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Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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Índice
Introdução ................................................................................................................... 2
Pediatria .............................................................................................................. 3
Ginecologia e Obstetrícia .................................................................................... 3
Saúde Mental ...................................................................................................... 4
Medicina Geral e Familiar .................................................................................... 4
Medicina Interna .................................................................................................. 5
Cirurgia Geral ...................................................................................................... 6
Medicina da Emergência e Catástrofe ................................................................. 7
Preparação para a prática clínica (PPC) ............................................................. 7
Análise Crítica ............................................................................................................. 8
Anexos ...................................................................................................................... 10
Anexo I .............................................................................................................. 11
Anexo II ............................................................................................................. 12
Anexo III ............................................................................................................ 13
Anexo IV ............................................................................................................ 27
Anexo A ...................................................................................................... 27
Anexo B ...................................................................................................... 28
Anexo C ...................................................................................................... 29
Anexo D ...................................................................................................... 30
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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Introdução
O sexto ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Nova de Lisboa (FCM-UNL) organiza-se sob a forma de um estágio
profissionalizante, composto por estágios parcelares relativos a diversas áreas clínicas. Este
ano curricular representa a integração dos ciclos básico, pré-clínico e clínico que constituem
o MIM, tendo como finalidade auxiliar o estudante médico a adquirir uma base de
conhecimentos sólida e coerente, associada a um adequado conjunto de valores, atitudes e
aptidões que lhe permitam tornar-se um médico fortemente empenhado nas bases científicas
da arte da Medicina, nos princípios éticos e na abordagem humanista que constitui o
fundamento da prática médica. No final do 6.º ano do MIM, o aluno deve estar apto a
demonstrar o conhecimento das ciências básicas e clínicas, bem como as aptidões
necessárias para o exercício da Medicina sob supervisão, para além de ser capaz de utilizar
o conhecimento, com eficácia, na análise e solução dos problemas clínicos comuns, avaliar
os doentes e gerir adequadamente os problemas médicos. No início deste ano estabeleci
como objetivos pessoais: colmatar eventuais falhas teóricas ou práticas e consolidar
conhecimentos adquiridos ao longo dos 5 anos de curso; colocar em prática os conhecimentos
teóricos previamente adquiridos; apresentar maior autonomia na entrevista clínica, exame
objetivo, prescrição de exames complementares de diagnóstico, terapêutica e tomada de
decisões; desenvolver e melhorar as minhas capacidades de comunicação e de empatia com
o doente e seus familiares, tendo em conta os seus receios e expectativas; melhorar a minha
compreensão das componentes social e psicológica do modelo biopsicossocial e a
capacidade de trabalho e comunicação em contexto multidisciplinar.
O presente relatório propõe-se descrever, de forma sumária e sucinta, as principais
atividades por mim desenvolvidas, em cada um dos estágios parcelares, segundo a sua
cronologia (Anexo I), seguida de um posicionamento crítico relativo às mesmas, abordar
igualmente a UC integradora e opcional, todos os trabalhos por mim realizados ao longo do
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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ano (Anexo II e III), bem como outras atividades por mim desenvolvidas não consignadas no
plano de estudos da FCM (Anexo IV).
Pediatria - 14 de setembro a 09 de outubro de 2015
Iniciei o meu 6.º ano com o estágio de Pediatria, com uma duração de quatro semanas,
no Hospital de Dona Estefânia, sob a regência do Prof. Doutor Luís Varandas. Estabeleci
como principais propósitos tomar conhecimento das patologias pediátricas mais frequentes,
assim como a sua distribuição etária predominante, e identificar as nuances da abordagem da
criança e adolescente face ao adulto. Durante este estágio tive a oportunidade de participar
ativamente nas atividades da enfermaria, mais propriamente no serviço 5.2 e UCERN, nas
consultas de pneumologia e serviço de urgência, sob a tutela da Dra. Ana Casimiro. Tive ainda
a possibilidade de passar por outras especialidades além da pneumologia, nomeadamente
nas consultas de imunoalergologia (Dr. Jorge Fernandes), consultas de doenças metabólicas
(Drª Sílvia Sequeira), consultas de gastrentereologia (Drª Helena Flores) e no serviço de
cardiologia pediátrica do Hospital de Santa Marta (Dr. Sérgio Laranjo e Dra. Isabel Freitas). O
estágio compreendeu, igualmente, uma vertente mais teórica com reuniões de passagem de
doentes, reuniões e sessões clínicas, aulas teorico-práticas de imunoalergologia e
apresentação de seminários, sendo o meu sobre «Celulite da Órbita», no qual abordei
especificamente um caso clínico observado no serviço de urgência (SU). Apesar de ser um
estágio curto para cumprir todos os objetivos a que nos propomos, considero que todas as
experiências deste estágio foram muito positivas, gratificantes e enriquecedoras.
Ginecologia e Obstetrícia - 12 de outubro a 6 de novembro de 2015
Este estágio teve lugar no Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX), sob a coordenação
da Prof. Doutora Teresa Ventura. Como estágio profissionalizante que é, os objetivos tendem
a ser mais práticos que observacionais, e no meu caso, foi exatamente isso que aconteceu.
Sob a tutela do Dr. Jorge Costa, observei e participei em várias vertentes desta especialidade:
consultas de ginecologia e de obstetrícia, internamento de ginecologia e de obstetrícia, bloco
operatório, bloco de partos e SU, bem como outras áreas mais específicas, como a ecografia
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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obstétrica, histeroscopias e histerossalpingografias. Frequentei ainda a consulta de patologia
do colo, consulta de mama e consulta de infertilidade. Para terminar, juntamente com dois
colegas, apresentei um trabalho, cujo tema foi: «Doenças sexualmente transmissíveis em
Ginecologia». O facto de ter sido sempre integrada em discussões de equipa foi extremamente
relevante porque me proporcionou mais à vontade e segurança na prática clínica. Aprendi
bastante, consolidei os meus conhecimentos e cumpri os objetivos a que me propus.
Saúde Mental - 09 de novembro a 04 de dezembro de 2015
Acompanhei o Dr. Marco Gonçalves no Serviço de Perturbações Afetivas e Perturbação
Obsessivo-Compulsiva do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. Nos dois primeiros dias
de estágio, foram ministrados seminários pelo Prof. Doutor Miguel Xavier, regente da cadeira,
na FCM, com o objetivo de nos explicar o funcionamento geral do estágio, tendo sido
apresentados e discutidos os temas: métodos de entrevista psiquiátrica; formas de atuar em
situações comuns no serviço de urgência e que são abrangentes a quase todas as
especialidades médicas; como utilizar diferentes ferramentas de avaliação psíquica. Este foi
um estágio profissionalizante e, como tal, teve como principais objetivos a aquisição de
conhecimentos práticos na gestão do doente com doença mental e a observação da atuação
psiquiátrica em Serviço de Urgência. Considerei essenciais os dois primeiros dias de aulas,
em que me foi muito bem explicado o que se espera de nós e quais são as necessidades do
doente, enquanto doente e enquanto pessoa. Quando percebi isso, senti-me mais confortável
e segura para enfrentar um serviço de psiquiatria, tendo cumprido todos os objetivos a que
me propus. Considero, por isso, um estágio fulcral para a minha formação pessoal e como
futura médica. Relativamente ao trabalho de investigação realizado neste estágio, considero
ter sido de extrema importância a sua integração nesta área, tendo sido uma mais-valia em
termos de aprendizagem.
