Relato de Minha Análise Com Winnicott

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  • 7/25/2019 Relato de Minha Anlise Com Winnicott

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    Registro pessoal de uma anlise com WinnicottMargaret Little

    Este relato da anlise de Margaret Little com Winnicott est publicada no livroAnsiedades Psicticas e preveno: registro pessoal de uma anlise com Winnicott!Ed

    "mago# $%%&' A edio est# at( o presente momento# esgotada !maro de &))%'# motivopelo *ual reprodu+o o te,to integralmente# para *ue possamos utili+ar o material nos-eminrios Winnicott de maro de &))% A traduo ( de Maria .lara /ernandes 0 te,toser retirado do site aps os seminrios A e,pectativa ( *ue a Editora "mago possalanar uma nova edio deste livro to importante A edio inglesa ( de $%%)

    1egistro Pessoal de uma Anlise com Winnicott

    Margaret I. Little

    Captulo 1Introduo de James S. Grotstein

    2s estamos em d(bito para com a 3ra Little por ela ter partil4ado conosco a 4istriadas suas anlises pessoais Ela ( muito importante para psicanalistas e psicoterapeutasdevido 5 sua e,peri6ncia direta com pro7undidades emocionais *ue muitos de ns nuncativemos de transpor# ou ento nunca tivemos orientao su7iciente para podermos sercondu+idos atrav(s desse Purgatrio interior *ue imaginvamos apenas vagamente e,istirdentro de ns 0 registro das tr6s e,peri6ncias anal8ticas tem valor especial# 9 *ue ela

    tamb(m ( analista e divide conosco as suas e,peri6ncias em tr6s tipos di7erentes deanlise: 9unguiana# 7reudiana clssica e de relaes de ob9eto Essa e,peri6nciacomparativa lembra uma de My Klenian Home# de 2ini ;ermann# na *ual ela tamb(mtivera tr6s tipos di7erentes de anlise# mas di7eriu em termos da terceira# uma anliselein c4ama de posio deve ser apontada# *ue acompan4a ou antecipa o *ue >leinc4ama de posio es*ui+ide=paranide e e,ige condio ambiental Winnicotte,pandiu os conceitos de /reud# Abra4am e >lein de e,ist6ncia in7antil inicialaparentemente tomando o narcisismo primrio *ue os dois primeiros adotaram e a crianainicialmente separada e necessitada de >lein# combinando=os numa d8ade da crianaser passivo !o prottipo normal para o 7also sel!'# *ue precisava procurar e utili+ar o

    seio .onse*uentemente# pareceria *ue o sel! ser da 3ra Little tin4a de ser1* Este termo se refere ao ato de segurar fisicamente uma criana. Em ingls ele tem uma conotao dupla: refere-se ao

    ato de ser segurado fisicamente e emocionalmente pela me. (N. da T.)

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    intuitivamente descoberto# reunido# considerado e 7ortalecido para *ue ela pudesse estarpreparada e e*uipada para os rigores e 7antasias controversais# primeiro da relaoparanide com o ob9eto# e depois# do estgio de preocupao !a posio depressiva de>lein' Em outras palavras# 4 um estgio de 7uso primria !narcisismo primrio: 2oe,iste algo assim como uma criana ; apenas uma me e uma criana' lado a ladocom a criana necessitada e separada A primeira precisa# ao mesmo tempo# ser

    descoberta# num dos pro7undos parado,os dial(ticos *ue permeiam as obras deWinnicott -endo descoberta# a criana sabe *ue ( amada e importante para a me semter sido de pedir% $ois dessa !orma est& a!irmado% 2a medida em *ue no sodescobertas# sua inoc6ncia# privacidade e condio de ?nica so dei,adas intactas @permitido tanto ser como criar ob9etos do mundo *ue l4e 7oram 7ornecidos a tempo deela acreditar *ue criou e depois descobriu o ob9eto Assim# ( seguro permitir=senecessitar do seio criadoBdescoberto da me# a partir do *ual a e,peri6ncia lana o gestoespontCneo# na de7inio do prprio Winnicott Ele no s admitiu um camin4o duplopara o desenvolvimento da crianaD admitiu tamb(m uma onipot6ncia normal# *ue7re*uentemente denominou=se de iluso# e lidou com a patologia da sua aus6ncia emseu conceito de privao e car6ncia Winnicott lidou com a patologia da sua presena no

    7antasiar# *ue considerava onipot6ncia patolgica# oposta 5s 7antasias apropriadaspara o mundo interno# consideradas o correspondente normal para o mundo da realidadee,terna e nitidamente di7erentes de 7antasias Ele concebeu o espao de interao entrea criana e suas criaes espontCneas como espao potencial# o *ual ento de7iniu oespao para a regresso anal8tica Estendi=me um pouco no *ue di+ respeito aosconceitos de Winnicott por*ue a 3ra Little nos deus uma demonstrao muito rica do seutrabal4o com ela# onde essas id(ias parecem se destacar amb(m devemos 5 3ra Little outro 7avor# o de nos 7ornecer uma descrio detal4adade como o 3r Winnicott condu+iu o seu tratamento como interpretou e no interpretou#como l4e o7ereceu um holding!apoio' ou controle ambiental# como a a9udou a criar umespao potencial para a iluso criativa# como despertou e 7e+ aumentar o seu interessepor ob9etos transicionais e o de nos 7a+er ter uma id(ias de *uem ( o Winnicott ser4umano# *ue partil4ou discretamente com ela in7ormaes sobre a sua prpria vida esa?de# as *uais considerava *ue ela deveria con4ecer /i*uei particularmente interessadopelo 7ato de *ue Winnicott escol4ia apenas um paciente de cada ve+ para um tratamentoregressivo pro7undo "sso ( tudo de *ue ele era capa+ 0s outros pacientes tin4am deesperar a sua ve+ .omo ele conseguia protelar isso 9unto aos pacientes ( algoincompreens8vel amb(m 7i*uei intrigado com a implicao de *ue Winnicott# como Littleo descreve# parecia acreditar *ue uma das conse*F6ncias inevitveis dessa regressocatacl8smica pro7unda no paciente era uma regresso correspondente no analista# *uetamb(m devia rigorosamente manter o seu ego observador sadio Esse pode ter sido o

    motivo de Winnicott ter pre7erido lidar apenas com uma regresso pro7unda de cada ve+ Graas 5 3ra Little# agora temos uma id(ia de *uem ( o Winnicott analista# oWinnicott *ue cura e o Winnicott pessoa Em raras ocasies ele revelou a sua t(cnicaatual com adultos# e,ceto em segmentos curtos e divertidos Holding and Interpretation'(ragmento o! a )nalysis!$%H&' ( uma e,ceo notvel 0 relato da 3ra Little ( ?nico#por*ue revela a t(cnica de Winnicott da perspectiva de uma psicanalista pro7issionale,periente ede uma paciente Ao lermos Little e Winnicott temos 7acilmente a impressode *ue o ?ltimo ( verdadeiramente o criador de conceito da aliana terap6utica Eleparece ter se condu+ido com a 3ra Little de modo semel4ante 5s suas descries dasinteraes me=7il4o muito mais uma par"eria do *ue a 4ierar*uia seio=criana=alimentao# como 7oi !e (' o caso com o pensamento

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    preocupao maternal primria# o mundo anal8tico despertou lenta mas seguramente parao 7ato de *ue# apesar de sua linguagem enganosamente prtica e de *ue tantas das suascontribuies 7oram dadas a um p?blico leigo# ele no 7oi um 3r -poc< britCnico# masum metapsiclogo so7isticado e sens8vel -uas contribuies e,ploraram as pro7unde+asontolgicas da nossa e,ist6ncia# mudaram a perspectiva psicanal8tica do ob9eto ?nicopara a indivisibilidade da d8ade# introdu+iram a terceira dimenso da dial(tica# da ironia e

    do parado,o numa estrutura terica psicanal8tica *ue descon4ecia seu aprisionamento naprimeira dimenso de um dos doisBou e a9udaram a legitimar os aspectos terap6uticos!e portanto positivos' da contratrans7er6ncia -eus conceitos de privao# car6ncia einvaso deram preciso e clare+a 5s conse*u6ncias intro9etivas dos cuidados parentaispatolgicos e lanaram a base para a teoria da aus6ncia de relaes de ob9eto Winnicott!$%IJ' a7irmou: A psicose ( uma doena por car6ncia ambiental !pgs $KJ=$KI' -euconceito da tend6ncia anti=social antecipou a posterior obsesso da psicologia do sel!com *uestes de denominao e# 9unto com as contribuies de /airbairn# lanou asbases para o conceito de desordens de personalidade narcisista e *orderline# inclusive adiviso vertical !verdadeiro sel!B7also sel!' e a 4ori+ontal !conscienteBinconsciente' ; outros motivos para ele no ter sido mais valori+ado at( 4o9e# pelo menos na

    "nglaterra e nos Estados nidos# embora seu trabal4o ten4a sido constantementedesenvolvido na /rana# na Austrlia# na Am(rica do -ul e em outras reas -uas id(iassurgiram em parte como conse*u6ncia do seu relacionamento com Melanie >lein"nicialmente pediatra e# depois# analista clssico dedicado# ele 7icou muito impressionadoe envolvido com as id(ias revolucionrias de >lein 2esse meio tempo# >lein envolvera=seem discusses eclesisticas muito speras com a Escola de iena em geral e Anna/reud especi7icamente# discusses essas *ue continuaram aps a morte das duas emum dos cap8tulos mais terr8veis# vergon4osos e lamentveis da 4istria da psicanlise Aguerra causou tal polari+ao *ue >lein# assim como /reud# *ue# 4 muito tempo#e,igira sinais de lealdade de seus seguidores# e,igiu tamb(m uma aceitao r8gida dassuas id(ias como um privil(gio dos membros do seu grupo >lein e 1iviNre negaram *ue aobra de Winnicott tivesse *ual*uer valor 3isseram *ue era o resultado da doena dele!1odman $%OH# carta &J' Al(m disso# 4avia um contraste entre os pontos de vista de>lein e Winnicott no *ue di+ respeito ao grau de desenvolvimento do ego no neonato!Winnicott $%I&e# cap $I' Winnicott# *ue apreciava a obra de >lein e estavapro7undamente envolvido com ela# no gostou da necessidade de adaptar as suasprprias id(ias com 5s dela 0s dois tamb(m tin4am opinies muito di7erentes no s no*ue di+ respeito 5 *uesto da realidade per se# mas tamb(m 5 sua incluso na teoriapsicanal8tica Portanto# Winnicott 7ora surpreendido por uma guerra polari+adora# no podia tomarpartido e# 9unto a vrios analistas ingleses como /airbairn# alint# oQlbR# >4an# Little e

    outros# 7avorveis a >lein # no podia a7irmar antecipadamente a importCncia t+"ni"adarealidade Winnicott tornou=se parte da c4amada escola de relaes de ob9eto# 4o9edenominada Grupo "ndependente Suando recentemente reli todas as suas obraspublicadas# 7i*uei impressionado ao constatar *uo lein 0 *ue parecedistinguir o seu trabal4o !e o trabal4o de outros membros do Grupo "ndependente' ( aimportCncia primria do relacionamento da realidade com a 7antasia# a ?ltima tendo umpapel decididamente importante na teoria

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    primeira 7or a represso de uma memria se,ual traumtica' 7oi o sentimento inerente deculpa *ue o ser 4umano ad*uire desde o nascimento por causa das suas 7antasiasinevitveis e ine,orveis de apropriao e,cessiva de um dos pais# e de agressoassassina em relao ao outro# isto (# o comple,o de @dipo A conse*u6ncia dessasegunda teoria para a t(cnica psicanal8tica 7oi a de desviar a 6n7ase da realidade para a7antasia# e tamb(m a de desviar o sentimentode responsabilidade pela doena emocional

    da pessoa do e,terior para o interior isto (# o paciente tin4a de aceitar *ue# no importao *uanto algu(m 4avia sido maltratado na in7Cncia# suas reaes ao abandono ou 5invaso eram os ?nicos elementos importantes para a psicanlise 0 7undamento lgicopara essa perspectiva aparentemente unilateral e asc(tica era a suposta necessidade dopaciente de ser as sua prprias reaes aos traumas do abandono e da invaso em ve+de culpar# e por conseguinte absolver a si prprio# antes de aceitar o seu sel!ontolgico!e,istencial' Em outras palavras# *uando toda a metapsicologia comple,a eradespre+ada# o paciente=criana precisava ter a sua responsabilidade por seu dilemapara con4ecer o seu sel! 0 *ue 7oi o tempo todo presumido# mas no su7icientementee,plicado# 7oi *ue a segunda teoria da psicanlise de /reud resultava da supostaperspectiva 4ermen6utica da criana# cu9a tend6ncia narcisista a 7a+ ac4ar *ue todos os

    acontecimentos na realidade e,terna so causados por impulsos *ue v6m do seu interior#no tendo ainda a maturidade para e,plicar um mundo separado do sel!*ue tem umagente causador di7erente Winnicott tin4a muita consci6ncia da sua perspectiva 7reudiana clssica# maisen7ati+ada na t(cnica

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    I Winnicott trabalhando em reas onde predominam as ansiedades psicticas Um registro pessoal.

