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Universidade Autónoma de Lisboa Curso de Direito – 1.º Ano Pós Laboral REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA PROTECÇÃO DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES Trabalho apresentado para a unidade curricular DIREITO ECONÓMICO 1

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Universidade Autónoma de LisboaCurso de Direito – 1.º Ano

Pós Laboral

REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA

PROTECÇÃO DOS DIREITOS DOS CONSUMIDORES

Trabalho apresentado para a unidade curricularDIREITO ECONÓMICO

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AGRADECIMENTOS

Os meus agradecimentos vão, muito especialmente, para a minha família, Sandra e

Afonso, que para além de terem que suportar a minha vida profissional bastante intensa,

a que já se habituaram ao longo dos anos da profissão que levo, tiveram este ano ainda

que suportar a minha ausência por mais algumas horas todos os dias, em virtude da

opção de voltar a estudar.

Aos meus colegas de turma pelo voto de confiança e força que nos deram em alturas

mais complicadas.

Aos meus colegas de trabalho pelas minhas ausências, grato lhes fico pela paciência e

profissionalismo.

E por fim, mas não por último, a Mestre Cristina Crisóstomo, pelos conhecimentos que

me transmitiu, que me foram muito úteis para a realização do presente trabalho e que

serão com certeza bastante úteis no futuro.

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Sumário

1. Introdução...................................................................................................................5

2. Consumidor: A constituição não define o que é um consumidor..............................5

3. Direitos dos Consumidores, artº 60 nº 1.....................................................................7

4. Direitos do Consumidor e a publicidade - artº 60 nº2................................................8

5. Associações de Consumidores e cooperativas de consumo - artº 60 nº3...................9

6. Protecção do Consumidor: práticas comerciais desleais..........................................10

7. Organizações que têm um interesse legítimo para reagir.........................................12

8. A Defesa da Concorrência........................................................................................13

9. A Defesa da Concorrência: práticas ilegais..............................................................13

10. A Defesa da Concorrência: sanções.........................................................................15

11. A Defesa da Concorrência: controlo judicial (art. 50): ...........................................16

12. A Defesa da Concorrência: o controlo da concentração...........................................17

13. Conclusão.................................................................................................................20

14. Fontes e Bibliografia................................................................................................21

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“Somos, ao contrário do que é hábito dizer-se, não uma sociedade de consumo, visada

ao consumidor, mas uma sociedade de produção, virada ao produtor e seus

interesses”

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1. Introdução

Estamos habituados a olhar para o direito comercial e para o direito do consumo como

ramos do direito que poucas relações têm. Geneticamente estão ligados a tempos e

geografias distintas. O primeiro, mais antigo, com raízes que remontarão, no mínimo, ao

desenvolvimento das cidades italianas do século XIII1. O segundo, comparativamente

bastante recente, com primeiros sinais de vida reportados aos Estados Unidos dos anos

602. Os princípios e valores estruturantes de um e de outro também serão diversos,

embora nascidos e desenvolvidos em torno de um objectivo paralelo: a protecção de

alguém, de um certo conjunto diferenciado e caracterizado de pessoas.

Enquanto o direito comercial está originariamente ligado à protecção do comerciante

(cujo expoente máximo era a existência de um foro separado), o direito do consumo

nasceu para proteger o consumidor.

2. Consumidor: A constituição não define o que é um consumidor.

Antes da Lei do Consumidor, não havia no direito português qualquer conceito legal de

consumidor, poder-se-ia afirmar sem exagero que “consumidor” não fazia parte do

vocabulário jurídico “oficial”.

Menos raras eram as referências ao consumo (artº 464/1 do código comercial; ou no CC

que fala em consumíveis no seu artº 208 e de usufruto de coisas consumíveis no 1451º).

É o código da publicidade que introduz na legislação portuguesa a figura perfeitamente

autonomizada da figura consumidor.

Definição de consumidor – vem actualmente definido no artº 2º da LDF, e diz que se

considera consumidor todo aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou

transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que

1 Entre outros, A. Menezes Cordeiro, Manual de Direito Comercial, I Vol., 2.ª edição, Coimbra, 2007, pp.18 e ss; J. M. Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial, Vol. I, 6.ª ed., Coimbra, 2006, pp.1 e ss..2 O marco histórico será a mensagem dirigida pelo presidente J.F. Kennedy ao Congresso dos Estados Unidos, a 15 de Março de 1962. Cfr. C. Ferreira de Almeida. Direito do Consumo, Coimbra, 2005, p.16.

