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1 RELATÓRIO Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde 2º Trimestre de 2011 Cooperação Sul-Sul em saúde vis-à-vis os processos de integração regional; Bioética e Religião no Hemisfério Sul; Ciência e Poder: gestão do conhecimento em bioética e diplomacia em saúde; Vulnerabilidade e teoria social: alguns apontamentos à luz da obra de Pierre Bourdieu.

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RELATÓRIO Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde

2º Trimestre de 2011

• Cooperação Sul-Sul em saúde vis-à-vis os processos de integração regional;

• Bioética e Religião no Hemisfério Sul;

• Ciência e Poder: gestão do conhecimento em bioética e diplomacia em saúde;

• Vulnerabilidade e teoria social: alguns apontamentos à luz da obra de Pierre

Bourdieu.

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© 2011 Organização Panamericana da Saúde.

Todos os direitos reservados. Está permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, sempre e quando seja citada a fonte e que não seja destinada a venda ou qualquer outra finalidade comercial.

Elaboração, distribuição e informações: NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE BIOÉTICA E DIPLOMACIA – NETHIS Avenida L3 Norte. Campus Universitário Darcy Ribeiro, Gleba A, SG 10, 2 andar CEP 70910-900 Brasília/DF – Brasil http://www.bioeticaediplomacia.org FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ Centro de Relações Internacionais em Saúde – CRIS Av. Brasil, 4365 - Manguinhos, Rio de Janeiro CEP: 21040-360 Rio de Janeiro/RJ - Brasil http://www.fiocruz.br/cris UNIVERSIDADE DE BRASILIA – UnB Cátedra UNESCO de Bioética e Programa de Pós-Graduação em Bioética Campus Universitário Darcy Ribeiro, CEP 70910-900 Brasília/DF – Brasil http://www.bioetica.catedraunesco.unb.br ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE – REPRESENTAÇÃO DO BRASIL Programa de Cooperação Internacional em Saúde - TC 41 Setor de Embaixadas Norte, Lote 19 CEP: 70800-400 Brasília/DF – Brasil http://www.paho.org/bra

Coordenação técnica e editorial: José Paranaguá de Santana Roberta de Freitas Santos Colaboração: Marco Aurélio Antas Torronteguy

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Sumário

1. Apresentação ............................................................................................................................ 4

2. Cooperação Sul-Sul em saúde vis-à-vis os processos de integração regional........................... 6

3. Bioética e Religião no Hemisfério Sul...................................................................................... 12

4. Ciência e poder: gestão do conhecimento em bioética e diplomacia em saúde.................... 16

5. Vulnerabilidade e teoria social: alguns apontamentos à luz da obra de Pierre Bourdieu...... 22

6. Considerações finais................................................................................................................ 29

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1. Apresentação

O presente relatório apresenta o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo encontros do ano de

2011 do “Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde”, promovido pelo

Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (NETHIS), em parceria com

o Programa de Pós-Graduação em Bioética da Universidade de Brasília, com apoio da

Direção Regional de Brasília da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ Brasília) e da

OPAS/OMS/Brasil.

A quarta reunião do Ciclo tratou do tema “Cooperação Sul-Sul em saúde vis-à-vis os

processos de integração regional” e contou com a participação, como palestrante, do

Doutor Rodolfo Rodriguez, como debatedor, do Doutor Ricardo Caldas e, como

presidente de mesa, da Doutora Maria Alice Fortunato Barbosa.

A quinta abordou o tema “Bioética e Religião no Hemisfério Sul”, tendo como

palestrante o Doutor Márcio Fabri, como debatedor o Doutor Wanderson Flor e, como

presidente da mesa, o Doutor Volnei Garrafa.

O sexto encontro abordou o tema “Ciência e poder: gestão do conhecimento em bioética

e diplomacia em saúde”, tendo como palestrante a Doutora Ilma Noronha, como

debatedor o Doutor Pedro Urra e, como presidente da mesa, o Doutor Emir Suaiden. Na

mesma ocasião foi lançado o Portal Web do NETHIS, pelo Doutor José Paranaguá de

Santana.

Enfim, o sétimo encontro, com o tema “Vulnerabilidade e teoria social: alguns

apontamentos à luz da obra de Pierre Bourdieu”, teve como palestrante o Doutor Miguel

Ângelo Montagner e, como debatedor e presidente de mesa, o Doutor José Paranaguá de

Santana.

A seguir, são apresentados os conteúdos discutidos em cada um desses encontros, com a

perspectiva de captar os elementos estruturantes do escopo temático do NETHIS. Ao

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final, a título de considerações finais, o resultado dos debates é interpretado na forma de

temas que podem ser objeto de trabalho por este Núcleo de Estudos, no sentido de que

esses temas possam ser problematizados e estudados, contribuindo, assim, para a

produção científica do NETHIS.

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2. Cooperação Sul-Sul em saúde vis-à-vis os process os de integração regional

Palestrante: Rodolfo Rodriguez1

Debatedor: Ricardo Caldas2

Presidente de Mesa: Maria Alice Fortunato Barbosa3

Data: 26 de maio de 2011

Local: Fiocruz Brasília

O Doutor Rodolfo Rodriguez propôs realizar uma exposição do quadro da Saúde no

MERCOSUL há 20 anos, o que vem ocorrendo e o que antevê para o futuro, tanto no

contexto particular do MERCOSUL como numa reflexão mais ampla sobre outro bloco

regional – a UNASUL.

O palestrante iniciou sua fala contextualizando o surgimento do MERCOSUL, a partir

do concerto entre Brasil e Argentina, na conjuntura da redemocratização de ambos os

países. Na década de 1990, os países, principalmente Brasil e Argentina, mudaram as

formas de conflito regional – pois passaram a reconhecer-se mutuamente como sócios

potenciais. Segundo o palestrante, o presidente argentino Raul Alfonsín considerava que

a única possibilidade de desenvolvimento desses países estava em uma associação

concreta.

