Relatório_World Watch Institute_2011

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ESTADO DO MUNDOInovaes que Nutrem o Planeta

THE WORLDWATCH INSTITUTE

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ESTADO DO MUNDOInovaes que Nutrem o PlanetaTHE WORLDWATCH INSTITUTE

apoio e realizao:

patrocnio Akatu:

patrocnio WWI:

2 0 1 1

ESTADO DO MUNDOInovaes que Nutrem o PlanetaRelatrio do Worldwatch Institute sobre o Avano Rumo a uma Sociedade Sustentvel

Danielle Nierenberg e Brian Halweil, Diretores de Projeto Royce Gloria Androa Charles Benbrook Marie-Ange Binagwaho Louise E. Buck Roland Bunch Marshall Burke Christopher Flavin Dianne Forte Samuel Fromartz Hans R. Herren Mario Herrero Marcia Ishii-Eiteman Nancy Karanja Anna Lapp Brigid Letty David Lobell Saidou Magagi Serena Milano Anuradha Mittal Mary Njenga Qureish Noordin Sandra L. Postel Chris Reij Andrew Rice Sara J. Scherr Alexandra Spieldoch Tristram Stuart Abdou Tenkouano Ann Waters-Bayer

Linda Stark, Editora Eduardo Athayde, Editor associado

UMA-Universidade Livr e da Mata AtlnticaUMAEditora

Copyright 2010 Worldwatch Institute 1776 Massachusetts Avenue, N.W. Suite 800 Washington, DC 20036 www.worldwatch.org Todos os direitos reservados. Impresso nos Estados Unidos da Amrica. As marcas registradas The STATE OF THE WORLD e Worldwatch INSTITUTE esto registradas no U.S. Patent and Trademark Office. As opinies expressas so as dos autores e no representam, necessariamente, as do Worldwatch Institute, dos membros de seu conselho, de seus diretores, de sua equipe administrativa ou de seus financiadores. A composio do texto deste livro em Galliard, com fonte ScalaSans. Projeto do livro, capa e composio por Lyle Rosbotham; produzido por Victor Graphics. Primeira Edio ISBN 978-0-393-33880-5 W. W. Norton & Company, Inc., 500 Fifth Avenue, New York, N.Y. 10110 www.wwnorton.com W. W. Norton & Company Ltd., Castle House, 75/76 Wells Street, London W1T 3QT

Conselho de Administrao do Worldwatch InstituteTom Crain Presidente do ConselhoESTADOS UNIDOS

Marcel BrenninkmeijerSUA

Akio MorishimaJAPO

James Cameron Robert Charles Friese Vice-Presidente do ConselhoESTADOS UNIDOS REINO UNIDO

Sam Myers, MD, MPHESTADOS UNIDOS

Cathy CrainESTADOS UNIDOS

Ajit NazreESTADOS UNIDOS

Geeta B. Aiyer TesoureiraESTADOS UNIDOS

James DehlsenESTADOS UNIDOS

Izaak van MelleHOLANDA

Nancy Hitz SecretriaESTADOS UNIDOS

Ed GroarkESTADOS UNIDOS

Richard SwansonESTADOS UNIDOS

Satu Hassi Christopher Flavin PresidenteESTADOS UNIDOS FINLNDIA

Wren WirthESTADOS UNIDOS

Jerre HitzESTADOS UNIDOS

Membros Emritos: ystein DahleNORUEGA

Ray AndersonESTADOS UNIDOS

Jeffrey LiptonESTADOS UNIDOS

L. Russell Bennett, AdvogadoESTADOS UNIDOS

Abderrahman Khene ARGLIA

Equipe Administrativa do Worldwatch InstituteRobert Engelman Vice-Presidente de Programas Barbara Fallin Diretora Financeira e Administrativa Christopher Flavin Presidente Gary Gardner Pesquisador Snior Saya Kitasei Pesquisadora de Energia Sustentvel Alex Kostura Assessor de Desenvolvimento Presidente Adjunto Colleen Kredell Gerente de Comunicaes On-line Trudy Loo Diretora de Doaes de Pessoas Fsicas Haibing Ma Gerente de Programa para a China Lisa Mastny Editora Snior Danielle Nierenberg Pesquisadora Snior Alexander Ochs Diretor de Clima e Energia Mary Redfern Diretora de Relaes Institucionais Michael Renner Pesquisador Snior Samuel Shrank Pesquisador de Energia Sustentvel Patricia Shyne Diretora de Publicaes e Marketing Russell Simon Diretor de Comunicao Molly Theobald Pesquisadora

Pesquisadores, Assessores e ConsultoresErik Assadourian Pesquisador Snior Hilary French Pesquisadora Snior Brian Halweil Pesquisador Snior Mia MacDonald Pesquisadora Snior Eric Martinot Pesquisador Snior Bo Normander Assessor Snior para a Europa Corey Perkins Gerente de TI Sandra Postel Pesquisadora Snior Lyle Rosbotham Consultor de Arte e Design Janet Sawin Pesquisadora Snior Damandeep Singh Assessor Snior para a ndia Sharon Solomon Assessora Snior para Desenvolvimento Linda Starke Editora do Estado do Mundo

AgradecimentosO Worldwatch Institute no poderia compilar um livro to ambicioso quanto o Estado do Mundo 2011: Inovaes que Nutrem o Planeta sem uma rede global fantstica de assessores e colaboradores. Nos ltimos dois anos, tentamos entender no apenas as conexes entre fome, pobreza e degradao ambiental, mas tambm solues sustentveis para esses problemas. Durante esse perodo, apresentamos informes sobre nosso aprendizado ao www.NourishingthePlanet.org, compartilhando com nossa crescente rede de leitores no mundo todo as histrias de agricultores, grupos de agricultores, jornalistas, cientistas e doadores. Temos enormes agradecimentos ao Nourishing the Planet (NtP) Advisory Group. Nos ltimos dois anos, eles foram assessores de confiana, mostrando-nos projetos in loco e dando-nos feedback sobre os diferentes elementos constituintes do projeto, incluindo o blog NtP. O Advisory Group conta com as seguintes conceituadas pessoas: Bina Agarwal, Lorena Aguilar, Dave Andrews, Shayna Bailey, Charles Benbrook, Jake Blehm, Louise Buck, Ben Burkett, Olivier De Schutter, Jim DeVries, Amadou Diop, Alan Duncan, Sue Edwards, Tewolde Berhan Gebre Egziabher, Charles Erhart, Cary Fowler, Dennis Garrity, Hans Herren, Jackie Hughes, Dyno Keatinge, Gawain Kripke, Loren A. Labovitch, David Lobell, Luc Mougeot, Mark Muller, Sam Myers, Sudha Nair, Arivudai Nambi, Eliud Ngunjiri, Diamantino Nhampossa, Jan Nijhoff, Tim Ogborn, Thomas Pesek, Jules Pretty, Chris Reij, Raj Rengalakshmi, Mike Robinson, Sara Scherr, Christina Schiavoni, Alexandra Spieldoch, David Spielman, Steve Staal, Abdou Tenkouano, Norman Uphoff, Edith van Walsum, Swarna S. Vepa e Jacob Wanyama. Alm disso, gostaramos de agradecer ao Conselho de Administrao do Worldwatch Institute por seu comando: ao Presidente do Conselho Tom Crain, ao Vice-Presidente do Conselho Robert Charles Friese, Tesoureira Geeta B. Aiyer, Secretria Nancy Hitz, ao Presidente do Worldwatch Christopher Flavin, a Ray Anderson, L. Russell Bennett, Marcel Brenninkmeijer, James Cameron, Cathy Crain, James Dehlsen, Ed Groark, Satu Hassi, Jerre Hitz, Jeffrey Lipton, Akio Morishima, Sam Myers, Ajit Nazre, Richard Swanson, Izaak van Melle e Wren Wirth, e aos membros emritos de nosso Conselho: ystein Dahle e Abderrahman Khene. Infelizmente, Andrew E. Rice, membro do Conselho desde longa data e seu ex-presidente, faleceu em 2010 aps uma batalha corajosa contra um cncer. A paixo inextinguvel de Andy pelo desenvolvimento econmico e social o teria deixado particularmente satisfeito com o foco do Estado do Mundo deste ano. O Estado do Mundo no existiria sem as generosas contribuies financeiras de nossos muitos patrocinadores. Mais de 3.500 Amigos do Worldwatch financiam praticamente um tero do oramento operacional do Instituto. O programa de pesquisa do Worldwatch conta com o patrocnio de um rol de organizaes e fundaes. Somos gratos Bill & Melinda Gates Foundation por seu apoio em nos permitir apresentar relatrios diretamente do campo e por nos auxiliar a fazer com que o Estado do Mundo focasse inteiramente em inovaes queVII

Agradecimentos

ESTADO DO MUNDO 2011

ajudam a aliviar a fome e a pobreza. Nossos agradecimentos especiais vo para Haven Ley e Brantley Browning, nossos diretores de programa na Fundao. Eles nos deram conselhos e estmulo no transcorrer de todo o projeto, e somos profundamente gratos por sua ajuda. Somos tambm gratos a diversas outras fundaes, governos e instituies cujo respaldo no ano passado viabilizou muitos outros projetos do Instituto: a American Clean Skies Foundation; o Apollo Alliance Project, com recursos provenientes das Fundaes Rockefeller e Surdna; a Heinrich Boell Foundation; a Casten Family Foundation; a Compton Foundation, Inc.; o Del Mar Global Trust; a Energy and Environment Partnership with Central America; o Ministrio de Relaes Exteriores do Governo da Finlndia; Sam Gary and Associates, Inc.; o Ministrio do Meio Ambiente, Proteo da Natureza e Segurana da Alemanha; o Richard and Rhoda Goldman Fund e o Goldman Environmental Prize; a Hitz Foundation; a Steven C. Leuthold Family Foundation; o MAP Royalty, Inc. Sustainable Energy Education Fellowship Program; o Marianists of the USA Sharing Fund; a Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership; a Shared Earth Foundation; a Shenandoah Foundation; a Flora L. Thornton Foundation; a Fundao das Naes Unidas; o Fundo das Naes Unidas para Populao; a Wallace Genetic Foundation, Inc.; o Global Fund; o JohanetteWallerstein Institute; e a Winslow Foundation. Nossos agradecimentos vo tambm para a rede internacional de parceiros da publicao que leva o Estado do Mundo a um pblico global. Eles cuidam da assessoria, traduo, divulgao e apoio na distribuio. Temos agradecimentos especiais Universidade Livre da Mata Atlntica, no Brasil; China Environment Science Press, na China; Yliopistokustannus University Press, na Finlndia; Good Planet and Editions de La Martiniere, na Frana; Germanwatch, Heinrich Bll Foundation e OEKOM Verlag GmbH, na Alemanha; Evonymos Ecological Library, naVIII

