Remuneracao Do Advogado Fabiana

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    A REMUNERAO DO ADVOGADO: INVESTIGAES ACERCA DA NATUREZAJURDICA DOS HONORRIOS DE SUCUMBNCIA

    F a b i a n a A z e v e d o A r aj o

    Especialista em Direito do Trabalho pelo

    CAD Centro de Atualizao em Direito e Advogada da Unio

    RESUMO: O presente artigo visa a estudar a natureza jurdica dos honorrios desucumbncia recebidos pelos advogados, quando os mesmos laboram na condio deprofissionais liberais, empregados e servidores pblicos. A finalidade da verba honorriaser considerada tendo em vista a jurisprudncia do STF e STJ sobre o tema. Alm disso,na avaliao da questo sero analisados conceitos de direito do trabalho eadministrativo, bem como as disposies do Estatuto e Regulamentos da OAB.

    O objetivo principal deste trabalho e verificar se os honorrios de sucumbncia possuemou no natureza remuneratria e quais as possveis conseqncias de tal classificao.

    PALAVRAS CHAVES: Honorrios. Sucumbncia. Alimentos. Remunerao. Salrio.

    Subsdio. Contribuies previdencirias.

    SUMRIO: 1 Introduo; 2 Honorrios Advocatcios;2.1 Conceito; 2.2 Histrico; 3 Carter Alimentar dosHonorrios Advocatcios; 3.1 Legislao eJurisprudncia; 3.1.1 Honorrios, Precatrios e aDeciso Paradigmtica do STF; ; 3.1.2 Honorrios,Falncia e a questo do privilgio. Precedente do STJ;3.2 Honorrios e Relao de Trabalho; 3.2.1Profissionais Liberais; 3.2.2 Advogado empregado;

    3.2.3 Advocacia Pblica; 4 Natureza Jurdica dosHonorrios de Sucumbncia; 4.1 Salrio, Remuneraoou um Terceiro Gnero?; 4.1.1 No Direito do Trabalho;4.1.1.2 Analogia entre os honorios, as gorjetas, asgueltas e o direito de arena; 4.1.1.2 No DireitoAdministrativo; 4.2 Incidncia de ContribuioPrevidenciria e sobre os honorrios de sucumbncia; 5Concluso; 6 Referncias.

    1 INTRODUO

    O presente trabalho pretende investigar a natureza jurdica dos honorrios desucumbncia, verba peculiar devida somente aos advogados em razo do xito emdemandas judiciais.

    No inicio desse texto dissertativo ser analisada a origem histrica da parcela noDireito Romano e no Direito Brasileiro, verificando-se as diversas modificaes pelasquais o instituto passou at os dias atuais. Principalmente, ser examinado o grandemarco legislativo para o reconhecimento da natureza remuneratria da verba, ou seja, aLei n 8.906/94 que reconheceu aos advogados a titularidade dos honorriosadvocatcios e o direito autnomo de execut-los.

    Em razo dessas disposies legais e da finalidade da parcela, qual seja, retribuir otrabalho prestado pelo advogado, ser estudada a jurisprudncia da Suprema Corte que

    chancelou o carter alimentar da verba, para os fins previstos no art. 100, 1-A daConstituio Federal.

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    Alm desses aspectos legais e jurisprudenciais, sero verificados os regimes deprestao de trabalho do advogado, constatando-se que tais profissionais podem atuarna qualidade de autnomos, de empregados ou de servidores pblicos. Aps, sertraada a relao existente entre os honorrios de sucumbncia e os citados vnculos

    jurdicos, para se avaliar a compatibilidade entre eles.

    Aps, buscar-se- definir a natureza da verba, apontando-se os seus reflexostrabalhistas e previdencirios, e as suas peculiaridades

    Ao longo da monografia, restar demonstrado que o tema extremamentedivergente, razo pela qual, na prtica, inexiste uniformidade no tratamento dispensadoaos honorrios de sucumbncia. O Superior Tribunal de Justia, por exemplo, encontra-se dividido acerca da natureza alimentar da verba, tendo afetado a Corte Especial o

    julgamento do Recurso Especial n 706331, para dirimir a controvrsia sobre a matria.Tal notcia foi divulgada pela Coordenadoria de Editoria e Imprensa do STJ (2007).

    Diante desse cenrio de instabilidade, este trabalho objetiva tecer importantesconcluses acerca da natureza jurdica dos honorrios de sucumbncia.

    2 HONORRIOS ADVOCATCIOS

    2.1Conceito

    Honorrios advocatcios constituem a contraprestao e a retribuio pecuniriapelo trabalho exercido pelo advogado. Subdividem-se em duas espcies, a saber:contratuais e de sucumbncia.

    Os primeiros so fixados quando da celebrao do contrato de prestao deservios do advogado, quando este atua como trabalhador autnomo. Nesseinstrumento, o profissional deve consignar os valores que deseja receber para remunerar

    o seu ofcio. O art. 35 do Cdigo de tica da categoria recomenda a fixao doshonorrios contratuais por escrito.

    Art. 35.Os honorrios advocatcios e sua eventual correo, bem comosua majorao decorrente do aumento dos atos judiciais que advieremcomo necessrios, devem ser previstos em contrato escrito, qualquer queseja o objeto e o meio da prestao do servio profissional, contendotodas as especificaes e forma de pagamento, inclusive no caso deacordo.

    O Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (EOAB), Lei n 8.906/94, em seu art.22, 2, prescreve que diante da ausncia de estipulao do montante dos honorrios,estes sero arbitrados pelo juiz, em remunerao compatvel com o trabalho e o valoreconmico da questo, no podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabelaorganizada pelo Conselho Seccional da OAB.

    Diante a liberdade de contratar, prevista no art. 421 do Cdigo Civil, permanecevlida a pactuao verbal de prestao de servios advocatcios que estabelece o valorda verba honorria. Todavia, caso no cumprida espontaneamente pelo cliente, restarao profissional a possibilidade da cobrana judicial, requerendo o arbitramento daremunerao. Nessa hiptese, no ser possvel a execuo do contrato.

    A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no impe limite mximo para aestipulao dos honorrios contratuais, contudo, estabelece uma tabela com os valoresmnimos e recomendveis, para guiar os trabalhadores nesse momento, evitando-seinfraes ticas e prevenindo a concorrncia desleal.

    A segunda espcie de honorrios, qual seja, os de sucumbncia so devidossomente na hiptese de atuao processual e contenciosa do procurador. Ressalte-se

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    que o advogado pode desempenhar suas tarefas na seara consultiva e judicial. Somentenessa ltima possvel o recebimento da verba de sucumbncia.

    Nos procedimentos contenciosos, h a formao da lide (pretenso resistida), cabeao advogado a representao em juzo das partes que se controvertem, numa verdadeira

    relao de mandato. Nesse processo, sempre um dos litigantes ser vencido ouvencedor. A parte vitoriosa dever ser ressarcida de todas as despesas judiciais, e o seupatrono far jus ao recebimento de honorrios pagos pela parte derrotada. Essa verbaser calculada pelo magistrado conforme o art. 20, do CPC1. Consoante o art. 23 da Lein 8.906/94, os honorrios de sucumbncia so do procurador, que possui o direito deexecut-los.

