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Relação com a arte, cultura, poesia Antes de falarmos do slam, algumas perguntas sobre as formas como utilizas o teu tempo, sobre as tuas actividades. 1. Quais são as tuas áreas de interesse, os teus hobbies, actividades de tempos livres? Então, olha vou pegar na minha agenda…mas normalmente eu tou a fazer a direcção de produção de um festival que é (inaudível) de Almada. É o 2º ano consecutivo que tou a fazer a produção e é um festival que já tem 21 edições. Está é 21ª edição e essa função ocupa-me metade do tempo diário. Apesar de que vou passar a full-time em Junho e aí vou ter mesmo a maior parte do tempo dedicada a isso. Uma vez por semana, à 4ª feira, vou até à Amadora a um projecto que é a Palavra Dita e Feita que é um projecto da Fundação EDP e das Produções Fictícias e que tá a acontecer em Lisboa e no Porto. Em Lisboa tou eu, no Porto tá a Ana Capicua e o Pedro Silva Sentinela é o coordenador. E basicamente é preparar alunos do 8º e 9º ano para o slam, para a poesia. E depois há a competição a nível nacional que será no mês de Junho na Fundação Serralves. Eu vi uma notícia sobre isso mas não dava esses pormenores todos, acho eu. Pois, porque é muito fechado às escolas. Não é uma coisa que se divulgue assim em massa. É só mesmo para os miúdos. E o final vai ser uma competição de slam? Vai ser…o nível 1 miúdos de Lisboa contra miúdos do Porto e o nível 2 grupos de Lisboa contra grupos do Porto. E eu tou neste momento a organizar o nível 2 na Amadora e sim, tenho que organizar os miúdos em grupos de 2 e 3 para depois irem…Depois, tenho uma Associação que é a Pantalassa. Nós temos neste momento um espaço que nos é cedido pela Junta de Freguesia de Carnide a que nós chamamos de NAVE que é o Núcleo Artístico para Voos Experimentais e que estamos lá juntamente com 5 colectivos – a Associação Terapêutica do (inaudível), a Galeria Nómada, a Psinave e a Sombra e Musgo. Nós abrimos todos os Domingos com concertos, cantina, projecções, desporto…vamos começar agora a fazer o basquete. E, pronto, isto faz que com que todas as 2ªs feiras eu tenha lá uma

Relação com a arte, cultura, poesia - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/28007/5/EntrevistaNo2.pdf · Então, olha vou pegar na minha agenda…mas normalmente eu

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Relação com a arte, cultura, poesia

Antes de falarmos do slam, algumas perguntas sobre as formas como utilizas o teu tempo, sobre as tuas actividades.

1. Quais são as tuas áreas de interesse, os teus hobbies, actividades de tempos livres?

Então, olha vou pegar na minha agenda…mas normalmente eu tou a fazer a

direcção de produção de um festival que é (inaudível) de Almada. É o 2º ano

consecutivo que tou a fazer a produção e é um festival que já tem 21 edições. Está é

21ª edição e essa função ocupa-me metade do tempo diário. Apesar de que vou

passar a full-time em Junho e aí vou ter mesmo a maior parte do tempo dedicada a

isso. Uma vez por semana, à 4ª feira, vou até à Amadora a um projecto que é a

Palavra Dita e Feita que é um projecto da Fundação EDP e das Produções Fictícias e

que tá a acontecer em Lisboa e no Porto. Em Lisboa tou eu, no Porto tá a Ana

Capicua e o Pedro Silva Sentinela é o coordenador. E basicamente é preparar alunos

do 8º e 9º ano para o slam, para a poesia. E depois há a competição a nível nacional

que será no mês de Junho na Fundação Serralves.

Eu vi uma notícia sobre isso mas não dava esses pormenores todos, acho eu.

Pois, porque é muito fechado às escolas. Não é uma coisa que se divulgue assim em

massa. É só mesmo para os miúdos.

E o final vai ser uma competição de slam?

Vai ser…o nível 1 miúdos de Lisboa contra miúdos do Porto e o nível 2 grupos de

Lisboa contra grupos do Porto. E eu tou neste momento a organizar o nível 2 na

Amadora e sim, tenho que organizar os miúdos em grupos de 2 e 3 para depois

irem…Depois, tenho uma Associação que é a Pantalassa. Nós temos neste

momento um espaço que nos é cedido pela Junta de Freguesia de Carnide a que nós

chamamos de NAVE que é o Núcleo Artístico para Voos Experimentais e que

estamos lá juntamente com 5 colectivos – a Associação Terapêutica do (inaudível), a

Galeria Nómada, a Psinave e a Sombra e Musgo. Nós abrimos todos os Domingos

com concertos, cantina, projecções, desporto…vamos começar agora a fazer o

basquete. E, pronto, isto faz que com que todas as 2ªs feiras eu tenha lá uma

reunião com as outras pessoas e com que todos os Domingos tenha que estar lá. Às

vezes também estou lá ao Sábado para ajudar no que for preciso. E…o que é que eu

ando a fazer mais? Ah, depois pronto, a Pantalassa além da NAVE tem as suas

coisas, tem a sua programação anual. Tivemos agora a Bienal de Culturas Lusófonas

mas temos sempre oficinas a acontecer e o Poetry Slam Sul e…depois tenho uma

banda que são os Tapete. São os meus poemas com 4 músicos, que é a Joana

Guerra no violoncelo, o António Ramos no saxofone, o Jorge Nunes na percussão e

o Bernardo Alvares no contrabaixo. E temos feito alguns concertos. Fizemos uma

residência agora em São Tomé e fizemos um concerto no Chapitô. Mas pronto,

vamos dando concertos conforme as coisas vão aparecendo. O que é que eu faço

mais? Tou a tirar a carta de condução. Já devia ter feito há bué mas pronto, chumbei

3 vezes na condução, então voltei agora. e…basicamente é isso que eu ando a

fazer.

2. No que toca à cultura, à arte, como usa(s) o teu tempo? Que actividades fazes?

Eu diria que, neste momento, e estou a ser super negligente, é 90% produção.

Porque, além de ser…pronto, é o meu trabalho, eu tou…para o festival de dança eu

só produzo, não crio nada. Para a Pantalassa também só produzo, na NAVE

também. Não tenho estado a ensaiar, já não ensaio com os TAPETE há 2 semanas. Já

não escrevo um poema novo há…desde que estive em São Tomé, desde Fevereiro.

Por isso, tem sido complicado esse lado artístico.

3. Lês poesia?

Pá, sinceramente não é uma coisa que eu faça assim por regra. Tenho ali um livro do

Agostinho Neto que me ofereceram e que tenho estado a ler. Tive agora a ler o

prémio que me ofereceram no Slam Lusófono que é o Alma Lusitana. Leio poemas

que, às vezes, amigos e conhecidos me enviam. Mas, sinceramente, ando mais a ler

banda desenhada.

4. Tens algum autor/a (conhecido ou não, consagrado ou não), poema preferido?

Oh pá…agora lembrei-me do Ondjaki. Olha, gosto muito do Silva o Sentinela. Tou a

dizer isto, não tou a pensar muito. Ele tem um poema sobre…eu conheci-o quando

comecei a fazer slam e ele tem um poema sobre Lisboa que é super visual, que é ele

a subir a Calçada do Combro e a entrar no Bairro Alto, é super descritivo, acho que

ele tem uma cadência muito boa, a maneira como ele lê, o ritmo, a ironia que ele

põe nos poemas também é super…pá, não é uma coisa que se percebe à 1ª, é muito

perspicaz. E…não sei, gosto dos poemas dele. Acho que sim, se fosse assim de

repente.

5. Em que momentos lês poesia? É uma leitura regular ou de momentos?

Lês à noite, antes de dormir? Numa caminhada, numa pausa do trabalho, num sítio

especial, etc.)?

É mais de momentos. Não é nada regular. Pá, às vezes quando tenho que escrever

um poema novo e tou assim um bocado bloqueada gosto de ir ler…não é para

copiar, para me inspirar. Se vou à praia levo sempre um livro e, às vezes, é de

poesia. Às vezes nos autocarros posso ler antes de chegar ao trabalho. Mas…é

complicado.

5. Compras livros de poesia? Onde? O que te faz comprar um livro de poesia/como

escolhes?

Não. Quando é que foi a última vez que comprei um livro? Ah, quando

ganhei…lembras-te daquele concurso em que participámos do Poetry Slam

Portugal em 200 e já nem sei, 11? Ganhámos, nesse campeonato ganhei 100 euros

em livros da Bertrand. E comprei muitos livros de poesia. Como é que…? Foi um

bocado entrar na Bertrand e começar a olhar para os livros. Não foi nada…não

tinha nenhuma ideia na cabeça.

E quando olhaste, quando olhavas o que é que te atraía, o que é que te levava a

dizer “quero este, quero aquele”?

Oh pá, gosto de poesia que não seja muito densa, que seja…que seja acessível, que

seja num discurso acessível. Não gosto de coisas muito rebuscadas. Claro que,

estando numa livraria, ter um bocado de atenção à capa do livro, à…gosto de livros

de bolso, livros mais pequeninos que dê para circular com eles. Não gosto de

calhamaços. E depois, autores que eu tenha…que eu tenha alguma referência, que

eu tenha ouvido falar, que me tenham aconselhado. Ou então, descobrir…na altura

até comprei, comprei o Rumbayadt, Fernando Pessoa. Hmmmm, o que é que eu

comprei mais? Foi há tanto tempo. Mas…não tenho problemas em comprar livros

de autores que não conheço. Se abrir a capa, ler alguns poemas e gostar. Gosto de

comprar livros de poetas vivos, de pessoas que estejam a escrever. E pronto. Acho

que é isso.