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exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a obtenção de

benefícios.

Desta noção de consumidor exclui-se as situações de compra e venda entre particulares,

bem como as compras para revenda ou para uso nas actividades agrícolas, comerciais ou

industriais. Esta noção abrange tanto o consumidor de bens ou serviços fornecidos por

entidades privadas assim bem como o utente de serviços públicos (transportes públicos,

serviços postais, serviços de saúde, etc…).

Inicialmente a protecção constitucional dos consumidores estava inserida na

constituição económica (artº 110 – protecção do consumidor da CRP de 1982). É então

com a 2ª revisão constitucional que os direitos dos consumidores assumem uma nova

importância, traduzindo-se numa evidente promoção, pois os direitos dos consumidores

surgem agora localizados em sede de direitos fundamentais, no artº 60º.

Ora, estes direitos que não têm natureza homogénea, pois por um lado destinam-se aos

fornecedores de bens e serviços impondo-lhes deveres (mesmo na falta de

regulamentação) e por outro ao Estado impondo-lhe obrigações legislativas, conforme

vem constitucionalmente previsto no artº 81º/al. i) da CRP (Incumbências prioritárias do

estado – garantir a defesa dos interesses e os direitos dos consumidores) e ainda no artº

99º/al. e) (onde se fala de protecção dos consumidores como um objectivo de política

comercial).

Por isso estes direitos são equiparáveis a direitos liberdades e garantias sendo de

conteúdo determinável e accionáveis (exemplo disso é o direito dos consumidores à

reparação dos danos e da legitimidade processual das associações de consumidores),

carecendo porém de interposição do legislador para adquirirem realização plena.

Quem pode ser titular destes direitos? Consumidor enquanto pessoa singular e Colectiva

Ora nada impede a titularidade dos direitos dos consumidores por pessoas colectivas

(artº 12º/2 da CRP), quando, excepcionalmente, beneficiem do estatuto de

consumidores, nem por cidadãos estrangeiros (artº 15 da CRP), os quais gozam

inteiramente dos direitos dos consumidores.

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3. Direitos dos Consumidores, artº 60 nº 1:

1. Direito à qualidade de bens e serviços consumidos e à segurança dos

produtos

a. Ausência de defeitos de funcionamento ou de adulteração ou

deterioração das suas características. Isto não implica que o serviço tenha

que ser de qualidade superior, ou seja, recebe consoante aquilo que paga.

2. O direito à formação e informação

a. Tem que haver uma formação permanente, nos livros escolares, na rádio,

na televisão, no incentivo às publicações de defesa do consumidor), bem

como uma informação completa e leal sobre os bens e produtos capaz de

possibilitar uma decisão liberal, consciente e responsável.

3. O direito à protecção da saúde

a. Aponta para a especial tutela da saúde do consumidor, regulando os

alimentos quanto à sua produção e venda, os fármacos, os cosméticos,

obrigando à proibição ou à obrigação de advertência específica, como se

verifica nas bebidas alcoólicas, no tabaco, ou até na composição química,

relativamente a corantes e conservantes.

4. O direito à protecção da segurança

a. Tem a ver essencialmente com a segurança física, que pode passar pela

proibição de certos produtos, pela obrigatoriedade de certas normas de

fabrico. Características de segurança, ex. Imposição de obrigações no

fabrico dos carros (cinto de segurança).

5. O direito à protecção dos direitos económicos

a. Tem particular incidência na contratação, especialmente no que diz

respeito a contratos – tipo e métodos agressivos na promoção de vendas.

Este tipo de contratos, feitos à distância, ou time sharing, têm merecido

especial atenção quer por parte da legislação nacional assim bem como

por parte dos órgãos da UE.

6. O direito à reparação de danos

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a. Traduz-se no direito de indemnização dos prejuízos causados pelo

fornecimento de bens ou serviços defeituosos, por assistência deficiente

ou por violação do contrato de fornecimento e, em geral por violação dos

direitos do consumidor.

4. Direitos do consumidor e a publicidade - artº 60 nº2:

Aqui a constituição não se limita a estabelecer uma reserva de lei, vai desde logo, em

norma directamente aplicável, proibir todas as formas de publicidade oculta, indirecta

ou dolosa. Verifica-se que a publicidade assenta assim em dois princípios fundamentais:

Princípio da Identificabilidade – significa que a mensagem tem que ser

inequivocamente assinalada, qualquer que seja o meio de difusão, sendo

proibida a publicidade oculta ou indirecta. (ex. é proibido mensagens

publicitárias sem que os destinatários se apercebam da sua natureza; a

publicidade com aumento de decibéis, esta frequentemente violada na

publicidade televisiva.

