemente foi rodado em Regência um filme, a história de 3 surfistas que encontram a vila por acaso, a repercussão mesmo antes de seu lançamento (sem data prevista) já esta sendo grande e atraindo ainda mais visitantes para o local.

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"Evito falar muito sobre algumas coisas boas daqui para não atrair pessoas demais,

que a gente não suporte"

Frase do pescador Élcio José Souza Olviera, o Zé de Sabino, sobre os visi-tantes e futuros moradores de Regência.

(abaixo)Fig. 04: Praia de Regência na Re-vista Surfar. Foto: Celso Pereira Jr.

(página ao lado)Fig. 05 Caboclo Bernardo.

Fig. 06: Fubica e Farol. Foto: Junior Feu.

A atual descoberta do local por turistas, é ao mesmo tempo uma nova perspectiva de desenvolvimento e empregos, mas também assusta e precisa de cuidados para acontecer de forma equilibrada, incluindo toda a comunidade nos ganhos e as-segurando que a tranquilidade, a simplicidade e as belezas naturais sobreviverão a este impacto. É possível observar em seu ciclo econômico que sua população nativa sempre esteve à margem dos desenvolvimentos marcantes para a região, como as navegações no rio Doce em busca de ouro e a extração de petróleo e gás. Projetos de educação e políticas de geração de renda podem fazer isso diferente.

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1 O herói nacional, Caboclo Bernardo, dito pescador local, era na verdade

um índio botocudo. Em 1887 teve sua vida transformada após resgatar dezenas da

tripulação do navio Cruzador Imperial Marinheiro, que naufragou próximo a costa de

Regência. Após esse feito, Bernardo foi homenageado pela princesa Isabel, teve sua

identidade racial trocada pela raiva e guerra declarada da coroa contra essa tribo

indígena. Ele viveu na vila de Regência como pescador até 1914, quando já esqueci-

do fora assassinado por outro caboclo local por razão desconhecida, seu assassino,

quando perguntaram sobre o motivo do crime, apenas disse: “Cachaçada.. questão

de mulher”. Hoje o ato heróico foi integrado à cultura popular, e desde 1930 , anu-

almente é celebrado no dia de sua morte, 3 de junho, o “Auto do Caboclo Bernardo”

com o encontro das bandas de congo de todo o estado, com procissão pela vila até

a capela erguida para Bernardo José dos Santos, no terreiro de Dona Mariquinha,

figura emblemática também da comunidade. O Caboclo já é figura santificada pela

população local e é reverenciado ao lado de São Benedito pelo congo.

2 Com inspiração no primeiro trio elétrico inventado no Brasil por Dodô e Os-

mar, alguns músicos da região tiveram a idéia de resgatar o carnaval de marchinhas,

e em 1995 o “trio Fubica” passou a fazer parte da cultura popular local, a princípio

em uma caminhonete, e tocando frevo e marchinhas tradicionais do carnaval. Com o

tempo novas composições foram surgindo e a vila abraçou a idéia.

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2.1 HISTÓRIA E GEOGRAFIA(abaixo)Fig. 07: Situando Regência Augusta no Brasil, sem escala.

(página ao lado)Fig. 08: Mapa Lo-calização Geográ-fica de Regência, sem escala.

SITUANDO

Regência Augusta é uma vila de tradição pesqueira, situ-ada em meio a uma grande área preservada de restinga, na margem sul da foz do Rio Doce, em Linhares (litoral norte do Espírito Santo), a 134 Km da capital Vitória e 50 Km do centro do município de Linhares.

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HISTÓRIA

Os primeiros habitantes da região foram indígenas, da Nação Gê-Botocudo3, e ainda hoje muitos dos mo-radores da região são de origem indígena.

Existem registros de colonos as margens do Rio Doce desde 1572, devido às expedições no rio, de sua foz até a nascente em Minas Gerais, na busca pelo ouro. A fundação e povoamento oficial de Regência por portugueses iniciou-se em 1800 com a fundação do Quartel de Regência Augusta4, em homenagem a Dom João VI, príncipe regente do Brasil naquele período. Regência era porto de embarque das expedições e vigilância do tráfico em busca de ouro e pedras preciosas oriundas de Minas Gerais.

3 Botocudo foi uma denominação genérica dada pelos portugueses a grupos

indígenas pertencentes ao tronco macro-jê, por usarem botoques nos lábios e orelhas

após os 7 (sete) anos de idade. Povoavam o sul da Bahia e a região do vale do rio

Doce, indo do Espírito Santo a Minas Gerais. Povo guerreiro, foram os que ofereceram

maior resistência a colonização capixaba pelos brancos, lutando por suas terras na

região da foz do rio Doce até o final do Século XIX, quando sua cultura fora extermi-

nada após o conde de Linhares, Ministro do Império, declarar guerra contra eles.

4 Outro quartel fora implantado pelos portugueses para o mesmo fim na

margem oposta do Rio Doce, ao norte de Regência, localizado atualmente na sede da

cidade de Linhares, recebera o nome de Coutins. Após ataques dos índios Botocudos,

o quartel é inteiramente destruído. Reconstruído, recebe o nome de Linhares, em uma

nova homenagem a D. Rodrigo de Souza Coutinho, nomeado Conde de Linhares. Por

ser o de maior desenvolvimento e centralidade, em 1833 é elevado a condição de vila

e sede do município, sendo até hoje Regência pertencente a esta municipalidade.

Fig. 09: Botocudo, pintura a óleo. Autor: Paulo Par-lagreco.

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O histórico Farol de Regência foi instalado na vila em 1895, com 30 metros de altura, lentes refletoras e mecanismos de iluminação a gás que sinalizavam para embarcações situadas em uma área de até 17 milhas da costa, alertando sobre os bancos de areia na foz do Rio. Primeiro foi erguido no pontal norte da foz e após 12 anos o local foi considerado inadequado, então, o farol transferido para o pontal sul, próximo a uma lagoa. Em 1997, foi construído um novo farol de concreto, alegava-se que o de ferro não estava resistindo a erosão da maresia. O antigo farol foi desmontado, e a pedido da população, em 1998, foi tombado, sendo ele símbolo da formação geográfica, histórica, cultural e econômica do local. Porém apenas a cúpula foi salva, e o restante desapareceu. Atualmente está exposta na praça central, em frente ao museu de Regência.

Fig. 10: Antigo farol de Regên-cia. Foto: Hauley Valin.

Fig. 11: Novo farol de Regência visto da praia. Foto: Do autor.

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Em 1940, após uma grande enchente, houve a alter-ação da foz do Rio Doce, destruindo a vila. A igreja foi reconstruída em local mais alto. Os moradores acreditavam que o rio retornaria ao seu curso original, como isto não ocorreu, a vila passou a desenvolver-se no sentido leste-oeste, ficando a igreja de costas para ela.

(topo)Fig. 12: Igreja velha com mastro de São Benedito fincado. Foto: au-tor desconhecido.

Fig. 13: Igreja atual em momen-to de celebração do congo, 2012.

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(página ao lado)Fig. 14: Edição do autor sobre foto tirada a partir do atual farol de Regência. Foto: autor desconhe-cido, 1997.

HISTÓRIA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL NA REGIÃO

6 As espécies de tartarugas predominantes na região são a tartaruga-cabeçuda, e

a tartaruga-de-couro ou gigante, esta ultima tem Regência como sua única praia de desova

conhecida. As duas são chamadas na região de careba dura e careba mole. Sendo este nome

popular muito presente na cultura e em nomes de comércios da vila. A careba e seus ovos era

usada antes da chegada do Tamar, como alimento pela população nativa, herança das comu-

nidades indígenas, considerada uma iguaria, foi explorada por colonizadores portugueses e

muitos pescadores viviam da caça desse animal. Contra a extinção do animal, a cultura foi aos

poucos mudando pelo projeto, e hoje essas famílias vivem empregadas pelas campanhas de

proteção do animal, como a confecção que produz artigos para para a grife Tamar.

7 O Projeto Tamar foi criado em 1980, pelo antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvi-

mento Florestal(IBDF), que mais tarde tornou-se o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambien-

te). Com a função de preservar o ambiente marinho da costa brasileira, direcionando estudos

as tartarugas, serve de modelo para outros países devido a sua experiência bem sucedida

envolvendo as comunidades costeiras em seu trabalho. É co-administrado pela Fundação Pró-

Tamar, Instituição não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 1988. Busca captação

de recursos junto a iniciativa privada e agências financiadoras (conta com apoio dentre outros

da Petrobras). Essa união do governamental com o não-governamental revela a natureza

institucional híbrida do Projeto.

As praias arenosas e semidesérticas abrigam o único sítio conhecido no Brasil de desova de algumas espécies de tar-tarugas marinhas6 em extinção. O sítio foi identificado ainda na década de 1940. Em 1950, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz declararam a área como um dos mais im-portantes remanescentes de restinga do Brasil, e em 1953, o governo estadual decretou a região como reserva e foi formado o “Parque Ecológico da Região Leste” ou “Ilha de Comboios”, fazendo limite ao norte com a vila de Regência Augusta. A principal base do Projeto Tamar7 no Espírito

Fig. 15: Filhote de tartaruga de couro indo de encontro ao mar. Foto: Autor desconhecido Fonte: Projeto Tamar.

Santo está estabelecida ali desde 1982, à 7 Km da vila, o instituto também mantém um lo-cal nos limites da vila para educação ambien-tal e ação comunitária, com uma biblioteca e uma confecção. Neste local também ocorrem reuniões com os moradores para importantes decisões sobre o local.

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Em 1984, foi criada a Reserva Biológica de Com-boios8, na área da antiga Ilha de Comboios, após a doação das terras ao governo, abrangendo uma área de 833ha, sendo 14km de praias (dentro da área é permitido o uso das praias pela popu-lação, mas não a implantação de infra-estrutura, não existindo quiosques), iniciando-se no lito-ral do distrito de Regência e se estendendo até Aracruz - ES. Em 2003 foram doadas 2.700ha pelo governo para ampliação da Reserva ou criação de outra unidade de preservação com-patível com as necessidades de conservação e uso dos recursos naturais tradicionalmente prati-cados pelas comunidades do entorno9 (A vila se encontra dentro dos limites dessa nova área). A partir de diagnósticos com participação das comunidades, foi proposta a criação da Reser-va de Desenvolvimento Sustentável de Com-boios, se caracterizando como uma Unidade de

8 Diz-se que o nome Comboio tem origem na vinda de brancos colo-

nizadores que chegavam em comboios (caravanas). Comboios é também o

nome de um rio pertencente a bacia hidrográfica do rio Doce, com aproxi-

madamente 30km de extensão, localizado na Reserva, porém no município

de Aracruz.

9 Comunidades abrangidas pela área doada: Regência Augusta,

Povoação e Areal(Linhares-ES); Terra Indígena de Comboios, Vila do Riacho e

Barra do Riacho (Aracruz-ES).

Fig. 16: Limite da ReBio Comboios e propostas de ampliação, sem escala. Fonte de dados: IPEMA.

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Fig. 17: Mapa entorno da vila de Regência Au-gusta, sem escala.

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Uso Sustentável10, com o objetivo de compatibilizar a preservação da natureza com as atividades de baixo impacto historicamente desenvolvidas pelas comuni-dades. A princípio a área seria apenas terrestre, porém, com o aumento das ações na região marinha da foz do rio Doce, como atividades petrolíferas, navegação de cabotagem, capturas acidentais de tartarugas e botos nas pescas, e conflito entre pescadores das comuni-dades locais e pescadores de escala semi-industrial de outras regiões, efetuou-se a inclusão de uma área marinha até aproximadamente a isóbata de 20 metros. Neste mesmo período a partir da criação da reserva, o Fundo Nacional de Meio Ambiente doou recursos para que fosse desenvolvido o Plano de Desenvolvi-mento Sustentável, uma espécie de plano diretor para as comunidades de Regência e Areal, com o intuito de desenvolver de forma ordenada e evitar o êxodo da vila para as grandes urbes. Em 2007 foi aberto o processo (ainda em andamento) para formalização da unidade junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

10 As áreas de proteção ambiental integrantes do Sistema Nacional de Unidades

de Conservação da Natureza (SNUC), instituído pela Lei n° 9985/2000 e regulamen-

tado pelo Decreto n° 4340/2002 de acordo com o Art. 7°, dividem-se em dois grupos

com características específicas: Unidades de Proteção Integral, cujo objetivo básico é

preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais;

e Unidades de Uso Sustentável, cujo objetivo básico é compatibilizar a conservação da

natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

ATUAÇÃO DA PETROBRÁS

A Petrobrás atua em Regência desde finais da dé-cada de 70. De acordo com denúncias do IBDF, as atividades foram iniciadas de forma irregular, e após inúmeras denúncias de ocupações e des-matamentos, em 1974 a Petrobrás se pronun-ciou dizendo que a ocupação da área teve como objetivo sondagens para verificação da existên-cia de petróleo, e que já havia liberado a área. Mesmo assim os tonéis vistos na praia, em área de preservação ambiental, fazem parte do Tereg (Terminal de Regência) juntamente com o porto de Regência, um terminal oceânico onde o navio fica atracado em um quadro de bóias, administrado pela empresa para o transporte de petróleo cru explorado na região. Estes quatro tonéis foram desativados em 2005 devido a pouca produção dos campos de petróleo locais e a criação do Ter-minal Norte Capixaba na cidade de São Mateus, porém ainda causam danos ao ambiente, como a fotopoluição, o reflexo excessivo da luz do sol pelo aço dos tonéis, e a forte iluminação artificial, deso-rientando as tartarugas na desova. Recentemente o Ministério Público Federal entrou com uma ação pedindo a retirada do terminal do local, exigindo que a empresa deixe a praia sem vazamentos de petróleo, e apresentem um Plano de Recuperação da Área Degradada ao Ibama. Mesmo assim, estes

(página ao lado)Fig. 18: Tonéis pertencentes a Petrobrás locali-zados na praia de Regência à 3km da vila.