6. Lês poesia na Internet? Tens/Vais a algum site/blogue?

Não. Às vezes há pessoal “quero-me inscrever…”. Isto é por ser também

organizadora, “quero-me inscrever. Não quer ler os meus poemas?” e mandam-me

os links e eu leio. Mas não é uma coisa que eu vá procurar na internet, não.

7. Escreves poesia? Se sim, quando começaste a escrever? Costumas partilhar o que

escreves com alguém? Tens algo publicado em papel, suporte digital (cd, dvd), na

web (blogue, site, etc.)?

Sim. quando é que comecei…poesia? Só poesia? Eh pá lembro-me…aquelas do

diário dos 14 anos não conta pois não?

Sim, pode contar.

Eu comecei aí. Eu lembro-me de já escrever e fazer umas rimas quando tinha 14 e 15.

Rimas só para mim, da dor e de estar apaixonada e não-sei-quê, dos meus amigos.

Já escrevia. Depois, tive uma fase de ouvir muito hip-hop. Que não é uma fase, eu

gosto de hip-hop, ainda ouço. Mas que para memorizar as letras escrevi-as. Então

pronto. Depois comecei a fazer as minhas próprias letras. E depois agora uma fase

mais séria, talvez tenha sido quando comecei a participar nestas coisas do slam que

foi desde 2010 e que…pronto, quando sabia que, à partida ia mostrar os textos a

público, pronto, era…construía-os de uma maneira mais pensada, mais séria, mais

verdadeira também. Não era uma coisa a brincar. Então é isso, são 3 fases

diferentes.

E nessas 3 fases partilhavas o que escrevias com alguém?

Na 1ª não. A 1ª estava no meu diário ainda, ninguém viu. Acho que nunca partilhei

essas coisas. Na 2ª fase sim. era mais com a minha irmã, com amigos sim. e na 3ª,

antes de subir para o palco para fazer mostrava sempre a amigas mais próximas, no

caso à Raquel e à Andreia, mostrava os poemas para elas…pronto, para ter uma

opinião.

E fizeste algum tipo de publicação? Em papel, cd, dvd, na internet, folhetos, flyers?

Tenho a publicação…tenho 3 coisa. Tenho as edições Côdeas. Foi a primeira, a

primeira vez que fiz parte de uma antologia de várias…era de escrita experimental.

E foi organizado por um rapaz chamado Samuel que é muito dinâmico nestas coisas

e que arranjou maneira de…foi trabalhar, arranjou maneira de juntar dinheiro e fez

um acordo com uma gráfica muito barata. E fez aquelas…aqueles livros quase

handmade, de mais baixa qualidade. Mas junto…juntou várias pessoas de escrita

experimental, desde escrita mais visual a…o Boris, o Boris Nunes que tem uma

banda, escrita mais musical. E…e pronto, foi bom ter assim pela 1ª vez nas mãos

uma coisa que eu abro numa certa página e tou lá eu. É uma boa sensação.

E…depois convidou-me agora a Ana Reis para uma coisa que é o Amor Livro, que é

uma pessoa dos vários slammers ou pessoas da palavra dita em Portugal. Vai ser

publicado este ano. E os Fazedores de Letras da Universidade de Lisboa já me

convidaram 2 vezes, por isso já saí no exemplar…não sei o nº mas foi o ano passado,

um poema. E agora enviei outro que deve tar a sair agora em Junho. Depois em

vídeo tenho as minhas participações no Clube da Palavra do canal Q. eu fui l a 2

vezes num total de 6 vídeos. Cada vez que fui fiz 3. Mas foi bom. Foi uma

oportunidade de ter os meus poemas gravados com qualidade. Era um estúdio de

televisão. E tive o privilégio de na 1ª vez ter o António Jorge Gonçalves a fazer a

ilustração depois por cima do vídeo. E na 2ª vez tive o privilégio de ser filmada no

Aqueduto das Águas Livres. Nunca lá tinha ido. Aquilo é gigante, é muito bonito. E

pronto, tenho esse registo também. Às vezes quando é preciso enviar para algum

sítio, são esses vídeos que uso. E depois pronto, às vezes sou filmada a participar no

slam do Muscibox, no Festival do Silêncio, está registado no Youtube. E acho que é

só isso que eu tenha assim registado, publicado.

8. Que tipo de eventos culturais frequentas? Onde?

Oh pá, vou muito a concertos. Vou muito a concertos porque tenho muitos amigos

músicos. E parece que todos os dias há um concerto. Então…

Onde é que costumas ir a esses concertos?

Olha, vou muito ao Lounge. Às vezes vou ao Bartô. Às vezes há concertos no

(inaudível) dos Anjos. Na NAVE também começámos a fazer concertos. Mas pronto,

eu vou como consumidora porque não sou eu que organizo essa parte. E…onde é

que vou mais? Às vezes vou aqui a Almada ao espaço Cine Incrível. Também faz

concertos. Sim, Muscibox. Não vou a grandes salas nem grandes festivais. Vou mais

a esses concertos underground.

E além da música, existem outras coisas que costumas frequentar e que gostasses

de referir?

Deixa-me pensar…ah, gosto de ir ao…também não vou há muito tempo, gostava

de ir ao cinema. Quando trabalhava no cinema ia mais vezes. Mais…espectáculos de

dança. Fui o ano passado, já não vou há muito tempo também…agora assim não me

lembro. Encontros de poesia, às vezes vou. Mesmo sem participar.

9. Que eventos relacionados com poesia frequentavas e/ou continuas a frequentar?

Há um cafezinho em Cacilhas que é o Chá de Estórias. Eles fazem leituras de

autoras, sem ser originais, e é muito interessante. Só fui lá uma vez e gostei muito.

Fui ao Poetas do Povo que também não é o formato de slam. Mas não vou…sim fui

a esses dois. Eu sinceramente é preciso…acho que foi o (inaudível) Johnson quando

esteve cá no São Jorge disse uma frase que é genial que eu uso pró…como slogan e

que é “poetry is like medicine. It should be taken in small dosis”. E às vezes…se for

em excesso não é bom. E como organizo, escrevo e participo, às vezes não é uma

coisa que eu saia de casa para ir fazer. Às vezes preciso de…

E antes de começares a organizares o slam, por exemplo, já foste a lançamentos de

livros de poesia?

Lançamentos de livros de poesia…deixa-me pensar…de certeza que já…deixa-me

pensar de quem. Pá, sim já fui a lançamentos de livros. Não sei se foram de poesia.

10. Já organizaste ou organizas eventos culturais/artísticos? Quais?

Eu fiz Estudos Artísticos então…sabia que queria ir para a produção de eventos.

Logo o meu estágio académico foi na Comuna e aí organizei uma peça que era…fui

assistente de produção de um espectáculo que era “Os hóspedes indesejados” e foi

talvez a 1ª produção assim mais profissional. Depois, fui um estágio no Rio de

Janeiro num Festival de Dança que é o Festival Panorama e pronto, foi o maior

evento que já organizei ou que já ajudei a organizar. Era um festival internacional,

várias companhias de dança. E depois, em Paris, organizei os espectáculos do

(inaudível) que também é um coreógrafo. E apoiei na divulgação, na difusão dos

espectáculos dele para o Brasil e um, um, umas oficinas mais pedagógicas com os

miúdos de Saint Demi. Um espectáculo no teatro De la Vie e aí fiz algum

voluntariado em produção de eventos, em festivais de artes digitais, festivais de

cultura africana e festival de cinema brasileiro em Paris também. Depois voltei para

cá, para a Associação Voarte. A Voarte é uma produtora artística e tinha…fiz várias

coisas mas essencialmente 2 grandes festivais também que é o In Tchado que é um

festival de vídeo, dança e tecnologia no São Luís. E o festival Inarte que é um festival

de inclusão pela arte para pessoas com necessidades especiais mas que estejam na

área artística. Depois disso, depois da Voarte ainda estive em mais outras

associações…A Menina dos Meus Olhos…entretanto fiz mesmo o curso de

Produção de Eventos e de Gestão e abri a Pantalassa. Mas sempre a trabalhar

noutras produções que me dessem dinheiro. A Pantalassa é um…pronto, é um filho.

É difícil conseguir ter trabalho remunerado a partir daí. Mas pronto, continuei a

trabalhar com a Companhia de Dança de Almada, desde há 2 anos, a fazer o festival

de dança. E depois, a produção…dentro da Pantalassa várias coisas. Nós temos uma

secção de cinema que é o Moscatela, que é um evento em que…é mostra de

cinema de amigos. Temos um documentário, uma curta de um amigo, projectamos

e acompanhamos com um moscatel. É muito simples, a ideia é muito básica. Ainda

dentro da Pantalassa tenho as oficinas mais pedagógicas com miúdos nas escolas,

temos o Poetry Slam Sul, temos o lado das residências artísticas e de intercâmbio.

Trazemos artistas do estrangeiro e nós vamos para o estrangeiro. No caso, até hoje

trouxemos uma banda brasileira que são de São Paulo, o projecto Preto (inaudível)

que esteve cá o ano passado. Nós depois fomos para São Tomé e Príncipe. E este

ano vamos ter outra banda, é um grupo de poesia e audiovisual que é o Poetica

Optica, de São Paulo. E tou a fazer uma candidatura ao (inaudível) por isso não é

certo que venham. Até queria que eles entrassem no Silêncio. Ainda dentro da

Pantalassa temos este lado de apoio À produção de artistas. Temos 4 artista que

apoiamos, o Nilson Muniz com o espectáculo dele “Coisa para dizer”, a Cristina que

é realizadora que tem um documentário que nós ajudamos a circular, o Iao Kembé

que é artista plástico, é músico, é…designer, ele é de tudo. Também participou em

alguns slams e tem uma oficina de composição para crianças que nós ajudamos a

divulgar. E o Hélio Santos que é um bailarino cabo-verdiano. E depois, ainda dentro

da Pantalassa estamos a tentar criar uma rede de residências com a Polónia mas

também ainda está num…papel. E pronto, a Pantalassa tem muitas coisas a

acontecer ao mesmo tempo.