Grcia; Earth Day Foundation, na Hungria; ao Centre for Environment Education na ndia; ao World Wide Fund for Nature e Edizioni Ambiente, na Itlia; ao Worldwatch Japo; ao Africam Safari, Televis Verde, SEMARNAT e Universidad de las Americas Puebla, no Mxico e na Amrica Latina; Editura Tehnica, na Romnia; ao Worldwatch Norden; ao Center of Theoretical Analysis of Environmental Problems and International Independent University of Environmental and Political Sciences, na Rssia; DOYOSEA-Korea Green Foundation, na Coreia do Sul; ao Centro UNESCO da Catalunha pela verso em catalo e Fundacin Hogar del Empleado e Editorial Icaria pela verso em castelhano, na Espanha; ao Taiwan Watch Institute; ao Turkiye Erozyonla Mucadele, Agaclandima ve Dogal Varliklari Koruma Vakfi, na Turquia; e ao Earthscan, no Reino Unido. O relacionamento editorial mais longo do Worldwatch com a W. W. Norton & Company em Nova York. Graas sua equipe especialmente Amy Cherry, Laura Romain, Devon Zahn e Louise Mattarelliano o Estado do Mundo, Vital Signs e outros livros do Worldwatch conseguiram chegar s livrarias e salas de aula nos Estados Unidos. Nossos leitores contam com o atendimento competente prestado pela equipe do Direct Answer, Inc. Somos gratos a Katie Rogers, Marta Augustyn, Colleen Curtis, Lolita Guzman, Cheryl Marshall, Katie Gilroy, Ronnie Hergett e Valerie Proctor por prestarem um servio de atendimento ao cliente de alta qualidade e atenderem prontamente os pedidos. Os autores do Estado do Mundo deste ano foram favorecidos com a anlise exaustiva por parte de outros colegas, integrantes do Grupo de Assessoria e demais especialistas, bem como de vrios crticos annimos. Thomas Prugh, ex-redador da World Watch Magazine, fez comentrios sobre praticamente todos os captulos, ajudando-nos a dar aos autores recomendaes significativas no estgio inicial de edio. Sophia Murphy e Lisa Mastny, aWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

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Agradecimentos

editora do Worldwatch, contriburam tambm com um exame completo de diversos artigos, auxiliando-nos a prepar-los para a edio final. Os especialistas em alimentos e agricultura Mark Bittman, Chad Dobson, Joan Gusow, Anna Lapp, Francis Moore Lapp, Raj Patel, Michael Pollan e Roger Thurow brindaram generosamente o projeto nas etapas iniciais com sua mestria, indicando-nos pessoas e projetos especficos. Para esta edio do Estado do Mundo, arregimentamos um nmero recorde de pensadores de destaque, apoiadores, jornalistas, agricultores, ativistas e cientistas para ocuparem o lugar de autores e colaboradores. equipe dos exmios e perspicazes autores dos captulos juntou-se um grupo estupendo de acadmicos e jornalistas que contriburam com os artigos curtos que aparecem entre os captulos. Esses artigos DIRETO DO CAMPO descrevem inovaes especficas e organizaes agrcolas que atuam no desenvolvimento da agricultura. Alm disso, vrios outros redatores e pesquisadores elaboraram Quadros para diversos captulos. Entre 2009 e 2010, o projeto Nutrindo o Planeta contou com a ajuda de um grupo surpreendente e brilhante de estagirios. Abby Massey trabalhou com grande zelo nos Captulos 1 e 13 ajudando a rastrear informaes, e foi coautora de um quadro de um dos textos. Abby tambm uma integrante de relevo da equipe do NtP, escrevendo blogs, ajudando a planejar nossas reunies e visitas e trabalhando no banco de dados de inovaes agrcolas. Kristina Van Dexter ajudou no princpio do projeto, e Stephanie Pappas ajudou a encontrar informaes sobre fluxos de financiamento para agricultura. Ronit Ridberg usou seu talento em pesquisa para localizar dados para o Captulo 12, e Alexandra Tung passou o vero levantando estatsticas e inovaes interessantes para os Captulos 4 e 8, alm de ajudar no Captulo 1. Suas contribuies ao Captulo 4 foram particularmente teis autora Sandra Postel. Daniel Kandy ajudou nos Captulos 9, 10 e 15; Matt Styslinger auxiliou no Captulo 7; Vanessa Acara

foi muito til na pesquisa e esboo do Quadro para o Captulo 7; Janeen Madan trabalhou nos Captulos 3 e 14; e Abisola Adekoyo, Elena Davert e Daniel Kane fizeram a verificao factual dos captulos de modo a assegurar que as estatsticas e os dados fossem consistentes em todo o livro. Muitos de nossos autores tambm se beneficiaram da ajuda de seus colegas ou equipe: Chris Reij gostaria de deixar aqui um agradecimento especial aos parceiros da African Regreening Initiatives, no Mali e na Burkina Fasso, e em particular a Mary Allen e Mathieu Ouedraogo; Pay Drechsel deseja agradecer a Philip Amoah, Bem Keraita, Robert Abaidoo, Kwame Nkrumah e Terry Clayton pela ajuda em seu texto sobre irrigao com guas residuais elaborado para DIRETO DO CAMPO. Alm disso, este livro no poderia ter sido escrito se no fosse pelas dezenas de especialistas, acadmicos, jornalistas, mulheres e homens de negcios, motoristas de txi e de nibus, proprietrios de hotis, agricultores e cidados comuns que ofereceram conselhos e ajuda em nossas viagens pela frica subsaariana no ano passado. Nossos agradecimentos especiais vo para as seguintes pessoas: Jules Adjima, Pierluigi Agnelli, Leila Akahloun, Dr. King David Amoah, Stephen Amoah, Dr. Kwasi Ampofo, Festus Annor-Frempong, Emmanuel AntaiTaylor, Raymond Auerbach, Eric Biantuadi, Diallo Bineta, Mark Bittman, Donna Bryson, Madou Camara, Argent Chuula,Maimouna Coulibaly, Madyo Couto, Dr. Rosa da Costa, Matty Demont, Joseph DeVries, Raoul DuToit, Felix Edwards, Bishr El-Touni, Moussa Faye, Gregory Flatt, Mariam Ouattara Gnire, Bill Guyton, Richard Haigh, Rick Hall, Getrude Hambira, Jan Helsen, Dee Hertzberg, Eric Holt-Gimenez, Momodou Mbye Jabang, Chris Johnson, Calestous Juma, Susan Kaaria, Daniel Kamanga, Elizabeth Katushabe, Dr. Charles Kayumba, Sabera Khan,Yacouba Kone, Diana Lee-Smith, Suzanne Lenzer, Mark Lesiit, Dale Lewis, Mia MacDonald, Seck Madieng,IX

Agradecimentos

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Mohamedou Ould Mohamed Mahmoud, Esther Mjoki Maima, Annalisa Mansutti, Sainey Marenah, Santiago Medina, Katlella Abdou Mai Moussa, Rob Munro, Roni Neff, Kristoff e Stacia Nordin, Charles Onyoni Onyando, Osabarima, Nancy Ayesua Out, Fatouma Sophie Outtara, Dov Pasternack, Raj Patel, Steve Power, Charles A. Ray, Jill Richardson, Albert Rouamba, Pap Saine, Assatou Seck, Kamuturaki Seremos, Lindiwe Majele Sibanda, Ruth N. Simwanza, Paul Yempapou Sinandja, Salibo Some, Noel Kokou Tadegnon, Joe Welsh, Mark Wood e Denise Young. Gostaramos tambm de agradecer a Joyce Nierenberg, Stuart Pollack e Barbara Sabbath por aceitarem, tarde da noite, nossas chamadas a cobrar da frica e por seu apoio em geral aos nossos esforos. Encorajada por esses esplndidos financiadores, contatos, amigos, assessores, voluntrios e colegas, a equipe do Worldwatch traz sua prpria dedicao ao Estado do Mundo. O Instituto no teria condies de operar sem a Diretora Financeira e Administrativa Barbara Fallin, que mantm o escritrio funcionando sem percalos h 22 anos. Gostaramos tambm de agradecer a Darcey Rakestraw, gerente de comunicaes do Worldwatch, que saiu do Instituto em 2010 para partilhar sua especializao no Food and Water Watch. Darcey deixou suas funes nas mos extremamente competentes de Julia Tier, que, pouco antes da concluso do livro, saiu do Worldwatch para iniciar uma proeza com ensino de ingls na Tailndia. Ben Block, redator da equipe do Worldwatch e gerente de Internet, tambm trocou o Instituto no outono de 2010 por uma bolsa da Fulbright no Peru. Alm deles, Alice Jasperson, gerente da Vital Signs Online, decidiu deixar seu trabalho de levantamento de dados para trabalhar em El Salvador. E Juliane Diamond deixou o cargo de Assessora de Desenvolvimento e Presidente Adjunta para ir ao encalo de seus interesses na Wildlife Alliance. Molly Theobald, nossa Pesquisadora de Alimentos e Agricultura, juntou-se equipe doX

Nutrindo o Planeta em 2009. Molly foi um pau para toda obra, editando vdeos, escrevendo blogs e tambm contribuindo com dois artigos DIRETO DO CAMPO. No vero de 2010, Amanda Stone, Assistente de Comunicao do NtP, juntou-se a Molly e, desde ento, vem fazendo um trabalho fantstico, dando suporte a reprteres em todo o mundo e aprimorando o perfil da mdia social do NtP via Twitter, Facebook, Tumblr e outras que vm surgindo. Bernard Pollack, parceiro de Danielle e companheiro de viagem, contribuiu com o projeto como consultor em comunicaes do NtP. As discusses preliminares em torno deste livro foram enriquecidas pela participao de vrios integrantes da equipe do Worldwatch, inclusive o Vice-Presidente Robert Engelman, que inspirou o NtP e o Instituto com seu esprito de liderana. Nossos agradecimentos a Patricia Shyne, Diretora de Publicaes e Marketing, por todo o seu trabalho com nossos parceiros no mundo todo, fazendo questo de que as ideias e exemplos do Estado do Mundo fossem disseminados amplamente. Os membros seniores Gary Gardner e Michael Renner tambm nos ofereceram comentrios, recomendaes e sugestes no decorrer da pesquisa e redao do blog e do livro. Nossa equipe de desenvolvimento, que alimenta os vnculos do Worldwatch com seus patrocinadores, respaldou ativamente este livro. Recebemos de bom grado a criatividade de Mary Redfern, Diretora de Relaes Institucionais, e de Trudy Loo, Gerente do Programa Amigos do Worldwatch. Contamos ainda com o reforo do novo Assessor de Desenvolvimento e Presidente Adjunto do Worldwatch, Alex Kostura. Lisa Mastny usou parte do tempo na edio de relatrios do Worldwatch ajustando a cronologia deste livro, que fora compilada por Kelsey Russell, e Alexander Ochs, Erik Assadourian, John Mulrow, Saya Kitasei, Sam Shrank, Amanda Chui e o novo Gerente de Programa para a China do Worldwatch, HaibingWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

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Agradecimentos

Ma, deram conselhos proveitosos em relao aos captulos e outros aspectos do projeto. Corey Perkins e sua equipe de consultores de TI auxiliaram para que o site e o blog do NtP se mantivessem atualizados. Como sempre, somos gratos editora independente Linda Starke, que ajudou os autores a transformar seus ltimos rascunhos em captulos com bom polimento. Esse o vigsimo oitavo ano em que Linda edita o Estado do Mundo, e temos enorme gratido por sua proficincia e dedicao. Alm disso, o designer grfico Lyle Rosbotham transformou rapidamente 15 captulos e diversos artigos curtos dispersos em um livro com fotos de chamar a ateno. A famlia Worldwatch continua a crescer. No ano passado, o Membro Snior e Codiretor de