Paralelamente à aproximação entre os governos argentino e brasileiro, no âmbito

continental havia o projeto “Saúde: pontes para a paz”, da OPAS, que estava sob

direção do Dr. Carlyle. Esse processo produziu uma conferência sanitária no âmbito

1 Médico pela Universidad Nacional de Córdoba, já foi Ministro da Saúde da República Argentina e atualmente é Presidente da Gestão de Seguros de Saúde da Província de Córdoba, Argentina. 2 Professor Adjunto do Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília (UnB) e Vice-Diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (CEAM/UnB). 3 Coordenadora do SGT-11/MERCOSUL/BRASIL e Coordenadora Alterna da Unasul Saúde/Brasil. Ministério da Saúde.

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americano, que concluiu que a saúde é hábil para fomentar a paz entre os países, pois à

medida que ela pode propiciar melhores níveis de equidade, pode contribuir para o

desenvolvimento do país, pode favorecer a participação cidadã e pode contribuir para o

aperfeiçoamento da democracia regionalmente.

Ou seja, segundo o palestrante, havia uma concordância entre a visão dos organismos

internacionais – notadamente a OPAS – e a percepção que os países americanos tinham

sobre a importância da aproximação entre estes países e sobre a consciência de que a

saúde pode contribuir para essa aproximação.

Logo, percebeu-se que a saúde deveria estar na agenda do MERCOSUL, assim que ele

foi constituído. Hoje, o MERCOSUL, com cento e cinquenta acordos na área da saúde,

está somente atrás da Europa em número de acordos multilaterais obrigatórios sobre

saúde. Isso demonstra a importância deste setor nos processos de integração regional,

conforme o Doutor Rodriguez.

O palestrante apontou que a saúde deixou de ser vista somente como “serviços de

saúde” para atendimento a enfermidades, e passou a abarcar também postulados de

saúde do ambiente (saúde como componente essencial da relação entre ambiente e

desenvolvimento), bem como com os postulados da Carta de Otawa.

O palestrante prosseguiu dizendo que a saúde conforma um pilar importante dos direitos

da cidadania, a partir da consciência, pelas pessoas, de que saúde é muito mais do que a

ausência de doença ou enfermidade.

Mais recentemente, foi criada na esfera das relações internacionais a UNASUL. O

Doutor Rodolfo Rodriguez apontou as distinções entre esta iniciativa e aquela do

MERCOSUL. Diferentemente de criar um mercado (como o Mercado Comum do Sul –

MERCOSUL), a UNASUL tem uma motivação política. Neste sentido, ainda conforme

o palestrante, o primeiro tema da UNASUL foi a defesa regional – e se há uma defesa

regional é porque há um sentimento de pertencimento regional. A segunda questão da

agenda da UNASUL é, para Doutor Rodriguez, o respeito aos direitos humanos. Com

efeito, na Ata Constitutiva da UNASUL está expresso o compromisso de os países

atuarem na educação, tema fundamental para reduzir os índices de morbidade e

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mortalidade de doenças transmissíveis primárias (prévias à mudança do perfil

epidemiológico). Lamentavelmente, conforme o palestrante, na Ata Constitutiva não foi

mencionada a saúde.

No MERCOSUL, a saúde é tratada juntamente com a segurança social, na forma de

acesso aos serviços de saúde. Nas Américas, milhões de pessoas ainda não têm acesso a

serviços de saúde. Outro passo foi dado pela criação, no Rio de Janeiro, do Conselho

sobre Saúde da UNASUL. Assim, já se coloca o setor saúde no meio político

internacional que lhe é próprio. E, conforme o palestrante, o veículo para concretizar a

internacionalização da saúde é a cooperação internacional. A cooperação internacional,

segundo Doutor Rodriguez, deve ser uma via de mão dupla, em um círculo virtuoso de

dar e receber cooperação, um processo duradouro de colaboração mútua. Note-se que a

agenda dessa cooperação há que ser feita desde o nível local (demandas e escolhas das

populações). Precisamente aqui essa cooperação Sul-Sul se distingue da Norte-Sul (a

qual é definida e decidida pelo Norte, pelos países desenvolvidos que exercem poder

pelo fato de serem eles os doadores). O palestrante exemplificou essa posição dizendo

que os termos de licitações dos programas de cooperação muitas vezes são preparados

para beneficiar as empresas dos próprios países doadoras. Isso não quer dizer que a

cooperação Norte-Sul seja má ou que ela deva ser rejeitada, mas ela é seguramente

limitada por suas condicionalidades.

O Doutor Rodriguez também referiu que, anteriormente, o mundo era polarizado entre

quem tinha e quem não tinha armas nucleares. Hoje essas relações de poder se

transformaram, de modo que a questão é saber quem tem e quem não tem água, quem

tem e quem não tem energias limpas. Neste cenário, é importante refletir sobre o papel

da UNASUL, criada para ser um espaço de aproximação e concertação política, com o

protagonismo do Brasil. Aqui, a cooperação internacional tem elevado valor estratégico,

o qual não pode ser menosprezado.

Doutor Rodriguez entende que, com a inserção de temas como a saúde, começam a

mudar os paradigmas das relações internacionais. O palestrante disse que confia neste

entendimento em função de sua própria experiência, na Nicarágua, durante o programa

“Saúde: pontes para a paz”.

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O palestrante recordou que, em 1985, Raul Alfonsín convidou um conjunto de pessoas

na residência presidencial em Olivos, dizendo a seus ministros (inclusive o palestrante,

à época Ministro da Saúde) que eles deveriam tornar-se sócios do Brasil, não sócios de

conveniência, mas sócios em problemas comuns, profundamente. No mesmo momento,

no Brasil, o então presidente José Sarney trabalhava no mesmo sentido.

Naquela época, ainda segundo o palestrante, a Argentina tinha elevada quantia em

dinheiro disponível junto a doadores internacionais para a construção de hospitais, mas

o país tinha outras prioridades (não necessitava, naquele momento, construir hospitais,

mas sim centros de saúde e outras estruturas) e por isso não aceitou a oferta. Ou seja, a

burocracia internacional “pensava” pelos países e lhes queria impor suas ideias e suas

“soluções”. Então, o palestrante concluiu pela necessidade de procurar soluções Sul-Sul

entre os próprios países em desenvolvimento.

O doutor Rodriguez concluiu refletindo que os países americanos têm capital humano

valiosíssimo, têm dez anos de crescimento contínuo extraordinário (embora não tenham

dez anos de crescimento social), têm instituições e, portanto, têm todos os instrumentos

para o seu desenvolvimento.