Princípio da Veracidade – Implica o respeito pela verdade, sendo proibida

a publicidade enganosa (dolosa diz a constituição) que induza ou possa

induzir em erro os seus destinatários.

Esta relação entre direitos do consumidor e publicidade pode ainda justificar restrições à

publicidade quanto a certos destinatários (que é o caso dos menores), ou quanto ao seu

objecto (proibição de publicidade de bebidas alcoólicas ou de jogo de fortuna ou azar,

tabaco) e à sua quantidade (limitação dos espaços publicitários na rádio e na televisão),

não devendo ainda ir contra os princípios constitucionais e jurídicos fundamentais (não

deve lesar a honra e dignidade humana, discriminações de raça, religião).

Existe o ainda o código da Publicidade, regulamentado Decreto Lei n.º 330/90, de 23 de

Outubro, com algumas alterações, onde se pode encontrar a definição de publicidade,

que ali vem definida como qualquer forma de comunicação feita por entidades de

natureza pública ou privada, no âmbito de uma actividade económica (comercial,

industrial, artesanal ou liberal), vocacionada para a promoção do fornecimento de

bens ou serviços, bem como a promoção de ideias, princípios, iniciativas ou

instituições.

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Os direitos dos consumidores encontram importantes densificações no âmbito dos

serviços públicos essenciais (água, luz, gás, telefone) reconhecendo aos utentes direitos

de participação através das organizações representativas. (direito à informação, ao pré-

aviso, etc…).

5. Associações de consumidores e cooperativas de consumo - artº 60nº3:

A lei vem-lhes reconhecer diversos direitos na defesa dos consumidores,

nomeadamente:

- Direito ao apoio do estado

- Direito de participação na definição legal, administrativa ou convencional dos

seus direitos e interesses.

Ao lhes atribuir o direito de audição na decisão das questões que interessem aos

consumidores a constituição integra-as no vasto leque organizações sociais da mais

variada natureza e feição (comissão de trabalhadores artº 54º; associações de pais artº

77º), que gozam do direito de participação e dão substância ao principio da democracia

participativa (artº 2º), interesse este que inclui o Direito de representação em todas as

instâncias públicas de organizações que lidem com questões relativas aos interesses dos

consumidores.

A revisão constitucional de 1997, vem reconhecer legitimidade processual para a

defesa dos seus associados ou dos interesses colectivos ou difusos, este poder não passa

de uma especificação do disposto no artº 52/3 da CRP, o qual ale de mais reconhece o

direito à acção popular por parte de qualquer consumidor.

Reconhece-se ainda o direito de acesso dos consumidores à justiça bem como à

resolução extrajudicial de controvérsias em matérias de consumo.

Entre as garantias dos direitos dos consumidores não podia deixar de realçar a

importância dos serviços e institutos oficiais, nomeadamente o Instituto do Consumidor,

dedicado à informação e formação dos consumidores, bem como as entidades

reguladoras sectoriais.

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6. Protecção do consumidor: práticas comerciais desleais

Decreto-Lei nº. 57/2008“…diploma vem estabelecer uma proibição geral única das práticas comerciais desleais…”Directiva n.º 2005/29/CE“…relativa às práticas comerciais desleais das empresas nas relações com os consumidores no mercado interno.”

A defesa dos consumidores é assumida no Tratado que institui a Comunidade Europeia

como princípio estruturante da mesma e corresponde a um política consagrada

autonomamente. O direito do consumo é, pois, uma área privilegiada da produção

legislativa comunitária. Não é muito claro se este acarinhar expresso da defesa dos

consumidores constitui um objectivo em si mesmo ou se está, de alguma maneira,

instrumentalizado à construção do mercado único.

Se é verdade que no contexto europeu a directiva das práticas comerciais desleais

represente um primeiro passo seguro na ligação entre concorrência desleal e protecção

do consumidor com vista à protecção do mercado, esta ligação não é inédita. É

conhecido o sistema germânico da concorrência desleal que porventura terá

influenciado esta directiva.

O aspecto central é a proibição das práticas comerciais consideradas desleais. Por serem

desleais, entende-se que essas práticas afectam directamente os interesses económicos

dos consumidores e consequentemente prejudicam os interesses económicos de

concorrentes legítimos.