Projeto do Worldwatch Brian Halweil e sua esposa Sarah deram as boas vindas mais nova aquisio da famlia, Cyrus Halweil. E foi com alegria que Lisa Mastny e seu parceiro Steve Conklin acolheram Elsa famlia. Tanto Cyrus quanto Elsa nos fazem lembrar de nossas esperanas por um mundo mais justo, ambientalmente sustentvel e livre de pobreza e fome. Danielle Nierenberg e Brian Halweil Diretores de Projeto Worldwatch Institute 1776 Massachusetts Ave., NW Washington, DC 20036 www.Worldwatch.org www.NourishingthePlanet.org

ndiceAgradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xvii Olivier De Schutter, Relator Especial das Naes Unidas para o Direito Alimentao Prefcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xx Christopher Flavin, Presidente do Worldwatch Institute Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxiii Kelsey Russell e Lisa Mastny 1 A Construo de um Novo Caminho para Acabar com a Fome . . . . . . . . . . . . . . . 3 Brian Halweil e Danielle NierenbergMensurao de Sucesso no Desenvolvimento Agrcola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

DIRETO DO CAMPO:

2

A Popularizao da Agroecologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Louise E. Buck e Sara J. ScherrInovaes no Cultivo de Arroz em Madagascar . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

DIRETO DO CAMPO:

3

O Potencial Nutritivo e Econmico dos Legumes e Verduras. . . . . . . . . . . . . . . . 27 Abdou Tenkouano

Desenvolvimento de Inovaes para Cultivo em Escolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 DIRETO DO CAMPO: O Fundo para Um Acre Coloca os Agricultores em Primeiro Lugar. . . . . . . . . . . .DIRETO DO CAMPO:

4

Mais Safra por Gota dgua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Sandra L. PostelAproveitamento de gua Pluvial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

DIRETO DO CAMPO:

5

Agricultores Assumem a Liderana em Pesquisa e Desenvolvimento. . . . . . . . . . . 51 Brigid Letty, Qureish Noordin, Saidou Magagi e Ann Waters-BayerComrcio de Gros na Zmbia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58WWW.WORLDWATCH.ORG.BR

DIRETO DO CAMPO:

XII

6

A Crise de Fertilidade do Solo na frica e a Fome que Vem A. . . . . . . . . . . . . . . 59 Roland BunchNovas Variedades de Mandioca em Zanzibar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

DIRETO DO CAMPO:

7

Proteo da Biodiversidade dos Alimentos Locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Serena MilanoAmeaas aos Recursos de Gentica Animal no Qunia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 As Vantagens do Fogo Solar no Senegal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

DIRETO DO CAMPO: DIRETO DO CAMPO:

8

Como Lidar com a Mudana Climtica e Desenvolver Resilincia . . . . . . . . . . . . 83 Uma Abordagem Agnstica Adaptao Climtica, David Lobell e Marshall Burke Investimento em rvores para Amenizar a Mudana Climtica, Chris Reij A crise Climtica em Nossos Pratos, Anna LappUma Revoluo Sempre Verde para a frica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97

DIRETO DO CAMPO:

9

Perdas Ps-Colheita: Uma rea Negligenciada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Tristram StuartTransformar a Pesca do Dia em Melhores Condies de Vida . . . . . . . . . . . . . 108

DIRETO DO CAMPO:

10 A Alimentar as Cidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109 Nancy Karanja e Mary NjengaDIRETO DO CAMPO: DIRETO DO CAMPO:

Estmulo Irrigao Mais Segura com guas Residuais na frica Ocidental . . . . 118 Uma Resposta Agrcola ao Chamado da Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

11 Utilizao do Conhecimento e das Aptides das Agricultoras. . . . . . . . . . . . . . .121 Dianne Forte, Royce Gloria Androa e Marie-Ange BinagwahoDIRETO DO CAMPO: DIRETO DO CAMPO:

O Teatro como Ferramenta de Apoio s Agricultoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 O que uma Tecnologia Adequada? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

12 Investimento em Terras Africanas: Crise e Oportunidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 Andrew RiceDIRETO DO CAMPO:

Melhor Armazenagem de Alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

13 Os Elos Perdidos: Alm da Produo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Samuel FromartzDIRETO DO CAMPO:

Igrejas: Um Papel Muito Alm da Reduo da Fome . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153

14 Aprimorar a Produo de Alimentos Provenientes de Animais. . . . . . . . . . . . . . 155 Mario Herrero, com colaborao de Susan MacMillan, Nancy Johnson, Polly Ericksen, Alan Duncan, Delia Grace e Philip K. ThorntonDIRETO DO CAMPO:

A Criao de Gado de Pequena Escala em Ruanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164XIII

ndice

ESTADO DO MUNDO 2011

15 Um Plano Estratgico para Nutrir o Planeta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Inovaes para Entender Sistemas Complexos, Hans R. Herren Inovaes para Avaliar Projetos de Desenvolvimento Agrcola, Charles Benbrook Inovaes Institucionais para Ajudar as Pessoas e o Planeta, Marcia Ishii-Eiteman Inovaes em Governana, Anuradha Mittal Inovaes em Reforma Poltica, Alexandra Spieldoch Notas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 ndice Remissivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 QUADROS 11 21 31 32 41 51 71 91 Fome no Mundo e Tendncias Agrcolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Exemplos de Agricultura Ecolgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Inovaes em Melhoramento de Espcies: Necessidade e Promessa . . . . . . . . . .. . . .30 Itens Alimentcios Autctones e Mudana Climtica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Hortas Solares: Maior Acesso a Energia, gua e Alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 Disseminao das Inovaes da Etipia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Diversidade no Sistema Alimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Desperdcio de Alimentos na sia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

101 Ampliao dos Limites da Agricultura Urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 111 Investimentos de Capital Social: Uma Inovao para Acabar com a Pobreza . . . . . .123 112 O Envolvimento de Comunidades Produtoras de Cacau no Apoio Autonomia das Mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .125 131 Um Negcio Melhor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .145 132 Servios Bancrios por Telefone . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .151 141 O Controle da Doena de Newcastle nas Aves de Moambique . . . . . . . . . . . . . . . 161 151 P&D em Agricultura: Novas Dinmicas do Setor Pblico-Privado . . . . . . . . . . . . . 170 TABELAS 11 41 Prioridade para a frica Subsaariana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Inovaes de Baixo Custo que Aumentam o Acesso gua e a Eficincia na Agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42WWW.WORLDWATCH.ORG.BR

XIV

ESTADO DO MUNDO 2011

ndice

71

Alguns Alimentos em Risco na frica e Esforos de Salvamento . . . . . . . . . . . . . . . . 77

101 Inovaes que Nutrem as Cidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 121 Investimentos Estrangeiros em Terras Africanas Propostas e Casos Concretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 141 Gado, Subsistncia e Meio Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 FIGURAS 11 21 22 Preos de Alimentos, 19902010. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Elementos de um Sistema de Cultivo de Base Biolgica, com Integrao Solo-Planta-Animal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Aumento da Produo em Propriedade Agrcola e Proteo da Floresta e da Vida Selvagem em Paisagens Agrcolas de Alta Densidade Demogrfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 A Gesto de gua Azul e gua Verde em Paisagens Agrcolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Porcentagem de Terras Cultivadas e Irrigadas. Regies Selecionadas e Mundo, cerca de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Crescimento Econmico Anual e Variaes da Precipitao Mdia Mensal no Nger, 1961-2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Perdas Estimadas, Converses e Desperdcio na Cadeia de Alimentos Mundial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

23 41 42 91

101 Famlias Urbanas que Participam de Atividades Agrcolas / Alguns Pases . . . . . . . .112 131 Produo de Milho e rea Plantada na Zmbia, 2002-2010. . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 132 rea de Milho Plantado e Colhido e Rendimento Total na Zmbia, 2002-2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .147

XV

IntroduoOlivier De Schutter Relator Especial das Naes Unidas para o Direito AlimentaoVivemos em um mundo em que produzimos mais alimentos do que jamais o fizemos e onde os famintos nunca foram tantos. H um motivo para isso: durante muitos anos nosso foco foi no aumento da oferta de alimentos, ao mesmo tempo em que negligenciamos tanto os impactos distributivos da produo de alimentos, quanto seus impactos ambientais de longo prazo. Tivemos xito notvel no aumento do rendimento. No entanto, precisamos agora perceber que mesmo tendo condies de produzir mais, no somos capazes de afrontar a fome ao mesmo tempo; que aumentos em rendimento embora uma condio necessria para aliviar a fome e a desnutrio no so uma condio suficiente; e que medida que incrementamos de modo espetacular os nveis gerais de produo durante a segunda metade do sculo 20, criamos as condies para um desastre ecolgico de grandes propores no sculo 21. Esse pensamento parte do motivo pelo qual a luta global contra a fome e a desnutrio vem se calcando cada vez mais, desde a Cpula Mundial de Alimentao de 1996, no direito alimentao adequada. Em 2000, as Naes Unidas instituram o cargo de Relator Especial para o Direito a Alimentao, cujo papel atualiz-la sobre o avano ou falta dele rumo eliminao da fome. E em 2004, alguns governos acordaram em dar apoio concretizao progressiva do direito alimentao adequada no contexto de segurana alimentar nacional. Esses desdobramentos so evidncias da convico da comunidade internacional de que precisamos atacar o problema da fome global no apenas como uma questo de produo, mas tambm como uma questo de marginalizao, que aprofunda desigualdades e injustia social. O direito alimentao busca aumentar a definio de responsabilidades e assegurar que os governos no confundam o desafio do combate fome e desnutrio com aumento de rendimento. Mas a responsabilizao tambm uma ferramenta para se exigir que as polticas pblicas sejam pautadas pelas necessidades daqueles que se encontram na base da escada social e que essas polticas sejam permanentemente testadas e, quando necessrio, revistas. Em um mundo com mudanas e complexidades crescentes, o aprendizado torna-se vital para polticas pblicas slidas um aprendizado que reveja nossos valores e premissas, os prprios paradigmas sob os quais trabalhamos e nossos modos de ordenar os problemas. Em termos de polticas agrcolas e alimentares, trs importantes fatos fazem com que esse aprendizado seja no apenas urgente, mas indispensvel. Em primeiro lugar, percebemos a fragilidade de nossos atuais sistemas alimentares. Em consequncia do crescimento demogrfico e da falta de investimento na agricultura em diversos pases em desenvolvimento, especialmente na frica subsaariana, a dependncia dos mercados internacionais vivida por muitos pases est aumentando de modo significativo. Isso representa um pesado nus, em especial quando os preos disparam em virtude de bolhas especulativas que se formam nos mercados de commodities agrcolas e, em particular, porque contas mais altas de alimentos esto, quase sempre, vinculadas a preos mais elevados de combustvel.XVII