Debate:

O debatedor, doutor Ricardo Caldas, iniciou suas considerações recordando os 25 anos

do CEAN/UnB, agora iniciando um doutorado em cooperação internacional e

desenvolvimento. Segundo o debatedor, a ideia de cooperação internacional e

desenvolvimento desenvolvida no CEAN é próxima à concepção defendida pelo

palestrante.

O debatedor ponderou que, em que pese a afirmação do palestrante de que hoje o

mundo é um ambiente multipolar (e não unipolar norte-americano), os Estados Unidos

ainda exercem imenso poder. Doutor Caldas avaliou que se está a caminho de uma

dualidade EUA-China, país que cresce economicamente e que comprou boa parte dos

títulos públicos norte-americanos.

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O debatedor também ponderou que as questões de segurança e defesa internacionais

ainda são prioritárias (cujos gastos governamentais superam os gastos com saúde).

Referiu que saúde e educação ainda não são prioridades internacionais e ainda não são

prioridades nacionais. Segundo ele, talvez esses novos temas, que têm dificuldade de se

impor, precisem repensar suas estratégias para tornarem-se mais importantes nas

agendas interna e internacional (rever seus atores, seus enlaces, seus pactos). Em que

pese o discurso Sul-Sul, há que se pensar quem é o “Sul”. O Brasil tem deixado de ser

recebedor e se tornado doador. Que Sul é esse? Que cooperação é essa? Foram

provocações do debatedor.

Doutor Caldas perguntou pela necessidade de incorporar novas tecnologias em saúde.

Outra provocação lançada pelo debatedor disse respeito ao contexto da globalização.

Ele perguntou se ainda há espaços para processos e decisões nacionais em um mundo

globalizado e cada vez mais vinculado por meio de acordos internacionais obrigatórios.

Exemplificou questionando se a Amazônia é um projeto nacional. Retomou os

exemplos referidos pelo Doutor Rodriguez em sua palestra, afirmando que água e

energia também podem ser exemplos disso. O debatedor também disse que há uma

tensão entre os projetos nacionais, os projetos regionais e os projetos globais. Enfim,

Doutor Ricardo Caldas concluiu reafirmando a necessidade de que se pense como tornar

prioritários os temas sociais como a saúde e a educação – os quais devem se tornar

prioridades nacionais e também da agenda internacional.

Diálogo com o público:

Antes de abrir a palavra ao público, a Doutora Maria Alice Barbosa apresentou a

estrutura e a atuação do SGT-11/MERCOSUL/Brasil, interessante exemplo concreto da

integração que foi objeto do debate precedente.

Doutor Rodriguez abordou a questão do Doutor Henri Jouval Jr, presente na plateia, que

perguntou sobre quais são, ou quais deveriam ser, as diferenças nas agendas de saúde da

UNASUL e do MERCOSUL. O palestrante ponderou que o MERCOSUL é um

mercado em que há importantes barreiras sanitárias. Então a agenda do MERCOSUL é

correlata a esta fato de ser um mercado. A UNASUL, diferentemente, está ocupada com

novos paradigmas das relações internacionais e tem uma perspectiva política – o desafio

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é a realização concreta das suas intenções. Ainda segundo Doutor Rodriguez, o

MERCOSUL ainda não chegou ao nível das pessoas, ainda não há consciência sobre

isso – e exemplificou as regras sanitárias sobre vigilância de alimentos, que foram

produzidas nos foros do MERCOSUL, como o SGT-11. Para o palestrante, o

MERCOSUL continua ocupado com uma agenda que diz respeito ao mercado, mas ele

observou que a experiência de vinte anos deste bloco regional deve contribuir para a

agenda da UNASUL, sendo que essa agenda deve ser feita com a participação dos

cidadãos dos países, descendo ao nível local. Por fim, Doutor Rodolfo Rodriguez

argumentou que o MERCOSUL não é uma associação de países iguais, que ao mesmo

tempo há diferenças históricas, econômicas, demográficas etc. Disse que, em virtude

dessas diferenças, é natural que o Brasil seja indutor na área da saúde, assim como a

Argentina pode ser protagonista em outras áreas, nas quais por sua vez tenha grande

experiência.

Após os debates, no encerramento, o Doutor Paranaguá de Santana, coordenador do

NETHIS, falou sobre a intersecção entre bioética e diplomacia. Doutor Paranaguá

apontou que o palestrante começou contextualizando a cooperação Sul-Sul em função

das diferenças entre os países cooperantes. Essas diferenças pautam os problemas

bioéticos que surgem entre os países no âmbito e no curso dos processos de cooperação

internacional.

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3. Bioética e Religião no Hemisfério Sul

Palestrante: Márcio Fabri (UNISAL)4

Debatedor: Wanderson Flor (UnB)5

Presidente de Mesa: Volnei Garrafa

Data: 30 de junho de 2011

Local: Fiocruz Brasília

Dr. Márcio Fabri iniciou sua palestra chamando a atenção para a importância da

laicidade da bioética. Esclareceu que este fenômeno decorreu da transformação social

do papel da religião – a qual, antigamente, era tida como a única interpretação válida do

mundo, mas com a modernidade deixou de sê-lo, perdendo espaço para outro tipo de

explicação dos fenômenos do mundo: a explicação científica.

Ocorre que, segundo o palestrante, a bioética não pode ignorar as religiões, pois as

pessoas são religiosas, de maneira que na sociedade a religião é um elemento muito

presente e muito relevante. Ou seja, a religião é um fato social. Trata-se de um elemento

de qualquer sociedade, mas que é notadamente importante no contexto social latino-

americano.

A questão central proposta pelo Dr. Fabri foi saber se pode haver diálogo entre a razão

religiosa e a razão científica. A bioética pode prescindir da razão religiosa em suas

reflexões?

Para procurar responder a essa questão, Dr. Fabri iniciou refletindo que a religião, na

verdade, são as religiões. Trata-se da pluralidade religiosa, a qual é inerente à

4 Pe. Márcio Fabri dos Anjos, Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Docente do Programa de Pós-Graduação em Bioética no Centro Universitário São Camilo e membro da Câmara Técnica de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. 5 Prof. Dr. Wanderson Flor do Nascimento, graduado em Filosofia e Doutor em Bioética pela Universidade de Brasília (UnB), é professor do departamento de Filosofia da UnB e sacerdote do Candomblé.