Medicina Geral e Familiar - 7 de dezembro de 2015 a 14 de janeiro de 2016
O estágio parcelar de Medicina Geral e Familiar teve a duração global de quatro
semanas, estando sob a regência da Prof. Doutora Isabel Santos. Optei por realizar o meu
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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estágio em Coruche, onde acompanhei o Dr. Carlos Ceia na USF Vale Sorraia. Do ponto de
vista global, assisti a consultas de adultos, de saúde materna, de planeamento familiar, de
revisão do puerpério e de saúde infantil. Pude fazer registos numas consultas, noutras
conduzir a entrevista clínica e, noutras, realizar o exame objetivo dos doentes, servindo
igualmente para aperfeiçoar a prescrição racional de métodos complementares de diagnóstico
e terapêutica. No que diz respeito a procedimentos práticos, realizei citologias, exames
ginecológicos e exames de saúde infantil. Considero que o maior enriquecimento obtido com
a experiência neste estágio foi, provavelmente, ao nível da abordagem de queixas
inespecíficas e entender o papel do médico na sua vertente educacional. Destaco ainda o
facto de esta USF ter um Serviço de Urgência, onde tive uma posição mais interventiva e que
foi também o local onde realizei grande parte dos procedimentos.
Medicina Interna - 25 de janeiro a 18 de março de 2016
Realizei o estágio de Medicina Interna, coordenado pelo Prof. Doutor Fernando
Nolasco, no serviço de Medicina 7.1 do Hospital Curry Cabral (HCC) do Centro Hospitalar de
Lisboa Central sob a orientação da Dra. Aline Gonçalves. Em suma, durante estas 8 semanas,
desenvolvi o meu trabalho em, essencialmente, 3 vertentes: enfermaria, consulta externa e
SU. Durante o meu estágio segui a evolução de vários doentes, ficando responsável, em
média, por 2-3 doentes por dia e realizando de forma autónoma: a anamnese, exame objetivo
cuidado e direcionado; interpretação de análises laboratoriais e exames complementares de
diagnóstico; análise das vigilâncias do dia anterior e registo do diário clínico no processo do
doente bem como a elaboração de notas de alta. Quando necessário, também era meu dever
a comunicação com os enfermeiros, fisioterapeutas, assistente social e outros serviços do
hospital, com o objetivo de otimizar os cuidados e permitir uma recuperação o mais precoce
possível. Também era da minha responsabilidade prescrever nova terapêutica e exames
complementares de diagnóstico após discussão com a unidade funcional onde estava
inserida, assim como o contacto com os familiares. Todas as semanas frequentei o SU bem
como as consultas externas da minha tutora. Durante o estágio assisti também a atividades
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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de caráter mais pedagógico, como reuniões de serviço, sessões clínicas e seminários
destinados aos alunos. Conjuntamente com os restantes colegas que se encontravam a
estagiar no servico apresentei uma revisão teórica sobre Hipertiroidismo, cujo artigo incluo em
anexo (Anexo III). Foram objetivos específicos deste estágio a aplicação, na prática clínica
diária, dos conhecimentos, gestos e atitudes adquiridos ao longo do MIM, desenvolvendo
progressivamente confiança, auto-suficiência e capacidade de atuação e liderança numa
enfermaria, que considero terem sido cumpridos na sua totalidade. Deste estágio também
fizeram parte seminários na FCM destinados a todos os alunos neste estágio, bem como aulas
teórico-práticas no HCC apenas para os alunos deste hospital, que foram importantes por
serem uma revisão geral de temas bastante pertinentes, abordando questões práticas e
passíveis de serem encontradas tanto em serviços de urgência como em internamento.
Cirurgia Geral - 28 de março a 20 de maio de 2016
Durante oito semanas realizei o estágio de Cirurgia Geral no Hospital Beatriz Ângelo
(HBA). No primeiro dia fomos recebidos pelo Professor Doutor Rui Maio, regente da cadeira,
dando início a uma primeira semana de preparação teórica e teórico-prática no auditório do
HBA, sendo depois divididos pelos diferentes hospitais. Durante as 3 primeiras e última
semana de estágio prático acompanhei a Dra. Susana Ourô, juntamente com duas outras
colegas, nas suas atividades no serviço (Enfermaria, Consulta Externa, Bloco Operatório e
chamadas ao SU). Nas semanas seguintes, acompanhei as atividades da especialidade que
escolhi como opcional, Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), e passei uma semana no SU.
Ao longo do meu estágio no serviço de cirurgia, tive um papel mais ativo na enfermaria
(observando os doentes internados e realizando o seu exame objetivo, notas de alta e diários
clínicos e, pude observar e ajudar na manutenção de pensos de feridas cirúrgicas e
colostomias, extração de drenos, pontos e agrafos) e, por outro lado, um papel mais
observacional nas consultas externas, reuniões de serviço e no bloco operatório. No dia 19
de maio, os alunos que fizeram estágio nos diferentes hospitais apresentaram um caso clínico
observado pelo seu grupo, no âmbito deste estágio, com a duração de 10 minutos. Juntamente
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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com as minhas colegas, apresentámos um caso sobre um Adenocarcinoma do Reto, com o
título “Where the sun doesn’t shine”, que focou o caso de uma doente submetida a uma
cirurgia de recessão anterior de reto com ileostomia de proteção laparoscópica e excisão total
do mesoreto por via transanal (TaTME), uma técnica cirúrgica introduzida recentemente em
Portugal.
Medicina da Emergência e Catástrofe - 23 de maio a 3 de junho de 2016
Apesar da Unidade Curricular (UC) opcional não constar do Estágio Profissionalizante,
penso ser pertinente mencioná-lo neste relatório. Escolhi como Opcional a UC de Medicina
de Emergência e Catástrofe, sob a regência do Prof. Dr. Rui Moreno, uma vez que abordava
temas pouco explorados ao longo do curso, nomeadamente sobre o Instituto Nacional de
Emergência Médica (INEM). Foram lecionadas várias aulas teóricas, na sua maioria muito
interessantes, particularmente as que incidiam no modo de atuação perante situações como
catástrofe e acidentes com multivítimas. No entanto, alguns temas repetiram-se, tendo este
sido um aspeto menos positivo. Nesta UC tivemos a oportunidade de visitar a Unidade de
Cuidados Intensivos Neurocríticos (UCINC) do Hospital de S. José, o INEM, nomeadamente
o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e o Centro de Informação Antivenenos
(CIAV) e, ainda observámos o equipamento que consta numa Viatura Médica de Emergência
e Reanimação (VMER), numa Viatura de Intervenção em Catástrofe (VIC) e um Posto Médico
Avançado (PMA). Realizámos ainda um exercício “table top” de um acidente com multivítimas.
Penso ter escolhido bem esta opcional, uma vez que, mesmo sendo maioritariamente teórica,
explorei temas com os quais nunca tinha tido muito contacto ao longo do curso.
Preparação para a prática clínica (PPC)
A unidade curricular de PPC foi lecionada quinzenalmente na FCM, sob a regência do
Prof. Doutor Roberto Palma dos Reis. Foram abordados os temas: “Dor Torácica”, “Síncope”,
“Cansaço”, “Edema”, “Perda Ponderal”, “Dor Abdominal” e “Febre”, do ponto de vista de
diferentes especialidades. A avaliação final foi dividida entre os critérios de assiduidade e um
exame escrito de escolha múltipla.
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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Análise Crítica
Após reflexão acerca deste ano que passou, considero que a maioria dos meus
objetivos foram cumpridos. Todos os estágios parcelares contribuíram para a consolidação de
conhecimentos teóricos e deram-me mais confiança na prática médica. Em relação à
autonomia, um dos objetivos que considero mais importantes devido ao nosso papel
essencialmente observacional ao longo dos anos, foi dos pontos mais variáveis.