12. E como artista? Participas, trabalhas, actuas? Em que áreas?

Na área da dança, estava a aprender a dança tribal do Senegal e estava a aprender cá em

Portugal, depois em Paris continuei. E então fiz uma apresentação com uns amigos aqui

mesmo no concelho de Almada e éramos um grupo que era os (inaudível) com percussão e

dança. Fiz parte disso. Depois na área…deixa ver, depois na área musical…pronto, os concertos

dos TAPETE. Antes de ter os TAPETE já tinha tentado uma experiência com amigos músicos

mais de eletrónica mas não chegámos a apresentar nada em concreto. E…pronto, depois na

área da poesia já fiz várias apresentações aqui, nacionais, e também já me convidaram para

vários festivais internacionais e…é isso.

Relação com o Poetry Slam

1. Quando ouviste, leste, etc. sobre o Poetry Slam pela 1ª vez?

Pela 1ª vez, foi no Brasil em 2009. Eu fui fazer um curso de Francês na Alliance Française

e eles tinham lá um programa e estavam-me a dizer “ah tens que vir às noites de slam” e

eu não estava a perceber o que era aquilo. E saí de lá sem perceber. E foi depois de um

ano, em Portugal, que percebi melhor graças ao Mick Mengucci e à Ana Reis que me

convidaram para filmar o 1º Poetry Slam Lisboa. E eu tinha acabado de chegar de Paris,

tava super contente ainda, assim…aquele…sabes quando chegas de viagem? E aterras

em Lisboa e logo uma coisa nova a acontecer. E eu lembro-me de, mesmo nessa altura,

estar sempre a perguntar “então mas vocês depois cantam, não é?”. E eles, “não, não é

cantar. É poesia. Vamos ler”. Pronto, não estava a perceber bem o que é que era aquilo.

E depois começou o evento, eu filmei e fui escrevendo umas coisas enquanto ouvia e

participei no open mic nessa noite. Mas pronto, foi a 1ª vez que concretizei o que é que

era o slam. Foi para aí em 2010.

2. E por que é que ficaste interessado no Poetry Slam?

Porque nessa noite gostei do evento desse 1º Poetry Slam Lisboa, gostei de participar no

open mic e, acima de tudo, no fim as pessoas vieram-me dizer “ah mas tu continua a

escrever, tá muito giro, gostámos muito”. Pronto, e senti que se calhar estava ali a

descobrir qualquer coisa que até tinha…que tinha jeito. E depois comecei a escrever

mais e a participar. Acho que esse lado de ter um público que nos possa dar feedback

imediato é muito positivo. Porque tu ficas logo a saber também se tens jeito para a coisa

ou não. Claro que às vezes não…por não passar ou ter uma má nota não é isso que te

tem que desmotivar. Mas realmente para quem não…tava a começar, que era o meu

caso, ouvir as pessoas, por causa de meia dúzia de linhas a dizerem “vá, continua”, isso

foi muito motivante para depois continuar.

3. Achas que há uma relação entre o teu envolvimento na arte e na cultural em geral

e o teu envolvimento no poetry slam? Há uma relação entre o papel da arte e da cultura

na tua vida e o interesse que tens pelo poetry slam? /achas que o interesse que tens

pela arte e cultura em geral condiciona o interesse que tens, que sentiste pelo poetry

slam?

Não. Acho que…por acaso acho que são 2 coisas diferentes porque…a poesia nem era

uma coisa…pá, lia e tinha algumas referências e gosto da literatura em geral. Mas

nunca…há 5 anos atrás não diria que a poesia fazia parte da minha vida assim desta

maneira. Ao passo que já sabia que queria produzir dança e espectáculos. (inaudível) é

uma coisa completamente surpreendente para mim. Claro que agora se eu for a pensar

tá tudo interligado e a minha…formação de mais de Literatura…no meu curso eu tive

muita Literatura Inglesa e Francesa. E claro que hoje em dia eu vejo alguma utilidade

nessa matéria e consigo adaptar isso à escrita. Mas foi uma supresa.

4. Conheces Poetry Slams de outros pontos do país? E de outros países?

Conhecer mesmo de ter lá estado?

Ou de acompanhar com alguma frequência o que vão fazendo…

Ok. Então, conheço…primeiro vou dizer o de Trieste, de poesia. É um festival de poesia

que acontece em Itália né? hmmm, sei que em Milão eles fazem o anti-slam. Agora não

sei se é Milão ou Roma mas nunca lá fui. Sei que em São Paulo fazem o Zap mas nunca lá

fui. Fui ao de Birmingham, ao Hit the road, que é um formato muito interessante. Eles

convidam uma pessoa de Birmingham, convidam uma pessoa do Reino Unido e

convidam uma pessoa do Mundo. E pronto. Fui a esse evento e não tem nada a ver com

pontuações por isso gostei muito do formato. Conheço o World Cup of Slam, participei

em Paris. O…spoken word de Varsóvia, vou lá este ano…o que é que há mais? Na

Antuerpia, houve o Slam Europeu. Mas depois, eu, entretanto, graças à página do

Poetry Slam Sul fui adicionando várias outras páginas. E percebi que há o Slam em

Budapeste, no Slam Europeu houve um encontro de organizadores e slammers dos

vários países que introduziram os eventos que organizam lá. Então percebi que há um

Slam na Holanda muito bem organizado, a nível nacional.

Mas Nacional, vai buscar pessoas de todo o país?

Sim. claro que deve haver uns mais pequeninos em cada cidade mas esta rapariga, a

Kira, que por acaso vem cá agora fazer oficinas de poesia, ela disse que é muito bem

organizado, todas as organizações comunicam muito bem, é fácil definir quem é que é

depois o Nacional. Há um trabalho continuado após o vencedor, após o concurso, de

acompanhar o vencedor, fazer com que ele faça oficinas. E, e ajudá-lo a publicar um

livro. Então aquilo é muito…é mesmo à…holandeses. Ela vem cá agora para o Norte,

até te posso dizer em que sítio é que é. Por acaso convidou-me mas não sei se vou

conseguir. É um sítio muito giro, é uma organização…não sei se é no Gerês. Espera

aí…mas nesse encontro, pronto, fiquei a perceber como é que funciona o Slam na

Dinamarca, na Suécia, na Estónia, Eslovénia porque estavam lá representantes desses

países todos.

De Portugal, em que slams é que já estiveste ou acompanhas mais?

Acompanho mais o Slam Lx, o Poetry Slam Lisboa, o…Poetry Slam Coimbra já fui. O

Poetry Slam Sines fui lá fazer a edição zero. Infelizmente nunca consegui ir à Amadora,

nunca consegui ir a Sintra nem ao Porto nem a Braga. Nem Angra do Heroísmo. Todos

os outros tenho acompanhado. Acompanhar, acompanho todos. E tento, dentro do

possível, divulgar quando eles acontecem. Mas sim, ainda não consegui ir a todos.

5. Participas no slam X em que vertentes: organização, slammer, público, júri?

Como organizadora.

6. Em que outros Poetry Slams já participaste? Como slammer, público, júri,...?

7. Já participei como júri. No SLAM LX convidaram-me, foi o 1º Slam Lx, fui júri. Fui agora no

último também. Fui júri no da Palavra Dita e Feita, na 1ª edição. Aquele projecto com as

crianças, na Amadora. O ano passado convidaram-me para fazer parte do júri. E sim,

acho que são só.

8. (se respondeu sim à pergunta anterior) Que semelhanças existem entre os Poetry

Slams em que já participaste? E diferenças?

Semelhanças dos Slams em Portugal? Os participantes. Às vezes corre-se um bocado

esse…esse risco quando estamos a falar do Slam Almada ou Lisboa. Talvez a Amadora.

São tão próximos que repetem-se um bocado os participantes. Não necessariamente

mas…semelhanças…são todos…não sei, acho que o público no geral dos slams em

Portugal é interessado e sempre que se pergunta ao público se está alguém que ainda

não foi a um slam, há sempre alguém. Por isso, acho que todos têm em comum o

estarem a criar públicos. Têm em comum uma certa forma de apresentar, que é sempre

um bocado, um bocado de ironia. Não são concursos formais, não é? São concursos em

que as pessoas estão à vontade, a beber um copo, estão a fumar um cigarro. Não é

aquela leitura de poesia mais…aquelas declamações mais convencionais e sim. os

prémios. Os prémios são muito parecidos também. Ou são jantares ou são livros.

E diferenças? Encontras diferenças?

Também. Assim a que me salta mais à vista é o Slam Lx ter um formato mais…industrial

é um bocado pesado. Mas mais competitivo, mais televisivo. O facto de ser um palco

mais alto, de ter um holofote de luz no centro do palco, pronto, torna a situação toda

um bocado mais intimidante. Também o facto de serem júris escolhidos, 5 jurados são

escolhidos pela equipa da organização e pronto. E à partida, pessoas da área ou

de…com algum mérito para estarem ali sentadas. Isso também torna logo a relação do

slammer com…tudo mais difícil. E…sim, acho que vejo essas diferenças. Depois tenho

no Slam Sul um público muito mais de streetwear e do hip-hop e do rapa que faz com

que, muitas vezes, o open mic e os participantes sejam tendencialmente mais virados

para aí. Também é um público mais difícil de mantar concentrado, mais ruidoso. O que

torna às vezes mais difícil o objectivo da coisa. É mais difícil alcançar. Em Coimbra, pelo

contrário, são muito bem sossegadinhos. Em Coimbra achei as pessoas super

interessadas e mesmo a respeitar o que estava a acontecer. A coisa de serem 2 pessoas

a apresentarem, é igual em Coimbra e no Sul mas é diferente do de Lisboa. O Poetry

Slam Lisboa tem um lado muito interessante que é o da itinerância, estão sempre a

mudar de sítio. E eu acho isso muito fixe. E…pronto, acho que são algumas diferenças.

