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RENATO MENDES MINEIRO ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS, MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO São Paulo 2011

RENATO MENDES MINEIRO · tabela 10. respostas das questÕes 1 a 4 ..... 91 tabela 11. localizaÇÃo de pontos no r3

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RENATO MENDES MINEIRO

ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS, MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO

TRIDIMENSIONAL

MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO São Paulo

2011

RENATO MENDES MINEIRO

ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS, MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO

TRIDIMENSIONAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza.

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO São Paulo

2011

M492a Mendes, Renato Mineiro. Atividades para o estudo de superfícies quádricas mediadas por um modelo de representação tridimensional/ Renato Mineiro Mendes – São Paulo: [s. n.], 2011. 174 f.il. ; 30cm. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática. Orientadora: Profa Dra. Vera Helena Giusti de Souza. 1. Superfícies quádricas 2. Representação tridimensional 3. Componentes formais, algorítmicas e intuitivas 4. Registros de representação semiótica 5. Visualização I. Título.

CDD: 372.7

 

RENATO MENDES MINEIRO

ATIVIDADES PARA O ESTUDO DE SUPERFÍCIES QUÁDRICAS,

MEDIADAS POR UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA A UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE

SÃO PAULO COMO EXIGÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO

EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Presidente e Orientador

Profa. Dra. Vera Helena Giusti de Souza

Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC/SP).

Assinatura:

2º Examinador

Profa. Dra. Rosana Nogueira de Lima

Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC/SP).

Assinatura:

3º Examinador

Prof. Dr. Raymond Guy Jean Claude Duval

Doutorado em Psicologia Genética pela Université Paris X - Nanterre

Assinatura:

Biblioteca

Bibliotecário: _________________________________________________

Assinatura: _________________________________ Data: ___ / ___ / ___

São Paulo, ___ de ________________ de 20____

 

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta Dissertação, por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos

Assinatura: ___________________________Local e Data: _____________

Dedicatória

A Deus, o maior de todos os Geômetras e às

três pessoas mais importantes da minha vida,

Rosangela, Mauro e Mariana

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Vera Helena Giusti de Souza, minha orientadora, pela

constante dedicação e pela paciência, que soube tão bem e com tanto carinho,

aconselhar-me nos momentos mais difíceis da jornada.

À Profa. Dra. Rosana Nogueira de Lima, pelas valiosas contribuições da

Qualificação, por todo o incentivo e amizade.

Ao Prof. Dr. Raymond Duval, pela generosidade em compartilhar suas

opiniões e considerações conosco e pelas importantes contribuições durante a

Qualificação.

À Profa. Dra. Tania Maria Mendonça Campos, Presidente do Conselho de

Pós-Graduação e Pesquisa da UNIBAN-SP, por acreditar em mim, desde o

primeiro dia de aula e por não medir esforços nas situações em que precisei de

seu apoio.

Aos companheiros de estudo Olga Corbo, Ana Maria Poggio e Raimundo

Brandão, pelo apoio e por todos os cafés que tomamos juntos em agradáveis

momentos, dos quais tenho certeza que vou sentir saudades.

Aos colegas de trabalho da Noritsu do Brasil, que devem ter ficado

sobrecarregados pelas minhas ausências. Obrigado por toda a ajuda e

compreensão.

Aos alunos que concordaram em participar como sujeitos da pesquisa, que

apesar de anônimos nas páginas deste texto, sabem o quanto foram importantes

para o andamento dos trabalhos.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação

Matemática da UNIBAN-SP, sempre compromissados e prontos a ajudar.

A todos meus amigos e de modo particular ao meu irmão Silvio Scalisse,

pela constante torcida e à sobrinha Stéfany Scalisse, minha cinegrafista

preferida.

Aos meus amores, Rosangela, Mauro e Mariana, que souberam

compreender a ausência do esposo e pai, e que têm me ensinado tanto sobre

coisas diferentes da Matemática, como sobre a vida.

A Matemática, vista corretamente, possui não

apenas verdade, mas também suprema beleza.

Uma beleza fria e austera, como a da escultura.

Bertrand Russell (1872 – 1970)

RESUMO

Com esta pesquisa, tivemos por objetivo verificar se uma abordagem que envolva

tratamentos e conversões entre diferentes registros de representação semiótica,

mediada por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a

visualização de superfícies quádricas. Para alcançar este objetivo, fizemos uma

intervenção junto a alunos do 3º Ano de um curso de Licenciatura em

Matemática. Buscamos a fundamentação teórica para a elaboração das

atividades nas ideias de Duval (1999), que distingue a visão (imediatamente

acessível ao primeiro olhar, porém não suficiente para desenvolver funções

cognitivas fundamentais) da visualização (responsável pela organização das

relações entre as informações obtidas pela visão, em busca da produção de

representações semióticas, de forma a desenvolver tais funções) e defende a

necessidade de sabermos representar os objetos matemáticos em pelo menos

dois diferentes sistemas de representação semiótica, com as mudanças de

registros, tanto em cada um dos sistemas (tratamento) como de um para outro

(conversão). Analisamos os protocolos obtidos nas atividades à luz das

concepções de Fischbein (1993), que defende a necessidade da interação entre

componentes formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático.

Fundamentados por estes quadros teóricos, respondemos nossa questão de

pesquisa: “Uma sequência de atividades que envolvam tratamentos e conversões

de registros de representação semiótica, mediadas por um modelo de

representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies

quádricas?”. A análise qualitativa dos protocolos e filmagens obtidos indica que,

para a maioria dos sujeitos desta pesquisa, aspectos intuitivos, frutos de

aprendizagens anteriores e fortemente enraizadas, sobrepuseram-se a aspectos

formais e algorítmicos, bloqueando iniciativas que pudessem fazê-los ir além da

percepção visual das representações e assim favorecessem o desenvolvimento

da visualização de superfícies quádricas.

Palavras-chave: superfícies quádricas, representação tridimensional,

componentes formais, algorítmicas e intuitivas, registros de representação

semiótica, visualização

ABSTRACT

With this work we intended to verify if an approach involving treatments and

conversions between different register of semiotics representation, mediated by a

three-dimensional representation model, can promote visualization of quadrics

surfaces. In order to reach our purpose, we promoted an intervention along with

students of a 3rd year of a degree course in mathematics. We seek the theoretical

basis for the conception of the activities on the ideas of Duval (1999), that

distinguishes vision (immediately accessible at first glance, but unable, by itself, to

develop fundamental cognitive functions) from visualization (responsible by

relating information, which were obtained by vision, with semiotics

representations, in order to develop such functions) and advocates the need for

students to represent mathematical objects in at least two different semiotic

systems of representation, with changes of registers, either inside each one of the

systems (treatment) or between the two of them (conversion). We analyzed the

protocols, which we obtained with the activities, based on the conceptions of

Fischbein (1993), who defends the need of the interaction between formal,

algorithmic and intuitive components of a mathematical content. Based on these

theoretical frameworks, we have answered our research question: “A set of

activities, involving treatment and conversion of semiotic registers, mediated by a

three-dimensional representation, may promote visualization and interaction

between formal, intuitive and algorithmic aspects of quadric surfaces?”.

Qualitative analysis of protocols and videos obtained with this intervention

indicates that for most subjects in this study, intuitive aspects, fruits of prior and

strongly rooted learning, overlapped formal and algorithmic aspects, by blocking

initiatives that would take them beyond visual perception of representations and

could help them to develop visualization of quadric surfaces.

Keywords: quadric surfaces, three-dimensional representation, formal, algorithmic

and intuitive components, registers of semiotic representation, visualization

LISTA DE DESENHOS

DESENHO 1. TRIÂNGULO ISÓSCELES ................................................................. 25 DESENHO 2. QUAL DOS PONTOS É MAIOR? ....................................................... 27 DESENHO 3. REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL DE UM CUBO ....................... 30 DESENHO 4. REPRESENTAÇÃO DE UM QUADRADO E DE UMA PIRÂMIDE ..... 31 DESENHO 5. PROJEÇÃO PARALELA SOBRE UM PLANO PARALELO À AA'C'C .................................................................................................................................. 34 DESENHO 6. INTERSECÇÃO DOS PLANOS ABC E AA'C'C .................................. 35 DESENHO 7. INTERSECÇÃO DE PLANOS ............................................................ 35 DESENHO 8. EXEMPLOS DE GRÁFICOS OBTIDOS PELO CORTE DE UMA SUPERFÍCIE QUÁDRICA ......................................................................................... 40 DESENHO 9. TRIÂNGULO ABC .............................................................................. 49 DESENHO 10. SOBREPOSIÇÃO DE GRÁFICOS BIDIMENSIONAIS ..................... 56 DESENHO 11. PERSPECTIVA DE UM HIPERBOLÓIDE ........................................ 67 DESENHO 12. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3 .............. 75 DESENHO 13. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 2 .............. 75 DESENHO 14. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2, 3) E RAIO 3 ............. 76 DESENHO 15. TRIÂNGULO RETÂNGULO XPPC .................................................... 78 DESENHO 16. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (XC, YC) E RAIO CP ...... 79 DESENHO 17. ELIPSE COM CENTRO EM C (0, 0) E FOCOS SOBRE O EIXO X . 82 DESENHO 18. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (-3, 2) E RAIO 3 ............ 83 DESENHO 19. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3 .............. 93 DESENHO 20. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2,-3) E RAIO 3 ............. 94 DESENHO 21. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.1 ........................................................ 98 DESENHO 22. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R3 ................................... 103 DESENHO 23. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R2 ................................... 103 DESENHO 24. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.2 ...................................................... 104 DESENHO 25. ALVO PARA COMPETIÇÕES DE ARCO E FLECHA .................... 113 DESENHO 26. CURVAS DE NÍVEL CORRESPONDENTES AO MODELO 3 ....... 113 DESENHO 27. REPRESENTAÇÃO EM PERSPECTIVA E EM PERFIL ................ 123 DESENHO 28. CORTE DE UMA FIGURA NO PLANO YZ ..................................... 124 DESENHO 29. ESBOÇO DO G4 – ITEM 3.3 .......................................................... 128 DESENHO 30. PROJEÇÃO DE UMA QUÁDRICA NO PLANO DE BASE ............. 130 

LISTA DE QUADROS  QUADRO 1. ENUNCIADO DO ITEM 1.6 ................................................................ 118 QUADRO 2. ENUNCIADO DO ITEM 4.1 ................................................................ 131 QUADRO 3. ATIVIDADE 5.1 – G4 .......................................................................... 136 QUADRO 4. ENUNCIADO DO ITEM 5.3 ................................................................ 138 

LISTA DE FOTOS

FOTO 1. PERFURAÇÃO E MONTAGEM DAS TRANSPARÊNCIAS ....................... 41 FOTO 2. RECORTE DOS ESPAÇADORES E MONTAGEM.................................... 41 FOTO 3. COLAGEM E CORTE DAS EXTREMIDADES ........................................... 42 FOTO 4. UMA REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL DA HIPERBOLOIDE DE DUAS FOLHAS ......................................................................................................... 42 FOTO 5. MODELO 1 ................................................................................................. 96 FOTO 6. MODELO 2 ................................................................................................. 97 FOTO 7. MODELO 3 ................................................................................................. 97 FOTO 8. ESCADA EM ESPIRAL ............................................................................ 115 FOTO 9. CENTRO AQUÁTICO NACIONAL DE PEQUIM ...................................... 122   

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. EQUAÇÕES COM TRÊS E DUAS INCÓGNITAS .................................. 45 TABELA 2. GRÁFICOS OBTIDOS A PARTIR DAS EQUAÇOES COM DUAS INCÓGNITAS ............................................................................................................ 46 TABELA 3. TRATAMENTO DENTRO DE UM REGISTRO ALGÉBRICO ................. 53 TABELA 4. CONVERSÃO DO REGISTO ALGÉBRICO PARA O GRÁFICO ............ 53 TABELA 5. CONVERSÕES CONGRUENTES E NÃO CONGRUENTES ................. 54 TABELA 6. RESPOSTAS DA QUESTÃO 1 .............................................................. 81 TABELA 7. RESPOSTAS DA QUESTÃO 2 .............................................................. 84 TABELA 8. RESPOSTAS DA QUESTÃO 3 .............................................................. 86 TABELA 9. RESPOSTAS DA QUESTÃO 4 .............................................................. 89 TABELA 10. RESPOSTAS DAS QUESTÕES 1 A 4 ................................................. 91 TABELA 11. LOCALIZAÇÃO DE PONTOS NO R3 ................................................... 99                      

 SUMÁRIO

   INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 

1: APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 13 2: JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 15 3: OBJETIVO E QUESTÃO DE PESQUISA .......................................................... 17 

CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA ............................................................. 18 CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL.............. 40 CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ........................................................ 43 

3.1 FISCHBEIN: A INTERAÇÃO ENTRE AS COMPONENTES FORMAIS, ALGORÍTMICAS E INTUITIVAS NA ATIVIDADE MATEMÁTICA .......................... 44 3.2 DUVAL: REPRESENTAÇÃO, VISÃO E VISUALIZAÇÃO ................................ 50 

CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................... 60 4.1 QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS ...................... 61 

4.1.1 Questão 1 .................................................................................................. 62 

4.1.2 Questão 2 .................................................................................................. 63 

4.1.3 Questão 3 .................................................................................................. 64 

4.1.4 Questão 4 .................................................................................................. 64 

4.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO ................................................................................ 65 4.3 ATIVIDADES COM MODELO DE REPRESENTAÇÃO ................................... 66 

4.3.1 Atividade 1 ................................................................................................. 66 

4.3.2 Atividade 2 ................................................................................................. 69 

4.3.3 Atividade 3 ................................................................................................. 70 

4.3.4 Atividade 4 ................................................................................................. 70 

4.3.5 Atividade 5 ................................................................................................. 71 

4.3.6 Atividade 6 ................................................................................................. 71 

CAPÍTULO 5: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................. 73 5.1 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS 73 

5.1.1 Questão 1 .................................................................................................. 74 

5.1.2 Questão 2 .................................................................................................. 81 

5.1.3 Questão 3 .................................................................................................. 84 

5.1.4 Questão 4 .................................................................................................. 86 

5.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO ................................................................................ 92 

5.3 ANÁLISE DAS ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL ................................................................................................. 95 

5.3.1 Atividade 1 ................................................................................................. 96 

5.3.2 Atividade 2 ............................................................................................... 120 

5.3.3 Atividade 3 ............................................................................................... 126 

5.3.4 Atividade 4 ............................................................................................... 131 

5.3.5 Atividade 5 ............................................................................................... 135 

5.3.6 Atividade 6 ............................................................................................... 142 

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 146 1: CONCLUSÕES ................................................................................................ 146 2: CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 153 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 158 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS ... 160 APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL ................................................................................................. 165 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............... 171 ANEXO B – PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA .............................................. 174                  

13  

INTRODUÇÃO

1: APRESENTAÇÃO

Considerei importante, nesta introdução, escrever um pouco sobre mim

mesmo, o autor deste projeto, assim como de minha tardia trajetória acadêmica.

Tendo em vista que se trata de um relato pessoal, tomei a liberdade,

exclusivamente nesta etapa, de escrever em primeira pessoa do singular.

Iniciei minha vida escolar em 1976, numa escola municipal de um bairro da

periferia de São Paulo. Lembro-me que uma das poucas ruas asfaltadas da

região era a rua da escola e que, quando chovia, apesar da roupa molhada e da

lama, que chegava aos joelhos, não deixava de frequentar as aulas. Numa época

em que a escola não era para todos, exceder o número de faltas podia levar à

expulsão.

Havia, na época, a instituição da repetência. Os alunos que não

conseguiam bom aproveitamento nas disciplinas eram mantidos na mesma série

escolar, ou como dizíamos na época, “repetiam de ano”. Àqueles que repetiam

consecutivamente, ano após ano e que se tornavam crianças grandes em salas

de pequenos, restava conformar-se com a sua “falta de jeito” para vida escolar e

abandonar os estudos.

Ainda escuto, vez por outra, alguns que dizem: “No meu tempo se

ensinava assim, e nós aprendíamos!”. Esquecem-se, no entanto, dos muitos que

não conseguiram aprender e que desistiram de estudar.

Neste contexto, em que o ensino tradicional exercia sua hegemonia, ao

focar-se no ensino e não na aprendizagem, pude conhecer, entre a 7ª e 8ª séries

do 1º Grau (atual Ensino Fundamental), um professor de Matemática chamado

Clóvis.

Embora fosse bastante severo e não admitisse que os alunos

conversassem durante as suas aulas (eu confesso que não gostava muito desta

sua rigidez), demonstrava preocupar-se com cada um de nós. Importava-se se

estávamos conseguindo acompanhar o desenvolvimento dos conteúdos.

Eu percebia que o professor preparava com antecedência as aulas e que

procurava contextualizar cada um dos conceitos matemáticos, fazendo com que

a aprendizagem desses novos conceitos se relacionasse com os conhecimentos

14  

que já possuíamos. Nunca vinha de “mãos vazias”. Isto fazia com que nos

sentíssemos importantes e aumentava a nossa autoestima.

Em suas aulas, costumava incentivar-nos dizendo que “todos os dias

milhares de Albert Einsteins viajam apertados nos vagões do metrô”, fazendo-nos

acreditar que pudessem existir entre nós pessoas tão inteligentes quanto

Einstein, fazendo-nos ver que éramos capazes de vencer os obstáculos impostos

pela nossa origem humilde e que éramos capazes de aprender.

Passaram-se, desde então, quase trinta anos.

Depois de ter iniciado e interrompido um curso de Engenharia, depois de

ter concluído um curso Técnico em Eletrônica e depois de trabalhar na indústria

por mais de vinte e cinco anos, decidi voltar a estudar, e não tive dúvidas na hora

de escolher a minha futura profissão: Professor de Matemática.

Ingressei num curso de Licenciatura em Matemática, e pude perceber,

então, quanto avanço deu-se, não tanto quanto à Matemática, mas

principalmente quanto ao modo como se ensina Matemática. A escola atual,

diferentemente da que frequentei na infância, pretende ser para todos: os que

têm e os que não têm facilidade em aprender.

Mais à frente, quase ao final do curso de Licenciatura, fui apresentado aos

conceitos que controlam a representação tridimensional dos objetos matemáticos

e percebi que, apesar do avanço das metodologias em algumas áreas, a

passagem do mundo bidimensional para o tridimensional parecia ter sido

negligenciada. As representações de objetos tridimensionais eram feitas

basicamente em duas dimensões, no quadro negro, nos livros, e até mesmo nas

telas dos computadores.

Embora na época eu ainda não tivesse tido contato com as teorias de

aprendizagem que pude conhecer posteriormente no curso de Mestrado, tinha a

convicção de que era possível desenvolver estratégias que favorecessem a

aprendizagem relacionada à representação de objetos tridimensionais, e que

pudessem colaborar com a superação das dificuldades encontradas na mudança

do R2 para o R3.

Foi esta convicção que me possibilitou prosseguir e desenvolver esta

pesquisa, que agora tenho a felicidade de compartilhar com todos aqueles que

como eu, acreditam na possibilidade de transformação por meio da educação e

do saber.

15  

2: JUSTIFICATIVA

As superfícies quádricas, como todos os objetos matemáticos, são

entidades abstratas, inacessíveis à nossa percepção sensorial. Não podemos

“ver”, “tocar”, ou “pegar” uma superfície quádrica. O acesso e a comunicação

sobre estas entidades se dão exclusivamente por meio de sua representação.