Destaco neste ponto o estágio de Medicina Interna, em que me foi dada total
autonomia, permitindo-me desenvolver pensamento clínico crítico de forma independente,
contribuindo para melhorar o meu raciocínio diagnóstico e a integração dos dados obtidos na
colheita da anamnese, realização de exame objetivo e interpretação de exames
complementares de diagnóstico. Foi o estágio que me permitiu desenvolver mais as
capacidades sociais, o trabalho em equipa e a capacidade de identificar situações com
necessidade de pedidos de colaboração das especialidades. Também no estágio de Medicina
Geral e Familiar me foi dada alguma autonomia para participar nas consultas, o que me
permitiu não só praticar técnicas como citologias, mas também técnicas de comunicação. Nos
restantes estágios tive alguma autonomia, mas nunca tão significativo, o que também é
explicável pelo facto de os estágios terem uma abordagem ao doente mais específica e com
a qual não tivemos tanto contacto ao longo dos anos de curso. Um ponto que considero menos
bem conseguido na organização dos estágios é a existência das listagens de procedimentos
exigidos no fim de cada um, muitas das quais demasiado ambiciosas tendo em conta o tempo
de estágio que temos e a quantidade de alunos, internos no ano comum e internos da
especialidade. O rácio tutor:aluno conseguido na maioria dos estágios (1:1) permitiu-me
aproveitar da maneira mais eficaz e cumprir a maior parte dos objetivos a que me propus,
tendo este sido um ponto bastante positivo. Quanto aos tutores com os quais tive contacto
durante este ano só tenho de agradecer e elogiar a disponibilidade e interesse pelo ensino
que sempre demonstraram comigo. No que diz respeito à componente teórica e teórico-prática
das diferentes UCs, foram abordados temas com aplicabilidade clínica e do maior interesse
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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para a consolidação de conhecimentos, pelo que nessa vertente vi as minhas expectativas
cumpridas. Destaco a semana teórica/teórico-prática de Cirurgia Geral, em que tenho a
apontar como ponto positivo o facto de ter decorrido na primeira semana de estágio, o que
nos permitiu consolidar conhecimentos não tão aprofundados durante os anos anteriores e
treinar algumas capacidades com interesse na componente prática do estágio que se seguiu.
Também a introdução ao estágio de Saúde Mental foi de extrema importância, não só para a
vertente prática do estágio, mas para o nosso futuro como médicos de qualquer área.
Relativamente às duas unidades curriculares não pertencentes ao estágio
profissionalizante, o Estágio Opcional e PPC, penso que ambas tiveram um contributo positivo
para o meu último ano, como já referi anteriormente.
Quanto a atividades extracurriculares, penso ter aproveitado para explorar algumas
áreas do meu interesse, como a participação no Congresso Português de Cardiologia (Anexo
A) e nas 28ª Jornadas de Cardiologia do Hospital Egas Moniz (Anexo B) e, ainda, no
Congresso Nacional Estudantes de Medicina (Anexo C), onde tivemos a oportunidade de ouvir
e discutir temas de particular interesse no que toca ao presente, enquanto estudantes, e ao
futuro, enquanto profissionais de saúde. Durante este ano fui também, com muito orgulho,
atleta da equipa de Andebol Feminino da NOVA na 1ª Divisão do Campeonato Universitário
de Lisboa de 2015/2016, disputando as Fases Finais Nacionais do Campeonato Nacional
Universitário de 2016 (Anexo D).
Em modo de conclusão, considero que este ano foi fulcral na minha aprendizagem, pois
adquiri maior confiança e autonomia, desenvolvendo o meu raciocínio clínico e a minha
capacidade diagnóstica e de tomada de decisão. Resta-me agradecer a todos os Professores,
Assistentes e Tutores pela fundamental contribuição que tiveram na minha formação, pela
disponibilidade, paciência e dedicação que sempre demonstraram, interesse pelo ensino e
simpatia, mas, sobretudo, pelo exemplo.
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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Anexos
Anexo I: Cronograma
Anexo II: Trabalhos realizados no âmbito do estágio profissionalizante
Anexo III: Hipertiroidismo – revisão teórica
Anexo IV: Atividades extracurriculares
Anexo A: Certificado de participação no Congresso Português de Cardiologia
Anexo B: Certificado de participação nas 28ª Jornadas da Cardiologia do Hospital Egas
Moniz
Anexo C: Credencial de participação no Congresso Nacional dos Estudantes de Medicina
Anexo D: Declaração de atleta da equipa de Andebol Feminino da NOVA
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Anexo I
Cronograma
Unidade Curricular Regente Duração Local e tutor
Pediatria Prof. Doutor Luís Varandas 4 semanas Hospital Dona Estefânia
Dra Ana Casimiro
Ginecologia e Obstetrícia Prof. Doutora Teresa
Ventura 4 semanas
Hospital de Vila Franca de Xira
Dr Jorge Costa
Saúde mental Prof. Doutor Miguel Xavier 4 semanas
Hospital Júlio de Matos
(CHPL)
Dr Marco Gonçalves
Medicina Geral e Familiar Prof. Doutora Isabel Santos 4 semanas USF Vale Sorraia
Dr Carlos Ceia
Medicina Interna Prof. Doutor Fernando
Nolasco 8 semanas
Hospital Curry Cabral
Dra Aline Gonçalves
Cirurgia Prof. Doutor Rui Maio 8 semanas Hospital Beatriz Ângelo
Dra Susana Ourô
Medicina da emergência e
catástrofe Prof. Doutor Rui Moreno 2 semanas FCM
Preparação para a prática clínica Prof. Doutor Palma dos Reis 2º
semestre FCM
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Anexo II
Trabalhos realizados no âmbito do estágio profissionalizante
Estágio Tema e autores
Pediatria Celulite da Órbita
Inês Vasco e João Pedro Oliveira
Ginecologia e
Obstetrícia
Doenças sexualmente transmissíveis em Ginecologia
Helena Lages, Inês Vasco e Pedro Branco
Medicina Interna
Hipertiroidismo
Francisco Carvalho, Inês Vasco, Maria Madalena Paulino e Mónica
Azevedo
Cirurgia Geral «Working where the sun doesn’t shine»
Inês Vasco, Sofia Nunes e Teresa Brito
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Anexo III
Revisão teórica
HIPERTIROIDISMO
Francisco Carvalho, Inês Conde Vasco, Madalena Paulino, Mónica Spencer
Orientadora: Drª Aline P. Gonçalves
Diretor de serviço: Professor Doutor José Malhado
Serviço de Medicina 7.1 do Hospital Curry Cabral, CHLC
RESUMO
O Hipertiroidismo caracteriza-se por um
estado de hipermetabolismo e aumento dos níveis
séricos das hormonas da tiróide. Trata-se de um
distúrbio que afeta aproximadamente 2% das
mulheres e 0,2% dos homens. O diagnóstico
etiológico influencia o prognóstico e a terapêutica.
Os sintomas de hipertiroidismo variam de
acordo com a idade do doente, a duração da
doença, a magnitude do excesso das hormonas e a
presença de comorbilidades. Os sintomas típicos
incluem taquicardia, fadiga, perda de peso e
tremor. A apresentação clínica é diferente em
jovens e indivíduos de idade avançada.
Há três tipos principais de tratamento -
farmacoterapia antitiroideia, iodo radioactivo e
cirurgia – todos eficazes, no entanto as opiniões
divergem acerca das indicações porque, além do
fato de terem importantes efeitos adversos, não há
tratamento nenhum que resulte regularmente em
eutiroidismo.
Palavras-chave: Hipertiroidismo; Tireotoxicose;
Doença de Graves; Bócio Multinodular Tóxico;
Tiroidites
ABSTRACT
Hyperthyroidism is characterised by
hypermetabolism and elevated serum levels of free
thyroid hormones. It is a disease affecting
approximately 2% of women and 0.2% of men.
Aetiological diagnosis influences prognosis and
therapy.
The presenting symptoms of
hyperthyroidism vary according to the age of the
patient, duration of illness, magnitude of hormone
excess and presence of comorbid conditions.
Typical symptoms include tachycardia, fatigue,
weight loss and tremor. The clinical presentation is
different in younger and older patients.
There are three principal treatments –
antithyroid drugs, radioiodine and surgery – all of
which are effective, but opinions differ about the
indications for them because, beside the fact that
some have important side effects, no single
treatment regularly results in permanent
euthyroidism.
Keywords: Hyperthyroidism; Thyrotoxicosis;
Grave’s Disease; Toxic Nodular Goiter; Thyroiditis
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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DEFINIÇÃO
O Hipertiroidismo caracteriza-se pelo
excesso de síntese e secreção de hormonas
pela glândula tiroideia, que condiciona um
estado hipermetabólico de tirotoxicose.