9. Como descreverias o poetry slam?

Então…sei lá. Sei lá. O Poetry Slam é um espaço em que a velocidade e a

competição…jogam com a poesia. Quer dizer, acho que são sempre 2 palavras que me

ocorrem: velocidade e competição. E como são 2 coisas que eu também considero que

fazem parte da nossa sociedade actualmente, não é? As pessoas estão habituadas a ter

as respostas rápidas e coisas muito rápido. E a competição cada vez é maior por causa

do desemprego e as pessoas…e, pronto, tem a ver com os sistemas urbanos. Acho que

o Slam é isso. Acaba por ser um espelho da nossa sociedade, adaptado À poesia. E como

é que eu resumo? Eh pá é um espaço de encontro em que várias pessoas diferentes

podem partilhar o mesmo palco, pessoas com backgrounds completamente diferentes.

E acho que é um espaço democrático e…vivo. Sei lá.

Organizador/a

1. Podes fazer uma caracterização breve do Poetry Slam X (data de início, entidade

organizadora, local de realização, frequência)

Então…o Poetry Slam Sul, o 1º foi em…2000 e…12, foi o ano passado em Maio. Não

sei estas coisas de cor. O Slam Sul tem 10 edições e começou o ano passado,

começou em Março. Até acho que foi dia 1. E a iniciativa é da Pantalassa e, logo

desde o início, achámos que tínhamos muito a ganhar com a parceria da Triplicarte.

Para atingir mais público e ter uma estrutura maior para fazer o slam. Até porque

eles também estão na margem Sul. E o local começou por ser o espaço Cine Incrível.

No 1º ano fizemos as 8, não, as 7 edições no espaço Cine Incrível, que é um espaço

em Almada Velha e é uma sala fantástica. Uma das minhas salas preferidas em

Almada. E este ano optámos por circular um bocado, sairmos dali. Fomos para o

espaço da Cerca, que não é muito longe, também em Almada Velha. E fizemos lá 3

edições. A nossa ideia inicial é ter uma frequência mensal. Falhámos em Agosto por

opção porque não tinha sentido fazer aí. Neste momento estamos a ponderar se

não devia ser uma frequência bimensal, de 2 em 2 meses. Hmmmm, e é isso.

Basicamente, pronto, é a Pantalassa e a Triplicarte mas nem sempre as pessoas

estão todas presentes dessas 2 estruturas. Vamos revesando.

2. Como foi o processo de criação deste Poetry Slam?

Oh pa´, eu lembro-me…eu ainda me lembro quando estava a falar com o Felizardo

Felizmente, que é o anónimo que neste momento está na Bélgica, e de nós

começarmos a participar nos slams, em Lisboa e para nós era óbvio que seria um

formato super…viável em Almada. Porque as pessoas, há muito esta coisa do rap

que, mal ou bem, está muito associado À poesia também. E nós sabemos que este

lado de competição…que os almadenses se iriam identificar e as pessoas do Sul.

Então…nós não tínhamos grandes dúvidas de que a fórmula ia funcionar lá. Então

foi…foram 2 encontros, foi pensar num logotipo, foi pensar em teasers para

chamar a atenção. Foi criar a página do FB, foi confirmar com espaço Cine Incrível

que nos podia apoiar, em que condições nos podia apoiar sendo que não

tínhamos…estávamos a partir de zero, zero euros. Então, eles apoiavam-nos logo

com o prémio do vencedor, com algumas senhas de bebidas, com o espaço a custo

zero, com todo o apoio técnico. E depois foi conseguir parceiros para termos

prémios. Acho que isso sempre foi uma grande preocupação do SLAM Sul. Atribuir

prémios no fim. E às vezes até houve edições em que tínhamos uma lista gigante de

prémios: jantar no Barreiro, jantar em Lisboa, t-shirt, livros, a garrafa de vinho,

pronto. E…acabava por ser divertido. E acaba sempre por serem prémios

simbólicos. Tivemos algumas dúvidas na construção do evento que tinham a ver

com a entrada gratuita ou não. Optámos sempre por fazer gratuita, nunca fizemos a

cobrar. Hoje em dia, arrependo-me um bocado. As pessoas têm que começar a

perceber que a cultura dá trabalho e que, apesar de termos poetas em palco que

estão lá voluntariamente, a verdade é que há toda uma máquina para aquilo

acontecer que não é por 1 euro ou 2 euros que a coisa não…que as pessoas saem

muito prejudicadas. Mas pronto, ainda é um formato em construção. O Slam Sul tá

sempre a ser pensado, para ser melhorado, para não se esgotar. Por isso, é um

bocado cansativo. Gostava muito de daqui a uns tempos ser uma coisa que

acontecesse quase sozinha, por si só e… mas acho que é difícil.

3. Podes falar-me de como correu o 1º poetry slam que organizaste?

Oh pá eu nem sei se não foi o melhor deles todos. Não sei. Eu sei que tinha a sala

cheia de gente. Estávamos nós…estávamos com uma energia muito mais…eh pá

uma energia maior. Eu hoje em dia vou apresentar o slam, não é que não esteja

contente mas já perco a paciência mais facilmente com as pessoas que estão

sempre a falar lá atrás…pronto, já não é aquela festa que era no início. Algumas

coisas têm mesmo que mudar. E o primeiro foi…era uma supresa para as pessoas,

mesmo aquelas que hoje em dia falam estavam caladas. Não conheciam aquilo. A

casa estava cheia, nós estávamos bem dispostos, tivemos montes de convidados

amigos de Lisboa a vir para apoiar no Sul. Por isso, eu lembro-me que foi um dos

que correu melhor, tínhamos os dj’s Máfia do Caril que são sempre os nossos

parceiros nisto, que também trazem muito público. E correu muito bem o primeiro.

Deu-nos logo pica para dizer “embora fazer já”.

4. Que situações e/ou circunstâncias foram obstáculos/dificuldades na criação do

Poetry Slam?

No Poetry Slam Sul? Há um obstáculo que é sempre…não é bem um obstáculo, é

sempre um desafio que é conseguires ter os 8 participantes né? e que acaba por ser

um desafio que se pode tornar obstáculo quando tu não estás a conseguir

confirmar as pessoas e sem participantes não há slam. Então, é sempre um risco e é

uma coisa que esgota um bocado…mas que pode ser contornada com mais

divulgação segmentada, ir às escolas, fazer formações…não sei pronto. Tentar

chegar à assessoria de imprensa, rádio. E pronto, isto é um obs, acaba por ser um

obstáculo porque como já te disse, toda a gente tem a sua vida e o seu trabalho.

Ninguém está ali a viver só da Pantalassa ou a viver só do Poetry Slam. E o tempo é

um dos grandes obstáculos, que é não termos tempo para fazermos as coisas com

mais pés e cabeça. Hmmmm, depois, que mais obstáculos? O facto de ser

competição, sabemos que estamos a excluir o público mais conservador e às vezes

até público que gosta imensa de poesia mas que se recusa a ir a um slam porque

acha que é uma brincadeira de miúdos que estão ali a dar pontos uns aos outros.

Também já tive casos ao contrário em que há pessoas que até se surpreendem e

gostam. Obstáculos…oh pá não sei. A parte técnica é mum bocado simples. Eu senti

isso em S. Tomé, basta ter um projector, podes nem ter um projector, basta teres

umas folhas, umas canetas e as pessoas que querem participar. Fazes um slam em

qualquer lado. Mas quando queres fazer com cronómetro projectado, com

microfones, com vídeos, com skypeslam já te exige um bocado mais de

necessidades técnicas. Mas sim, não vejo assim grandes obstáculos, além disso.

5. E que situações e/ou circunstâncias foram facilitadoras?

Eu acho que o facto de eu ser slammer e de eu ter começado também a participar

nos eventos e de conhecer muita malta em Lisboa, a nível nacional, ter conhecido

entretanto muitos poetas internacionais, faz com que eu consiga, a nível de

programação, reunir intervenientes que são muito (inaudível). imagina, desde que

começámos a fazer o skypeslam que eu sei que aqueles 10 poetas que eu conheci

em Antuérpia, mais os outros 5 que eu conheci em Londres mais não-sei-quantos

que conheci em S. Tomé que eu posso contar com eles, tenho o contacto deles,

para eles fazerem um skypeslam. E isso é brutal porque é um momento em que o

público viaja para outro país qualquer e ouve outra língua qualquer. Tanto fora de

Portugal como em Portugal. Eu sei que temos amigos, o José Anjos, o Nuno Piteira,

o Sérgio Amaral, somos todos uma rede de amigos que se conheceu um bocado por

causa do slam e que facilmente pedimos a um para ser convidado especial ou para

divulgar…ou mesmo para nos safar quando não temos os participantes todos. Estar

dentro deste movimento acho que é super importante e facilita muito. Ao passo

que se eu só viesse da produção cultural e dissesse “ah agora vou fazer um slam”,

se calhar iria ter imensa dificuldade em conseguir chegar às pessoas. Por isso acho

que é um facilitador.

6. Existiram/existem apoios e/ou parcerias na criação e organização periódica do

Poetry Slam?