Em primeiro lugar importa esclarecer que uma prática comercial da empresa nas

relações com os consumidores abrange qualquer acção ou omissão de um profissional,

incluindo a publicidade e a promoção comercial, em relação directa com a promoção, a

venda ou o fornecimento de um bem ou serviço ao consumidor. Esta prática comercial é

relevante independentemente de ter sido praticada antes, durante ou após a operação

comercial relativa ao bem ou serviço.

A prática comercial é proibida se for considerada desleal e são contemplados três níveis

de prática comercial desleal. O primeiro nível corresponde à prática comercial desleal

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em geral. O segundo nível diz respeito às práticas comerciais desleais em especial.

Neste grupo integram-se as práticas enganosas e as práticas agressivas na sua

formulação genérica e ainda, as práticas dirigidas a grupos particularmente vulneráveis

de pessoas.

O terceiro nível corresponde às práticas comerciais consideradas enganosas e agressivas

em qualquer circunstância e que constam de uma listagem anexa à directiva.

Todos estes níveis têm um elemento comum: a condução ou susceptibilidade de

condução do consumidor a tomar uma decisão negocial que este não teria tomado de

outro modo. Ou seja, a prática comercial só é considerada desleal, e por isso proibida, se

for potencialmente essencial para a decisão do consumidor relativamente à celebração e

ao conteúdo de um contrato ou ao exercício de um direito contratual,

independentemente de o consumidor decidir ou não agir (“decisão negocial”).

Esta essencialidade é o segundo requisito da definição genérica de prática comercial

desleal3 e é repetido nos artigos que contemplam a proibição, em especial, das práticas

comerciais enganosas e agressivas. Em qualquer caso, se a prática não for, no mínimo,

susceptível de determinar o comportamento do consumidor, ou seja, se não for

potencialmente essencial na tomada de decisão do consumidor, ela não tem relevância.

Apenas se prescinde deste requisito fundamental na listagem que é feita de práticas

enganosas e agressivas: nestes casos as práticas são sempre consideradas desleais.

É qualificada como prática comercial agressiva a prática que devido a assédio, coação

ou influência indevida, limite ou seja susceptível de limitar significativamente a

liberdade de escolha ou o comportamento do consumidor em relação a um bem ou

serviço.

Entende-se que há influência indevida quando, mesmo sem recurso ou ameaça de

recurso à força física, o profissional utiliza uma posição de poder para pressionar o

consumidor, limitando significativamente a capacidade de o consumidor tomar uma

decisão esclarecida, a directiva manda atender, nesta análise, a todas as características e

circunstâncias do caso concreto, considerando uma série de elementos, tais como

3 A directiva, no seu art.5.º/1/b) determina que a prática comercial é desleal se “distorcer ou for susceptível de distorcer de maneira substancial o comportamento económico, em relação a um produto, do consumidor médio a que se destina ou afecta…”. Ora, a al.e) do artigo 2.º define “distorcer substancialmente o comportamento económico dos consumidores” como: “utilização de uma prática que prejudique sensivelmente a aptidão do consumidor para tomar uma decisão esclarecida, conduzindo-o, por conseguinte, a tomar uma decisão de transacção que não teria tomado de outro modo”.

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momento, local, natureza e persistência da prática, o recurso a linguagem e

comportamento ameaçadores ou abusivos.

Na lista de práticas agressivas em qualquer circunstância estão, por exemplo: criar a

impressão de que o consumidor não poderá deixar o estabelecimento sem que antes

tenha sido celebrado um contrato, fazer solicitações persistentes e não solicitadas, por

telefone, fax, e-mail ou qualquer outro meio de comunicação à distância (excepto em

circunstância ena medida em que tal se justifique para o cumprimento de obrigação

contratual), informar explicitamente o consumidor de que a sua recusa em comprar o

bem ou contratar a prestação de serviço põe em perigo o emprego ou a subsistência do

profissional.

7. Organizações que têm um interesse legítimo para reagir:

Autoridade de Segurança Alimentar e Económica ou a entidade reguladora do

sector em que se insere o bem ou serviço transaccionado são consideradas autoridades

administrativas competentes;

Direcção-Geral do Consumo em matéria de publicidade, a autoridade administrativa

competente – DR 57/2007;

Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e o Instituto de

Seguros de Portugal são considerados autoridades administrativas competentes

relativamente às práticas comerciais desleais que ocorram nos respectivos sectores;

Para além da reacção individual do consumidor lesado pela prática desleal, é possível (e

desejável) uma reacção colectiva. A directiva prevê expressamente, no seu artigo 11.º,

que qualquer interessado, nele incluído o concorrente e as associações de consumidores,

possa reagir contra uma prática comercial desleal.