Tirotoxicose, por sua vez, é um termo geral
que se refere a todas as causas do excesso de
hormonas tiroideias, incluindo a ingestão
exógena de hormonas sintéticas. Embora os
termos hipertiroidismo e tirotoxicose serem,
por definição, diferentes, na prática, acabam
por ser muitas vezes utilizados no mesmo
sentido1.
As formas mais comuns de hipertiroidismo
incluem: Bócio difuso tóxico ou Doença de
Graves, Bócio multinodular tóxico ou Doença
de Plummer e o Adenoma tóxico. Todas as
formas podem variar na sua forma de
apresentação, desde assintomático,
subclínico, clínico a «Tempestade tiroideia».
O hipertiroidismo subclínico é diagnosticado
em doentes assintomáticos com base em
análises laboratoriais anormais (Tirotropina
[TSH] baixa, mas Tiroxina [T4] livre e
Triiodotironina [T3] normais), e é
provavelmente mais comum do que
geralmente se pensa. Por outro lado, o
hipertiroidismo clínico apresenta-se,
evidentemente, com sinais e sintomas típicos
bem como, elevação das T4L e T3. Já a
Tempestade tiroideia é a forma grave e
potencialmente fatal de hipertiroidismo e
resulta geralmente da ocorrência de um
evento precipitante em doentes com ou sem
diagnóstico de hipertiroidismo não tratado.
EPIDEMIOLOGIA
A Doença de Graves é a forma mais comum
de hipertiroidismo nos Estados Unidos,
estando na origem de cerca de 60-80% dos
casos de tirotoxicose. Esta doença ocorre com
a mesma frequência em caucasianos,
hispânicos e asiáticos, mas a taxas são mais
baixas em afro-americanos. A Doença de
Graves afeta mais o sexo feminino, tendo uma
relação homem:mulher de 1:5-10. A
Oftalmopatia de Graves, complicação da
Doença de Graves, é também mais comum
em mulheres do que em homens. O Bócio
multinodular tóxico (15-20% dos casos de
tirotoxicose) ocorre com mais frequência em
regiões de deficiência de iodo, pelo que
nestas regiões a incidência de Bócio
multinodular tóxico é muito maior do que em
áreas do mundo em que a maioria da
população recebe iodo suficiente, como
sendo a maioria dos países desenvolvidos. O
Adenoma tóxico é o menos frequente e está
na origem de 3-5% dos casos de tirotoxicose.
A relação homem:mulher no Bócio
multinodular tóxico e Adenoma tóxico é
muito menos marcada de 1:2-4, apesar de
manter o predomínio no sexo feminino.
As doenças auto-imunes da tiroide (como a
Doença de Graves) têm um pico de incidência
em pessoas com idade entre os 20-40 anos.
Por outro lado, o Bócio multinodular tóxico
afeta doentes que normalmente apresentam
uma longa história de bócio não tóxico e que,
portanto, se manifesta mais tarde, por volta
dos 50 anos de idade. Os Adenomas tóxicos
apresentam-se geralmente numa idade mais
jovem.
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
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FISIOPATOLOGIA
A ligação da TSH, libertada da hipófise, a
receptores na glândula tiróide (Receptores da
TSH), conduz à libertação de hormonas de
tiróide, principalmente T4 e em menor grau
T3. Por sua vez, os níveis elevados destas
hormonas atuam no hipotálamo para
diminuir a secreção de TRH e, portanto, a
síntese de TSH.
A síntese de hormona da tiróide requer
iodo. O iodo inorgânico proveniente da dieta
é transportado para dentro da glândula,
convertido em iodo e ligado à tiroglobulina
pela enzima peroxidase da tiróide (TPO) -
organificação. Isto resulta na formação de
monoiodotirosina (MIT) e diiodotirosina (DIT),
as quais se juntam para formar T3 e T4 e que
são então armazenadas com a tiroglobulina
no lúmen folicular da tiróide.
As hormonas da tiróide são libertadas para
a circulação periférica, sendo que mais de
99,9% da T4 e T3 em circulação periférica
estão ligadas às proteínas plasmáticas e são
inativas. A T3 livre é 20-100 vezes mais
biologicamente ativa do que T4 livre. A T3
livre atua através da ligação a receptores
nucleares, regulando a transcrição de várias
proteínas celulares. Qualquer processo que
leve a um aumento na circulação periférica de
hormonas da tiróide não ligadas às proteínas
plasmáticas pode causar tirotoxicose.
Distúrbios do mecanismo homeostático
normal podem ocorrer ao nível da hipófise, da
glândula tiróide ou na periferia.
Independentemente da etiologia, o resultado
é um aumento na transcrição de proteínas
celulares, que leva a um aumento na taxa
metabólica basal.
ETIOLOGIA
São várias as etiologias que causam
hipertiroidismo, sendo a mais frequente a
Doença de Graves.3
Doença de Graves
A Doença de Graves é uma doença
autoimune órgão-específica em que existem
anticorpos contra os receptores da TSH, que
estimulam as células foliculares da tiróide a
produzir quantidades excessivas de T3 e T4.
Embora ainda não se saiba muito bem qual o
fator precipitante, pensa-se que a causa da
doença possa ser um defeito nos linfócitos T
supressores. Estes linfócitos T alterados não
vão impedir a proliferação de linfócitos T
helper auto-imunes, que por sua vez vão
estimular os linfócitos B a produzir anticorpos
anti-receptores TSH. Estes anticorpos são
designados estimuladores da tiróide de longa
acção. Quando se liga aos receptores de
membrana celular, o TSH-R [stim] ab estimula
a síntese de hormona e a secreção de uma
forma semelhante à TSH. Embora os níveis de
TSH-R [stim] ab se correlacionam pouco com
a gravidade da patologia, a sua presença pode
ser importante para o diagnóstico e
prognóstico. Anticorpos estimuladores da
tiróide (TSAb) ligam-se ao receptor de TSH,
activando a adenilato ciclase, o que conduz
não só ao aumento da produção da hormona
tiroideia como também ao aumento do
volume da glândula e da sua vascularização.
Histologicamente há hiperplasia folicular,
infiltração linfocítica multifocal e raros
centros germinativos linfóides, sendo a
maioria dos linfócitos intra tiroideus células
T.18
A suscetibilidade para a doença de Graves
é determinada por fatores genéticos,
ambientais e endógenos. Em termos
genéticos, parece haver uma associação entre
Doença de Graves e polimorfismos do gene
CTL4-4 e determinados alelos HLA no
cromossoma 6.18 Relativamente aos factores
ambientais, pensa-se que a doença de Graves
possa ser desencadeada por uma infeção
viral, isto é, há um mimetismo molecular
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
16
entre os epítopos virais e os receptores TSH.
Os anticorpos contra os epítopos virais vão
atuar nos receptores TSH, ocorrendo uma
reação cruzada, formando Ac anti-receptor
TSH. O stress e o tabagismo foram também
apresentados como fatores de risco, a maior
exposição a estrogênios ou menos exposição
a testosterona poderá estar associado à maior
incidência no sexo feminino, sendo a gravidez
um fator de risco nas mulheres susceptíveis.18
Pode ainda afectar recém-nascidos de mães
com a doença ativa ou antecedentes de
Doença de Graves, através da passagem
transplacentária de imunoglobulina TSI que
estimula a tiróide e que está presente no
sangue materno. O feto estará em risco de
desenvolver hipertiroidismo neonatal,
especialmente se o anticorpo estiver elevado
no 3º trimestre.1,11 Há evidências que em
doentes com Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida, a terapêutica antivírica altamente
ativa foi associada ao aparecimento de
doença de Graves e pode ainda estar
relacionada com a alteração da função das
céluas TCD4+.18
A doença de Graves associa-se a outras
doenças auto-imunes, quer órgão-específicas
quer sistémicas, como a Diabetes mellitus.3
Bócio multinodular tóxico
Geralmente ocorre numa glândula tiroideia
multinodular, que subsequentemente
desenvolve nódulos funcionais autónomos,
que libertam hormonas tiroideias em excesso
causando hipertiroidismo. A patogénese pode
ser atribuída a mutações somáticas no gene
do receptor da TSH, levando à ativação
constitutiva do receptor e regulação positiva
de sinalização de monofosfato de adenosina
cíclico (cAMP).