Isto agora espera aí que eu não me posso esquecer de ninguém. É um bocado

chato. Vou-te dizer quem é que são os nossos parceiros. Em termos de espaço,

temos o Cine Incrível e o espaço da Cerca. Triplicarte, são os parceiros da Pantalassa

nesta aventura. Tivemos o apoio do Lucas, de vários artistas para fazer os cartazes

porque isto foi uma coisa que…optámos desde o início, que era convidar uma

pessoa mensalmente para fazer um cartaz diferente. Artistas com um background

desde o grafitti Às tatuagens, à escultura, à pintura. Então, é giro ter uma colecção

bonita de cartazes, qualquer dia quiçá fazer uma exposição só disso. Mas vou tentar

agradecer a todos os que já participaram. O primeiro foi o Tiago Espe, a Inês que é

mais conhecida por (inaudível) vs. Leche, o José (inaudível) Vargas, o Lucas Almeida,

o Vilela, a Sofia Alves e a Ramona. Depois temos apoios para os prémios. Temos a

Chili com carne que é uma editora alternativa que nos dá livros. A Edições Côdeas

também já deu alguns livros. A Galdéria também é editora e um colectivo de

artistas. Os Máfia do Caril que são os nossos parceiros dj’s, incansáveis, estão lá

sempre. A marca de vestuário 2800, que não podia ser mais Sul, que é o código

postal de Almada e que é uma marca de streetwear que dá sempre 1 t-shirt ou 2 ou 1

sweat. A MSX bags que foi parceira na última edição com umas carteiras e umas

malas. E restaurantes: a Tia Bé, o Mário sem espinhas no Barreiro e o Cravo e Canela

no Bairro Alto ofereceram jantares. A Fonte da Pipa mais recentemente. E a

Associação Terapêutica do ruído que ajudou-nos a fazer a programação musical no

último. Acho que é tudo.

7. O Poetry Slam X costuma ter convidados? De que áreas artísticas?

Costuma. Tivemos agora o Chullage no…correu muito bem, que é mais a área de

spoken word. Depois tivemos a banda de spoken word musical Mind Poetry. Já

tivemos o José Anjos, o Mick Mengucci…já tivemos…não sei se os skypeslams

consideras convidados mas pronto. Tivemos o Joshua Idehen, tivemos o Biru,

tivemos o vencedor europeu da Suécia que agora não consigo dizer o nome

dele…que mais skypes? Ah tivemos um skype com uma malta de Almada, do hip

hop, que agora tá toda na Holanda. Foi um skype muito emocionante, brutal. Tava o

pessoal todo de Almada a vibrar, que é o JP e o Mário Lídio. Tivemos um skype com

o Felizarduo que ele agora tá na Bélgica. Um com o Daniel que está em França

agora. e é isso. Acho que sim.

8. É importante para vocês, organizadores, ter a participação de pessoas de outras

áreas artísticas? Porquê?

Ah sim, sem dúvida. É que de outra forma também não…ia ser muito redutor. Esta

história dos artistas, dos cartazes, é um bocado para entrar por aí, né? eles não são

da poesia. Esta parte das bandas musicais queremos continuar. São bandas que

podem fazer alguma alusão à poesia mas não necessariamente. Pessoas que

gostem de música, no geral, é importante que venham ao slam, daí termos os Máfia

do Caril que são super ecléticos na escolha das músicas que vão passando. Deixa

ver…o que é que é mais importante…estas pessoas (inaudível) é mais streetwear,

claro que nos interessa ter pessoas mais desta onda da marca, pessoas mais ligadas

ao comércio de skates e…porque sabemos que em Almada há muitas pessoas que

são dessa área. Interessa-nos muito ter pessoas de faixas etárias mais elevadas para

não ser uma coisa…para ser uma coisa equilibrada. Mais áreas…qualquer área é

bem vinda.

9. Que tipo de reacções e comentários tens tido da comunidade?

Da comunidade…deixam-me ver…olha, se falaram mal nunca ouvi. Mas não teou a

dizer que não falam. Mas tipo…eu só tenho ouvido coisas boas. Desde “ah, ai,

gostamos muito do formato. Devia acontecer mais vezes” ou mesmo só virem-nos

perguntar quando é que é o próximo Poetry Slam, “deviam tentar apoios com a

Câmara”, “deviam fazer o slam na rua”. Eu…o que me tem chegado aos ouvidos

são sempre coisas boas da parte da comunidade. Não só comentários mas vontade

de ajudar. Tanto os dj’s como a 2800 são pessoas que vivem em Almada e que já

fazem parte desta…dinamizam muito Almada no que toca a concertos e encontros

de Bboy’s e de competidores de scratch…então eles próprios, de certa forma,

abraçaram o Slam Sul e tornaram-no uma coisa ainda mais abrangente. Consegue

chegar a mais pessoas. Então acho que é positivo, a comunidade acho que está

contente.

10. Como descreves a relação entre os Poetry Slams de Portugal? (slammers,

organizadores, público)?

Eu vejo de uma forma muito orgânica e que acontece naturalmente porque somos,

grande parte, genuinamente amigos e as coisas acontecem naturalmente. Por outro

lado, sinto que há uma falta…a articulação podia ser maior e melhor. Mas isso já é

do ponto de vista…talvez mais da produção e de saber que podíamos já ter uma

base de dados criada com contactos de slammers, que podia haver uma divulgação

em rede, que podia havia eventos organizados por todos ao mesmo tempo,

também com o objectivo de tirar o representante nacional, etc. eu sei que podia ser

melhor mas fui-me habituando a relaxar a minha opinião sobre esse assunto porque

acho que quando é mesmo preciso as pessoas estão lá. E agora, por exemplo, no

Slam Lusófono, foi uma reunião engraçada de pessoas que organizam e que são

slammers. Quando há o Sul há sempre este movimento Lisboa-Sul que não é tão

evidente porque há muitas pessoas que acham que Almada é longe. Ter que

apanhar um barco que demora 20 minutos…acho que…acho que é muito orgânico,

podia ainda correr melhor mas acho que temos um bom ponto de partida para as

coisas correrem melhor no futuro.

E achas que há circulação de pessoas entre slam’s?

Sem dúvida. Não sei…não te posso dizer do Norte a Sul. Tou a falar mais lá para

cima, Braga e Porto…e Coimbra também mas Amadora, Lisboa, Almada, a outra

Lisboa e…Sintra. Sem dúvida que são muitos dos mesmos a circular. Podia talvez

ser maior, haver maneira de eles conseguirem também subir. Mas sim, há

circulação.

11. Como vês o futuro do Poetry Slam X? E o futuro do Poetry Slam em Portugal? Hmmm, vejo a ter que entrar numa fase mais madura, mais séria e que exige, também,

um reconhecimento mais institucional. E digo isto porque é muito cansativo, ainda mais quando temos outras coisas para fazer e se abrangemos o nº de pessoas que abrangemos (temos uma tabelinha com os nºs de participantes, nº de público, prémios e parceiros) eu acho que pode perfeitamente ter o apoio da Câmara Municipal ou de uma Universidade ou de uma marca aqui do Sul de maneira a ser mais sustentável e a ser cada vez maior. E eu acho que o Slam Sul para continuar, tinha que ser um bocado nestes termos. Em que houvesse reconhecimento. E também por parte do público, que não se importasse de dar 2 euros para…isto parece um discurso um bocado empresarial, parece que agora o Slam Sul

tem que, tem que investir nisto. Mas é…é só para atingir mais pessoas. O reconhecimento da Câmara não tem que ser necessariamente financeiro mas uma espécie de chancela que faz com que o evento…que eles fazem poesia também na Câmara, todos os anos elegem o poeta jovem almadense, podia estar associado e trazer outros tipos de público.

E como é que vês o futuro do Poetry Slam em Portugal? Não sei. Há 2 perspectivas: aquilo que gostaria que acontecesse ou que eu gostaria de ver

e a que realmente acontece. Gostaria muito que o slam em Portugal…não se banalizasse, ainda há muitas pessoas que não sabem o que é o slam. Por isso vale a pena continuar a fazer este trabalho, de maneira séria e perceber a importância, até pedagógica, que isto tem. Mas eu depois posso falar nisso. Mas acho que temos que entrar nessa fase madura, no geral e conseguir mesmo comunicar entre as organizações porque…já há exemplos noutros países do Poetry Slam ser realmente um acontecimento importante em que os Ministérios da Cultura e as organizações que podem apoiar eventos culturais estão atentas. E conseguem trazer artistas de outros países com esses meios, conseguem trazer espectáculos. Eu acho mesmo que é viável. Apesar da crise que existe em Portugal e de todos os problemas que estamos a passar, é um país naturalmente poético e que…as pessoas respiram um bocado essa…melancolia, essa inspiração. Acho que a poesia está mesmo nas entranhas do país. E acho que é…podíamos tentar…podíamos tentar maximizar isso e fazer uma coisa a nível nacional. Mas…pronto, isto é como eu gostava de ver. como eu vejo é que, para isso acontecer, temos mesmo de nos desligar de outro lado que também é portuguesinho, apesar da poesia…pronto, eu também nasci em Lisboa, não é? Eu incluída…que é este lado dos egos e até mesquinhice de uma competição pouco saudável. Temos que nos conseguir desligar disso e pensar a longo prazo. Mas pronto. Acho que é possível.

Slammer

1. Já leste ou fizeste performances com a tua poesia, o teu trabalho noutros eventos

para além do Poetry Slam?

Outros tipos de eventos…então, para além do Poetry Slam…com os TAPETE que

acaba por ser mesmo os poemas. Todos os concertos que demos até hoje. Os

Poetas do Povo. Eu acho que tou a entrar numa fase muito mais virada para a

pedagogia através da poesia e onde acabo sempre por apresentar os meus slams,

nem que seja a modo de exemplo. E nesse…nesses contextos estive agora em S.