    Polonius: para de7inir a verdadeira loucura 0 *ue ( ela# seno ser apenas loucoU

    Hamlet: Eu s sou ouo nor=noroeste# *uando o vento-opra o sul# distingo uma 7aca de um 7alco

    William -4alein provocou controv(rsia# ansiedade e a tend6ncia ade7ender=se negando=a e aumentando a oposio a ela# como antes /reud descobriu *ue *uando as ansiedades estavam relacionadas com a situaoedipiana castrao# perda de parte do corpo# perda de um ob9eto ou do amor prprio uma neurose de trans7er6ncia era desenvolvida na anlise# e elas podiam ser resolvidasMas *uando predominavam ansiedades relacionadas com a vida# a sobriviv6ncia ou aidentidade !neuroses narcisistas e psicoses'# a neurose de trans7er6ncia no sedesenvolvia e a psicanlise !em sua 7orma clssica' era ine7ica+ !/reud $%$K' .om o correr do tempo# um n?mero menor de pessoas t6m procurado para a doenaneurtica# e um n?mero maior para as ansiedades do tipo psictico# muito mais di78ceis deserem tratadas# apesar de no serem sempre totalmente incapacitantes# ou e,igirem4ospitali+ao "sso provocou mudanas na re7le,o e na t(cnica psicanal8tica Winnicott#continuando o seu trabal4o com Melanie >lein e aplicando o con4ecimento ad*uirido emseu longo estudo de beb6s# crianas e seus pais em reali+ado o tratamento de muitospacientes com ansiedade e pol6mica# por*ue mostra um lado mais 4umano da

    psicanlise *ue normalmente visto antes ; muito interesse real pelo seu trabal4o e umdese9o de con4ec6=lo e compreend6=lo 2o entanto# tamb(m 4 cr8ticas tanto amigveiscomo 4ostis e 7re*uentemente geradas por m in7ormao bem como uma curiosidadesincera e voReurismo Atualmente# o trabal4o de Winnicott com crianas ( bastante con4ecido Ele escreveu e7alou sobre ele sistemtica e livremente Muitas pessoas conseguiram v6=lo em ao emPaddignton Green# ou em uma das suas outras cl8nicas Ao tratar a psiconeurose emadultos ele usou a t(cnica clssica !Winnicott $%I&d'# analisando a neurose detrans7er6ncia e preocupando=se com o comple,o de @dipo e o desenvolvimento dosuperego Mas ao tratar adultos era necessrio um grau muito elevado e discrio Alguns dos

    seus pacientes eram colegas ou estudantes em treinamentoD outros# pessoas importantesou 7amosas Por isso# ele nos dei,ou relativamente poucas in7ormaes Grande partedesse material cl8nico# como ele o escreveu# parece=me con7uso e di78cil# por*ue ele usou

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    uma esp(cie de oratio o*li2ua o pacientes indicou e eu interpretei em ve+ dea7irmaes diretas Ele disse e eu disse ; pe*uenas partes de material cl8nicoespal4adas em todos os seus escritos !Winnicott $%H=$%H$' descrevendo e e,plicandotudo de *ue tratamos a*ui# mas nen4uma narrativa completa do tratamento de umpaciente Portanto# para *ual*uer pessoa *ue 4ouvesse apenas lido os seus livros e notivesse tido oportunidade de discuti=los# pareceria muito di78cil ter uma id(ia realista do *ue

    ele realmente disse ou 7e+ Posso mostrar mel4or o seu trabal4o atrav(s de um relato da min4a prpria anlisecom ele um material cl8nico o *ual sempre 7oi considerado essencial para odesenvolvimento e a compreenso da teoria e da metapsicologia# e talve+ eu este9a na?nica posio de 7a+6=lo !/reud usou material da anlise dos seus prprios son4os' 0 trabal4o de Winnicott baseia=se clara e de7initivamente em certos princ8pios -uasmarcas distintivas so: o recon4ecimento da importCncia no s do prprio ser 4umanoindividual# mas tamb(m do seu ambiente mais inicialD a empatia !a compreenso dacomunicao no verbal e da linguagem do corpo# muito al(m do recon4ecimento domovimento inconsciente# da postura etc' e a e,peri6ncia da mutualidadeD a consist6nciasem severidadeD permitindo a regresso para a depend6ncia !Winnicott $%JX# b'D

    holding !Winnicott $%I&b# $%IK7' e o brincar !Winnicott# $%H$b' Essa ( uma tare7a muito mais di78cil do *ue *ual*uer coisa *ue tentei antes# por*uecomeo sabendo muito bem *ue no posso esperar 7a+er 9ustia ao meu tema amb(mten4o consci6ncia de *ue no posso evitar provocar um grau considervel de ansiedadeem alguns leitores# especialmente os *ue se mant6m 7i(is 5 teoria e 5 prtica clssicas#apesar de *ue outros colegas# antigos analisandos e no=analistas *ue meincentivaram a escrever isto# acol4ero bem o meu livro -alvo as limitaes do tempo e do espao# os mecanismos inconscientes levam atodos os tipos de distores# inclusive 7alsi7icaes da memria Portanto# ten4o de levarem conta no s o dese9o de esclarecer de me livrar o m,imo poss8vel de conceitos einterpretaes errYneos como tamb(m o meu prprio narcisismo# e,ibicionismo# min4asinibies e reservas mais realistas Pensei muito sobre isso o tempo todo# e adiei a e,peri6ncia temendo um 7racassototal# mas 7inalmente decidi *ue tin4a de en7rentar os riscos e os so7rimentos envolvidos etirar deles o m,imo proveito poss8vel# ou algo realmente valioso seria desperdiado /a+er essa narrativa implica escrever a min4a 4istria e a da min4a 7am8lia# edescrever o tratamento 7eito com dois outros terapeutas# um 9unguiano# o outro a recenteElla /reeman -4arpe .onto isso como senti# sendo to ob9etiva *uanto posso ser# masintrodu+indo inevitavelmente# um ponto de vista *ue outros podem no gostar# oureprovar !"bsen escreveu e uma carta para 9Zrnson !$OIJ': -e no puder ser eu mesmono *ue escrevo# ento o meu trabal4o se resumir em mentiras e 7arsas# e ( assim *ue

    eu me sinto' Essa ( uma 4istria de seres 4umanos# 4omens e mul4eres# em atividades# condiese relacionamentos 4umanos E como 4omens e mul4eres podem 7a+er as coisas do modocerto ou errado# comportar=se de 7orma estran4a# cometer erros# sentir ou revelar de ummodo ou outro muitas emoes# at( mesmo ser loucos nor=noroeste !Hamlet# "" ii'# tantoos lados positivos como os negativos dos envolvidos esto a*ui para serem consideradosEspero *ue ambos se3am considerados# por*ue *ual*uer um deles so+in4o (ine,pressivo !3eve=se tomar cuidado para *ue o leitor necessariamente leve os doislados em conta Suintiliano# Institutio rat/ria' ale a pena a7irmar a*ui *ue# apesardas di7iculdades e das limitaes 4umanas# Winnicott e eu consideramos o resultadosatis7atrio# e sou pro7undamente grata por ele !A lu+ di7ere das trevas Eclesiastes &:$K#

    erso Autori+ada' Apresento o material cronologicamente# na medida *ue possoD ele ( dividido em tr6spartes# com essas tr6s pessoas muito di7erentes Em cada caso posso revelar

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    principalmente apenas a impressogeral do *ue aconteceu# e alguns episdios isolados*ue se destacam# por*ue no gravei *uase nada

    Captulo 4$si"oterapia "om 5r. 6.7 1849184:

    Em $%KI# uma amiga *ue morava comigo 7oi persuadida a provocar psicoterapia Ela4avia tido um esgotamento nervoso# em $%KK# depois do *ue 9ulgou serem propostasl(sbicas 7eitas por uma colega 3urante tr6s anos eu 4avia suportado longos ata*ues de c4oro e mau 4umor#acusaes e ameaas de suic8dio *ue acreditava serem s(rias Ela sa8a indignada# dirigiacomo louca na pista de velocidade e se escondia durante 4oras# voltando apenas tarde danoite# *uando 9 4avia desistido de tentar encontr=la E eu tin4a ao mesmo tempo umacl8nica geral movimentada para dirigir Logo *ue ela comeou o tratamento# soube *ue precisava dele tamb(m# e me dispus aprocur=lo Apesar do 7ato de durante todas as tr6s primeiras semanas 7icar to paralisada de

    medo# *ue no era capa+ de 7alar ou me mover no div# o 3r [ nunca me consideroumais *ue um tanto neurtica Ele re"onhe"eu a tenso esmagadora sem pretenderentend6=la# e eventualmente# a aliviava massageando delicadamente a min4a barriga Eleme tratou como um ser 4umano racional e sugeriu *ue eu podia ser atraente como mul4er o *ue nunca acreditara ser poss8vel# apesar de *ual*uer modo saber *ue era4eterosse,ual Ele me incentivou a treinar como psicoterapeuta na .l8nica avistoc

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    com um membro da 0ritish $sy"ho)nalyti"al So"iety# para saber *ual era a sensao deser um analisando

    Captulo =$si"oterapia "om >lla (reeman Sharpe7 18=?18=@

    Suando 7ui visit=la# depois de termos sido apresentadas# tive uma e,peri6ncia *ue meaterrori+ou # por causa das suas implicaes Eu a vi envolta em uma esp(cie de n(voacin+enta# como uma aran4a em uma teia 7ormada por seus cabelos 2a (poca soube *uea*uilo era ilusrio uma aran4a da mente !Ma"*eth# "" ii' .ontei=l4e *ue o 3r [ 4aviadito *ue eu no precisava mais de anlise# apenas de s8ntese# e sa8 literalmente"orrendoda casa# em pCnico E# no entanto# senti ao mesmo tempo uma estran4a atraopor ela# *ue teria de v6=la novamente em alguma oportunidade Posteriormente# em $%)# me envolvi emocionalmente com um paciente e c4eguei 5concluso de *ue no poderia continuar a tratar dele 0 3r [ no estava dispon8vel .omgrande ansiedade# procurei a -ra -4arpe# como a ?nica psicanalista *ue eu encontrara

    Min4a perturbao era pro7undaD psicanlise para mim signi7icava total ani*uilao# e omeu medo estava em con7lito com uma pro7unda Cnsia Ela tirara 7(rias# e comeouimediatamente Logo o medo se tornou insuportvel 2a primeira sesso 7i*uei deitada r8gida no div# novamente incapa+ de 7alar ou memover .omo a -rta -4arpe permaneceu calada# eu comecei a gritar: "sto nopode serreal# lembrando=me da min4a antiga viso *uase alucinatria dela e da min4a 7uga in4aa impresso de estar tendo um pesadelo 2o 7inal do 4orrio ela disse: Levante=se esente a*ui# vamos conversar Ela interpretou o meu medo como ansiedade decastrao e o relacionou com o 7ato de eu t6=la con4ecido atrav(s do 3r [# o *ue era# (claro# a coisa bvia# por*ue o problema *ue eu levara para ela era claramente edipianoMas a*uilo no 9usti7icava a intensidadedo meu pCnico# *ue era muito mais *ue *ual*uerterror mortal ou medo da morte Para ela# o terror mortal signi7icava medo do superego!clssico'# para o *ual o bom ( e*uiparado a no=se,ual# e o ruim ao se,ual Ao meu medo um pavor *ue s as crianas podem sentir !Jane >yre# .ap K' erade uma total destruio# de ser 7isicamente mutilada# 7icar irremediavelmente louca# sermorta# abandonada e es*uecida por todo o mundo como algu(m *ue nunca e,istira lanada nas trevas e,teriores !Mateus &&:$K' 0s seus escritos sobre a t(cnica da psicanlise !-4arpe $%K)' revelam claramente oseu modo de trabal4ar# baseado na id(ia de *ue a psicanlise interessa=se totalmentepela se,ualidade in7antil em todas as suas 7ormas# isto (# relacionadas com o comple,ode @dipo e as 7antasias reprimidas sobre os pais# *ue s podem ser recuperadas via

    neurose de trans7er6ncia 2o se deve permitir *ue os pacientes usem a realidade comouma de7esa contra elasD a integridade do analista consiste em e,igir de si mesmo tudo o*ue e,ige do seu pacienteD a e,ist6ncia ( 9usti7icada recon4ecendo esse direito dosoutros Meu pavor na*uela primeira sesso !ve9a -4arpe $%K'# sendo uma e,pectativa detotal destruio# no 7oi parte de uma neurose de trans7er6ncia e sim# como percebi muitotempo depois# de uma psicose de trans7er6ncia# baseada em e,peri6ncias reais nain7Cncia e primeira in7Cncia 0 *uadro global da min4a anlise com a -rta -4arpe ( o de luta constante entre ns#ela insistindo em ac4ar *ue o *ue eu di+ia era devido a um con7lito intraps8*uicorelacionado com a se,ualidade in7antil# e eu tentando di+er=l4e *ue os meus problemas

    reais eram *uestes de e,ist6ncia e identidade: eu no sabia *uem eraD a se,ualidade!mesmo con4ecida' era totalmente irrelevante e sem sentido# a menos *ue a e,ist6ncia e