Uma vez que a al. c) do n.º1 do artigo 10.º da lei de defesa dos consumidores já se

refere, genericamente, a “práticas comerciais expressamente proibidas por lei”, a

proibição das práticas comerciais desleais conferirá, por si mesma, um direito de acção

inibitória aos consumidores e às associações de consumidores (cfr. artigo 13.º da lei de

defesa dos consumidores).

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DECO é a maior e mais antiga associação Portuguesa de Defesa do Consumidor e

surgiu a 12 de Fevereiro de 1974, da Associação para o Desenvolvimento Económico e

Social (SEDES). Sendo membro dos seguintes grupos organizações: Comité dos

Consumidores, Comité Económico e Social.

8. A Defesa da Concorrência:

A defesa da concorrência é uma peça estruturante do Tratado da União Europeia. Mas

ela não joga de modo isolado: os valores e os argumentos que ela postula devem ser

conjugados com as preocupações básicas do Tratado, entre as quais se contam os

direitos e as liberdades fundamentais.

Devido à necessidade de haver uma regularização entre agentes económicos em

competição em mercado e para prevenir determinados comportamentos considerados

prejudiciais ao bom funcionamento do mercado, foi criada uma legislação denominada

por Lei Nacional da Concorrência, nº18/2003.

O objectivo da política de concorrência é a manutenção de mercados concorrenciais.

A política da concorrência serve como um instrumento para encorajar a eficiência

industrial, a afectação óptima de recursos, o progresso técnico e a flexibilidade de

ajustamento a um ambiente em constante mudança. O outro objectivo é construção do

mercado único.

9. A Defesa da Concorrência: práticas ilegais

A Autoridade da Concorrência tem a obrigação, desde 1 de Maio de 2004, de aplicar

directamente o artigo 81 e 82 a todos os processos onde haja um impacto sobre o

comércio, efectivo ou potencial, entre os Estados Membros. Neste sentido, o objectivo

das políticas de concorrência é promover o funcionamento eficiente dos mecanismos de

mercado. Assim, o núcleo das actividades da Autoridade deve incidir sobre as seguintes

operações:

Fusões e aquisições que possam constituir um poder de mercado que coarcte a

concorrência e prejudique os consumidores;

Acordos de cartelização do mercado (acordos horizontais);

Acordos verticais de restrição da concorrência;

Abusos de posição dominante, e dependência económica;

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Restrições estatais à concorrência, seja por regulamentação, seja por actuação

através do sector público empresarial ou de entidades autónomas públicas;

As principais práticas proibidas pela legislação comunitária e nacional são os acordos

de cartelização seja horizontal como vertical entre empresas, assim como o abuso

de posição dominante. O artigo 4º da nova Lei da Concorrência (Lei 18/2003)

estabelece o princípio geral da proibição da cartelização entre empresas: “São

proibidos os acordos entre empresas, as decisões de associações de empresas e as

práticas concertadas entre qualquer que seja a forma que revistam, que tenham por

objecto ou como efeito impedir, falsear ou restringir de forma sensível a concorrência

no todo ou em parte do mercado nacional”. Esta formulação é praticamente a tradução

do artigo 81º do Tratado da União.

Os acordos que são proibidos:

Acordos sobre preços: Fixar, de forma directa ou indirecta, os preços de

compra ou de venda ou interferir na sua determinação pelo livre jogo do

mercado, induzindo, artificialmente, quer a sua alta quer a sua baixa;

Acordos sobre outras condições comerciais: Fixar, de forma directa ou

indirecta, outras condições de transacção efectuadas no mesmo ou em diferentes

estádios do processo económico;

Acordos sobre limites de produção e outros: Limitar ou controlar a produção,

a distribuição, o desenvolvimento técnico ou os investimentos;

Dividir os mercados: Repartir os mercados ou as fontes de abastecimento;

Discriminar entre clientes: Aplicar, de forma sistemática ou ocasional,

condições discriminatórias de preço ou outras relativamente a prestações

equivalentes;

Recusar compras ou vendas: Recusar, directa ou indirectamente, a compra ou

venda de bens e a prestação de serviços;

Ligação de contratos (cláusulas de tie-in): Subordinar a celebração de

contratos à aceitação de obrigações suplementares que, pela sua natureza ou

segundo os usos comerciais, não tenham ligação com o objecto desses contratos.