Geralmente apresenta-se em indivíduos
com mais de 50 anos de idade com
antecedentes prévios de bócio multinodular e
tende a ser mais comum em áreas com
deficiência de iodo.1,2,3
Adenoma tóxico
Adenoma nodular tóxico é um nódulo
solitário na glândula tiroideia que aumenta a
produção da hormona. Resulta da hiperplasia
focal ou difusa das células foliculares cuja
capacidade funcional é independente da
regulação pela TSH. A doença aparece anos
após o aparecimento do nódulo,
maioritariamente na faixa etária entre os 30 e
os 40 anos.1
Foram identificadas mutações dos genes
para o recetor de TSH, na proteína Gs-alpha.
Mutações nos recetores de TSH são as mais
comuns e foram encontradas em 15 a 31
adenomas tóxicos num estudo. A frequência
de adenoma tóxico não está relacionada com
ingestão de iodo.3
Tiroidites
Tiroidite de Hashimoto é o tipo mais
comum de tiroidite. É de etiologia autoimune
e caracteriza-se por infiltração crónica
linfocítica da glândula tiroideia e a presença
de altos títulos de anticorpos antitiroideus. A
maior parte desenvolve hipotiroidismo, mas
raramente podem ter também
hipertiroidismo. Os dois distúrbios têm
patogénese similar sendo que, muitos
pacientes têm altas concentrações de
antitiroide peroxidase (TPO) e anticorpos
anti-tiroglobulina (Tg). 1,3,4
Tiroidite pós-parto, ocasionalmente
referida como uma tiroidite silenciosa, é uma
variante da tiroidite autoimune.3 Desenvolve-
se dentro de um ano após parto com
incidência em 5% a 10% em todas as
mulheres. Pode também ocorrer após aborto
espontâneo ou induzido.20 A Tiroidite
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
17
esporádica é a condição similar com a tiroidite
pós-parto, mas não está associado a gravidez.
Tiroidite induzida por fármacos, como a
amiodarona, está associada a hipertiroidismo
sintomático e assintomático. O mecanismo da
disfunção da tiróide pelo uso de amiodarona
é causada pela libertação de iodo pelo próprio
fármaco ou por desenvolvimento de tiroidite
destrutiva.17 O risco é maior nos doentes com
autoimunidade subjacente. Bócio nodular e
multinodular, mais comum nos idosos, é um
fator predisponente para tiroidite induzida
por amiodarona. 1,9,14 Outros fármacos que
causam tiroidite incluem lítio, interferão-α e
interleucina-2.1,2,3
Embora raro, a administração de contraste
com iodo nas angiografias e tomografias
computadorizadas pode também induzir
hipertiroidismo.3
Tiroidite subaguda, também conhecida
como Tiroidite de Quervain ou Tiroidite
granulomatosa, é uma inflamação dolorosa
da tiróide, que geralmente é precedida por
uma infecção respiratória viral. É atribuível a
uma reposta autoimune subsequente e são
encontrados marcadores de autoimunidade
durante a fase de tiroidite subaguda. Os vírus
implicados na patogénese da tiroidite
subaguda incluem adenovírus, echovirus,
influenza, coxsackie e vírus da parotidite
infecciosa. A inflamação da tiroidite subaguda
é caracterizada pela infiltração de células
mononucleares nas zonas afetadas da
glândula tiroideia. Histopatologicamente,
observam-se células gigantes multinucleadas
a circundar o colóide, que podem formar
granuloma.1,2,3,16
Tecido tiroideu ectópico e exógeno
Pode ocorrer por produção de hormonas
tiroideias por tecido tiroideu ectópico como
acontece quando há metástases originárias
de carcinomas foliculares da tiróide ou
também se houver um teratoma ovárico que
contenha elementos tiroideus. Estes têm a
capacidade de excretar quantidades
excessivas de hormona tiroideia e portanto
levar a um estado de Hipertiroidismo.7
O Tecido tiroideu exógeno pode ser
causado por tireotoxicose factícia, que ocorre
quando os doentes consomem excessivas
quantidades de hormona tiroideia exógena,
acidentalmente ou deliberadamente, ou por
overdose aguda por levotiroxina.3,6
Outras causas de hipertiroidismo
Destaca-se o hipertiroidismo causado por
aumento da produção de TSH, sendo uma
apresentação pouco frequente. Divide-se em
duas formas: a neoplásica e a não neoplásica.
Uma das entidades conhecidas são os
macroadenomas.3,21
Outra possível etiologia são os tumores das
células germinativas e distúrbios
trofoblásticos, que podem ocorrer em
mulheres com coriocarcinoma ou em homens
com tumores de células germinativas
testiculares, e que secretam grandes
quantidades de gonadotrofina coriónica
humana (hCG). Estes tumores secretam hCG
em grande quantidade e esta vai ligar-se aos
receptores TSH das células foliculares e
estimular a sobreprodução de hormonas
tiroideias.3
Há alguns casos reportados de doentes que
desenvolveram hipertiroidismo sob
terapêutica com epoprostenol
(Prostaglandina I2) para hipertensão
pulmonar arterial após um ano e meio de
tratamento, no entanto são necessários mais
estudos sobre esta patogénese.3
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
As manifestações clínicas do
Hipertiroidismo cursam geralmente com a
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
18
ativação do sistema nervoso simpático,
associados igualmente ao aumento do status
metabólico e à elevação da temperatura
corporal. Para além dos sinais e sintomas
associados ao hipermetabolismo, cuja
intensidade é variável, algumas etiologias
apresentam características particulares,
como é o exemplo da exoftalmia e a
dermopatia infiltrativa (mixedema pré-tibial),
que ocorrem apenas na Doença de Graves.
Constata-se também que nos indivíduos mais
jovens os sintomas mais comuns são a
ansiedade, hiperexcitabilidade e tremor,
sendo que nos indivíduos de idade mais
avançada, os sintomas cardiovasculares
encontram-se mais frequentemente
presentes. Propõe-se desta forma, uma
revisão das manifestações clínicas segundo os
sistemas afetados.