    %

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    a sobreviv6ncia pudesse# ser tidas como certas# e a identidade pessoal pudesse serestabelecida /reud !$%$K'# escrevendo sobre neuroses narcisistas !melancolia' e psicoses!es*ui+o7renia e parania' tornou clara a di7erena entre elas e as neuroses se,uais!psiconeuroses' por*ue# nas duas primeiras# s esto envolvidos instintos do ego#sobreviv6ncia e identidade# e essa neurose de trans7er6ncia no ( desenvolvida !A

    psicose de trans7er6ncia no era recon4ecida na*uela (poca' /reud !$%$H' tamb(m noencontrou nelas ambival6ncia# mas apenas uma 4ostilidade permanente *ue tornava aanlise imposs8vel ma trans7er6ncia de algum tipo para Ella -4arpe 7ora claramente 7ormada econsiderada uma neurose de trans7er6ncia# como em parte era Min4a 4ostilidade a elatornou=se permanente# como um resultado de sua incapacidade de perceber a verdadeiranature+a das min4as ansiedades Mas 4avia ambival6ncia# os elementos positivos sendoliberados por seu padro de comportamento em relao a mim alterado 7ora do div#como ela descreve !-4arpe $%K)'# tratando=me como se eu 7osse uma visita em suacasa Ento ela era muito gentil e sol8cita# amigvel e generosa# provocando# dessa7orma# a situao separada descrita por /reud !/reud $%$K' Para mim isso trou,e de

    volta a mesma con7uso e ambival6ncia *ue eu e,perimentara com a min4a me# demodo *ue em min4as reas psicticas a -rta -4arpe tornou=se id

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    Eu# muito mais 9ovem e go+ando de boa sa?de# no podia a9udar in4a de 7icar sem7a+er nada# en*uanto ela# *ue corria o risco de um colapso card8aco# arrastava umpesadelo no div de um lado para o outro de uma sala comprida# em todas as sesses!Min4a me costumava di+er *ue eu era covarde# sempre seguindo a norma da m8nimaresist6ncia' Para *ue voc6 serviria numa e,pedio ao \rticoU E citava Milton em n his0lindness

    Em novembro de $%J# subitamente os meus pais 7icaram doentesD o meu pai 7icoudesvairado e intratvel -ua condio 7oi diagnosticada como acidente vascular cerebral#precisando de tratamento em 4ospitalD como a*uela (poca era di78cil conseguir uma vaga#teve de ser internado em um 4ospital para doenas mentais Ele morreu l cinco diasdepois# de broncopneumoniaD a autpsia revelou *ue o seu c(rebro estava intacto -ua doena e morte tornaram=se o centro de uma grande perturbao 7amiliar 1ut4#tendo primeiro se recusado a dividir o *uarto comigo# pediu *ue eu 7osse embora Min4ame determinou *ue no 4averia 7lores no 7uneral# ao *ual no poderia ir /oi umacerimYnia triste# assistida apenas por um dos meus irmos e por mim !Mais tarde# elarevelou a sua possessividade e 4ostilidade inconsciente a ela no permitindo *ue 7ossepublicado nada al(m da simples not8cia de sua morte na revista da escola em *ue ele

    lecionara durante trinta anos' Eu devia ter um ensaio para todo o *uadro de membros da 0ritish $sy"ho)nalyti"alSo"ietyuma semana depois do seu 7uneral Suis adiar a*uilo# mas a -rta -4arpe insistiuem *ue deveria l6=lo Entre o meu so7rimento imediato e a min4a trans7er6ncia psictica#no consegui en7rent=la# mas considerei o 7ato uma grande intromisso no meu lutoD Li o ensaio e gostei do debate Ela 7icou satis7eita com o meu sucesso Al(m de umasimples e obviamente sincera mani7estao de comiserao pela min4a perda# nada mais7oi dito sobre o meu luto ou a consternao 7amiliar A anlise continuou como se nadativesse acontecido# e,ceto o 7ato de eu ter lido o ensaio 2a (poca# a min4a m vontade em l6=lo 7oi atribu8da a um sentimento de culpa pelamin4a inve9a da sua capacidade de escrever e apresentar ensaios# trans7erida de meuspais em seu relacionamento se,ual e criatividade# e ao medo de punio se eu ousasseme a7irmar ou desa7i=la de *ual*uer modo 2o podia negar a inve9a# mas a consideravarelativamente sem importCncia na*uele ponto !/i+ uma narrativa dis7arada disso emmeu ensaio intitulado .ountertrans7erence and t4e Patient]s 1esponse to it ^Little $%JK_' Em abril de $%H# ns concordamos em terminar depois do vero: 2o 7a+ sentidocontinuar a analisar por analisar# disse elaD mas em maio# no 7eriado de Pentecostes# elamorrei subitamente Eu tin4a assistido 5 primeira .on7er6ncia de Psicanalistas Europeus dos ps=guerra#em Amsterdam# e gostara ;avia 7eito novos contatos e novas ami+ades e# pela primeirave+# tive consci6ncia do interesse de um 4omem por mim Me despedira da -rta -4arpe

    no dia do meu aniversrio !*ue tamb(m era o do meu pai'# alguns dias antes Ela medese9ou *ue a*uela data 7eli+ se repetisse por muitos anos Eu voltei ao saber da suamorte Ento# l estava uma repetio do trauma anterior da morte do meu pai# *ue nunca7ora superado# a realidade tendo sido *uase negada na (pocaD e a*uilo repetira umtrauma ainda mais antigo# *uando de modo parecido com a -rta -4arpe evitara *ue euc4orasse a perda de uma tia *uerida e# em ve+ disso# me 7ornecera uma interpretao detrans7er6ncia sobre as suas pr,imas 7(rias# *ue me pareceu to ilgica *uanto a maioriadas e,plicaes da min4a me Procurei a 3ra PaRne# em cu9o div 7alei e c4orei sem parar durante uma 4ora 2o7inal# ela disse em um tom de surpresa: Mas voc6 est muito doenteT Eu respondi: @

    isso *ue ten4o dito a -rta -4arpe durante os ?ltimos seis anos -abia *ue os meusverdadeiros problemas nunca 4aviam sido tratadosD em ve+ de empatia 4ouveracon7uso de idiomas !/erenc+i' -entindo=me mais do *ue nunca uma no=pessoa# e

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    sabendo no mais do *ue antes *uem eu era# eu estava mais uma ve+ totalmentee,posta 5 min4a ansiedade psictica# com raiva# culpa# desamparo e desesperoesmagadores A 3ra PaRne 7alou sobre mim com Marion Milner# *ue me a9udou em lin4as anal8ticasgerais e me apoiou muito durante o ano seguinteD mas a situao era di78cil# por*ue4av8amos sido estudantes na mesma (poca 3epois 3 W teve uma vaga e cuidou de

    mim 2a*uele per8odo# a min4a vel4a amiga e governanta teve de ir embora /i+ umaimportante mudana na casa# separando=a do consultrio e vivendo so+in4a pela primeirave+ amb(m tive !pela primeira ve+' um relacionamento se,ual com um 4omem# paramim at( ento imposs8vel

    Captulo B$si"oterapia "om 5. . .7 18=818BB7 18B@

    Ento# tre+e anos depois de ter procurado pela primeira ve+ a9uda psi*uitrica# e com

    O anos# 7ui at( 3 W 2o posso 7a+er narrativa to clara# coerente ou detal4ada comogostaria do per8odo com ele Posso apenas relatar minuciosamente algumas das coisas*ue aconteceram 0 meu relacionamento anterior com 3 W 4avia sido super7icial 0 primeiro encontrocient87ico na 0ritish $sy"ho)nalyti"al So"iety a *ue comparecera 7oi uma noitebarul4enta# com bombas caindo a cada minuto e as pessoas se abai,ando sempre *ue4avia um estrondo 2o meio da discusso# algu(m *ue mais tarde eu soube tratar de 3W# levantou=se e disse: Gostaria de salientar *ue est 4avendo um bombardeio a(reo#e sentou=se 2ingu(m ligou para a*uilo e o encontro continuou como antesT Eu o ouvi 7alar em outros encontros e ler ensaios Ento# em $%J# no 7inal de umatarde# *uando lia meu ensaio de membro da*uela sociedade# 4e Wanderer: -ome2otes on a Paranoid Patient# *ue ele no discutira# 3 W veio at( mim e perguntou se euaceitaria uma criana como paciente Gostei muito de ele ter me perguntado# masrespondi pesarosamente *ue no ; pouco tempo eu 4avia conclu8do uma anlise comuma criana# para treinamento !em anlise in7antil' *ue nunca completei A*uilo 4avia meprovocado uma enorme ansiedade# e no gostei do modo como terminara Estavacon7usa com esse 7ato# com a morte do meu pai e as circunstCncias *ue a cercaram 2opodia pensar em lidar com outra criana na*uele momento# mas no descartei essapossibilidade para o 7uturo 0uvi a leitura de seus ensaios 1eparation in 1espect o7 Mot4er]s 0rgani+ed 3e7enceagainst 3epression !Winnicott $%Ob' e irt4 Memories# irt4 rauma# and An,ietR

    !Winnicott $%%b' e ac4ei *ue ele era algu(m *ue podia realmente me a9udar A entrevista preliminar com o 3r Winnicott 7oi curta# talve+ *uin+e minutos Emnen4um momento ele elaborou uma 4istria 7ormal de *ual*uer tipo# mas# agindo comcuidado# desenvolveu gradualmente a sua compreenso do *ue estava me perturbando eda min4a necessidade interior !George Eliot# Mill on the (loss' ornei a min4a aventurase,ual uma desculpa para no continuar a anliseD ele aceitou isso# mas disse *uemanteria a vaga por en*uanto e *ue eu podia recomear depois# se *uisesse 2odemorou muito para eu voltar para ele# *uando ac4ei o relacionamento se,ual di78cil A primeira sesso trou,e uma repetio do pavor /i*uei enroscada# r8gida#completamente escondida sob o cobertor# incapa+ de me mover ou 7alar 3 W 7icoucalado at( o 7inal do 4orrio# *uando disse apenas: Eu no sei# mas ten4o a impresso

    de *ue# por alguma ra+o# voc6 est me e,cluindo A*uilo trou,e al8vio# por*ue ele podiaadmitir no saber e permitir a contradio# se ela ocorresse Muito tempo depois eu