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não são os planos da empresa, que entrou com pedido de licenciamento de novas atividades no local. Ironi-camente a Petrobrás também é a patrocinadora oficial do Projeto Tamar-ICMBio.

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GEOGRAFIA FÍSICA DO DISTRITO

“Deixo suas margens ricas sob a sombra lírica da Ibituruna

Una, pobre sabiá que perdeu seu canto de frases ligeiras”.

Trecho de “Rio Doce”do compositor Zé Geraldo

O rio Doce, com sua foz ao norte da vila, forma a bacia hidrográfica de maior representatividade do estado do Espírito Santo, possui uma característica ímpar, um estuário projetado sobre a área marinha adjacente, sem a ocorrência de manguezais devido a sua forte vazão, que dificulta a penetração do mar. Com enorme massa de sedimentos depositados no delta e bancos de areia obstruindo a desembocadura de alguns aflu-entes, forma diversas lagoas costeiras, são 69 lagoas no município de Linhares, e destas, 15 localizam-se no distrito de Regência.

A região apresenta formações de restinga que vão desde vegetações herbáceas, arbustivas, até matas secas, depressões alagadas e matas de aluvião5 as-sociadas ao cultivo de cacau, localmente conhecida como mata de Cabruca.

5 Aluvião é o nome dado a um solo fértil formado por sedimentações recentes as margens de rios.

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Fig. 19: Encontro do Rio Doce com o mar em Regên-cia. Foto: Fábio Gama.

Fig. 20: Mata de restinga nos arre-dores da vila, mar ao fundo, 2013. Foto: Do autor.

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Regência possui clima quente, alcançando máximas de 34°C e mínimas de 16°C nos meses mais frios, com os maiores índices de precipitação no verão e seca no inverno, predominância de ventos nordeste, tendo uma das maiores velocidades médias do ES e sendo os ventos sul e sudeste os mais velozes. Ter-renos arenoso de baixa declividade (< 8%) e arenoso.

As matas preservadas contribuem para as altas taxas de umidade relativa do ar, evitando a perda desta pela ação dos fortes ventos, e contribuem com as chuvas que alimentam as lagoas e o lençol freático.

Fig. 21: Temper-atura média de Regência. Fonte: Diagnóstico Am-biental do Meio Físico, Ipema.

Fig. 22: Precipi-tação média de Regência. Fonte: Diagnóstico Am-biental do Meio Físico, Ipema.

Fig. 23: Veloci-dade dos ventos predominantes de Regência. Fonte: Diagnós-tico Ambiental do Meio Físico, Ipema.

(página ao lado)Fig. 24: Formação de lagoas de restinga nos arredores da vila. Foto: Fábio Gama.

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ATIVIDADES PRODUTIVAS

As principais atividades produti-vas no distrito estão concentra-das na exploração e transporte de petróleo, pesca, turismo, pecuária de corte, silvicultura (produção de eucalipto), extrativismo e agricul-tura de subsistência (com ênfase ao cacau nas matas de Cabruca). Atualmente, o projeto Tamar e suas ações sociais empregam grande parte da população, princi-palmente no centro urbano da vila.

Fig. 25: Extração de petróleo em Regência, 2011. Foto: Enrike Bodim.

(página ao lado)Fig. 26: Pescador de Regência. Foto: Charlene Bicalho.

Fig. 27: Confecção do projeto Tamar.

Fig. 28: Traba-lhadores na Mata de Cabruca, 2012. Foto: Antonio Cosme.

No município de Linhares, 37,3% do capital estão concentrados nas ativi-dades de extração do petróleo (Fonte Prefeitura de Linhares), estando Regência à margem disso, pois apesar de possuir bases de exploração nos limites do distrito e próximo à vila, são poucos os moradores fun-cionários de empreiteiras contratadas pela Petrobrás, esses, em sua maioria, ocupam cargos de baixa remuneração. Tais atividades funcionam de forma sazonal, e atraem muitas pessoas de outros estados como Bahia e Minas Gerais, em busca de emprego, por notícias das ampli-ações da Petrobrás, se estabelecem no local e após o afastamento das atividades, permanecem desempregados, inflando a vila sem estrutura para atendê-los.

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LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

O distrito de Regência obedece a lei complementar n°011, de 2012, que dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Linhares e a lei complementar n°2622 de 2006, que dispõe sobre o Uso e Ocupação do Solo Urbano nos Distritos do Município de Linhares.

De acordo com o PDM, uma grande parte do distrito se encontra na Zona Rural de Uso Controlado, essa área é destinada a atividades agropecuárias, agroindustriais e agroflorestais, como já ocorre atualmente. Porém algumas restrições ambientais são impostas, apesar disso é permitida a extração de petróleo e outros produtos minerais.

O zoneamento de conservação ambiental é composto pela Unidade de Conservação Federal, dita Reserva Biológica de Comboios, a APA litorânea, APP’s em margens de rios e lagoas e Zona de Interessa Paisagís-tico I no entorno ainda preservado próximo ao núcleo urbano do distrito, que sinaliza áreas de uso público, destinada a implantação de parques urbanos ou similares, e equipamentos e atividades complementares relacionadas a lazer e turismo. É vedada a construção de edificações nesta zona.

Fig. 29: Mapa Zoneamento Urbanístico do Distrito de Regên-cia, 2012. Fonte: Sistema de geo-processamento do município de Linhares.

LEGENDA DO ZONEAMENTO URBANÍSTICO (PDM LINHARES)

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Fig. 30: Mapa aproximação do Zoneamento Urbanístico da vila de Regência Augusta, 2012. Fonte: Sistema de geoprocessamen-to do município de Linhares.

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No núcleo urbano, ao qual chamamos vila de Regên-cia Augusta, o zoneamento prevê uma área de Ex-pansão Urbana em um local adjacente destinado ao crescimento da vila que deverá ser objeto de projeto urbanístico específico no futuro, esta encontra-se com mata de Restinga preservada atualmente. Os locais já urbanizados são divididos entre: Zona de Dinami-zação II, onde foi feita a leitura de ser uma área cen-tral estratégica com vocação a intensificação do uso misto; Zona de Consolidação I, onde há predominân-cia da tipologia habitacional e requer qualificação ur-banística; e a Zona de Consolidação II, onde também é predominante a tipologia habitacional, porém com ocupação rarefeita e dispersa, necessitando estímulo para o adensamento, requer qualificação urbanística para tanto.

Fig. 31: Vila de Regência sob visão aérea, mar ao fundo e Rio Doce a esquerda. Foto: Fábio Gama

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OS MORADORES DA VILA

A vila possui aproximadamente 1.022 habitantes no perímetro urbano, descendentes de indígenas, bran-cos colonizadores, e mais recentemente baianos e mineiros vindos para trabalhar nas roças de cacau e extração petrolífera. Pesquisas do IPEMA mostram que praticamente metade dos atuais residentes na vila, mudaram-se para o local na última década (Ver figura 32). São pertencentes a 288 famílias, caracterizadas por uma população predominantemente jovem (30,7% possui entre 1 e 13 anos), e de renda mensal média de 1 salário mínimo. (Dados de 2011 fornecidos pela Secretaria de Assistência a Saúde, coletados pela equipe PSF local - Programa Saúde da Família, referentes ao número de famílias cadastradas, ou seja, residentes permanentes da área urbana de Regência Augusta)

As famílias são numerosas e apresentam baixa escolaridade, mas este quadro pode ser revertido futuramente, já que a população é constituída por muitos jovens, e conta com grande frequência escolar. A vila conta com escola primária e de ensino fundamental. Nesta mesma escola funciona a EJA (Educação de Jovens e Adultos), programa do governo de educação básica para quem não teve oportunidade de acesso a escolaridade regular na idade apropriada. Os moradores ainda sentem a necessidade de uma escola de ensino médio, atualmente a prefeitura disponibiliza dois ônibus matutinos e um noturno para levar os estudantes ao Colégio Estadual na sede de Linhares, mas a distância é longa e a demanda maior. A taxa de desemprego está entre 5,47% dos moradores, acredita-se que lhes falte qualificação profissional.

Os moradores têm expressiva participação na comunidade, sendo uma grande maioria envolvida na Associação de Mo-radores de Regência (A.M.O.R.), e também nas outras asso-ciações que existem, como a de Pescadores e a de Artesãos.

Fig. 32: Gráfico tempo de residên-cia na vila. Edição: Do autor. Fonte de dados: IPEMA

Fig. 33: Sede da A.M.O.R., 2013. Foto: Do autor.

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(esquerda - de cima para baixo) Moradores na-tivos de Regência

Fig. 34: Descober-tas de Maria Clara. Foto: Charlene Bicalho

Fig. 35: Tha-lena Maciel. Foto: Patrick Tristão.

Fig. 36: Nicolas. Foto: Charlene Bicalho.

(direita)Fig. 37: Lucas Texeira. Foto: Vinicius Santos.

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ESTRUTURA URBANA

A vila ainda preserva suas ruas de chão batido, e o acesso é feito também por estrada de terra. Sendo servida por ônibus regulares três vezes ao dia até o centro de Linhares.

Dos 471 imóveis locais, 28,5% são residências sazonais, de turistas prove-nientes principalmente de Linhares, essas residências se concentram princi-palmente na nova área urbanizada, conhecida como “invasão”. Em Regência poucos terrenos possuem escritura, o território é antigo, e apenas uma nova área foi tomada pelos moradores (local onde era definido como reserva am-biental), loteado, e seus lotes vendidos. Dados sobre os imóveis estão sendo comparados no gráfico abaixo (Fonte de dados: IPEMA):

Fig. 38: Gráfico sobre imóveis na vila. Edição: Do autor. Fonte de dados: IPEMA

Fig. 39: Porto de Regência. 2012. Foto: Do autor.

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Fig. 40: Mapa da vila, sem escala.

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O sistema de canalização de água e energia elétri-ca atende a todos os moradores, alguns utilizam poços próprios por escolha. Porém Regência não possui rede de saneamento, sendo essa uma das principais reivindicações dos moradores para o desenvolvimento local, a maioria utiliza a fossa rudimentar, uma pequena parcela mantém a fossa séptica e aproximadamente 5% do esgoto é lança-do em rios, lagos ou no mar. A construção da rede de saneamento foi iniciada em 2012, porém parali-

sada no início do ano de 2013 após a posse do novo prefeito, a obra não possui data para ser re-iniciada e finalizada. Quanto ao destino do lixo, ocorre a coleta pela prefeitura municipal de Linhares de 79% do que é produzido, queima ou enterro de 15,5% e acúmulo de 4,5% em terrenos ou propriedades, a queima e abandono do lixo em terrenos ocorre por uma questão cultural que pode ser mudada com educação. (Fonte de dados: IPEMA)

A infra-estrutura turística já conta com diversas pou-sadas e pequenos restaurantes, o crescimento é de uma pousada ao menos por ano. A cada carnaval o número de foliões aumenta, e também o impacto deixado por eles.

Em 2000 foi inaugurado o Museu Histórico de Regên-cia, onde antes era a Casa da Marinha, é nesse local onde acontece muitos eventos culturais com apoio a artistas locais. Já existem iniciativas de exploração do turismo ecológico, como o da empresa Regên-cia Ecotur, atuando desde 2008, iniciou-se com a ajuda do Projeto EcoCidadania, programa de edu-cação ambiental da Petrobrás. Três moradores da vila organizaram a empresa para promover passeios de caiaque, trilhas guiadas, alugueis de pranchas de surf e bicicletas. O Projeto Tamar também contribui com exposições de tartarugas marinhas em aquário e visitas guiadas nas épocas de desova.