    Art. 23 - Os honorrios includos na condenao, por arbitramento ousucumbncia, pertencem ao advogado, tendo este direito autnomo paraexecutar a sentena nesta parte, podendo requerer que o precatrio,quando necessrio, seja expedido em seu favor.

    Verifica-se que a finalidade de ambas espcies de honorrios advocatcios amesma, qual seja, recompensar o trabalho do profissional. Importa ressaltar, ainda, quemesmo quando o pagamento da verba condicionado ao xito do advogado na ao

    judicial, sua natureza de retribuio pelo trabalho desempenhado no se perde,persistindo o carter remuneratrio.

    Para melhor explicar essa espcie de contraprestao, seu propsito, sua natureza, etc.,mister se faz traar a evoluo histrica do instituto, desde o seu surgimento, no DireitoRomano e no ordenamento jurdico brasileiro, e as modificaes sofridas at os dias atuais.

    2.2Histrico

    A palavra honorrio vem do latim honor. Este vocbulo latino significa honra,estima, considerao. A expressojus honorariumutilizada por Justiniano como uma dasfontes do Direito e inserida nas Institutas do Corpus Iuris Civilis englobava os ditos(ordens e decretos) dos magistratrus populi romani que, no incio da judicatura,declaravam os princpios norteadores de seus trabalhos. Percebe-se, portanto que agrafia desse vocbulo pouco se alterou, diferentemente do que ocorreu com o seusentido etimolgico (SANTOS FILHO, 1998, p. 32).

    Segundo Fernando Jacques Onfrio (2005 p.27): No organismo judicirio romano,a advocacia objetivava antes de tudo o gadio espiritual, as honrarias e, at mesmo, oreconhecimento de dotes artsticos. Esse autor explica que, nessa poca, a profissoera composta apenas por pessoas das altas classes sociais que poderiam prestar seusservios em troca de prestgio e favores polticos, sem receber qualquer quantia em

    pecnia.

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    Ademais, a percepo de pagamento era expressamente proibida pela Lex Cincia,

    de 250 a.C. Aps, o Imperador Augusto ratificou o referido ato legislativo, por meio deum senatusconsultum, mais severo, que determinava quele advogado (jurisprudente),

    1 Art. 20. A sentena condenar o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorrios advocatcios. Esta verba

    honorria ser devida, tambm, nos casos em que o advogado funcionar em causa prpria. 1 O juiz, ao decidir qualquer incidente ourecurso, condenar nas despesas o vencido. 2 As despesas abrangem no s as custas dos atos do processo, como tambm aindenizao de viagem, diria de testemunha e remunerao do assistente tcnico. 3 Os honorrios sero fixados entre o mnimo de dezpor cento (10%) e o mximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenao, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) olugar de prestao do servio; c) a natureza e importncia da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seuservio. 4oNas causas de pequeno valor, nas de valor inestimvel, naquelas em que no houver condenao ou for vencida a FazendaPblica, e nas execues, embargadas ou no, os honorrios sero fixados consoante apreciao eqitativa do juiz, atendidas as normasdas alneas a, b e c do pargrafo anterior. 5oNas aes de indenizao por ato ilcito contra pessoa, o valor da condenao ser a somadas prestaes vencidas com o capital necessrio a produzir a renda correspondente s prestaes vincendas (art. 602), podendo estas serpagas, tambm mensalmente, na forma do 2odo referido art. 602, inclusive em consignao na folha de pagamentos do devedor.

    2 Na antiga Roma, diz Joo Monteiro, era o frum chamado de o viveiro das honras: est corpus advocatorum(...). (MONTEIRO, apudONFRIO, 2005, p. 27)

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    que recebesse de seu cliente dinheiro como forma de retribuio por seu trabalho, odever de restituir o qudruplo do valor percebido.

    Hugo Enrico Paoli, citado por Fernando Onfrio (2005, p.30) ensina que essasituao se modificou no Imprio de Cludio, durante os anos 41 a 54, quando o

    recebimento de remunerao pela atividade advocatcia foi autorizado, porm, limitada importncia mxima de 10.000 (dez mil) sestrcios, permanecendo, entretanto, vedadosa verba quota litis (parte da vantagem auferida pelo patrocinado) e o palmarium(honorrios excepcionais, na hiptese de xito na causa). Foi durante o governo de Neroque ficou expressamente permitida a cobrana de honorrios com a revogao da LeiCncia.

    Santos Filho (1998, p.32) relata que, no Direito Romano, regra geral, as prpriaspartes arcavam com as respectivas despesas processuais, sem que fosse considerado oxito na demanda. No entanto, a origem remota da sucumbncia est nas leges actiones.Nesse procedimento, no incio da ao, ambos litigantes depositavam certa quantia; ovencido perderia o montante por ele consignado, na qualidade de imposto, para ossacerdotes ou para o errio, no para o vitorioso. Ainda, nessa poca, surgiu em Roma a

    actio duplique consistia em uma ao contra o derrotado, que resistira injustamente aoprocesso, cujo objetivo era o pagamento do dobro do valor da condenao, ou seja,nessa hiptese a imposio do nus da sucumbncia tinha natureza de penalidade.

    Tal situao perdurou at a Constituio de Zeno, em 487, que prescreveu que omagistrado condenaria, na sentena, a parte vencida ao pagamento das custasprocessuais. Alm disso, esse valor poderia ser aumentado em at dez vezes, em casode temeridade do perdedor. O referido ato normativo previu, ainda, que parte desseacrscimo poderia ser convertida em favor do vencedor, para reparao do dano sofrido,ou ser entregue ao fisco.

    Dessa maneira, note-se que esse diploma legal foi o grande marco, no ImprioRomano, que inspirou a disciplina dos honorrios de sucumbncia da forma como feita

    hoje. Isso porque o vitorioso, a partir desse momento, poderia ser ressarcido dos custosda demanda, sendo que o pagamento das despesas do processo, pelo vencido, deixou deter carter meramente sancionatrio, ocorrendo independentemente de m-f da parte,mas em razo, apenas, da derrota processual.

    No Brasil Colnia, o advogado era considerado, pelas Ordenaes, como funcionrioda justia (oficial do foro), da surgiu o carter pblico de sua atividade. Em razo dessarelevante funo exercida pelos procuradores, estes no eram remunerados pelogoverno, nem podiam cobrar de seus clientes o pagamento de honorrios contratuais,deveriam contentar-se com os emolumentos, taxados no regimento de custas. O alvar,de primeiro de agosto de 1774, estipulou penas para os profissionais que violassem talproibio.

    Somente, no imprio, os patronos puderam aceitar como pagamento de seusclientes os chamados salrios, institudos pelo Decreto n 5.737, de 2 de setembro de1874. Esse foi o primeiro ato normativo brasileiro que conferiu contraprestaorecebida pelos procuradores (na poca salrios, hoje, honorrios) carterremuneratrio e possibilitou, ainda, a contratao quota litis.