Em geral, estes acordos, decisões e práticas são nulas, o que significa que não podem

ser usadas para coagir qualquer das partes a cumprir o que neles está estipulado. Os

acordos entre empresas não necessitam de ser escritos, mas podem ser simples “acordos

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de amigos” que podem assumir uma forma verbal, ou outra. A cooperação informal ou

tácita pode também constituir um acordo. Mesmo que estes acordos já tenham expirado

podem ainda ser perseguidos, se continuarem a produzir efeitos. Finalmente, tanto a

Comissão como os Tribunais Comunitários considera que uma vez o acordo concluído,

é irrelevante se as partes se consideram ou não parte do acordo.

O artigo 6º da Lei da Concorrência proíbe o abuso de uma posição dominante:

“É proibida a exploração abusiva, por uma ou mais empresas, de uma posição

dominante no mercado nacional ou numa parte substancial deste, tendo por objecto ou

como efeito impedir, falsear ou restringir a concorrência.” Este artigo segue de perto o

artigo 82º do Tratado da União.

A posição dominante traduz-se como sendo o poder que uma ou mais empresas têm de

poderem actuar de uma forma independente dos fornecedores ou compradores, o que os

coloca numa posição de não terem que tomar em linha de conta as actuações dos seus

concorrentes

10. A Defesa da Concorrência: sanções

No que diz respeito às Sanções, podemos descreve-las como (art. 45º e 46º da Lei

Nacional da Concorrência), contra-ordenações aplicadas às empresas sob o efeito de

coimas pretendendo sancionar as empresas por práticas que ponham em causa o bom

funcionamento do mercado.

A Comissão tem como objectivo obrigar as empresas a impor determinadas regras com

o intuito de:

Terminar com a Infracção;

Cumprir uma decisão que ordene medidas provisórias;

Sujeitarem-se a uma inspecção;

Respeitarem um Compromisso;

Mas devido ao facto de algumas empresas não cumprirem os requisitos quando os

mesmos são exigidos, a Comissão ou a Autoridade da Concorrência actua aplicando

coimas. As situações de negligência entre empresas são as seguintes:

Fornecerem informações inexactas, incompletas ou deturpadas em resposta a um

pedido ou não fornecerem informações nos prazos estabelecidos;

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Apresentarem os livros ou outros documentos profissionais requeridos de modo

incompleto;

Se alguma destas situações se verificar a Comissão ou a Autoridade da Concorrência e

tendo em conta algumas condições tais como:

Dimensão da Empresa em causa;

Consideração da gravidade e a duração da Infracção;

O facto de a empresa se encontrar numa situação de insolvência;

Após ter em consideração estas condições a Autoridade da Concorrência actua da

seguinte maneira:

Incumprimentos (art 42º nº3) - Aplica coimas até 1% do volume de negócios

total realizado durante o exercício precedente quando algumas empresas ou

associações de empresas não respeitam os requisitos exigidos ou não tomam

determinados comportamentos;

Infracções substantivas (art 43º nº2) – Aplica coimas até 10% do volume de

negócios total realizado durante o exercício precedente quando algumas

empresas ou associações de empresas, tenham participado na infracção ao

disposto nos artigos 81º e 82º do TCE, quando os mesmos infringem uma

decisão que ordena medidas provisórias ou quando não tenham respeitado um

compromisso de carácter obrigatório por uma decisão da Comissão;

Imposição de Sanções Pecuniárias Compulsórias (art. 24.º): até 5% do

volume de negócios diário médio realizado no exercício anterior por cada dia de

atraso;

11. A Defesa da Concorrência: controlo judicial (art. 50º)

Tribunal de primeira Instância (Tribunal de Comércio de Lisboa)

Julga os recursos de anulação das decisões da Comissão em matéria de concorrência.

- Recurso de plena jurisdição: reforma das decisões que fixam sanções pecuniárias

(coimas ou sanções pecuniárias compulsórias).

Tribunal de Justiça

Tem como função realizar a apreciação dos recursos dos acórdãos do TPI limitados a

questões de direito. Em suma é dotado de plena jurisdição para apreciar as decisões

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levadas a cabo pela comissão (decisões que fixem coimas ou sanções pecuniárias

compulsórias). Fiscaliza a actividade da Comissão (procede a um controlo aprofundado

das decisões aprovadas pela Comissão).