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multiplicidade de culturas. A dinâmica das culturas/religiões provoca o surgimento de

hegemonias e o fenômeno da conquista religiosa. Paralelamente, surgem novos

movimentos religiosos, novas comunidades – são as religiões em sua transformação.

Além disso, a religião se torna um “espaço de mercado”, à medida que oferece

prestação de serviços de salvação. É difícil distinguir de maneira estanque religião e

laicidade. Talvez nem a religião seja tão religiosa e nem a laicidade seja tão laica. Daí o

palestrante falar em entrelaçamento entre religião e laicidade.

Então o palestrante observou que o problema da bioética (trabalhado por Potter) é o

problema da sobrevivência: como a humanidade sobreviverá ao avanço tecnológico (e o

poder dele decorrente) se não houver regras éticas seguidas por todos? Pois Dr. Fabri

observa que o problema da sobrevivência também é central para as religiões. Na origem

dessa ideia está a reflexão, sob o ponto de vista da filosofia, de que a condição humana

exige o outro como forma de libertar o próprio eu.

O palestrante também observou que a razão é antecedida pela crença. A fé precede a

razão. Para compreender é preciso, antes, crer e, então, agora sim, pela razão fazer a

crítica à crença anterior. Desta maneira, o objeto da crença é transformado pela

experiência. Para que o conhecimento deslanche, é necessário que haja, previamente,

alguma confiança nesse deslanchar. Por isso se diz que a crença precede a ciência.

Enfim, a ciência critica a crença e possibilita novas reflexões, as quais darão início a

novas crenças.

Feito esse raciocínio, Dr. Fabri questionou: como fazemos para passar da crítica

científica das crenças para a crítica religiosa da ciência?

O palestrante então observou que, com a modernidade, perdeu-se a noção de certeza.

Afinal, a ciência atualmente se faz de certezas provisórias, alcançadas pelas evidências

– as quais, na realidade, são apenas indícios de como se dão os fenômenos observados

pelo cientista.

Ou seja, se é correto que a certeza religiosa ruiu, também é verdadeiro que a ciência não

produz certezas. Precisamente neste ponto aparece o espaço para o diálogo entre as

religiões e as ciências.

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Finalmente, outro problema comum aos campos da bioética e da religião é o que se

refere à dor e ao sofrimento. Ambos os campos se preocupam com isso. Portanto, a

bioética necessita de transcendência, espaço de diálogo com as religiões, no sentido de

sair de si, de aceitar o outro, de reconhecer em si a parte que é do outro.

Debate:

O debatedor, Doutor Wanderson Flor, inicialmente distinguiu entre a “laicidade” e a

“contra-religiosidade” como enfoque dos bioeticistas. Afirmou que hoje o que se vê é

muito mais a segunda posição, de contra-religiosidade, do que a primeira, propriamente

de laicidade.

Essa posição contra-religiosa pode negar o próprio lugar da neutralidade, sendo que o

debatedor observou que a neutralidade já é, ela própria, um lugar – o que não deve ser

ocultado. Para superar essa falsa compreensão, Dr. Flor propõe o diálogo entre religião

e ciência.

Segundo o debatedor, o problema, de ambos os lados, é o dogmatismo. O dogmatismo

pode assumir duas posições: a de um dogmatismo religioso ou a de um dogmatismo

anti-religioso. Ambas as posturas são contrárias a uma visão pluralista e multicultural.

Se esse duplo dogmatismo for superado, pondera Dr. Wanderson, será possível pensar,

por um lado, em uma bioética laica que não seja contra-religiosa. E, por outro lado, será

possível imaginar uma bioética que aproxime religiões, mas que não seja religiosa. E

essas duas posturas não dogmáticas poderão criar condições para o diálogo entre

religião e ciência. Ao fazer essa proposição, Dr. Flor responde àquela primeira pergunta

formulada pelo Dr. Fabri, sobre a possibilidade do diálogo entre a razão religiosa e a

razão científica.

Para o debatedor, no contexto latino-americano há dois fenômenos religiosos que

podem oportunizar esse diálogo: a teologia da libertação e o candomblé. Então Dr. Flor

falou sobre sua experiência no candomblé, no qual o re-ligare (que está na raiz da ideia

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de religião) não é propriamente com deus (pois para o candomblé a ligação com deus

jamais foi perdida), mas é com os antepassados, com a ancestralidade. Daí vem a

percepção coletivista que o candomblé engendra, segundo a qual os conflitos devem ser

resolvidos coletivamente. Além disso, o debatedor observou o pluralismo que

necessariamente é afirmado no candomblé, em virtude da pluralidade de deuses e do

reconhecimento, inclusive, da existência de deuses estrangeiros – o que não permite que

exista espaço para totalitarismos.

Por fim, Dr. Flor refletiu que precisamos entrar de acordo sobre o que seja uma bioética

latino-americana. Se é para ser pluralista, nenhuma voz pode ser suprimida ou ignorada.

Ou seja, não se pode, a priori, excluir a religião, por pressupor que a religião já traga

respostas pré-concebidas, o que seria preconceito. Se continuar-se excluindo a religião

dos debates sobre bioética, essa bioética dita pluralista em verdade será cínica. Isso

porque há uma razão pública na religião: a razão religiosa não se restringe à fé – nem

tudo é fé na religião, pois há muitos outros usos da razão nas religiões.

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4. Ciência e poder: gestão do conhecimento em bioética e diplomacia em saúde

Palestrante: Ilma Noronha (ICICT/FIOCRUZ)

Debatedor: Pedro Urra (BIREME/OPAS/OMS)

Presidente de Mesa: Emir Suaiden (IBICT)

Data: 28 de julho de 2011

Local: Fiocruz Brasília

Lançamento do site do NETHIS

Antes da palestra, houve o lançamento do site do NETHIS, com apresentação do Doutor

José Paranaguá de Santana, coordenador do Núcleo. Ele apresentou a utilidade do site

para aqueles que se interessam pelo estudo da inter-relação entre os campos da bioética,

da diplomacia em saúde e da saúde pública. Neste particular, ressaltou que os trabalhos

científicos do Núcleo partem, conceitualmente, da noção de campo elaborada por Pierre

Bourdieu.