Fig. 41: Bloco Valete de Ouro no carnaval de Regência. Foto: Charlene Bicalho.

(página ao lado)Fig. 42: Regência Ecotur. Foto: Do autor.

Fig. 43: Tartaruga em exposição na Base do Projeto Tamar. Foto: Do autor.

Fig. 44: Museu Histórico de Regência e antigo farol. Foto: Do autor.

Fig. 45: Rua da praça. Foto: Do autor.

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03IMPACTO AMBIENTAL

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3.1 O MARKETING DA (IN)SUSTENTABILIDADE

Sustentabilidade é um termo relativamente recente, a sua popularização tem origem no conceito de “desenvolvimento sustentável”, definido formalmente pela primeira vez no Relatório Brundtland em 1987 como “desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade

das gerações futuras atenderem as próprias”. Ganhou força se tornando quase um mantra na contempora-neidade, tornando “a problemática ecológica, uma área importante da ideologia atual” de acordo com Slavoj

(ao lado)Fig. 46: Charge A Vale em Moçam-bique, Latuff, 2010.

(a cima)Fig. 47: Publici-dade da Vale do Rio Doce.

Zizek11 (Em entrevista concedida ao professor Ricardo Sanín, do Departamento de Filosofia e História do Di-reito da Universidade Javeriana, da Colômbia), de for-ma que a “ideologia representa problemas bem reais, mas de forma mistificada”. Repetida exaustivamente em embalagens, slogans, folhetos de lançamentos imobiliários e toda sorte de produtos que promete contribuir para um mundo melhor e uma consciên-cia mais leve. Acaba sendo visto com desconfiança por alguns, como solução milagrosa para outros, e ‘jogada’ de marketing pela publicidade, perdendo todo o real sentido, e caindo no “greenwash”12. Isto retira a credibilidade de verdadeiros projetos de baixo im-pacto ambiental e a real necessidade de se preservar

11 O filósofo esloveno Slavoj Žižek é pesquisador do Instituto de Sociologia, na

Universidade de Liubliania, Eslovênia, e professor-visitante em diversas universidades

americanas e européias, conhecido internacionalmente por suas críticas culturais.

12 Greenwash: Termo que se refere a estratégias de marketing com o objetivo

de levar o consumidor a acreditar que sua empresa, produto ou serviço é ecologica-

mente correto, quando na verdade, possui atuação contrária aos interesses socio-

ecológicos.

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o meio ambiente, garantindo além da (sobre)vivência das futuras gerações, a melhoria da qualidade de vida dos que já estão aqui.

Os empreendedores da área de arquitetura e urbani-smo também descobriram a força do marketing em torno do movimento verde. Condomínios fechados com maquiagens ecológicas, porém a quilômetros de distância do centro da cidade e em sua maioria des-tinados a apenas classes média alta e alta são ven-didos como um estilo de vida em torno da natureza,

segurança e privacidade.

A sustentabi l idade defendida como um tripé de equilíbrio entre preservação ambiental, social-mente justo e economicamente viável é quase sempre forjada, em projetos elitistas com maqui-agem ecológica e materiais de “grife sustentável”, restando aos que não possuem poder aquisi-

tivo para adquirir estes produtos, permanecerem pobres e anti-ecológicos. O filósofo Slavoj Zizek, em animação produzida pela RSA13 intitulado de “Primeiro como Tragédia, Depois como Farsa”14, cita este fenômeno como uma forma que temos de “comprar nosso perdão”, dizendo que mantemos o consumismo exacerbado atual com estes mecanis-mos, para no fim apenas pensarmos que estamos “fazendo a coisa certa”. Um de seus exemplos é o fairtrade15 desenvolvido por empresas. Sua crítica é que estamos criando mecanismos para manter o modo de vida que temos ao invés de adequá-los a nova realidade global, onde já consumimos mais da Terra do que ela pode prover. Encontramos formas de pagar mais por produtos para tirarmos o peso de nossas consciências por estarmos consumindo, usando o capitalismo para sanar problemas sociais e ambientais gerados por ele próprio. Sua posição não é radical ao ponto de que não se consuma estes produtos ou que eles não tenham uma responsabili-dade maior do que a tradicional forma de se produzir,

13 RSA (Royal Society dor the encouragement of Arts, Manufactures and Commerce) é uma organização empenhada em encontrar soluções inovadoras e práticas

para os desafios sociais da atualidade e popularizar estas idéias através da mídia.

14 Disponível em http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hpAMbpQ8J7g.

15 Fairtrade se traduz como comércio justo. É entendido como o fluxo comercial diferenciado baseado no cumprimento de critérios de justiça social e solidariedade,

com promoção de condições dignas de trabalho e remuneração justa às atividades primárias de produção, agregação de valor e comercialização aliado a preservação do

meio ambiente. Criando uma rede de “sustentabilidade” até o produto final, que infelizmente chega ao consumidor com um preço muito mais elevado que os concorrentes.

Fig. 48: Publi-cidade do condomínio Alphaville Jacuhi em Vitória-ES.

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ele argumenta apenas que é hipocrisia pensar que os problemas sociais e ambientais serão solucionados com esta espécie de “caridade” consumista do qual apenas uma pequena parcela da população pode usufruir do produto final.

Empresas criam concursos de arquitetura onde é pré-requisito uma arquitetura “sus-tentável”, com o intuito de promover uma “imagem ambientalmente responsável”, porém nem sempre demonstram isso no resultado dos premiados, fazendo pouco da solução arquitetônica, mas sempre enfatizando as “vantagens ecológicas do empreendimento”, e maquiando outras nem tanto.

A questão é que deveria ser inerente a todo projeto de arquitetura produzir qualidade ambiental em contextualização local, com acessibilidade, funcionalidade, aspectos culturais preservados e economicamente viáveis. Nesse sentido, o conceito de desen-volvimento sustentável, que busca o equilíbrio social, econômico e ambiental já existia na arquitetura muito antes do termo “sustentabilidade” entrar no nosso vocabulário.

Em poucas palavras, a agora chamada arquitetura sustentável não é um conceito novo, mas tão somente é uma parte da

tradicional arquitetura regional.

Arquiteto Alfonso Ramírez Ponce, sobre a arquitetura regionalista, econômica por necessidade, adapta-da ao meio, e emprega materiais primários, com racionalização dos recursos naturais.

É inevitável que a construção, em sua essência artificial, altera, modifica e causa dano ao meio natural. O que devemos fazer é tentar nos aproximar ao menor impacto possível a natureza.

Não basta apenas utilizar materiais com aparência “natural” ou ter materiais naturais para receber o título de ecológico. O impacto está na forma como os materiais são produzidos, transportados e empregados na obra, na forma como o solo é ocupado e na eficiência bioclimática, reduzindo o consumo de energia e água de um projeto bem elaborado de forma a evitar desperdícios e imprevistos na obra.

Fig. 49: Projeto vencedor do con-curso da Petro-brás para sua sede em Vitória, Arq. Sidonio Porto Um dos itens de avaliação era a sustentabilidade. Na avaliação do júri, diz-se que este projeto contempla o item da implantação geral, que não e-xigirá, comparati-vamente, grandes intervenções na configuração do sítio.

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3.2 POLÍTICA, ECONOMIA E ECOLOGIA

O movimento ambientalista contemporâneo nasceu no final dos anos 1960, junto com outros movimentos sociais conhecidos como contracultura, com uma geração que rejeitava os exces-sos da sociedade de consumo e pregavam o crescimento zero. Desenvolvimento e enriqueci-mento tornaram-se aceitáveis por parte dos ambientalistas a partir da publicação ‘Limites de Crescimento’, de 1972, pelo Clube de Roma16, no qual afirmava a necessidade de conciliar

proteção da natureza a desenvolvimento econômico. Nos anos 1970 e 1980, surgiram muitas organizações destinados a proteção da natureza, a preservação da qualidade de vida e ao combate a exclusão social. A partir dos anos 1990, em muitos países, os ambientalistas obtiveram poder político, e vários de seus princípios foram adotados por outros partidos políticos.

A Constituição brasileira de 1988 já prevê um meio ambiente equilibrado a todos os brasileiros, sabemos que a realidade não acontece dessa forma, e ainda existe um longo caminho a se percorrer para que isso seja possível. A começar pela mentalidade tanto de governantes como da população em geral no âmbito de como gerir nossas cidades e indústrias; produzir alimentos; consumir e o que fazer com nossos dejetos.

De acordo com

relatório da ONU,

água poluída mata

mais que violência

no mundo. Anual-

mente morrem 1,8

milhão de crianças

com menos de 5

anos no mundo

em decorrência da

falta de água limpa

e insalubridade dos

locais onde vivem.

As mudanças climáticas iniciadas no século XX após a revolução industrial, provocadas por agressões ao meio natural tornam-se cada vez mais evidentes, e foi a partir dessas que alguns grupos começaram a se mobilizar para alertar a todos e alterar o caminho em que se esta seguindo.

Fig. 50: Esgoto a céu aberto em Cidade Estrutural, Distrito Federal.Foto: Valter Cam-panato, 2008.

16 Clube de Roma é um grupo de pioneiros da ecologia ambiental que se reú-

nem para debater o assunto em relação a política, sociologia e economia internacio-

nal. Fundado em 1968 pelo industrial italiano Aurelio Peccei e pelo cientista escocês

Alexander King.

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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologica-

mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial

à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e

à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as

presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao

Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pes-

quisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços ter-

ritoriais e seus componentes a serem especialmente prote-

gidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente

através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa

a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou

atividade potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de

técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para

a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de

ensino e a conscientização pública para a preservação do

meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as

práticas que coloquem em risco sua função ecológica, pro-

voquem a extinção de espécies ou submetam os animais a

crueldade.

Título VIII da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Capítulo VI DO MEIO AMBIENTE

A Conferência de Estocolmo, realizada em junho de 1972, na capital sueca, foi o primeiro evento mundial sobre meio ambiente, organizada pela ONU e incentivada pela sociedade científica que já detectava graves problemas futuros por razão da poluição atmosférica provocada pelas indústrias. Reuniu representantes de 113 países. Não houve acordos, sendo estes contestados pelos países em desenvolvimento que tinham como base econômi-ca promover a industrialização (já existente em países desenvolvidos), no intuito de melhorar suas situações socioeconômicas e se aproximar dos países de primeiro mundo. Desta conferência fo-ram encaminhadas questões e pesquisas apresen-tadas para compor o Relatório Brundtland, também conhecido como Our Common Future (Nosso Fu-turo Comum), organizado pela primeira ministra da Noruega e médica mestre em saúde pública, Gro Harlem Brundtland, e publicado em 1987 pelas Nações Unidas, contendo uma série de medidas propostas para o desenvolvimento sustentável, termo surgido a partir desse texto. O objetivo seria promover audiências em todo o mundo e produzir um resuldado formal das discussões.

“Desenvolvimento que atenda às necessidades do pre-

sente sem comprometer a capacidade de as gerações

futuras atenderem às suas próprias necessidades”.

Conceito de desenvolvimento sustentável pro-posto no Relatório Brundtland, 1987.

Fig. 51: Gro Har-lem Brundtland, Nova York, 1987.Foto: Milton Grant.

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Da Conferencia de Estocolmo foram lançadas as bases para o próximo grande evento. Em 1992, na conferência Rio 92 ou Cúpula da Terra, também or-ganizada pela ONU no Rio de Janeiro, os chefes de Estados presentes comprometeram-se a buscar, jun-tos, soluções para o desenvolvimento sustentável baseando-se em três princípios: conciliar critérios ecológicos, econômicos e sociais. Os compromissos assumidos se concretizariam por meio de várias me-didas que dizem respeito à atividade industrial, aos transportes, às diretrizes energéticas e a gestão dos resíduos. Um dos principais resultados desta confe-rência foi a Agenda 21, um programa de desenvolvi-mento para o século 21 com compromissos que devem

ser assumidos pelos Estados em âmbito social e econômico: combate a pobreza, controle demográ-fico, proteção sanitária, mudança dos hábitos de consumo, promoção de um modelo urbano viável nos países em desenvolvimento e a integração das preo-cupações ambientais nos processos de tomada de decisões. Muitas comunidades foram incentivadas a elaborar uma agenda 21 local adaptada a sua realidade.

Na Conferência internacional de 1996, no Japão, foi estabelecido o Protocolo de Kyoto, tendo uma vocação operacional mais prática. Nele os chefes de Estado presente comprometeram-se a reduzir, com cotas definidas aos países desenvolvidos, a emissão de CO2 e cinco outros gases de efeito estufa. As divergências entre Europa e EUA sobre os créditos de carbono causaram dificuldade ao alcance das metas estabelecidas, já que o ex-presidente norte-americano George W. Bush, governante do país mais poluente do mundo, se recusou a ratificar o acordo, alegando que tais compromissos interferem negati-vamente na economia do país.