    Antes do Cdigo Processual de 1939, no existia nos tribunais brasileiros umcritrio uniforme relativo condenao da parte vencida aos honorrios. Essa normaconsagrou o princpio da sucumbncia, contudo, nos termos dos artigos 63 e 64, opagamento da verba honorria assumia natureza de pena, pois estava condicionado ocorrncia de culpa ou dolo da parte derrotada. Essa exigncia foi suprimida pela Lei n4.632/65 e pelo ora vigente art. 20, da Lei n 5.869/73 (atual CPC), que, foi modificadopela Lei n 6.335/76, para salvaguardar o direito do advogado que atua em causa

    prpria percepo dos honorrios.

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    3 Segundo Yussef Said Cahali (apudPAVANI, 2006), hoje, no direito processual brasileiro vigora o princpio da sucumbncia,complementado pelo o da causalidade, segundo o qual o responsvel pelas despesas processuais aquele que deu causa demanda.

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    At o advento da lei n 8.906/94 (EOAB), que estabeleceu pertencerem aoadvogado os honorrios de sucumbncia, a jurisprudncia e a doutrina discutiam acercade sua titularidade, conforme explica Yussef Said Cahali (apud OLIVEIRA, 2005):

    A Lei n 8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia e Ordem dosAdvogados do Brasil), embora contendo dispositivos notoriamentepolmicos, teve o mrito contudo de enunciar claramente a quem pertencemos honorrios advocatcios da sucumbncia. Assim, ao estabelecer, em seuartigo 23, que "os honorrios includos na condenao, por arbitramento ousucumbncia, pertencem ao advogado, tendo este direito autnomo paraexecutar a sentena nesta parte, podendo requerer que o precatrio,quando necessrio, seja expedido em seu favor", o novel legislador buscousuperar a aparente antinomia existente entre o artigo 20 do Cdigo deProcesso Civil e o artigo 99 do anterior Estatuto da Ordem dos Advogados(Lei n 4.215, de 27 de abril de 1963), geradora de um inconcilivel dissdiodoutrinrio e jurisprudencial.

    Antigamente, alguns operadores do Direito entendiam que a verba honorria eradevida parte, que poderia utiliz-la para pagar seu procurador ou ressarcir-se dosvalores adiantados ao profissional As disposies do Estatuto da OAB, portanto,colocaram um ponto final na controvrsia, reforando o carter remuneratrio doshonorrios.

    Traado esse panorama histrico, passa-se a analise da natureza jurdica da verbahonorria e da composio da remunerao do advogado.

    3 CARTER ALIMENTAR DOS HONORRIOS ADVOCATCIOS

    3.1. Legislao e Jurisprudncia

    Uma vez que retribuem a atuao profissional, os honorrios, alm de possuircarter remuneratrio, constituem verba alimentar, pois so indispensveis e destinam-se ao sustento da pessoa do advogado.

    Conforme ensina Kiyoshi Harada (2006, p. 10), o conceito de alimentos, em sentidoamplo, engloba toda percepo em dinheiro ou in natura relativa s despesas ordinriase extraordinrias a que tem direito o alimentado: habitao, transporte vesturio,sustento, sade, educao e lazer. No se limita a salrios e vencimentos. Assim, norestam dvidas de que os honorrios se enquadram nessa definio, j que representama fonte de renda do profissional.

    Corroborando a tese acima, Carlos Roberto Faleiros Diniz (2006, p. 56) explica que

    essa verba seja ela de sucumbncia ou contratual tm natureza alimentar de sustentodo advogado, de sua famlia e dos encargos do escritrio bem como para a atualizaodo profissional para o atendimento do cliente, e as prprias necessidades de um mercadocada vez mais competitivo.

    Inclusive, por esse motivo, a legislao e a jurisprudncia conferem tratamentoespecial a esse crdito, conforme ser analisado a seguir.

    3.1.1. Honorrios, Precatrios e a Deciso Paradigmtica do STF

    O Supremo Tribunal Federal, nos autos do Recurso Extraordinrio (RE) n 470.407,

    em 09/05/2006, entendeu que tanto os honorrios de sucumbncia quanto oscontratuais constituem crditos alimentares.

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    Em razo disso, quando a verba devida pela Fazenda Pblica, recebe otratamento especial dispensado aos salrios, eis que possui preferncia na ordemcronolgica de apresentao dos precatrios, segundo o art. 100, 1-A, da ConstituioFederal (CF/88) de 1988. Confira-se a ementa do referido julgado, in verbis:

    CRDITO DE NATUREZA ALIMENTCIA - ARTIGO 100 DA CONSTITUIOFEDERAL. A definio contida no 1-A do artigo 100 da ConstituioFederal, de crdito de natureza alimentcia, no exaustiva.HONORRIOS ADVOCATCIOS - NATUREZA - EXECUO CONTRA AFAZENDA. Conforme o disposto nos artigos 22 e 23 da Lei n 8.906/94, oshonorrios advocatcios includos na condenao pertencem ao advogado,consubstanciando prestao alimentcia cuja satisfao pela Fazendaocorre via precatrio, observada ordem especial restrita aos crditos denatureza alimentcia, ficando afastado o parcelamento previsto no artigo78 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, presente aEmenda Constitucional n 30, de 2000. Precedentes: RecursoExtraordinrio n 146.318-0/SP, Segunda Turma, relator ministro CarlosVelloso, com acrdo publicado no Dirio da Justia de 4 de abril de 1997,e Recurso Extraordinrio n 170.220-6/SP, Segunda Turma, por mim

    relatado, com acrdo publicado no Dirio da Justia de 7 de agosto de1998. (BRASLIA, STF, RE n 470407, Relator Ministro Marco Aurlio,2006)

    Pode-se citar ainda, outro julgado mais antigo de lavra Suprema Corte, relatadopelo Ministro aposentado Carlos Velloso, reafirmando a natureza alimentar doshonorrios advocatcios e periciais, conforme se verifica do seguinte excerto:

    Embora a verba honorria no tenha natureza jurdica de salrio, dele nose distingue em sua finalidade que a mesma. A honorria em suma,um salrio ad honorempela nobreza do servio prestado. Tem, portanto,carter alimentar, porque os profissionais liberais dele se utilizam para asua mantena e de seu escritrio ou consultrio. (BRASILIA, STF, RE n146.318-0, Relator Ministro Carlos Velloso, 1997).

    Assim, note-se que o Pretrio Excelso j concluiu diversas vezes que a finalidade daverba honorria a mesma dos salrios e dos proventos, ou seja, destina-se ao custeiodas necessidades bsicas de subsistncia dos indivduos, no caso especfico analisado,dos advogados.

    3.1.2 Honorrios, Falncia e a questo do privilgio. Precedente do STJ

    Nos termos do art. 24 da Lei 9.906/94, o crdito referente aos honorriosadvocatcios possui privilgio na execuo concursal, conforme se verifica a seguir:

    Art. 24. A deciso judicial que fixar ou arbitrar honorrios e o contratoescrito que os estipular so ttulos executivos e constituem crditoprivilegiado na falncia, concordata concurso de credores, insolvncia civile liquidao extrajudicial.

    A Lei n 11.101/05 (nova lei de falncias), dividiu os crditos privilegiados em duasespcies, especial e geral. Consoante o art. 83 do diploma falimentar, esses valoresprivilegiados, na ordem de preferncia do concurso de credores, ainda encontram-seatrs dos crditos trabalhistas, dos assegurados por garantia real e dos tributrios.Discute-se se, em razo da natureza alimentar dos honorrios advocatcios, estespoderiam ser equiparados na execuo concursal aos salrios e demais verbastrabalhistas.