Para isso, podemos utilizar um sistema de representação, que pode ser

discursivo (quando nos referimos às quádricas por meio da linguagem escrita ou

falada, ou por meio da expressão algébrica correspondente), figural (quando

utilizamos desenhos) ou gráfico (quando utilizamos um sistema de coordenadas,

como o sistema cartesiano tridimensional).

No período em que frequentamos as aulas da disciplina de Cálculo

Integral, pudemos presenciar uma grande dificuldade de entendimento dos

conceitos envolvidos na representação de superfícies quádricas, aliada a uma

também grande dificuldade por parte dos professores em fazer-se entender sobre

tais conceitos.

Na ocasião, acreditávamos que a construção de um modelo de

representação tridimensional que apresentasse de forma simultânea a

representação gráfica da equação em diferentes cortes do plano, a exemplo do

que ocorre com as curvas de nível, porém em três dimensões, pudesse ajudar-

nos a avançar na aprendizagem deste conteúdo.

Incomodados com a ausência de tal recurso e em busca de uma

representação que superasse as limitações bidimensionais do livro didático e do

quadro negro, desenvolvemos um modelo de representação de equações no

sistema coordenado retangular tridimensional R3, composto pela sobreposição de

transparências impressas com gráficos bidimensionais. No CAPÍTULO 2: UM

MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL, apresentamos alguns

detalhes sobre a confecção das transparências e montagem do modelo.

Mais adiante, em nosso percurso dentro do programa de Mestrado em

Educação Matemática da UNIBAN-SP, pudemos ter contato com as ideias de

Efraim Fischbein (1993), sobre a necessidade da interação entre as componentes

formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático; e as de

Raymond Duval, (1999) que de um ponto de vista focado no desenvolvimento

cognitivo, distingue a visão (imediatamente acessível ao primeiro olhar, porém

16  

incapaz de desenvolver as funções cognitivas fundamentais) da visualização

(responsável pela organização das informações obtidas pela visão em busca da

produção de representações semióticas) e defende a necessidade de que os

alunos desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo

menos dois diferentes registros de representação semiótica, e que saibam

coordenar a mudança entre estes registros. Este quadro teórico foi fundamental

durante a nossa pesquisa, ao nortear nossas ações e auxiliar-nos tanto na

elaboração quanto na análise das atividades que foram desenvolvidas. No

CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, apresentamos com mais detalhes

estas concepções.

Além dessas leituras, que referenciaram teoricamente a concepção de

nosso trabalho, analisamos trabalhos já realizados de outros pesquisadores, que

em alguns de seus aspectos relacionam-se com a nossa proposta. Destes,

destacamos as pesquisas feitas por Tavares (1998), Medalha (1997) e Reis

(2006), que optaram, em seus procedimentos metodológicos, pela utilização de

modelos concretos de representação; por Possani (2002), que investigou as

possibilidades de representações planas de objetos tridimensionais em um

ambiente informático; e por Imafuku (2008), que buscou respostas sobre o motivo

das dificuldades envolvidas na passagem do estudo de funções de uma variável

para o estudo de funções de mais de uma variável.

Adicionalmente, fizemos a leitura de um dos artigos de Fischbein (1993)

sobre a dupla natureza das figuras geométricas, que são ao mesmo tempo

imagem e conceito; de um artigo de Parzysz (1988), sobre a inevitável perda de

informação quando da representação de figuras geométricas, e sobre o conflito

apresentado entre o que os alunos sabem sobre determinada figura geométrica

(sabido) e o que os alunos conseguem ver na representação desta figura (visto);

e de um artigo de Rommevaux (1998) sobre a importância do discernimento dos

planos em representações bidimensionais de objetos tridimensionais. Detalhes

sobre as pesquisas e sobre estes artigos, assim como as considerações sobre

como influenciaram nosso trabalho, podem ser encontrados no CAPÍTULO 1:

REVISÃO DE LITERATURA.

No CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, apresentamos

os detalhes relativos à concepção da intervenção que fizemos junto a alguns

alunos do 3º ano de um curso de Licenciatura em Matemática, que consistiu na

17  

resolução de um questionário de revisão sobre circunferências e em atividades

sobre superfícies quádricas mediadas por um modelo de representação

tridimensional.

A análise das respostas apresentadas no questionário e nas atividades em

que usamos o modelo de representação encontra-se no CAPÍTULO 5:

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.

Nossas conclusões e considerações finais basearam-se na análise

qualitativa dos dados obtidos na intervenção que fizemos.

3: OBJETIVO E QUESTÃO DE PESQUISA

O objetivo de nossa pesquisa é verificar se uma abordagem que envolva

tratamentos e conversões entre diferentes registros de representação semiótica,

mediada por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a

visualização das superfícies quádricas.

Para isso, faremos uma intervenção junto a alguns alunos do 3º Ano de

um Curso de Licenciatura em Matemática, por meio de algumas atividades que

incluem a resolução de um questionário sobre circunferências e atividades que

envolvem a representação de superfícies quádricas em diferentes registros de

representação semiótica. Detalhes sobre estas atividades, assim como as razões

que nos levaram a propô-las, podem ser encontradas no CAPÍTULO 4:

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.

Ao final, após a análise dos protocolos que serão obtidos nas atividades,

gostaríamos de responder a seguinte questão, que se originou no período em

que fazíamos a graduação, e que acreditamos ter ganhado maior relevância em

nosso percurso pelo Programa de Mestrado:

Q. Uma sequência de atividades que envolvam tratamentos e conversões

de registros de representação semiótica, mediadas por um modelo de

representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies

quádricas?

18  

CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA

Considerando que o objetivo de nossa pesquisa é verificar se uma

abordagem que envolva tratamentos e conversões entre diferentes registros de

representação semiótica, mediada por um modelo de representação

tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas, fomos

levados à leitura de pesquisas já realizadas, cujos autores houvessem se

preocupado em estudar os processos de ensino e de aprendizagem envolvidos

na representação de objetos matemáticos tridimensionais.

Alguns destes autores, como Tavares (1998), Medalha (1997) e Reis

(2006), desenvolveram suas pesquisas utilizando-se de modelos concretos de

representação. Outros, como Possani (2002), utilizaram-se de recursos

computacionais. Adicionalmente, a fim de entender os entraves que se

apresentam quando da passagem do estudo de funções de uma variável para o

estudo de funções com mais de uma variável, fizemos a leitura do trabalho de

Imafuku (2008).

Também tivemos contato com alguns artigos de Fischbein (1993) sobre a

Teoria dos Conceitos Figurais; de Parzysz (1988), sobre os conflitos entre o

“visto” e o “sabido”; e de Rommevaux (1998) sobre a importância do

discernimento dos planos em representações bidimensionais de objetos

tridimensionais.

Apresentamos a seguir um pequeno resumo sobre cada uma destas

pesquisas e artigos e as implicações destas leituras em nosso trabalho.

Baseado em sua prática docente como professor do Ensino Médio e de

Licenciatura em Matemática, Tavares (1998) afirma que os alunos apresentam

grande dificuldade no estudo da Geometria Espacial, e que esta dificuldade é

provocada, na maioria das vezes, pela deficiência das habilidades de

visualização e percepção do aluno (p. 11). Embora os livros didáticos de

Matemática e os desenhos feitos pelo professor no quadro negro representem

figuras espaciais, sua característica plana pode não favorecer aqueles alunos

que não têm o pensamento espacial desenvolvido (p. 15). Preocupado com este

aspecto, desenvolveu um trabalho de pesquisa, cujo objetivo era apresentar uma

proposta alternativa para a construção do conceito de volume de uma pirâmide

19  

qualquer e identificar a importância da intuição, visualização, percepção e

representação na construção de uma ideia geométrica.

Seu trabalho pautou-se pelas seguintes questões de pesquisa

Como os alunos do 2.º grau constroem o conceito de volume de uma pirâmide qualquer? Qual a influência da visualização na construção da ideia de volume? Qual é o papel da utilização de diferentes abordagens na construção do conceito de volume? (TAVARES, 1988, p.16).

A fim de responder estas questões, o autor promoveu nove encontros de

duas horas-aula cada. Os alunos que participaram da atividade estavam

matriculados no 2º Grau (atual Ensino Médio) de uma escola estadual da cidade

de Campos, no Rio de Janeiro. Durante os encontros, foram propostas algumas

atividades que combinavam questionários e atividades experimentais

relacionadas ao cálculo de volume de pirâmides e prismas. Nas atividades

experimentais, foram utilizados sólidos geométricos feitos de sabão, que eram

mergulhados em vasilhames com água. A medição da variação do nível da água,

associada ao conhecimento das dimensões do recipiente, permitiram aos alunos

o cálculo do volume de cada um dos sólidos que era imerso. Esta atividade

simulava o experimento atribuído à Arquimedes, matemático da antiguidade que,

diante da tarefa de descobrir se uma coroa era feita de ouro maciço ou de

alguma liga que incluía prata, calculou o volume da coroa de forma indireta,

mergulhando-a numa banheira e observando o volume de água que era

deslocado. Munido das informações sobre o peso da coroa, seu volume e a

densidade do ouro e da prata, conseguiu provar que a coroa era feita de uma liga

de ouro e prata, e não de ouro maciço como havia encomendado o Rei Hierão ao

desonesto ourives que executara o trabalho.

No caso específico desta pesquisa, os alunos partiram da constatação

empírica do volume dos poliedros, de acordo com a proposição de Arquimedes,

chegando à formalização destes conceitos, conforme os princípios de Cavalieri.

Segundo Tavares (1998), as atividades experimentais, ao envolverem a

manipulação de modelos concretos, despertaram grande interesse por parte dos

alunos, favorecendo o desenvolvimento dos conhecimentos matemáticos e

levando-os, ao final, a encontrarem a fórmula para o cálculo do volume de uma

pirâmide.

20  

Medalha (1997) investigou o modo pelo qual os processos de visualização

atuam na construção de conceitos matemáticos, procurando identificar quais as

habilidades básicas e quais os facilitadores para o desenvolvimento do

pensamento espacial.

Para isso, desenvolveu uma sequência de atividades junto a alguns

alunos, entre 16 e 19 anos, matriculados na 2ª e 3ª séries do 2º Grau (atual

Ensino Médio) do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Durante os encontros

foram construídos, manuseados e observados alguns sólidos geométricos, a

partir dos quais os alunos deviam produzir imagens mentais que os ajudassem a

abstrair e inferir sobre as propriedades dos objetos matemáticos, sem a presença

do modelo concreto correspondente.

Medalha (1997) analisou os dados obtidos durante as atividades à luz das

concepções de Van Hiele (1986) quanto às quatro etapas de desenvolvimento do

raciocínio (reconhecimento, análise, síntese e dedução informal) e na abordagem

de Hoffer (1991) sobre as habilidades necessárias para que se dê o

desenvolvimento do raciocínio (visual, gráfica, linguística e lógica).

A autora reforça a necessidade de que se trabalhem os aspectos da

Geometria Espacial com recursos adicionais ao giz, quadro negro e livro didático,

que apresentam possibilidades de representação essencialmente planas.

Concluiu que para o desenvolvimento da visualização são necessários alguns

elementos, como a construção da imagem mental, as múltiplas representações

do objeto matemático (gráfica, escrita, falada) e o raciocino visual. A análise dos

dados coletados comprova que os alunos participantes da pesquisa

desenvolveram habilidades relacionadas à visualização.

Concordamos com Tavares (1998) e Medalha (1997) quando se referem à

importância que a visualização e a percepção espacial podem apresentar na

construção de imagens mentais em atividades matemáticas, no entanto, a nosso

ver, apoiados nas ideias de Duval (1999), há uma diferença fundamental entre a

percepção visual que chamamos de “visão” e a “visualização”: a “visão” é capaz

de, ao primeiro olhar, obter acesso imediato à representação da figura, porém é

por meio da “visualização” que as informações obtidas pela visão, chamadas de

unidades representacionais, são compreendidas e organizadas de modo a formar

uma representação semiótica. Nas palavras de Duval, “[...] a visualização não

21  

pode ser reduzida à visão, ou seja, a visualização torna visível tudo o que não é

acessível pela visão” 1 (DUVAL, 1999, p. 13, tradução nossa).

Em busca de pesquisas que, a exemplo da nossa, houvessem utilizado

modelos concretos de representação, encontramos o trabalho de Reis (2006), que se dedicou à identificação de materiais manipuláveis e à investigação do

modo pelos quais estes materiais poderiam colaborar com a aprendizagem dos

conceitos elementares de Geometria Esférica. Para isso, desenvolveu um curso

de extensão universitária sobre o tema, do qual participaram dez alunos do

terceiro ao oitavo semestres dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em

Matemática da UNESP de Rio Claro - SP.

O curso apresentava atividades que envolviam a resolução de problemas

relacionados à Geometria Esférica, a utilização de materiais manipuláveis como

caleidoscópios e esferas de isopor, e a utilização de um software de Geometria

Dinâmica.

Reis (2006) justificou a escolha da resolução de problemas como recurso

didático, em concordância com as concepções de Onuchic (1999) sobre “ensinar

por meio da resolução de problemas” e com as definições de Ponte e Matos

(2003) sobre as características da investigação como metodologia de ensino da

Matemática. Quanto às etapas necessárias a resolução dos problemas, orientou-

se pela abordagem proposta por Polya (1977), que as dividem em quatro:

compreensão do problema, construção de uma estratégia, execução da

estratégia e verificação dos resultados.

Ao optar pela utilização de modelos concretos, a autora cita Pais (1996),

para quem “o objeto é a forma de representação primária do conceito

matemático, ou seja, a forma mais acessível e imediata à sensibilidade humana”.

Após a análise qualitativa dos dados que foram coletados durante os

encontros, Reis (2006) pode verificar que, embora os materiais manipuláveis

(modelos concretos) fossem menos precisos que os modelos disponíveis no

software de geometria dinâmica, a possibilidade de tocá-los e visualizá-los

apresentou importantes contribuições às investigações dos alunos, mostrando-se

mais adequados às atividades que envolviam a percepção e a concepção de                                                             1 […] visualization should not be reduced to vision, that is to say: visualization makes visible all that is not accessible to vision.

22  

objetos geométricos. Em contrapartida, verificou que, nos processos onde havia

necessidade de demonstrações, os materiais manipuláveis não colaboraram de

forma significativa. Em síntese, a autora conclui que as atividades propostas

contribuíram para a aprendizagem dos conceitos básicos relacionados à

Geometria Esférica. Embora tenha usado apenas uma pequena quantidade de

materiais manipuláveis, acredita que sua pesquisa possa propor a busca por

novos materiais, objetivando alternativas para o ensino da geometria.

Efetivamente, nossa justificativa para a criação de um modelo concreto de

representação tridimensional surgiu diante de nossa dificuldade de entendimento

sobre os conceitos envolvidos na representação de superfícies quádricas, aliada

a uma também grande dificuldade, por parte dos professores, em fazer-se

entender sobre tais conceitos, porém, a exemplo de Reis (2006) e amparados

pelas suas conclusões, também acreditamos que nossa pesquisa possa propor a

busca de novas alternativas ao ensino de conteúdos que estejam relacionados à

objetos matemáticos em três dimensões.

Nossa convicção sobre a necessidade de utilização de recursos didáticos

adicionais ao livro didático e ao quadro negro é reforçada pelas conclusões da

pesquisa de Possani (2002), que procurou investigar quais as possibilidades que

um programa de Geometria Dinâmica, como o Cabri-Géomètre II, poderia

apresentar na exploração dinâmica de representações planas de objetos

espaciais. Desenvolveu, para isso, um conjunto de atividades, que se realizaram

em um ambiente informático e que propunham a representação tridimensional de

cubos e pirâmides por meio de suas secções planas.

A elaboração das atividades pautou-se pelas considerações sobre as

apreensões das figuras geométricas (Duval, 1995); sobre a diferenciação dos

planos (Rommevaux, 1997); sobre a funcionalidade do desenho em Geometria

Espacial (Chachooua, 1997) e sobre a distinção entre desenho e figura (Parzysz,

1988). Também foram considerados alguns elementos da teoria das Situações

Didáticas (Brousseau, 1986) e dos aspectos da metodologia da Engenharia

Didática (Artigue, 1990). De acordo com Possani (2002), o caráter dinâmico das representações de

figuras geométricas, possibilitado pelo programa de geometria dinâmica Cabri-

Géomètre II, permitiu uma melhor interação dos alunos com essas

23  

representações, possibilitando-os observar certos tratamentos de figuras que

caracterizam a apreensão operatória dos conceitos matemáticos envolvidos nas

atividades.

As conclusões de Possani (2002) levaram-nos a considerar a necessidade

de que a sequência de atividades que iríamos propor aos sujeitos de nossa

pesquisa apresentasse as superfícies quádricas por meio de diferentes registros

de representação semiótica, além de prever a conversão entre estes registros.

Incomodado com as observações de sua prática docente como professor

em turmas de Cálculo Diferencial e Integral, Imafuku (2008) dedicou sua

pesquisa à investigação dos motivos pelos quais alguns alunos, até mesmo

aqueles que apresentam um bom rendimento nas aulas de Cálculo Diferencial e

Integral, apresentam tanta dificuldade quando da passagem do estudo de

funções de uma variável para o estudo de funções de mais de uma variável.

Também procurou identificar como essas dificuldades interferem no estudo das

derivadas parciais de primeira ordem.

Imafuku (2008) realizou uma pesquisa diagnóstica com análise qualitativa

dos dados, que foram coletados a partir da aplicação de dois questionários. O

autor baseou-se na Teoria dos Registros de Representação Semiótica (Duval,

2003), tanto para a elaboração dos questionários quanto para sua análise. O

primeiro questionário, que o autor chama de “exploratório”, foi aplicado a quinze

duplas de alunos do quarto e quinto semestres de um curso de Licenciatura em

Matemática de uma universidade particular da região metropolitana de São

Paulo. Apresentava questões sobre localização de pontos no espaço, sobre

funções e seu domínio, e sobre a representação gráfica de funções. O segundo

questionário, que o autor chama de “definitivo”, foi aplicado a sete outras duplas

de alunos do quinto semestre do mesmo curso. Embora abrangesse os mesmos

conceitos matemáticos, continha cinco questões adicionais (treze ao todo), além

de algumas mudanças no enunciado, que objetivaram uma maior clareza quanto

às questões que não haviam sido bem interpretadas pelos alunos que haviam

respondido ao primeiro questionário.

Após a análise dos protocolos, o autor concluiu que a maioria dos alunos

que participaram da pesquisa não compreendia o sistema de representação

tridimensional, além de confundirem o conceito de domínio com o conceito de

24  

função e com as curvas de nível. Também pode verificar que, embora os alunos

conhecessem o procedimento para determinar algebricamente derivadas parciais

de primeira ordem, não relacionavam este resultado à representação geométrica

da derivada. De acordo com o autor, uma prática docente que valorizasse os

registros de representação e a conversão entre estes registros, conforme

preconiza Duval (2003), poderia levar à superação de algumas das dificuldades

apresentadas pelos alunos.