A seguir, falaram o Doutor Cláudio Lorenzo, pela UnB, e a Doutora Nísia Trindade

Lima, pela Fiocruz. Doutor Lorenzo ressaltou que, embora haja entendimentos

contrários, ele não vê a bioética ainda como uma ciência autônoma, mas como um

campo epistemológico em construção e, por isso, é muito importante a iniciativa do

NETHIS e, neste contexto, o seu sítio eletrônico. Além disso, Doutor Lorenzo ressaltou

que no Brasil e na América Latina existe uma politização importante dos debates em

torno da bioética, o que também exige seu estudo e compreensão aprofundados, que é o

que o Núcleo se propõe a fazer. Por fim, a Doutora Nísia Trindade Lima, Vice-

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presidente de ensino, informação e comunicação da Fiocruz, saudou a iniciativa do

NETHIS e a parceria com a UnB.

Palestra

Inicialmente, o Presidente da mesa, Doutor Emir Suaiden, apresentou a conferencista e

o debatedor. Contextualizou a discussão, referindo que o Brasil é o 13o país em

produção científica, muito em virtude dos esforços da FIOCRUZ, da EMBRAPA e da

BIREME.

A Doutora Ilma Noronha começou sua palestra ressaltando a importância para o SUS do

acesso livre à produção científica em saúde. Saudou o NETHIS e a Fiocruz, a qual, em

Brasília, saiu da estatura de um escritório de gestão e assume uma postura de produção

do conhecimento.

A palestrante contextualizou o desenvolvimento da Política de Saúde e da Política de

Informação Científica em Saúde, em uma perspectiva histórica. Antes, deter informação

significava poder; hoje se deu um salto qualitativo para valorizar o compartilhamento da

informação. Segundo a palestrante, mais de 50% da informação científica produzida no

mundo ocorre no campo da saúde. A trajetória da informação científica no Brasil, na sua

história recente, foi influenciada pelo processo político da “abertura” democrática. Este

processo começou com o problema da dengue nos anos 1970 e se fortaleceu com o

movimento da reforma sanitária dos anos 1980.

Neste contexto, foi importante a 8a Conferência Nacional de Saúde, presidida por Sérgio

Arouca, que reconheceu a saúde como um direito que deve ser de todos. O Ministro da

Saúde da Época, Roberto Santos, apoiou a reforma. A 8a Conferência adotou uma

compreensão ampliada da saúde, não apenas como ausência de doença, mas como bem-

estar. Além disso, não se trata mais de uma visão individual da saúde, mas também de

sua percepção coletiva, social. Essa nova concepção trouxe o caráter intersetorial da

saúde (economia, educação, agricultura etc.). Isso ampliou muito o campo da saúde. O

projeto que saiu da 8a conferência foi a construção de um sistema único de saúde – o

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que se tornou realidade com a constituição de 1988. E na constituição o acesso à

informação também foi reconhecido como um direito.

A palestrante destacou que no Brasil, atualmente, vive-se o paradoxo de que, ao mesmo

tempo em que a atual política científica nacional reconhece que a informação científica

é um bem público e um direito de cidadania, o seu acesso permanece restrito, bem como

o seu compartilhamento e uso permanecem limitados.

Segundo a Doutora Ilma Noronha, hoje, no Brasil, embora o acesso à informação seja

um direito, sua efetivação ainda é um grande desafio. Ela criticou os critérios de

reconhecimento do mérito científico, os quais, estabelecidos internacionalmente, não

traduzem as particularidades brasileiras. Criticou a dependência brasileira às

publicações estrangeiras. Por exemplo, o Institute for Scientific Information (ISI) só

analisa publicações em inglês e não prioriza periódicos que tratam das doenças

negligenciadas. As prioridades são definidas de acordo com as agendas de pesquisa dos

países desenvolvidos, por influência das agências de fomento nacionais destes países

ricos. Essas agendas não contemplam as prioridades pactuadas pelos organismos

internacionais em atenção aos interesses dos países em desenvolvimento (OMS é o

grande exemplo), nem priorizam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Enfim, de acordo com a palestrante, muito embora a pesquisa no Brasil seja

desenvolvida no âmbito de um sistema público de saúde e seja financiada por recursos

públicos, o seu acesso permanece restrito e, muitas vezes, só é acessível com altos

custos para o próprio Poder Público que financiou a pesquisa.

Diante desse quadro, ainda segundo a palestrante, se discute a legitimação da produção

científica brasileira e o reconhecimento dos pesquisadores dedicados aos problemas

sanitários brasileiros. Isso foi debatido na 2a Conferência Nacional de Ciência

Tecnologia e Informação em Saúde – CNCTIS, realizada em 2004, em Brasília.

Para a palestrante, atualmente se passou a defender o acesso livre ou o acesso aberto aos

periódicos científicos. Esses periódicos têm um impacto bastante positivo, porque dão

grande visibilidade ao trabalho do pesquisador. Entretanto, há elementos culturais que

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ainda dificultam o avanço do acesso aberto, pois muitos pesquisadores preferem

publicar nos periódicos fechados e mais badalados no meio científico internacional.

Ainda conforme Doutora Ilma Noronha, estudos indicam que a criação do portal Scielo

não resolveu o problema da inclusão de pesquisadores brasileiros na comunidade

científica internacional, pois brasileiros continuam citando brasileiros e estrangeiros

continuam citando estrangeiros, em regra. Em que pesem essas dificuldades, a pesquisa

em saúde no Brasil continua crescendo. Editais específicos para pesquisa de doenças

negligenciadas têm sido abertos no Brasil, por exemplo.

A palestrante concluiu referindo que o acesso livre no Brasil na área da saúde começou

com a BVS. Foi criada a via verde, que se realiza com a disponibilização pelo autor de

trabalhos seus sem avaliação por pares em um Repositório Institucional (RI) – sendo

que a Fiocruz tem seu RI. Há, também, a via dourada, na qual há revisão por pares,

mantendo-se o acesso livre. Não obstante esses avanços, no Brasil ainda há muito o que

avançar em direção ao acesso livre.

Debate:

O debatedor, Senhor Pedro Urra, inicialmente saudou a todos e destacou o desafio da

construção interdisciplinar proposta pelo NETHIS. Afirmou que a informação em si e as

atividades de informação científica e técnica tem importante papel a cumprir para a

construção da intersecção entre saúde, cidadania e cultura.