Introduo

ESTADO DO MUNDO 2011

Em segundo lugar, h evidncias crescentes de que a mudana climtica afetar de modo expressivo a produo agrcola. De fato, a mudana climtica j est ameaando a capacidade de regies inteiras, particularmente aquelas com agricultura de sequeiro, manterem os nveis anteriores de sua produo agrcola. De acordo com o Programa de Desenvolvimento da ONU, possvel que o acrscimo do nmero de pessoas sob o risco de fome chegue a 600 milhes at 2080, como um resultado direto da mudana climtica. Na frica subsaariana, estima-se que as reas ridas e semiridas aumentaro em 60 a 90 milhes de hectares, e o Painel Intergovernamental sobre Mudana Climtica avalia que na frica do Sul, os rendimentos da agricultura de sequeiro podem vir a ser reduzidos metade entre 2000 e 2020. As perdas na produo agrcola em vrios pases em desenvolvimento poderiam ser parcialmente compensadas por ganhos em outras regies, mas o resultado geral seria um decrscimo de, no mnimo, 3% na capacidade produtiva nos anos 2080, e de at16% se a previso dos efeitos da fertilizao com carbono (um aumento de rendimento devido concentrao mais alta de dixido de carbono na atmosfera) no se concretizar. Em terceiro lugar, como assinalado antes, entendemos agora que o aumento da produo de alimentos e a erradicao da fome e da desnutrio so objetivos muito diferentes talvez, complementares, mas no necessariamente vinculados. Foi necessrio que transcorresse o tempo de uma gerao para se entender que o pacote da Revoluo Verde composto por irrigao, mecanizao, variedade de sementes com alto rendimento e fertilizantes qumicos talvez precise ser reconsiderado em termos fundamentais para que seja mais sustentvel social e ambientalmente. Em 80% dos estudos sobre a Revoluo Verde nos ltimos 30 anos, os pesquisadores que levaram em considerao o aspecto da igualdade concluram que a desigualdade aumentou em consequncia da mudana tecnolgica.XVIII

A Revoluo Verde no chegou aos agricultores mais pobres que trabalhavam nos solos mais marginais. Ela ignorou em boa dose as mulheres, porque mulheres tinham menos acesso a crdito do que homens, eram menos favorecidas por extenso rural e no podiam arcar com os insumos que alimentavam a evoluo tecnolgica. Isso no raro fazia com que agricultores sem recursos dependessem de insumos externos caros. Ela mudou formas de produo com uso de mo de obra intensiva para um modelo agrcola com uso intensivo de capital e, diante da ausncia de trabalhos alternativos, acelerou o xodo rural. Algumas concluses claras surgem de todas essas evidncias. Precisamos aumentar a resilincia dos pases em particular, a dos pases pobres e importadores de alimentos em face dos preos cada vez mais altos e volteis nos mercados internacionais. Devemos estimular modos de produo agrcola que sejam mais resistentes mudana climtica, o que significa que precisaro ser mais diversificados e usar mais rvores. Precisamos de um tipo de agricultura que atenue a mudana climtica. E precisamos desenvolver a agricultura de formas que contribuam com o desenvolvimento rural, criando postos de trabalho nas propriedades agrcolas, mas tambm fora delas na zonas rurais, e proporcionando receitas condizentes para os agricultores. O reconhecimento de tudo isso transpe, de modo geral, fronteiras ideolgicas e geogrficas. O desafio, no entanto, extrair os ensinamentos desses trs fatos em conjunto, e no trat-los em separado. Felizmente, o Estado do Mundo 2011 mostra que existem alternativas capazes de trazer uma resposta. A capacidade de os pases em desenvolvimento proverem a prpria alimentao pode ser aperfeioada com o respaldo produo agrcola que respeita o meio ambiente e favorece os pobres em reas rurais. As perspectivas agrcolas afastamse da tendncia do sculo 20 que reduzia a natureza a seus elementos separados e, ao contrrio, passam a reconhecer a complexidade da produo de alimentos, enxergando a plantaWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

ESTADO DO MUNDO 2011

Introduo

em relao a ecossistemas. Elas recompensam a inventividade de agricultores que agora deixam de ser beneficirios passivos de conhecimento cultivado em laboratrios, convertendo-se em coinventores do conhecimento de que necessitam. A agroecologia geralmente se caracteriza por baixo uso de insumos externos, o que limita sua dependncia de fertilizantes e pesticidas de alto custo. Insumos como esterco ou composto so, em boa parte, produzidos em mbito local, e quando se usam plantas ou rvores leguminosas para fertilizar os solos, a diversidade no terreno ajuda a fazer com que esses sistemas sejam autossustentveis. Quase sempre as tcnicas agroecolgicas impem um vnculo estreito entre o agricultor e a terra e podem, assim, empregar mo de obra intensiva. Mas, trata-se de um ativo, e no de um passivo: a criao de postos de trabalho em zonas rurais pode beneficiar o desenvolvimento rural, especialmente se aliada ao incentivo de capacitao no processamento de alimentos agrcolas e ao aumento de trabalho fora das propriedades agrcolas. Contudo, sistemas que se amparam primordialmente em insumos produzidos em mbito local, nos conhecimentos especializados de agricultores e em modos sustentveis de produo no prosperaro sem polticas pblicas fortes que estimulem esse tipo de mudana. Modos agroecolgicos de produo podem ser altamente produtivos por hectare e so bastante eficientes no uso que fazem de recursos naturais. No entanto, como em geral utilizam mo de obra intensiva, no tm condies de competir com facilidade com formas de produo em larga escala, altamente mecanizadas e com uso intensivo de capital. Sem um forte apoio do Estado, eles no se mantm. Os governos tm meios de amparar esses sistemas, priorizando a agricultura sustentvel em programas de licitaes pblicas ou oferecendo incentivos fiscais que taxem as externalidades produzidas por lavouras com alta mecanizao

em larga escala e recompensem a produo que contribua com a reduo da pobreza e com a sustentabilidade ambiental. E os governos tm ainda um papel no sentido de prover os bens pblicos necessrios expanso da agroecologia: extenso rural que atue em conjunto com a transmisso de conhecimento que passa de um agricultor para outro; instalaes para armazenamento e infraestrutura que aproxime agricultores de consumidores, permitindo assim que os agricultores dispensem intermedirios; a organizao de cooperativas de agricultores que os ajudem a aumentar seu poder de negociao, atingir algumas economias de escala na industrializao e marketing e aumentar o ritmo de aprendizado entre si. Quando os governos estiverem mal equipados para exercer essas funes ou negligenciarem suas obrigaes, o setor privado deve ser conscientizado de suas prprias obrigaes de no aprofundar ainda mais nossa dvida com o futuro. A plena concretizao do direito alimentao, o que inclui uma dimenso de sustentabilidade, no pode simplesmente ser deixada para os mecanismos do mercado. Ela exige a presena do Estado, e exige ainda que faamos um investimento em mecanismos de responsabilizao e no acompanhamento de resultados que aprimorem a governana pblica. por isso que eu incito os governos a implantar estratgias nacionais para a realizao do direito alimentao, apoiando-se nas Diretrizes Voluntrias da Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao. Afinal de contas, o direito humano alimentao no tem apenas um valor simblico. Ele diz respeito a uma obrigao legal e a uma estrutura operacional. O direito alimentao deve abarcar leis, polticas e programas de segurana alimentar. Ele complementar o modelo de desenvolvimento agrcola esboado neste texto e neste livro e poder garantir que estejamos no caminho certo do combate fome.

XIX

PrefcioChristopher Flavin Presidente do Worldwatch InstituteA onda de calor que varreu o oeste da Rssia no vero de 2010 parecia, num primeiro momento, uma crise local. As temperaturas subiram para 40 C ou mais por vrias semanas, fazendo com que Moscou parecesse Dubai. Uma populao que, de modo geral, no dispe de ar-condicionado, sofreu com as temperaturas sufocantes. As condies se deterioraram mais ainda quando a onda de calor causou incndios florestais de grandes propores, destruindo bairros suburbanos e deixando os moscovitas se asfixiarem com a densa fumaa por mais de uma semana. Antes de a calamidade ter chegado ao fim, o primeiro-ministro Vladimir Putin assumiu os comandos de um avio para apagar incndios, em um esforo teatral para mostrar que o governo no havia perdido o controle da situao. Para outras partes do mundo, o clima atpico na Rssia pareceu inicialmente um espetculo televisivo, at ficar claro que a onda de calor e a seca que a acompanhou haviam devastado a lavoura de trigo do pas. Depois de alguns dias, as autoridades russas anunciariam a suspenso das exportaes de trigo, o que imediatamente disparou os preos mundiais em mais de 30%, com efeitos diretos sobre o mercado do milho, da soja e demais mercados mundiais de alimentos. Esse segundo aumento vertiginoso nos preos mundiais de alimentos em apenas dois anos foi um duro lembrete da vulnerabilidade de um sistema alimentar mundial que se esfora para dar de comer a cerca de 6,9 bilhes de pessoas em meio a uma srie de limites ambientais e um clima mundial cada vez maisXX

instvel. As linhas de frente desta crise agrcola esto ocupadas pelas 925 milhes de pessoas subnutridas no mundo muitas das quais crianas morando na frica e sul da sia que enfrentam a perspectiva de verem suas vidas ainda mais precrias nos prximos meses. Ironicamente, a agricultura mundial foi, em alguns aspectos, uma histria de sucesso impressionante nas ltimas dcadas. Os esforos para o aumento da produo das culturas atravs do investimento em novas tecnologias e infraestrutura agrcolas alcanaram muitos de seus objetivos imediatos. A produtividade aumentou de modo constante entre os principais produtores de gros, como Austrlia e Estados Unidos, ao mesmo tempo em que vastas reas da sia, incluindo a China, vm tendo xito no aumento do rendimento e, portanto, na reduo de pobreza rural e fome. Mas isso apenas parte da histria. A agricultura avanou pouco em boa parte do sul da sia e na frica subsaariana, onde os governos nacionais e a comunidade internacional investiram pouco nas ltimas dcadas. A inexistncia de incentivo agricultura em algumas das regies mais pobres do mundo impossibilitou que as economias rurais se desenvolvessem, deixando centenas de milhes de pessoas estagnadas em um ciclo de pobreza. A agricultura propicia trabalho para 1,3 bilho de pequenos agricultores e trabalhadores sem terra, sendo a principal fonte de subsistncia para perto de 85% dos 3 bilhes que integram o contingente rural em pases em desenvolvimento. Um melhor futuro para eles depender em boa medida do que acontecerWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