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    percebi *ue estivera me 7ec4ando# ocupando o menor espao poss8vel e sendo o m,imoposs8vel reservada# me escondendo no ?tero# mas sem estar segura nem mesmo l Em uma das primeiras sesses com o 3 W# me senti totalmente desesperanada de7a+6=lo um dia entender *ual*uer coisa Eu camin4ei ao redor da sua sala# tentandoencontrar um camin4o Pensei em me atirar pela 9anela# mas ac4ei *ue ele me impediria3epois pensei em 9ogar 7ora todos os seus livros# mas 7inalmente investi contra um grande

    vaso c4eio de lilases brancos# *uebrando=o e pisando nele 3 W precipitou=se para 7orada sala# mas voltou um momento antes do 7inal do 4orrio Ao me encontrar limpando asu9eira ele disse: Eu poderia ter esperado *ue voc6 7i+esse isso !limpar# ou su9arU'# masmais tarde 2o dia seguinte# uma r(plica e,ata 4avia substitu8do o vaso e os lilasesAlguns dias depois# ele e,plicou *ue eu 4avia destru8do uma coisa *ue ele gostava2en4um de ns 9amais se re7eriu de novo ao incidente# *ue 4o9e me parece estran4o#mas ac4o *ue se ele tivesse ocorrido depois 3 W provavelmente teria reagido de outromodo 3a 7orma como reagiu# eu ac4ei a*uilo to in?til *uanto as min4as lutas com a-rta -4arpe ou com a min4a me# e es*ueo do ocorrido at( recentemente rios anosdepois# muito depois do 7inal da anlise# *uando pedi um consel4o sobre um pacientemuito perturbado *ue me magoava intencional e repetidamente# 7alei sobre t6=lo

    magoado Ele concordou em *ue eu o magoara# mas acrescentou *ue a*uilo 4avia sido?til Algumas semanas depois disso# durante toda uma sesso# 7ui novamente dominadapor acessos de pCnico 1epetidamente seria uma tenso comear a surgir em todo o meucorpo# alcanar o cl8ma, e diminuir# apenas para surgir novamente alguns segundosdepois Eu segurava as suas mos e as apertava com 7ora at( os acessos passarem 2o 7inal# 3 W disse *ue ac4ava *ue eu estava revivendo a e,peri6ncia de ter nascidoDele segurou min4a cabea durante alguns minutos# di+endo *ue imediatamente depois donascimento a cabea de uma criana podia doer e parecer pesada durante algum tempoudo a*uilo se encai,ava# por*ue tratava=se de um nascimento para um rela"ionamento#via o meu movimento espontCneo# *ue era aceito por ele !Little e /lars4eim $%I'A*ueles acessos nunca voltaram a ocorrer e apenas em raras ocasies senti a*uele graude medo Logo ele descobriu *ue durante a primeira metade de todas as sesses no aconteciacoisa alguma Eu no conseguia 7alar at( atingir um estado inalterado# no perturbadopor *ual*uer invaso# como me pedirem para di+er o *ue estava pensando etc Era comose eu tivesse de assimilar o sil6ncio e a calma *ue ele proporcionava A*uilo era muitodi7erente das perturbaes da in7Cncia# do estado de ansiedade da min4a me e da4ostilidade geral da *ual eu sempre senti necessidade de 7ugir para encontrar a pa+ Apartir de ento ele aumentou a durao das sesses para uma 4ora e meia# sem cobrar amais# at( *uase o 7inal da anlise

    A*ui# ac4o oportuno 7alar sobre as duas coisas em torno das *uais tem 4avido maise*u8vocos = holding e regresso para a depend

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    responsabilidade# 7ornecer toda a 7ora do ego *ue o paciente no podia encontrar em simesmo# e retir=la# gradualmente# *uando o paciente 7osse capa+ de cuidar de si mesmoEm outras palavras# 7ornecendo o ambiente prop8cio !Winnicott $%IJ'# onde era seguroestar Apenas em raras ocasies holdingsigni7icava literalmente limitar ou controlar Ele eracompassivo# mas sempre 7irme# 5s ve+es ao ponto de ser cruel# *uando ac4ava *ue isso

    era necessrio para a segurana do seu paciente "mpossibilitado de intervir 7isicamente#ele podia proibir a ao "sso era muito e7ica+# por*ue apesar de poder ser transgredidono podia dei,ar de ser notado# por*ue 7ora dito e tamb(m por*ue# no conte,to de umatrans7er6ncia ilusria !Little $%HJb'# tornava=se automaticamente a proibio do prpriopaciente# e depois se associava a algum elemento de sanidade !Little $%J%' /uncionavatanto no n8vel consciente como no inconsciente `s ve+es o holdingtin4a de ser delegado# entregando temporariamente um pacientedependente a outra pessoa para *ue ele pudesse descansar# ou tirar 7(rias# mas sempremantendo=se em contato com o paciente 3urante uma de suas 7(rias# ele entrou em entendimento com uma amiga min4a# sem*ue eu soubesse# para *ue ela me convidasse para ir me encontrar com ela e duas outras

    amigas na -u8a: mais tarde# *uando ele teve medo *ue eu me matasse en*uanto estava7ora# tomou provid6ncias para 4ospitali+ao !/alarei nisso novamente' Em certa (poca eu era capa+ de sair correndo 7uriosa da sua sala e ir embora dirigindoperigosamente Ele guardava as c4aves do meu carro at( o 7inal da sesso e depoisdei,ava eu deitar so+in4a e tran*uila em outra sala# at( poder estar livre de perigo Eleen7ati+ava a necessidade de voltar !Winnicott $%Ja' da regresso pro7unda para a vidacomum# por*ue regresso para a depend6ncia signi7ica regresso para a depend6nciapara a prpria vida ao n8vel da in7Cncia# e 5s ve+es at( mesmo da vida pr(=natal @ claro *ue tudo isso se baseava em seu grande con4ecimento e em suacompreenso das crianas de todas as idades e dos pais# recon4ecendo a necessidadede apoio e de algu(mpresente# para assumir responsabilidades -ua sempre crescentecapacidade de empatia# de estar em contato com o id# o ego e o superego# em pessoasde todos os tipos e de todas as idades# inclusive ele prprio# compreendendo a linguagemdo corpo em todas as suas 7ormas# era uma parte essencial dele 3 W no se de7endiados seus prprios sentimentos# mas podia admitir todos eles e# de ve+ em *uando# a suamani7estao -em sentimentalismo ele era capa+ de sentir por# com e para o seupaciente# participando de uma e,peri6ncia de tal modo# *ue a emoo *ue tivera de serreprimida podia ser mani7estada Eu 7alei com 3 W sobre uma perda antiga de *ue me lembrava ;avia encontradouma amiga# A# na escola# algu(m *ue me escol4era para ser suaamiga Ela me tornouuma pessoa da sua casa# 7a+endo eu me sentir 5 vontade em seu *uarto# com a sua bab

    e os seus brin*uedos m dia# depois de um 7eriado# ela no estava mais l 3epois#durante muitos dias# estava doenteD e# em seguida estava mortaT Eu 4avia sidoindelicada e ego8sta no escrevendo para ela 2o poderia ter me importado# outeria escrito Ele se viu c4orando por mim e eu pude c4orar por causa disso comonunca 7i+era antes e lamentar a min4a perda Por *ue voc6 sempre c4ora silenciosamenteU perguntou ele 1espondi *ueaprendera a*uilo cedo .erta ve+# c4orando com dor de dente no 7inal de um longo dia#*ue tin4a sido e,austivo para todo mundo# me disseram: Pare de c4orar# *uerida# voc67a+ todos se sentirem p(ssimos# e na man4 seguinte# *uando o abscesso 4aviaestourado 5 noite e a dor terminara: Est vendo# 7oi tudo uma con7uso por nada E7re*uentemente: Anime=se# *ueridaT reve voc6 estar morta

    A*uilo o 7e+ 7icar muito +angado Eu realmente odeioa sua me# disse Ele 7icouc4ocado *uando l4e contei *ue depois dos de+ anos eu tin4a de descansar# todas astardes# em um *uarto escurecido# sem nen4um brin*uedo ou livro# e tive vergon4a

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    *uando ro8 a vela ao lado da min4a cama at( ela 7icar 7ina no meio e eu poder pegarpe*uenos pedaos de cera para mastigar# amassar e moldar Eu ac4ava 3 W uma pessoa basicamente sincera# para *uem os bons modos eramimportantes: ele tin4a respeito pelo indiv8duo# paciente ou colega# apesar de poder serdireto nas cr8ticas E,igir associaes e insistir numa interpretao teriam sido mausmodos# bem como in?teis Ele era to 4onesto *uanto algu(m podia ser# respondendo

    com 7ran*ue+a a comentrios e perguntas# a no ser *uando 4avia uma necessidade deproteger outra pessoa Mas era essencial sa*er *uando a sua resposta no eratotalmente sincera e por *u6 Ele respondia 5s perguntas diretamente# percebendo o seu signi7icado vis8vel e sdepois indagando !sempre a si mesmo# 7re*uentemente ao paciente' por *ue ela 4aviasido 7eita Por *ue na*uela ocasioU E *ual era a ansiedade inconsciente por trs delaU 3 W me dei,ou seguir meu prprio ritmo# adaptando=se a ele -omente usavapresso *uando algumas circunstCncias geralmente imprevistas e e,ternas atornavam necessria "sso 7oi muito importante pra mim Permitiu *ue eu 7osse eu mesma#vivesse um ritmo prprio# en*uanto anteriormente 4avia sido alternadamenteimpulsionada e contida# de modo *ue nem o ritmo nem as contradies eram meus

    A escol4a do momento da regresso total no podia ser s min4a: ele dependia emgrande parte de se 3 W estava sobrecarregado Ele 7alava *ue 5s ve+es os pacientestin4am de 7icar na 7ila para entrar nesse estado# um esperando at( o outro ter superadoos obstculos e no precisar mais dele para isso Mas a escol4a do momento era min4a#na medida em *ue no podia 4aver regresso antes de eu estar pronta 3 W 7a+ia muito poucas interpretaes# e apenas *uando eu 4avia c4egado ao pontoe *ue a *uesto podia tornar=se consciente Ento# ( claro# a interpretao soaria bemEle no era in7al8vel# mas muitas ve+es 7al4ava e,perimentalmente# ou especulava: Euac4o *ue talve+# -er *ue# ou Parece *ue A*uilo me dei,ava apreciar ouperceber o *ue ele di+ia# e livre para aceit=lo ou re9eit=lo As interpretaes no eram7eitas como se eu tivesse acesso 5 7uno simblica# *uando eu no tin4a m dia a sua secretria me disse *ue ele no estava bem e se atrasaria para a min4asesso Ele c4egou# parecendo "inFentoe muito doente# di+endo *ue tin4a laringite Eudisse: oc6 no tem laringite# tem trombose coronariana para casa Ele insistiu *ueera laringite# mas no conseguiu continuarD tele7onou para mim na*uela tarde e disse:oc6 estava certa# ( trombose coronariana A*uilo signi7icava uma longa interrupo naanlise# *ue 7oi muito dolorosa# mas 7inalmente me 7oi permitido saber a verdade: eupodia estar certa e con7iar nas min4as prprias percepes Era uma mudana *ueassinalava um momento decisivo# e 3 W sabia disso Ele dissera sobre mim um pouco antes: -im# voc6 est&doente# mas tamb(m 4 muitasa?de mental a8 .omecei a reagir com ansiedade# e ele acrescentou: Mas isso 7ica para

    depois# o importante agora ( a doena# tendo percebido o meu medo de *ue ele anegasse ou es*uecesse Posteriormente 3 W me descreveu como sendo algu(m *ueso7re de esclerose m?ltipla *ue atingiu o c(rebro Essa era uma descrio muito real do meu estado *orderline e da min4atrans7er6ncia para ele !Little $%Ia'# por*ue na esclerose m?ltipla as leses soespal4adas e envolvimento cerebral provoca uma perturbao mental irregularD e 4avia#como eu sabia# partes doentes e saudveis Elas tamb(m re7letiam o estado da min4ame# *uando 3 W 7alava nela -ua me ( imprevis8vel# catica# e estabelece o caos aoseu redor !ver Winnicott $%I$' Ela ( como um da*ueles brin*uedos *ue saltam para7ora da cai,a *uando a tampa ( aberta# sempre presente por toda a parte A*uele 4aviasido realmente o meu primeiro ambiente# do *ual eu no conseguia me desligar# apesar

    da estabilidade e segurana do meu pai# por*ue o caos dela o a7etava tamb(m Maistarde# 3 W comentou *ue provavelmente eu teria 7icado bem# se tivesse sido entregue#desde cedo# aos cuidados de uma me de criao estvel !alve+ eu devesse en7ati+ar

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    *ue# apesar das min4as di7iculdades# eu no dava uma impresso de anormalidade;avia 7ren*uentado a escola# passado nos e,ames e at( mesmo obtido bolsas de estudoDeu me 7ormara em medicina# tivera 6,ito na cl8nica geral# treinara e me *uali7icara para serpsicanalista Al(m disso# e,ceto por tr6s per8odos de cerca de oito meses cada#acrescidos das 7(rias# eu trabal4ei ininterruptamente como analista# durante toda a min4aanlise com 3W'