    Esse tema tem sido amplamente decidido pelos tribunais ptrios, havendo

    importante precedente do Superior Tribunal de Justia no sentido de que em razo docarter alimentar e remuneratrio dos honorrios, nas falncias, estes devem serequiparados s parcelas trabalhistas, j que ambos os crditos possuem a mesma

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    finalidade. Na deciso prolatada nos autos do Recurso Especial (Resp) n 608.028-MS,em 28 de junho de 2005, pela 3 Turma e relatada pela a Ministra Nancy Andrichi, restousedimentado o seguinte entendimento:

    [...] os honorrios advocatcios, mesmo de sucumbncia tm natureza

    alimentar. A aleatoriedade no recebimento dessas verbas no retira talcaracterstica, da mesma forma que no Direito do Trabalho, aaleatoriedade no recebimento de comisses no retira sua naturezasalarial. A ausncia de subordinao irrelevante. Subordinao um doselementos de uma relao de emprego, mas no elemento que justificaa natureza alimentar do salrio. O que justifica a necessidade de oempregado receb-lo para viabilizar sua sobrevivncia, aspecto quetambm se encontra no trabalho no subordinado prestado pelo causdico.Sendo alimentar a natureza dos honorrios, estes preferem aos crditostributrios em execuo contra devedor solvente. Inteligncia contra o art.186 do CTN. (Braslia, STJ, Resp n 608.028, Rel. Ministra Nancy Andrichi, 2005).

    Frise-se que esse acrdo foi proferido antes da vigncia da Nova Lei deFalncias (Lei n 11.101/05), todavia, mesmo com a alterao legislativa,subsistem os argumentos contidos na deciso reproduzida acima, uma vezque a utilidade e destinao dos honorrios no se modificaram. Ademais,importa ressaltar que o novo diploma legal no previu norma especficaem relao verba honorria, razo pela qual subsiste a interpretaodada pelo STJ para a equiparao desse crdito ao trabalhista, pelo fatode ambos possurem a mesma finalidade.

    Deve-se destacar, entretanto, que esse posicionamento demonstrado no julgadocolacionado ainda no unnime na jurisprudncia brasileira, mas representa o leadingcase para a equiparao da dos honorrios advocatcios aos crditos trabalhistas, emfuno de sua natureza de retribuio ao trabalho humano e de sua essencialidade parao sustento dos profissionais.

    A partir dessas ementas transcritas pode-se inferir que nos tribunais superiores pacfico o entendimento de que a honorria constitui alimentos indispensveis aosustento do advogado, no entanto, ainda persistem dvidas doutrinrias e

    jurisprudenciais acerca das implicaes e efeitos que essa inteligncia poder gerar. Paramelhor elucidar a questo, alguns aspectos sobre a natureza alimentcia dessa espcie decontraprestao sero estudados no presente trabalho.

    3.2 Honorrios e Relao de Trabalho

    O operador do Direito pode exercer a advocacia por meio de vrias relaesjurdicas de trabalho, uma vez que o profissional poder atuar como autnomo, comoempregado ou na qualidade de servidor pblico, defendendo os interesses do Estado. Em

    todas as hipteses mencionadas possvel a percepo da verba honorria desucumbncia, porm, com algumas especificidades variando conforme o caso.

    3.2.1 Profissionais Liberais

    Os advogados autnomos so aqueles que exercem sua atividade profissional semo vnculo empregatcio, ou seja, na relao jurdica estabelecida com o cliente falta umdos seguintes elementos: pessoa fsica no plo passivo da relao jurdica (empregado),pessoalidade, onerosidade, no-eventualidade e subordinao.

    Regra geral, as partes celebram um contrato de prestao de servios, remuneradopor meio de honorrios, ausente o requisito da subordinao. Por vezes, tambm, a

    pactuao pode se dar entre o cliente (que poder ser pessoa fsica ou jurdica) e o

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    escritrio de advocacia (pessoa jurdica), fato que tambm elimina a possibilidade dovnculo trabalhista.4

    Nessa relao jurdica sem laos empregatcios, os honorrios so por excelncia aremunerao do profissional liberal, sejam eles contratuais ou de sucumbncia, pois

    constituem a retribuio pelos servios prestados pelo causdico na seara contenciosa ouna consultiva.

    Conforme j dito acima, a honorria a nica fonte de renda do autnomo edestina-se ao sustento do trabalhador e de sua famlia, alm de ser indispensvel para amanuteno do escritrio e para a atualizao do profissional. Assim, nessa espcie derelao de trabalho, os honorrios, mais do que nunca, preservam sua naturezaalimentcia. Inclusive, os julgados do STF e STJ, que atestam esse carter da verba,analisaram, no caso, concreto a situao dos profissionais liberais.

    Uma das peculiaridades que envolvem essa relao jurdica que muitas vezes acontraprestao pelas atividades prestadas se d em nome da pessoa jurdica, escritriode advocacia, e no da pessoa natural responsvel pelo servio. Mesmo nessashipteses, quando o pagamento faturado em nome da sociedade, subsiste a naturezaalimentar dos honorrios, eis que sua finalidade no se altera.

    Nesse sentido, h deciso da 1 Turma do STJ, proferida nos autos do Resp n566.190-SC, conforme se verifica a seguir:

    [...] A natureza alimentar dos honorrios autoriza sua equiparaoa salrios, inclusive para fins de preferncia em processofalimentar.Esse entendimento no obstado pelo fato de o titularde crditos de honorrios ser uma sociedade de advogados,

    porquanto, mesmo nessa hiptese, mantm-se a naturezaalimentar da verba. Recurso conhecido e provido. (Braslia, STJ,

    Resp n 566.190, Rel. Ministra Nancy Andrichi, 2005) (grifo doautor).

    Resta claro, portanto, que os honorrios constituem forma de retribuio pelotrabalho do advogado, profissional liberal, esteja ele atuando sozinho ou reunido a outrosem uma sociedade. Mais uma vez, saliente-se que, nos termos da jurisprudncia dostribunais superiores, mesmo os honorrios de sucumbncia, cujo recebimento aleatrio, possuem cunho remuneratrio e alimentar, pois o que prevalece na anlise danatureza jurdica da verba a sua finalidade e no a freqncia com que recebida.Dessa forma, em razo de sua destinao, a honorria deve ser dotada dos mesmosprivilgios que asseguram os crditos salariais.

    3.2.2 ADVOGADO empregado

    Os servios advocatcios tambm podem ser prestados por meio de uma relao deemprego. O empregador contrata o advogado para defend-lo judicialmente ou parasolucionar consultas jurdicas, estando presentes nessa contratao os cinco elementosque caracterizam o vnculo celetista, quais sejam, a pessoalidade, pessoa fsica docontratado (empregado), a onerosidade, no-eventualidade e subordinao.

    Essa relao jurdica regida pelo Estatuto da OAB (norma especial) esupletivamente pela consolidao das Leis do Trabalho (CLT). Como forma de retribuiopelo trabalho prestado, o advogado remunerado nos termos do art. 457 desse ltimodiploma legal, recebendo salrio. Logo, nessa espcie de vnculo no possvel apactuao de honorrios contratuais.