12. A Defesa da Concorrência: controlo da concentração

É uma matéria controlada pelo Estado através da notificação prévia prevista no art. 7º/1

do DL 371/93, este mecanismo só é aplicável nas operações de concentração que

preencham uma das seguintes condições:

1.      Criação ou reforço de uma quota nacional igual ou superior a 30% do mercado;

2.      Volume de negócios envolvidos igual ou superior a 30 milhões de contos no

mercado nacional no exercício anterior. O art. 9º define concentração de

empresas tendo em conta três situações diferenciadas:

a)      A fusão de duas ou mais empresas dotadas de personalidade jurídica

independentemente e que se transformam numa única empresa;

b)      Quando duas ou mais pessoas adquirem o controlo de empresas

concorrentes;

c)      Quando é criada uma nova empresa que vai actuar na mesma área de

negócio das pessoas que presidem à sua criação.

A Defesa da Concorrência, instrumento fundamental da Política Económica, encontra-

se regulada, ao nível do ordenamento jurídico português, desde o DL 422/83 de 3 de

Dezembro.

De forma simplista, concentração é uma operação de fusão de duas ou mais empresas

anteriormente independentes. Implica uma alteração no controlo da empresa. Destarte, o

controle das concentrações é essencial para prevenir que se formem posições

dominantes que podem prejudicar as outras empresas em concorrência ou os

consumidores finais.

O ponto nº 1 do artigo 7º da lei da concorrência de 1993, citava que todas as operações

de concentração de empresas teriam que ser notificadas antecipadamente, ou seja, devia

ser referida antes das questões jurídicas relacionadas com este negócio estarem tratadas

e também antes do anúncio público de uma oferta pública. Toda esta situação seria

necessária a partir do ponto em que as empresas ou a empresa pós-concentração

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passasse a deter 30% ou mais da quota do mercado onde se encontra inserida, ou se o

volume de negócio apresentado pelas empresas fosse superior a 30 milhões de contos.

Excluídas deste artigo ficavam por exemplo áreas de negócio como a banca ou

seguradoras.

As partes interessadas neste modelo, como primeiro passo, necessitavam de entregar

uma notificação prévia endereçada à Direcção Geral da Concorrência e Preços contendo

o nome das empresas – no caso de se tratar de uma fusão – ou no caso de aquisição de

uma parte ou de todo o capital de uma empresa, o nome da empresa que o pretendia

fazer. Em seguida seria necessário referir os elementos que integravam a notificação. O

artigo 30º nº3 menciona que deveria ficar claro se tratava-se de pessoas singulares ou

colectivas e o capital comprado da empresa.

Passados 40 dia após a recepção da notificação, a Direcção Geral da Concorrência e

Preços remetia a decisão final para o ministro da área onde a concentração se realizava.

O então ministro que recebesse tal notificação teria então cerca de 50 dias para dar o seu

parecer sobre a realização do futuro negócio. Caso este achasse que à luz do artigo 10º

nº1, esta operação viesse a anular a concorrência, o processo seria enviado para um

conselho da Concorrência.

Todo este processo era moroso e muito burocrático.

Para simplificar estas operações, foi feito um novo Decreto-Lei com base num

regulamento da Comunidade Económica Europeia. Esse regulamento possibilitava cada

estado membro a criação de uma autoridade da concorrência.

A Lei nº 10/2003 de 18 de Janeiro veio assim criar a Autoridade da Concorrência. A

Autoridade da Concorrência é a entidade que tem competência exclusiva para o controlo

de concentrações de empresas. Actualmente para a concentração de empresas também

existem semelhanças com o artigo anteriormente em vigor.

Será necessário notificação à Autoridade da Concorrência nos casos do volume de

negócios das empresas ser superior a 150 milhões de euros e o resultado cria uma quota

de mercado igual ou superior a 30%.

Agora o que é novo é a forma de comunicação da operação, para tal:

A operação deve ser notificada à Autoridade da Concorrência no prazo de 7 dias

úteis após a conclusão do acordo. No caso de uma OPA (Oferta Pública de

Aquisição – empresas cotadas em bolsa) a notificação deve ser apresentada até à

data da publicação do anúncio da oferta pública;

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A notificação é apresentada de acordo com o formulário de notificação pelo

requerente, o qual paga uma taxa e se a notificação estiver completa e exacta,

dá-se início ao processo;

Passado 5 dias a Autoridade é forçada a dar conhecimento público da operação,

através da divulgação de um anúncio nos media, para terceiros apresentarem

interesse;

A Autoridade dá então um prazo de 10 dias ou mais, para que outras partes

interessadas apresentem as suas observações;

A Autoridade tem 30 dias úteis desde a data de notificação para dar arranque ao

processo;

Durante este processo, a Autoridade da Concorrência tem o direito de pedir

informações ao requerente sempre que achar conveniente;

Caso haja um regulador de sector, a Autoridade da Concorrência pede ao mesmo

o se parecer;

No final, a Autoridade pode não se opor ao negócio, ou então pode permitir o

mesmo mas impor restrições que considere ser necessárias para assegurar a

concorrência no mercado, ou pode inviabilizar a concentração.