    @ preciso 7a+er uma observao sobre a min4a 7am8liaD caso contrrio seria di78cilacreditar em muitas coisas *ue digo# ou mesmo entend6=las /ico surpresa ao constatar*ue# apesar de na verdade ter dito muito pouco sobre isso ;er*almenteao 3 W# seucomentrio sobre min4a me 7oi como uma revelao !no uma interpretao anal8tica'Ele tornou poss8vel e l8cito para eu compreender muitas coisas *ue 9 sabia# 4aviaobservado ou *ue me disseram A in7Cncia da min4a me# na Austrlia# 7oi horr;el# com um pai alcolatra e instvel euma me amorosa# mas dominadora# intrometida e imprevis8vel# a *uem o meu avY erain7iel 3ois irmos mais vel4os# um dos *uais min4a me adorava# a provocavam emimavam# assustavam e maltratavam m irmo mais novo nasceu cego .om cincoanos# min4a me assumiu a responsabilidade de cuidar dele# *uando nasceu outra

    criana Muito pr,imo estavam o mundo assustador da colYnia penitenciria# do *ualmeu avY tirava sua 7ora de trabal4o# os abor8gines canibais e o Matagal# onde ascrianas 7re*uentemente se perdiam# e raramente eram encontradas Min4a me tin4a de ser cora9osa# divertida e inteligente -eu pai tamb(m a provocava#mimava e maltratava /inalmente# ele a renegou e ao seu irmo cego Min4a meaprendeu a danar para ele e a c4utar# acidentalmente# a garra7a de con4a*ue# tamb(mpara de7ender a sua me nas brigas com o meu avY Esse no ( absolutamente omomento mais oportuno para eu contar todos os detal4es *ue con4eo# mas ela medisse# pouco antes de morrer# *ue s conseguiu sobreviver trans7ormando tudo em umabrincadeira !ve9a -earles $%J%' 0 espantoso ( *ue ela realmente sobreviveu# paracasar=se com o meu pai# *ue era to dedicado a ela *uanto ela a ele "sso nunca 7oi postoem d?vida# apesar de eles tamb(m provocarem um ao outro e aos seus 7il4os#7re*uentemente com bastante sadismo A id(ia *ue a min4a me tin4a do se,o era a deum dever desagradvel *ue uma mul4er tem para com o seu maridoD o parto era algosimplesmente 4orr8vel *ue ela mantin4a a distCncia# apertando o corpo para *ue a suagravide+ no pudesse ser notada# e evitando as dores !*ue seriam inevitveis' nopensando nelas# at( isso se tornar imposs8vel er medo era covardia e despre+8vel Meu pai no era de 7orma alguma um 9oo=ningu(m Ele era um matemtico# *uerenunciou 5 carreira universitria e tornou=se um pro7essor para pagar os seus estudos!no pagos devido 5 7al6ncia do seu pai' Ele era e*uilibrado# a7etuoso e a7vel# mastodos os seus relacionamentos e atividades sociais !iatismo# gol7e# etc' 7oram

    sistematicamente destru8dos pela min4a meD s eram toleradas atividades solidrias ou*ue envolviam a sua 7am8lia# e ele tornou=se irritvel e impaciente Meu pai era muitoescrupuloso# inibido# t8mido com as mul4eres e pouco e,pansivo com os 7il4os A ?nicamul4er com *uem se teve not8cia de *ue ele conversou 7oi a min4a meD a*uilo 7oi amor 5primeira vista e por toda a vida# e ele raramente sentia vontade de en7rent=la 2o ( de admirar *ue todos os seus 7il4os 7ossem perturbados em algum grau Min4ame mani7estava o seu medo de *ue ns nos d(ssemos mal Min4a irm mais vel4a#1ut4# intelectualmente bril4ante# desenvolveu um superego selvagem# muita coragemmoral e capacidade de resignao Ela tornou=se um mito durante toda sua vida# e umasantaD lamentavelmenteD para ela# Esta vida no valeria a pena se no 4ouvesse umavida mel4or do outro mundo Min4a irm mais nova# .ecilR# 7icou doente logo *ue os

    meus pais emigraram para a Austrlia !sempre a erra Prometida'# em $%K# e morreu!com &O anos' pouco antes de eles c4egarem l !Eles 7icaram na Austrlia duranteapenas *uatro anos' Meus dois irmos g6meos univitelinos de+ anos mais novos do

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    *ue eu# nascidos prematuramente depois de uma gravide+ *uase 7atal de uma me de &anos *ue 9 tivera tr6s 7il4os esto vivos e t6m tido as suas di7iculdades Para 1ut4 eu era irritante 3evo ter sido uma ameaa 5 sua supremacia# por*ueestava sempre doente *uando era beb6 e# depois disso# precisando de muita ateno eobtendo=a# provavelmente devido a uma 4(rnia do 4iato cong6nita e a uma condiocel8aca !ambas cong6nitas'# *ue me incomodaram durante toda a min4a vida e s 7oram

    diagnosticadas *uando tin4a *uase de+essete anos !Antes disso# ( claro# as min4as*uei,as eram e,agero# imaginao e mais tarde psicog6nicas# mas sempre algo *uedevia controlar' Min4a me 7e+ todo o poss8vel para ser uma boa esposa e me# 5s ve+es tendo 6,ito#mas a ansiedade a tornava uma intrometida compulsiva# possessiva e sempre inter7erindona vida e nos relacionamentos dos outros Era uma pessoa muito inteligente e talentosa#dedicada e terna# mas de um modo totalmente descontrolado# sendo tragicamentepre9udicada A ?nica coisa previs8vel era *ue ela seria imprevis8velD tin4a=se de encontrarmodos de lidar com isso As ?nicas brincadeiras poss8veis com brin*uedos# bolas oupalavras# etc tin4am de ser sugeridas por elaD 7re*uentemente isso era bom# mas*ual*uer brincadeira iniciada por mim era interrompida# ou ela assumia o seu comando A

    espontaneidade# ideia# impulso# ao igual 9unto# sabendo o *ue 7a+er !-ac

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    preparao para assumir o cargo 3epois de ir a apenas tr6s reunies da Vunta e.onsel4o# eu soube *ue no *ueria a*uilo# mas na semana seguinte a min4apredecessora morreu subitamente# e no tive outra escol4a Eu era a pessoa bvia parasuced6=la A presso sobre mim para aceitar o cargo 7oi to grande *ue no puderecusar "sso 7oi *uando a mudana de Gloucester Place para Mans7ield ;ouse estava sendo

    plane9ada e reali+ada Eu era o membro mais 9ovem da Vunta e .onsel4o# de *ue 3 W7a+ia parte como -ecretrio de reinamento Eu discordava de muitas coisas *ue eramdecididas e passei a detestar o trabal4o e tudo *ue a ele se relacionava entei di+er aeles *ue precisavam de uma secretria treinada -entia=me culpada# 7?til e inade*uada# edese9ei pedir demisso e 7icar doente de novo Ainda *ue ten4a sido um grande al8vio*uando 7inalmente# em maio e $%J 7ui substitu8da e logo uma secretria treinada 7oiindicada# a culpa e a depresso persistiram# especialmente *uando descobri *ue no4avia mais vagas para eu participar do programa de treinamento# embora na (poca damorte da -rta -4arpe 9 4ouvesse sido convidada para 7a+er isso !2a verdade# 3 W medisse *ue 4avia inter7erido para impedir min4a participao por*ue eu estava muitodoente' Al(m disso# em $%J$# depois da publicao do meu ensaio .ountertrans7erence

    and t4e Patient]s 1esponse to it# 7ui convidada a ir a ope

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    poss8vel antes Apesar de s ter voltado a v6=la *uando ela estava morrendo# dois anosdepois# nunca me arrependi do *ue 7i+ As min4as 7(rias e as dele c4egaram /ui para o e,tremo norte da Esccia# para ocampo# onde passeava so+in4a Min4a me escreveu# 7a+endo uma e,ig6nciae,travaganteD min4a e,ploso 7oi ignorada e tornada in?til# seu dom8nio sobre mimrea7irmado Eu subi por uma tril4a na montan4a *atendo os p+s de rai;a A tril4a era

    a7astada# 8ngreme e escorregadia# e a percorri em meio a um denso nevoeiro 2o diaseguinte# ainda 7uriosa# escorreguei na grama mol4ada do lado de 7ora do 4otel# ca8 e*uebrei o torno+elo !-e isso tivesse acontecido no dia anterior# poderia ter 7icado no c4oa noite toda at( ser encontrada' /ui levada ao 4ospital e medicadaD min4a perna 7oicolocada em um gesso leve# sobre uma tala 1ecebi um telegrama e uma carta de 3 W#em resposta ao carto=postal *ue l4e enviara contando sobre o acidente 0 -uperintendente M(dico do 4ospital 7oi muito ?til Ele 7alou na depresso *ue sesegue a uma perda subida da mobilidade# tendo ele prprio passado por isso na9uventude# *uando teve plio 2o 7inal de duas semanas eu estava comeando a andar e 7ui liberada Mas entosurgiu a di7iculdade de c4egar 5 casa Meu carro e outras coisas estavam a cem

    *uilYmetros em uma direo# min4a casa a novecentos *uilYmetros em outraT /eli+mente#duas amigas *ue con4eci no 4otel vieram em meu socorro ma despac4ou o carro pramim# e a outra me convidou para 7icar na sua casa# *ue 7icava no meu camin4o# at( euconseguir 7a+er os preparativos para a min4a viagem e o transporte de carro Suando c4eguei 5 casa# o gesso estava 7olgado e teve de ser substitu8do 0 novoaparel4o era pesado e incYmodo# com um mecanismo oscilatrio debai,o do calcan4ar#por isso# uma ve+ mais# a min4a mobilidade estava muito restrita# e o andar# precrio Suando voltei a ver 3 W# seis semanas depois# tin4am acontecido tantas coisas *ueeu estava con7usa e 4avia perdido todo o contato com o *ue 4avia provocado o acidente#por isso nunca to*uei nesse assunto com ele 3 W Presumi *ue o acidente estavatotalmente relacionado com a trans7er6ncia# com as suas 7(rias !"!.a reao da -rta-4arpe ao meu luto'# e *ue tamb(m 7oi uma s(ria tentativa de suic8dio Poderia terprotestado# mas a perda recente da mobilidade 7i+era voltar a depresso Ac4o *ue 4aviauma culpa inconsciente pela min4a agresso verbal 5 min4a me# pela no aceitao dasua e,ig6ncia e pela vontade *ue eu certamente tivera de agredi=la 7isicamente# mas *ue4avia se voltado para mim Percebo *ue no me lembro do conte?do do trabal4o do ano seguinte na anlise# porisso ac4o *ue pro9etei a con7uso etc# e 3 W deve ter assumido o seu controle !-earles$%J%'# caso contrrio# seria di78cil entender o *ue se seguiu# em particular por *ue a4ospitali+ao e a regresso# 9 ocorridas em conse*F6ncia do acidente# aparentementeno 7oram usadas to plenamente como poderiam ter sido

    .omo eu interpreto isso agora# algo tinhade ser *uebrado para me libertar dodom8nio da min4a me e destruir 7inalmente o padro de repetio 3uas lembranas dein7Cncia se encai,am a*ui ma ( a dela apertando os meus dois pulsos e di+endoenergeticamente: oc6 tem de se controlarT Mas na verdade era ela*ue estava mecontrolando A segunda ( a de estar doente com pneumonia parte de um antigo colapso !com aidade de cinco anos'# causado por muitas e s?bitas mudanas# incluindo umatrans7er6ncia para uma nova casa# onde meu pai era responsvel pelos alunos internosDdurante a noite 4avia de+enove garotos# com nen4um dos *uais eu tin4a permisso para7alar 2a mesma (poca 4ouve uma troca de 9ardim de in7Cncia 2a 4avia gostado doprimeiro# mas detestei o segundo# onde um garoto mais vel4o e maior do *ue eu

    implicava comigo !m ano antes .ecilR 4avia aparecido durante a noite e 7ui colocadaem um *uarto 9unto com 1ut4# *ue implicava comigo e me assustava' 2o novo 9ardim de in7Cncia min4a identidade se,ual era con7usa Em uma brincadeira

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    de canto de Pssaros em um 2in4o# o pssaro pai era um garotin4o com longoscac4os louros com os meus# *ue usava uma t?nica e tin4a o nari+ permanentementeescorrendo !sem controle' Mas ele era um menino# e eu uma menina# por isso nopoderia ter sido o pssaro pai !;omens e menino t6m cabelos curtos e usam calasDmul4eres e meninas t6m cabelos longos e usam saias# tin4am dito para mimT' -ubitamente doente# com uma 7ebre muito alta e delirando# 7ui levada para a cama da

    mina me e o meu pai saiu 0 conte?do do del8rio nunca 7oi lembrado como tal# mas ac4o*ue deve ter estado relacionado com essas *uestes de liberdade para ser eu mesma ede identidade se,ual 0 *ue a min4a me conta ( *ue eu 7icava agarrada a ela noite e dia e no a soltava Ainterpretao de 3 W 7oi a de *ue Ela no dei,aria voc6 morrer o *ue era na verdade!como soube depois'# mas eu diria: Ela no me dei,aria es"olherentre viver e morrerEu tinhade viver# para ela Por isso# *uando a min4a me rea7irmou seu dom8nio sobre mim# depois da min4aeAploso# algo tin4a de ser *uebrado# e 7oi o meu prprio torno+elo Eu estava novamente presa *uando voltei da Esccia 2a*uela (poca# a con7uso 7oi arepetio do del8rio no *ual no conseguia distinguir entre min4a me e mim mesma