    4 Ressalte-se que muitas vezes a pessoa jurdica utilizada como meio de fraude legislao trabalhista, travestindo-se a relao deemprego de atividade autnoma. Todavia, neste tpico ser analisada a situao do advogado profissional liberal, supondo-se a licitude docontrato de prestao de servios.

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    Todavia, em caso de atuao contenciosa, o procurador ainda far jus aoshonorrios de sucumbncia, nos termos do art. 21 da Lei n 8.906/94 (EOAB).

    Art. 21 - Nas causas em que for parte o empregador, ou pessoa por esterepresentada, os honorrios de sucumbncia so devidos aos advogadosempregados.

    Assim, a renda do advogado empregado ser composta pelo salrio acrescido doshonorrios de sucumbncia. A primeira parcela dever ser paga pelo empregadorperiodicamente conforme a CLT, j a segunda custeada por terceiros (partesucumbente) e o seu recebimento aleatrio, uma vez que condicionado ao xito nademanda.

    Todavia, necessrio destacar que ainda que incerto o pagamento da parcela desucumbncia, sua finalidade permanece a mesma, qual seja, remunerar o trabalho dopatrono e constituir renda para que o profissional arque com os nus de sua subsistncia.

    Sobre a possibilidade de negociao individual ou coletiva da referida verba, o 3do art. 24 da Lei n 8.906/94 (EOAB) dispe: nula qualquer disposio, clusula,

    regulamento ou conveno individual ou coletiva que retire do advogado o direito aorecebimento dos honorrios de sucumbncia.

    Ainda, o regulamento geral da OAB complementa essa previso, estatuindo, em serart. 14, pargrafo nico, que os valores decorrentes dos honorrios de sucumbnciadevidos aos advogados empregados devero constituir um fundo comum, cujadestinao ser decidida pelos integrantes do setor jurdico da empresa empregadora.

    A constitucionalidade da prescrio que impede a negociao dos honorrios dosobreiros foi questionada por meio da ADI n 1.194-4. O Supremo Tribunal Federal, no dia18.10.2006, entendeu por bem suspender definitivamente a eficcia do 3, do art. 24do Estatuto da OAB, prevalecendo a liberdade de contratar acerca da titularidade daverba de sucumbncia.

    A partir dos apontamentos acima, conclui-se que essa verba remunera os serviosdo advogado, constitui alimentos, est vinculada ao contrato de trabalho, eis que pagaem razo do sucesso no patrocnio de uma demanda do empregador.

    O art. 14 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB proclama queos honorrios de sucumbncia decorrem, primeiramente, do exerccio da advocacia e sacidentalmente da relao de emprego, no integraram o salrio ou a remunerao e nopodem ser considerados para fins trabalhistas ou previdencirios.

    Contudo, apesar dessa regra, os honorrios devem receber a mesma proteo dadas verbas salariais e remuneratrias, uma vez que todas essas parcelas possuem amesma finalidade e natureza alimentar.

    3.2.3 Advocacia Pblica

    Os advogados pblicos5so aqueles responsveis pela defesa judicial dos interessesda administrao pblica (direta e indireta) federal e estadual e pela assessoria econsultoria jurdica do Poder Executivo. Esses profissionais so servidores pblicosintegrantes de cargos efetivos, que obtiveram aprovao em concurso pblico de provase ttulos, conforme o art. 131 e 132 da Constituio Federal.

    Nos termos do art. 135 e do art. 39, 4 da Carta Magna, o seu trabalho remunerado por meio de uma parcela nica, denominada subsdio. Questiona-se se seriapossvel a cumulao dos honorrios de sucumbncia a esse subsdio, uma vez que o

    5 Consoante o art. 9 do Regulamento Geral da OAB, os defensores pblicos tambm se enquadram no conceito de advogados pblicos. Noentanto, para fins do presente estudo, sero analisada a situao jurdica somente daqueles que se enquadram no art. 131 e no art. 132 daCarta da Repblica, localizados no texto constitucional abaixo da rubrica DA ADVOCACIA PBLICA. At porque, o recebimentodessa verba pelos membros da Defensoria Pbica expressamente proibido pelo art. 46,III da LC n80.

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    texto constitucional probe expressamente o acrscimo aos vencimentos dessesfuncionrios pblicos de qualquer gratificao, adicional, abono, prmio, verba derepresentao ou outra espcie remuneratria.

    A OAB entende que o advogados pblicos podem receber alm do subsdio a verba

    de sucumbncia, eis que esta no paga pelo Estado, mas sim por terceiros (partederrotada na ao). Alm disso, segundo o j citado art. 14 do Regulamento Geral daOAB, os honorrios de sucumbncia no integram a remunerao, razo pela qualestariam fora da restrio contida no art. 39, 4 da Lei Fundamental.

    Por oportuno, ainda, importa destacar o parecer da Comisso do Advogado Pblicoda OAB/SP que esclarece que so aplicveis aos advogados pblicos as disposies da Lein 8.906/94 referentes honorria, conforme determina o art. 3, 1, desse mesmodiploma legal.

    A interpretao sistemtica do Estatuto da Ordem dos Advogados doBrasil, Lei n 8906/94, em seus artigos 18 a 23, assegura do Advogadoinscrito na OAB, a percepo de honorrios convencionados e aos fixadosna sucumbncia.

    Portanto, independentemente de o Advogado exercer sua profisso a ttulopblico ou a ttulo privado, os honorrios includos na condenao lhepertencem. Logo os artigos 18 a 21 da Lei n 8.906/94 so aplicveis,tambm, aos advogados estatutrios ou celetistas do setor pblico.(ANDRADE; DIAS, 2005, p. 115).

    Na prtica, o recebimento ou no dos honorrios de sucumbncia varia de acordocom a lei especfica que rege cada carreira nos entes da federao. Por exemplo, osservidores da Advocacia-Geral da Unio no recebem qualquer quantia a ttulo dehonorrios, estes so arrecadados pelo Estado. J as Procuradorias de vrios estados emunicpios brasileiros, dentre eles, o de Minas Gerais6, repartem entre seus procuradores

    os respectivos valores angariados em virtude do xito nas aes judiciais.O que se pretende demonstrar, a partir das consideraes tecidas acima, que

    essa verba, quando recebida pelos advogados pblicos, possui natureza alimentar e estvinculada, ainda que acidentalmente, com a relao de trabalho. Desse modo, ahonorria faz jus aos mesmos privilgios e protees outorgados s demais parcelasremuneratrias, tais como salrios, subsdios, proventos e etc., pois todas elas possuema mesma finalidade, qual seja, subsidiar o sustento do profissional, retribuindo o seutrabalho.

    4. NATUREZA JURDICA DOS HONORRIOS DE SUCUMBNCIA.

    4.1 Salrio, Remunerao ou um Terceiro Gnero?

    Primeiramente, para que se possa decidir em qual categoria enquadram-se oshonorrios de sucumbncia, deve-se lembrar as concluses tecidas no presente trabalhoat o momento. Nos termos da jurisprudncia das cortes superiores, verificou-se que averba em questo constitui alimentos, pois se destina ao sustento do advogado. Emrazo dessa caracterstica, equipara-se aos salrios e proventos, possuindo prefernciana ordem de apresentao dos precatrios e nas falncias.