No setor da construção, a efetivação dos compro-missos assumidos em Kyoto tem forte implicação no planejamento territorial, no urbanismo e na ar-quitetura, já que é esta a indústria que consome aproximadamente 50% dos recursos naturais ex-

Fig. 52: Charge Bush-Kyoto, Jonathan Zapiro, 2011.

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plorados na Terra, 40% de energia e 16% de água (Fonte: Ceotto, 2008). Construções e demolições de edifícios produzem mais resíduos que o lixo doméstico. E a produção de materiais como o cimento é grande responsável pelas emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa.

Nos anos seguintes os avanços foram muito pequenos, a onda do livre mercado avançou mais rapidamente que as propostas do desenvolvimento sustentável. Os governos dos países em desenvolvimento ficaram mais preocupados em aplicar os programas de ajuste estrutural do FMI do que implementar as recomendações da Agenda 21, tanto que o Brasil publicou a sua própria apenas em julho de 2002.

A Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Johannesburgo, África do Sul, realizada 10 anos após a Rio 92, teve como objetivo principal discutir soluções já propostas na Agenda 21 e sua apli-cabilidade não apenas pelo governo, mas também pelos cidadãos. As ONGs e os movimentos sociais foram convidados a participar na elaboração dos objetivos, fizeram muitas propostas e publicaram a bela “Carta da Terra”, uma declaração de princípios éticos para a construção de uma sociedade mais justa. Mas tudo isso se esbarra na lógica neoliberal de crescimento econômico, maior produção e consumo, amplamente difundida no mundo. O poder das multinacionais na definição das políticas econômicas e financeiras foi substituindo o dos Estados, tornando-os meros subordinados destas.

Em 2012, novamente no Rio de Janeiro, a Rio+20, uma nova conferência organizada pela ONU foi feita para discutir sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, até agora pouco implantado. Cento e noventa nações se reuniram, novamente propondo mudanças na gestão dos recursos naturais do planeta, e a associação a questões socioeconômicas como a falta de moradia

Fig. 53: Charge para o jornal Hoje em Dia, Lute, 2012.

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Fig. 54: Logo da Cúpula dos Povos, 2012.

3.3 NORMAS, SELOS E CERTIFICAÇÕES

As certificações ambientais de edificações são sistemas de mensuração para a ar-quitetura e urbanismo, uma forma de ori-entar os consumidores, funcionam como uma espécie de atestado com o intuito

de garantir que as construções estão de acordo com parâmetros pré-estabelecidos envolvendo redução do consumo de energia e água, e o conforto ambiental.

Estes ainda são muito incipientes no Brasil e no mun-do, sendo os países de primeiro mundo os pionei-ros nesse quesito e consequentemente com melhor desenvolvimento na área, como a Alemanha e Suécia.

Os selos e as certificações, para melhor compreen-são, podem ser divididos em três níveis: selos de pri-meira parte, quando o fabricante relata as qualidades e as características do produto; de segunda parte, quando é conferido por empresa de consultoria ou associação que divulga os dados e comportamentos ao mercado; e os de terceira parte, quando são con-feridos por instituições acreditadas e isentas, que avaliam e testam os produtos em laboratório.

No Brasil a ABNT é um órgão independente mantido pela indústria e por prestadores de serviços, que es-tabelece parâmetros de qualidade e certifica produtos e serviços. O Inmetro é uma autarquia federal que

e salubridade em muitas regiões.

Paralela a conferência oficial das Nações Unidas, ocorreu no Rio de Janeiro a Cúpula dos Povos, evento organizado por ambientalistas e ONGs, considerando que as ações da ONU para com-bater as injustiças socioambientais foram frus-trantes nos últimos 20 anos. A pauta oficial da Rio+20, chamada de economia verde, é conside-rada por estes ambientalistas insatisfatória para lidar com a crise do planeta, os organizadores da Cúpula dos Povos sugerem que os modelos de produção e consumo capitalistas não são com-patíveis com um desenvolvimento sustentável.

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Fig. 55: Selo FSC, garantia do manejo florestal.

analisa, ensaia e certifica produtos com base nas especificações geradas pela ABNT e entidades internacionais como a International Organization for Standardization (ISO). A indústria de eletro-eletrônicos têm, desde 1993, o selo Procel, criado e utilizado para ajudar o consumidor na escolha de produtos energeticamente mais eficientes. Con-tudo, a indústria não fornece ao consumidor ou ao especificador, dados relevantes sobre a energia embutida na produção, nem uma política clara sobre o descarte do material e média de vida útil do produto.

A madeira de reflorestamento têm o selo FSC (Conselho de Manejo Florestal) como referência no atestado de origem e qualidade, entretanto este não fornece informações sobre os processos pos-teriores à colheita, como o tipo de química, polu-ente ou não, que foi utilizada no tratamento.

No mercado brasileiro de construção civil de pro-jetos de grande escala, o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED - certificação americana desenvolvida pela ONG United States Green Building Council - USGBC - em 1998), devido as semelhanças do mercado imobiliário brasileiro se tornou o mais difundido em nosso país. Trata-se de um sistema de pontuação ba-seado em números de referência para diferentes

tipos de construção, num total de 110 pontos, a cons-trução deve somar no mínimo 40 a fim de obter um dos níveis de certificação. Pontuações acima disso recebem o selo prata, ouro ou o mais elevado, platina. O processo de certificação se inicia com o cadastro do empreendimento no site do USGBC (www.usgbc.org), mediante o pagamento de uma taxa que varia conforme a tipologia e a metragem da obra. A partir de uma equipe especializada devem ser produzidos relatórios e memoriais a serem enviados ao USGBC. No final da obra o empreendimento será auditado e receberá a certificação em acordo com o total de pontos obtidos. No Brasil, desde 2008, o LEED vem sofrendo transformações para se adaptar melhor as condicionantes locais e mercado. Críticos o acusam de greenwash, por super valorizar novas tecnologias e produtos. Aborda apenas o quesito ambiental da sustentabilidade, enquanto ignora os aspectos cul-turais, sociais e econômicos. Além das inovações ar-quitetônicas em si não receberem muita pontuação.

Fig. 56: Publi-cidade dos vidros SunGuard anunciando que se especificado, o projeto ganhará pontos Leed.

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A fundação Vanzolini (entidade privada ligada à Escola Politécnica da USP), baseado no sistema francês Démarche HQE, criou o Processo Aqua, adaptando-o a realidade brasileira. Esta certificação exige maior atenção na fase inicial de projeto, sendo a certificação subdivida em: programa; concepção (projeto); realização (obra) e operação (uso). Em cada fase são avaliadas o atendimento aos critérios de desempenho da qualidade ambiental do edifí-cio (QAE), e a certificação é concedida ao final de cada etapa através de auditores independentes que avaliam o atendimento ao Referencial Técnico com-posto por 14 (quatorze) itens. Estes 14 itens foram baseados nas condutas propostas pela Agenda 21 e reformuladas pela HQE, isto torna estes dois sis-temas um pouco mais subjetivos em sua avaliação.

Inspirada na etiqueta de eficiência energética de eletroeletrônicos, foi criada a Procel Edifica, eti-queta de eficiência energética em edificações, desenvolvida em parceria entre a Eletrobrás e o Inmetro em 2009. Ela segue a classificação do In-metro, com níveis de eficiência que variam de A (mais eficiente) à E (menos eficiente). Segundo o professor da UFSC Roberto Lamberts, o sistema surgiu para atender à Lei de Eficiência Energética 10.295, de 2001, que obriga o governo a definir níveis mínimos de eficiência energética ou níveis máximos de consumo de tudo o que necessita ener-

gia em seu funcionamento, o que inclui edifícios. O sistema ainda esta em fase de implantação, iniciado com edifícios comerciais ou públicos, e desde 2010 implantado em condomínios residenciais. A idéia é que

Fig. 58: Selo Procel Edifica concedido ao Edi-fício CNATE, Belo Horizonte, 2011.

Fig. 57: Selo Pro-cesso Aqua.

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a etiquetagem se torne obrigatória, porém ainda precisam ser superadas algumas dificuldades como a falta de laboratórios para avaliar as edificações.

O Aqua esta utilizando o Procel Edifica como refe-rência energética. Complementando-se os certifi-cados garantem um melhor desempenho, já que o Procel Edifica contempla apenas a obra na eficiên-cia energética, e o Aqua avalia desde o projeto, passando pela obra em si, e o edifício em operação.

O Selo Casa Azul da Caixa, é a primeira certificação brasileira destinada a empreendimentos habitacio-nais, surgiu em junho de 2010 na necessidade de avaliar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e demais projetos financiados pela Caixa Econômica Federeal. Elaborado com partici-pação do Laboratório de Eficiência Energética de Edificações (LabEEE) da UFSC, com financiamento da Caixa. Um diferencial é a avaliação da qualidade urbana do local de implantação da edificação, como fácil acesso à escola; comércio local; transporte público entre outros. Disponibiliza manual online para consulta.

Nenhuma certificação pode garantir um desem-penho sustentável, assegurando apenas que o edi-fício possua condições técnicas e arquitetônicas para o conforto ambiental através de baixo impacto

ecológico, mas depende do comportamento dos fu-turos usuários para que estes sejam realmente efi-cientes. Uma educação permanente da sociedade quanto ao tema se faz necessária, devendo ser incluí-das informações claras no manual de operação para obter o melhor desempenho no uso, na operação e na manutenção da edificação.

As legislações de obras e Planos Diretores Municipais (PDM) também são ferramentas de grande utilidade para o controle da qualidade do projeto e a redução do impacto ambiental da edificação. Um exemplo é o Código de Obras de São Paulo, que desde 2008 exige que construções com mais de quatro banheiros (incluindo lavabos) devem utilizar sistema de aqueci-mento solar de água, e as casas e apartamento com três banheiros devem prever em sua infraestrutura a futura instalação do equipamento. Apenas edificações que comprovem por meio de laudo inviabilidade por baixa incidência solar estão isentas.

Outros selos difundidos no mundo são a tabela de avaliação Breeam no Reino Unido; a tabela DCBA na Holanda; o conceito Minergie na Suíça; e ambos na Alemanha os selos Habitação de Baixa Energia e o Habitação Passiva, famoso pela exigência de baixís-simo consumo de energia na calefação.

Fig. 59: Selo Casa Azul Caixa.

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04REDUZIR O IMPACTO

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4.1 PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS

Para se alcançar boa qualidade ambiental na arquitetura, é fundamental a observação do meio ambiente onde será construído: clima; ventos dominantes; topografia; visuais; situações adversas da região e questões socioeconômicas. Buscando respostas compatíveis ao sítio. A harmonia do edifício com o

entorno para que se proporcione maior conforto aos usuários baseia-se em uma escolha sensata do partido da arquitetura, de sua implantação no terreno e da disposição dos espaços correlacionados a orientação solar. A diversidade de soluções arquitetônicas atesta que a abordagem ambiental pode ser aplicada em todos os contextos.

Fig. 60: Estudo para a proposta objeto deste trabalho.

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4.2 MATERIAIS

A escolha dos materiais tem grande influência sobre o meio ambiente, a qualidade dos espaços da construção e até à saúde dos usuários. É complexa esta avaliação sobre o impacto dos materiais, uma vez que ainda não temos uma legislação de avaliação padronizada, e informações necessárias

muitas vezes são difíceis de se obter.

CONTROLE AOS IMPACTOS SOBRE O MEIO AMBIENTE

Como critérios iniciais devem ser analisados o ciclo de vida e a quantidade de matéria, de energia e de água necessária às diferentes etapas.

É relevante priorizar materiais que util izem matérias primas renováveis. Com relação a fa-bricação podemos dividi-los em dois grupos: de baixo e de alto consumo de energia. “Os de baixo consumo seriam a terra, a madeira, a pedra e o tijolo(...). Os de alto consumo são o vi-dro, o alumínio, o aço, o cimento entre outros.” (Alfonso Ramírez Ponce, http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.095/150). A opção por produtos locais é benéfica, estimulando a econo-mia regional e reduzindo a en-ergia gasta com transporte. A vida útil dos produtos deve ser

Fig. 61: Ciclo de vida dos materiais de construção. Fonte: Do autor.

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levada em consideração, e a adequação ao uso, não sendo necessário escolher materiais muito resistentes para equipamentos e revestimentos que estão sujei-tos a serem reformados em pouco tempo. Conjunta-mente materiais de fácil manutenção e conservação são mais adequados e reduzem gastos. O baixo im-pacto também está relacionado as possibilidades de reutilização, e reciclagem, materiais não compostos e de técnicas desmontáveis naturalmente facilitam seu reaproveitamento.