ESTADO DO MUNDO 2011

Prefcio

nas propriedades agrcolas nas reas mais desprovidas do mundo. At recentemente, a maioria dos gestores de polticas pblicas acreditava que o nico caminho para o progresso da agricultura na frica era repetir a Revoluo Verde fornecer mais sementes produtivas e fertilizantes, aumentando assim o rendimento. Trata-se de uma frmula sedutoramente simples, mas, em muitos casos, ela no funcionou. As sementes e fertilizantes so, quase sempre, muito caros para a maioria dos agricultores pobres, ou simplesmente difceis de obter. E os benefcios de muitos desses projetos vo para um pequeno nmero de grandes fazendeiros que tm condies de produzir alimentos em abundncia, mas pouco fazem para estimular o desenvolvimento rural. Felizmente, a ideia de que a fome mundial pode ser eliminada apenas com dinheiro e tecnologia est sendo desacreditada, no s em funo de suas deficincias, mas pela evidncia alentadora de que novos enfoques para a construo de um sistema agrcola sustentvel e nutritivo podem, de fato, complementar ou substituir as inovaes encontradas na caixa de ferramentas agrcolas padro. Isso particularmente verdadeiro na frica subsaariana, onde milhares de pequenos agricultores esto se valendo da antiga sabedoria cultural e aliando esses ensinamentos a novas tecnologias inteligentes para a produo de alimentos em abundncia, sem com isso devastar o solo local e o ecossistema global. Essa a histria deste livro e do projeto Nutrindo o Planeta, do Worldwatch. Durante 2009 e 2010, a codiretora de projeto Danielle Nierenberg viajou por 25 pases africanos, visitando agricultores e aprendendo sobre seu sucesso com tudo, de irrigao por gotejamento a horticultura em telhados, sistemas agroflorestais e novas tcnicas para proteo do solo. Em Washington, nossa equipe de pesquisadores tem usado a Internet para localizar e analisar uma ampla gama de projetos agrcolas inovadores e passado essas informaes adiante

para um pblico crescente, dia a dia, de leitores do blog Nutrindo o Planeta, visitantes do YouTube e seguidores do Twitter. O quadro por eles pintado animador. Embora nossa tendncia seja a de pensar a inovao em termos da ferramenta de busca ou do videogame mais recentes, os agricultores pobres da frica esto demonstrando que a inovao est ocorrendo em algumas das comunidades mais pobres do mundo e que isso poder ter um impacto maior sobre as pessoas e o planeta do que a mais hightec das inovaes. Ao oferecer capacitao a pequenos agricultores particularmente s mulheres, que dominam a agricultura na frica com inovaes simples, mas transformadoras, possvel uma mudana rpida e produtiva. Se mesmo uma pequena frao dos recursos hoje dispendidos em pecuria intensiva nos Estados Unidos e em plantaes de soja no Brasil fosse investida em pequenas propriedades agrcolas, o mundo no estaria fazendo um avano to tmido para alcanar o objetivo das Naes Unidas de reduzir a fome pela metade at 2015. As questes envolvidas ao se tratar dos problemas agrcolas mundiais vo muito alm do problema imediato da fome. Numa poca em que o mundo comea a deparar-se com os limites de terra arvel e de gua em muitas reas, aumentar a produtividade agrcola ser ainda mais essencial para se atender s necessidades alimentares do que jamais o foi no passado. E petrleo barato deixar de ser o substituto fcil para recursos renovveis degradados como foi no sculo 20. por isso que so to empolgantes as inovaes como as que utilizam plantas de cobertura como adubo natural ou os biocombustveis produzidos localmente para substituir combustvel diesel. A agricultura tem tambm enorme impacto no mundo da natureza. Muitas das inovaes descritas neste livro podem reverter o dano que a produo de alimentos quase sempre causa gua e aos solos e aos ecossistemas dos quais todos ns dependemos.XXI

Prefcio

ESTADO DO MUNDO 2011

A economia alimentar mundial est tambm no centro dos problemas ambientais globais. A agricultura de hoje, com sua forte dependncia de combustveis fsseis, no s contribui para o aquecimento global parte do carbono hoje presente na atmosfera esteve antes infiltrado em camadas profundas dos solos das pradarias da Amrica do Norte e da Europa Central como corre srio risco em um clima mutante. O vero de 2010 foi o mais quente j registrado, e dizem os cientistas que os eventos climticos extraordinrios que o acompanharam, incluindo as inundaes 2.000 km ao sul de Moscou, no Paquisto, inundando 567.000 ha de ricas terras cultivveis teriam sido improvveis sem o aumento de 30% na concentrao de dixido de carbono na atmosfera ocorrido desde a Revoluo Industrial. Uma notcia animadora comunicada claramente pelas inovaes agrcolas documentadas neste livro que novos modos de ver a agricultura podem contribuir com um leque de prioridades de desenvolvimento, da proteo de abastecimentos de gua doce ameaados restaurao de reas de pesca e desacelerao da mudana climtica. A inovao agrcola contribui ainda para a melhora da sade humana, no apenas por alimentar os mais pobres do mundo, mas

tambm por reduzir a epidemia de obesidade que se alastra do mundo rico para o mundo pobre. Foi um prazer enorme ter como parceiro a Bill & Melinda Gates Foundation nesse literalmente revolucionrio projeto Nutrindo o Planeta. Ao aliarmos o compromisso da fundao com o aumento da produtividade agrcola ao nosso foco em encontrar perspectivas ambientalmente sustentveis, estamos construindo uma nova ponte que poder abrir um futuro melhor para centenas de milhes de agricultores pobres na frica e em outras partes. A nutrio das pessoas e a nutrio do planeta esto hoje inextrincavelmente vinculadas, e so essenciais para nosso futuro. Esperamos que o Estado do Mundo 2011 contribua para que se pense de modo mais sistmico e mais radical sobre o futuro do sistema alimentar. Precisamos nos livrar de verdades simples como quanto maior, melhor e evitar a busca de solues mgicas para problemas complexos. Se fizermos isso, a agricultura poder uma vez mais ser um centro de inovao humana e os objetivos de acabar com a fome e criar um mundo sustentvel estaro um pouco mais perto do que esto hoje.

XXII

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Estado do Mundo: Um Ano em RetrospectoCompilado por Kelsey Russell e Lisa Mastny

A cronologia a seguir contempla alguns anncios e relatrios significativos de outubro de 2009 a setembro de 2010. Trata-se de uma combinao de avanos, retrocessos e tropeos no mundo todo que esto afetando a qualidade ambiental e o bemestar social. Os acontecimentos na cronologia foram escolhidos para elevar o grau de conscincia das conexes entre as pessoas e os sistemas ambientais dos quais elas dependem.

XXIII

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

ESTADO DO MUNDO 2011

SADE Cerca de 1.000 crianas na maior rea de fundio de chumbo na China apresentam resultado de teste positivo para nveis de chumbo em excesso devido poluio industrial.

Brooke et al, NOAA OE 2005/ Marine Photobank

ESPCIES AMEAADAS DE EXTINO Dados sobre apreenses mostram que o comrcio ilcito de marfim aumentou bruscamente em 2009, sugerindo o crescente envolvimento do crime organizado. SISTEMAS MARINHOS Estudo constata que a mudana climtica est alterando ecossistemas marinhos a mais de 2.000 m abaixo da superfcie, afetando o abastecimento de animais do fundo do mar.

CLIMA China anuncia meta de reduo da intensidade de carbono da economia entre 40%-50%, at 2020, comparativamente aos nveis de 2005.

O U T U B R O

N O V E M B R O

20092 4 6 8

ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

Casa Branca

CLIMA Pesquisa constata que a parcela de americanos que acredita haver evidncias consistentes de que a Terra est aquecendo diminuiu bruscamente, de 71% em 2008 para 47% em 2009.Obama aceitando o Prmio Nobel

ALIMENTOS Participantes da Cpula Mundial sobre Segurana Alimentar realizada em Roma renovam o compromisso para acabar com a fome e enfatizam o papel central da agricultura para alimentar 1 bilho de subnutridos do planeta.

GOVERNANA O presidente norte-americano Obama ganhador do Prmio Nobel da Paz por seus esforos para o fortalecimento da diplomacia internacional e pelo posicionamento frente mudana climtica.

PRODUTOS TXICOS Cientistas americanos encontram concentraes de produtos qumicos txicos, como mercrio e PCBs, em amostras de tecidos de peixes de lagos e reservatrios em 47 estados.

Crescimento sobre peixe da famlia dos sugadores

XXIV

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EPA

Eu adoro rvores

CLIMA O Projeto de Reflorestamento da Bacia do Nilo, em Uganda, a primeira iniciativa de reflorestamento na frica a contemplar redues de emisso nos termos do Protocolo de Kyoto.

ESTADO DO MUNDO 2011

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

CLIMA Na histrica Conferncia do Clima em Copenhague, Brasil, China, ndia, frica do Sul e Estados Unidos firmam acordo no vinculante de reduo de emisses de dixido de carbono.

TRANSPORTES Grupo do setor diz que o Toyota Prius foi o carro mais vendido do Japo em 2009, marcando a primeira vez em que um veculo hbrido sobressai no faturamento anual de automveis.

D E Z E M B R O

J A N E I R O

20102 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

DESASTRES NATURAIS ONU informa que 36 milhes de pessoas foram deslocadas por desastres naturais em 2009, sendo que mais de 20 milhes foram foradas a se mudar em virtude de fatores relativos mudana climtica.

CONSUMO Washington, DC, implanta um imposto da sacola obrigando o comrcio que vende alimentos ou lcool a cobrar 5 centavos por cada sacola descartvel de papel ou plstico.

TRANSPORTES Relatrios afirmam que, em 2009, os americanos desfizeram-se mais de automveis do que compraram medida que a recesso reduzia a demanda, e algumas cidades importantes expandiram servios de transporte de massa.

DESASTRES NATURAIS O Haiti vive seu pior terremoto em mais de 200 anos, um tremor de magnitude 7, deixando mais de 250.000 pessoas mortas e 1 milho de desabrigados.

Terremoto em LAquila, Itlia

XXV

Toyota

AGRICULTURA Na ocasio do aniversrio do Slow Food, 1.000 comunidades de 120 pases participam de eventos de incentivo diversidade agrcola e produo sustentvel de alimentos.

ECOSSISTEMAS MARINHOS Massachusetts o primeiro estado americano a criar um plano abrangente para a proteo de recursos marinhos.

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

ESTADO DO MUNDO 2011

BIODIVERSIDADE Mais de 100 pases assinam um novo acordo da ONU visando proteo de sete espcies migratrias contra ameaas, inclusive pesca ilegal, poluio e mudana climtica.

Caa ilcita de lmure, Madagascar

ESPCIES AMEAADAS DE EXTINO Cientistas informam que cerca da metade das 634 espcies de primatas no mundo correm risco de extino devido a desmatamento, comrcio ilegal e caa para trfico.

ENERGIA Estudo relata que o Oriente Mdio e a regio do norte da frica tm potencial para gerar mais do que o triplo da atual demanda mundial de energia, se seu setor de energia renovvel for desenvolvido.

BIODIVERSIDADE Cientistas informam uma queda de 26 % nos lemingues, caribus e outras espcies de vertebrados da regio rtica entre 1970 e 2004, em parte devido a temperaturas mdias mais quentes.

F E V E R E I R O

M A R O

20102 4 6 8

ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

ALIMENTOS O Secretrio-Geral das Naes Unidas destaca o papel vital de pequenos agricultores e produtores rurais na produo global de alimentos e faz um apelo para parcerias novas e diversificadas para a superao da fome e da pobreza.

ENERGIA Empresa canadense bem-sucedida na captura de emisses de dixido de carbono provenientes de uma fbrica de cimento, utilizando-as para a produo de algas ricas em nutrientes, um marco para biocombustveis avanados.