Tomé onde, com as crianças, fizemos este campeonato de slam de S. Tomé. Incluí

os meus poemas para eles, também. E a Palavra Dita e Feita, acho que é um

projecto muito interessante. Quero cada vez mais usar os meus poemas para esse

nível educativo que é onde tudo começa. Eles estão a crescer agora e se calhar pode

fazê-los mudar, de alguma maneira mudar a vida deles. E de resto, às vezes

convidam-me para eventos mais…eu acho que não cheguei a ir, era uma coisa mais

institucional, a Semana de África. Há um sítio onde leio muito os meus poemas e

que é muito pouco evidente que é casamentos. Casamentos de amigos. Eu fui a 3

casamentos o ano passado e nos 3 li poemas para os noivos, personalizados. São

feitos uns com mais antecedência que outros. O último foi feito no carro a caminho

de Mirandela. Mas é engraçado porque, pronto é um casamento, às tantas já está

tudo bêbado e a dançar e, de repente, “ah agora quero dizer um poema”. e aquilo é

sempre muito emocionante e acabo eu a chorar e os noivos a chorar. É bué

engraçado. Calhou acontecer 3 vezes o ano passado. Já parece uma profissão.

2. O que significa ser slammer, para ti? Como descreves a participação enquanto

slammer?

Oh pá, eu gostava muito que isso fosse um estado de espírito, sem ser muito “ai

agora ser slammer é ser todos os dias” mas acho que um slammer é uma pessoa

que observa muito também. Porque tu vais ler os teus poemas mas tu tens que

olhar para o público, tens que interagir com ele e tens que, às vezes, escolher temas

mais…que tocam toda a gente porque são actuais. Há muitos slammers a falar da

crise, há slammers a falar de futebol, a falar…eh pá de temas que se vÊ no

telejornal. Então acaba por ser uma poesia muito feita do quotidiano. E eu acho que

ser slammer, para mim, é um bocado isso. É estar sempre atento ao que tá a

acontecer À nossa volta. Não é uma coisa de escrita introspectiva, eu fechada no

meu casulo mas uma escrita mais aberta para os outros e quero manter esse lado

desperto.

3. O que é a escrita do Poetry Slam? Como é escrever para participar num Poetry

Slam?

Quero muito…não é ter aquela palmadinha nas costas no fim mas quero também

ser um veículo que dá voz a muitas das frustrações gerais das pessoas. Não quero

ser uma máquina de intervenção ou uma ferramenta de propaganda mas acho que

é importante falar de temas que são de todos. Mas faço isso…não é uma coisa

muito cerebral, é genuíno porque também sofro isso e quando escrevo, escrevo

porque me apetece. Mas custa muito mais ler um poema como o Tejo que é um

poema só contemplativo, “eu atravesso…” claro que tem o seu lado…é um poema

que eu gosto muito. Mas se calhar quando digo o “frize, são tempos de crise” sei

que tou a ler mas também tou a ouvir as pessoas. Mas pronto, preparar um poema

para o slam tem logo essa rigidez dos 3 minutos não é? Quando tou a escrever e sei

que quero apresenta-lo num evento tenho sempre atenção ao tamanho. Sem me

deixar castrar muito. Já fiz poemas em que sabia claramente que aquilo ia

ultrapassar os 3 min e fiz à mesma porque achei “pá, agora não vou tar a cortar

isto”. Mas sim, tem essa particularidade. Depois tem o lado da linguagem gestual.

Quando tou a fazer um poema para apresentar sei que é interessante fazer uma

pausa, olhar para o público, usar o corpo, circular no palco. Então isso, parecendo

que não, à medida que tou a escrever já tou a pensar nisso. E depois é escrever para

ganhar (risos). Mas agora tava a brincar claro. Não tou a escrever “ai agora vou

ganhar isto”. Sentires-te seguro, “agora está bem escrito, gosto de isto assim. Estou

pronta a apresentar”.

4. Como escolhes os textos que vais usar num slam?

Hoje em dia, eu já não participo em slams em Portugal há uns meses. Basicamente

por não escrever um poema…não sentir que tenha poemas novos suficientes para

apresentar. E já se torna muito difícil…se eu agora tivesse agora obrigatoriamente

de participar num slam ia ser muito difícil porque…oh pá não tenho nada assim

escrito muito novo. Quando tenho que escolher para o estrangeiro, como

aconteceu agora há pouco tempo para a Polónia, escolho o “time péssimo” por

uma questão visual que é ser um poema que é lido do fim para o princípio e do

princípio para o fim. Muitas pessoas não percebem isso mas pronto. Há um

sonoridade, uma repetição que eu acho que noutro país qualquer é perceptível e a

sonoridade é muito importante noutro país. Depois também tem uns

estrangeirismos pelo meio, o próprio nome do poema. normalmente, escolho o Tejo

e normalmente escolho o Frize. Pronto, escolho um poema…uma coisa mais social,

uma coisa mais contemplativa e uma coisa mais estilizada de…para não ser uma

coisa quase…para subir ao palco e dar alguma coisa de novo. Não ser uma coisa

repetitiva. Pronto, claro que a leitura acaba por ser muito parecida, é a mesma

pessoa. Mas, sei lá, mostrar maneiras diferentes…

5. Preparas-te, de alguma forma, para a tua participação no Poetry Slam?

Sim.

6. E como te preparas?

Então…pronto, hoje em dia já sei os textos quase todos de cor, os que eu tenho, já

não preciso de preparar tanto. Mas lembro-me de estar aqui em casa às voltas a

dizer o mesmo poema eh pá sem parar. Não gosto mesmo de ter um papel na mão.

Nem é por uma…só por uma questão das pessoas perceberem que tenho o texto

memorizado e conseguir olhar para elas em vez de estar a olhar para o papel.

Também é porque quando estás nervoso o papel denuncia-te logo. Fica ali a abanar

e às vezes…sim, também podes ter uma estante…mas prefiro não ter o papel.

Então, fico aqui às voltas a dizer o poema várias vezes ou em frente ao espelho.

Houve uma altura em que tinha um gravador e gravava para depois ouvir. Às vezes

mostro um amigo para ouvir uma opinião. Sim, no princípio era mais obcecada

nessa parte de preparação. Agora…já não preparo tanto…quer dizer, desde que

seja mais espontâneo depois.

7. Consideras-te poeta? Porquê?

Hmmm…sou mais alta. Sou poeta…? Não acho que tenha a disciplina e a dedicação

que um poeta talvez deva ter. eh pá e não sei qual é o volume de trabalho que um

poeta deve ter. se calhar isso não sequer tá tabelado. Acho que…dedico muito

tempo a outras coisas que me dão pica e que me dão dinheiro. E não…não tenho

esse respeito pela poesia que se calhar deveria ter. se calhar podia tirar um dia por

semana ou ler mais ou dedicar mais e não o faço. Por isso também não acho que

seja poeta. Acho que escrevo poesia…e…não sei, gostaria muito de escrever mais

até fora da poesia. Gostava muito…às vezes tenho ideias para ficções que gostaria

de desenvolver mais…mas sim, não sou poeta.

8. (para slammers que não são organizadores) Como é que descreverias o teu

envolvimento, a tua relação com o Poetry Slam?

Público

1.0 (para organizadores e slammers) Também participas no Poetry Slam como parte do público? Também, então? Quando é que foi a última vez?...quando é que eu fui ao slam como parte do público? Oh pa, já não vou há muito. Ou vou júri ou vou como convidada e acabo por assistir, claro. Ou…ah, fui uma vez, fui há pouco tempo ao Slam LX porque a Liliana ia participar e fui só mesmo porque ela ia participar e então fui assistir. Sim.

1. (se não é slammer) Como soubeste da existência do Poetry Slam?

2. Por que escolhes o poetry slam em relação a outros eventos ou outras actividades

que poderias fazer à mesma hora e dia do slam?

3. (só para público) como definirias a tua participação no Poetry Slam?

4. Pensas participar no slam numa das outras vertentes: organizando, competindo ou

fazendo parte do júri? Se sim, porquê?

5. Já fizeste parte do júri de um slam?

Já.

Júri

1. Como decides a pontuação a dar?

Eh pá, isso é horrível. Odeio fazer parte do júri. É mesmo…é mesmo bué frustrante

porque…eh pá, houve uma vez em que era jurada e tava…acho que o Víton Araújo

tava-lhe a correr muito bem a noite, queria mesmo que ele passasse. Tava-lhe a dar a

pontuação mais alta e ele não passou, foi eliminado assim À primeira. Então, há esse

lado frustrante de achares que o júri tem algum poder e…não tem não é? São vários,

são 5 e tudo pode acontecer. E depois há aquele lado em que estás a dar uma

pontuação e depois arrependeste, podia ser melhor ou pior. Mas normalmente tenho

em conta o à vontade que a pessoa tem no palco, até que ponto é que ela domina o

texto, consegue (inaudível), consegue interagir com o público. E depois também

dou…penso no conteúdo do que a pessoa está a dizer. Será que é de facto

relevante…se é perceptível. Às vezes não ser perceptível também é bom. Oh pá é

muito difícil, é muito subjectivo.

2. Quais são as tuas principais dificuldades?

É difícil resumir uma performance a números ainda por cima quando tens tão pouco

tempo. Aquilo…pronto, tem que estar sempre a acontecer. Tenho dificuldade de

poder estar a ser injusta. Mas tenho que criar os meus próprios critérios, individuais,

e naquele momento penso “performance, conteúdo”, tenho ali uma referência do

primeiro e depois ou gostei mais ou gostei menos e vou andando para cima ou para

baixo. Mas pronto, isto não é científico.

Relação com o Poetry Slam

O Poetry Slam tem, geralmente, uma parte de competição e uma parte de open mic. A

primeira tem algumas regras e uma certa ordem. A segunda pressupõe uma participação

com menos limites (tempo, adereços) e não tem a atribuição de pontuação.