Segundo Urra, um dos desafios importantes apresentados pela palestrante foi o de

desenvolver e consolidar os marcos epistêmicos de conceitos, valores e sentidos. Essa

consolidação é importante para promover a saúde das pessoas.

Neste sentido, o debatedor destacou que hoje uma das funções essenciais da OPAS,

mesmo no contexto do questionamento dos organismos internacionais multilaterais, é

auxiliar na construção do conhecimento. Uma das funções da OPAS é desenvolver a

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saúde baseada em evidências científicas e na ética. Portanto, a bioética é um

componente muito importante da saúde.

Pedro Urra apontou que as bibliotecas, sejam virtuais, sejam físicas, são espaços

importantes para compartilhar o conhecimento e a informação. Além disso, o

desenvolvimento da bioética no Brasil tem a ver com o contexto político democrático.

O debatedor também chamou a atenção para a importância dos conceitos. Neste sentido,

o thesaurus de descritores é um espaço de conflito e de interação. Assim, é importante

perceber o acesso a informação como um tema estratégico. Outro conceito chave é

“ordenar”, no sentido de alinhar a informação no sentido das metas e objetivos que

temos. Ordenar é hierarquizar, alinhar para algum propósito. Nesse sentido, a BVS pode

constituir-se um espaço ordenador, hierarquizador. A BIREME, como órgão de

cooperação técnica da OPAS, deve cooperar para construir e desenvolver capacidades

nacionais. Com a BVS, por exemplo, se constrói um espaço novo (BVS) que tende ao

alargamento e ao desenvolvimento de novos espaços, em prol do acesso à informação.

Esse foi o panorama apresentado pelo debatedor.

Especificamente para responder à questão da palestrante, sobre o que pode ser feito para

melhorar o acesso aberto à informação em saúde no Brasil, o debatedor concluiu

apresentando as prioridades que ele considera que devam ser enfrentadas. A primeira

delas é desenvolver capacidades nacionais para manejar o acesso aberto. A segunda,

produzir bens públicos internacionais ou globais, que o mercado não pode produzir.

Neste sentido, os bens públicos em informação, como o thesaurus de descritores, é uma

ferramenta criada não para repetir a informação, mas para interoperar e, com isso,

contribuir para a construção de conhecimento. A terceira prioridade, segundo o

debatedor, é perceber que a saúde existe no contexto da sociedade, como tema

intersetorial. Daí a necessidade de interagir com outras bases e redes que contribuem,

desde diferentes pontos de vista, para a saúde compreendida de maneira ampla.

Também conforme Pedro Urra, essas são prioridades da OPAS, que podem ajudar no

fortalecimento do acesso aberto à informação em saúde nos diferentes países em

desenvolvimento do continente americano. O debatedor concluiu sua fala com essas

prioridades, que devem ser realizadas com o respeito à reunião entre a ética e a ciência.

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Após o debate, o Presidente da mesa destacou a aproximação entre as ideias da

palestrante e do debatedor e abriu para o público perguntar e fazer considerações sobre

as discussões do Ciclo.

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5. Vulnerabilidade e teoria social: alguns apontame ntos à luz da obra de Pierre Bourdieu 6

Palestrante: Miguel Ângelo Montagner (UnB)

Debatedor: José Paranaguá de Santana (OPAS/OMS)

Data: 25 de agosto de 2011

Local: Fiocruz Brasília

O palestrante iniciou sua apresentação referindo que as ciências sociais estão na origem

do campo da saúde coletiva, sendo que cientistas sociais participaram da formação do

campo saúde coletiva nas ciências da saúde – o que é uma característica deste campo

no Brasil.

A saúde coletiva surge a partir da discussão sobre desigualdade social (própria do

campo das ciências sociais) no âmbito das ciências da saúde. Segundo o palestrante, ela

recebeu influência do pensamento marxista (anos 1970), que entrou no Brasil com a

obra de autores como Asa Cristina Laurell, que discutia o processo saúde-doença e suas

condicionantes de classe (problemas de saúde e índices sanitários distintos conforme a

classe social, traduzindo a desigualdade econômica no campo da saúde). Outra

influência foi da Maria Cecília Donnangelo, que também partia da abordagem marxista

para analisar o papel da saúde na estrutura de classes brasileira (obra Saúde e sociedade,

de 1976). Juan César Garcia, também marxista, trabalhava a saúde sob perspectiva

marxista, contrariando o funcionalismo; ele agregou muitos pensadores e sanitaristas em

países latino-americanos, por ter sido funcionário da OPS/OMS.

O palestrante destacou que “nos anos 90, passa-se a trabalhar o conceito de

vulnerabilidade, como forma de apontar para causas sociais dos adoecimentos e não

6 O título desta edição do Ciclo de Debates seria, inicialmente, “Vulnerabilidade e Globalização”.

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para a vítima ou grupos sociais em risco”. Ainda segundo Montagner, “trata-se de uma

ultrapassagem do conceito de desigualdade social fundada somente na estrutura de

classes, apontando para aspectos além do econômico per se“. Com isso, supera-se a

análise apenas sobre as desigualdades de classes, para estudar outros fatores, vale dizer,

supera-se o estrito enfoque do risco, para um enfoque da vulnerabilidade.

O palestrante notou que no campo das ciências sociais, a categoria da vulnerabilidade já

era conhecida. Então realizou breve resumo do pensamento sociológico, partindo de

Augusto Comte, que promoveu o salto conceitual do termo física social para o termo

sociologia.

No Brasil, as ciências sociais têm como primeiros expoentes Gilberto Freyre, Sérgio

Buarque de Holanda (“homem social”, teoria do patrimonialismo) e Caio Prado Júnior.

Outra linha sociológica importante, destacada por Montagner, é a da escola uspiana (que

influenciou Donnangelo): escola paulista de Florestan Fernandes, Fernando Henrique

Cardoso, Otávio Ianni. Segundo o palestrante, esses autores “introduziram um programa

de pesquisas interessado na possível modernização do país. Focaram as mudanças no

corpo social”.