TRANSPORTES Estudo mostra que a produo global de carros e caminhonetes caiu 13% em 2009, o segundo ano consecutivo nesse tipo de queda.

Bernard Pollack

GUA Os nveis do curso do rio Mekong, na sia, atingem baixas recordes, trazendo ameaas ao abastecimento de gua, navegao e irrigao para milhes de pessoas na Tailndia, no Laos e na China.Fbrica de cimento Colheita de banana na frica

XXVI

Charles Dawley

DESASTRES NATURAIS O sul da China sofre sua pior seca em dcadas, o que levou escassez de gua e a perdas nas lavouras, afetando 51 milhes de pessoas.

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ESTADO DO MUNDO 2011

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

Patrick Kelley, Marinha dos EUA

CLIMA Cientistas relatam que o degelo de permafrost no hemisfrio Norte capaz de liberar tanto xido nitroso quanto o que liberado pelas florestas tropicais, uma fonte expressiva de gases de efeito estufa.

POLUIO Uma plataforma de petrleo da British Petroleum explode no Golfo do Mxico, matando 11 operrios e despejando aproximadamente 5 milhes de barris de petrleo durante 3 meses o maior derramamento de petrleo da histria.

ENERGIA No maior projeto de crdito de carbono, a ndia promete substituir 400 milhes de lmpadas incandescentes por CFLs, evitando emisses de 40 milhes de toneladas de dixido de carbono.

CLIMA Perto de 60 pases assumem o compromisso de despender mais de US$ 4 bilhes ao longo de 3 anos em uma nova parceria para Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao Florestal.

rea devastada em Vancouver Island

A B R I L

M A I O

2

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26

28

30

anj ci

CLIMA O governo norte-americano regula emisses de gases de efeito estufa provenientes de grandes fontes estacionrias, incluindo refinarias de petrleo e usinas eltricas movidas a carvo, responsveis por 70% das emisses do pas.

FLORESTAS Diversos participantes criam a Aliana para a Legalidade Florestal com o intuito de reduzir a demanda global por produtos florestais cultivados ilegalmente e de apoiar a produo de madeira e papel legais.

DESASTRES NATURAIS Cinzas de um vulco na Islndia afetam viagens areas na Europa, causando a perda de milhes de dlares em exportaes africanas de alimentos e flores devido reteno de aeronaves de carga em solo.

ENERGIA O governo norteamericano aprova projeto de US$ 1 bilho em Cape Wind, na costa de Massachusetts, o primeiro parque elico em alto-mar no pas.

Walter Siegmund

SISTEMAS ECOMARINHOS Estudo informa que o confinamento de reas de pesca e a regulamentao do uso de equipamentos de pesca podem resultar em pescas mais lucrativas e que reforcem a renda dos pescadores.

XXVII

TJ Watt

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

ESTADO DO MUNDO 2011

IFAD/Franco Mattioli

ENERGIA O UNEP (Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente) informa que em 2009, a China ultrapassou os EUA na condio de pas com o maior investimento em desenvolvimento e tecnologia de energia limpa.

CLIMA Agncia da Europa relata que 27 pases da Unio Europeia registraram em 2008 o quinto ano consecutivo de quedas de emisses, com 11% a menos de gases de efeito estufa do que em 1990.

Bombeando gua na Etipia

GUA O ndice de segurana hdrica de 165 pases constata que 10 deles, inclusive cinco na frica, correm risco extremo devido escassez de gua doce e limpa.

BIODIVERSIDADE Rssia anuncia planos para criar 9 novas reservas naturais e 13 parques nacionais at 2020, expandindo em 3% as reas protegidas de seu territrio.

GUA A Assembleia Geral da ONU declara o acesso a gua limpa e saneamento um direito humano, expressando grande preocupao com o fato de que perto de 900 milhes de pessoas no tm aceso a gua potvel segura.

J U N H O

J U L H O

20102 4 6 8

ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

FLORESTAS Cientistas relatam que o desmatamento na Amaznia brasileira est criando um habitat melhor para mosquitos, tendo acarretado aumento de 48% em casos de malria em um dos municpios examinados.

CLIMA Agncia norte-americana informa que junho 2010 foi o 304 ms consecutivo com temperaturas acima da mdia, bem como o ms de junho mais quente registrado desde que teve incio esse tipo de registro, em 1880.

GOVERNANA UNESCO retira Ilhas Galpagos de sua lista de patrimnio mundial ameaado, mencionando aes enrgicas por parte do Equador para mitigar ameaas vindas do turismo, imigrao e espcies invasoras.

ENERGIA Relatrio afirma que a Itlia ultrapassou os Estados Unidos em instalaes solares fotovoltaicas em 2009, passando a ser o segundo maior mercado mundial de PV depois da Alemanha.

DESASTRES NATURAIS A pior onda de calor na Rssia em 130 anos destri cerca de 10 milhes de hectares de culturas, levando declarao de estado de emergncia em 17 regies.

XXVIII

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ESTADO DO MUNDO 2011

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

CLIMA Pesquisadores alemes relatam que as emisses globais de dixido de carbono caram 1,3% em 2009 a primeira queda dessa proporo em uma dcada devido recesso econmica e aos investimentos em energia renovvel. GUA Especialistas em gua afirmam que padres errticos crescentes de precipitao pluvial vinculados mudana climtica trazem ameaa de grandes propores para a segurana alimentar e o crescimento econmico, particularmente na frica e na sia.

Yashi Wong

ALIMENTOS A ONU informa que o nmero de pessoas famintas no mundo caiu para 925 milhes, abaixo da cifra de 1,02 bilho em 2009, ainda assim, inaceitavelmente alto.

Arte de mosteiro em Myanmar

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CLIMA Uma ilha de gelo quatro vezes maior do que o tamanho de Manhattan desprende-se da Groenlndia para os cientistas, a maior perda glacial do rtico desde 1962.

ESPCIES AMEAADAS DE EXTINO Cientistas informam que mais de 40% das espcies de tartaruga de gua doce do planeta esto ameaadas de extino devido destruio de habitat, caa e ao comrcio lucrativo com animais de estimao. ALIMENTOS Pesquisadores afirmam que a distribuio de novas variedades de milho resistentes seca para agricultores africanos poderia economizar mais de US$ 1,5 bilho e impulsionar o rendimento em at 25% at 2016. ECOSSISTEMAS MARINHOS Pesquisadores dizem que a pesca predatria subtraiu da indstria de alimentos no mnimo US$ 36 bilhes anuais e impediu que cerca de 20 milhes de pobres recebessem nutrio adequada anualmente.

ENERGIA O maior parque elico em alto-mar do mundo inaugurado na costa sudeste do Reino Unido, com 100 turbinas e 300 megawatts de capacidade geradora, o suficiente para alimentar mais de 200.000 famlias no pas.

NASA

Geleira na Groenlndia

XXIX

Phil Hollman

IFAD/David Rose28

ESPCIES AMEAADAS DE EXTINO Myanmar afirma que ir triplicar sua Reserva para Tigres no Hukaung Valley, que passar a ter 17.477 km2, sendo assim a maior reserva mundial de tigres.

DESASTRES NATURAIS Inundaes causadas por mones submergem um quinto do Paquisto, matando perto de 1.600 pessoas e afetando 6,5 milhes, naquilo que analistas chamam de o pior desastre natural registrado atribuvel mudana climtica.

2 0 1 1

ESTADO DO MUNDOInovaes que Nutrem o Planeta

IFAD/HorstWagner

Membro de um grupo de mulheres rega uma plantao de repolho, Zimbbue

A Construo de um Novo Caminho para Acabar com a FomeBrian Halweil e Danielle Nierenbergo longo da orla do rio Gmbia, um grupo de mulheres conseguiu um raro feito na reduo da fome em suas comunidades. Esse sucesso gira em torno de um molusco de gua salgada. Para aumentar a renda e resguardar uma fonte de alimento, as 15 comunidades da Associao Feminina de Catadoras de Ostras, que conta com quase 6.000 pessoas, concordaram em fechar um afluente no territrio de ostras por um ano inteiro e prolongar o tempo da estao fechada em outras reas.1 Essas medidas foram difceis no curto prazo, mas na estao seguinte as ostras estavam maiores, bem como o preo imposto por elas. Os clientes, principalmente outros comerciantes locais ou

A

mulheres querendo preparar ostras fritas para oferecer s suas famlias uma refeio deliciosa e repleta de protena, at agora, tm estado dispostos a pagar um pouco mais por isso. Ao mesmo tempo, as catadoras, muitas delas imigrantes de naes prximas e gente dentre os mais pobres da Gmbia, tambm ensaiam a restaurao de manguezais, e esto construindo incubadoras para incrementar ainda mais os estoques silvestres, de olho no mercado de luxo de hotis e restaurantes que atendem turistas.2 Ostras no so exatamente o alimento que nos vem a mente quando pensamos em como acabar com a fome e a pobreza no mundo. Afinal, de acordo com o ltimo relatrio da Organizao das Naes Unidas para Agricultura3

A Construo de um Novo Caminho para Acabar com a Fome

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Quadro 11. Fome no Mundo e Tendncias AgrcolasEm setembro de 2010, a FAO publicou seu ltimo relatrio sobre a fome, revelando que 925 milhes de pessoas no mundo so subnutridas 98 milhes a menos do que em 2009 (Ver figura). Apesar de esse novo nmero ser animador, ele ainda inaceitavelmente alto e est muito longe dos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio de diminuir a fome pela metade at 2015. Gana o nico pas da frica subsaariana a caminho de diminuir a prevalncia da fome at l. O nmero mundial de 2010 referente fome representou uma diminuio de 7,5% em relao aos nveis de 2009. Essa queda esteve concentrada principalmente na sia, onde houve um decrscimo de 80 milhes de pessoas passando fome em 2010, segundo estimativa da FAO. Os ganhos foram bem menores na frica subsaariana, regio em que um tero da populao passou fome e que registrou um aumento no nmero total de pessoas famintas na ltima dcada. Pelo menos metade da populao do Burundi, das Ilhas Comores, da Repblica Democrtica do Congo e da Eritreia afetada por fome crnica. De modo geral, mulheres e crianas representam a maior proporo de pessoas sofrendo de fome crnica. Os altos preos dos alimentos e a baixa renda colocam famlias pobres em maior risco de no conseguir receber alimentao adequada para gestantes, bebs e crianas. De fato, mais de um tero da mortalidade infantil no mundo est relacionado nutrio inadequada. A maioria da populao, geralmente agricultores, vive com menos de US$ 1,25 por dia e reside em reas rurais, sem ter a posse da terra, infraestrutura e acesso a servios de sade ou eletricidade. Entretanto, cada vez mais as cidades mostram no estarem imunes fome. Nos anos 1980 e 1990, a populao urbana da frica cresceu cerca de 4% ao ano, e o nvel de pobreza tambm aumentou nesse perodo. A populao mundial de moradores de favelas continua a crescer, a uma taxa de quase 1% ao ano, e o aumento nos preos de alimentos durante a crise mundial de 2007/2008 nesse setor afetou principalmente a populao urbana pobre. No Qunia, por exemplo, a estimativa da FAO foi que, dentre a populao pobre morando em regies urbanas, 4,1 milhes se encontravam em situao de alta insegurana alimentar e at 7,6 milhes no conseguiam satisfazer suas necessidades alimentares dirias. Apesar da queda no preo dos alimentos desde 2008, eles ainda esto bem acima dos nveis anteriores a 2007 e a tendncia tem sido de se manterem em alta em 2009 e 2010. Muitos programas de auxlio alimentao no conseguem comprar a mesma quantidade de comida, e a recesso significou menos dinheiro para ajuda alimentar. A Agncia Norte-Americana para Desenvolvimento Internacional informou que s foi capaz de doar US $2,2 bilhes em 2009, um decrscimo de 15% em relao a 2008.