1. O que pensas sobre o formato de competição?

O formato da competição…acho que é fundamental…se calhar seria um bocado

conformista não é? Apresentaram-me o formato do slam assim e pronto, e é assim

que acontece. Nem sequer questionei. Acho que é fundamental esse lado da

competição para um evento como este. Quer dizer, este evento é competição e

velocidade, é competição e velocidade. Não se pode tirar essa…ferramenta. Acho

que os participantes têm que entrar em “jogo” a saber que aquilo é só mais um

condimento para que aquilo seja um evento de slam e sem sofrerem muito com

aquilo. E por isso, sempre que estou a apresentar o Slam Sul digo sempre “não se

esqueçam que o que interessa é a palavra. Isto é só uma competição” que pronto,

não é o mais importante. Por outro lado, acho…acho que é importante haver um

vencedor…no sentido de…sei lá, de criar estas possibilidades de depois ir mais

longe e representar noutros sítios e…e sentir-se…sentir que está a construir

qualquer coisa. Pronto, este lado da competição acaba por alimentar muito…por

alimentar este evento. Há pessoas que vão lá mesmo porque querem ganhar, ou

seja um jantar ou um (inaudível) ou seja o que for. Eu acho que acrescenta um lado

lúdico que…sentimo-nos um bocado no parque infantil quando fazíamos aqueles

jogos com os amigos e…para ver quem ganha. Mas acho que isso é saudável e acho

que temos que ter essa capacidade de jogar sem levar a coisa muito a peito mas

também reconhecendo a importância que isso tem. Sei lá, acho que é isso.

1.1. A utilização deste formato no poetry slam faz-te repensar o conceito de

competição?

2. E o que achas da parte de open mic, microfone aberto?

Acho que…é muita bom para depois daquele momento de tensão para…para o

relaxamento. Acho que o open mic é quase tão importante como o concurso.

É…aqueles que estão lá sentados a assistir e que já estão a ganhar coragem e a

achar piada finalmente levantam-se e vão. Aqueles que quase estiveram para se

inscrever mas não se inscreveram por vergonha depois talvez vão. Aqueles que

foram eliminados na 1ª ronda mas que ainda tinham lá os 2 poemas e que curtiam

bué partilhá-los também vão. Pá, o open mic são as infinitas possibilidades. Às vezes

acontece 1 ou 2 encontrarem-se em palco e improvisarem lá no momento e até fica

uma coisa engraçada. Eu agora no Poetry Slam Lusófono tive um open mic gigante.

Durou quase mais tempo que o concurso. E foi o maior e melhor open mic que eu já

vi. Acho que é mesmo um momento muito, muito interessante. E aquela…o palco

está ali vazio, há aqueles segundos de silêncio e de repente há alguém que se

levanta e vai para o palco. Eu acho isso…acho isso um bom momento.

3. O que pensas do papel, da função do júri?

O papel do júri…é muito importante mas pode ser…é uma maneira de incluir o

público no jogo. E é uma maneira de não ser uma coisa “agora vocês vão assistir a

isto e pronto”. Não. “vocês fazem parte disto e influenciam o caminho que isto

pode ter”. convém ser um júri atento, um júri coerente e que respeite as pessoas

que estão em palco. Por isso, o papel do júri é muito importante porque há pessoas

que…no último…houve um Slam Sul em que eu tive um júri que só dava 2, 2, 2, 3.

Pronto, ao menos era igual para todos. Mas…houve ali depois umas discrepâncias.

E depois foi lá fora fumar cigarros e não ouviu um poema. sei lá. E quando há

esse…quando não há esse compromisso podes pôr em causa muita coisa e é chato

para quem está no palco. É muito importante o papel do júri. Convém…convém eles

sentirem que fazem parte daquilo.

4. Achas que deviam ser dados critérios prévios ao júri para a avaliação que fazem?

Critérios…umas luzes. É o que nós fazemos sempre. “Júri, se você está aí sentado a

pensar não sei como é que hei-de avaliar os participantes, damos-lhe aqui algumas

dicas. É pensar na performance, como é que eles estão À vontade, se interagem

com o público, o conteúdo do texto…” pronto. Depois há aquela coisa dos 3

minutos e dos descontos. Mas acho que é importante dar umas linhas de orientação

até porque pode haver pessoas no júri que nunca foram a um slam e não fazem

ideia de como é que têm que votar. Mas sem ser…não são critérios…é sempre

subjectivo, lá está.

5. Como é que é o público do poetry slam?

No geral?

Sim.

Não sei quem é que me disse que…alguém fez uma comparação com os

gladiadores: O público gosta de ver sangue. O público do slam…? Eu acho que…não

é um evento de stand-up comedy mas muitas pessoas vão com a mesma

predisposição que é a de ver…de se rir. É um público normalmente divertido

porque sabe que não está a lidar com declamadores profissionais e que está, que

podem subir ao palco qualquer tipo de personagem e muitas vezes é um público

curioso nesse aspecto. “pá, quem é que vai lá hoje ao slam? Vamos ver”. claro que

há públicos muito diferentes mas…uma pessoa que vai a um slam acho que tem

que gostar de poesia. Doutra maneira acho que pode ser um bocado chato. Tem

que gostar de poesia…tem que estar bem disposto e tem que estar aberto a uma

coisa não convencional de poesia. Logo, tem que ser um público flexível, não muito

difícil. Sim, depois há vários públicos diferentes. Dependendo da cidade. Mas acho

que sim, basicamente é isso.

6. O que pensas sobre a condição de os textos terem que ser da autoria do slammer

para que possa participar na competição?

Em relação a isso, aconteceu-me agora no Poetry Slam Lusófono um senhor de

Moçambique no fim dizer-me “eu gostei muito mas acho que devia haver aqui

espaço para se lerem poemas doutros autores” e…na verdade sim, isso pode

acontecer no open mic talvez. Mas acho que é importante uma das regras ser a

originalidade porque…por um lado íamos ter muito mais participantes, não é? Se

fossem poemas de outros autores, qualquer pessoa que gostasse de poesia e

tivesse uns quantos livros ou soubesse uns poemas de cor podia participar. O ser da

própria autoria aumenta o nível de exigência, aumenta…o nível de produção de

poesia. Essas pessoas são “obrigadas” a escrever mais…eu acho que do ponto de

vista educativo e de construção de uma nova geração de poetas, acho que é

importante serem poemas originais. Acho que é importante e deve-se manter isso.

Sim.

7. Na tua opinião, qual foi a razão para se criar um evento desta natureza, com estas

características?

Hmmmm, não sei. Eu acho que ele deve ter reconhecido…deve ter reconhecido

esse lado poético que está inerente a quase todas as pessoas. Deve ter reconhecido

que várias pessoas escreviam poesia ou escreviam textos só para si ou para os seus

e deve ter percebido que era interessante que isso fosse aberto ao público. Não sei.

A parte dos 3 minutos…não sei, criar algum ritmo, alguma disciplina, aquela

questão de entradas e saídas, o trabalho, ser só uma pausa, um intervalo…não sei.

Isso é a mesma coisa “por que é que…?”, é como um desporto quase, “quem é que

se lembrou de lançar uma bola num cesto?”, tás a ver? não sei, ele chegou a este

formato…mas acho que acima de tudo é perceber que há um potencial poético

muito grande nas pessoas, em algumas. Acho que é isso.

8. Qual a tua opinião sobre os textos que são lidos, performados no poetry slam?

Sim. acho que 80%, não, 60% dos textos são mesmo de intervenção. Há muitas

pessoas a escrever para o Primeir-Ministo, para a Presidente da Assembleia, para o

Presidente da República. Directamente mesmo. Acho que há um…há esse estilo de

poesia que eu vejo muito aqui em Lisboa que é…que é directamente para os órgãos

políticos. Depois há…há uma poesia…mais…dizer isto assim é um bocado…assim

mais, ia dizer mais lusitana, que é aquela coisa mais…

Lírica?

lírica, estou a ficar sem palavras. Sim, mais… Que é mesmo português, mesmo

de…tu vais a um slam e dizes “este rapaz tá mesmo…” sei lá, mais lírica pois.

Mais…depois, há muitos poemas mais individuais, sobre a própria pessoa, está-se a

apresentar, a mostrar as suas fraquezas ou as suas paixões, há esse lado mais

amoroso. Mas eu acho que no geral os Poetry Slams em Portugal têm muito este

lado interventivo. Com alguma ironia, uns mais do que outros. Mas..às vezes nem

percebe bem que é um discurso político ou contra a política mas é. Acho que no

geral é isso.

9. Achas que há um tipo de texto, um tipo poesia do poetry slam, que tem mais a ver

com o poetry slam? (se sim) Podes descrever, dizer como é, esse tipo de texto?

Acho. Acho que é aquele mais performático e que brinca mais. Que desconstrói

mais as palavras, que…e que faz mais jogos. Talvez o Mich Mengucci, o Sérgio

Coutinho, o Víton, o Nilson Muniz, vocês os aranhiças & elefantres. Eu acho que isso

se aproxima mais de uma escrita slam porque…oh pá, porque é uma coisa dinâmica,

porque é jogar com as palavras, acho que isso é muito importante. Não ser uma

escrita linear, do princípio ao fim, limpinha. Mas ter esse lado de explosão, altos,

baixos, mesmo fisicamente. Acho que isso é mais slam do que outros poemas,

outros tipos de textos.

10. O que gostas mais no Poetry Slam?

O que eu gosto mais no Poetry Slam…o que eu gosto mais no Poetry

Slam…hmmm…oh pá…não sei…gosto sempre de ver uma pessoa nova a subir ao

palco e aquele lado nervoso do início. Gosto de ver aquelas pessoas que ganham

coragem, pá quando tÊm coragem para subir. E quando vão passando as várias

rondas. Gosto de ver essa alegria, das pessoas que estão a chegar à final…e…não

sei. Um bom apresentador. Eu gosto do Filipe Homem Fonseca apesar de haver

várias críticas. Acho que um bom apresentador num slam também é muito

importante. Acima de tudo, é ver pessoas que se calhar nunca pensaram partilhar os

seus poemas e de repente estão lá em cima. Acho que isso é fixe.