CONTROLE AOS RISCOS PARA A SAÚDE

Os riscos que provocam os materiais provêm de ema-nações de produtos tóxicos existentes desde o início da utilização do material ou que aparecem aciden-talmente. Atualmente existe um medo coletivo sobre toda descoberta envolvendo doenças como o câncer por exemplo. Materiais até pouco tempo utilizados em larga escala, como o amianto, estão sendo substituí-dos, e outros como a lã mineral, ainda são objeto de polêmica. Outros materiais podem ser alergênicos, devido a fácil proliferação de microrganismos ou de emanação de compostos orgânicos voláteis (COVs). Adesivos, tintas, selantes e vedantes devem passar por ensaios para determinar o teor de COVs, porém a legislação brasileira sobre os limites de toxicidade é muitas vezes influenciada por questões econômi-cas. Optar por tintas a base de água, de terra ou de

pigmentos minerais naturais e evitar o uso dos que são a base de solvente é uma solução a falta de informação.

Pode-se fazer uma distinção entre os riscos que acometem fabricantes e instaladores, e os que trazem prejuízos a saúde dos usuários. No primeiro caso, é importante observar as instruções dos fa-bricantes para a instalação sem acarretar transtornos aos trabalhadores. É importante buscar materiais isentos de qualquer toxicidade e aplicar o princípio da prevenção em caso de dúvida.

RECICLAGEM E REAPROVEITAMENTO

No mercado já se encontra uma gama elevada de materiais para construção civil feitos a partir da reci-clagem. Alguns desses materiais chegam ao mercado com um custo maior do que os tradicionais, isso se justifica no custo da produção, que ainda acontece em locais pontuais do país, muitas vezes distantes, e por utilizar novas tecnologias, ainda não difundidas. Devem ser observadas algumas questões para que esse material seja realmente ecológico, alguns ne-cessitam ser fortemente processados com químicas, muitas vezes poluentes para a sua transformação. Outra questão a ser observada é a porcentagem de material de reciclagem do qual é composto, podendo variar de 5% (praticamente nulo) a 100%, e as dis-

Fig. 62: Pisoleve, piso produzido a partir de pneu re-ciclado destinado a áreas externas. Fonte: Pisoleve

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tâncias percorridas por este material até a obra.

Evitando o transporte, tanto do novo material, quanto o disque entulho, uma solução é o uso de entulhos de demolição na própria obra, por meio de equipamentos portáteis, que podem ser levados ao canteiro de obras. Desta forma, o entulho é selecionado no próprio canteiro de obras e triturado em uma maquina, gerando agregados para serem utilizados em concretos não estruturais, em tijolos17, em areia e etc. A reciclagem de telhas de barro e cerâmica gera agregados que podem ser utilizados em pisos ou em elementos onde a pigmentação avermelhada é desejável. Para fazer a reciclagem do entulho é apenas necessário que haja um controle da qualidade do entulho, com análise para evitar contaminação ou presença de resíduos perigosos, que devem ser imediatamente separados e descartados de maneira adequada.

O reaproveitamento de materiais retirados com cuidado na demolição, sem a necessidade de processamento também é uma alternativa. No mercado esse tipo de material, geralmente madeira de lei; janelas; portas e outros itens muitas vezes são destinados a antiquários, e se encontram com um valor muito elevado. Porém com atenção, pode-se encontrar bons materiais na demolição local.

17 Tijolo de entulho: Reduz o impacto utilizando como matéria prima materiais que seriam

descartados, além de ter uma produção não poluente, já que não é necessário a combustão para secar,

evitando a emissão de CO. São feitos em formas modulares de encaixe como as dos tijolos de solo-ci-

mento, contendo furos por onde passam toda a instalação elétrica e hidráulica ou reforços de concreto

e ferragem. A colagem do tijolo é feito com uma massa a base de PVA que dispensa a utilização de

água, areia, cal e betoneira, evitando o desperdício da argamassa e criando uma obra mais limpa.

Fig. 63: Tijolo de entulho.

Fig. 64: Massa para fixação de tijolos ou blocos.

Fig. 65: Máquina trituradora de entulho de cons-trução. Fonte: Grupo Baram.

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CONCRETO

Muitas universidades no Brasil e no mundo estão es-tudando formas de reduzir o impacto de materiais tradicionais e de difícil substituição em nossa modo de construir. A UFRJ e a USP desenvolveram tipos de concreto onde a matéria prima que seria tradi-cionalmente extraída da natureza é substituída. A USP propõe o uso da areia de fundição (utilizada primeiro em moldes nos processos de fundição de peças metálicas), substituindo 70% da areia comum, e a escória de aciaria (resíduo que sobra da produção do aço), substituindo 100% da brita. Ainda esta em fase de teste para o uso como concreto estrutural. A UFRJ desenvolveu o concreto com agregado de fibras vegetais (cinza de bagaço de cana-de-açúcar; cinza de casca de arroz e resíduos da indústria cerâmica), troca-se a brita por material de demolição de cons-truções antigas. O resultado é a redução de 20% a 40% do uso de cimento, e 50% para fibrocimento onde a fibra vegetal substitui as fibras minerais como o amianto (causador de danos a saúde).

MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A madeira é vista como um material promissor à ar-quitetura ecológica, entretanto no caso do Brasil, as longas distâncias entre as regiões de extração e corte e as regiões de consumo nem sempre ga-

rante a redução do gasto energético, mesmo que seja madeira nativa certificada. Seu uso somente é coerente quando os canteiros de obras forem próxi-mos às áreas de corte, que ocorrem principalmente na região norte.

A madeira de reflorestamento parece ser a saída mais adequada, uma vez que seu ciclo de renovação é relativamente curto e durante seu desenvolvimento a árvore sequestra grande quantidade de CO2 da at-mosfera. As distâncias entre áreas reflorestadas e os principais centros consumidores são mais próximos. São também mais homogêneas e por isso melhor empregadas.

A industrialização surge como um importante recurso para aproveitar integralmente a matéria-prima, trans-formando a madeira em lâminas e painéis, eliminando os defeitos e ampliando as possibilidades de uso do material. Com o uso de vernizes e colas a base de água e baixa toxicidade, a madeira industriali-zada é de fácil desmontagem e pode ser reutilizada como matéria-prima. Também é considerável no desenvolvimento sócio-econômico, por requerer mão-de-obra treinada e qualifi-cada para as operações, reduzindo a informalidade e gerando oportuni-dades de crescimento profissional.

Fig. 66: Madeira bruta.

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MADEIRA LAMINADA COLADA (MLC)

Produto de madeira projetado, composto por lâminas de ma-deira individuais co-ladas com adesivos estruturais. Esta téc-nica tem baixo custo Fig. 67: Centre

Pompidou Metz, obra do arquiteto Shigeru Ban onde foi utilizada MLC na estrutura da cobertura.Fig. 68: Esquema de Madeira Lami-nada Colada.Fig. 69: Parede de Heineken WOBO.Fig. 70: Tijolos Heineken WOBO.

18 Heineken WOBO - Alfred Heineken, proprietário da cervejaria Heineken era um homem de visão. Ficou perplexo quando visitando a

ilha Caribenha de Curaçao em 1960 viu milhares de garrafas jogadas na praia, as garrafas eram retornáveis, porém na ilha não havia recursos

para mandar as garrafas para os locais distantes de engarrafamento de onde tinham vindo. Unindo a preocupação a falta de materiais de

construção a preços acessíveis, ele encomendou o arquiteto holandês John Habraken para desenhar o que ele chamou de “tijolo que contém

cerveja”. Uma garrafa com sistema intertravado quando colocada horizontalmente foi desenvolvida. Infelizmente o mercado não comprou a

idéia na época e Alfred não deu continuidade ao desenvolvimento do conceito da garrafa WOBO. Apenas duas pequenas construções exemplo

foram executadas com a garrafa na Holanda.

de implantação, permite a confecção de peças estru-turais de grande porte e excelente racionalização da obra. Prioritariamente se utilizava adesivos sintéti-cos a base de fenol-formaldeído, com grandes fa-tores negativos, como o alto consumo energético por precisar de altas temperaturas para a cura (130ºC a 160ºC) e o alto custo do fenol, cuja matéria-prima é o petróleo, e possui alta toxicidade acarretando prejuí-zos ambientais e à saúde. Atualmente já é fabricada a

MLC com colas e vernizes alternativos, não tóxicos, como o adesivo a base de mamona, recurso natural e renovável. O poliuretano a base de mamona é clas-sificado como impermeável e apresenta a caracterís-tica de não agressividade ao meio ambiente e ao ser humano. Sua cura é processada com temperatura ambiente, podendo ser acelerado com temperatura de 60ºC a 90ºC, e estima-se que quando colocada em larga escala no mercado, poderá atingir preços bem satisfatórios.

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4.3 AUTONOMIA ENERGÉTICA

A crise energética atual demonstra a indis-sociável relação desta, com a economia e estilo de vida do mundo contemporâneo, o que vem afetando e criando instabilidades políticas em várias partes do globo. O que

em se tratando de Brasil nos direciona para a geração de energia elétrica em locais remotos e com grandes impactos ambientais e sociais, como a construção da futura usina de Belo Monte, que afetará várias comu-nidades ribeirinhas do Rio Xingu.

No Brasil a geração de energia sempre se concentrou em hidroelétricas, que correspondem a 38% do con-sumo (Fonte: Ministério de Minas e Energia). Por ser renovável, aparentemente o impacto é baixo, porém são empreendimentos de grande escala, que trans-formam uma região inteira, sendo necessário o des-matamento e alagamento para a implantação desta, alterando todo um ciclo já estabelecido pela natureza, causando também grandes impactos sociais, devido a remoção de vilas e aldeias e imigração desordenada de trabalhadores e pessoas em busca de trabalho. Outro impacto acontece devido as grandes distancias entre pólo produtor e pólo consumidor, necessitando estruturas de custo elevado para que a energia seja levada ao consumidor, ocorrendo também perca de energia ao longo deste trajeto.

Já possuímos no mundo tecnologias para a micro-geração de energia (geração de energética no próp-rio imóvel). A partir da resolução normativa 482/2012 da ANEEL (Agencia Nacional de Energia Elétrica) foi aprovada e regulamentada a conexão de gera-dores de energia de pequeno porte ao sistema de distribuição de energia elétrica pública, chamado sistema de compensação. Pela lei, o consumidor pode instalar geradores de fontes incentivadas de energia (hídrica; solar; biomassa; eólica e cogeração qualificada) e o que não for consumido será injetado no sistema da distribuidora, que utilizará o crédito para abater o consumo dos meses subsequentes. Os créditos poderão ser utilizados em um prazo de

Fig. 71: Sistema de compensação de energia elétrica.

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36 meses e as informações estarão na fatura do con-sumidor, a fim de que ele saiba o saldo de energia e tenha o controle sobre a sua fatura. Para isto utiliza-se dois relógios contadores ou um relógio bidirecional, o primeiro apresenta uma leitura de consumo da rede e o outro de geração/injeção.

ENERGIA SOLAR

Painéis fotovoltaicos convertem a energia solar em energia elétrica de forma silenciosa, não poluente e renovável e com mínima manutenção. Pode estar in-tegrado a cobertura da edificação e produzir energia além da necessária para gerir o edifício, doando parte para o meio urbano coletivo. O custo para a insta-lação dos aparelhos oferecidos no mercado ainda é elevado, estima-se uma média de US$600/m² (aproxi-madamente R$ 1205,00) , sendo que geralmente 1m² fornece 0.1kWh (R$12.050 por 1kWh), e os acumu-ladores/baterias são responsáveis por grande parte deste investimento. Materiais alternativos e outros métodos são estudados para reduzir os custos.

O engenheiro mecânico e ambientalista Fernando Alves Ximenes desenvolveu um painel fotovoltaico e térmico (produtor de energia e aquecedor de água através da energia solar) produzido com fibra de coco. O sistema apenas depende da certificação de órgãos oficiais nacionais para ser colocado no mercado, exis-

Fig. 72: Fernando Alves Ximenes e sua placa PVT. Fonte: Diário do Nordeste.

Fig. 73: Charge de Mike Peters.

tindo no momento apenas um equipamento piloto fun-cionando em uma residência na região metropolitana de Fortaleza - CE desde fevereiro de 2012. Neste mesmo ano o painel solar de fibra de coco foi apre-sentado ao governo federal para que fosse incorpo-rado ao projeto “Minha Casa, Minha Vida”, programa social do governo federal que visa a construção e financiamento habitacional para famílias com renda até R$5.000, porém não foi aprovado por inviabilidade financeira de acordo com as autoridades. O equipa-mento deve chegar ao mercado custando cerca de R$2.300, e gerando até 120kW/h, ou seja, aproxi-

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madamente R$19,15 por 1kWh, 0,15% do valor dos aparelhos atualmente existentes no mercado.