Identificamo-nos com as inquietações de Imafuku (2008), principalmente

pelo fato de que uma das justificativas de nossa pesquisa relaciona-se à nossa

própria dificuldade de entendimento sobre tais conceitos e à busca do referido

entendimento por meio da construção de um modelo concreto de representação,

no período em que cursávamos as aulas de Cálculo Diferencial e Integral durante

nossa graduação. Acreditamos, em concordância com o quadro teórico sobre o

qual Imafuku (2008) se apoiou, que nosso trabalho, ao propor atividades que

promovam o tratamento e a conversão entre diferentes registros de

representação semiótica, pode colaborar para o avanço da aprendizagem e

superação das dificuldades identificadas pelo autor.

 Um dos artigos de Fishbein (1993), chamado “The Theory of Figural

Concepts”, tem como principal objetivo esclarecer as características da dupla

natureza das figuras geométricas, que são ao mesmo tempo imagem e conceito.

Para Fischbein (1993), as teorias psicológicas atuais normalmente fazem a

distinção entre conceito e imagem mental. Nessas abordagens, conceito refere-

se à representação simbólica usada nos processos de raciocínio abstrato, ligado

principalmente à “ideia” que se tem de um determinado objeto, enquanto a

imagem mental relaciona-se à percepção sensorial e ao modo de representação

deste objeto. No entanto, existe uma terceira categoria, que ele chama de

“conceito figural”, e que reúne tanto as características de conceito quanto de

imagem mental.

Fischbein (1993) cita como exemplo a seguinte sequência por meio da

qual é possível demonstrar que os ângulos da base de um triângulo isósceles são

congruentes.

25  

Consideremos o triângulo isósceles ABC, tal que o lado AB seja congruente ao lado AC (DESENHO 1). Nós queremos provar que os ângulos correspondentes aos vértices B e C são congruentes. Podemos imaginar a seguinte prova: consideremos que alguém destaca o triângulo de si mesmo, invertendo-o de tal forma que o lado AC fique do lado esquerdo e o lado AB fique do lado direito, sobrepondo o triângulo que foi girado sobre o triângulo original. O ângulo correspondente ao vértice A mantém-se o mesmo, e como os lados AB e AC têm o mesmo comprimento, AC coincidirá perfeitamente com o lado AB do lado esquerdo, e AB e AC coincidirão perfeitamente do lado direito. Desta forma, o triângulo que foi girado e o triângulo original coincidirão perfeitamente. Como consequência, os ângulos correspondentes aos vértices B e C só podem ser iguais, conforme se desejava demonstrar (FISCHBEIN, 1993, p. 140, tradução nossa 2).

DESENHO 1. TRIÂNGULO ISÓSCELES

Nesta demonstração, foram usados conhecimentos conceituais, como os

relativos a ângulo e congruência, ligados ao mundo das ideias, porém a operação

de rotação do triângulo sobre si mesmo encontra-se no domínio das

representações. Não se “destaca” nem se “rotaciona” uma ideia, a menos que

esta ideia esteja intimamente ligada a uma imagem. Temos, neste caso, uma

mistura entre o conceito e a imagem mental do objeto matemático. O triângulo ao

qual nos referimos não pode ser considerado puro conceito, tampouco pura

imagem. O processo de prova utilizado também não poderia desenvolver-se

exclusivamente por meio das ideias, ou unicamente por meio da representação

                                                            2 Consider the isosceles triangle ABC with AB ≈ AC. We want to prove that ^B = ^C. We may imagine the following proof: let us consider that one detaches the triangle from itself, one reverses it such that AC is on the left side and AB on the right side, and one superposes the reversed triangle on the original one. The angle A remaining the same and AB and AC having the same length, AC will coincide perfectly with AB on the left side and AB and AC will coincide perfectly on the right side. Then the reversed and the original triangle will coincide perfectly. As a consequence, the angles ^B and ^C must be equal. Q.E.D. (Fischbein, 1993)

26  

gráfica do triângulo. Temos aqui um exemplo da terceira categoria à qual

Fischbein (1993) se refere: a categoria dos conceitos figurais.

De acordo com Fischbein

É necessário considerar três categorias de entidades mentais quando nos referimos às figuras geométricas: a definição, a imagem (baseada na experiência perspectiva sensorial, como a imagem de um desenho) e o conceito figural. O conceito figural é a realidade mental, é a elaboração favorecida pelo raciocínio matemático no domínio da geometria. Embora desprovido de qualquer propriedade figural concreta (como cor, peso, densidade, etc.), apresenta as propriedades figurais. Esta criação é controlada e manipulada, a princípio sem interferências, por regras lógicas e procedimentos no domínio de um determinado sistema axiomático (FISCHBEIN, 1993, p. 148, tradução nossa 3).

Para Fischbein (1993) as figuras geométricas são conceitos figurais.

Quando pensamos em uma circunferência, por exemplo, somos levados

imediatamente a pensar sobre sua representação gráfica, que é controlada

intrinsecamente pelos conceitos formais que caracterizam as circunferências

(conjunto de pontos equidistantes a um ponto dado, chamado de centro da

circunferência). Em Geometria, não existe sentido no conceito sem a imagem,

tampouco teria sentido a existência da Geometria como um dos ramos da

Matemática sem o conceito de imagem. Diferentemente das ciências empíricas,

como a Biologia, por exemplo, na qual os conceitos sobre o objeto de estudo são

determinados pelo próprio objeto, em Matemática são os conceitos que controlam

o objeto.

Conflitos podem ocorrer quando, ao contrário, as propriedades figurais do

objeto, pela característica intuitiva, inerente às percepções sensoriais, tendem a

controlar os conceitos. Fischbein (1993) cita como exemplo uma atividade

experimental realizada junto a alguns alunos com idades entre 6 e 11 anos.

Nesta atividade, os participantes eram solicitados a observar o DESENHO 2,

                                                            3 One has, then, to consider three categories of mental entities when referring to geometrical figures: the definition, the image (based on the perceptive-sensorial experience, like the image of a drawing) and the figural concept. The figural concept is a mental reality, it is the construct handled by mathematical reasoning in the domain of geometry. It is devoid of any concrete-sensorial properties (like color, weight, density, etc.) but displays figural properties. This figural construct is controlled and manipulated, in principle without residuals, by logical rules and procedures in the realm of a certain axiomatic system (Fischbein, 1993).

27  

comparar os pontos 1 (formado pela interseção de quatro retas) e 2 (formado

pela intersecção de duas retas) e responder às seguintes questões:

Os pontos 1 e 2 são diferentes? Algum dos dois pontos é maior do que o outro? Se sim, qual é maior? Algum dos dois pontos é mais pesado do que o outro? Se sim, qual dos dois? Os dois pontos têm a mesma forma (FISCHBEIN, 1993, p.145, tradução nossa 4)?

DESENHO 2. QUAL DOS PONTOS É MAIOR?

Por meio da análise das respostas apresentadas, Fischbein (1993)

observou, nas argumentações dos alunos mais novos, que a intuição, reforçada

pela percepção sensorial, determinou o raciocínio, levando-os a responder que o

ponto 1 era maior e mais pesado que o ponto 2. Também pôde observar a

mudança dos padrões das respostas, de acordo com a maturidade escolar dos

sujeitos da pesquisa. Nas respostas dos alunos mais velhos, observaram-se

considerações corretas, sobre a igualdade dos pontos, que envolviam conceitos

formais relacionados à definição de ponto (não possui dimensão).

Para Fischbein (1993), os conceitos e as figuras interagem nos processos

de raciocínio, algumas vezes favorecendo a aprendizagem, outras vezes

dificultando-a, porém o desenvolvimento de conceitos figurais não é algo que se

desenvolva naturalmente, sendo esta uma das principais causas pelas quais a

Geometria é um tópico tão complicado para boa parte dos alunos. Fischbein

(1993) ressalta como uma das principais tarefas dos professores de Matemática,

principalmente aqueles que se dedicam ao ensino da Geometria, promover

                                                            4 Are these two points different? Is one of them bigger? If yes, which one? Is one them heavier? If yes, which one? Have the two points the same shape?

28  

situações nas quais se favoreça a fusão entre os aspectos ligados aos conceitos

e os ligados às imagens, como modo de uni-los em um único objeto mental.

Recomenda o uso de exercícios cujos padrões da representação espacial

tendam a desobedecer as restrições formais, criando conflitos que levem os

alunos a conjecturar sobre os aspectos conceituais e figurais dos objetos

matemáticos.

A leitura deste artigo possibilitou-nos o entendimento acerca das três

categorias envolvidas na representação de figuras geométricas (conceitos,

imagens e conceitos figurais) e contribuiu para que, ao concebermos as questões

e atividades propostas aos sujeitos da pesquisa, levássemos em conta as

particularidades das circunferências e das superfícies quádricas, que são,

simultaneamente, conceito e imagem.

Em um de seus artigos, intitulado “’Knowing’ vs ‘Seeing’”. Problems of the

plane representation of space geometry figures, Parzysz (1988) apresenta alguns

aspectos do conflito existente entre o que é “conhecido” e aquilo que é “visto”

durante as tentativas de desenhar (codificação) uma figura geométrica, ou

durante as tentativas de interpretação de um desenho (decodificação) de uma

figura geométrica.

Incomodado com as dificuldades do ensino da geometria espacial na

França, que, a seu ver, estão intimamente relacionadas aos problemas de

representação (mental e material) dos objetos matemáticos que são estudados,

Parzysz (1988) desenvolveu estudos junto a alguns alunos do Ensino Médio (na

França), em que estes eram solicitados a “codificar” (desenhar) um objeto

matemático a partir da sua representação material em três dimensões e

“decodificar” (ler) um objeto da geometria espacial a partir de sua representação

plana. Esta pesquisa relaciona-se com algumas outras feitas na mesma época

em Grenoble e em Montpelier, na França.

Esses estudos fundamentaram-se nos princípios de que a) existe uma

dialética entre a aquisição do conhecimento em geometria espacial e o domínio

da representação em três dimensões; b) é fundamental que os alunos passem

por uma fase onde possam ser usados modelos concretos de representação

tridimensional (embora o objetivo seja que desenvolvam a aprendizagem sem os

modelos, o contato inicial com estes tipos de representação permite-lhes criar

29  

imagens mentais sobre estes objetos); e c) é necessário que se explicitem as

regras para o desenho de figuras espaciais, regras estas não sujeitas a

convenções duvidosas, mas nas propriedades formais da geometria projetiva.

Os principais compromissos assumidos por meio dos estudos foram os de

investigar os princípios mais ou menos implícitos que subjazem a codificação e a

decodificação das representações planas de objetos tridimensionais, além de

desenvolver uma engenharia didática que permitisse que esses princípios fossem

analisados, e que levasse os alunos à elaboração de um conjunto de regras, não

estabelecidas de início, que controlassem as suas representações e que os

ajudasse a desenvolver aprendizagem destes conceitos

Parzysz (1988) opta, em seu trabalho por definir FIGURA como o objeto

matemático, regulado por suas propriedades formais e que só existe no mundo

das ideias; e por DESENHO a representação plana do objeto matemático, a

representação da figura. Em concordância com suas considerações, decidimos

usar estas mesmas definições em nosso trabalho.

Em outras palavras, sempre que nos referirmos a uma entidade

matemática, iremos chamá-la de FIGURA. A fim de evitar ambiguidade entre os

termos, quando formos nos referir às representações gráficas, ilustrações e

esboços, usaremos o termo DESENHO.

A representação de uma figura geométrica pode ser um desenho se a

figura pertence à geometria plana, ou pode ser um desenho ou modelo concreto

de representação, caso a figura pertença à geometria espacial. De acordo com

Parzysz (1988), podem ser distinguidos dois níveis de representação. No nível 1,

encontram-se as representações próximas, ou seja, a representação assemelha-

se ao objeto matemático que está sendo representado e possui a mesma

quantidade de dimensões deste; e no nível 2, encontram-se as representações

distantes. As representações deste nível possuem quantidade de dimensões

inferior à do objeto matemático.

Em outras palavras, a representação plana (2D) de um objeto da

geometria plana (2D) está no nível 1 (ambas possuem a mesma quantidade de

dimensões), enquanto que a representação plana de um objeto da geometria

espacial (3D) está no nível 2 (a representação apresenta-se em uma dimensão a

menos do que o objeto). Analogamente, um modelo de representação concreto,

30  

em três dimensões, está no nível 1, quando utilizado para representar objetos da

geometria espacial, pois ambos possuem a mesma quantidade de dimensões:

três. Neste caso, embora exista a perda de informação, ela é menor do que

quando representamos o objeto 3D exclusivamente por meio do desenho.

Para Parzysz (1988), existe necessariamente a perda de informação

quando nos movemos de um nível para outro maior. Neste raciocínio, a figura,

que corresponde ao próprio objeto matemático, encontra-se no nível 0, ou seja,

não há perda de informação. Sua representação, no entanto, irá encontrar-se no

nível 1 ou 2. Quanto maior o nível, maior a perda de informação.

Nem tudo o que pertence à figura pode ser preservado na representação,

porém, algumas de suas propriedades podem eventualmente prevalecer. Parzysz

(1988) chama este fenômeno de “restituição do significado”, e que, todavia, só

ocorre devido à boa vontade do leitor, que estabelece uma conivência com o

autor da representação, graças ao seu repertório de imagens mentais, restrito a

um número limitado de tipos, tais como pontos, retas, planos, circunferências,

pirâmides, etc.

Para a maioria de nós, a representação do DESENHO 3 provavelmente

será interpretada como um cubo. Acreditamos que tal se deva, principalmente,

pelo fato de que esta figura já faz parte do acervo de figuras e de representações

que fomos acumulando durante a nossa vivência, dentro e fora da escola. Se nos

pedissem que reproduzíssemos esta representação de forma tridimensional,

provavelmente o faríamos da forma correta, respeitando os ângulos retos entre

as arestas, embora não estejam presentes no desenho. Acreditamos, em

concordância com Parzysz (1988), que isso pode ocorrer porque somos

coniventes com a ideia de que o desenho representa um cubo

DESENHO 3. REPRESENTAÇÃO BIDIMENSIONAL DE UM CUBO

31  

Existem casos, entretanto, em que as figuras e suas respectivas

representações, (ao contrário de arquétipos como pirâmides, cubos, cilindros,

etc.) podem não fazer parte do acervo da maioria dos alunos, em virtude de sua

especificidade. Nestes casos, embora se espere que os alunos desenvolvam sua

aprendizagem de modo que possam apropriar-se das características abstratas

dessas figuras, para Parzysz (1988), é obrigatório que passem por uma fase de

contato com o modelo de representação.

Diante da impossibilidade de representação de todas as propriedades das

figuras geométricas por meio de seus desenhos, algumas convenções têm sido

utilizadas, como a representação de uma reta por um traço na folha de papel, ou

a representação de um plano por meio do desenho de um paralelogramo.

Embora a restituição do significado possa levar à representação próxima

do objeto, pode também, em alguns casos, apresentar outros tipos de problema,

devido à ambiguidade apresentada pela representação. Um traço no papel

também poderia ser a representação de um segmento de reta e não da reta toda,

que é impossível de ser representada.

Quando fazemos a representação plana de objetos da geometria espacial

os problemas são maiores ainda. Passamos do nível 0 para o nível 2, que

corresponde à representação distante do objeto. Se na representação próxima de

objetos da geometria plana eram mantidas algumas das propriedades do objeto

matemático (paralelismo e perpendicularismo, entre outras), no caso da

representação plana de objetos espaciais tal não ocorre. A fim de exemplificar

esta observação, Parzysz (1988) apresenta dois desenhos em seu artigo

(DESENHO 4), que reproduzimos aqui.

DESENHO 4. REPRESENTAÇÃO DE UM QUADRADO E DE UMA PIRÂMIDE

32  

O desenho da esquerda (A) corresponde à representação de um quadrado

(geometria plana) e de suas diagonais. O desenho da direita (B) é a

representação plana de uma pirâmide de base quadrada. Enquanto no desenho

do quadrado as diagonais são perpendiculares, tanto idealmente quanto na

representação, tal não se observa na representação das diagonais da base da

pirâmide, que são perpendiculares na figura, mas que não mantém esta

propriedade na representação plana.

Para Parzysz (1988), a perda de informação relacionada às

representações em nível 1, e muito mais nas representações em nível 2, pode

ser minimizada, ou até mesmo evitada por meio de legendas que acompanhem

os desenhos, ou de textos com as definições formais, e reafirma que o modelo de

representação não pode, exclusivamente, substituir a figura.

De acordo com Parzysz (1988), parte dos erros relacionados à codificação

e decodificação de figuras geométricas deve-se à tendência natural em

considerar representações distantes (representações que possuem menos

dimensões do que o objeto) como representações próximas (representações que

possuem a mesma quantidade de dimensões que o objeto). Isto ocorre tanto na

interpretação quanto na representação da figura, onde os alunos procuram, por

meio de um desenho suficientemente sofisticado, representar todas as

propriedades formais do objeto matemático. O autor do desenho, neste caso, é

confrontado com um dilema insolúvel, ou seja, o que ele “sabe” sobre o objeto

matemático conflita-se com o que ele “vê” na representação. A fim de observar e

investigar detalhes deste conflito, que Parzysz (1988) nominou de conflito entre o

“visto” e o “sabido” (“knowing vs seeing” conflict), ele faz a análise de um teste

feito entre 88 alunos do Ensino Médio (na França), aos quais era apresentada

uma representação próxima de uma pirâmide de base quadrada, em forma de um

esqueleto feito com palitos de madeira. Em seguida, os modelos eram recolhidos

e os alunos eram solicitados a fazer a representação plana do sólido, de forma

que alguém que não tivesse visto ou conhecesse o sólido fosse capaz de

identificá-lo.

Dos 88 alunos que participaram da experimentação, apenas 18 optaram

em adicionar ao desenho alguma legenda ou informação que auxiliasse o leitor a

identificar as propriedades do objeto, sendo que destes, apenas dois alunos

fizeram de forma suficientemente eficaz. A grande maioria acreditou que o

33  

desenho por si só seria capaz de transmitir todas as propriedades da figura ao

leitor.

Parzysz (1988) conclui seu artigo alertando sobre a necessidade de que

sejam trabalhados, pelo menos no Ensino Médio, os princípios que controlam as

representações planas de figuras espaciais, a fim de que os alunos consigam

desenvolver o domínio neste campo do conhecimento e a fim de que não fiquem

presos a desenhos estereotipados baseados em confusas convenções.

Esta leitura contribui com a nossa pesquisa ao possibilitar-nos

entendimento de que existem perdas quando representamos um objeto

matemático, e que esta perda é maior na medida em que a quantidade de

dimensões da representação se distância da quantidade de dimensões do objeto,

além de pontuar o conflito que ocorre quando não nos damos conta desta

limitação e tentamos, por meio de uma representação suficientemente

sofisticada, representar todas as propriedades do objeto (conflito entre o "visto" e

o "sabido").

O artigo de Rommevaux (1998) chamado “Le discernement des plans

dans une situation tridimensionnelle”, apresenta o resultado de suas

investigações sobre a possibilidade de ensinar os alunos a ver no espaço e sobre

as interações entre as representações utilizadas na geometria tridimensional. A

visualização sobre a qual a pesquisadora se refere, no entanto, não é a

capacidade de ver as coisas ou objetos matemáticos em representações

tridimensionais, mas ver três dimensões em uma figura bidimensionalmente

representada, como por exemplo, em uma perspectiva paralela.