Caso a empresa ou empresas envolvidas, no caso de inviabilização da concentração por

parte da Autoridade da Concorrência, têm a opção de recorrer aos Tribunais.

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Conclusão

A tutela da concorrência é uma atitude do Estado destinada a preservar o equilíbrio de

um sistema que conhece distorções e no qual a preponderância de um agente económico

conduz com facilidade ao desvio face à lei da oferta e da procura, é inclusivamente

limitado pelo Direito Comunitário da Concorrência, os auxílios do estado, porque se

entende ser um factor de desequilíbrio potencial do mercado.

No âmbito da legislação interna, o art. 11º do DL 371/93, estabelece que os auxílios

prestados pelo Estado ou por qualquer outra entidade pública não poderão afectar a

concorrência de modo significativo, no entanto a mesma disposição contempla algumas

excepções, como é o caso das indemnizações compensatórias pela prestação de um

serviço público ou dos benefícios concedidos ao abrigo de programas específicos de

incentivo.

A regulação tem como objectivo a prossecução dos interesses dos agentes económicos e

a vinculação às regras jurídicas públicas do seu funcionamento, garantindo aos

consumidores uma escolha diversificada de bens e serviços, nas melhores condições de

qualidade e preço e por outro, estimular os agentes económicos a racionalizar ao

máximo a produção e distribuição dos bens, serviços e capitais aos cidadãos.

Protege-se o consumidor, porquanto se está a proteger o mercado e ao proteger-se o

mercado percebe-se que é uma boa maneira de proteger o consumidor. Protecção da

concorrência e protecção do consumidor são objectivos convergentes na prossecução do

objectivo último de desenvolvimento do mercado interno.

A produção comunitária na área da defesa do consumidor inseria-se numa lógica de

protecção mínima, permitindo, e até encorajando os Estados Membros a avançarem para

patamares mais ambiciosos de protecção, contudo com a directiva 2005/29/CE, o

paradigma alterou-se. Ter-se-á, porventura verificado, que a existência de níveis

diferentes de protecção constituía um factor de retracção dos agentes económicos: na

incerteza quanto ao nível dos deveres a que ficariam adstritos ao operarem noutro

Estado, preferiam, muitas vezes, não arriscar. O prejuízo consequente para a promoção

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do mercado interno terá levado a esta mudança, para a Europa é mais importante o

fortalecimento e o crescimento do um mercado interno do que a protecção do

consumidor, que esta será sustentada enquanto for um bom suporte àquele objectivo.

Haverá, pois, neste momento, um paradoxo no acervo legislativo comunitário de

protecção do consumidor: se necessário, desproteger o consumidor para proteger o

mercado.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

LEGISLAÇÃO:

LEI DA DEFESA DO CONSUMIDOR – Lei n.º 24/96 de 31 de Julho, com as respectivas alterações. CÓDIGO DA PUBLICIDADE – Decreto-lei n.º 330/90, de 23 de Outubro, com as respectivas alterações.

BIBLIOGRAFIA:

ALMEIDA, Carlos Ferreira de, Os Direitos dos Consumidores, livraria Almedida, Lisboa, 1982.CANOTILHO, J. J. Gomes e MOREIRA, Vital, Constituição da República Anotada, 4ª ed., Vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 2007.CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito constitucional e Teoria da Constituição, 4.ª ed., Coimbra, Almedina, 2000.CANOTILHO, J. J. Gomes, Estudos sobre Direitos Fundamentais, Coimbra, Coimbra Editora, 2004.MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 3ª edição, Coimbra Editora, 2000MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomo VI, 2ª edição, Coimbra Editora, 2005MIRANDA, Jorge e MEDEIROS, Rui, Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I, Coimbra Editora, 2005ROQUE, Ana, Noções Essenciais de Direito Empresarial, 2ª edição, Quorum, 2007VAZ, Manuel Afonso, A Ordem Económica Portuguesa, 4ª edição, Coimbra editora, 1998

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