Para o melhor desempenho e rendimento do equi-pamento devem ser observados a melhor orientação geográfica para sua instalação. No Brasil esta seria o norte e com inclinação equivalente a latitude do local mais 10°.

ENERGIA EÓLICA

O vento é uma fonte de energia renovável instável, e não aplicável a qualquer região. A partir de uma

turbina eólica, a energia cinética do vento é transformada em energia mecâni-

Fig. 74: Turbina Eólica.

Fig. 75: Veloci-dade dos ventos no E.S.. Fonte: IPEMA

ca. Admite-se que seja necessário uma velocidade de vento mínima de 5 m/s, no Espírito Santo veloci-dades igual ou acima desta potência são encontradas com frequência apenas no sul e na região da foz do Rio Doce, sendo assim Regência um local de indi-cado a ser explorado para instalações de baixa potên-cia destinadas a uso par-ticular (menos de 30Kw).

Uma desvantagem a energia eólica é o impacto pro-vocado à pássaros e morcegos, mortos com frequên-cia pelas turbinas. Pesquisas recentes do “Europe-an Journal of Life” detectou que esses animais são atraídos pelos insetos que por sua vez se atraem pela cor branca reluzente das turbinas. Os cientis-tas fizeram testes com cartões coloridos colocados próximos as turbinas, e descobriram que a cor roxa repele os insetos, assim, até mesmo morcegos que se guiam apenas pelo som, se afastariam das turbi-nas evitando sua morte.

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BIOGÁS

O Biogás é produto da fermentação de resíduos domésticos; sedimentos produzidos nas estações de trata-mento e dos resíduos agrícolas e industriais. Pode ser transformado em calor por combustão ou eletrici-dade através de motores térmicos ou turbinas a gás, substituindo o gás natural. A microgeração do gás já é utilizada no imóvel “Habitação e Trabalho” em Freiburg Im Breisgau, Alemanha. O imóvel possui a quase autonomia no plano energético e utiliza o biogás produzido através das águas negras e resíduos orgânicos para alimentar os fogões das residências.

Fig. 76: Esquema de funcionamen-to do biodigestor. Imóvel Habitação e Trabalho em Freiburg im Bre-isgau, Alemanha, 2000. Arquitetos: Common & Gies.

PREPARAÇÃO DE RESÍDUOS

VERDES

USINA A VÁCUO

PRODUÇÃO DO BIOGÁS

ESTOCAGEM DO BIOGÁS

CISTERNA COM BOMBA

DE RECALQUE

ESTOCAGEM DO ADUBO

1 VASO SANITÁRIO A VÁCUO2 CIRCUITO DA CALEFAÇÃO3 INSPEÇÃO4 CALEFAÇÃO5 ALÇAPÃO6 ISOLAMENTO7 CÂMARA COM BIOGÁS8 SAÍDA DO BIOGÁS

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4.4 RECURSOS HÍDRICOS E ESGOTAMENTO SANITÁRIO

A água é um recurso cada vez mais raro e pre-cioso, vital para a vida. Porém o desperdício é grande, principalmente nas áreas mais indus-

trializadas e urbanizadas.

Cada brasileiro recebe em média 260 litros de água por dia,

aumentando a demanda na região sudeste e diminuindo

na região nordeste. Sendo que nos municípios com mais de

100 000 habitantes a água distribuída é quase totalmente

tratada, e nos municípios com menos de 20 000 habitantes,

32,1% do volume distribuído não recebe qualquer tipo de

tratamento.

(Dados do IBGE - PNSB 2000)

Fig. 77: Úsos da água pluvial. Fonte: Portal Ecoeficientes.

Na construção, existem diversos recursos que fa-vorecem o gerenciamento do ciclo das águas e reduzem o seu consumo.

ÁGUAS PLUVIAIS

Uma economia de 30% A 60% pode ser feita reservan-do-se a água potável para a alimentação e a higiene pessoal, e atendendo a outras necessidades como rega dos jardins, limpeza do ambiente e de roupas e caixas de descarga de vasos sanitários com as águas pluviais.

O sistema compreende a captação da água através

das coberturas e calhas; filtragem com sistemas autolimpantes antes de chegar a cisterna; e insta-lação no interior do reservatório de duas etapas de depuração que não necessitem manutenção. A cister-na deve ser instalada em local fresco e sombreado, e todo o sistema de canalização deve ser identificado com a menção “água não potável”.

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GESTÃO DAS ÁGUAS SERVIDAS“Parte da nossa percepção diária de realidade é que isso

desaparece do nosso mundo. Quando você vai ao banheiro,

as fezes desaparecem, após você dar descarga. É claro que

racionalmente sabemos, esta ali na tubulação de esgoto. Mas

no nível básico da nossa experiência isso desaparece do nosso

mundo. O problema é que o lixo não desaparece.”

Slavoj Zizek (Citação no documentário Examined Life dirigido por Astra Taylor)

Em países subdesenvolvidos como o Brasil, os pro-blemas sanitários ainda são causa da proliferação de muitas doenças. A poluição dos recursos hídri-cos por despejo de esgoto sem tratamentos, e dos lençóis freático por fossas mal executadas ou sem manutenção ainda acontece principalmente em áreas de baixa renda e locais distantes dos grandes centros urbanos como Regência.

No Brasil 33,5% dos domicílios são atendidos por rede geral

de esgoto, sendo os pequenos municípios os menos atendi-

dos. E de todo o esgoto coletado diariamente, apenas 35% é

tratado.

(Dados do IBGE - PNSB 2000)

Algumas alternativas ao esgotamento sanitário tradi-cional já foram estudadas e são boas opções para tratamento sem a necessidade de redes de esgoto gerais, que são obras caras e demoradas, gerando grandes transtornos ao local, além disso, devem sem-pre ser ampliadas, já que devido ao crescimento ur-bano, as tubulações se tornarem insuficientes após algum tempo.

BIODIGESTOR

Como já mencionado sobre a geração do biogás, o biodigestor também é uma solução ao esgotamento sanitário. Além de produzir o biogás, a fermentação das águas servidas e lixo orgânico produz outros dois subprodutos: os biofertilizantes sólidos e líquidos, que podem ser utilizados como adubo pela agricul-tura, sendo mais bem tolerado pelas plantas e solo do que o adubo animal original ou o adubo químico. Estes efluentes podem ser tratados por zona de raízes posteriormente.

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO POR ZONA DE RAÍZES

As estações de tratamento de esgoto por zona de raízes são eficientes e podem ser integradas ao pais-agismo, sendo inodoro. O custo de implantação é pequeno, e seus subprodutos podem ser aproveitados para diversos outros fins, como criação de peixes.

Pode ser implantada de forma participativa, com o objetivo de repassar o conhecimento da tecnologia para o próprio usuário, com função ao mesmo tempo ecológica e pedagógica. Parte do processo de cons-cientização dos usuários em relação ao tratamento do esgoto se faz utilizando a percepção destes em relação à planta tornando-a um dos indicadores de

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Fig. 78: ETE por zona de raízes as-sociado à jardim residencial. Fonte: Nijen Paisagismo, 2011.

Fig. 79: Esquema de ETE por zona de raízes. Fonte: Netto, 2011.

eficiência da estação pelo aspecto das mesmas, assim como a possibili-dade de visualizar o efluente tratado, que causa um impacto positivo no usuário das ETEs.

As plantas nativas são as que apre-sentam maior eficiência. Diversas já foram estudadas para este fim, como: junco; taboa; bambu; copo-de-leite; mini-papirus; helicônias e bananei-ras, sendo indicado a mistura de di-versas espécies. As características básicas das plantas mais indicadas são aerênquima bem desenvolvido e raízes em forma de cabeleira.

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EQUIPAMENTOS REDUTORES

A redução do consumo também pode ser feita através de equipamen-tos econômicos como os sanitários a vácuo, similar aos existentes em aviões, utilizam apenas 20% da quantidade de água necessária para um vaso sanitário econômico comum, outro exemplo são as torneiras com arejadores, que misturam ar a água e dão a sensação de maior

Fig. 80: Mictórios acoplados a lavatórios.

Fig. 81: Esquema de funcionamen-to do mictório acoplado a lavatório. Fonte: Designer Kaspar Jursons, Letônia.

volume d’água ao usuário, gerando uma economia de 60% de água. Há também produtos com desenho ino-vador como a associação de mictórios a lavatórios.

Ainda assim a educação para um comportamen-to responsável ainda é o maior gerador de economia e conservação da quali-dade dos recursos hídricos.

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4.5 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Nas cidades com até 200 000 habitantes são recolhidos de 450

a 700 gramas de lixo por habitante; nas cidades com mais de

200 000 habitantes esse número aumenta para a faixa entre

800 a 1 200 gramas por habitante.

(Dados do IBGE - PNSB 2000)

Existem diversos destinos para o lixo, os mais utilizados são justamente os piores. Começan-do pelos depósitos de lixo a céu aberto, popu-

larmente conhecido como “lixão”. Sem tratamento adequado prévio do solo e sistema de tratamento de efluentes líquidos, o chorume, que escorre pela terra e contamina o solo e lençol freático, os gases propagam o mal cheiro e transformam o local em área de risco. Esses locais atraem ratos e insetos transmissores de doenças, e apesar disso, são o ambiente de trabalho e moradia de muitas crianças, adolescentes e adultos, que costumam tirar seu sustento procurando restos de alimentos para comer e materiais recicláveis para vender.

Com o objetivo de amenizar as consequências am-bientais e sociais negativas dos “lixões”, foram cria-dos os aterros controlados. Nesse sistema, depois de lançado no depósito, o lixo é coberto por uma ca-mada de terra e as vezes gramado. O impacto visual é coberto, evita-se a proliferação de pragas urbanas como ratos. Porém não há cuidado com o chorume

“Lixão” e Aterros controlados

Reciclagem

Aterro sanitário

Não coletado

Fig. 82: Gráfico so-bre o destino dos quase 62 milhõ-es de toneladas de lixo gerados por ano no Brasil de acordo com estudo da ABRELPE (Asso-ciação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos).

Fig. 83: Lixo na praia de Regência trazidos pelos quase 1.000 Km de leito do rio Doce. Foto: autor desconhecido.

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Fig. 84: Lixão. Fonte: Humor Inteligente.

Fig. 85: Onda de Lixo.

e gáses. A evolução desses sistemas foi o aterro sa-nitário, onde tudo é pensado, preparado e operado de maneira a evitar danos ao meio ambiente e a saúde pública. Desde a escolha do local, fazendo-se a im-permeabilização do solo, e coleta do chorume para posterior tratamento, e do gás metano para arma-zenamento e possibilidade de geração de energia ou queima para evitar acidentes. Nestes aterros não há catadores, e a quantidade de resíduos que entra é controlada. Após esgotada a capacidade do terreno, a empresa que opera o aterro é responsável por recu-perar o solo. O problema desse sistema é que ele não trata os resíduos, apenas armazena, e áreas cada vez maiores são necessárias para esconder nossos lixos.

As usinas de incineração de lixo, não existentes no Brasil até o momento, prometem reduzir a cinzas os resíduos sólidos e ainda produzir energia, porém a um alto preço a saúde pública. A queima do lixo gera gases poluentes, além do resíduo final, apesar de ter dimensões muito menores, é altamente tóxico, sendo uma solução descartada pelo nosso governo. A queima praticada de forma doméstica ou em terrenos vagos também possui o mesmo problema, podendo causar intoxicação aos que estiverem próximos.

COLETA SELETIVA

O melhor destino seria a reciclagem, gerando um ciclo

contínuo e infinito com os resíduos. Um dos principais motivos para a pouca utilização deste processo no Brasil é o seu custo elevado, sendo o processo de implementação 15 vezes mais caro do que os aterros. Outra barreira é a questão cultural, que gera dificul-dade para a coleta.

Em muitos países desenvolvidos estes obstáculos já estão sendo superados, colocando também a respon-sabilidade sobre a iniciativa privada e educando a população para obter sua colaboração. Por exemplo, quando um cliente vai adquirir uma pilha nova, deve devolver uma antiga já utilizada, pagando assim um valor menor no produto.

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Fig. 86: Charge Catador na Forbes. Autor: Newton Silva.

Fig. 87: Ciclo da compostagem. Fonte: Agricultura Urbana.