    Literalmente# no sabia *uem eu era Estar na*uela con7uso signi7icava *ue no podiae,plicar a 3 W o motivo do acidente ou o *ue 4avia acontecido para precipit=lo# nomais do *ue pudera 7a+er a min4a me entender a antiga con7uso !ou parar de vomitar'Ento# eu s 4avia conseguido 7icar doente e ameaar morrer 3 W tamb(m no podeme dei,ar escol4er entre viver ou morrer 2o percebeu *ue eu 9 7i+era min4a escol4ainconscientemente# caindo onde ca8 Assim# *uando se apro,imavam as 7(rias de vero# 3 W me disse *ue *ueria *ue eu7osse internada em um 4ospital# como uma paciente voluntria# para certi7icar=se de *ueeu no cometeria suic8dio "nvesti contra ele 7uriosamenteD ac4o *ue bati nele# emborano ten4a certe+a 3 W agarrou os meus pulsos e me segurou# mas no me mac4ucouAcabei concordando# com a condio de *ue ele garantisse *ue eu no seria submetida aeletroc4o*ue# poderia ter um *uarto particular# sair se *uisesse !7a+er a min4a prpriaescol4a'# e de *ue ele me levaria l e traria de volta 3 W concordou com tudo isso# ecumpriu o prometido 3ei,ou claro *ue tamb(m manteria contato comigo no 4ospital 2s 7omos para o 4ospital um dia depois do t(rmino do .ongresso "nternacional emLondres !$%JK' 2a plata7orma da estao 7erroviria# 3 W percebeu *ue eu estavaagarrada 5 sua capa impermevel# apavorada Ele me deu o brao e# *uando c4egamos#disse: oc6 est sendo muito cora9osa Em seguida# acrescentou algo sobre a min4acriatividade inata# *ue eu no entendi e de *ue no me lembro# mas depois descobri *ue4avia sido importante# por*ue se relacionava com a espontaneidade 3 W 7icou a7lito por*ue o m(dico supervisor sa8ra de 7(rias# sem ter l4e avisado antes

    0 substituto era um 4omem en(rgico# contrrio 5 anlise# *ue no gostava de *ue l4e7i+essem muitas recomendaes por escrito e *ue era absolutamente contra a proibiodo tratamento eletroconvulsivo 2o comeo# *uando 3 W me dei,ou# me senti protegido# mas depois de alguns dias#in7eli+ e abandonada /i*uei con7usa e ligeiramente desorientada !Escrevi notas emtodos os dias da*uelas cinco semanas# *ue ainda ten4o' 3urante de+ dias 7i*uei em meu*uarto# c4orosa e com medo Mas# para a min4a surpresa# comecei a escrever poesia Ento# uma man4# pedi para 7icar so+in4a e no ser perturbada Eles prometeramatender meu pedido Mas entraram em meu *uarto nada menos do *ue oito pessoas# umaaps a outra Suando a oitava# uma empregada da en7ermaria# estava no c4o a lado damin4a cama# dei uma palmada no seu traseiro "mediatamente o supervisor substituto

    veio -enti *ue ele me ameaavaD 4avia outros modos de tratar a doena mental al(m daanlise# *ue 5s ve+es eram necessrios Lembrei=l4e a proibio do tratamentoeletroconvulsivo Ao entardecer# estava morta de raiva Atirei para longe a min4a bande9a

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    com o 9antar# a luminria para leitura e tudo o *ue pude encontrar no *uarto# numa orgiade destruio /ui imediatamente colocada no isolamento para passar a noite 3urantetodo o tempo 7i*uei paranica# vendo as en7ermeiras como demYnios Mas eu 4avia meagarrado a duas coisas *ue mais tarde provaram ser ob9etos transicionais !Little $%J)'#um leno *ue 3 W 4avia me dado e um cac4ecol de l a+ul de *ue eu gostava# e *uecomprara Pela man4# 7ui levada para um *uarto aberto em uma ala trancada# e a "rm

    da ala veio me ver Mais tarde# ban4ada# alimentada e tratada como uma criana# 7uicolocada em um *uarto onde 7i*uei durante o resto do tempo Em min4as sesses com 3 W# 7ora tratada de modo especial# como uma crianaDele prprio sempre abria a porta para mim# todas as sesses terminavam com ca7( ebiscoitos# ele 7a+ia com *ue eu me sentisse *uente e con7ortvel# 7ornecia lenos depapel# etc Mas l estava a total regresso para a depend6ncia# uma e,tenso do *ue 3W 4avia me proporcionadoD e ele se mantin4a constantemente em contato com o4ospital# e me enviava cartes=postais# di+endo onde se encontrava 2o 4ospital# os cuidados eram totais e inter7er6ncia m8nimaD tudo era 7ornecido e nadaera e,igido Eu passava o tempo dormindo# lendo# escrevendo e pintando# 5s ve+es nasparedes do meu *uartoD na verdade# brincando Perambulava pelo 9ardim e pelas ruasD

    *uando c4ovia# uma en7ermeira ia me buscar com guarda=c4uva e capa impermevelSuando os meus p(s estavam empolados a "rm tratava deles e me di+ia: oc6 devia tertele7onado pedindo *ue 7ossem busc=la de carro Podia 4aver so7rimento ou agitao ao meu redor# mas o lugar continuava a eAistir# meamparando e protegendo# calmo e aparentemente sem perturbaes !2esse sentido#nada poderia ter sido mais di7erente do meu antigo ambiente Lembrei=me de um dia# em$%# em *ue 1ut4 e eu estvamos visitando os nossos paisD ns *uatro noconsegu8amos nos sentar 9untos mais *ue cinco minutos# por*ue sempre 4avia algumacoisa a ser apan4ada ou 7eita 2o poderia ter sido to ruim antes# mas na*uele tempo euteria sido menos capa+ de aguentar isso do *ue era nesse momento' Mais uma ve+ algo 4avia sido *uebrado !pratos# luminria# etc'# mas no eu Agora euestava no *ue 4avia se tornado o meu verdadeiro *uarto de criana# em *ue era segurono me controlar 0s limites eram amplos e 7le,8veis A*uilo era 7isicamente uma e,tensodo consultrio de 3 W# onde# anteriormente# 4avia *uebrado o seu vaso Agora podiatornar clara para mim mesmaa min4a escol4a entre a vida e a morte !-er ou no ser Hamlet# """ i# ver Winnicott $%H$b' 0 7ato de 3 W me internar era uma repetio desua reao *uando *uebrei o vaso# mas dessa ve+ o contato no 7oi interrompido comona*uela (poca# *uando ele me dei,ou so+in4a com a destruio *ue eu 4avia causado -omente muito tempo depois percebi *ue apr/pria destruio era uma criao# por*uea destruio e a criao so inseparveis no se pode pintar um *uadro sem destruiruma tela branca e tubos de tinta !e tudo tem ambival6ncia'# por*ue no pode e,istir vida

    sem morte !4ompson $%&'# e o amor envolve a destruio !Winnicott $%IKb' Apesar de no gostar de muitas coisas no 4ospital# em geral ele era agradvel eacol4edor# 5s ve+es at( mesmo divertido m dia pintei um mar e acrescentei subitamentea enorme cabea de um monstro surgindo# com os ol4os 7lame9antes e mand8bulasameaadoras A tela 7oi pendurada# e o terapeuta ocupacional 7icou em p( ol4ando=a# decostas para mim Eu disse: ma bela obra de arte es*ui+o7r6nica# 4einU Ele precipitou=se para 7ora do *uarto e atravessou o corredor A "rm entrou reprimindo o riso e meperguntou: 0 *ue voc6 !eFcom o pobre -r U Parecia *ue o diabo estava atrs deleT Ens rimos 9untas# no dele# mas da min4a pintura A espontaneidade 7oi restabelecida# at(mesmo bem vinda Mas no podia ter aceitado viver durante tanto tempo 0 7ato de ter de estar l me

    deprimia ainda mais m dia# vendo um pedao de corda no 9ardim# pensei novamente emsuic8dio 3e repente percebi *ue a*uilo no seria uma verdadeira soluo# apenas umavitria para o mundo louco contra o *ual lutar durante toda min4a vida e ao *ual# com

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    tanta 7re*F6ncia# cedera !Winnicott $%IKb'# e realmente um ato de loucura 2unca penseinisso de novo e retornei da regresso para a vida comum !Winnicott $%Ja' oltei a trabal4ar uns *uin+e dias depois de ir para casa Min4a anlise comeara ac4egar ao 7im ;avia muito o *ue contar a 3 W sobre o per8odo no 4ospital# ae,peri6ncia# o tema das min4as pinturas e poemas# a min4a brincadeira e as min4as7antasias# como uma criana 7alaria sobre essas coisas com a sua me Eu ainda 7icava

    acordada at( tarde da noite pintando *uadros 7antsticos e escrevendo poemasmelanclicos 3 W os e,aminava e 7a+ia comentrios sobre eles 2o era cr8tico# apesar de di+er o *ue sentia 3emorei um pouco para perceber *ue o7ato de ele no gostar de um *uadro no signi7icava *ue eu deveria destru8=lo Ele tin4aum valor simplesmente como uma criao# tanto para 3 W como para mim Em algum ponto dessa 7ase terminal# 3 W me deu uma interpretao particularmenteimportante# *ue tin4a o mesmo carter de revelao da sua observao anterior# obre ocaos da min4a me Ele me disse *ue o medo de ani*uilao *ue eu sentia estavarelacionado com a ani*uilao *ue 9 ocorrera: eu ha;ia sido ani*uilada 7isicamente#mas de 7ato sobrevivera# e estava agora revivendo emocionalmente a e,peri6nciapassada .ustei um pouco a assimilar as suas palavras e a tirar proveito delas !Winnicott

    $%IO' Mesmo agora# tendo a es*uec6=las em momentos de tenso# mas logo *uerelembro a*uela interpretao a ansiedade ( aliviada !0 medo ( apenas lembrana no7uturo Eli+abet4 ARrton# 5ay >ightD e A sobreviv6ncia ( a irm g6mea da ani*uilao .4urc4ill# 3iscurso em $%$' Era verdade *ue eu 7ora ani*uilada antes mesmo de 4aver e,istido 2o 7ui umapessoa por mim mesma# apenas um complemento de outras pessoas: apresentada Esta( a min4a 7il4aD con4ecida como A irm de 1ut4D uma das tr6s Margarets em min4aclasse e das duas M Littles na escola 0 meu segundo nome# "sabel# tamb(m 7oi in?til: @sempre "# "# "# di+iam Ao tentar livrar=me do egocentrismo# colo*uei de lado a inicial -usei mais tarde# para me di7erenciar de outra psi*uiatra com o mesmo nomeT A essa altura# o carter das sesses 4avia mudado muito# por*ue tanta dor# so7rimentoe raiva tin4am sido superados atrav(s dessa brincadeira# a base da criatividade !Winnicott$%H$a' pYde substitu8=los e o relacionamento surgido anos antes pode se desenvolverAlguns analistas parecem ac4ar *ue todas as sesses de;em ser dolorosas# mas aomesmo tempo *ue 3 W tin4a total consci6ncia de *ue anlise s podia dar certo paraalgu(m *ue realmente so7ria# ele acreditava no valor de um relacionamento capa+tamb(m de ser estimulante e agradvel Muitas das brincadeiras atrav(s das *uais me7ortaleci 7isicamentepodiamter sido como as da min4a me: piadas# 4istrias e disparates!certa ve+ perguntei a 3 W por*ue ele 4avia pre7erido se alistar na Marin4a# em ve+ doE,(rcito ou na Aeronutica: 0 uni7orme combinava mais com os seus ol4os a+uisT'# umpouco de conversa 7iada# in7ormao e discusso s(ria sobre anlise Mas essas coisas

    no 7oram usadas como de7esa contra a ansiedade# para repelir a raiva ou a e,citao# ouevitar o so7rimento e a in7idelidade 7a+endo=me rir Elas no me 7oram impostas# podia t6=las ou no# se eu*uisesse 0 importante era ser humano# e a brincadeira era uma parteessencial da vida 4umana em *ual*uer idade 3 W conseguiu me 7a+er entender algumas das e,ig6ncias *ue uma anlise como amin4a impun4am a ele# e,ig6ncias *ue dese9ava cumprir# no s se a anlise 7osse bemsucedida: suportando a ansiedade# a culpa# o so7rimento# a a7lio# a insegurana e asensao de impot6ncia# suportando o *ue no podia sersuportado 2o 4avia *ual*uerde7esa contra o parado,o ou a ambival6ncia# no paciente ou nele prprio 3 W me 7alousobre um paciente *ue# durante muitos meses# ameaava suicidar=se de modosu7icientemente s(rio para *ue ele providenciasse uma 4ospitali+ao 0 suic8dio ocorreu#

    em sua opinio desnecessariamente e pelo motivo errado# por*ue as suas instrues7oram ignoradas 3epois disso ele 4avia passado por um longo per8odo de ansiedade eculpa# por*ue odiou o paciente por t6=lo 7eito so7rer !Winnicott $%H' Ele dese9ou gritar:

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    Pelo amor de 3eus# v em 7rente e !aa isso Suando o suic8dio realmente ocorreu#4ouve mais culpa e sensao de impot6ncia !ele deveria ter sido capa+ de evit=lo'D raivacontra os *ue no tin4am seguido as suas instrues# e 7inalmente uma grande sensaode perda de uma pessoa por *uem ele se interessava muito e em *uem investira tanto osentimento Ainda assim# ele dei,ou claro *ue a total abnegao no tin4a sentido -e eleno cuidasse de si mesmo# satis7a+endo as suas prprias necessidades 78sicas e

    emocionais# no seria ?til para ningu(m# inclusive para si mesmo 3a8 a importCncia doseu casamento# das suas 7(rias# da m?sica# dos amigos# etc Passei a percebermudanas nele# crescimento e desenvolvimento# alteraes no seu modo de trabal4ar:coisas intang8veis# percebidas apenas depois *ue ocorreram .erta ve+ ele disse *ue nopoderia ter 7eito a min4a anlise antes 0 7ato de ele me dei,ar participar um pouco disse tornava=o seguro para mimDaumentava min4a prpria sensao de ser valori+ada e# por isso# ser importante# e dessa7orma min4a capacidade de me valori+ar aumentou ornei=me consciente de *ue o 3 W*ue eu con4ecia era di7erente do *ue todos con4eciam# apesar de *ue as outras pessoaspodiam con4ecer alguns dos mesmos aspectos dele Eu o criei para mim mesma namin4a imaginao# por*ue essas pessoas e eu (ramos di7erentes# apesar de *ue

    pod8amospare"er iguaisD isso dava a elas o seu valor e realidade Acima de tudo# eletornou=se uma pessoa viva e real com *uem eu tin4a um relacionamento *ue comearaanos antes# e *ue no era mais baseado apenas na trans7er6ncia -eguiram=se outros relacionamentos# com colegas e amigos 2o in8cio de $%J amin4a me morreuD no 4avia me encontrado com ela ou com 1ut4 desde a min4ae,ploso Ento# pela primeira ve+# um relacionamento com 1ut4 tornou=se poss8vel Euestava encontrando pra+er e satis7ao em meu trabal4o e em tudo mais# principalmentena pintura e em meu 9ardim# *ue parecia ser o ?nico elo positivo com min4a me 2s comeamos a diminuir a durao e a 7re*F6ncia das sesses# e a aumentar# porinsist6ncia min4a# os 4onorrios dele 2o vero de $OJJ# eu concordei em terminar Maisuma ve+# me envolvi se,ualmente e 7ui mal sucedida# por*ue era novamente umasituao edipiana oltei para 3 W procurando a9uda Ele me atendeu uma ve+ porsemana durante de+oito meses# no 7inal dos *uais me disse claramente *ue era 4ora deeu assumir as min4as prprias responsabilidades e continuar com a min4a vida se9avoc6 mesma# mas agora por mim# no por ele

    Captulo 9esultados7 18B@18:=

    erminar no 7oi muito di78cil: meu relacionamento com 3 W continuou a ser cordial esatis7atrio# apesar de eu nunca ter podido 7a+er parte do seu c8rculo mais 8ntimo de

    ami+ades A*uilo era e,pl8cito e compreens8vel Podia v6=lo ou tele7onar=l4e de ve+ em*uando# em caso de necessidade# e ele me convidou para participar de uma pe*uenareunio de grupo para discutir alguns dos seus trabal4os mais recentes Eu no era mais uma no=pessoa# min4a identidade 7oi recon4ecida por 3 W e poroutras pessoasD 4avia me 7irmado como uma analista em treinamentos e 3Wencamin4ava para mim pacientes# tanto adultos como adolescentes !sobre os *uais nemsempre concordvamos' para consulta ou anlise# inclusive alguns de *uem ele gostavaespecialmente Min4a posio como pintora tamb(m 7oi recon4ecida: meus *uadros erame,postos regularmente e vendidos ocasionalmente Eu podia sere!aFer# me a7irmar semculpa indevida# ansiedade ou reao paranica 2as palavras de um vel4o amigo deantes da anlise eu no era recon4ec8vel para a mesma pessoa !Parecia *ue ser

    con4ecido ( ter vida e continuao no conceito de outros 4omens PoQer $%I%' 3esde ento ten4o continuado com a autoanlise !Little $%Ib'# at( mesmorecentemente# e,plorando novamente muitas das min4as e,peri6ncias# reconsiderando o

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    ;alorda regresso# vendo=o mais claramente# em especial o per8odo no 4ospital# comoum desa7io em determinar o *ue se revelaria mais 7orte# a doena ou a sa?de# *ueestavam ambas l en4o tido sucesso e 7racasso# pra+er e dor# em min4a vida pro7issional e pessoa# econsiderado *ue a vida vale a pena ser vivida# o *ue certamente no ocorria antes /uimuito enri*uecida como mul4er por um relacionamento com um 4omem de interesses

    variados# cora9oso# leal e muito divertido# cu9a perda lamento .omo com *ual*uer pessoa importante# ( muito 7cil ideali+ar ou denegrir 3 W#consider=lo uma 7igura carismtica ou venervel# mas 7a+er isso ( desumaniF&lo#agarrar=se 5 7antasia e ao conceito errYneo Para mim# ( claro *ue continua a 4aver ambival6ncia e ansiedade# por*ue nen4umaanlise pe 7im a elas# ou ( completa 3e min4a parte# ainda sinto a min4a raiva inevitvel!e importante' !Winnicott $%I&b'D a per7eio teria sido in?til !Ele no podia me dar tudo*ue eu# como "riana# *ueria' 0 sentimento dominante ( de pro7unda e permanente gratido# por*ue 3 W mepossibilitou encontrar e libertar o meu verdadeiro sel! !Winnicott $%I)b'# min4aespontaneidade# criatividade e capacidade de brincarD ele resistiu a min4a sanidade sem

    me dei,ar apenas s !Winnicott $%H$b' Estou em contato com a criana em mim *ue*uer brincar# usar !Winnicott $%IO' o *ue recebeu# e se ressente da necessidade deescrever uma bela carta de agradecimento# en*uanto o meu sel!mais amadurecidotenta e,pressar a verdadeira gratido *ue sinto 7a+endo este relato do seu trabal4ocomigo !Eu no sei se gosto disso# mas ( o *ue eu *ueria# como disse aug4anWilliams# sobre a sua Suarta -in7onia'

    Captulo @inni"ott "omo Mestre

    Esta parte seria incompleta sem uma re7er6ncia a 3 W como mestre 2unca ocon4eci o7icialmente nesse papel# apesar de ter aprendido muito com ele durante aanlise !tamb(m l4e devo isso'D e *ual*uer reivindicao da min4a parte de *ue reali+eialgo remotamente parecido deve=se a esta anlise# e no ( uma *uesto de imitao oude ter sido ensinada 2o creio *ue um analista possa sempre estar consciente do *ue est 7a+endo# e por*ue# no momento!.omo posso saber o *ue penso at( compreender o *ue digoU Gra4am Wallas# he )rt o! hought'# e ac4o *ue 3 W no estava ele no tin4a medode reagir# ou de ser espontCneo# mas# 7re*uentemente e,plicava o *ue estava di+endo ou7a+endo# 5 ve+es no momento# em outras ocasies em uma sesso posterior .riticavaconstantemente o prprio trabal4o# na autoanlise# e estava disposto a recon4ecer e

    corrigir um erro ou omisso *uando o material do paciente revelava ansiedade 0 *ue se segue# eu soube atrav(s de outras pessoas -eus seminrios e sesses desuperviso eram eventos alegres e agradveis# mesmo *uando ele discordava das id(iase m(todos dos outrosD eram in7ormais# com 7re*u6ncia animados por canecas de ca7(*uente e biscoitos de gengibre# Ele ensinava voc6 a 7a+er livres associaes "omoanalista como todo material do seu paciente Suando voc6 7alava sobre isso ele serecostava na cadeira# 7ec4ava os ol4os e comeava a 7alar consigo mesmo# associandolivremente em relao ao paciente# ao *ue voc6 teria dito# a *ual*uer coisa *ue tivesseacontecido 2o criticando# ou perguntando: Por *ue disse issoU]# mas partil4ando comvoc6 as associaes dele !1alp4 LaRland# in7ormao pessoal' 3 W e,empli7icava o *uedi+ia com seu prprio trabal4o# a discusso era livreD ele no discursava !isso teria sido

    7alta de educao'# e incentivava os estudantes ou colegas a encontrar seus prpriosmodos de trabal4arD a no seguir os dele# por*ue estes di+iam respeito essencial einseparavelmente 5 sua personalidade

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    Apesar de trabal4ar de modo muito di7erente de Melanie >lein# 3 W recon4ecia o seud(bito com ela .omo eu 9 disse# em casos de psiconeurose ele usava a t(cnica padro!isto (# o prprio m(todo de /reud# interpretando a trans7er6ncia# especialmente emtermos de mat(ria edipiano reprimido e da atividade do superego' Mas no 4avianen4uma classe de doena *ue Winnicott ac4asse imposs8vel de analisar# como /reudconsiderava as neuroses e psicoses narcisistasD apenas algumas pessoas# de acordo

    com o grau das doenas e de suas particularidades Estou certa de *ue essa t(cnica muito pessoal no podia ser ensinada 0 importantepara mim era a e,peri6ncia direta com ela# algo *ue era a e,peri6ncia direta com ela# algo*ue era absorvido inconscientemente# sem palavras Mas al(m do *ue 3 W escreveusobre o seu trabal4o# algo sobre suas intuies pode certamente ser aprendido pelosestudantes atrav(s de anlise ou superviso com analistas *ue o compreendem em umn8vel no apenas intelectual .aracteristicamente# a dedicatria de um dos seus livros publicados logo antes da suamorte# 0rin"ar e a ealidade# ( a seguinte: Aos meus pacientes# *ue pagaram para meensinar A importCncia do aprendi+ado com os nossos pacientes# como uma meaprende com o seu 7il4o# era a base do seu trabal4o# por*ue eles# no ns# so os *ue

    sabem

    II Sobre o valor da regresso para a Dependncia

    0caador e os animais *ue ele procura parecem unir=se e tornar=se parte um do outro ede toda a vida *ue e,iste.

    James Houston7 -pirit Wrestler

    2a parte "# escrevi sobre a autoanlise cont8nua depois do t(rmino com Winnicott em$%JH# e sobre reconsiderar o ;alorda regresso# vendo=o em especial o per8odo no4ospital# como um desa7io para determinar o *ue se revelaria mais 7orte# a doena ou asa?de# *ue estavam ambas l Essa considerao ( vlida# mas# al(m do *ue a e,peri6ncia 7e+ por mim# 4 um valormuito maior: para os meus pacientes# para Winnicott e para os psicanalistas *ue estodispostos a permitir essa regresso em seu tratamento dos pacientes psicticos

    Captulo : ;alor de regresso

    E,ceto pelo trec4o 7inal sobre Winnicott como mestre# a Parte "" 7oi escrita do ponto devista de umapa"iente# uma psictica *orderline 3o ponto de vista do analista# o valor da regresso para a depend6ncia pode sera7irmado de um modo muito simples ela no + um meio pelo 2ual se podem eAplorar as&reas onde predominam as ansiedades psi"/ti"as7 re;elar eAperi

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    escrever este cap8tulo (# em primeiro lugar# ilustrar clinicamente o *ue ele escreveuD mastamb(m acrescentar algo meu *ue# como mostrarei depois# ele recon4eceu 3evo dei,ar claro a*ui *ue estou usando o termo "ontratrans!er

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    Perturbaes na adolesc6ncia so comuns para a maioria das pessoas# e muitas seresolvem espontaneamente Mas onde a perda ou o con7lito# dentro de um indiv8duo ouentre ele e o ambiente# do origem 5 ansiedade !psiconeurose'# um pouco de a9udapsi*uitrica pode ser necessria para tornar poss8vel uma regresso como a *ue GavinMa,Qell descreve A psicanlise padro# *ue usa a t(cnica da interpretao verbal# (apropriada a*ui