Manifestações Cutâneas
No Hipertiroidismo a pele geralmente
apresenta-se quente e húmida, devido ao
aumento do fluxo sanguíneo no tegumento
cutâneo. Tipicamente, os doentes
manifestam intolerância ao calor, sudorese
excessiva, cabelo fino e friável. Em alguns
doentes ocorre o deslocamento da margem
distal da unha do seu leito, fenómeno este
que se denomina onicólise ou unha de
Plummer. O mixedema pré-tibial, que se
verifica apenas nos doentes com Doença de
Graves, surge como uma lesão edemaciada
não-depressível, cujo aspeto “casca de
laranja” se apresenta de coloração violácea,
hiperpigmentada, na região pré-tibial,
podendo ainda atingir o dorso do pé. Prurido
e urticária são outros sintomas frequentes no
Hipertiroidismo. Outros distúrbios
autoimunes podem ocorrer
simultaneamente, como Vitiligo ou Alopécia
areata.22
Manifestações Oculares
As manifestações oculares decorrentes do
Hipertiroidismo apresentam-se de
intensidade variável consoante o mecanismo
subjacente. A retracção palpebral é o sinal
mais frequente, ocorrendo em cerca de 75%
dos indivíduos à data do diagnóstico. O
aumento do tónus do músculo de Muller pela
ativação simpática, a inflamação e posterior
fibrose do músculo elevador da pálpebra ou a
proptose do globo ocular são três possíveis
causas para a explicação da retracção
palpebral no Hipertiroidismo. O edema
periorbitário e a exoftalmia bilateral e
assimétrica ocorrem em cerca de 50% dos
indivíduos com Doença de Graves. Originam-
se pela inflamação dos tecidos periorbitários
através de mecanismos de auto-imunidade,
sendo mais frequente em doentes
fumadores. Outras manifestações
comumente observadas são as queratites de
repetição, as úlceras da córnea e, nos casos
mais graves, pode ocorrer neuropatia óptica,
dos quais 20% perde a visão.23
Manifestações Cardiovasculares
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
19
O Hipertiroidismo clínico induz um estado
hiperdinâmico no sistema cardiovascular, no
qual ocorre um aumento do débito cardíaco e
redução na resistência vascular periférica. Por
conseguinte, ocorre um aumento
cronotrópico e ionotróprico cardíaco. Queixas
de palpitações e/ou taquicardia, bem como o
surgimento de taquiarritmias
supraventriculares, nomeadamente a
Fibrilação Auricular (FA), ocorrem com
frequência. Esta última, com resposta
ventricular rápida, ocorre entre 10 a 20% dos
indivíduos com Hipertiroidismo, sendo mais
comum no sexo masculino, com idade
superior a 60 anos. O risco de FA é tanto maior
quanto maior a supressão de TSH (< 0.1
um/L).24 O prolapso mitral, regurgitação
mitral e hipertrofia ventricular esquerda,
eventualmente Insuficiência Cardíaca,
também foram observados nos doentes com
Hipertiroidismo, no entanto o seu mecanismo
fica ainda por esclarecer.
Manifestações Gastrointestinais
Os sintomas gastrointestinais mais comuns
no Hipertiroidismo, devido ao aumento da
motilidade intestinal, consistem no aumento
da frequência defecatória e perda de peso. A
hiperfagia, também é comum nestes doentes.
A disfagia contudo é um sintoma raro, mas
quando presente pode indicar compressão
esofágica eventualmente pelo bócio difuso ou
por alterações regulatórias neurohormonais.
Designa-se por Hipertiroidismo apático,
frequente na população mais idosa, o
surgimento de dor abdominal, vómitos
frequentes, perda de peso e alterações nos
hábitos intestinais, bem como apatia e
depressão, na ausência de manifestações
cardinais de Hipertiroidismo.25 Anorexia
poderá também ocorrer. A incidência de
outras doenças autoimunes, como Doença
Celíaca, está também aumentada no
Hipertiroidismo. Um aumento nas enzimas
hepáticas (27% e 37% para AST e ALT,
respetivamente) pode ocorrer nos doentes
com hipertiroidismo. Em 64% dos doentes,
observou-se um aumento modesto da
fosfatase alcalina. No entanto, trata-se de um
achado inespecífico, pois o turnover ósseo
presente nesta patologia contribui para esse
valor.
Manifestações Endócrinas/Metabólicas
As hormonas tiroideias interferem no
metabolismo da glucose, incentivando a
glicogenólise e a secreção de insulina. Estas
antagonizam igualmente as acções da insulina
nos tecidos, resultando numa intolerância à
glucose nos doentes não tratados. A T3 e a T4
estimulam de forma semelhante a lipólise,
diminuindo as concentrações séricas de HDL,
VLDL e do colesterol total.
Manifestações Respiratórias
A dispneia e a dispneia exacerbada pelo
esforço são os principais sintomas
respiratórios no Hipertiroidismo. Podem
ocorrer devido às necessidades aumentadas
de oxigénio e produção aumentada de
dióxido de carbono; bem como por fadiga dos
músculos respiratórios, que diminuem o
volume pulmonar. Um bócio de grandes
dimensões pode eventualmente comprimir a
traqueia, podendo desencadear dispneia por
compressão.
Manifestações Hematológias
Na Doença de Graves, os distúrbios
hematológicos autoimunes mais frequentes
são: a Trombocitopénia imune (ITP) e a
anemia perniciosa. Alguns doentes poderão
apresentar anticorpos antineutrófilos. Nos
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
20
doentes com Hipertiroidismo de diversas
causas, incluindo no Hipertiroidismo
subclínico, para além de se verificar anemia
normocítica e normocrómica26, constata-se
um aumento da eritropoietina, dos fatores
pró-trombóticos, como o fator VIII, IX,
fibrinogénio, fator von Willebrand e inibidor
do activador do plasminogénio-1.
Manifestações Genitourinárias
O aumento da frequência urinária e
noctúria são frequentes no Hipertiroidismo,
no entanto o mecanismo permanece ainda
desconhecido, suspeitando-se da polidipsia e
da hipercalciúria como possíveis causas. A
enurese é comum nas crianças.
A oligoamenorreia, infertilidade
anovulatória e mesmo amenorreia nos
Hipertiroidismos mais graves, podem ocorrer
nas mulheres, por alterações do metabolismo
do SHBG (sex hormone-binding globulin), do
estradiol e da hormona luteinizante (LH). Nos
homens, essas alterações cursam com
ginecomastia, diminuição da líbido e
disfunção eréctil.
Manifestações Ósseas
As hormonas tiroideias promovem a
reabsorção óssea, com aumento da
porosidade do osso cortical e diminuição do
osso trabecular. Este aumento da reabsorção
óssea leva por conseguinte, a um aumento da
concentração sérica de cálcio, com inibição da
paratormona (PTH) e da conversão de
calcifediol (25-hidroxivitamina D) em calcitriol
(1,25-dihidroxivitamina D). A osteoporose e o
risco aumentado de fraturas é comum nos
doentes com hipertiroidismo crónico.
Na Doença de Graves, apesar de achado
raro (<1%), pode ocorrer acropaquia tiroidea,
que consiste em hipocratismo digital com
formação de periósteo no metacarpo.
Geralmente estes doentes apresentam
concomitantemente oftalmopatia e
dermatopatia infiltrativa, condição
igualmente associada ao consumo de tabaco.
Manifestações neurológicas
Na maior parte dos casos, as manifestações
neurológicas do hipertiroidismo ocorrem em
concordância com as manifestações
sistémicas, contudo estas podem surgir
isoladamente em certos doentes.
Na tirotoxicose, as alterações do
comportamento e da personalidade mais
evidentes são a psicose, a agitação e a
depressão. Em cerca de 1% dos doentes com
tireotoxicose, pode ocorrer um fenómeno
denominado de crise tiroideia ou tempestade
tiroidea. Esta complicação apresenta como
factores precipitantes a sépsis, o trauma ou
cirurgia, manifestando-se de forma
fulminante por agitação, sonolência e, por
último, coma.27 No espetro mais ligeiro e
frequente da doença, outras manifestações
podem ocorrer, como a ansiedade,
inquietude, irritabilidade e labilidade
emocional. A insónia é uma queixa frequente.
Verifica-se também, que estas alterações do
comportamento são acompanhadas pela
deterioração da cognição, nomeadamente na
diminuição da concentração, sintomas
confusionais, amnésia ou, inclusive, demência
nos doentes de idade avançada. No entanto e
até hoje, não existem evidências que o
hipertiroidismo seja um fator de risco para a
demência.
DIAGNÓSTICO
História Clínica
Como em toda e boa prática clínica, é
fundamental colher uma adequada
anamnese, para caracterizar melhor o
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
21
indivíduo e a sua patologia. Deve-se tentar
avaliar se existe história pessoal ou familiar de
patologia autoimune, doença na tiróide ou se
existiu algum tipo de migração de locais com
deficiência de iodo. Importa, igualmente,
questionar se houve introdução recente de
fármacos iodados, como a amiodarona e
alguns expectorantes ou contacto continuado
com tinturas de iodo.