Para a reciclagem, a coleta seletiva separa o lixo entre papel, metal, plástico, vidro e matéria orgânica. Com o intuito de facilitar o programa de educação da população na separação do lixo doméstico, no Brasil são feitas campanhas para a divisão por lixo em seco (recicláveis) e lixo úmido (orgânicos e em-balagens sujas), facilitando o processo de triagem nas cooperativas de catadores e reduzindo o risco de desenvolvimento de doenças relacionadas ao lixo por estes profissionais. Os lixos de alta periculosidade, como pilhas e lâmpadas, são recolhidos nos postos de venda (supermercados entre outros). A arquitetura deve prever espaço suficiente para o depósito do lixo separado.

COMPOSTAGEM

Enquanto o destino do lixo seco ainda depende muito das questões de mercado, o lixo orgânico pode ser facilmente reciclado, até mesmo pela própria população, através da compostagem. Sistema simples para decomposição de matéria orgânica gerando adubo. O processo pode ser feito através de 3 ou mais caixas dispostas uma sobre a outra, com furos nos fundos das supe-riores para facilitar o transito das minhocas, as responsáveis pela decomposição, e uma tampa com pequenos furos que permitam a aeração, mas não o acesso de moscas e outros insetos. A ultima

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caixa para deposição do chorume, pode ter uma tor-neira facilitando sua retirada. Inicia-se depositando matéria orgânica na caixa de topo, quando esta esti-ver cheia, troca-se com a do meio. Quando completo o enchimento desta que agora esta no topo, deve estar pronto o processo de humificação da matéria na caixa que esta no meio, podendo ser então retirado para uso nos plantios. E o chorume misturado a água na proporção 1:10 pode ser utilizado como biofertilizante. E o ciclo se repete trocando as caixas de posição.

BIODIGESTOR

Como já mencionado no capítulo sobre autonomia energética, a matéria orgânica também produz gás metano, que pode ser encanado e armazenado nos aterros sanitários, ou na própria edificação para uso como gás de cozinha, ou gerar energia e aquecer água. A sua utilização é útil também na eliminação do perigo de explosões em aterros não controlados.

Fig. 88: O seu lixo vai virar energia.

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Fig. 89: Catadores do Projeto ‘Pimp My Carroça’, no qual artistas pintam as car-roças no intuito de aumentar a auto-estima dos trabalhadores.

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05PROPOSTA

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Fig. 90: Perspec-tiva aérea do projeto.

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Fig. 91: Mapa Di-retrizes Urbanas para Regência Augusta.

(página ao lado) Fig. 92: Mapa Di-retrizes Urbanas para Regência Au-gusta, ampliação da praça Caboclo Bernardo.

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LEGENDA

5.1 DIRETRIZES URBANAS PARA REGÊNCIA AUGUSTA

Observando a vila, foram pontuadas algumas di-retrizes para desenvolvimento local:

AMPLIAÇÃO

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(acima) Fig. 93: Terreno sem uso e casa abandonada em rua central. Foto: Do autor.

(ao lado) Fig. 94: Casa em cons-trução, embargada por se situar dentro de área de proteção de restinga. Foto: Do autor.

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SUPERPOSIÇÃO DE USO DO SOLO

De acordo com a Carta do Novo Urbanismo19, fa-vorecer a superposição de uso do solo e evitar a ocupação dispersa é uma forma de reduzir percursos e criar comunidades compactas. Esta é uma diretriz importante para que em Regência (que atualmente se encaixa no conceito de comunidade compacta) não se crie maiores invasões nas áreas de preservação, para tanto deve ser feita a ocupação de terrenos vazios e abandonados, através da regularização fundiária e combatendo a especulação imobiliária dos terrenos já ocupados ou simplesmente desmatados, favorecendo o uso misto do solo e densidade adequada.

Os limites geográficos devem ser bem definidos e precisos para que sejam respeitados, conservando os recursos naturais.

A Constituição Federal de 1988, através do art. 182, parágrafo 4º, prevê a criação da lei, mediante previsão no Plano Diretor Municipal, que possa instituir alíquo-tas progressivas no tempo, ou seja, a cada ano que a propriedade mantém-se desocupada e sem cumprir

19 A Carta do Novo Urbanismo, de 1996, é o documento de referência do Congresso do Novo Urbanismo, formado por profissionais cujo objetivo foi o de formalizar

um enfoque para o urbanismo explorando as possibilidades reais do desenvolvimento das cidades norte-americanas. A Carta estabelece princípios para a superação do ur-

banismo modernista, do zoneamento monofuncional e como uma resposta aos desafios e mazelas resultantes do processo de suburbanização do modo de vida americano,

como o uso excessivo do automóvel particular.

Art. 182

§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei

específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos

termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não

edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu

adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da

dívida pública de emissão previamente aprovada pelo

Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em

parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real

da indenização e os juros legais.

Título VII da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Capítulo II DA POLÍTICA URBANA

sua função social seu imposto será aumentado.

O Estatuto da Cidade vem para regular o determinado no artigo 182, como meio de criar meios efetivos e ainda de instituir o Imposto Predial e Territorial Ur-bano Progressivo obrigatório para a municipalidade combater especulação imobiliária.

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Fig. 95: Limites geográficos: Cór-rego; Rio Doce e restinga preser-vada. Foto: Fábio Gama.

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VISUAIS, PONTOS HISTÓRICOS E TURÍSTICOS

Regência possui alguns marcos locais, vistos a distância como o novo farol, e outros menores escondidos na urbanização. Para o novo farol, é proposto cones de visualização através do PDU para que possa sempre ser visto por toda a vila, principalmente na rua localizada em sua direção ortogonal.

Fig. 96: Visual do novo farol pela Rua do Farol à distância. Foto: Do autor

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Outros marcos de menor dimensão, como os portos e praia, que sejam feitas adequações no urbanismo para que as ruas de acesso a estes locais tenham maior destaque.

Um trabalho de urbanismo poderia ser feito na praça central, para que sejam valorizados os locais de importância histórica, turística e de função social que se encontram em seu entorno. A área destinada a eventos, recém reformada, porém não adequada ao uso, pede nova formu-lação, desobstruindo a visual de acesso da rua do Primeiro Porto, e dimensões adequadas para palco, além de voltar a atender as já existentes manifestações culturais, como a volta das ban-das de Congo e trio Fubica em torno da estátua do herói Caboclo Bernardo.

Fig. 97: Rua de acesso ao Porto 01. Foto: Do autor.Fig. 98: Rua de acesso ao Porto 02. Foto: Do autor.

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Fig. 99: Canteiro central com o busto de Caboclo Bernardo. Se lo-calizava ao centro da praça antes da reforma. Foto: Do autor, 2011.

Fig. 100: Praça Caboclo Bernardo após reforma. Foto: Do autor, 2013.

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Diminuir ou relocar a quadra de futebol seria necessário para desafogar a rua de acesso a bib-lioteca e Museu do Projeto Tamar.

Sítios significativos em locais públicos de reunião reforçam sua identidade e a cultura da democracia, a valorização da praça adjacente a igreja e casa de

Fig. 101: Rua ad-jacente a quadra. Foto: Do autor.

Fig. 102: Museu do Projeto Tamar e Biblioteca vistos através da quadra. Foto: Do autor.

(panorâmica)Fig. 103: Igreja e Casa de Congo lo-calizados ao lado da praça Caboclo Bernardo. Foto: Do autor.

(página ao lado)Fig. 104: Placa ex-istente no Porto 01 informando sobre a trilha, porém ilegível. Foto: Do autor.

Fig. 105: Antigo Farol e Museu de Regência. Foto: Do autor.

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Congo alcançariam esta identidade, e a área em que se encontra o antigo farol de Regência, em frente ao Museu Histórico, poderia ser área de contemplação, encontro e descanso.

Para complementar este trabalho de valorização, um trabalho de comunicação visual, com placas de lo-calização, aviso e informações sobre cada ponto seria indicado, orientando turistas que chegam ao local a visitarem além de suas praias, e conhecer a cultura e história local.

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Fig. 106: Cam-painha-lilás (Ipomoea cairica). Planta perene, trepadeira, her-bácea, nativa da América do Sul. Muito frequente em quase todo o território bra-sileiro na praia. Se adequadamente conduzida, pode ser utilizada para revestir caraman-chões, pois sua florada é muito ornamental. Ilustração: Silvia Zamith.

PAISAGISMO URBANO

O paisagismo deve considerar o clima, a topografia, a história e a ambiência local. Trazer a restinga para dentro do limite urbano é uma forma de valoriza-la. Muitas plan-tas de restinga já foram estudadas com fins ornamentais, e outras ainda podem ser incluídas. Além da valorização do meio, o uso de plantas nativas também reduz a ne-cessidade de irrigação e de inseticidas. Também é pos-sível uma melhor arborização, o que se vê na vila são quintais bem arborizados, mas falta sombreamento nas vias, reduzindo as altas temperaturas para que se cam-inhe com tranquilidade, isso pode ser feito por árvores frutíferas que servirão a população como alimento.

Hortas urbanas e usinas de compostagem também po-dem melhorar a qualidade de vida e reduzir a produção de resíduos orgânicos. Através de cooperativas entre os moradores, as hortas urbanas poderiam ser instaladas na praça, no parquinho infantil, em escolas e demais áreas públicas como canteiros de rua, fornecendo alimento gratuito para a população e garantindo a qualidade na merenda escolar. As usinas de compostagem seriam um complemento as hortas, instalados em locais escolhidos para que todos os moradores tenham uma próxima a sua casa, sem a necessidade de caminhar longas distâncias para depositar o lixo, garantindo adubo para as hortas e demais paisagismo urbano, além de poder ser um gera-dor de renda.

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Fig. 107: Exem-plo de rua típica, pouco arborizada encontrada na vila. Foto: Do autor.

Fig. 108: Horta urbana sendo construída na Av. Paulista, São Paulo - SP, por moradores da região. Foto: Fer-nanda Danelon.

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INFRAESTRUTURAS

Para incentivar a educação, a con-strução de uma Escola de Ensino Médio se faz necessária, sendo o transporte até Linhares quotidiana-mente desestimulante para aqueles que querem estudar.

A comunidade reservou um espaço para a construção de um parque de recreação infantil, e um projeto foi doado a A.M.O.R. pela arquiteta Fátima Duarte, porém falta recursos para sua construção. Mesmo que as crianças, com toda a sua criatividade, encontrem em pequenas coisas for-

Fig. 109: Es-cola de Ensino Fundamental de Regência. Foto: Do autor.

mas lúdicas de brincar, os pais sentem falta do parquinho in-fantil onde possam levar seus filhos. O projeto é simples, com toras de madeira, e poderia ser construído em forma de mutirão pela comunidade se o material fosse adquirido pela prefeitura ou doado por alguma instituição.

Estimular construções em vista as necessidades humanas e o respeito a natureza, através da legislação (PDU e Código de Obras), e com incentivos fiscais, como redução dos valores de IPTU, ITBI e ISS para construções que utilizarem medidas que reduzam o impacto ambiental e apresentem melhor con-forto termo-acústico. A exemplo existe um projeto de lei feito pela prefeitura do Rio de Janeiro propondo tais medidas, onde captação de água da chuva, aquecimento solar de água e coleta seletiva pontuariam para que fossem feitas as reduções, como um selo verde municipal chamado Qualiverde, com análise na fase de projeto, obra e pós-ocupação. Além disso, projetos de caráter ecológico terão prioridade na análise pela prefeitura. O projeto foi apresentado em junho de 2012 pelo poder executivo e ainda não esta na pauta para julgamento pela Camara dos Vereadores.

Como em Regência a maioria das residências são feitas at-ravés de autoconstrução, ou seja, pelos próprios moradores e sem auxílio profissional, a prefeitura deveria criar mecanismos para implantar a Lei de assistência técnica20, para que todos possam ter orientações e acompanhamento de profissionais, e consequentemente elevar o patamar das edificações.

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Fig. 110: Área destinada ao parquinho pela A.M.O.R. ao lado do farol. Foto: Do autor.

Fig. 111: Residên-cia em construção pelo próprio morador. Foto: Do autor.

20 A Assitência técnica através de profissionais de arquitetura, urbanismo e engenharia as famílias com renda mensal de até 3 saláris mínimos, pública e gratuita para

o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua própria moradia já é prevista pela Lei 11.888/2008. Porém por desconhecimento ou descaso do poder pú-

blico, a grande maioria das prefeituras e governos estaduais ainda não criaram mecanismos para que a população possa usufruir desta lei, a verba disponível seria repassada

através do Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social (FNHIS).