e Alimentao (FAO), h 925 milhes de subnutridos no mundo (Ver Quadro 11). Isso significa uma reduo de 98 milhes em comparao a 2009. Mesmo assim, uma criana ainda morre a cada seis segundos devido subnutrio. Ostras por si s no podem acabar com essa tragdia.34

O que pode ser feito? As solues usualmente apresentadas so variedades de sementes de alto rendimento, barragens para irrigar grandes reas e montanhas de fertilizante para restaurar solos esgotados. Entretanto, frutos do mar proporcionam perto de 15% das calorias e um tero da protena consumidas no mundo, e ainda maisWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

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Quadro 1-1. ContinuaoOs financiamentos para o Nmero de Subnutridos no Mundo, 1969-2010 desenvolvimento agrcola tambm diminuram. A nova iniciativa norte-americana de bilhes de Fonte: FAO dlares para segurana alimentar e agricultura (Feed the Future) prope investir US$ 20 bilhes na agricultura africana na prxima dcada. Trata-se de um reconhecimento oportuno da urgente necessidade de maiores investimentos nessa rea, mas a maior parte dos recursos ainda precisa ser arrecadada. A parcela mundial de auxlio ao desenvolvimento para a agricultura caiu de mais de 16% para meros 4% desde 1980 e inclusive, apenas nove naes africanas chegam a alocar 10% do oramento nacional agricultura. Nas ltimas duas dcadas, os pases A subsistncia integral da maioria dos pobres menos desenvolvidos passaram a depender e famintos do continente africano depende da cada vez mais da importao de alimentos. agricultura. Contudo, o gasto pblico com Metade dos gros usados em 11 pases da agricultura muitas vezes mais baixo em frica subsaariana foi importada em 2005pases cuja economia depende da atividade 06. Em outros sete pases, as importaes agrcola em outras palavras, os agricultores responderam por 30% a 50% dos gros so, ironicamente, os mais famintos dos consumidos no pas. famintos. Milhes

Fonte: Ver nota 3 no final

do que isso em pases pobres, inclusive em grande parte da frica ocidental. Assim, em muitas regies a pesca ser uma fonte de alimento e renda duradouros para as comunidades pobres. Mas frutos do mar so apenas uma parte menosprezada da cadeia alimentar que poderia suprir as respostas no trazidas por fertilizantes, irrigao, ou pelo foco no incremento da produo de gros.4 Foi durante uma jornada para encontrar solues negligenciadas como essa que descobrimos esse grupo de catadoras de ostras.

O contexto e a base do Projeto Nutrindo o Planeta, do Worldwatch Institute foi: a agricultura encontra-se numa encruzilhada. Quase meio sculo depois da Revoluo Verde, a maior parte das famlias do mundo ainda sofre de fome crnica. Alm disso, muito dos ganhos dessa revoluo foram conseguidos por meio de agricultura altamente intensiva e muito dependente de combustveis fsseis para insumos e energia. Hoje, a questo vai alm de saber se as reas cultivveis no mundo podem ou no produzir mais alimentos, trata-se de saber se 5

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de custos para a reduo da pobreza e fome no mundo.6 Nos ltimos dois anos, 300 visitamos 25 naes subFonte: FAO saarianas os lugares de maior fome e onde as comu250 nidades rurais mais sofrem Acar para ouvir histrias de esperCarne 200 ana e sucesso na agricultura. Cereais A frica tem um dos problemas de desnutrio mais 150 persistentes: abriga a maioria das naes em que mais de um tero da populao sofre 100 de fome. Contudo, o contiLaticnios nente est se tornando um leos 50 campo rico e diversificado 1990 1993 1996 1999 1990 2002 2005 2008 2011 para a produo de inovaes agrcolas que ajudam a melhorar a renda dos possvel faz-lo sem comprometer o solo, a gua agricultores e simultaneamente fornecem e a diversidade de culturas de que o mundo nutrientes para as pessoas.7 depende. O preo mundial dos alimentos sofre Essa jornada foi recompensada pela forte presso de aumento (Ver Figura 11), descoberta de um manancial de inovaes. Em impulsionado pela crescente demanda por carne dezenas de fazendas no Malui vimos tcnicas de na sia, trigo na frica e biocombustveis na aumento de rendimento sendo usadas por mais Europa e Amrica do Norte, entre outros fatores. de 120.000 agricultores, como por exemplo, o Nada indica que as mudanas climticas aliviaro plantio de rvores que fixam oxignio no solo essa presso ou tornaro as coisas mais fceis para enriquecendo-o para a cultura subsequente de os agricultores.5 milho e quadruplicando o rendimento sem a Talvez o mais preocupante seja que investi- adio de nenhum outro fertilizante. Por toda mentos para o desenvolvimento agrcola prove- a frica ocidental, conhecemos agricultores e nientes de governos, financiadores internacionais comerciantes empregando sistemas simples de e fundaes se aproximam de baixas histricas. armazenamento para prevenir o apodrecimento Contudo, os mesmos preos recordes de do feijo-fradinho, uma cultura importante na alimento que prejudicam as organizaes de regio. Se metade da colheita de feijo-fradinho ajuda alimentar e ameaam centenas de milhes da rea fosse armazenada dessa forma, ela valeria de pessoas com a fome tambm pressionam US$ 255 milhes por ano, beneficiando algumas governos, fundaes e outros grupos a pensarem das pessoas mais pobres do mundo.8 Nosso objetivo era revelar comunidades, em mudanas nos investimentos agrcolas. Uma recente anlise do Banco Mundial, por exemplo, pases e empresas modelos no caminho para um sugeriu que o Banco havia erradamente negli- futuro sustentvel. Para alm do objetivo de genciado esse setor e apontou a necessidade de reduo da pobreza e fome, fomos guiados por retomar os investimentos nas reas rurais, sem alguns critrios mais tradicionais do Worldwatch dvida o investimento com melhor benefcio Institute. Para que continue a alimentar futuras Figura 11. Preos de Alimentos, 1990-20106

ndice de Preos

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geraes da humanidade, e faz-lo melhor, a agricultura precisa reforar os objetivos de conservao, acrescentando diversidade cadeia alimentar e cuidando dos ecossistemas. O que tambm ficou claro nas visitas a propriedades rurais na frica que a base da produo de alimentos est sendo degradada em muitos lugares pela minerao do solo, falta de gua e perda da diversidade de lavouras que, em ltima instncia, alimentam o futuro da agricultura. Estvamos tambm interessados em modelos teis para empreendimentos de grande escala e usos para alm da frica, at mesmo em pases ricos que lutam contra o desperdcio de alimentos, alimentao excessiva e outras formas de disfunes agrcolas. Uma cooperativa de horticultura em telhado em Dakar, no Senegal, fornece informao para bairros lutando contra escassez de alimentos em Nova York. Individualmente, as centenas de milhes de agricultores de pequena escala e suas famlias, que correspondem maioria dos pobres no mundo, parecem ter pouco poder em face de problemas mundiais como fome, mudanas climticas e disponibilidade de gua. Mas, se cada uma de suas inovaes individuais fosse expandida de forma a pr comida na mesa de no apenas um agricultor, mas de 100 milhes ou mais, ou se chegasse aos consumidores que dependem deles, todo o sistema alimentar do mundo poderia ser mudado. Entretanto, as conexes globais vo alm da frica. Estamos todos juntos nisso, de muitas formas. Em primeiro lugar, a atividade agrcola corresponde a uma poro to grande do planeta, que economias rurais saudveis so tambm fundamentais para a sustentabilidade global. Uma ajuda na preveno de mudanas climticas desastrosas seria fornecer uma recompensa aos agricultores no mundo todo por incrementarem o teor de carbono nos seus solos. Segundo, at mesmo locavores (pessoas que preferem se alimentar de produtos cultivados na regio) resolutos, que buscam dar apoio a agricultores locais, dependem de regies

distantes para suprimentos de caf, cacau, frutas e outros itens essenciais de uso dirio ou fora da estao. Os mesmos norte-americanos que invadem as feiras locais e hoje deslocam a criao de animais em confinamento do centro do agronegcio podem vir a ser aliados fazendo lobby para causas ligadas s polticas internacionais de combate fome. Terceiro, mesmo aqueles que no compram milho, arroz e feijo de agricultores africanos so sustentados pela diversidade de culturas daqueles campos. As naes mais pobres so as que ainda mais abrigam a decrescente biodiversidade alimentar do mundo, e tambm as maiores depositrias da sabedoria cultural que serve como fonte de prazer e sade melhor. Por fim, para muitos existe tambm um aspecto moral. difcil apreciar uma boa refeio quando quase um bilho de pessoas no mundo, s vezes at mesmo gente vivendo por perto, no podem fazer o mesmo.9 No h uma soluo nica. De fato, a abordagem tamanho nico o que tem sido incapacitante. As tentativas do passado fracassaram porque oprimiram a diversidade ou eram dependentes demais de produtos qumicos ou outros insumos que os agricultores no podiam comprar. Tambm tropearam por ignorar as mulheres agricultoras, ou por deixarem de considerar a cultura alimentcia como uma forma de elas mudarem suas formas de cultivo. Embora o nmero de pessoas famintas seja ligeiramente menor, o que o mundo tem feito para combater a fome no est funcionando. Como o foco de ateno tem sido bastante restrito em poucos tipos de lavouras e em poucas tecnologias regies e ecossistemas inteiros, sem falar em inmeras variedades de culturas e estilos de vida no campo, so ignorados. Portanto, apresentamos aqui trs mudanas principais e convidamos agricultores, cientistas, doadores, executivos do agronegcio e a comunidade mundial a consider-las.7