Através da análise das etapas necessárias à resolução de problemas de

geometria tridimensional, a pesquisadora conseguiu observar uma sequência de

etapas, caracterizadas pela seleção de planos de situação, resolução de

problemas planos e coordenação dos resultados obtidos. A fim de ilustrar estes

passos, ela cita como exemplo um problema, que reproduzimos a seguir.

ABCA’B’C’ é um prisma de base triangular ABC, as arestas AA’, BB’ e CC’ são paralelas, I é o ponto médio de BC, I’ é o ponto médio de B’C’ e M um ponto da aresta AA’. a) Determine a interseção da reta MC’ e o plano ABC b) Determine a interseção da linha MB’ e o plano ABC c) Determine a interseção da linha MI’ e o plano ABC

 

 

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36  

sucessão dos passos aos quais Rommevaux (1998) se refere, ou seja: a) seleção

de planos (solução de problemas planos à partir dos planos AA’C’C, AA’B’B e

AA’I’I); b) resolução de problemas planos (intersecção das retas, a fim de

determinar os pontos b,c e i) ; e c) a coordenação do resultados planos (provar o

alinhamento dos pontos encontrados e o paralelismo entre a reta que os contém

e uma das arestas do prisma).

Rommevaux (1998) classifica as diferenças fundamentais entre a

representação de objetos 2D e de objetos 3D por meio de representações

bidimensionais, de acordo com elementos de referência (apoio da representação,

plano de referência e plano de situação) e de acordo com a natureza da relação

entre o objeto e a sua representação

De acordo com a referência, as diferenças são as seguintes:

• Em geometria bidimensional, o apoio de representação (a folha de

papel, a lousa ou a tela do computador onde é construída a

representação), o plano de referência (os planos representados no

desenho, como as faces dos poliedros, por exemplo) e o plano da

situação (aqueles por meio dos quais são permitidos os tratamentos

que levem à solução) coincidem;

• Em geometria tridimensional, o apoio da representação, o plano de

referência e os planos de situação podem não coincidir.

De acordo com a natureza da relação entre o objeto e a sua

representação, Rommevaux (1998) pontua as seguintes distinções:

• Em geometria bidimensional, os objetos são representados, e qualquer

alteração sobre a representação pode ser considerada como uma

alteração no próprio objeto matemático;

• Em geometria tridimensional, são os planos de referência que são

representados e que estruturam o objeto. Eventualmente estes planos

também são os da situação. A identificação destes planos deve

preceder a identificação dos objetos matemáticos.

37  

A fim de obter subsídios à sua investigação, a pesquisadora desenvolveu

algumas atividades, fundamentadas na Teoria dos Registros de Representação

Semiótica de Raymond Duval (DUVAL, 1994) e que foram propostas à duas

classes de alunos da 2ª série secundária, com idades que variavam entre 15 e 16

anos.

Após submeterem-se a um questionário preliminar, com o qual se

procurou verificar se eram capazes de identificar figuras tridimensionais e

bidimensionais em representações bidimensionais, os alunos participaram de

duas atividades, incluídas em uma fase que a pesquisadora chama de

exploratória. Na primeira atividade, foram dados aos alunos desenhos com

representações de quatro polígonos, um cubo feito de acetato transparente e

uma folha de respostas. Rommevaux (1998) justifica a utilização de um modelo

de representação tridimensional, complementar aos dois diferentes registros de

representação semiótica (linguagem natural e perspectiva paralela) em que o

objeto matemático é apresentado aos alunos que participaram da

experimentação.

Os estudos históricos e certos estudos técnicos mostram, contudo, que estes objetos podem ter, para a compreensão do espaço real ou virtual, funções importantes: função heurística pelas simulações que permite, e função de verificação útil, mas que pode intervir apenas quando o problema é resolvido (ROMMEVAUX, 1998, p. 45, tradução nossa 6).

A tarefa proposta era verificar a possibilidade de, por meio de uma secção

do cubo, obter o polígono desenhado. Além da resposta os alunos eram

solicitados a justificar suas conclusões.

Na segunda etapa, ao invés dos desenhos de polígonos, os alunos

receberam moldes vazados com as formas de seis polígonos, inclusive os quatro

que haviam sido analisados na primeira tarefa desta fase. Da mesma forma,

foram solicitados a responder e a justificar se poderiam, por meio de uma secção

do cubo, obter o polígono vazado.

                                                            6 Les études historiques et certaines études techniques montrent cependant que ces

objets peuvent avoir, pour la compréhension de l'espace réel ou virtuel, des fonctions importantes: fonction heuristique par les simulations qu'elle autorise, fonction de vérification - utile -, mais qui ne peut intervenir que lorsque le problème est résolu.

38  

Diferentemente da primeira atividade, agora os alunos podiam “mergulhar”

materialmente os moldes vazados no cubo a fim de justificar suas respostas. A

pesquisadora sublinha as reações de surpresa dos alunos, ao descobrirem, por

exemplo, a possibilidade de obter uma secção do cubo correspondente a um

pentágono.

Com o objetivo de dar à perspectiva paralela, além de sua função

intrínseca de comunicação, a função de tratamento e promover a sua utilização

como instrumento heurístico indispensável à solução de problemas em geometria

tridimensional, foram propostas algumas atividades por meio da quais os alunos

deviam descobrir quais eram, e como eram obtidos, os polígonos

correspondentes às secções do cubo, de acordo com pontos dados em suas

arestas. Nesta fase, que Rommevaux (1998) chamou de fase de tratamento

figurativo, os alunos deviam desenhar os pontos e os polígonos correspondentes

à secção sobre o cubo feito de acetato, desenhar os polígonos correspondentes

às secções em tamanho natural e representar os polígonos correspondentes às

secções desenhando-os na representação bidimensional em perspectiva

paralela. Gradativamente os alunos eram solicitados a realizar as atividades sem

o auxílio do modelo.

Após a análise das avaliações feitas pelos alunos, Rommevaux (1998)

concluiu que as atividades favoreceram a utilização da perspectiva paralela na

resolução de problemas da geometria tridimensional, além de ajudar os alunos a

desenvolverem a capacidade de discernir planos em representações

bidimensionais, ou seja, ver no espaço pode ser aprendido da mesma forma que

outros saberes.

Esta leitura permitiu-nos compreender as diferenças entre a representação

plana de objetos bidimensionais e a representação plana de objetos

tridimensionais. Diferentemente dos objetos 2D, em 3D o plano de apoio (folha ou

lousa onde a representação é feita), o plano de referência (a representação da

figura) e o plano de situação (o plano onde fazemos os tratamentos que

possibilitam a solução) podem não ser os mesmos. Em representações planas de

objetos 3D é fundamental o discernimento dos planos para que haja visualização.

Quando criamos o modelo de representação tridimensional, ainda não

tínhamos tido contato com as ideias de Rommevaux, porém, concordamos

quando afirma que “ver no espaço pode manifestar-se pela capacidade em

39  

distinguir planos em uma representação bidimensional”. Na verdade, acreditamos

que as conclusões obtidas a partir de sua pesquisa possam justificar algumas de

nossas escolhas, como por exemplo, a utilização de um modelo concreto, e a

opção de representar a figura tridimensional por meio de recortes planos.

Além destas leituras, que nos orientaram quanto aos problemas e

impasses envolvidos nas pesquisas em Educação Matemática e que nos

possibilitaram considerar importantes aspectos envolvidos na representação de

figuras geométricas bidimensionais e tridimensionais, fizemos a leitura de dois

outros artigos, escritos respectivamente por Fischbein (1993), sobre a interação

entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas do objeto matemático; e

por Duval (1999), sobre a necessidade de que os alunos desenvolvam a

aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo menos dois diferentes

registros de representação semiótica coordenando a mudança entre estes

registros e sobre as diferenças entre a visualização e a visão, ajudaram-nos a

fundamentar teoricamente nossa pesquisa, seja quanto à concepção das

atividades, seja quanto à forma de análise que pretendemos fazer a partir dos

dados coletados durante as experimentações.

No CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS, detalharemos melhor

estes dois artigos.

40  

CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL

O modelo de representação gráfica que desenvolvemos consiste

basicamente na sobreposição ordenada de gráficos bidimensionais, impressos

em folhas de acetato transparente, a exemplo das curvas de nível. Como as

folhas são transparentes, podemos ver diferentes gráficos simultaneamente. Tal

efeito pode proporcionar a visão da representação tridimensional da equação

estudada.

A seguir, procuramos resumidamente ilustrar as etapas da construção do

modelo de representação gráfica tridimensional.

Os gráficos bidimensionais são obtidos por meio de um programa de

geometria dinâmica de uso livre chamado Geogebra (www.geogebra.org), e

correspondem à representação de cortes da superfície quádrica em diferentes

alturas do sistema de planos coordenados ortogonais. A fim de ilustrar esta

construção, reproduzimos no DESENHO 8, dois cortes da quádrica ,definida pela

equação 0422 =−+ zyx , feito em planos paralelos ao plano xy, respectivamente

com as cotas 2 e 16.

DESENHO 8. EXEMPLOS DE GRÁFICOS OBTIDOS PELO CORTE DE UMA SUPERFÍCIE

QUÁDRICA

Após impressos em folhas transparentes adequadas à impressão por jato

de tinta, os gráficos são recortados e perfurados nos quatro cantos, de modo que

seja possível montá-los nas hastes.

41  

    

FOTO 1. PERFURAÇÃO E MONTAGEM DAS TRANSPARÊNCIAS

Recortamos diversos pedaços de canudo (do mesmo tipo utilizado para as

hastes) de forma que tenham um mesmo tamanho padrão, correspondente à

distância em que serão feitas as secções em determinado eixo. Estes pedaços

serão usados como espaçadores entre as transparências.

  

FOTO 2. RECORTE DOS ESPAÇADORES E MONTAGEM

Após a montagem das camadas, finalizamos a construção com a colagem

das extremidades, de modo que as folhas transparentes não se soltem.

42  

    

FOTO 3. COLAGEM E CORTE DAS EXTREMIDADES

O resultado final é uma representação gráfica tridimensional da equação

no R3.

FOTO 4. UMA REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL DA HIPERBOLOIDE DE

DUAS FOLHAS

Nosso objetivo, ao ilustrar as etapas de criação e construção do modelo de

representação tridimensional, foi proporcionar ao leitor uma visão geral do

processo.

Consideramos, no entanto, que algumas das etapas da confecção do

modelo, como as tarefas de imprimir, recortar e perfurar, não contribuiriam para a

aprendizagem. Dessa forma, embora a dinâmica das atividades que iremos

realizar preveja a montagem dos modelos, esta se dará pelo uso de folhas já

impressas, recortadas e perfuradas.

43  

CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Em busca de subsídios que nos orientassem quanto aos aspectos

envolvidos na aprendizagem dos conceitos relacionados à representação das

superfícies quádricas, fomos levados à leitura de uma série de artigos científicos.

Alguns destes artigos já foram mencionados no CAPÍTULO 1: REVISÃO DE

LITERATURA, porém existem dois artigos, um de Efraim Fischbein (1993) e um

de Raymond Duval (1999), que escolhemos para referenciar teoricamente nosso

trabalho. Estes artigos, além de terem nos orientado quanto à concepção das

atividades que realizaremos junto aos alunos, nos auxiliarão no momento em que

fizermos análise dos protocolos que serão obtidos.

Fischbein (1993) aborda a importância da interação entre três

componentes fundamentais dos objetos matemáticos em uma atividade

matemática: a componente formal, a componente algorítmica e a componente

intuitiva; e defende que, para que haja aprendizagem é necessário que haja a

interação entre estas componentes.

Duval (1999) distingue a visão (imediatamente acessível ao primeiro olhar,

porém incapaz de desenvolver as funções cognitivas fundamentais) da

visualização (responsável pela organização das informações obtidas pela visão

em busca da produção de representações semióticas) e defende a necessidade

de que os alunos desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos

em pelo menos dois diferentes registros de representação semiótica, e que

saibam coordenar a mudança entre estes registros.

Neste capítulo, além de apresentar o resumo dos artigos, procuramos, por

meio de alguns exemplos, extraídos destes textos e de outras leituras, esclarecer

o leitor sobre os pressupostos teóricos que auxiliaram a concepção das

atividades envolvidas em nossa pesquisa, e que irão nos auxiliar nos no processo

de análise posterior.

44  

3.1 FISCHBEIN: A INTERAÇÃO ENTRE AS COMPONENTES FORMAIS,

ALGORÍTMICAS E INTUITIVAS NA ATIVIDADE MATEMÁTICA7

 Para Fischbein (1993), a Matemática pode ser considerada sob dois

pontos de vista diferentes. O primeiro, como um rigoroso conjunto de

conhecimentos, determinado por relações formais, logicamente estruturadas, tal

como se apresenta nos tratados matemáticos; e o segundo como fruto da

atividade humana e, portanto, sujeito a momentos de incerteza e de hesitações.

O fato de os matemáticos se preocuparem em desenvolver um corpo logicamente

estruturado de conhecimento não nos impede de considerar o processo criativo

no desenvolvimento da Matemática. É sobre esta segunda concepção que

estamos interessados em aprofundar-nos.

Fischbein (1993) considera a interação entre três diferentes componentes

básicas do objeto matemático na atividade matemática: a componente formal, a componente algorítmica e a componente intuitiva.

Os aspectos formais estão relacionados aos axiomas, definições,

teoremas e provas. Embora estejamos analisando a Matemática como fruto da

atividade humana, não podemos deixar de considerar este importante aspecto,

pois é por meio dos conceitos formais que se desenvolve a argumentação lógica

e o raciocínio matemático. Por outro lado, de acordo com Fischbein (1993) é pura

ilusão achar que apenas o conhecimento de teoremas, provas e definições, como

normalmente são expostos nos livros didáticos, torne o aluno capaz de resolver

problemas matemáticos.

Em sua tese de doutorado, De Souza (2008) cita um exemplo apresentado

por Kline (1973) em seu livro “Why Johnny can’t add: the failure of the new Math”,

em que um pai, ao perguntar para o seu filho quanto é 5 + 3, recebe a resposta

de que, de acordo com a propriedade comutativa da adição, 5 + 3 é igual à 3 + 5.

Diante da resposta, somos levados à pensar sobre a constatação de que o

conhecimento do fictício aluno sobre as propriedades da adição não foram

capazes de habilitar-lhe a dar a resposta esperada pelo pai, correspondente à

soma dos dois números.

                                                            7 The interaction between the formal, the algorithmic, and the intuitive components in a mathematical activity (tradução nossa)

45  

Deparamo-nos, assim, com a necessidade de considerar outro aspecto

dos objetos matemáticos, que Fischbein (1993) chamou de aspecto algorítmico,

e que está relacionado aos procedimentos de resolução, ou seja, às habilidades

que podem ser aprendidas e sistematicamente treinadas. Isto não quer dizer,

entretanto, que o raciocínio matemático pode ser reduzido a um conjunto de

procedimentos e técnicas, mas sim da interação entre os aspectos formais e os

aspectos algorítmicos.

Encontramos um exemplo da importância da componente algorítmica no

período em que inicialmente nos dedicamos ao estudo das superfícies quádricas,

quando fazíamos o curso de Licenciatura em Matemática. Pudemos observar

que, para a maioria dos alunos, até mesmo para aqueles familiarizados com a

representação de pontos no R3, era difícil, a partir de expressões algébricas com

três incógnitas, inferir sobre qual era a figura geométrica correspondente.

Diante das três incógnitas, os alunos pareciam não saber por onde

começar. Notamos, no entanto, que após a sugestão de substituir uma das

incógnitas por um valor constante, a fim de observar o comportamento da figura

em diversas secções do espaço tridimensional, conseguiam relacionar a nova

expressão obtida a equações com duas incógnitas e esboçar, para cada um dos

valores eventualmente atribuídos à constante, a figura geométrica bidimensional

correspondente.

Observamos, neste caso, que o procedimento algorítmico, aliado às

propriedades formais relacionadas às cônicas, tornou possível a alguns dos

alunos o encaminhamento da solução, que até então, por meio exclusivo da

mobilização dos conhecimentos formais do assunto, não estavam conseguindo.

TABELA 1. EQUAÇÕES COM TRÊS E DUAS INCÓGNITAS

Equação original (três incógnitas) Equação com duas incógnitas e

uma constante

4222 =+− zyx 222 4 cyx −=−

     

 

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46

CÓGNITAS

specto ade de

saberes

o entre

como

47  

autoevidente, e um postulado uma construção a partir de um axioma. Atualmente,

não notamos mais esta distinção, porém, independentemente disto, foram estas

asserções que fundamentaram o desenvolvimento de boa parte da Matemática

que chegou até nós.

Fischbein (1993) cita como exemplo um dos axiomas presentes nos

Elementos de Euclides: “o todo é maior do que cada uma de suas partes”,

puramente intuitivo, ao qual adicionamos os outros quatro: “coisas iguais à

mesma coisa são iguais entre si; adicionando-se iguais a iguais, as somas são

iguais; subtraindo-se iguais de iguais, as diferenças são iguais; coisas que

coincidem uma com a outra são iguais entre si”.

Fischbein (1993) exemplifica a importância do aspecto intuitivo na

construção do conhecimento matemático ao referir-se à distância temporal de

quase dois mil anos entre a geometria euclidiana (baseada em noções comuns

aceitas sem prova, como são os postulados e axiomas) e a geometria não

euclidiana, que embora se apresente lógica e coerente, é um campo do saber

extremamente contra-intuitivo.

Nós aceitamos a evidência de que através de um ponto fora de uma reta apenas uma linha paralela possa ser traçada. Nós não podemos intuitivamente aceitar outras alternativas, por exemplo, que nenhuma paralela possa ser traçada (a geometria de Riemann) ou que uma infinidade de paralelas possam ser traçadas (a geometria de Lobachevsky) (FISCHBEIN, 1987, p. 47, tradução nossa 8)

Além deste exemplo, podemos citar alguns outros, como é o caso da

criação do algarismo zero pelos hindus no século V (mais de três mil anos após

os egípcios terem desenvolvido seu sistema de numeração), em uma atitude

contrária ao bom senso ou às necessidades da contagem da época.

Acreditamos, do mesmo modo como se deu entre a geometria euclidiana e a não

euclidiana, que o longo intervalo de tempo entre a criação dos conceitos

fundamentais da contagem e a criação do número zero, ocasionou-se devido à

falta dos aspectos intuitivos envolvidos na representação do nada, na

representação da ausência.

                                                            8 We accept as evident that through a point outside a line only one parallel may be drawn. We cannot accept intuitively other alternatives, for instance that no parallel can be drawn (the geometry of Riemann) or that an infinity of parallels can be drawn (the geometry of Lobachevsky).

48  

Os conhecimentos autoevidentes, pela natureza intuitiva, quando em

interação com os aspectos formais e com os aspectos algorítmicos, podem ter

um papel facilitador da aprendizagem matemática, porém, de acordo com

Fischbein (1993), o que ocorre com frequência é que esses conhecimentos

intuitivos conflitam com os demais aspectos, e ao exercer seu poder coercivo,

levam a erros e à falta de entendimento, criando obstáculos à aprendizagem.