Exame objetivo
O exame objetivo à glândula tiroideia
permite ao clínico frequentemente
determinar a etiologia subjacente e relacioná-
la com os sinais e sintomas do
Hipertiroidismo. Inicialmente na inspecção, a
presença de bócio difuso (aumento da
glândula tiroideia) é um achado frequente na
Doença de Graves e no Bócio multinodular
tóxico. Se o doente referir dor ou
sensibilidade no decorrer da palpação
tiroideia, esta poderá levantar a suspeita de
tiroidite sub-aguda (de Quervain). A palpação
de um nódulo único é característico do
Adenoma tóxico. Eventualmente, a não-
palpação da glândula poderá ocorrer nos
idosos com Doença de Graves, na tiroidite
silenciosa (ou linfocítica), no hipertiroidismo
exógeno e ainda no teratoma ovárico. É de
referir que a presença de um sopro à
auscultação num bócio liso e firme é indicador
de Doença de Graves.
Exames Complementares de Diagnóstico
Na suspeita de Hipertiroidismo, a avaliação
da função tiroideia é realizada pelo
doseamento de Hormona estimulante da
tiroide (TSH) em conjunto com a tiroxina livre
(T4L). Poderá eventualmente em casos de
maior dificuldade diagnóstica ou de maior
gravidade clínica existir a necessidade do
doseamento da Triiodotironina (T3).
Considera-se como Hipertiroidismo primário
todas as situações que cursam com
diminuição dos níveis séricos de TSH<0,3
mU/L.28 Para o efeito, e uma vez que a maioria
dos doentes com Hipertiroidismo evidente
apresentam valores de TSH<0,05 mU/L, é
importante que a sensibilidade do teste para
determinação de TSH seja <0,02 mU/L. A
determinação de T4L é essencial para
determinar o impacto metabólico desta
hormona nos órgãos-alvo. No Hipertiroidismo
clínico ocorre portanto a supressão de TSH,
com aumento dos níveis de T4L. No
Hipertiroidismo subclínico, ocorre a
supressão de TSH, com a manutenção dos
níveis de T4L nos intervalos de referência. A
maioria destes indivíduos não apresentam
manifestações clínicas de Hipertiroidismo, e
os sintomas que possam eventualmente
surgir são de carácter ligeiro e não
específicos. Outra causa, embora rara, é o
Hipertiroidismo induzido pela TSH, que ocorre
geralmente nos adenomas hipofisários
secretores de TSH. Neste caso, os níveis
séricos desta hormona encontram-se normais
ou até mesmo elevados, apesar das
concentrações séricas aumentadas de T4L e
T3.
É de notar que os resultados dos exames
laboratoriais da função tiroideia podem ser
influenciados por algumas doenças que não
afetam diretamente a glândula tiroideia,
como sejam cirurgias, doenças febris, enfarte
agudo do miocárdio, malnutrição,
insuficiência renal ou cardíaca, doenças
hepáticas, diabetes não controlada, doença
vascular cerebral ou doenças neoplásicas.
Estas alterações laboratoriais, que se
designam por Síndrome do Doente
Eutiroideu, geralmente desaparecem após
reversão do quadro clínico que as originou.
Após a confirmação diagnóstica de
Hipertiroidismo, importa determinar a
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
22
etiologia em causa. O diagnóstico poderá ser
óbvio na apresentação, como o recente
desenvolvimento de oftalmopatia, bócio
difuso de grandes dimensões e manifestações
clinicas típicas como as que ocorrem na
Doença de Graves. Contudo, se o diagnóstico
não for evidente, torna-se necessário recorrer
a outros métodos. A avaliação dos anticorpos
anti-receptores TSH (TRAb) apresentam uma
sensibilidade de 97% e especificidade de 99%
para o diagnóstico de Doença de Graves.29
Portanto, é razoável afirmar que na presença
destes anticorpos, a etiologia subjacente seja
a Doença de Graves. A ecografia tiroideia,
outro exame frequentemente usado, permite
diferenciar nódulos quísticos (geralmente
benignos) de nódulos sólidos (possivelmente
malignos). O recurso à cintigrafia com
captação de iodo radioactivo é utilizado,
quando existe evidência no exame objectivo
de doença nodular tiroidea. Este exame
encontra-se absolutamente contraindicado
em mulheres grávidas ou em período de
amamentação. É indicativo de síntese de novo
de hormonas tiroideias quando ocorre
captação normal ou aumentada de
iodoradioactivo pela glândula. No caso do
bócio multinodular tóxico, surgem múltiplas
áreas focais de captação; no adenoma tóxico
há um aumento focal de captação; e na
Doença de Graves há um aumento difuso da
captação do iodoradioactivo. Se esta for
diminuída ou ausente indica-nos inflamação
ou destruição de tecido tiroideu, podendo
ocorrer no teratoma ovárico, onde o tecido
tiroideu funcionante se encontra na pélvis. Os
doentes medicados com Amiodarona,
geralmente não captam iodoradioactivo pela
glândula tiroideia.
Ainda assim, se na cintigrafia o nódulo
apresentar-se “frio” (sem captação de iodo),
ou com as seguintes características
ultrassonográficas: dimensão > 1.5 cm,
microcalcificações, nódulos hipoecogénicos,
margens nodulares irregulares ou com
vascularização intranodal, devem ser sujeitos
de forma ecoguiada a uma Citologia
Aspirativa por Agulha Fina (CAAF), para
exclusão de malignidade.30
TRATAMENTO
O tratamento do hipertiroidismo é
direcionado à sua etiologia específica.
Doença de Graves
Embora o mecanismo fisiopatológico da
doença de Graves seja autoimune, o
tratamento é principalmente orientado para
o controlo do hipertiroidismo. Existem três
métodos principais: fármacos anti-tiroideus;
ablação cirúrgica; iodo radioactivo.31
Farmacoterapia Anti-tiroideia
Os principais fármacos antitiroideus são as
tionamidas, como o propiltiouracilo (PTU),
carbimazol, e o metabolito ativo deste último,
tiamazol.32 Estes fármacos atuam através da
inibição da iodação da tiroglobulina para
formar T3 e T4, mediada por TPO. O PTU
bloqueia também a conversão periférica de
T3 a T4.31 No entanto, este efeito tem um
benefício mínimo, excetuando os casos mais
severos de tireotoxicose.32
O tiamazol é normalmente usado em
detrimento do PTU pois reverte o
hipertiroidismo mais rapidamente e tem
menos efeitos secundários. Recomenda-se
uma dose de 10 a 15 mg de tiamazol uma vez
por dia; este regime de baixa dose aparenta
ser tão eficaz como doses maiores exceto em
doentes com bócios de grandes dimensões e
hipertiroidismo severo, que devem ser
tratados com 20 a 30 mg por dia.33
Os testes de função tiroideia são revistos 4-
6 semanas após o início do tratamento, e a
dose pode ser ajustada em função dos níveis
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
23
de T4 livre. A TSH pode permanecer suprimida
meses após o início da terapêutica, não sendo
assim um bom indicador de resposta.32
Uma vez alcançados níveis normais de T4
livre, recomenda-se uma redução de dose
para 5 a 10 mg por dia.31 Alternativamente,
altas doses podem ser administradas em
conjunto com levotiroxina para evitar
hipotiroidismo iatrogénico.32
Devido à hepatotoxicidade do PTU, a FDA
limita a sua utilização ao 1º trimestre da
gravidez, ao tratamento de tempestade
tiroideia, e a doentes com reações adversas
minor ao tiamazol. Se o PTU for utilizado, está
recomendada a monitorização de testes de
função hepática.32
Efeitos secundários raros mas major
incluem hepatite (PTU) e colestase (tiamazol);
e mais importante, agranulocitose (<1%),
sendo essencial descontinuar estes fármacos
na presença dos mesmos. É, então,
importante instruir os doentes acerca de
sintomas de possível agranulocitose, como,
por exemplo, odinofagia, febre ou úlceras
orais, e a necessidade de descontinuar o
tratamento e da realização de um
hemograma urgente.31
Iodo Radioativo
Para indivíduos com doença de Graves, em
que não exista gravidez, deve ser ponderado
o iodo radioativo como terapêutica definitiva
para o hipertiroidismo, na ausência de
oftalmopatia severa, pelo seu menor custo e
menor taxa de complicações
comparativamente à cirurgia.34
Para doentes com sintomas significativos
de hipertiroidismo, que sejam mais velhos, ou
que tenham doença cardíaca subjacente,
recomenda-se o tratamento com anti-
tiroideus, para alcançar o eutiroidismo, antes
do tratamento com iodo radioativo. Para
doentes com hipertiroidismo ligeiro, bem
tolerado, o iodo radioativo pode ser utilizado
logo que o diagnóstico seja estabelecido. No
entanto, está descrito um maior agravamento
da oftalmopatia nesta abordagem terapêutica
quando comparada com as outras.34
Ablação cirúrgica
Nos indivíduos com doença de Graves, a
cirurgia deve ser ponderada nos doentes com
hipertiroidismo severo e bócio obstrutivo ou
de grandes dimensões. É também
recomendada para doentes que sejam
alérgicos a anti-tiroideus, que rejeitem a
utilização de iodo radioativo ou que tenham
oftalmopatia severa e queiram uma
terapêutica definitiva. Também está indicada
se coexistir um nódulo suspeito ou maligno da
glândula ou hiperparatiroidismo primário. No
entanto, a maioria dos nódulos tiroideus na
doença de Graves são benignos.34
Outras Medidas Farmacológicas
O propranolol (20-40 mg de 6-6 h) pode ser
útil no controlo de sintomas adrenérgicos,
especialmente nos estadios precoces antes
que os fármacos anti-tiroideus exerçam o seu
efeito.33
A anticoagulação com varfarina deve ser
considerada em todos os doentes com
fibrilhação auricular, que muitas vezes
revertem para ritmo sinusal com o controlo
do hipertiroidismo. Menores doses de
varfarina são necessárias no estado
tirotóxico. Se a digoxina for utilizada, maiores
doses são necessárias para alcançar o efeito
terapêutico na tirotoxicose.33
Escolha do Método
A escolha de terapêutica varia com a
natureza e severidade da doença.