    Assim, se os honorrios de sucumbncia, ainda que e aleatrios, retribuem oprofissional pelos servios prestados e possuem carter alimentar, discute-se se aparcela se encaixa dentro da categoria dos salrios, da remunerao ou configuraria umterceiro gnero com regulamentao prpria.

    No intuito de responder a esse questionamento, primeiramente, ser feita a

    distino entre os conceitos de salrio e remunerao.

    6 A diviso dos honorrios de sucumbncia entre os procuradores do estado de Minas Gerais feita nos termos da Deliberao n 10 de 26de setembro de 2005, do Advogado-Geral do Estado.

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    4.1.1 No Direito do Trabalho

    A diferenciao na doutrina trabalhista entre salrio e remunerao feita combase no art. 457 da CLT. Segundo esse dispositivo, compreendem-se na remuneraodo empregado, para todos os efeitos legais, alm do salrio devido e pago diretamente

    pelo empregador, como contraprestao do servio, as gorjetas que receber.Da anlise dessa prescrio legal, se extrai que o salrio o conjunto de

    parcelas pago pelo empregador ao empregado para retribuir o seu trabalho.7Dessaexegese, surgiram duas correntes interpretativas, conforme ensina Maurcio GodinhoDelgado (2005).

    A primeira, encabeada por Amauri Mascaro Nascimento (apudDELGADO, 2005),apesar de minoritria, entende que h identidade entre as acepes salrio eremunerao, sendo que o art. 475 da CLT somente pretendeu englobar as gorjetasdentro da primeira. Dessa forma, consoante essa inteligncia, como a verba honorriano paga diretamente pelo empregador, nem gorjeta, no seria remunerao e,consistiria em um terceiro gnero.

    Mais uma vez, frise-se que o os efeitos dessa interpretao so os mesmos do art.14 do Regulamento Geral da OAB que, apesar de no entrar no mrito do sentindo

    jurdico dos vocbulos salrio e remunerao, estatui que os honorrios de sucumbnciano produzem efeitos trabalhistas e previdencirios.

    Confrontando esse posicionamento, a segunda variante interpretativa sustenta que aCLT teria criado dois tipos legais distintos e inconfundveis: o salrio, parcelacontraprestativa paga diretamente pelo empregador, e a remunerao [...], que rene astodas parcelas contraprestativas habituais, inclusive, as pagas por terceiros.

    Alice Monteiro de Barros (2007, p. 731), na esteira dessa tese majoritria, explicaque remunerao a retribuio devida e paga ao empregado no s pelo empregador,mas tambm por terceiro, de forma habitual, em virtude do contrato de trabalho. Nesse

    sentido, o TST ao editar a Smula n 3548

    manifestou entendimento segundo o qual osalrio no se confunde com a remunerao.

    Maurcio Godinho Delgado (2005, p. 685), todavia, adverte para as conseqnciasdessa segunda corrente doutrinria:

    que se efetivamente a expresso remunerao corresponder a um tipolegal prprio [...], mas no a mero artifcio para propiciar a insero dasgorjetas nos salrios contratuais (respeitado o mnimo legal), issosignificar que outras modalidades de pagamento contraprestativo porterceiros assumiro o carter de remunerao. o que ocorreria, porexemplo, com os honorrios advocatcios habitualmente recebidos deterceiros pelo advogado empregado, assim como a participao empublicidade habitualmente recebida de terceiros pelo empregado artista ou

    atleta profissional (ou outro profissional, se for o caso). Se tais verbas tmcarter de remunerao (como decorrncia inevitvel da interpretaolanada pela segunda corrente hermenutica), no mnimo elas produziroreflexos em FGTS, 13 salrio e recolhimentos previdencirios.

    Dessa maneira, por esse entendimento amparado pelo TST, a remunerao umgnero mais abrangente que engloba os salrios e as verbas pagas por terceiros aosempregados, absorvendo, por conseguinte, as gorjetas, as gueltas e o direito de arena.

    7 Jos Martins Catharino (apud DELGADO, p. 681-682) ensina que o salrio um complexo de parcelas e no uma verba nica. Todastm carter contraprestativo, no necessariamente em funo da precisa prestao de servios, mas em funo do contrato (nos perodosde interrupo o salrio continua devido e pago); todas so tambm devidas e pagas pelo empregador, segundo o modelo referido pelaCLT (art. 457, caput) e pelo modelo legal de salrio mnimo aps 1988.

    8 As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de servio ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remunerao doempregado, no servindo de base de clculo para as parcelas de aviso prvio, adicional noturno, horas extras e repouso semanalremunerado.

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    Como todas essas parcelas, pela doutrina majoritria, constituem remunerao, a seguir,para a melhor compreenso da questo, ser feita uma analogia entre as mesmas e oshonorrios de sucumbncia.

    4.1.1.2 Analogia entre os honorrios, as gorjetas, as gueltas e o direito de arena

    O art. 8 da CLT determina que em caso de lacuna na legislao trabalhista, o casoconcreto poder ser decidido por meio da analogia, ou seja, pela comparao desituaes fticas semelhantes. Desse modo, os institutos das gorjetas, das gueltas e dodireito de arena sero confrontados com os honorrios de sucumbncia para que sepossa averiguar se todos possuem a mesma natureza jurdica, ou seja, se constituemremunerao.

    As gorjetas referem-se ao pagamento em pecnia, pelo cliente de uma empresa(empregadora), ao empregado desta que o serviu, em razo da satisfao pelotratamento recebido. A legislao e a doutrina brasileiras distinguem duas espcies dessaparcela: a) as prprias, que so pagas espontaneamente pela clientela do empregador e;b) as imprprias, cobradas mediante um percentual calculado sobre o valor da conta e

    consignado na nota se servio. A CLT, em seu art. 475, 3, rene ambos os tipos sob amesma denominao. A jurisprudncia e a doutrina majoritrias entendem que a verba,nas suas duas modalidades, no configura salrio, mas sim remunerao, consoante asmula 354 do TST.

    As gueltas, conforme ensina Alice Monteiro de Barros (2007, p. 762), tm carterretributivo e podem ser pagas habitualmente ao empregado, pelo empregador ou porterceiros, a ttulo de incentivo. Assim, a referida autora entende que essa verba integraa remunerao do trabalhador, por aplicao analgica do art. 457, caput e 3 da CLT,como tambm da Smula n 354 do TST.

    Situao parecida ocorre com o direito de arena, que garantindo pelo art. 5,XXVIII, a da Carta da Repblica. A Lei n 9.615/98 determina que as entidades

    desportivas podem negociar, proibir e autorizar a fixao, a transmisso e aretransmisso de imagem de espetculos ou eventos desportivos de que participem,sendo que, salvo conveno em contrrio, no mnimo, vinte por cento do valor total daautorizao, ser repartido, em partes iguais, entre os atletas profissionais participantesdo evento.

