1
Religiosidade e status da nobreza da terra numa capitania periférica da América portuguesa: a Ordem 3ª do Carmo e as obras no convento carmelita da Parahyba - século XVIII Carla Mary S. Oliveira Universidade Federal da Paraíba A Capitania da Parahyba, na segunda metade do século XVIII, passava por uma situação sui generis: na rebarba do catastrófico terramoto de 1755 que arrasou Lisboa, foi anexada à vizinha Capitania de Pernambuco, ao mesmo tempo em que via florescerem em sua sede dois belos conjuntos arquitetônicos barrocos. O ato do governo metropolitano datado de dezembro de 1755 teve como desculpa a penúria econômica por que passava a principal atividade econômica paraibana na zona litorânea: a produção de açúcar, que enfrentava então no mercado internacional forte concorrência do produto antilhano financiado pelos holandeses. É interessante notar nesta conjuntura que foi justamente a partir de meados dos setecentos que se intensificaram as obras de ampliação e melhoria das principais igrejas da sede da capitania, como os conventos franciscano e carmelita. No caso específico do conjunto carmelita, teve especial importância neste processo a atuação dos membros da Ordem Terceira, que financiaram as reformas da igreja conventual e a construção da Capela de Santa Teresa, utilizando tal ação benemérita como moeda de troca nas relações simbólicas que permeavam a política e a economia no cotidiano local, garantindo assim seu status de nobreza da terra. Através da análise de alguns documentos provenientes do Arquivo Histórico Ultramarino, este trabalho pretende abordar justamente como se construíam tais relações simbólicas, tendo como horizonte teórico as categorias de capital simbólico e habitus de Pierre Bourdieu. Palavras-chave: Paraíba; Nobreza da Terra; Ordem 3ª do Carmo; Século XVIII.

Religiosidade e status da nobreza da terra numa capitania ... · de 1755 teve como desculpa a penúria econômica por que passava a principal atividade econômica paraibana na zona

  • Upload
    vudiep

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Religiosidade e status da nobreza da terra numa capitania ... · de 1755 teve como desculpa a penúria econômica por que passava a principal atividade econômica paraibana na zona

Religiosidade e status da nobreza da terra numa capitania

periférica da América portuguesa: a Ordem 3ª do Carmo e as

obras no convento carmelita da Parahyba - século XVIII

Carla Mary S. Oliveira

Universidade Federal da Paraíba

A Capitania da Parahyba, na segunda metade do século XVIII, passava por uma situação

sui generis: na rebarba do catastrófico terramoto de 1755 que arrasou Lisboa, foi anexada à

vizinha Capitania de Pernambuco, ao mesmo tempo em que via florescerem em sua sede dois

belos conjuntos arquitetônicos barrocos. O ato do governo metropolitano datado de dezembro

de 1755 teve como desculpa a penúria econômica por que passava a principal atividade

econômica paraibana na zona litorânea: a produção de açúcar, que enfrentava então no mercado

internacional forte concorrência do produto antilhano financiado pelos holandeses. É

interessante notar nesta conjuntura que foi justamente a partir de meados dos setecentos que se

intensificaram as obras de ampliação e melhoria das principais igrejas da sede da capitania,

como os conventos franciscano e carmelita. No caso específico do conjunto carmelita, teve

especial importância neste processo a atuação dos membros da Ordem Terceira, que

financiaram as reformas da igreja conventual e a construção da Capela de Santa Teresa,

utilizando tal ação benemérita como moeda de troca nas relações simbólicas que permeavam a

política e a economia no cotidiano local, garantindo assim seu status de nobreza da terra.

Através da análise de alguns documentos provenientes do Arquivo Histórico Ultramarino, este

trabalho pretende abordar justamente como se construíam tais relações simbólicas, tendo como

horizonte teórico as categorias de capital simbólico e habitus de Pierre Bourdieu.

Palavras-chave: Paraíba; Nobreza da Terra; Ordem 3ª do Carmo; Século XVIII.