Fischbein (1993) cita um exemplo, obtido a partir de uma série de

entrevistas feitas em um curso de formação de professores. Nesta ocasião, foram

apresentadas duas questões que envolviam proporcionalidade, sendo que na

primeira questão as grandezas eram diretamente proporcionais e na segunda,

inversamente proporcionais. Para um melhor entendimento reproduzimos a

seguir a segunda questão:

Sete trabalhadores terminam certo trabalho em 28 dias. Em quantos dias 5 trabalhadores terminariam o mesmo trabalho (FISCHBEIN, 1993, p. 241, tradução nossa 9)?

Os estudantes afirmaram que se tratava de um problema de proporção, e

escreveram x5

287

= , chegando ao resultado de x =20.

Quando chamados a refletir sobre o resultado, os estudantes perceberam

que haviam errado, afinal de contas, com menos trabalhadores o trabalho

demoraria mais tempo para ser terminado, e não menos tempo, como haviam

calculado. O que ocorreu, neste caso, é que os alunos aplicaram o procedimento

algorítmico de resolução, a despeito das restrições formais e até mesmo da

intuição, ou seja, não houve a interação entre as componentes formais,

algorítmicas e intuitivas. O aspecto algorítmico sobrepôs-se aos demais e

determinou exclusivamente, o caminho (errado) da resolução.

De Souza (2008) apresenta alguns outros exemplos sobre a prevalência

do aspecto algorítmico sobre os demais. Em um deles, afirma que “para a

inequação 252 ≤y , mais de 50% dos alunos extraem a raiz quadrada dos dois

lados e chegam à 5±≤y (procedimento próprio para equações)” (2008, p. 51).

                                                            9 Seven workers finish a certain piece of work in 28 days. In how many days will five workers finish the work?

49  

Caraça (1978), ao fundamentar suas concepções sobre as dificuldades de

entendimento que podem se apresentar quando do contato com a noção do

infinito, expõe o seguinte exemplo, que reproduzimos:

Seja o triângulo ABC e tiremos ao meio de AB uma paralela A’C’ a AC; sabe-se, da geometria, que o segmento A’C’ tem o comprimento igual à metade do comprimento do segmento AC. Pois, apesar disso, o conjunto, infinito, de pontos A’C’ é equivalente ao conjunto, infinito, de pontos de AC. Para o verificar, basta estabelecer entre esses dois conjuntos uma correspondência biunívoca, do modo seguinte: a cada ponto P de A’C’ faz-se corresponder o ponto M (único) de AC em que AC é encontrado pela reta BP; a cada ponto N de AC faz-se corresponder o ponto Q (único) em que A’C’ é encontrado pela reta NB (CARAÇA, 1978. p. 15)

DESENHO 9. TRIÂNGULO ABC

Para Caraça (1978) “a simples aceitação da possibilidade de repetição

ilimitada de um ato mental exige o abandono de certas verdades fundamentais

cuja evidência a vida de todos os dias impõe” (p. 16)

Neste exemplo, percebemos o conflito entre os aspectos formais e

intuitivos. Como o segmento A’C’ é menor do que o segmento AC, intuitivamente

resistimos ao fato de que possa haver correspondência biunívoca entre seus

pontos. A aceitação ocorre, no entanto, quando, apesar do efeito coercivo

exercido pela intuição, consideramos os aspectos formais da situação, e como

afirma Caraça (1978), abandonamos “certas verdades fundamentais”,

intrinsecamente intuitivas.

A interação entre os aspectos formais, algorítmicos e intuitivos é bastante

complexa, assim como é complexa a identificação destes aspectos na atividade

matemática, porém, em alguns casos, é possível perceber o conflito entre estas

50  

componentes, que acarretam em erros e em falta de compreensão de

determinado assunto.

Acreditamos que, ao promover atividades matemáticas em que a interação

entre os aspectos formais, algorítmicos e intuitivos esteja presente, possamos

favorecer o processo de aprendizagem dos conceitos envolvidos nesta atividade.

Estudar os conflitos que ocorrem entre as componentes pode subsidiar-nos

quanto à origem dos erros e das dificuldades de aprendizagem.

3.2 DUVAL: REPRESENTAÇÃO, VISÃO E VISUALIZAÇÃO10

Para Duval (1999), embora as pesquisas em Educação Matemática

tenham avançado nos últimos anos, o impacto delas tem sido mais efetivo no

estudo dos currículos e das metodologias em sala de aula do que na investigação

dos processos de aprendizagem em Matemática. As dificuldades deste tipo de

pesquisa originam-se da necessidade de definição de quadro teórico que se

encaixe dentro das restrições epistemológicas específicas da aprendizagem em

Matemática. Isto requer ir além do estudo local dos conceitos matemáticos, assim

como ir além da descrição das atividades em sala de aula.

A representação e a visualização encontram-se no cerne do

entendimento em Matemática e a comparação destes termos nos leva a associar

a representação a uma grande variedade de atividades significativas, como por

exemplo, o modo como a informação é codificada, ao passo que a visualização

parece relacionar-se às imagens e à intuição empírica dos objetos.

Duval (1999) considera três ideias chave na definição de um quadro

teórico que seja capaz de analisar as condições de aprendizagem:

a) O caráter paradoxal do conhecimento matemático.

Em algumas áreas, como a Biologia, por exemplo, a representação refere-

se a algo que existe no mundo real e que pode ser acessado (tocado, visto,

cheirado) diretamente, mas que, em virtude de sua ausência em um determinado

contexto, é representado. Nestes casos, a representação supre a falta do objeto

real.                                                             10 Representation, vision and visualization: cognitve functions in mathematical thinking. Basic issues for learning (tradução nossa)

51  

Em Matemática, entretanto, ocorre o contrário. O único modo de acesso

aos objetos é por meio de sua representação, sendo o representado (uma

equação, uma figura geométrica, uma função) inacessível diretamente. O

entendimento em Matemática requer que saibamos fazer a distinção entre essas

duas entidades: a representação e o objeto matemático representado.

b) A ambiguidade do termo “representação”.

Normalmente este termo é usado para referir-se a uma entidade mental,

que pode ser uma imagem, ou algo que não esteja presente no momento e que,

portanto, precisa ser representado. Neste contexto, a ideia de “imagem mental”

conflita-se com os símbolos, que, devido à sua função de comunicação, só

podem ser materiais ou externos ao pensamento. Para Duval (1999), esta é uma

divisão equivocada. Quando referimo-nos às representações, a distinção entre

representação mental e representação externa refere-se ao modo de produção

desta representação e não à natureza de sua forma.

Existem dois tipos de representações cognitivas: aquelas produzidas

intencionalmente pelo uso de algum sistema semiótico e aquelas que são

geradas automaticamente por um sistema orgânico (como sonhos ou imagens

mentais) ou por dispositivos físicos (como reflexos em um espelho ou

fotografias). Tanto no primeiro caso como no segundo, as representações podem

ser mentais ou externas ao pensamento. O que as distingue é o fato de que as

representações produzidas intencionalmente são frutos de uma ação e da

seleção do sistema de representação semiótico, enquanto as representações

automáticas são consequência de alguma ação física do objeto representado

sobre algum sistema orgânico ou alguma ação física sobre um dispositivo físico.

Para Duval (1999), a divisão básica encontra-se, dessa forma, entre as

representações semióticas e as representações físicas e orgânicas.

c) A necessidade de vários sistemas de representação semiótica.

O avanço da aprendizagem em Matemática está associado ao

desenvolvimento dos processos semióticos, derivados dos primeiros modos de

representação: a linguagem natural e as imagens. Da linguagem escrita, derivou-

se a escrita algébrica, que evoluiu até os nossos dias, dando origem à linguagem

formal. Das imagens, desenvolveram-se as figuras planas, as figuras em

52  

perspectiva e os gráficos. Cada novo sistema semiótico fornece meios

específicos da representação e ação sobre os objetos, por isso, Duval chamou

estes sistemas de “registros de representação semiótica”.

Existem registros para representação discursiva (língua natural e

linguagem simbólica) e registros para representação não discursiva, por

visualização (gráficos e desenhos entre outros). Tanto para o discurso como para

a visualização, existem dois tipos de estrutura dos registros: estrutura diádica de

significância (língua natural, representação 2D ou representação 3D) e estrutura

triádica de significância (notações, símbolos, linguagem formal, diagramas).

De acordo com Duval (1999), de um ponto de vista didático, o raciocínio

matemático normalmente requer que ativemos dois ou três diferentes registros de

representação semiótica, mesmo quando apenas um registro parece ser

suficiente do ponto de vista matemático.

A falta de entendimento em Matemática pode estar relacionada à falta de

entendimento sobre como funcionam os registros de representação. Para Duval

(1999), um único registro de representação semiótica é incapaz de proporcionar

ao interlocutor todas as propriedades do objeto, pois cada registro apresenta um

modo particular de entendimento e, de acordo com as especificidades do objeto

matemático, um registro de representação pode apresentar-se mais apropriado

do que outro.

Duval (1999) considera a necessidade de distinção entre dois tipos de

operações cognitivas: o tratamento e a conversão. Os tratamentos referem-se às

operações que são feitas dentro de um mesmo registro de representação; e as

conversões são aquelas operações que implicam uma troca de registro (a

tradução da representação do objeto em outro registro).

A resolução de uma equação como ilustrado a seguir, pode servir como

exemplo de um tratamento. As operações foram todas feitas dentro de um

mesmo registro de representação semiótica: o registro algébrico.

( ) ( )

)(7)(4323

)(42324243)(3243

IVxIIIxx

IIxxxxIxx

=+=−

+−++=+−+−+=−

53  

TABELA 3. TRATAMENTO DENTRO DE UM REGISTRO ALGÉBRICO

Registro de origem (algébrico) (I) Registro de destino (algébrico) (IV)

3243 +=− xx 7=x

O traçado de um gráfico a partir de uma equação dada (ou vice versa), é

um exemplo de conversão. O registro de origem é o algébrico e o de destino é o

registro gráfico.

TABELA 4. CONVERSÃO DO REGISTO ALGÉBRICO PARA O GRÁFICO

Registro de origem (algébrico) Registro de destino (gráfico)

( ) 02 2 =−x

A conversão de representações é um problema crucial da aprendizagem

matemática, e apesar de alguns estudantes conseguirem aprender alguns

“tratamentos”, de acordo com Duval (1999), poucos conseguem realmente

promover a “conversão” de representações. Muitos equívocos na aprendizagem

são originados desta incapacidade.

A atividade matemática presente na resolução de problema requer a

habilidade de troca de registros, seja porque outra representação dos dados pode

adequar-se melhor ao encaminhamento da solução, seja porque dois registros

precisam atuar juntos, como por exemplos os desenhos e a linguagem.

De um ponto de vista didático, Duval (1999) afirma que apenas os alunos

que conseguem fazer a troca dos registros não confundem o objeto matemático

com a sua representação e vice-versa, conseguindo desta forma, transferir seus

54  

conhecimentos matemáticos para um contexto diferente daquele em que se deu

a aprendizagem.

A conversão apresenta dois fatos de grande complexidade, relacionados à

congruência das representações:

a) Qualquer conversão pode ser congruente ou não congruente.

Dissemos que a conversão é congruente quando a representação do registro de

saída é equivalente à representação do registro de destino

TABELA 5. CONVERSÕES CONGRUENTES E NÃO CONGRUENTES

Registro de origem

(língua natural)

Registro de destino

(algébrico)

Conversão

congruente

Antonio tinha 4 figurinhas e

ganhou mais 7 de seu

irmão. Quantas figurinhas

o Antonio tem agora?

1174 =+

Conversão não

congruente

Após uma aposta, Marcos

perdeu 7 bolinhas de gude

e ficou com 4. Quantas

bolinhas de gude Marcos

tinha, antes da aposta?

1174 =+

No primeiro caso (Antonio) a associação é imediata e a tradução do

registro algébrico é literal ao registro em língua natural. As palavras “ganhou” e

“mais” aparecem no registro algébrico por meio da operação de adição. No

segundo caso (Marcos), embora as representações em língua natural e algébrica

sejam equivalentes, não há congruência. A palavra “perdeu” não está associada

à adição.

b) A congruência e a não congruência dependem da direção em que

se dá a conversão. Uma conversão pode ser congruente em um sentido e não

55  

ser no outro. Duval alerta sobre o fato de este fenômeno ser ignorado no ensino

da Matemática. A resolução de problemas posposta nos currículos normalmente

propõe a conversão congruente, evitando as situações não congruentes e suas

adversidades, que podem levar às reais dificuldades.

Partindo do princípio que a aprendizagem em Matemática se estabelece

quando os alunos conseguem transferir e utilizar seu conhecimento em contextos

diferentes daqueles em que se deu a aprendizagem, Duval (1999) sugere, que na

elaboração de atividades matemáticas, proponham-se exercícios em que seja

necessária a conversão em dois sentidos, de um registro de representação A

para um registro de representação B, e deste registro de representação B para o

registro de representação A.

Além disso, os exercícios devem contemplar casos de congruência e de

não congruência nas conversões. Esta coordenação entre os registros permite

aos alunos observarem diferentes representações do mesmo objeto matemático,

possibilitando-lhes o estabelecimento de conexões entre estas diferentes

representações.

Duval (1999) refere-se à duas funções cognitivas fundamentais: a função

epistemológica e a função sinóptica.

A função epistemológica está relacionada ao acesso direto a qualquer

objeto físico e a função sinóptica relaciona-se à apreensão simultânea de vários

objetos em um campo mais amplo.

A visão não consegue cumprir ambas as funções, primeiramente porque,

considerando o aspecto epistemológico, o acesso direto aos objetos não é por si

só capaz de produzir sua representação semiótica, e segundamente, ao

considerar o aspecto sinóptico, embora vivamos em um mundo tridimensional, só

vemos um lado das coisas de cada vez. A visão simultânea exigiria a

movimentação do observador ou do objeto que está sendo visto.

Diante da impossibilidade da visão em cumprir as funções

epistemológicas e sinópticas, Duval (1999) distingue-a da visualização, esta sim

responsável pela produção de uma representação semiótica a partir da

organização das relações entre as unidades representacionais, não acessíveis ao

primeiro olhar.

56  

Para que se dê a visualização em diferentes registros, de acordo com

Duval (1999), é necessário que se considerem as limitações e restrições deste

registro, a fim de que se produzam e se relacionem estas unidades

representacionais em busca do entendimento sobre o objeto representado. Do

ponto de vista didático, três aspectos devem ser levados em conta sobre a

visualização: a discriminação, o tratamento e a coordenação com o registro

discursivo.

Ao considerarmos a discriminação, percebemos que, para alguns alunos,

existe uma deficiência heurística na interpretação geométrica da visualização.

Algumas figuras geométricas, de acordo com o problema apresentado, podem

oferecer uma grande quantidade de possibilidades de configuração, porém a

configuração que oferece apoio heurístico nem sempre é aquela percebida à

primeira vista.

Percebemos, durante o período em que fazíamos o curso de Licenciatura

em Matemática, que alguns alunos, embora conseguissem obter os gráficos

bidimensionais em diferentes alturas do espaço tridimensional, não conseguiam

visualizar a representação da figura tridimensional correspondente. A visão dos

gráficos, neste caso, não foi suficiente para a criação da representação da figura.

A visualização, que não se manifestou, poderia provocar o relacionamento dos

gráficos e a criação da representação em três dimensões.

DESENHO 10. SOBREPOSIÇÃO DE GRÁFICOS BIDIMENSIONAIS

57  

Para Duval (1999), esta deficiência heurística está relacionada à falta de

habilidade dos estudantes em ir além da visão inicial apresentada, e questiona se

estas limitações se devem ao modo como os alunos são ensinados, ou a algum

modo por meio do qual a cognição opera.

Ao analisar o tratamento, verificamos que a existência de vários registros

de representação apresenta a possibilidade de optar pelos caminhos mais

adequados a fim de que se atue em cada registro. Se uma figura geométrica

pertence a um registro, devemos obter o melhor modo de atuar neste registro,

como meio de realizar as transformações necessárias na figura, de forma que

possamos, ao final e após este processamento, beneficiar-nos das propriedades

heurísticas da figura. Duval (1999) distingue três tipos de operação:

a) Mereológica: consiste em dividir o todo em partes e recombinar

estas partes, transformando a figura inicial em outra figura, que eventualmente

pode ser mais apropriada à resolução do problema proposto

b) Óptica: baseia-se no aumento ou diminuição das formas da figura,

sem no entanto, modificá-la;

c) Local: resume-se em alterar a orientação da figura no plano. Esta

operação afeta principalmente o reconhecimento de ângulos retos,

tradicionalmente desenhados por uma reta horizontal e uma reta vertical.

Estas transformações, quando operadas, individualmente ou por meio de

combinações, podem proporcionar às figuras geométricas sua função heurística.

Duval (1999) chama este fenômeno de apreensão operatória e distingue-a da

apreensão perceptiva (que fixa a imagem inicial da figura e a conserva inalterada)

e da operação discursiva.

A apreensão operatória é capaz de criar uma sequência de figuras a partir

de uma figura inicial, apresentada como ponto de partida e captada pela

apreensão perceptiva. Desta sequência, pode surgir alguma figura que apresente

propriedades heurísticas úteis à resolução do problema apresentado.

Para Duval (1999), existe uma concepção equivocada de que o que é

simples do ponto de vista matemático também é simples do ponto de vista

58  

cognitivo. O que ocorre, na verdade, é que os objetos de estudo somente tornam-

se simples ao final da aprendizagem. Um ponto de partida no estudo dos

processos de ensino e de aprendizagem deve levar em consideração as

consequências desta falsa autoevidência.

Concordamos com Fischbein (1993) quanto à necessidade de interação

entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas na atividade matemática,

para que se dê a aprendizagem. Partindo deste princípio, ao conceber as

atividades que serão executadas pelos sujeitos desta pesquisa, procuramos

contemplar estes três aspectos. Como já dissemos anteriormente, essa interação

é bastante complexa, porém, apesar disso, acreditamos que, ao mediar algumas

atividades por um modelo de representação tridimensional, estejamos priorizando

a componente intuitiva da atividade, ao passo que nas atividades orientadas para

a montagem estejamos reforçando a componente algorítmica, e finalmente, ao

solicitar as justificativas da montagem, seja a componente formal a ser priorizada.

Na verdade, essa nossa crença somente poderá ser comprovada após a

análise dos protocolos.

Esperamos, ao analisar estes dados, à luz da abordagem proposta por

Fischbein (1993):

a) verificar se as atividades promoveram a interação entre as

componentes formais, algorítmicas e intuitivas,

b) verificar se houve a evolução dos saberes dos alunos com relação aos

conceitos envolvidos na representação de superfícies quádricas.

Orientados pela leitura de Duval (19990, em concordância com as suas

ideias sobre a necessidade de que os alunos desenvolvam a aprendizagem em

pelo menos dois diferentes registros de representação semiótica, e que saibam

coordenar a mudança entre estes registros, proporemos algumas atividades que

contemplem estas condições e, ao observar a realização destas atividades, e ao

analisar os protocolos obtidos:

a) verificar se os alunos conseguem desenvolver a visualização sobre as

quádricas, e a partir deste desenvolvimento, estabelecer relações entre as

unidades representacionais em busca da aprendizagem deste conteúdo;

59  

b) verificar se os alunos conseguem fazer a representação das superfícies

quádricas em diferentes registros de representação semiótica, efetuando

tratamentos e conversões entre estes registros, nos dois sentidos, de ida e de

volta.