    Assim, o atleta tem direito participao nos lucros obtidos com a exibio dosjogos e campeonato, dos quais participou. Alice Monteiro de Barros (2007, p. 766-767)explica que em virtude do princpio da continuidade da relao de emprego, presume-seque o desportista tenha participado de todos os jogos do clube, cuja imagem foireproduzida. Dessa maneira, o atleta faz jus ao recebimento do direito de arena, queconsiste no pagamento da frao de 1/14 (considerando-se o nmero de atletas quepodem participar de um jogo de futebol) do percentual de 20% incidente sobre o preo

    total das autorizaes concedidas pelo clube.A doutrina, conforme ensina Domingos Svio Zainaghi (apud Barros, 2007),

    orienta-se no sentido de que esse percentual pago ao atleta empregado constituiremunerao, devendo a verba receber tratamento semelhante ao dispensado sgorjetas.

    Em relao aos honorrios de sucumbncia, primeiramente, frise-se que estessomente podero configurar remunerao se forem freqentemente recebidos pelosempregados consoante os autores Alice Monteiro de Barros (2007) e Maurcio GodinhoDelgaldo (2005). Isso ocorre porque, segundo os mencionados doutrinadores, ahabitualidade um dos elementos da remunerao.

    Feita essa considerao, importa notar as semelhanas existentes entre as parcelas

    analisadas acima e a honorria. Verifica-se que todas elas so vinculadas ao contrato detrabalho, ainda que acidentalmente, e so pagas por terceiros. Alm disso, tm a mesma

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    funo, qual seja retribuir o empregado pelo trabalho desempenhado. Dessa maneira,pode-se dizer, tambm, que possuem natureza alimentar.

    Em razo dessas identidades, no h motivos para negar aos honorrios desucumbncia habituais, a natureza jurdica de remunerao. Essa parcela, portanto,

    produzir os respectivos efeitos trabalhistas e previdencirios, a saber: reflexos na basede clculo do FGTS, da gratificao natalina, das frias e das contribuiesprevidencirias (a incidncia do referido tributo sobre os honorrios e suas peculiaridadesainda sero estudadas detalhadamente neste captulo).

    4.1.1.2 No Direito Administrativo

    Tendo em vista que hoje vrios advogados pblicos, dotados de cargos deprovimento efetivo e submetidos ao regime estatutrio, recebem honorrios desucumbncia pelo xito em demandas judiciais em que atuam defendendo o Estado,mister se faz analisar a natureza jurdica dessa verba perante o Direito Administrativo.

    Nesse ramo jurdico no se utiliza o vocbulo salrio, mas as palavras vencimentos,remunerao e subsdio para indicar a contraprestao paga pela Administrao Pblica aseus servidores pelo trabalho efetuado.

    Maria Sylvia di Pietro (2003) explica que a Constituio Federal de 1988 mencionaas expresses vencimentos e remunerao com o mesmo sentido para apontar osvalores pagos aos funcionrios pblicos a ttulo de retribuio pelos seus serviosprestados. Todavia a doutrinadora ressalta que:

    A regra que tem prevalecido, em todos os nveis de governo, ade que os estipndios dos servidores pblicos compem-se de umaparte fixa, representada pelo padro fixado em lei, e uma parte

    que varia de um servidor para o outro, em funo de condiesespeciais de prestao de servio, em razo do tempo de servio eoutras circunstncias previstas nos estatutos funcionais e que sodenominadas, genericamente, de vantagens pecunirias; elascompreendem, basicamente, adicionais, gratificaes e verbasindenizatrias. (DI PIETRO, 2003, p. 445-446)

    At o advento da Emenda Constitucional n 19 de 04/06/98, a Carta da Repblicano previa nada acerca do subsdio, sendo que o sistema remuneratrio acima era oaplicado aos membros das carreiras do Ministrio Pblico, da Magistratura, da Advocacia-Geral da Unio, das Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal e da Defensoria

    Pbica.A partir dessa reforma constitucional que essas categorias de agentes pblicos

    passaram a serem remuneradas por meio do subsidio. Este instituto, consoante ensinaCelso Antnio Bandeira de Melo (2004, p. 251), consiste na retribuio que [...] se efetuapor meio de pagamentos mensais de parcelas nicas, ou seja, indivisas e insuscetveis deaditamentos ou acrscimos de qualquer espcie.

    Os dois autores citados explicam que aqueles funcionrios remunerados porsubsdio podem receber alm dessa parcela somente verbas indenizatrias e outrasoriundas de dispositivos da prpria constituio, como, por exemplo, as contidas no art.39, 3 da Carta Magna (gratificao natalina, adicional noturno, salrio-famlia,adicional de frias, remunerao do servio extraordinrio superior, no mnimo a 50%

    do normal, adicional de frias).Assim, conclui-se que pelo fato de os membros da Advocacia-Geral da Unio e das

    Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal estarem sujeitos ao regime

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    remuneratrio do art. 39, 4, da Lei Fundamental, s podero receber os honorrios desucumbncia se estes forem compatveis com o subsdio. Todavia, no esse oentendimento que se extrai da anlise de ambos os institutos.

    Nos termos da jurisprudncia do Pretrio Excelso e do Superior Tribunal de Justia,

    os honorrios de sucumbncia possuem natureza alimentar e objetivam retribuir otrabalho exercido pelo advogado. Desse modo, estes constituem parcela remuneratriainacumulvel com o subsdio, j que o art. 39, 4 da Constituio veda o acrscimo dequalquer gratificao, adicional, abono, prmio, verba de representao ou outra espcieremuneratria. Como a honorria no possui carter indenizatrio, nem constituiexceo constitucional, foroso concluir que sua percepo proibida aos membros daadvocacia pblica por fora do art. 135 da Carta da Repblica.

    A partir desse raciocnio hermenutico, os honorrios por constiturem parcela varivelda remunerao, tornam inconstitucionais as leis especficas de cada carreira que autorizamo recebimento dessa verba. Somente mediante uma reforma da Constituio, que oshonorrios poderiam ser cumulados com o sistema de subsdio.

    importante frisar, entretanto, que h entendimento em sentido contrrio, e que aquesto ainda no foi objeto de apreciao pelo Supremo Tribunal Federal. A Ordem dosAdvogados do Brasil, inclusive, apia o deferimento da verba de sucumbncia aosprocuradores pblicos, sendo que, na prtica, muitos tm recebido a parcela.

    4.2 INCIDNCIA DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA E SOBRE OSHONORRIOS DE SUCUMBNCIA

    Primeiramente, deve-se notar que, diante das consideraes tecidas no itemanterior, a anlise da incidncia de contribuio previdenciria sobre os honorrios desucumbncia s pertinente em relao aos advogados autnomos e empregados, eisque somente a estes facultada a percepo da verba em tela.

    necessrio destacar que as contribuies previdencirias so espcies tributriassubmetidas a princpios especficos, dentre eles o da legalidade. Isso significa que aincidncia do referido tributo est condicionada a expressa previso legal. Dessa forma,por simples esforo interpretativo, no se pode incluir na base de clculo de taiscontribuies parcelas que no esto ali previstas.

    No presente trabalho, se verificou at o momento que para fins trabalhistas, oshonorrios de sucumbncia se enquadram dentro do conceito de remunerao do art.457 da CLT. Para fins previdencirios, contudo, a definio de remunerao a serconsiderada a contida na Lei n 8.212/91. Danilo Ribeiro de Miranda (2005) esclareceque nesse diploma legal, o vocbulo equivale a rendimentos.