11. O que gostas menos?

O que eu gosto menos é…o que eu gosto menos…não gosto muito da coisa dos 3

minutos. Aliás, já te disse que já escrevi poemas mesmo a saber que ia passar. Pá,

porque…oh pá, acho que castra um bocado. Gosto muito quando um poeta vai lá, já

vai nos 4 minutos, as pessoas já estão a gesticular e gosto que ele assuma isso e leve

o poema até ao fim. Porque…eh pa, o que interessa é que ele tá a ler o poema que

escreveu, como pensou, até ao fim. Acho que os 3 minutos é uma coisa boa de

subverter e de ignorar. Apesar de, pronto, fazem parte.

12. Já falaste sobre o Poetry Slam com pessoas que não ouviram falar ou nunca

estiveram num? O que dizes?

Sempre. Sempre a falar. Muitas vezes. A última agora em S. Tomé, que ninguém

sabia o que é que era o slam e que foi um dos melhores slam que eu já vi. Isso está-

me sempre a acontecer. Por exemplo, quando vou viajar para participar num slam,

“ah vais a um slam? Mas o que é isso?”. Eu nessas coisas sou muito…até

porque…se calhar tou a ficar velha e não tenho paciência para floreados, então

digo as regras. Sou muito objectiva. Digo “olha, é um concurso de poesia. As

pessoas têm 3 minutos para ler poemas. Em que o júri é o público e ganham

prémios”. digo mesmo o que tenho que dizer. Mas depois se for uma conversa mais

tranquila e a pessoa mostrar mais interesse, explico que graças ao slam descobri

uma série de coisas brutais, que é uma rede que eu não pensava ser tão grande. E

que nunca ia imaginar que há esse…que é um mundo à parte, não é? De repente,

abrir-se assim um mundo à nossa frente. Acho que também estavas nessa leva. Não

sei se já conhecias antes. Mas que…eu desconhecia totalmente e que foi graças a

isso que…é normalmente isso que eu digo quando me perguntam.

13. Na tua opinião, o que é que atrai as pessoas, público e slammers, no Poetry Slam?

Às vezes, ter um convidado especial atrai. Às vezes ter os amigos a participar atrai

muito não é? Acho que às vezes quando…se for uma 6ª feira, não tá muito bom

tempo, tá a chover, não há concertos, acho que é um evento ideal para se estar

assim, tranquilamente a assistir. Acaba por ser um sítio acolhedor. Se não

fosse…dependendo do formato. Quer dizer, o de Lisboa é muito mais acolhedor a

certo ponto do que o do Sul que é um bocado mais rude, tens aquele público todo a

querer falar. Mas depois há outros slam em que tu consegues estar sentadinho a

beber um chá e…é um sítio acolhedor. Sim, acho que é isso.

14. Na tua opinião, para que serve o Poetry Slam?

Oh pá, serve para…lá está, é o que eu já disse. Serve para as pessoas ganharem um

espaço para a sua poesia. Serve para criar públicos de poetas e…públicos

(inaudível) que não…que à partida não se imaginavam nessa situação. Serve para

pôr as pessoas a escrever mais, serve para juntar as pessoas numa situação que é

quase sempre agradável. Acho que nunca, acaba sempre por ser muito interessante

estar com as pessoas nesse…mas acima de tudo é isso, mais possibilidades de re-

inventar a Literatura no geral. Que são pessoas que não…que acabam por repensar

o que é que é poesia, o que é que é literatura, o que é escrever. Estamos a

abrir…estamos a dar outra vida à poesia. Acho que é para isso que serve o slam.

15. No mundo da poesia, o Poetry Slam é um evento mainstream (de massas, popular)

ou underground, de contracultura (é uma sub-cultura com normas e valores que se

opõe àquilo que é mainstream, ex: Beat generation, hippies)?

Ui, essa pergunta é complicada. Isso vai…isso depende também de cada

organização e acaba por ser…há poetry slams mais underground e há poetry slams

mais mainstream. Acho que é localmente. Apesar…lá está, eu posso fazer um

esforço maior e pensar a um nível mais abrangente. Claro que é mais underground.

Há uma série de pessoas que desconhecem o slam e que a poesia, para elas, vai até

a um certo limite e não passa disso. E o slam ainda é underground só do ponto de

vista de que ainda há várias pessoas que ainda o desconhecem. Mas acho que pode

ser…mainstream quando é usado por exemplo como o LX faz, que é mais através

da televisão e júri sentado como nos Ídolos e luzes e…pronto. Podes torna-lo

mainstream mas ele ainda é underground.

16. Achas que existe uma comunidade em torno do Poetry Slam em Portugal? Porquê?

Sim. também é um país pequenino. Existe uma comunidade…mas depois existem

também uns quantos que já estão a fazer. Pá, se calhar dizer comunidade é porque

conseguimos reconhecer no mapa onde é que estão as pessoas. Logo a partir daí

conseguimos circunscrever a coisa. Em Lisboa e arredores é mais comunidade não

só porque conseguimos localizar mas como as pessoas se conseguem juntar, são

amigas e circulam de uns para os outros. E mais para fora, Coimbra, Porto,

Braga…se bem que vocês também já estão muito, estão sempre aqui, o Bruno anda

aqui em Lisboa, acaba por também estar aqui na comunidade. Mas se calhar é mais

difícil…a Liliana também organiza o Braga mas está no Sul, está em Lisboa, acaba

por fazer também parte da comunidade. Eu acho que sim. se calhar, não vejo tanto

o Cristiano do Porto mas tenho o email e qualquer coisa a gente fala. Eh pá, isto é

muito pequenino, sim.

17. Achas que há grupos/comunidades de diferentes tipos de poesia?

Sim. em Portugal há. Não vamos falar deste lado educativo das oficinas pois não?

Podes falar…

Se for nesse lado sim. há pessoas mais concentradas nesse lado educativo, irem às

escolas, fazerem eventos que…como este da Palavra Dita e Feita que acaba

por…acaba por não abranger a mesma comunidade do Poetry Slam. Mas depois

também há…o Regueirão dos Anjos fez agora um Encontro de Poesia, a Casa da

Achada também fez vários eventos de poesia que não têm nada a ver com o Poetry

Slam…pronto, os Poetas do Povo também não é o slam e acontece semanalmente.

O Cabaret acontece uma vez por mês, o Bi Cabaret, uma vez por mês, e que tem

várias coisas mas tem sempre um slammer ou um poeta ou um representante mais

da palavra. Sim, há outros nichos. Há outros eventos. Sim.

18. (excepto para organizadores) Identificas algum tipo de relação entre as pessoas

dos Poetry Slams de Portugal? Apercebes-te de circulação de pessoas entre slam´s?

19. (excepto para organizadores?) Achas que o Poetry Slam é influenciado por outras

áreas artísticas (excepto poesia, performance)? Como?

O desporto…não é bem artística né? não é uma área artística. Que não a poesia e a

performance? Sim, a música está muito…influencia o slam. (inaudível) ler o texto de

uma forma mais musical e com ritmo (inaudível) entra melhor no ouvido das

pessoas que vão lá. Mais áreas? Outras áreas artísticas…a dança, tens poetas como

o Mick e, sei lá, pessoas que dançam mais em palco. Mas isso pronto, é

performance. Sim, música, dança. Artes plásticas não porque não pode haver

máscaras nem acessórios nem nada disso. Sim, é um espaço que (inaudível) mesmo

sem ser artísticos. Sim.

20. Baseando-te na tua experiência de frequentadora de eventos de poesia, podes

fazer uma comparação entre o poetry slam e outros eventos de poesia em que há

leituras e performances de poesia?

Hmmm…oh pá, o mais recente a que fui foi mesmo o Poetas do Povo. Não sei se

posso comparar esse com o slam. Pode ser isso?

Pode.

Acho que no Poetas do Povo a atenção está centrada nos poetas convidados e tu,

enquanto convidado, sentes-te acarinhado e sentes que as pessoas têm-te

já…como uma referência ou sabem que estás ali porque tens algum “mérito” para

seres convidado. Ao passo que no slam, como é um espaço mais aberto e em que as

pessoas se inscrevem espontaneamente, o público também sente-se mais à

vontade para…para criticar, para julgar, para rir e para…está um bocadinho mais

relaxado. Eu acho que o slam, ao contrário de vários eventos de poesia além do

Poetas do Povo, são participantes “anónimos” que surgem com os seus textos e

apresentam-se pela 1ª vez. e, normalmente, nas tertúlias e nos eventos de

declamação de literatura mais convencional as pessoas são escolhidas a dedo, são

apresentadas como autoras e com publicações XPTO e com isto e com aquilo. E

toda a relação no espaço, entre o público e essas pessoas acaba por tornar…formar

mais barreiras do que no espaço do slam em que estão todos uns com os outros.

Acho que sim. além disso…deixa-me pensar mais alguma coisa…depois há

diferenças óbvias que têm a ver com as regras do slam… e se calhar até torna o

evento com um ritmo mais interessante. O facto de ter 3 minutos. Há leituras de

poesia e de outras coisas que pá, podem-se tornar entediantes quando há aquelas

leituras gigantes de 10 minutos e que…pronto, já está tudo a pensar noutra coisa.

No slam há esse lado de ritmo. Tem um ritmo que gera entretenimento, de certa

forma. São eventos completamente diferentes. E pronto.

21. (excepto para organizadores) Como vai ser o futuro do Poetry Slam em Portugal?