60  

CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nosso trabalho prevê uma intervenção junto a um grupo de, no máximo,

20 alunos do último ano do curso de Licenciatura em Matemática, que

trabalharão em forma de duplas durante os encontros.

Após obtermos a autorização do Conselho de Ética da UNIBAN, assim

como da universidade onde pretendemos que se realize a pesquisa, faremos o

convite aos alunos, informando-lhes que se trata de uma atividade de caráter

investigativo, ligada à linha Ensino e Aprendizagem de Matemática e suas

Inovações, do programa de Mestrado em Educação Matemática da UNIBAN-SP

e que, embora possa caracterizar-se como uma forma de aprendizagem, a

participação nas atividades é voluntária. Procuraremos deixar claro aos alunos

que suas identidades, assim como da instituição de ensino, serão mantidas em

sigilo e que os resultados da pesquisa, aos quais terão pleno acesso, não

afetarão os conceitos ou notas de qualquer disciplina.

Também informaremos aos alunos que os protocolos e as eventuais

gravações de áudio e de vídeo obtidos nos encontros serão utilizados

exclusivamente como instrumento de análise, e que será necessário, aos que

queiram participar da pesquisa, que assinem o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (ver ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO).

A intervenção que faremos junto aos alunos participantes da pesquisa

consiste em uma sequência de atividades, previstas para ocorrer em seis

encontros de 50 minutos cada, fora do horário de aula.

Pretendemos, por meio destas atividades, promover a mobilização das

componentes formais, algorítmicas e intuitivas (Fischbein, 1993) envolvidas na

representação de algumas superfícies quádricas, assim como, apresentar

situações que impliquem a utilização de diferentes registros de representação

semiótica das superfícies quádricas, envolvendo tratamentos e conversões

(Duval, 1999).

As atividades ocorrerão de acordo com o seguinte roteiro:

61  

1º Encontro: seção de apresentação e resolução de um questionário com

revisão sobre circunferências (ver APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO

SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS).

2º Encontro: institucionalização, correção conjunta do questionário sobre

as circunferências.

3º, 4º, 5º e 6º Encontros: atividades com a utilização do modelo de

representação tridimensional (APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE

REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL).

Descreveremos a seguir, de forma detalhada, cada uma das etapas

previstas no cronograma.

4.1 QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS

As superfícies quádricas são as correspondentes tridimensionais das

cônicas do plano. Em outras palavras, o corte de uma superfície quádrica pode

ser representado por uma cônica, seja ela uma circunferência, uma elipse, uma

parábola ou uma hipérbole.

Em nosso projeto, a fim de que não houvesse tantos pré-requisitos, como

por exemplo, a necessidade de que os sujeitos dominassem os conceitos

relativos às cônicas, optamos por apresentar-lhes exclusivamente as quádricas

obtidas por revolução em torno de um eixo, ou seja, as quádricas que podem ser

obtidas pela superposição de circunferências.

Considerando que os sujeitos de nossa pesquisa são alunos do 3º ano do

curso de Licenciatura em Matemática, que os conteúdos relativos às

circunferências são objeto de estudo do Ensino Médio e que (de acordo com a

grade curricular da universidade onde realizaremos a pesquisa) a disciplina de

Geometria Analítica é ministrada no 2º ano, acreditamos que o conhecimento

sobre as circunferências seja de domínio da maioria dos participantes.

A fim de certificarmo-nos disto, iremos propor um questionário envolvendo

algumas questões sobre circunferências (ver APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO

DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS).

62  

Chamamos as atividades contidas neste questionário de “tarefas de

reconhecimento”, tendo em vista que o nosso objetivo com a aplicação do

questionário é verificar se os sujeitos sabem reconhecer e representar

graficamente uma circunferência por meio de sua expressão algébrica, assim

como verificar se são capazes de, a partir da representação gráfica da

circunferência, chegar à sua representação algébrica.

A análise das respostas obtidas por meio deste questionário irá subsidiar-

nos quanto à necessidade de uma etapa adicional de institucionalização sobre

este conteúdo matemático específico.

Apresentamos nos próximos parágrafos as questões que serão propostas,

e nossos objetivos, em cada uma delas:

4.1.1 Questão 1

 Solicitamos aos sujeitos que façam a associação entre a representação

gráfica de uma circunferência e a sua respectiva representação algébrica.

Gostaríamos, dessa forma, de verificar se os participantes são capazes de

realizar a conversão do registro gráfico para o registro algébrico.

Acreditamos que a análise das eventuais respostas possa levar-nos a

verificar se os sujeitos dominam os seguintes conceitos básicos sobre algumas

das características da expressão algébrica de uma circunferência:

• A expressão algébrica de uma circunferência sempre pode ser

reduzida a uma soma de quadrados. Algumas das alternativas não

apresentam esta característica e deveriam ser descartadas, como por

exemplo:

922 =− yx (item 1a)

222 =− yx (item 1b)

• Uma soma de quadrados sempre resultará em um número maior ou

igual à zero. Algumas das alternativas não apresentam esta

característica e deveriam ser descartadas, como por exemplo:

63  

422 −=− yx (item 1b)

( ) ( ) 932 22 −=++− yx (item 1c)

• Na expressão algébrica reduzida de uma circunferência, os

coeficientes das incógnitas 2x e 2y são iguais. Algumas das

alternativas não apresentam esta característica e deveriam ser

descartadas, como por exemplo:

93 22 =+ yx (item 1b)

932

22

=+yx (item 1c)

• Quando reduzidas à forma ( ) ( ) 222 cbyax =−+− , as coordenadas do

centro são dadas por C (a, b), e o comprimento do raio é dado pelo

valor de c. Algumas das alternativas não apresentam esta

característica e deveriam ser descartadas, como por exemplo:

322 =+ yx (item 1a – de acordo com o gráfico o raio é 3 e não 3 ) 

222 =+ yx  (item 1b – de acordo com o gráfico o raio é 2 e não 2 )

( ) ( ) 932 22 =−++ yx (item 1c – de acordo com o gráfico as coordenadas

do centro são (2, -3) e não (-2, 3)

Quando dizemos que algumas das alternativas devem ser descartadas,

acreditamos que os sujeitos que tenham desenvolvido a aprendizagem sobre as

circunferências o façam de forma rápida. Assim, determinamos um tempo

bastante limitado para que respondam a cada uma das questões (em torno de 2

minutos por item, 6 minutos ao todo).

4.1.2 Questão 2

 

64  

Em um sentido oposto à conversão que se propôs na Questão 1,

solicitamos aos sujeitos que associem a representação algébrica de uma

circunferência à sua representação gráfica.

Esperamos verificar nesta etapa se os sujeitos conseguem rapidamente

associar a expressão na forma ( ) ( ) 222 cbyax =−+− às coordenadas do centro e

ao comprimento do raio. Apresentamos duas expressões, uma da quais

corresponde à uma circunferência com centro na origem (2a) e a outra com

centro fora da origem (2b), no ponto C (-3, 2). Assim como na Questão 1,

limitamos o tempo de resposta (2 minutos para cada item, 4 minutos ao todo).

4.1.3 Questão 3

 Nesta etapa, solicitamos aos participantes que associem a representação

gráfica de algumas circunferências à sua descrição em língua natural.

Uma das circunferências apresenta o centro sobre a origem, outra

apresenta o centro sobre um dos eixos ordenados (eixo das abscissas) e outras

duas apresentam o centro em pontos que não estão nem na origem e nem em

um dos eixos ordenados.

Esperamos verificar se os sujeitos da pesquisa conseguem extrair da

representação gráfica duas informações básicas sobre as circunferências: as

coordenadas do centro e o comprimento do raio.

Da mesma forma que nas questões anteriores, acreditamos que os

sujeitos que tenham desenvolvido aprendizagem sobre este conteúdo devam, de

forma rápida, apontar as alternativas que correspondam à descrição correta da

circunferência, por isso também limitamos o tempo de resposta (1 minuto para

cada item, 4 minutos ao todo).

4.1.4 Questão 4

 Nesta questão apresentamos algumas expressões algébricas e

solicitamos aos sujeitos que façam a associação destas com a respectiva

descrição. De forma análoga ao que foi proposto na Questão 3, gostaríamos de

verificar se os participantes são capazes de fazer a conversão, neste caso, da

representação algébrica para a representação em língua natural e se

65  

conseguem, a partir das expressões algébricas que representam circunferências,

deduzir as informações sobre o centro da circunferência e o comprimento do raio.

Além disso, gostaríamos de verificar se os sujeitos conseguem, por meio

da análise da expressão, inferir algumas das características básicas da

representação algébrica das circunferências, ou seja:

• A expressão algébrica de uma circunferência sempre pode ser

reduzida à uma soma de quadrados. A expressão apresentada no item

4a contraria esta regra, portanto não pode corresponder à uma

circunferência:

( ) ( ) 1635 22 =+−− yx  

• Na expressão algébrica de uma circunferência, os coeficientes das

incógnitas 2x e 2y são iguais. A expressão apresentada no item 4c

contraria esta regra, portanto não pode corresponder à uma

circunferência:

( ) 632 22 =++ yx  

Limitamos o tempo de resposta à 2 minutos para cada item, 8 minutos ao

todo.

4.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO

Considerando que nossa pesquisa relaciona-se à representação de

superfícies quádricas e que o corte das superfícies quádricas que escolhemos

estudar corresponde a circunferências, é fundamental, a fim de que possamos

desenvolver as próximas atividades, que os participantes tenham desenvolvido

aprendizagem sobre os conceitos envolvidos na representação das

circunferências.

Acreditamos que a análise das respostas ao questionário aplicado

previamente possa certificar-nos disso. Entendemos, no entanto, que, caso se

faça necessário, devamos fazer um fechamento sobre as questões levantadas no

66  

questionário, como forma de universalizar os conceitos abordados entre todos os

sujeitos, dando a estes conceitos o estatuto de saber, visto que não dependem

de convicções subjetivas ou valores individuais, eventualmente atribuídos pelos

participantes.

Dessa forma, dependendo do aproveitamento obtido pelos sujeitos,

propomos que seja feita uma discussão, mediada pelo professor pesquisador,

sobre as questões apresentadas no questionário, objetivando a

institucionalização dos conteúdos matemáticos envolvidos.

4.3 ATIVIDADES COM MODELO DE REPRESENTAÇÃO

Após as tarefas de reconhecimento e eventual institucionalização,

propomos que os sujeitos sejam divididos em duplas, a fim de que desenvolvam

as próximas atividades, utilizando o modelo de representação gráfica

tridimensional como um dos recursos didáticos (ver APÊNDICE B - ATIVIDADES

COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL).

Descrevemos a seguir cada uma dessas atividades, assim como, nossas

expectativas quanto à reação dos sujeitos e quanto às respostas que estes

possam eventualmente apresentar.

4.3.1 Atividade 1

 Apresentamos aos sujeitos da pesquisa três modelos de representação

tridimensional, montados por meio da sobreposição de transparências (ver

descrição da montagem no CAPÍTULO 2: UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO

TRIDIMENSIONAL).

No modelo 1 as transparências apresentam circunferências com o mesmo

comprimento de raio, cujos centros localizam-se numa reta não perpendicular ao

plano da base, representando um cilindro oblíquo.

No modelo 2 as transparências apresentam circunferências de mesmo

comprimento de raio, porém seus centros localizam-se sobre uma curva,

diferentemente do modelo 1

 

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68  

que formam o modelo 3 possuem circunferências com diferentes

comprimentos de raio

2. As transparências que formam os modelos 1 e 3 possuem

circunferências cujos centros localizam-se sobre uma reta, enquanto

que as transparências que formam o modelo 2 têm os centros

localizados sobre uma curva

3. As transparências que formam os modelo 1 possuem circunferências

cujos centros localizam-se sobre uma reta oblíqua ao plano da base,

enquanto que as centros das circunferências do modelo 3 localizam-se

sobre uma reta perpendicular ao plano da base

4. A localização em que a transparência é montada pode determinar a

forma do objeto tridimensional. A mudança da transparência de lugar

pode formar a representação de um objeto tridimensional diferente do

original

5. A distância entre as transparências pode determinar a

representação de diferentes objetos tridimensionais. Por exemplo,

poderíamos utilizar as mesmas 11 transparências para representar

tanto a equação 25222 =++ zyx , que é uma circunferência, quanto a

equação 259

222 =++

zyx , que é um elipsóide, bastando para isso

alterar o tamanho dos espaçadores que são colocados entre uma

transparência e outra

Alem disto, esperamos, pela análise das descrições, verificar se os

sujeitos são capazes de, além de usar a percepção visual, buscar dados

adicionais nas representações e organizar as relações entre estes dados, a fim

de criar uma representação semiótica das figuras representadas, e se são

capazes de fazer a conversão do registro gráfico para o registro figural, e deste

para o registro discursivo.

69  

4.3.2 Atividade 2

 Nesta etapa, recolhemos os modelos montados e entregamos a cada um

dos grupos 11 transparências impressas com representações gráficas de

circunferências com comprimentos de raio entre os valores inteiros de zero a 10

unidades. Além desse material, os grupos receberão hastes e espaçadores de

mesma altura, ambos feitos de canudos de refrigerante a fim de que

sobreponham as transparências (ver descrição da montagem no CAPÍTULO 2:

UM MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL).

Em seguida, no item 2.1, solicitamos que montem as transparências nas

hastes, escolhendo livremente o raio e a posição em que devem colocá-las, de

forma que fiquem sobrepostas umas às outras e igualmente espaçadas entre si.

Também solicitamos que os sujeitos justifiquem sua escolha, por escrito, quanto

ao tamanho da circunferência e quanto à ordem da montagem (item 2.2).

Terminada a montagem e a redação das justificativas, propomos uma discussão

entre os grupos, a fim de que compartilhem as ideias surgidas durante a

atividade.

É preciso deixar claro aos sujeitos que, nesta etapa, a justificativa que se

pede não é formal, tampouco deve obrigatoriamente ser apoiada em princípios

lógicos. Esperamos justificativas simples, como por exemplo “montamos da

menor para a maior”, ou “montamos as menores no meio e as maiores nas

extremidades”, ou até mesmo “montamos aleatoriamente”. Acreditamos que este

tipo de justificativa, por escrito, servirá para que os sujeitos exercitem a

visualização (Duval, 1999), além de promover a interação entre a componente

intuitiva (conhecimentos aceitos sem necessidade de demonstrações ou provas)

e a componente algorítmica (montagem) do objeto representado (Fischbein,

1993).

Esperamos nesta etapa que os sujeitos por si mesmos percebam a

potencialidade dos modelos tridimensionais para a representação de figuras

tridimensionais e que a escolha dos raios das circunferências e das posições em

que devem ser montadas podem gerar diferentes representações destas figuras.

Para verificar isso, perguntamos, no item 2.3, se os sujeitos acham

possível criar a representação de outro sólido a partir das mesmas 11

transparências.

70  

4.3.3 Atividade 3

 No item 3.1, solicitamos aos sujeitos que montem, a partir das 11

transparências que lhes serão entregues, a representação tridimensional

correspondente à expressão algébrica zyx =+ 22 , para os valores inteiros de z =

0 até z = 10.

Como nesta etapa as transparências apresentarão a indicação da cota z e

a indicação do comprimento do raio, acreditamos que os sujeitos não terão

dificuldade na montagem do modelo. Basta que coloquem a transparência com

indicação z = 0 em primeiro lugar, z = 1 em segundo lugar, e assim por diante,

respeitando o espaçamento implícito.

No item 3.2, esperamos verificar se os sujeitos conseguem estabelecer a

relação entre o aumento linear do parâmetro z (0, 1, 2, 3, ... , 10) e o aumento

não linear do comprimento do raio da circunferência.

O item 3.3 foi proposto a fim de verificar se os participantes conseguem

traçar, a partir da representação tridimensional, as curvas de nível

correspondentes, no plano cartesiano formado pelos eixos x e y. Acreditamos

que esta capacidade possa colaborar com o desenvolvimento da visualização.

4.3.4 Atividade 4

 No item 4.1, solicitamos aos participantes que montem a representação

tridimensional de uma superfície quádrica, a partir de suas curvas de nível, que

são apresentadas em um plano cartesiano. Esperamos verificar por meio desta

atividade se são capazes de representar tridimensionalmente uma superfície

quádrica partindo de sua representação em duas dimensões.

No item 4.2, solicitamos que os sujeitos façam a descrição da figura obtida,

que neste caso é um elipsóide.

Esperamos, por meio da análise destas descrições, verificar se os sujeitos

conseguem realizar a conversão entre a representação tridimensional e o registro

em língua natural. Com isso esperamos aferir quais as propriedades formais os

participantes conseguem descrever. Acreditamos que esta análise pode indicar-

nos se houve a “visualização” da figura representada ou apenas a “visão” do

objeto concreto.

71  

4.3.5 Atividade 5

 Consideramos esta etapa como uma preparação para a atividade final.

Apresentamos a expressão algébrica 222 10 zyx +=+  e solicitamos aos sujeitos

que analisem o comportamento do comprimento do raio da circunferência em

função da mudança do parâmetro z.

Para tal, no item 5.1, sugerimos que façam variar o valor de z entre valores

inteiros de -4 a 4 e que registrem as informações em uma tabela.

Em seguida, os sujeitos serão solicitados a analisar os valores obtidos e

procurar estabelecer relações entre z e o comprimento do raio.

No item 5.2, perguntamos aos participantes qual a relação entre o valor de

z e o raio da circunferência. Ao propor esta pergunta, esperávamos verificar se os

sujeitos conseguiriam traduzir em palavras a relação algébrica que usaram para

completar a tabela do item 5.1.

Nos itens 5.3 e 5.4, perguntamos aos sujeitos se é possível que em algum

dos cortes da figura dada pela expressão algébrica 222 10 zyx +=+   existam

circunferências com raio 4,5 (item 5.3) e com raio 2,5 (item 5.4). Gostaríamos de

verificar se os participantes são capazes de perceber que, embora possamos

atribuir qualquer valor ao parâmetro z , o menor comprimento do raio possível é

igual à 10

4.3.6 Atividade 6

 Nesta última atividade, entregamos 11 transparências impressas e

apresentamos a representação algébrica de uma superfície quádrica. No item

6.1, solicitamos aos sujeitos que esbocem as curvas de nível correspondentes,

em um plano cartesiano.

No item 6.2, solicitamos aos sujeitos que montem uma representação

tridimensional da figura, a partir da expressão algébrica, e (item 6.3) que a

descrevam em linguagem natural.

Esperamos verificar, nesta etapa final, se os participantes familiarizaram-

se com os modelos tridimensionais e com isso conseguiram relacionar os

diversos registros e organizar as relações entre as unidades representacionais.

72  

Gostaríamos de analisar as descrições apresentadas nesta etapa e compará-las

com as descrições que foram feitas nas etapas anteriores, a fim de verificar se

houve alguma evolução quanto ao registro discursivo e quanto à capacidade de

visualização.

73  

CAPÍTULO 5: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.1 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS

Conforme previsto no CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS

METODOLÓGICOS, após obter a aprovação da Comissão de Ética da UNIBAN

para pesquisas com seres humanos (ver ANEXO B – PARECER DA COMISSÃO

DE ÉTICA), procuramos alguns alunos de um curso de Licenciatura em

Matemática que estivessem cursando o último ano e que concordassem em

participar como sujeitos de nossa pesquisa.