    Em relao contribuio patronal (paga pelo empregador), o referido autor

    destaca que, segundo o art. 195, I, a da Constituio Federal9e a Lei n 8.212/91, essetributo incide sobre a remunerao paga pela empresa ou creditada, por ela, aotrabalhador, admitindo a lei [Lei n 8.212/91] to somente na hiptese das gorjetas queincida a contribuio ainda que seja a remunerao paga por terceiros (MIRANDA, 2005,p. 9). De acordo com esse posicionamento, os empregadores no pagariam o referidotributo sobre os honorrios de sucumbncia, eis que estes no se encontram previstos nabase de clculo da contribuio, j que so parcelas pagas por terceiros.

    Tambm no faria sentido falar em contribuio previdenciria do tomador deservios (art. 22, III da Lei 8.212/91) sobre os honorrios de sucumbncia, eis que essa

    9Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursosprovenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios e das seguintes contribuies sociais: I doempregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salrios e demais rendimentos dotrabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio;

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    verba paga pela parte derrotada no processo, sendo que o advogado a ela no prestaservio algum, antes um desservio (MIRANDA, 2005, p. 9).

    Situao diferente ocorre quando o tributo pago pelo empregado ou pelosprofissionais liberais. Em razo do carter remuneratrio da parcela e das disposies do

    art. 28 I e III, da Lei n 8.212/9110

    no h como negar a incidncia dessa espcietributria sobre os honorrios de sucumbncia, desde que respeitado o teto do salrio decontribuio.

    Danilo Miranda (2005) explica que o fato de no ser devida a contribuio patronalsobre a verba em anlise, em nada interfere nas contribuies pagas pelos advogadosautnomos e empregados.11

    Por fim, importa ressaltar que tendo em vista que os honorrios so pagos pelaparte sucumbente na demanda judicial, e que a ela no h prestao de servio algumpelo profissional beneficirio da verba, no h a possibilidade de reteno do tributo,sendo que o advogado deve ser o responsvel pelo recolhimento da contribuio.

    5 CONCLUSO

    Diante das consideraes tecidas nesta monografia, demonstrou-se que oshonorrios de sucumbncia tm natureza alimentar por retriburem o trabalho doadvogado. O fato de essa verba possuir natureza jurdica de remunerao gera inmerosefeitos, que variam conforme o regime jurdico de prestao do trabalho do profissional.

    Em relao aos empregados, se a parcela for recebida habitualmente, haverreflexos trabalhistas e previdencirios, ou seja, o empregador dever incluir oshonorrios de sucumbncia na base de clculo do FGTS, da gratificao natalina e dasfrias. Conforme, relatado no captulo anterior, h certa peculiaridade no que tange contribuio patronal, pois, por ausncia de previso legal, no haver a incidncia do

    referido tributo sobre a honorria. Todavia, o mesmo no ocorre em relao contribuio previdenciria devida pelo empregado, uma vez que sua base de clculoengloba toda a remunerao por ele recebida, limitada ao valor mximo do salrio decontribuio.

    Outra importante conseqncia em se atribuir carter remuneratrio aos honorriosde sucumbncia refere-se impossibilidade de a verba ser percebida pelos membros daadvocacia pblica. Isso ocorre por fora dos arts. 135 e 39, 4, ambos da ConstituioFederal, que prescrevem que esses servidores pblicos sero remunerados por umaparcela nica, denominada subsdio, vedados quaisquer acrscimos remuneratrios.

    Verificou-se, ainda, que em relao aos profissionais liberais, os honorriosadvocatcios constituem sua remunerao por excelncia, j tendo sido, inclusive,reconhecido pelos tribunais ptrios o seu carter alimentar. H julgados que outorgamcertos privilgios s verbas de sucumbncia, equiparando-as aos salrios para fins depreferncia na ordem de pagamento de precatrios e das falncias.

    Ante o exposto, impossvel negar a natureza remuneratria dos honorrios de sucumbnciaem todas as relaes de trabalho ora analisadas, a despeito de entendimentos contrrios e dodisposto no art. 14 do Regulamento Geral da OAB.

    10 Art. 28. Entende-se por salrio-de-contribuio: I - para o empregado e trabalhador avulso: a remunerao auferida em uma ou maisempresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer ttulo, durante o ms, destinados aretribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentosdecorrentes de reajuste salarial, quer pelos servios efetivamente prestados, quer pelo tempo disposio do empregador ou tomador deservios nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de conveno ou acordo coletivo de trabalho ou sentena normativa; [...] III - para ocontribuinte individual: a remunerao auferida em uma ou mais empresas ou pelo exerccio de sua atividade por conta prpria, durante oms, observado o limite mximo a que se refere o 5;

    11 Alis, devemos observar que inexiste, nesse caso, a mesma limitao observada com relao contribuio patronal: sendo esta[honorrios de sucumbncia] uma parcela remuneratria, nos termos do art. 28, inciso III, da Lei n 8.212/91, no importa se no hcontribuio patronal [incidente sobre a verba], vez que a hiptese se enquadra na previso da parte final do aludido dispositivo, aoreferir-se remunerao auferida pelo exerccio de sua atividade por conta prpria.(MIRANDA, 2005, p. 9).

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    Por fim, deve-se concluir que, em razo de a finalidade da honorria permanecer a mesma,nas relaes jurdicas em exame, os privilgios concedidos pela jurisprudncia ptria parceladevida aos autnomos devem ser concedidos tambm aos honorrios pagos aos empregados eadvogados pblicos.

    12

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICASANDRADE, Rogrio Emlio de; DIAS, Rosa M. Pellegrini. Parecer - Comisso do Advogado Pblico daOAB/SP. Revista de Direito e Poltica. So Paulo, vol. 4, p.115-116, jan./mar. 2005.

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    BRASLIA. Superior Tribunal de Justia. Honorrios Advocatcios equiparam-se aos crditos

    trabalhistas na falncia. Resp n 608.028-MS, Rel. Ministra Nancy Andrichi, Dirio de Justia,Braslia, 12 set. 2005, p. 320.

    BRASLIA. Superior Tribunal de Justia. Honorrios mantm natureza alimentar, mesmo quando otitular do crdito uma sociedade de advogados. Resp n 566.190-SC, Rel. Ministra NancyAndrichi, Dirio de Justia, Braslia, 1 jul. 2005, p. 514.

    CORDENADORIA de Editoria e Imprensa STJ. Corte Especial define se honorrios desucumbncia tm natureza alimentar. Disponvel em:Acesso em: 11 nov. 2007

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    12Apesar de ter-se concludo, nesta monografia, que a percepo dos honorrios de sucumbncia e vedada aos membros da Advocacia-Geralda Unio e das Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, na prtica muitos advogados pblicos integrante de carreiras estaduaistm recebido a parcela. Nesses casos, como a parcela integra a remunerao dos procuradores pblicos e constitui verba alimentar, a eladever ser conferido o direito de preferncia na satisfao dos precatrios e dos crditos falimentares.

  • 7/25/2019 Remuneracao Do Advogado Fabiana

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