Ainda de acordo com Montagner, para a compreensão atual do conceito de

vulnerabilidade, é importante compreender o neoliberalismo – o qual, segundo Lúcio

Kowarick , trata-se de um processo mundial que, sobretudo nos Estados Unidos, tem

sido caracterizado pela “culpabilização das vítimas”, com ”ênfase na questão estamental

(cultura da pobreza, welfare dependency, parasitismo social)”, fazendo uso de

categorias preconceituosas como underclass (desclassificado, subclasse, inútil social).

Com o neoliberalismo, entrou em crise a sociedade salarial (Robert Castel), com a

precarização do trabalho, extinção de determinadas profissões – o que provoca crise de

identidade profissional de grande número de trabalhadores, perda de enraizamento

social, perda das raízes sociais (donde se passa a falar nos sobrantes, inúteis,

desabilitados socialmente).

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Esse processo também ocorre no Brasil, com forte exclusão social nos anos 80 e 90,

forte precarização do trabalho (o que provocou a descrença no mito da ascensão social

decorrente do esforço e do trabalho; essa descrença tem a ver com a visão

patrimonialista da sociedade brasileira). No Brasil, Montagner aponta a “não

responsabilização do Estado”, porque considerado pela sociedade ineficaz e corrupto, a

ascensão das ONGs em substituição ao Estado, a destituição de direitos trabalhistas, a

acomodação social. Além disso, ocorre a “naturalização das demandas”: quem reclama

é considerado um “chato” pelo restante da sociedade.

Na teoria de Pierre Bourdieu, oposta ao neoliberalismo, estão conceitos importantes

para se pensar a vulnerabilidade e a desigualdade. Bourdieu, na tradição marxista, não

abriu mão da teoria da dominação, discutindo o Estado e a sociedade pelo enfoque da

sua ordem simbólica, da cultura. Bourdieu analisa, por exemplo, o papel da mídia para

gerar o consenso social (lógica estamental ou simbólica) e bens culturais simbólicos,

especialmente da televisão e do jornalismo, pois, como disse o palestrante: “Os

universos simbólicos são estruturados historicamente”.

Montagner então ressaltou que Bourdieu, nas suas últimas obras, trabalhou a categoria

do universo simbólico (poder simbólico), parecida com a ideia do micropoder, de

Foucault. Mas com uma diferença: Bourdieu não abandonou a ideia do peso

preponderante do Estado, ao contrário de Foucault, que destacou o peso de outras

estruturas da sociedade.

Foi muito importante a análise que o palestrante fez do conceito de campo na obra de

Pierre Bourdieu. Segundo Montagner, campos são “os universos sociais específicos e

históricos, lugar de uma luta concorrencial dos agentes e dos grupos sociais em torno de

princípios ‘localizados’ que compõem o capital específico daquele campo”. Ele

ressaltou que se pode “mapear” um campo, por meio da análise das revistas

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especializadas, dos congressos, dos alunos etc. Assim, o campo é um espaço de luta

concorrencial feroz. Daí Montagner falar que um campo “é consenso no dissenso”.

Além disso, também conforme o palestrante, o campo “possui uma autonomia relativa:

um corpo com ‘legitimidade’ socialmente reconhecida”, pois o que é legítimo no campo

é o que os próprios membros do campo determinam, o que abre espaço para hegemonias

– trata-se do “princípio de legitimação interno ao campo”. Para Bourdieu, a

representação gráfica dos campos é como um móbile: várias partes com movimentos

próprios, mas unidas por um ponto comum (ponto de equilíbrio).

Em suma, campos sociais podem ser percebidos como espaços de conflitos, a partir das

dicotomias: dominantes e dominados; vanguardas e heréticos; conservadores e

revolucionários; capital simbólico (científico etc.) versus capital temporal

(administrativo, de grupo, de área). Neste sentido, Montagner destacou que há

hegemonias não apenas entre grupos de um campo, mas entre áreas de um mesmo

campo (por exemplo, a hegemonia da área da genética no campo científico).

Outro conceito de Bourdieu destacado pelo palestrante foi da teoria da dominação:

“uma proposta de análise das relações entre os campos sociais e o papel do Estado na

regulação dos grupos sociais. O Estado como legitimador das diferenças através do

sistema de ensino, de formação e distribuição dos ’capitais’”. Sobre este tema,

Montagner chamou a atenção para duas obras de Bourdieu: La Distinction e O Poder

Simbólico. Segundo o palestrante, Bourdieu consegue mapear os usos sociais utilizando

critérios e variáveis não apenas econômicos.

Montagner também destacou que o campo do poder não se confunde com o campo

político, pois “é o espaço de relações de força entre os diferentes tipos de capital“, em

cujo centro está o Estado, o qual não desapareceu (como diziam os neoliberais) – bem

ao contrário, foi o Estado que socorreu os grandes bancos na crise econômica recente. O

Estado é o ponto central, o ponto de equilíbrio do móbile.

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Na sociedade, vários tipos de capital entram em jogo (econômico, cultural, social,

simbólico, físico). Daí decorre a ideia de que na sociedade não existe apenas a falta de

dinheiro, mas também a falta de condições simbólicas (ex.: ser imigrante argelino na

França), o que implica a grande miséria, ou miséria da condição (“Posição ocupada no

macrocosmo social e na ‘ordem’ societária”). Por outro lado, existe a pequena miséria,

ou miséria de posição (“relacionada ao ponto de vista de quem vivencia os

Microcosmos Sociais”). Há, ainda, os excluídos do interior, os quais, embora estejam

inseridos, são excluídos, como os filhos franceses de imigrantes argelinos – trata-se de

uma exclusão invisível.

O palestrante então destacou que as práticas sociais são expressão da hierarquia social,

manifestada pelo uso dos capitais simbólicos. Segundo Montagner, estas práticas sociais

manifestam a violência simbólica. No seu dizer: “espaços sociais são comandados pela

violência simbólica, a capacidade de manter e reproduzir as relações de dominação

através de meios simbólicos e não explícitos, amalgamados em uma lógica social na

qual essas relações estão encobertas por uma doxa (senso comum, uma ordem) que

esconde as relações arbitrárias de dominação econômica ou simbólica, tanto por parte

de quem sofre quanto até mesmo de quem exerce a dominação”.