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MOBILIDADE

A poluição visual e sensorial provocada pelo excesso de automóveis de turistas, estaciona-dos principalmente na rua da praia, modifica a ambiência do lugar. A solução proposta é proibir a circulação de automóveis de turistas, per-mitindo apenas a entrada do ônibus circular e veículos de moradores identificados. Seriam criados bolsões de estacionamento para aco-modar os veículos de visitantes na entrada da vila de forma adequada, onde outras opções de transporte seriam oferecidas, como o aluguel de bicicletas ou charretes. Trazendo de volta as características de lugar compacto, acolhedor e tranquilo para caminhar. Vide exemplo das vilas de: Jericoacora - CE, onde o acesso é por dunas, sendo possível ser atravessada apenas por 4x4, que já evitam automóveis particulares, os poucos que se aventuram a chegar ao lo-cal por conta própria, são obrigados a deixar o carro em estacionamento localizado a margem da vila; e Caraíva - BA, onde é proibida a circu-lação de veículos motorizados, a travessia do rio Caraíva é feita por canoas, e dentro da vila é oferecido o serviço “Taxi Caraíva”, as char-retes. Cidades europeias como Amsterdam - NL e Barcelona - ES, estão estimulando o uso de bicicletas e criaram as bicitáxi (bicicletas-táxi).

(de cima para baixo) Fig. 112: Rua da Praia em fim de semana com carros de turístas estacionados. Foto: Hauley Valin.

Fig. 113: “Floreira”, carro utilizado em Jericoaquara-CE para o transporte de turístas. Foto: Do autor.

Fig. 114: Charrete “Taxi de Caraíva”-BA. Foto: Kaká.

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REDE DE ESGOTO

Em 2012, após longo período de reivindicação pela A.M.O.R. em nome de todos os moradores, foram iniciadas as obras de execução da rede de esgoto pública de Regência, porém paralisadas no início de 2013. Mesmo que a finalização das obras traga me-lhorias para a saúde local com a eliminação das fos-sas rudimentares ou despejo no rio e lagoas próximas, como já foi discutido, existem formas alternativas de estações de tratamento local, mais econômicas e até usadas para gerar energia. Poderiam ser incen-tivadas as ETE’s por zona de raízes, através do sis-tema de incentivos fiscais, já que a grande maioria das residências possuem amplos quintais, ou a coleta geral destinada a produção de biogás que alimentaria toda a vila.

TURISMO

Incentivar o turismo consciente, através de projetos educacionais que envolvam os turistas e a comuni-dade, podendo gerar empregos, mas de forma que as infra-estruturas implantadas não sejam pensadas somente para os turístas, mas para bem estar geral da comunidade, com grande respeito a cultura local e áreas de preservação, minimizando o impacto do turismo na região.

(esquerda) Fig. 115: Obra de construção da rede de es-goto, atualmente paralizada pela prefeitura. Foto: Do autor.

(abaixo) Fig. 116: Placa feita por morador e colocada ao final da Rua da Praia. Foto: Autor desconhecido.

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5.2 DIRETRIZES PROJETUAIS

A resposta arquitetônica, após o entendimento das condicionantes locais e da dinâmica entre moradores, pesquisadores e turistas em Regência Augusta, consiste na elaboração de um Centro de Educação e Planejamento Ambiental associado a um Albergue para Viajantes, valorizando os seguintes elementos:

INTEGRAÇÃO

Integrar moradores (antigos e novos), turistas e pesquisadores, criando uma plataforma de encon-tro entre estes para que seja possível a troca de conhecimentos e consequente valorização e res-peito pela terra e cultura local.

MATERIAIS

Prioridade no uso de recursos locais ou de fácil acesso à região. Reduzindo custos e energia no transporte, além de agregar valor ao que se encontra na região.

Fig. 117: Diagra-ma Integração.

Fig. 118: Madeira laminada colada.

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RESTINGA

URBEBAIXO IMPACTO AMBIENTAL

Utilizar estratégias de conforto ambiental e técnicas previamente estudadas de gestão dos recursos hídri-cos e energéticos.

HARMONIA COM AMBIENTE IMEDIATO

Escolha de sistemas de construção plausíveis ao lo-cal, buscando a integração entre a urbe e a restinga, valorizando-a e preservando-a, a partir da tectônica do projeto e do paisagismo, priorizando o uso da flora nativa.

Fig. 119: Dia-grama impacto ambiental.

Fig. 120: Diagra-ma Harmonia.

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CEAs - CENTRO DE EDUCAÇÃO E PESQUISA AMBIENTAL

Surgidos na década de 1990, através dos debates acerca de ecologia em Fóruns Nacionais e Regionais e sob forte influência da ECO-92. Tem o intuito de servirem como instrumentos complementares no processo de mudança na formação integral do cidadão, interagindo com diversos níveis e modali-

dades de ensino e introduzindo práticas de educação ambiental junto as comunidades.

Diferentes instituições abrigam CEAs, entre elas: empresas, universidades, ONGs, em unidades de preservação ambiental entre outras.

Através da educação se transforma a mentalidade de um povo e se alcança melhorias não apenas econômi-cas em uma comunidade. No Brasil a lei N° 9.795/1999 dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional sobre tal:

5.3 USOS

“Art. 1°

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais

o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida

e sua sustentabilidade.”

Lei n ° 9.795/1999 Capítulo I - DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Além de definir o conceito de Educação Ambiental, de forma geral, dá outras providências e evidencia que a Educação Ambiental deve ser um componente essencial e permanente da educação nacional, presente em todos os níveis de ensino, podendo ser formal e não-formal.

A lei N° 7.797/1989 cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente, com o objetivo de desenvolver os projetos que visem ao uso racional e sustentável de recursos naturais, incluindo a manutenção, melhoria ou recuperação da qualidade ambiental no sentido de elevar a qualidade de vida da população brasileira. Para este recurso

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Art. 5º

I - Unidade de Conservação;

II - Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico;

III - Educação Ambiental;”

Lei n ° 7.797/1989 FUNDO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

“Se, de um lado a educação não é a alavanca das transformações sociais,

de outro, estas não se fazem sem ela.”

Paulo Freire

são consideradas 7 aplicações prioritárias, dentre as quais a primeira se refere a unidades de conservação como a existente em Regência e as duas seguintes podem ser utilizadas para desenvolvimento de CEAS:

Por fim, é preciso ter em mente que a Educação Ambiental é tão reflexiva quanto ativa e deve ser entendida como educação política, onde se reivindica e prepara os indivíduos para exigir justiça social, cidadania, ética nas relações sociais e com o meio ambiente.

Fig. 121: Charge Armandinho. Autor: Alexandre Beck.

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ALBERGUE DA JUVENTUDE

“No curso da viagem há sempre alguma transfiguração, de tal modo que

aquele que parte não é nunca o mesmo que regressa.”

Ítalo Calvino

“Al.ber.gue s.m. Casa situada geralmente no campo, e onde se pode comer, beber,

dormir, pagando; albergaria, estalagem.

Bras. Asilo onde os mendigos se recolhem à noite.”

Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa

Albergues da juventude ou hostels, como são conhecidos internacionalmente se caracterizam por um tipo de hospedagem econômica, onde os hospedes alugam a cama, em um dormitório, com banheiros coletivos, podendo estes ser internos aos dormitórios ou tipo vestiários, cozinha e outros ambientes

de vivência. Nos atuais albergues quartos individuais também estão disponíveis, diferenciando-se de pou-sadas pelos ambientes de integração entre os hospedes.

Geralmente são mais baratos tanto para o operador como para os ocupantes, abrigam além de turistas, residentes de longa duração e funcionários, que em troca de residência, trabalham no local em temporadas ou longos períodos.

Muito popular na Europa e Oceania, a hospedagem em albergue não é muito comum no Brasil. A maioria dos brasileiros ainda vêem albergues como um local sujo e inseguro, e associam a palavra a instituições que cuidam de carentes, mendigos ou idosos, devido à ambiguidade da palavra no dicionário português brasileiro.

Mas se engana quem pensa que diárias acessíveis são sinônimo de infra-estrutura e serviço de segunda categoria. De fato, albergues não proporcionam hospedagens luxuosas, e muitos possuem instalações im-provisadas, sem uma arquitetura própria ao que se destina. Mas estes devem ser, mesmo que simples, ac-onchegantes e originais. Como muitas vezes diárias em pousadas simples se equiparam aos valores cobrados por albergues, o que vai definir a escolha de muitos é a “aura” que paira sobre estes redutos de viajantes

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independentes, pessoas que sen-tem prazer em caminhar na direção do novo, conhecer novas culturas e novos povos, e estão sempre ab-ertos ao diferente em uma viagem.

Nem todos os albergues possuem limites de idade, mesmo assim o perfil dos hospedes é quase sem-pre jovens, entre 18 e 35 anos. Tido como difusor de hábitos culturais, o jovem viajante percorre cidades, es-tados ou países, conhecendo locais e pessoas de culturas diferentes e agregando esses valores a sua vida, fazem assim a difusão cultural acontecer. Mesmo abrindo mão de certa privacidade na acomodação, os mochileiros movimentam bilhões em todo o mundo devido as suas viagens mais longas do que o turis-ta convencional que se hospeda em hotéis, e trazem benefícios imen-suráveis para uma sociedade além dos econômicos. Procuram uma maior interação visitante-anfitrião e uma superior preocupação com a natureza, ideal para se agregar ao CEA. Fig. 122:

Mochileiro.

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O programa foi agrupado de acordo com a função de seus espaços, ao lado encontram-se as características que se pretende ressaltar destes ambientes.

Também foram subdivididos em espaços públicos, semi-públicos e privados. Os públicos seriam espaços acessados por todos, a maior parte formada por áreas abertas, apenas com cobertura para proteção de intempéries. Semi-públicos, que seriam os espaços acessados

apenas por cientistas e convidados, mas de forma que seja possível aos visitantes visualizarem o que ocorre. E os espaços privados, que seria o albergue e suas facilidades destinadas aos hospedes. Também foram incluídos nesses espaços locais de acesso restrito aos funcionários, locais de administração e organização.

5.4 PROGRAMA DE NECESSIDADES

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ALBERGUE

Deve ser localizado de forma a proporcionar privacidade aos hospedes, são espaços independ-

entes dos demais do edifício. Composto por acomo-dações para 70 hospedes, sendo aproximadamente 85% em quartos coletivos, atendidos por vestiários coletivos, e aproximadamente 15% de quartos duplos com suíte. Neste espaço também encontram-se facilidades de uso coletivo dos hospedes como copa e lavanderia. Os quartos devem

possuir varandas integradas ao entorno.

PESQUISA E ENSINO

Formado por ambientes que necessitam maior silêncio, por isso devem ser localizados de for-

ma resguardada. Com uma mistura de ambientes públicos (salas de aula; pátio), e semi-públicos

(salas de pesquisa; laboratórios). O pátio, destinado a oficinas ao ar livre e exposições, será o ambiente a fazer a conexão entre a restinga preservada e pais-agística e a área construída do edifício.

MIRANTES são espaços que trazem um bom entendimento da região para os visitantes. Sendo Regência uma grande planície, a partir do segundo pavimento já é possível uma ampla visão do local.VIVÊNCIA E LAZER

Locais de permanência semi-abertos ou ao ar livre, deve fazer a conexão com a rua, de forma permeável, com espaços convidativos aos visitantes, como restaurante e bar. A recepção deve se concentrar nesse espaço de forma central. Em apoio a estes espaços estão as áreas de serviço

dos funcionários. A biblioteca, também deve estar próxima a rua, sendo atrativa aos transeuntes da vila, porém, por sua função de leitura e aprendizado, deve ter espaços calmos e res-

guardados, destinados ao descanso e tranquilidade. O anfiteatro pode ser usado como espaço de permanência e encontro quando não estiver em uso para

apresentações, e também por sua característica aberta e am-pla, fazer esta mistura entre natureza e con-

struído.

FUNCIONAMENTO DO EDIFÍCIO

Equipamentos e espaços destinados à gestão dos resídu-os gerados, recursos hídricos e geração de energia para o funcionamento do edifício. Devem se integrar ao paisa-gismo e tectônica do projeto.

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5.5 TERRENOLEGENDA

O local foi escolhido para possibilitar a criação de uma arquitetura que integre meio urbano e meio preser-

vado. O terreno se localiza em rua central, próxima a comércios. É uma área já con-solidada, porém com alguns imóveis em es-tado de semi-abandono, como este. Marca o acesso a praia e limita a área de restinga preservada. Com fácil acesso, a 300m do ponto de ônibus.

Fig. 123: Mapa Localização do terreno, sem escala.

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QUADRO DE ÁREASPOUSADA DESATIVADATERRENO ADJACENTETOTAL

1.080,00m24.603,20m25.680,20m2

Fig. 124: Mapa Área do Projeto com Entorno Imediato, sem escala.

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Fig. 125 Fig. 126

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Fig. 129

Fig. 127 Fig. 128

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Fig. 130

Fig. 131

Fig. 132

Fig. 133

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Fig. 134

Fig. 135

Fig. 136

Fig. 137