Nessa procura, tivemos contato com a professora coordenadora de um

curso de Licenciatura em Matemática, por meio da qual fomos apresentados a

uma turma do 3º ano.

Falamos aos alunos sobre nossa pesquisa e sobre os trabalhos que se

desenvolvem no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

UNIBAN, assunto que despertou a atenção dos alunos, visto que boa parte

pretende dar prosseguimento aos estudos assim que terminar a graduação, seja

em cursos de Especialização, seja em um curso de Mestrado.

Após estes esclarecimentos, distribuímos o Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido (ver ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO) para que os alunos lessem e, caso concordassem, assinassem

e nos devolvessem. Neste primeiro contato, recebemos quatorze termos

assinados. Em outra reunião, receberíamos o décimo quinto, de um aluno que no

primeiro contato não pode comparecer à aula, mas que compareceu às demais

atividades previstas em nossa pesquisa.

Aproveitamos a oportunidade e falamos aos alunos sobre um dos pré-

requisitos de nossa pesquisa, sobre a necessidade de que tivessem desenvolvido

a aprendizagem sobre as circunferências. Informamos que havíamos

desenvolvido algumas questões, que chamamos de “tarefas de reconhecimento”,

por meio das quais esperávamos verificar se saberiam reconhecer e representar

graficamente uma circunferência por meio de sua expressão algébrica, assim

como verificar se seriam capazes de, a partir da representação gráfica da

circunferência, chegar à sua representação algébrica.

74  

Explicamos aos sujeitos que as tarefas apresentadas no questionário eram

objetivas e que eles teriam um tempo limitado para respondê-las. A fim de que

fosse evitado algum eventual constrangimento relacionado a esta restrição,

informamos aos participantes que pretendíamos verificar, por meio de uma

resposta rápida, se os conhecimentos sobre as circunferências estavam

disponíveis entre os saberes matemáticos que haviam desenvolvido ao longo de

sua vida acadêmica, ou em outras palavras, usando um termo de uso comum, se

estes conhecimentos “estavam à mão”, prontos para serem usados quando

necessário e que por este motivo, limitaríamos o tempo que teriam para

responder as questões. Os sujeitos demonstraram compreender nossa

argumentação e concordaram em responder o questionário, sem apresentar

objeções quanto à questão da limitação do tempo.

Na verdade, no decorrer da aplicação do questionário, verificamos que o

tempo que prevíamos para cada uma das questões foi suficiente, não sendo

necessário, em nenhuma ocasião, interromper qualquer dos participantes. Todos

entregaram as atividades no tempo previsto.

Apresentamos a seguir uma análise de como foi o desempenho dos

sujeitos nesta atividade e quais foram os pontos que consideramos necessários

abordar na atividade de institucionalização prevista, antes da aplicação das

atividades com o modelo de representação tridimensional.

5.1.1 Questão 1

 Nesta questão, apresentamos três representações gráficas de

circunferências e cinco expressões algébricas para cada uma. Solicitamos aos

participantes que indicassem qual das expressões corresponderia ao gráfico.

Estimamos que levariam no máximo seis minutos para responder os três itens

desta questão.

No item 1A, apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em

C (0, 0) e raio igual a 3 unidades (ver DESENHO 12).

75  

DESENHO 12. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3

 Ao analisar as respostas, verificamos que oito participantes indicaram

corretamente a expressão 922 =+ yx , quatro participantes apontaram a

expressão 322 =+ yx , e dois participantes apontaram a expressão 322 =− yx .

No item 1B, apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em

C (0, 0) e raio igual a 2 unidades (ver DESENHO 13).

DESENHO 13. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 2

Neste item, dez participantes indicaram corretamente a expressão

422 =+ yx , três participantes apontaram a expressão 222 =+ yx , e um

participante apontou a expressão 222 =− yx .

76  

No item 1C, apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em

C (2, -3) e raio igual a 3 unidades (ver DESENHO 14).

DESENHO 14. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2, 3) E RAIO 3

Verificamos, após a análise das respostas, que oito participantes

indicaram corretamente a expressão ( ) ( ) 932 22 =++− yx , três participantes

apontaram a expressão ( ) ( ) 932 22 =−++ yx , dois participantes apontaram a

expressão ( ) ( ) 932 22 −=++− yx e um participante apontou a expressão

( ) ( ) 332 22 =++− yx .

Conforme descrevemos no CAPÍTULO 4: PROCEDIMENTOS

METODOLÓGICOS, com a Questão 1 nossa intenção é verificar se os sujeitos

são capazes de realizar a conversão entre o registro gráfico e o registro

algébrico, e avaliar se dominam alguns conceitos básicos sobre algumas das

características da relação entre a expressão algébrica e o gráfico de uma

circunferência.

A análise das respostas mostra-nos que, em média, 62% das questões

foram respondidas corretamente, embora não possamos dizer que 62% dos

sujeitos responderam corretamente. Como veremos, houve casos em que um

participante respondeu erroneamente um item para logo em seguida, numa

situação similar, responder corretamente.

77  

Quanto aos erros, chamou-nos a atenção o fato de que em 29% das

alternativas apontadas no item 1A, em 21% das alternativas apontadas no item

1B e em 7% das alternativas apontadas no item 1C, a expressão algébrica, que

deveria estar na forma 222 ryx =+ apresentava-se incorretamente como

ryx =+ 22 (sem que o raio estivesse elevado ao quadrado). Em nossa opinião,

tendo em vista o poder coercivo que o aspecto intuitivo pode exercer em uma

atividade matemática, é compreensível que o comprimento do raio e o valor

numérico apresentados na equação sejam associados um ao outro diretamente,

sem transformações. Diante do gráfico de uma circunferência que possua o

comprimento do raio igual a 3, um participante pode intuitivamente associar esta

circunferência à expressão 322 =+ yx , como efetivamente ocorreu no

questionário que aplicamos.

Isto parece mostrar, entretanto, a falta de compreensão das propriedades

formais que definem uma circunferência como o lugar geométrico dos pontos do

plano que são equidistantes de um ponto fixo chamado centro da circunferência.

Neste caso, o raio é dado pela hipotenusa de um triângulo retângulo e as

medidas dos catetos correspondem, respectivamente, à distância entre as

abscissas e as ordenadas de um ponto qualquer da circunferência e as abscissas

e as ordenadas do centro. Se os sujeitos que responderam incorretamente esta

questão tivessem desenvolvido a aprendizagem dos aspectos formais envolvidos

na representação algébrica de uma circunferência, poderiam verificar que é

possível utilizar o teorema de Pitágoras para calcular o comprimento do raio em

função da soma dos quadrados dos catetos. Assim, o raio deveria estar elevado

ao quadrado, conforme a equação ( ) ( ) ( )222 CPyyxx cpcp =−+− .

78  

DESENHO 15. TRIÂNGULO RETÂNGULO XPPC

 No item 1C, observamos que três participantes associaram o gráfico de

uma circunferência de centro no ponto C (2,-3) e raio 3 à expressão algébrica

( ) ( ) 932 22 =−++ yx . De um ponto de vista que considere aspectos intuitivos,

também consideramos compreensível este erro. Afinal, a associação é direta.

Como no gráfico o centro possui abscissa 2 e ordenada -3, e como na expressão

o valor que está junto com x dentro do parênteses é 2 e o que está junto com y é

-3, intuitivamente os sujeitos fizeram a associação entre o gráfico e a expressão.

Este erro pode indicar uma falha na aprendizagem, quanto à validação de

aspectos intuitivos por aspectos formais que definem as coordenadas do centro

da circunferência na expressão algébrica. O comprimento do raio da

circunferência relaciona-se com o comprimento dos catetos, cujas medidas são

determinadas pela distância entre as abscissas e as ordenadas de um ponto

qualquer da circunferência e as abscissas e as ordenadas do centro da

circunferência. Caso os participantes que responderam incorretamente inter-

relacionassem os aspectos intuitivos e formais, poderiam ter inferido que estes

módulos não correspondem a uma soma, mas sim a uma diferença. O cateto

horizontal corresponde ao módulo da diferença entre a abscissa de um ponto P

qualquer da circunferência e a abscissa do centro ( )cp xx − , e o cateto vertical, ao

módulo da diferença entre a ordenada de um ponto P qualquer da circunferência

e a ordenada do centro ( )cp yy − .

79  

DESENHO 16. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (XC, YC) E RAIO CP

 Observamos outro erro, presente em 14 % das alternativas apontadas no

item 1A e em 7% das alternativas apontadas no item 1B, que consistiu em indicar

uma subtração de quadrados como equação correspondente à representação

gráfica dada. Assim como no erro que comentamos anteriormente, sobre a

indicação do raio, acreditamos que estes erros podem indicar uma falta de

entendimento quanto às propriedades formais que definem uma circunferência e

que, sendo o comprimento do raio determinado pelas relações do teorema de

Pitágoras, a expressão algébrica deva apresentar uma soma de quadrados e não

uma subtração.

Ao responderem o item 1C, dois participantes indicaram que a expressão

algébrica ( ) ( ) 932 22 −=++− yx corresponderia à representação gráfica dada,

sem atentarem ao fato da impossibilidade de que existam, dentro do campo real,

valores de x e y que tornem a expressão verdadeira. Sendo uma soma de

quadrados, independentemente do valor numérico das variáveis x e y, o resultado

será sempre maior ou igual zero, nunca negativo.

Ao analisar pontualmente o desempenho dos sujeitos nesta questão,

conseguimos observar algumas regularidades quanto ao tipo de erro cometido e

algumas incoerências quanto ao padrão de resposta, como descrevemos a

seguir.

80  

Os participantes, que aqui identificaremos como sujeitos 6, 7 e 12,

cometeram o mesmo erro no item 1A e no item 1B, ao associar a expressão

algébrica ryx =+ 22 (sem que o raio estivesse elevado ao quadrado) à

circunferência dada. O padrão de suas respostas parece demonstrar que para

esses três sujeitos a expressão algébrica indica o raio da circunferência e não o

raio ao quadrado. Apesar disto, ao responderem o item 1C (em que o centro da

circunferência encontrava-se fora da origem do sistema cartesiano), os três o

fizeram de forma acertada.

O sujeito 2, embora tenha cometido o mesmo erro dos sujeitos 6, 7 e 12

no item 1A, respondeu corretamente o item 1B e errou o item 1C, ao indicar a

expressão ( ) ( ) 932 22 −=++− yx , em que a soma dos quadrados resulta em um

valor negativo.

O sujeito 13 cometeu um erro duplo, tanto no item 1A como no item 1B.

Primeiramente associou uma subtração de quadrados à equação da

circunferência dada, quando na verdade deveria associar uma soma. Além disso,

as alternativas apontadas por este sujeito apresentam o valor que corresponderia

ao raio sem que estivesse elevado ao quadrado. Este mesmo erro foi observado

na resposta deste sujeito para o item 1C, no qual, apesar de ter associado uma

soma de quadrados à circunferência dada, não considerou que na equação o raio

deveria estar elevado ao quadrado.

Os sujeitos 9, 10 e 14 mostraram conhecer a representação algébrica da

circunferência quando esta se apresenta com centro na origem do sistema

cartesiano, pois responderam corretamente às questões 1A e 1B. No entanto, ao

responderem o item 1C, em que o centro da circunferência encontra-se no ponto

C (2, -3), associaram de forma direta as coordenadas do centro ao valor

numérico apresentado na expressão algébrica e apontaram como correta a

expressão ( ) ( ) 932 22 =−++ yx .

Na TABELA 6, apresentamos as respostas dos participantes às questões

1A, 1B e 1C. As células em tom cinza indicam as respostas corretas.

81  

TABELA 6. RESPOSTAS DA QUESTÃO 1

Questões Sujeito 1A 1B 1C

1 c d b 2 a d e 3 c d b 4 c d b 5 d d e 6 a a b 7 a a b 8 c d b 9 c d d 10 c d d 11 c d b 12 a a b 13 d c a 14 c d d

5.1.2 Questão 2

 Nesta questão, apresentamos a expressão algébrica de duas

circunferências e quatro gráficos para cada expressão. Em seguida, solicitamos

aos participantes que associassem o gráfico a uma das expressões dadas.

Estimamos que levariam, no máximo, quatro minutos para responder os dois

itens desta questão.

No item 2A apresentamos a expressão algébrica 422 =+ yx .

Ao analisar as respostas, verificamos que doze participantes responderam

corretamente e apontaram o gráfico que apresenta uma circunferência de

comprimento de raio igual a duas unidades, com centro na origem do sistema

cartesiano.

Quanto aos erros, um dos sujeitos associou à expressão dada o gráfico

cujo raio da circunferência era igual a 4 unidades com centro em C (0, 0) e o

outro sujeito apontou o gráfico cujo raio da circunferência é igual a 4 unidades

com centro no ponto C (4,4).

82  

No item 2B apresentamos a expressão algébrica ( ) ( ) 923 22 =−++ yx .

Neste item apenas seis participantes apontaram corretamente o gráfico

que apresentava uma circunferência com centro no ponto C (-3, 2) e cujo

comprimento do raio era igual a 3. Os outros oito participantes associaram a

expressão dada ao gráfico de uma elipse (ver DESENHO 17).

DESENHO 17. ELIPSE COM CENTRO EM C (0, 0) E FOCOS SOBRE O EIXO X

Ao analisar as respostas dadas aos itens 2A e 2B, esperávamos verificar

se os sujeitos eram capazes de saber, a partir da expressão na forma

( ) ( ) 222 cbyax =−+− , as coordenadas do centro e o comprimento do raio.

Ao analisarmos o modo como responderam estes dois itens, conseguimos

observar que o sujeito 6, que nos itens 1A e 1B havia associado o valor numérico

da expressão ao raio da circunferência sem observar que o raio deveria estar

elevado ao quadrado, manteve seu padrão de resposta e cometeu os mesmo

erro no item 2A.

O sujeito 2, a exemplo do que havia demonstrado nas respostas aos itens

1A (quando errou quanto ao comprimento do raio), 1B (quando respondeu

corretamente) e 1C (quando considerou como negativo a soma de quadrados),

parece não seguir um padrão lógico quanto aos erros que comete, como se

estivesse escolhendo aleatoriamente as alternativas, dificultando nossa

investigação sobre as dificuldades de entendimento que apresenta. No item 2A

associou o gráfico do DESENHO 18 à expressão 422 =+ yx .

83  

DESENHO 18. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (-3, 2) E RAIO 3

 Ao observar o desempenho dos participantes no item 2B surpreendemo-

nos ao verificar que a maioria dos sujeitos associou a equação de uma

circunferência de raio 3 e com centro em C (-3, 2) ao gráfico de uma elipse.

Dentre estes participantes, destacamos os sujeitos 1, 6 e 7, que haviam

respondido corretamente o item 1C, ao associar o gráfico de uma circunferência

à sua expressão algébrica e que, no item 2A, não conseguiram associar

corretamente a expressão algébrica de uma circunferência ao seu gráfico.

Além destes, chamaram-nos a atenção as respostas dos sujeitos 9, 10 e

14. No item 1C, estes sujeitos erraram ao associar as coordenadas do centro da

circunferência ao valor numérico da expressão algébrica. Seguindo este padrão,

esperávamos que, ao fazer a conversão do registro algébrico para o registro

gráfico, os sujeitos associassem o gráfico da circunferência de raio 3 e centro C

(3, -2) à expressão algébrica ( ) ( ) 923 22 =−++ yx , porém, ao invés disto, eles

apontaram o gráfico de uma elipse.

Entre os que acertaram o item 2B, destacamos o sujeito 5, que no item 1C

havia errado ao associar as coordenadas do centro da circunferência ao valor

numérico da expressão algébrica. De acordo com as respostas que apresentou

anteriormente, acreditávamos que neste item poderia associar o gráfico da

circunferência de raio 3 e centro C (3, -2) à expressão algébrica

( ) ( ) 923 22 =−++ yx , o que não ocorreu, pois este sujeito respondeu de forma

correta este item.

Na TABELA 7, apresentamos as respostas dos sujeitos as questões 2A e

2B. As células em tom cinza indicam as respostas corretas.

84  

TABELA 7. RESPOSTAS DA QUESTÃO 2

Questões Sujeito 2A 2B

1 a c 2 d c 3 a d 4 a d 5 a d 6 c c 7 a c 8 a d 9 a c 10 a c 11 a d 12 a d 13 a c 14 a c

5.1.3 Questão 3

 Nesta questão, apresentamos quatro gráficos de circunferências e

solicitamos aos participantes que os associassem a uma das três descrições em

língua natural, disponíveis para cada um. Estimamos que levariam, no máximo

oito minutos para responder os quatro itens desta questão.

Devido a uma falha que cometemos no momento da entrega dos

questionários, dois dos quatorze sujeitos que estavam participando não

responderam esta questão. Infelizmente, percebemos este erro depois que já

havíamos deixado a universidade onde se deu o encontro e não tivemos como

corrigi-lo. De qualquer forma, doze participantes responderam o questionário,

possibilitando assim nossa análise.

No item 3A apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em

C (-3, 2) e raio 2. Verificamos que nove participantes responderam corretamente

este item, dois participantes informaram que o comprimento do raio era 4 (ao

invés de 2) e um participante inverteu as coordenadas do centro, trocando o valor

da abscissa pelo da ordenada e vice-versa.

85  

No item 3B apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro na

origem do sistema cartesiano e raio 3. Verificamos que onze participantes

responderam corretamente este item e que um participante informou que o

comprimento do raio era 6 (ao invés de 3).

No item 3C apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em

C (3,0) e raio 3. Verificamos que dez participantes responderam corretamente

este item, um sujeito informou que o comprimento do raio era 6 (ao invés de 3) e

um sujeito deixou e item sem resposta.

No item 3D apresentamos o gráfico de uma circunferência com centro em

C (2,2) e raio de comprimento 2. Verificamos que todos os doze sujeitos

responderam corretamente este item.

Por meio da análise das respostas dadas às questões 3A, 3B, 3C e 3D

esperávamos verificar se os sujeitos conseguem extrair da representação gráfica

duas informações básicas sobre as circunferências: as coordenadas do centro e

o comprimento do raio.

Ao analisarmos a resposta do sujeito 1 ao item 3A pudemos observar que

inverteu as coordenadas do centro, trocando o valor da abscissa pelo da

ordenada e nos itens 3B e 3C confundiu o valor do raio com o valor do diâmetro

da circunferência. Este erro também foi cometido pelos sujeitos 7 e 9 quando

responderam o item 3A.

Pareceu-nos, pela análise das respostas e pelo índice de acertos

demonstrado nesta questão, que os sujeitos, em sua maioria, conseguiram obter

os dados das coordenadas do centro e comprimento do raio a partir do gráfico da

circunferência, associando corretamente o registro gráfico com o registro em

língua natural.

Na TABELA 8, apresentamos as respostas dos sujeitos aos itens 3A, 3B,

3C e 3D. As células em tom cinza indicam as respostas corretas.

86  

TABELA 8. RESPOSTAS DA QUESTÃO 3

Questões Sujeito 3A 3B 3C 3D

1 b a c a 2 a c b a 3 a c b a 4 5 a c b a 6 a c b a 7 c c a 8 a c b a 9 c c b a 10 a c b a 11 a c b a 12 13 a c b a 14 a c b a

  5.1.4 Questão 4

 Nesta questão, apresentamos quatro expressões algébricas e solicitamos

aos participantes que as associassem a uma das três descrições em língua

natural disponíveis para cada expressão. Estimamos que levariam, no máximo,

oito minutos para responder os quatro itens desta questão.