Geralmente, os fármacos anti-tiroideus são
boas escolhas de terapia inicial para crianças
e adolescentes e em adultos com doença
ligeira e bócios de pequenas dimensões. Na
maioria dos outros doentes, o iodo radioativo
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
24
é o tratamento de escolha. O papel da cirurgia
está, hoje em dia, limitado a doentes não
aderentes, doentes com grandes bócios, ou
outras circunstâncias especiais acima
referidas.31
Oftalmopatia de Graves
A maioria dos casos da oftalmopatia de
Graves não requer tratamento. No entanto,
em casos mais severos o tratamento é
claramente benéfico.35 Os glucocorticóides
constituem o tratamento primário para a
oftalmopatia severa. O rituximab,
radioterapia, e cirurgia descompressiva
podem ser utilizados em doentes
seleccionados.36
Bócio Multinodular Tóxico
O tratamento do bócio multinodular tóxico
pode ser difícil, pois os doentes são
frequentemente idosos com outras co-
morbilidades. O controlo do estado
hipertiroideu com anti-tiroideus, seguido de
iodo radioativo é o procedimento de escolha.
Se o bócio tiver grandes dimensões, a
tiroidectomia pode ser contemplada se o
doente for um bom candidato a cirurgia.31
Adenoma Tóxico
Tratamento com iodo radioativo é
geralmente eficaz e atrativo pois pode ser
poupado o efeito destrutivo da radiação no
lobo contralateral e o doente permanecer
assim eutiroideu. Se forem administrados
anti-tiroideus antes deste tratamento, é
importante que a TSH permaneça baixa, para
que o lobo contralateral não capte o iodo
radioativo. A cirurgia é opção se o nódulo
tiver grandes dimensões ou cause sintomas
obstrutivos.31
Tiroidite de Hashimoto
Durante a fase de hipertiroidismo, a
utilização de um beta-bloqueante está
indicada para alívio sintomático.31
Tireotoxicose e Gravidez
O iodo radioativo está absolutamente
contra-indicado durante a gravidez pois
atravessa a placenta livremente e pode lesar
a tiróide do feto. A dose de anti-tiroideus
deve ser mantida no mínimo necessário pois,
tanto o tiamazol como o PTU podem
atravessar a placenta e afetar a função
tiroideia do feto. A amamentação não está
contra-indicada com qualquer dos anti-
tiroideus pois os baixos níveis encontrados no
leite materno não afetam a função tiroideia
no recém-nascido.31
Tiroidite induzida pela Amiodarona
O tratamento da tiroidite induzida pela
amiodarona é muitas vezes difícil e deve
começar com a sua suspensão. A tirotoxicose
induzida pelo iodo pode ser controlada com
tiamazol, 40 a 60 mg/d e bloqueio beta-
adrenérgico. A tiroidite induzida pelo fármaco
responde a corticosteroides, que podem ser
necessários durante vários meses. Alguns
doentes têm uma apresentação que pode ser
mista, onde se recomenda a associação de
anti-tiroideus com corticosteroides. A
tiroidectomia é curativa e pode ser necessária
em doentes que sejam refratários a medidas
farmacológicas.31
Tiroidite Subaguda
Na maioria dos casos, apenas é necessário
tratamento sintomático com anti-
inflamatórios não esteróides (AINE). Nos
casos severos, ou em doentes que não
respondam a AINE, um glucocorticóide pode
ser necessário para diminuir a inflamação. Um
Relatório final - MIM | Inês Boarqueiro Conde Vasco
25
beta-bloqueante pode ser administrado
durante a fase hipertiroideia para alívio
sintomático.31
Tempestade Tiroideia
A terapêutica de primeira linha na
tempestade tiroideia é diminuir a produção
de hormonas tiroideias, habitualmente
através da utilização das tionamidas. A dose
de PTU deve ir de 600 a 1500mg por dia, com
a possibilidade de administração de uma dose
de carga de 600mg, enquanto que a de
tiamazol deve ir de 80 a 120mg por dia. Se o
doente não tiver via entérica viável, a
administração deve ser feita via rectal.37
Uma vez bloqueada a síntese de novas
hormonas tiroideias, o passo seguinte
consiste em inibir a libertação de hormonas
pré-formadas para a circulação, podendo ser
administrado iodo neste contexto.37
É também importante bloquear os efeitos
periféricos de hormona tiroideia circulante,
sendo, para isso, o bloqueio adrenérgico um
mecanismo fundamental. O propranolol é o
beta-bloqueante mais frequentemente
utilizado nestas situações pelo seu
antagonismo beta não seletivo e pela sua
capacidade de diminuir a conversão periférica
de T4 a T3.37
Como medidas gerais de suporte,
recomenda-se soro dextrosado 1000cc de
12/12h, adicionando tiamina e arrefecimento
com paracetamol 1g de 6/6h, sendo de evitar
os salicilatos, que dissociam as hormonas
tiroideias das proteínas de transporte.38
Em casos refratários a estas medidas deve
ser ponderada a plasmaferese com o intuito
de retirar as hormonas tiroideias de
circulação.37
PROGNÓSTICO
Em geral, a doença de Graves tratada com
anti-tiroideus tem um curso de surto-
remissão, a não ser que a glândula seja
destruída através de cirurgia ou iodo
radioativo. Embora alguns doentes possam
permanecer eutiroideus durante algum
tempo, pelo menos 25% eventualmente
desenvolverão hipotiroidismo. Está, portanto,
indicado o seguimento a longo prazo para
estes doentes.31
O hipertiroidismo da tiroidite de
Hashimoto eventualmente regride com a
destruição da glândula, seguindo-se um
hipotiroidismo.31
A tiroidite subaguda resolve
espontaneamente na maioria dos casos,
sendo que 90% dos doentes recuperam sem
qualquer sequela. Em cerca de 10% dos casos,
pode persistir o hipotiroidismo, sendo
necessária terapêutica com levotiroxina a
longo prazo.31
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Anexo IV
Anexo A
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28
Anexo B
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29
Anexo C
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Anexo D
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