    2o entanto# muitas pessoas t6m componentes do *ue ( c4amado de loucura oudoena mental Eles podem estender=se sobre reas grandes ou pe*uenas dapersonalidade# causando um grau maior ou menor de perturbao em suas vidasD notrabal4o# la+er e relacionamentos .oisas assim so causadas por ansiedades anteriores 5s da psiconeuroseD di+emrespeito 5 sobreviv6ncia e 5 identidade !/reud $%$H'# e para os *ue so7rem com elas osom das palavras *ue a interpretao verbal no adianta muito# e precisam serencontrados outros meios de lidar com a ansiedade Eu# como muitos outros# era aparentemente normalD 7re*uentei a escola# a 7aculdadede medicina# prati*uei como cl8nica geral e 7ui aceita para treinamento e *uali7icada comopsicanalista rabal4ei durante toda a min4a anlise# e,ceto nos 7eriados e em tr6s

    per8odos curtos de depresso Mas so7ria de uma enorme ansiedade *ue tin4a *ueesconder# e era inibida de muitas 7ormas# especialmente na rea dos relacionamentos#por*ue tin4a pouca con7iana em mim mesma# ou pouco entendimento da min4aidentidade A psicanlise comum no adiantou e precisei de uma pro7unda regresso# aon8vel da total depend6ncia# a partir da *ual consegui me tornar# embora tardiamente# umapessoa um pouco mais real# e*uilibrada e madura 2a vida pr(=natal e no in8cio da vida ps=natal uma criana ( totalmente dependente2o momento do parto a integrao# apesar de iniciada# no est muito desenvolvidaD asobreviv6ncia no pode ser tida como certa A ansiedade inconceb8vel ou arcaica (despertada pelos traumas contra os *uais uma pessoa no tem uma de7esa organi+ada#de modo *ue sobrev(m um estado de perturbao "sso ( e,perimentado comoani*uilaoD sem ter *ual*uer meio de comunicao e por isso estando totalmenteisoladoD evitando desligado do prprio corpoD ou perdido no espao !Winnicott $%JIb#$%I&d' Posteriormente# *uando a identidade comea a se desenvolver# mas ainda no estestabelecida# a perturbao pode ser menos dolorosa# a con7uso menor# e as de7esaspodem ser recriadas e 7ortalecidas Apenas um ambiente capa+ de suprir todas as necessidades pode garantir asobreviv6ncia e promover a integraoD onde isso no ( 7ornecido# a ansiedade daani*uilao persistir# e per8odos de con7uso se seguiro a perturbaes e 7racassos .omo um resultado desse estudo longo e e,austivo# desde o nascimento# tanto de

    crianas sadias ou perturbadas e de suas mes# como de pacientes psicticos emregresso# Winnicott passou a considerar a psicose uma doena por car6ncia ambiental!Winnicott $%%a'# *ue e,igia uma volta ao tempo em *ue a de7ici6ncia ou ade*uao doambiente era muito importante 0 analisando revive e interpreta novamente eventosda*uela (poca# e o analista 7ornece um ambiente *ue se9a capa+ de adaptao ativatotal durante o tempo *ue 7or necessrio e# mais tarde# de suprimir gradualmente aadaptao m ambiente su7icientemente bom# *ue d6 um apoio !holding' seguro!Winnicott $%J&b'D 1ic4ard 1oQlands ^$%JI=$IK)U_ LullabR'# contribuir para odesenvolvimento emocional padro primitivo !Winnicott $%J' de 7ormao# de tornar=seuma pessoaD descobrindo a realidade ! ra4erne ^$IKHU$IH_ 4e salutation' e umacapacidade para a 7antasia !iluso ou imaginao'# para a criatividade e para 7ormar

    relacionamentosD e a 4abilidade de usar s8mbolos e met7oras !-ec4e4aRe $%J$' A regresso para a depend6ncia ( um processo de cura !Winnicott $%Jb' originadono no analista# mas na*uela parte do analisando# seu verdadeiro sel! !Winnicott $%%a#

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    $%I)b'# *ue ainda pode esperar uma reverso do 7racasso original# encontrando noanalista uma adaptao su7iciente para as suas necessidades @ preciso 4aver umtratamento em ve+ de uma t(cnicaD e um comportamento intuitivo# no interpretaoverbal Mas isso no ( 7cil# por*ue envolve o analisando em uma volta assustadora aoprimeiro estgio no=integrado ; o risco de ani*uilao repetida pelos est8mulos aos*uais ele tem de reagir 7isicamente !re7le,o de c4o*ue'# e com uma integrao 7orada#

    contra os *uais ele no tem de7esas e no pode compreenderD de dei,arem=no cair*uando ele est inde7eso# no 4avendo limites ou controle 0 analista tem de ser capa+ de renunciar 5s de7esas contra a mesma ansiedade# omedo de ani*uilao# da perda da identidade# tanto por si mesmo como pelo paciente Aomesmo tempo# sua prpria identidade deve permanecer distinta e seu sentido derealidade inalterado# mantendo a consci6ncia em dois n8veis e,tremos# o da realidade e oda iluso Ele est na posio de uma me ;is;iso 7il4o# mas onde nem ele nem opaciente esto de 7ato nessa situao "sso e,ige as mesmas *ualidades de uma mesu7icientemente boa !Winnicott $%J&b'# empatia com a criana !Winnicott $%I)a' ecapacidade de consider=la uma pessoa separada 2o contar com a atitude pro7issionalpara aceitar um relacionamento direto com o paciente como distinto da imagem do

    espel4o# e lembrar=se de *ue a se,ualidade no tem *ual*uer sentido a*uiD unir=se7isicamente a ele aceitando a iluso de unidadeD tolerar o dio do paciente sem revidar*uando os traumas originais so revividos !Winnicott $%H# $%I)c' e suportar as suasprprias emoes *uando elas so despertadas A ateno interrompida uni7ormemente do analista !/reud $%$K' parece=me# a*ui#semel4ante 5 preocupao maternal primria descrita por Winnicott !$%JIa': talve+ se9abasicamente a mesma coisa# apesar de em menor grau# por*ue a preocupao primriaaparentemente signi7ica um elemento de doena regressiva temporria# at( mesmoes*ui+ide# na me ; muitas di7iculdades no camin4o para ambos os parceiros 0 tempo ( essencialD e aaus6ncia de perturbaes causadas por doenas 78sicas# e,ig6ncias do mundo e,terno#trabal4o etcD mas acima de tudo# 4 em cada um deles a resist6ncia interna# causadapela prpria ansiedade 0 controle ( necessrio 0 ambiente anal8tico proporcionacon7ornto 78sico# calor 4umano# sil6ncio e aus6ncia de interrupes em geral 0 con7ortoemocional tamb(m ( encontrado na atitude do analista de aceitao# encora9amento ereao# *ue 5s ve+es pode ser ativa# ou# com mais 7re*u6ncia# neutra Em um pacientegravemente perturbado essas so ne"essidadesabsolutas !Winnicott $%%X# b# $%JX# b'#no dese9osD e# *uando supridas# t6m um e7eito interpretativo# como as sugestes *ueuma me d ao seu 7il4o .omo o paciente no ( uma criana# reage aos 7racassos de um modo adulto# com umcorpo adulto# e a8 reside o perigo Para o analisando# 4 risco de 7racasso se as suas

    necessidades no 7oram supridas# de reconstruir de7esas# passar rapidamente para adoena ou a sanidadeD ou de suic8dio# o *ue deve ter liberdade para escol4er# se dese9ar#destruindo assim a anlise Para o analista# 4 um s(rio risco de ser atacado# *uando araiva despertada pelo trauma original ( libertada# ou *uando a tenso diminui e elecomete um erro do *ual no pode tirar partido @ uma *uesto de vida ou morte# somticaou ps8*uica -e o analista no sobreviver 5 doena# acidente ou ata*ue !ou desenvolveruma psicose de contratrans7er6ncia'# pode no 4aver uma cura para o analisandoDapenas# na mel4or das 4ipteses# um retorno ao status 2uo ante Suando ambos sobrevivem aos pontos perigosos e as de7esas no so reconstru8das#o analista pode tirar gradualmente a sua adaptaoD o analisando pode tornar=se umapessoa# um sel!*ue ( di7erente do sel!anterior !apesar de estar relacionado com ele' A

    e,peri6ncia de ser adotado ( realmente mutante# por*ue resolve a ansiedaderelacionada com a sobreviv6ncia e com a identidade# renovando a con7iana eproporcionando a continuidade da e,ist6ncia A consci6ncia de ser real# o recon4ecimento

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    de *ue ( interior ou e,terior# a capacidade de 7antasiar e de distinguir a 7antasia darealidade# de simboli+ar# de relacionar=se com os outros de um modo anteriormenteimposs8vel# e de amadurecer# primeiro para a posio depressiva !>lein $%KJ'# e maistarde para o n8vel edipiano# seguem=se como no desenvolvimento normal# a9udados por*ual*uer maturidade obtida antes 2em sempre ( recon4ecido *ue a depend6ncia ( m?tua 0 analista depende de *ue o

    paciente v 5s sesses# pague e coopere como puderD se permita regredir e 7icarinde7esoD e cresa 0 analista no pode 7a+er essas coisas por ele# ou obrig=lo a 7a+6=lasD pode apenas simpli7ic=las por meio de sua segurana# compreenso e capacidadede comunicar=se no n8vel de paciente oda anlise bem sucedida de um paciente psictico ou *orderline representa# demodo muito claro# um bene78cio para o prprio paciente Mas o analista# al(m da alegriade ter reali+ado um trabal4o ?til e satis7eito um dese9o de ambos# lucra com umacompreenso mel4or da psicose# e um maior con4ecimento de si mesmo E# acima disso#est a importCncia para a psicanlise *ue se desenvolvem e sua aceitao pelo mundo

    Captulo 8

    >Aplorando as ansiedades psi"/ti"as

    Em $%%# tive a sorte de descobrir# ou de ser descoberta !o *ue no n8vel ilusrio ( amesma coisa ^Little $%JHb# $%I)_'# por um psicanalista *ue durante vinte anos 4aviatratado de pacientes psicticos Pude renunciar gradualmente 5 min4a onipot6ncia e ao meu sel!7also# guardio# e#contando com o seu apoio !holding'# reviver a min4a in7Cncia traumticaEventualmente pude# de modo imaginoso# destruir e ser destru8da por ele !novamente amesma coisa' e depois# descobrindo *ue ambos 4av8amos sobrevivido# us=lo e ser ?tilpara ele !Winnicott $%IO# $%H)b' 3esde o in8cio# 3 W teve consci6ncia de *ue min4a ansiedade estava relacionadaprincipalmente com a sobreviv6ncia e a identidade# e *ue em outras reas eu 4aviaatingido um grau ra+ovel de maturidade /oi nesse con4ecimento *ue ele baseou odiagnstico e a deciso de tomar a seu cargo a min4a anlise 2o primeiro momento# eu o e,clu8# escondendo=me debai,o do cobertor e 7icandocalada Alguns dias depois# 7ugi da anlise para um relacionamento se,ual# para o *ualno estava realmente pronta Ac4o *ue a*uilo 7oi uma tentativa inconsciente de evitar odesespero# *ue tentei 7a+6=lo perceber *uebrando um vaso em seu consultrio 3 Wainda no estava preparado para assistir 5*uela encenao destrutiva# e me dei,ouso+in4a com o caos *ue eu 4avia criado# de modo *ue permaneceu a sensao de7utilidade e desesperana

    Pouco depois disso# 4ouve sesso em *ue aparentemente revivi uma e,peri6nciatraumtica do parto# con7irmado a sua opinio de *ue eu estava em um estadoe,tremamente in7antil !Winnicott $%%a#b' e de *ue# para tornar poss8vel umdesenvolvimento emocional normal# seria preciso uma regresso pro7unda# talve+ at(mesmo para a vida pr(=natal .4eguei 5 concluso de *ue nessa sesso# com os seus espasmos peridicos detenso 78sica# revivi uma e,peri6ncia pr(=natal# no um parto traumtico Estudos maisrecentes con7irmaram *ue o sistema sensorial est totalmente desenvolvido nonascimento Perturbaes repetidas na vida pr(=natal# atrav(s de mani7estaessomticas da ansiedade da me !pulsao ou respirao rpida# acelerao dosmovimentos intestinais# etc' transmitidos atrav(s do 7luido amnitico# provocam reaes

    no 7eto !despertar s?bito# movimento# etc' e# aparentemente# so sentidas como o *uepoderia ser c4amado de ani*uilao Portanto# o processo do parto representar uma

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    repetio em grau e,agerado da ani*uilao e da descontinuidade *ue 9 4aviam sidoe,perimentadas !Winnicott $%%b' 2a verdade# o meu nascimento 7oi 7cil: min4a me me teve antes da c4egada dom(dico ou da parteira 3escon7io de *ue ela demorou a c4am=los em parte devido 5 suacrena em *ue se voc6 no pensar na dor ela passar# e em parte devido ao seu medode *ue a parteira segurasse a cabea para