A violência simbólica é resultado de uma cultura dominante, tida como legítima pela

sociedade organizada hegemonicamente. Ou o sujeito reconhece essa cultura e tenta se

adaptar a ela, ou procura opor-se a ela. Ainda segundo o palestrante, a violência

simbólica aponta para o imperialismo moral, de acordo com a proposta teórica de

Volnei Garrafa e Cláudio Lorenzo.

Debate

O debatedor, Doutor José Paranaguá de Santana, iniciou destacando que o tema da

vulnerabilidade pode ser discutido de diversas formas, no campo da bioética. Paranaguá

apontou dois elementos essenciais da abordagem proposta por Montagner:

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1. Leitura da vulnerabilidade na versão marxista, que está associada à concepção desse

movimento de construção do ideário da medicina social ou da saúde coletiva brasileira.

Trata-se da mudança do significado de causa, que não é apenas biológica ou física

como antes, mas é causação, ou determinação social, que muda conforme o contexto

histórico, ambiental ou social. Ou seja, saúde e doença não são determinadas apenas por

elementos físicos ou biológicos, mas principalmente por circunstâncias

socioeconômicas decorrentes das situações de vulnerabilidades.

Paranaguá critica o uso do termo “determinantes sociais”, os quais ainda induzem a

pensar em causas, e prefere o termo “determinação social”, o qual é mais adequado para

compreender a causação ou determinação social.

2. O conceito de campo, de Bourdieu, é outro elemento chave para compreender a

vulnerabilidade no campo da intersecção entre bioética, saúde pública e diplomacia.

Esses são os dois referenciais que cercam a relação entre bioética, diplomacia e saúde

pública.

Ainda segundo o debatedor, a incerteza é elemento chave para compreender a

vulnerabilidade, a qual pode ser definida como “a fragilidade diante da incerteza”. Tem-

se que fugir tanto da confusão quanto da ambiguidade do conceito de vulnerabilidade: é

algo que dizia respeito a “riscos e danos associados à participação de seres humanos em

pesquisas biomédicas”. Depois, passou a compreender “incertezas e iatrogenias

decorrentes das biotecnociências”. Então, recentemente, passou a tratar “malefícios para

a saúde e o bem estar resultantes do desenvolvimento industrial (C&T&I) e seus

impactos sobre a Natureza”.

Qual o uso prático de um conceito de campo? Pode-se resolver um problema que está na

confluência entre três campos (diplomacia, bioética, saúde pública) sem estabelecer um

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campo próprio dessa intersecção? Trata-se da “construção de um campo interdisciplinar

na confluência da bioética com a diplomacia e a saúde coletiva”. Paranaguá propõe isso

com “foco da bioética da intervenção sobre os dilemas decorrentes da tensão/confronto

entre os princípios da solidariedade (altruísmo da saúde pública) e da razão de Estado

(interesses diplomáticos)”.

Após o debate, o debatedor abriu para o público perguntar e fazer considerações sobre

as discussões do Ciclo. Entre outras intervenções, Thiago Cunha perguntou pela relação

entre violência simbólica e imperialismo moral (abordadas pelo palestrante), com outra

categoria da bioética que é a colonialidade.

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6. Considerações finais

O acervo dos encontros de maio, junho, julho e agosto de 2011, do “Ciclo de Debates

sobre Bioética, Diplomacia e Saúde”, reforça a importância de se estudar a intersecção

entre estes três campos – bioética, saúde pública e relações internacionais –, a partir de

distintos temas de inflexão – integração regional, religião, gestão do conhecimento e

vulnerabilidade social.

De maneira geral, tem-se a confirmação da hipótese de trabalho do NETHIS, de que

existe a necessidade, extremamente atual, de compreender a relação que há entre

bioética, relações internacionais e saúde pública. De maneira específica, podem ser

elencados os seguintes temas, os quais poderão ser aprofundados durante o

desenvolvimento das atividades do NETHIS:

- é importante comparar/distinguir entre a UNASUL e o MERCOSUL, ou

melhor, entre suas características, considerando a agenda de ambas as

instituições.

- é importante que o NETHIS, ao estudar os problemas bioéticos que emergem

dos processos de cooperação internacional, fique atento às peculiaridades de

cada bloco regional. Desta reflexão surge um tema que pode ser

problematizado nos trabalhos do Núcleo: o perfil econômico (de constituir um

“mercado”) do MERCOSUL e o perfil essencialmente político da UNASUL

engendram diferentes problemas bioéticos no que diz respeito à cooperação em

saúde realizada sob os auspícios de cada bloco regional?

- é interessante aprofundar debate em torno do pluralismo da bioética latino-

americana, quando se discute a relação entre bioética e religião.

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- ao estudar os problemas bioéticos que emergem dos processos de cooperação

internacional, deve-se ficar atento aos possíveis entrelaçamentos ou atritos que

existem, por vezes discretamente, entre religião e ciência no contexto da

bioética latino-americana. Desta reflexão surge um tema que pode ser

problematizado nos trabalhos do Núcleo: a relação entre ciência e religião pode

influenciar a análise da cooperação internacional em saúde sob o prisma da

bioética?

- pode ser desenvolvido o debate em torno do acesso à informação científica

em saúde e da valorização do trabalho dos cientistas do “Sul”, como é o caso

dos brasileiros.

- o NETHIS, ao estudar os problemas bioéticos que emergem dos processos de

cooperação internacional, pode aprofundar o tema do acesso à informação,

sendo que o próprio sítio eletrônico do NETHIS, bem como a BVS, caminham

neste sentido. Isso mostra que o NETHIS está no caminho do seu

amadurecimento como espaço científico e que tem muito a contribuir com o

acesso ao conhecimento no campo da bioética, na sua intersecção com a

diplomacia em saúde e com a saúde pública.

- o debate em torno do conceito de campo e a discussão sobre o campo objeto

do trabalho do Núcleo, contextualizado pela teoria social e pelo conceito de

vulnerabilidade, de certa forma sintetiza muitas referências que vinham sendo

feitas nas discussões do Núcleo sobre a obra de Pierre Bourdieu.

Estes temas podem ser problematizados nas atividades científicas do NETHIS. Enfim,

sugiro que estes temas sejam considerados para o aprofundamento dos trabalhos do

Núcleo, tendo em vista o fortalecimento do seu escopo temático e de sua inserção

acadêmica para contribuir para a compreensão do fenômeno da internacionalização da

discussão bioética no campo da saúde pública.