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Ir alm das sementesA primeira mudana necessria olhar para alm do punhado de lavouras que tm absorvido a maior parte da ateno agrcola e admitir tambm que o desenvolvimento de novas sementes no a soluo bsica para a fome e a pobreza. O foco prolongado em sementes no nenhuma surpresa: elas so um veculo elegante para a introduo de novas tecnologias no campo. Sejam elas para um agricultor americano em busca de sementes que toleram melhor a seca, ou para um cultivador de feijo nas montanhas do Qunia, a compra de um novo tipo de semente uma forma barata e rpida na tentativa de incrementar a colheita e renda de uma fazenda. Contudo, a busca apenas pela semente certa tende a acabar com a diversidade de culturas em pases ricos e pobres. Ao mesmo tempo, o cuidado com o solo, o cultivo de outras lavouras e no apenas cereais, o melhor aproveitamento dos campos de sequeira e investimentos em outros elementos da paisagem agrcola tm sido muito negligenciados. Entretanto, eles tm grande potencial para aumentar a renda e reduzir a pobreza. O Grupo Consultivo em Pesquisa Agrcola Internacional (CGIAR) emprega 27% de seus fundos em melhorias genticas de sementes, e a maior parte de seus centros ainda organizada em torno do cultivo de uma nica lavoura arroz, trigo, milho ou batata, por exemplo. Recentemente, no entanto, essa rede internacional de pesquisa evoluiu com a introduo de centros dedicados a sistemas agroflorestais, controle integrado de pragas e irrigao. Esses centros recebem atualmente quase 25% do oramento do CGIAR.10 Os retornos sobre investimentos nesses tipos de tecnologias e estratgias foram negligenciados at pouco tempo atrs e, por isso mesmo, podem ser surpreendentes, o que no significa8

que tais investimentos estejam de fato sendo feitos. O desenvolvimento de novas variedades de sementes, por exemplo, pode ser uma proposta lucrativa para as empresas que as produzem, entretanto, poucas delas conseguiram descobrir formas de lucrar com incentivos para a reconstruo do solo ou de aquferos. A nova realidade do investimento agrcola que, hoje, as instituies pblicas, como governos e universidades, so fonte menor do que as entidades privadas. Em 1986, por exemplo, dos US$ 3,3 bilhes investidos pelos Estados Unidos em pesquisa agrcola, 54% vieram do setor pblico e 46%, do privado. Em contrapartida, hoje as empresas de agronegcios, primordialmente as de sementes e agroqumicos, surgem como os principais investidores, responsveis por 72% do total de investimentos.11 Se as sementes representam a opo de compensao em curto prazo, o verdadeiro investimento de longo prazo com retorno significativo no solo e na gua que nutrem as culturas. Os solos do Mali e de outras partes do Sahel na frica esto muito comprometidos como resultado da pastagem predatria e de secas, mas o uso de adubao verde e plantas de cobertura pode melhorar, e muito, a sua fertilidade sem o uso de fertilizantes caros. No Captulo 6, Roland Bunch cita entrevistas recentes com agricultores de mais de 75 vilarejos em seis pases africanos que, como grande parte da frica subsaariana, sofrem com o bem documentado esgotamento do solo. As pessoas no tinham mais nenhuma forma de manter o solo frtil", ele observa. As colheitas estavam quebrando, caindo de 15% a 25% ao ano. Bunch observa que o subsdio a fertilizantes qumicos, bastante praticado por muitos pases africanos (chegando a at 75% no Malui, por exemplo), no tem sido em geral uma boa estratgia de longo prazo e, na realidade, reduz o incentivo para que os agricultores invistam em posturas mais agroecolgicas de nutrio do solo. Quando os subsdios a fertilizantesWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

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terminarem, a produtividade cair para quase zero. Como alternativa, Bunch defende que a adubao verde/plantas de cobertura so a nica soluo sustentvel para a crise de fertilidade do solo africano.12 Considere ainda que, pela maior parte da frica, apenas 15% a 30% das chuvas chega a ser usada de forma produtiva pela lavoura, e no caso de terra muito degradada, esse ndice pode cair para 5%. Nesses lugares, as quebras de cultura podem ser atribudas mais ao mau manejo da gua da chuva na terra do que falta de chuva em si, observa Sandra Postel no Captulo 4. Apenas uma pequena parcela das fazendas africanas tem acesso a irrigao apesar do rpido crescimento daquelas que empregam bombas de baixo custo e operao manual, como a MoneyMaker, a Mosi-O-Tunya (a bomba que troveja), ou a bomba a pedal, mais prevalecente e usada por mais de 2,3 milhes de agricultores pobres na sia e frica.13 Porm, mesmo sem irrigao, os agricultores esto descobrindo que podem se proteger dos piores efeitos da seca e incrementar a produo de modo significativo num ano chuvoso, usando cobertura morta, reduzindo o preparo do solo e recorrendo a plantio de cobertura. Como observado por Postel: trabalhando com agricultores em seis fazendas experimentais no Qunia, na Etipia, em Zmbia e na Tanznia, os pesquisadores descobriram ganhos de rendimento da ordem de 20% a 120% para o milho e de 35% a 100% para o tef (um cereal bsico na dieta da Etipia) em lavouras que fazem uso desses mtodos de conservao do solo e gua em contraposio a mtodos tradicionais. Essa estratgia, usada em paralelo com investimentos em irrigao adequada no local, relevante por todas as 18 ou mais regies em crescimento no continente africano, todas elas com previso de sofrerem com o choque de padres mais severos de chuva nos prximos anos. 14

Ir Alm do CampoComo observa Olivier De Schutter na Introduo deste livro, acabar com a fome no depende exclusivamente da capacidade mundial de produzir comida suficiente. Para muitas comunidades, as solues se encontram em fazer melhor uso da comida produzida. Um novo estudo da Associao do Solo, com sede no Reino Unido, sugere que a melhor forma de assegurar que todos tenham comida suficiente mudar o tipo de comida produzida e melhorar sua distribuio: menor produo de carne, uso de mtodos agrcolas mais sustentveis ambientalmente que no dependam de produtos petroqumicos, e maior produo de alimentos locais e regionais. De fato, ao que tudo indica, muitas das fazendas e organizaes que visitamos esto obtendo maior sucesso na reduo da fome e da pobreza com trabalhos pouco relacionados produo de mais culturas.15 Como observa Tristram Stuart no Captulo 9, algo entre 25% e 50% da colheita dos pases mais pobres estraga ou contaminada por pragas ou fungos antes de chegar mesa do jantar. A quantidade perdida por vezes a colheita devolvida e usada para enriquecer o solo, mas quase sempre acaba sendo jogada em aterros sanitrios ou depsitos de lixo alarmante, principalmente se considerarmos que os especialistas estimam que ser necessrio duplicar a produo de alimentos no mundo nos prximos cinquenta anos conforme as pessoas passam a comer mais carne e, em geral, a se alimentar melhor. Portanto, faria sentido que o investimento em um melhor uso daquilo que j produzido fosse, no mnimo, to alto quanto o que se investe no incremento da produo. Correes simples e de baixo custo contribuem em muito para isso, como sacos plsticos baratos para manter o feijo-frade seco e afastar as pragas, melhor construo de silos para conservao dos cereais, e a preservao9

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de frutas (e vitaminas) por meio de tcnicas de secagem solar.16 Muitas vezes, desperdia-se alimento porque a conexo do agricultor com o mercado lenta, ineficaz ou interrompida. Em Zmbia, Samuel Fromartz constatou que houve um excesso de produo de milho em 2010 devido boa precipitao pluvial e aos subsdios a fertilizantes. Na teoria, isso poderia ser rentvel, j que o excesso poderia ser enviado a pases com pouco suprimento de milho. Mas Zmbia no tem a infraestrutura nem a rede de comercializao necessrias para isso, e os agricultores estavam simplesmente fazendo dumping de milho no mercado, a preos baixos, e, portanto, consolidando a pobreza e enviando um sinal aos agricultores para cultivarem menos. Entretanto, Fromartz encontrou algumas excees, como Justine Chiyesu, descritas no Captulo 13. Com a ajuda do programa Produo, Finanas e Tecnologia (PROFIT) da Agncia NorteAmericana para Desenvolvimento Internacional, Chiyesu conseguiu mecanizar sua propriedade e aumentar a produo. O PROFIT ajudou-a a encontrar formas de evitar redes de comercializao ineficientes, o que lhe permitiu vender diretamente aos moinhos e conseguir um preo melhor para ela mesma e para os agricultores de sua aldeia.17 Agregar valor tem sido o mantra das comunidades rurais em dificuldade, do MeioOeste dos Estados Unidos s plancies do norte da China. Ou seja, trata-se de processar, preservar e transformar commodities em produtos de mais valor amendoim em manteiga de amendoim, por exemplo. Mas a frica ficou para trs nesse aspecto, em parte devido ao descuido com as atividades fora das propriedades agrcolas que, na realidade, ajudam os agricultores a agregar valor. Nos ltimos cinquenta anos, o total do valor agregado agricultura, por pessoa, praticamente dobrou nos pases em desenvolvimento, mas nesse mesmo perodo, caiu ligeiramente na frica por falta de investimentos em infraestrutura agrcola,10

como por exemplo, fbricas de processamento de alimentos. Isso explica, em parte, por que os pases mais pobres da frica so duas vezes mais dependentes de importaes de alimentos hoje do que h vinte anos uma mudana perigosa, considerando que o preo mundial de alimentos tornou-se mais errtico. 18 Embora a maior parte dos pobres e famintos do mundo continue em reas rurais, a fome est migrando conforme o contingente urbano global aumenta. Para as pessoas que vivem, trabalham e conseguem comprar sua prxima refeio na prpria cidade onde esto fixadas, possvel que o alimento venha de longe, mas para os moradores de favelas no Qunia e em Gana, por exemplo, a fonte mais confivel de alimentos , quase sempre, o que eles mesmos so capazes de cultivar em jardins na varanda, em terrenos baldios, ou em lotes de terras prximas s favelas. Pelo menos 800 milhes de pessoas no mundo dependem da agricultura urbana para a maior parte de suas necessidades alimentares. Atualmente, a maioria desses agricultores urbanos est na sia, mas, considerando-se a migrao anual de 14 milhes de africanos do campo para as cidades, os residentes de Lagos, Dakar e Nairbi com certeza se tornaro to dependentes de alimentos cultivados nas cidades como os habitantes de Hani, Xangai e Phnom Penh. A agricultura urbana j uma fonte importante de renda para milhes de africanos. No Captulo 10, Nancy Karanja e Mary Njenga observam que os pobres das cidades no apenas fornecem alimento para suas comunidades, como tambm criam projetos de multiplicao de sementes, fazendo de suas fazendas uma importante fonte de sementes locais, tanto para agricultores urbanos como rurais. 19 No longo prazo, talvez o investimento mais importante fora das propriedades agrcolas seja o de assegurar que os agricultores do futuro tenham a oportunidade e a vontade de se tornar agricultores de verdade. Em Uganda, o projeto DISC (para o Desenvolvimento de InovaesWWW.WORLDWATCH.ORG.BR

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IFAD/G. Maurette

incentiva os pais a mandarem suas filhas para o ensino secundrio, e uma melhor nutrio contribui para um desenvolvimento adequado das crianas e para mant-las atentas em sala de aula. 21 Uma das prioridades desses programas poderia ser a de aproveitar ao mximo os alimentos locais. Serena Milano, da Slow Food International, relata, no Captulo 7, que professores e chefes de cozinha por toda a frica esto documentando, revitalizando e ensinando receitas tradicionais e de tcnicas de conservao de alimentos s famlias, ajudando-as assim a tirar maior proveito de seu oramento limitado. Nos lugares em que plantas nativas ou silvestres so as nicas culturas prsperas, Milano sugere que se invista na conservao dos recursos naturais, como caf e mel, bem como se incentive os agricultores a cultivar a biodiversidade nos seus campos atravs do plantio de culturas nativas. 22