No item 4A, apresentamos a expressão algébrica ( ) ( ) 1635 22 =+−− yx .

Verificamos que apenas quatro participantes responderam corretamente este

item, informando que a expressão algébrica não correspondia a uma

circunferência. Os outros dez participantes informaram que se tratava de uma

circunferência com centro em C (5, -3) e raio 4.

No item 4B apresentamos a expressão algébrica  ( ) 54 22 =−+ yx .

Verificamos que dez participantes responderam corretamente, informando que a

expressão algébrica correspondia a uma circunferência com centro em C (0,4) e

raio de comprimento 5 . Dois participantes informaram que o raio da

circunferência era igual a 5, numa associação direta entre o comprimento do raio

e o valor numérico da expressão algébrica. Outros dois participantes informaram

que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência.

87  

No item 4C apresentamos a expressão algébrica ( ) 632 22 =++ yx .

Verificamos que apenas 5 participantes responderam corretamente, informando

que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência (a expressão

dada corresponde a uma elipse). Nove participantes associaram a equação a

uma circunferência com centro C (0, -3) e raio 6 .

No item 4D apresentamos a expressão algébrica 722 =+ yx . Verificamos

que 10 participantes responderam corretamente, informando que a expressão

algébrica correspondia a uma circunferência com centro em C (0, 0) e raio 7 .

Três participantes associaram o raio da circunferência ao valor apresentado na

expressão dada e informaram que o raio da circunferência era 7. Um participante

informou que a expressão algébrica não correspondia a uma circunferência.

Ao analisar as respostas dadas às questões 4A, 4B, 4C e 4D, gostaríamos

de verificar se os participantes conseguiriam fazer a conversão do registro

algébrico para o registro em língua natural e se conseguiriam, a partir das

expressões algébricas que representam circunferências, deduzir as informações

sobre o centro da circunferência e o comprimento do raio.

Dos dez participantes que responderam de forma incorreta o item 4A,

destacamos os sujeitos 3 e 4, que tiveram um bom desempenho nas questões

anteriores. Acreditamos que, neste caso específico, não perceberam que se

tratava de uma subtração e não de uma adição e que podem ter respondido de

forma errada por distração. No caso dos sujeitos 9, 10 e 14, entretanto, não

podemos dizer o mesmo. Estes sujeitos, ao responderem o item 1C e 2B já

haviam dado mostras de não conhecer a equação da circunferência com centro

fora da origem. Da mesma forma, os sujeitos 2 e 6, embora tenham tido um bom

desempenho nas associações entre o registro gráfico e o registro em língua

natural (questão 3) demonstraram limitações quanto à questão algébrica, seja

associando uma soma de quadrados a um número negativo (resposta do sujeito

2 à questão 1C, p. 80), seja associando uma elipse à equação da circunferência

(resposta do sujeito 6 à questão 2B, p. 82).

Entre os participantes que erraram o item 4B, os sujeitos 6 e 7 informaram

que a expressão algébrica ( ) 54 22 =−+ yx   não correspondia a uma

circunferência. Estes mesmos dois sujeitos, ao responderem o item 2B haviam

88  

associado a expressão algébrica ( ) ( ) 923 22 =−++ yx  a uma elipse e nos itens 1A

e 1B, relacionado o valor numérico apresentado na expressão algébrica ao valor

do raio. Acreditamos que, para estes sujeitos, a equação da circunferência seja

ryx =+ 22 , sem considerar os casos em que o centro encontra-se em um ponto

fora da origem do sistema e sem considerar que na expressão algébrica o raio

deve apresentar-se elevado ao quadrado.

Ainda no item 4B, observamos que o sujeito 14 informou que o raio era 5

e não 5 , como deveria ser. Este participante ainda não havia cometido este

engano e havia feito com sucesso a associação entre o registro gráfico e o

registro em língua natural, embora houvesse invertido o valor da abscissa com o

valor da ordenada ao associar o registro gráfico ao algébrico, no item 1C.

Entre os participantes que informaram, no item 4C, que a expressão

( ) 632 22 =++ yx  correspondia a uma circunferência, seis deles (sujeitos 2, 3, 5, 9

10 e 13) haviam cometido erro similar no item 4A, ao afirmar que a expressão

( ) ( ) 1635 22 =+−− yx também correspondia a uma circunferência. Para estes

sujeitos, não estão claras algumas das características que definem

algebricamente uma circunferência, ou seja, que a expressão resultará em uma

soma de quadrados e que os coeficientes de 2x e 2y devem ser iguais.

No item 4D, os sujeitos 5, 9 e 14 associaram o raio da circunferência ao

valor apresentado na expressão dada e informaram que era igual a 7. Destes,

apenas o sujeito 9 havia cometido erro similar, no item 3A. Os sujeitos 5 e 14,

nas associações anteriores, haviam respondido corretamente este tipo de

questão.

Na TABELA 9, apresentamos as respostas dos sujeitos às questões 4A,

4B, 4C e 4D. As células em tom cinza indicam as respostas corretas.

89  

TABELA 9. RESPOSTAS DA QUESTÃO 4

Questões Sujeito 4A 4B 4C 4D

1 c a b c 2 a b b a 3 a b b a 4 a b c a 5 a b b b 6 a c c a 7 a c c a 8 c b c a 9 a b b b 10 a b b a 11 c b b a 12 c b c a 13 a b b a 14 a a c b

 

Ao analisar as respostas das questões apresentadas no questionário de

revisão, concluímos que haveria a necessidade de uma atividade de

institucionalização, com o objetivo de trazer à tona os saberes envolvidos na

representação de circunferências, a fim de que possamos discutir as questões

com os sujeitos e prosseguir com as atividades previstas em nosso projeto.

Como já informamos nos parágrafos anteriores, quatorze sujeitos

participaram da aula em que aplicamos o questionário. Considerando que havia

ao todo 13 itens (1A, 1B, 1C, 2A, 2B, 3A, 3B, 3C, 3C, 4A, 4B, 4C E 4D) e que

cada participante deveria apontar somente uma alternativa em cada item,

deveríamos receber ao final, um total de 182 alternativas. Devido a uma falha na

distribuição dos questionários e ao fato de que um dos sujeitos deixou uma das

questões em branco, conseguimos obter ao todo 176 alternativas.

Se analisarmos apenas o número de alternativas válidas, temos que 66%

delas apontavam para a resposta correta.

Quanto às alternativas não corretas, destacamos a seguir quais foram os

erros mais frequentes, que são importantes para a continuação de nosso

trabalho:

90  

• 22 alternativas associam uma circunferência a uma expressão

algébrica em que o raio não se apresentava elevado ao quadrado,

como se a representação algébrica de uma circunferência fosse

( ) ( ) ryyxx pp =−+− 22

• 13 alternativas associam um número negativo a uma soma de

quadrados

 

• 8 alternativas associam expressões algébricas com coeficientes

diferentes de 2x e 2y a uma circunferência

• 5 alternativas indicam incorretamente as coordenadas do centro da

circunferência, seja quanto ao sinal, seja ao confundir o valor da

abscissa com o valor da ordenada

• 4 alternativas associam o comprimento do diâmetro ao comprimento

do raio, como se fossem a mesma coisa

• 3 alternativas associam uma expressão que representa uma diferença

de quadrados (e não uma soma de quadrados) a uma circunferência

• 5 alternativas apontam outros erros específicos, diferentes dos já

relatados, que podem ser observados comparando a tabela de

respostas e o questionário.

Apresentamos na TABELA 10, as respostas dos sujeitos às questões

apresentadas. As células em tom cinza indicam as respostas corretas.

91  

TABELA 10. RESPOSTAS DAS QUESTÕES 1 A 4

Questões Sujeito 1A 1B 1C 2A 2B 3A 3B 3C 3D 4A 4B 4C 4D

1 c d b a c b a c a c a b c 2 a d e d c a c b a a b b a 3 c d b a d a c b a a b b a 4 c d b a d a b c a 5 d d e a d a c b a a b b b 6 a a b c c a c b a a c c a 7 a a b a c c c a a c c a 8 c d b a d a c b a c b c a 9 c d d a c c c b a a b b b

10 c d d a c a c b a a b b a 11 c d b a d a c b a c b b a 12 a a b a d c b c a 13 d c a a c a c b a a b b a 14 c d d a c a c b a a a c b

Esta análise ajudou-nos a compreender algumas das dificuldades dos

sujeitos quanto ao reconhecimento e a representação gráfica de uma

circunferência a partir de sua expressão algébrica e quanto à representação

algébrica de uma circunferência a partir da representação gráfica.

A compreensão destas dificuldades orientou-nos quanto às questões que

propusemos desenvolver e discutir com os alunos na institucionalização, como as

seguintes:

• A dedução da representação algébrica da circunferência, a partir do

cálculo da distância entre um dos pontos da circunferência e o centro,

por meio do Teorema de Pitágoras

• O cálculo do raio em ambos os casos, quando a circunferência tem

centro na origem do sistema cartesiano e quando o centro está fora da

origem

• A identificação das coordenadas do centro e do raio da circunferência

a partir da expressão algébrica

92  

• A verificação da impossibilidade de que a adição de números

quadrados resulte em um número menor do que zero

5.2 INSTITUCIONALIZAÇÃO

Ao final da aula em que os participantes responderam o questionário,

conversamos sobre quais seriam os melhores dias para desenvolver as demais

atividades previstas. Nossa proposta inicial era que os encontros fossem

realizados uma vez por semana, durante o período de um mês, num horário

conhecido como “pré-aula”, que como o próprio nome deixa claro, é um horário

disponível antes do início das aulas.

Diante desta sugestão, alguns dos sujeitos apresentaram objeções, pois

gostariam de participar das atividades, mas não tinham como chegar a tempo

para a “pré-aula”. Como alternativa, propuseram que fizéssemos as atividades

aos sábados, porque poderíamos começar as atividades às 8h00 e desenvolvê-

las até próximo das 12h00, portanto teríamos um tempo maior, podendo assim

completar as tarefas em um menor número de encontros.

Consensualmente, decidimos que faríamos as atividades aos sábados e

tentaríamos desenvolvê-las em um único encontro. Caso se mostrasse cansativo,

ou o tempo necessário às atividades fosse insuficiente, reuniríamos novamente

em outro sábado.

Nesta ocasião, já deixamos agendados os dias de atividade, tanto junto

aos alunos quanto junto à universidade, que nos cedeu uma sala equipada com

computador e projetor multimídia.

No primeiro encontro, pudemos perceber que o tempo seria suficiente

tanto para que fizéssemos a seção de institucionalização sobre as

circunferências, como para que desenvolvêssemos as seis atividades previstas,

sem atropelos e com a dedicação necessária em cada uma das tarefas.

Reunimo-nos das 8h00 às 12h30min, com um pequeno intervalo para café,

sendo que utilizamos a primeira hora para que pudéssemos fazer a

institucionalização.

Dos quatorze alunos que fizeram o questionário, oito compareceram ao

encontro do sábado. Além destes, um aluno da mesma turma, que estava

ausente e não havia respondido ao questionário, apresentou-se e demonstrou

93  

interesse em participar. Como ainda não havíamos feito a institucionalização,

acreditamos que sua participação seria positiva e por isso concordamos que

participasse. O aluno leu e assinou o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e se integrou aos demais participantes.

Utilizando o programa de geometria dinâmica Geogebra, apresentamos

aos alunos uma circunferência com centro no ponto C (0,0) e raio igual a 3. Em

seguida desenhamos um ponto P (xp,yp) na circunferência e traçamos um

triângulo retângulo formado pelos pontos C, P e pela projeção de P no eixo das

abscissas (xp), (ver DESENHO 19)

DESENHO 19. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (0,0) E RAIO 3

  Associamos o segmento CP, raio da circunferência, à hipotenusa do

triângulo e as projeções do ponto P sobre os eixos das abscissas e sobre o eixo

das ordenadas, respectivamente xp e yp, aos catetos do triângulo, de forma que se

estabelecesse a relação descrita pelo teorema de Pitágoras:

222222 ryxCPyx pppp =+⇒=+

Utilizando-nos das possibilidades que o programa de geometria dinâmica

oferece, movimentamos o ponto P em torno da circunferência e alteramos o

comprimento do raio, a fim de que os sujeitos pudessem perceber que

independentemente do local em que o ponto P estivesse ou do tamanho da

circunferência, a relação se mantém, ou seja, a expressão encontrada é a

94  

expressão que define os pontos da circunferência, conhecida como equação da

circunferência, nos livros didáticos.

Discutimos a seguir alguns pontos com os participantes, dos quais

destacamos os seguintes:

• O raio corresponde à hipotenusa do triângulo retângulo. Quando a

equação da circunferência está na forma correspondente ao teorema

de Pitágoras, o raio apresenta-se elevado ao quadrado

• A equação de uma circunferência com centro em C (0,0) sempre pode

ser reduzida a uma expressão em que o coeficiente de 2x seja igual

ao coeficiente de 2y e 022 ≥+ kykx . As expressões que não possuem

esta característica não correspondem a uma circunferência, como por

exemplo 322 22 =− yx ou 432 22 =+ yx

• Uma soma de quadrados sempre resultará em um número maior ou

igual a zero, independentemente do valor assumido pelas variáveis x e

y. Nunca a soma de quadrados resultará em um valor negativo

Após esta discussão, apresentamos outra circunferência, com centro C (2,

-3) e raio igual a 3 (ver DESENHO 20).

DESENHO 20. CIRCUNFERÊNCIA COM CENTRO EM C (2,-3) E RAIO 3

95  

  Mostramos aos sujeitos que quando o centro da circunferência não está

localizado na origem do sistema, embora o raio continue correspondendo à

hipotenusa de um triângulo retângulo, o comprimento dos catetos é dado pelo

módulo da diferença, entre as coordenadas do centro e as coordenada de um

ponto P pertencente à circunferência.

Em notação algébrica, o cateto horizontal da figura é dado por

cppc xxxx −=− , e o cateto vertical é dado por cppc yyyy −=− .

Movimentamos então o ponto P em torno da circunferência, alteramos o

raio e transladamos a circunferência por todos os quatro quadrantes, para que os

sujeitos pudessem verificar que independentemente destas variáveis, a relação

se mantém.

Discutimos a seguir alguns pontos com os participantes, dos quais

destacamos o seguinte:

• Quando reduzidas à forma ( ) ( ) 222 rbyax =−+− , as coordenadas do

centro são dadas por C (a, b), e o comprimento do raio é dado pelo

valor de r. Se o centro encontrar-se sobre a origem do sistema, a

equação continua válida, porém como a = 0 e b = 0, teremos

( ) ( ) ( ) ( ) 222222 00 ryxryx =+⇒=−+−

Terminadas estas discussões, demos início às atividades em que

utilizamos o modelo de representação tridimensional.

5.3 ANÁLISE DAS ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO

TRIDIMENSIONAL

Após terminarmos a institucionalização sobre as circunferências

propusemos aos sujeitos que se dividissem em duplas. Como havia nove

participantes, foram formadas três duplas e um grupo com três sujeitos. No

decorrer de nossa análise, chamaremos estes grupos de G1, G2, G3 e G4,

respectivamente.

Informamos aos participantes que, nesta etapa de nossa pesquisa, iríamos

fazer a filmagem das atividades. Conforme o ANEXO A – TERMO DE

 

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98  

G1 É um cubo formado por várias folhas de transparência e cada folha de transparência representa um plano x0y, em cada plano temos formada uma circunferência de raio 5 e no primeiro plano esta circunferência se encontra no 1º quadrante e a cada plano a circunferência vai mudando de posição até o sétimo quadrante, formando uma diagonal como se fosse uma mangueira na diagonal e passando o centro da circunferência pela origem G2 i) Imagine uma linha inclinada cuja função é xy = ii) Coloque nesta linha várias circunferências representadas pela função

2522 =+ yx iii) Chegaremos à seguinte representação (fizeram o esboço abaixo)

DESENHO 21. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.1

G3 Plano tridimensional com 12 circunferências, de raio 5 cada uma. Cada circunferência tem centro diferente na medida em que percorre o eixo z. O importante a observar é que a diferença dos centros de cada circunferência define tal sobreposição G4 Em 12 planos sobrepostos bidimensionais, no conjunto total dos mesmos está representada uma circunferência de raio fixo 5, onde o centro varia, de acordo com z. No 1º plano x e y positivo chegando ao último onde x e y negativos, passando pela origem. Posição também

Quando representamos um objeto espacial utilizando o sistema de

coordenadas Oxyz, cada dois eixos determinam planos perpendiculares entre si,

ou seja, os eixos Ox e Oy determinam o plano xy, os eixos Ox e Oz determinam o

plano xz e os eixos Oy e Oz determinam o plano yz. Os planos xy, xz e yz

separam o espaço em oito regiões distintas, chamadas octantes.

Cada ponto pode ser localizado no espaço por meio de suas coordenadas

que correspondem a um terno de números reais (x, y, z). De acordo com os

valores destas coordenadas, podemos dizer qual é a localização do ponto, da

seguinte forma:

99  

• Se P (0, 0, 0), então P localiza-se sobre a intersecção dos três planos

ortogonais, conhecida como a origem do sistema

• Se P (x, 0, 0) e Rx∈ , então P localiza-se sobre a reta de intersecção

entre os planos xy e xz, correspondente ao eixo Ox

• Se P (0, y, 0) e Ry∈ ,então P localiza-se sobre a reta de intersecção

entre os planos xy e xy, correspondente ao eixo Oy

• Se P (0, 0, z) e Rz∈ ,então P localiza-se sobre a reta de intersecção

entre os planos xz e yz, correspondente ao eixo Oz

• Se P é tal que as coordenadas de x, y e z são maiores que 0, então P

localiza-se no 1° octante

• Se P é tal que as coordenadas de y e z são maiores que 0 e a

coordenada correspondente a x é menor do que zero, então P localiza-

se no 2° octante e assim por diante, conforme a TABELA 11:

 TABELA 11. LOCALIZAÇÃO DE PONTOS NO R3

x y z Posição no espaço

0 0 0 origem

x 0 0 eixo Ox

0 y 0 eixo Oy

0 0 y eixo Oz

> 0 > 0 > 0 1º octante

< 0 > 0 > 0 2º octante

< 0 < 0 > 0 3º octante

> 0 < 0 > 0 4º octante

> 0 > 0 < 0 5º octante

< 0 > 0 < 0 6º octante

< 0 < 0 < 0 7º octante

> 0 < 0 < 0 8º octante

Ao analisar a resposta dada pelos sujeitos do G1 (p. 98), observamos que

seu primeiro olhar fixou-se na forma do modelo e não nas curvas que estavam

impressas nos gráficos. Ao descrevê-lo, escreveram que era um “cubo”.

100  

Acreditamos que como o modelo é constituído pela sobreposição de doze

transparências, seu formato de paralelepípedo pode ter feito com que os sujeitos

se lembrassem de “um cubo” e descrevessem-no como tal.

Ao referir-se à disposição das circunferências, escreveram que “no

primeiro plano esta circunferência se encontra 1º quadrante e a cada plano vai

mudando de posição até o 7º quadrante”.

Quando recorremos à filmagem desta atividade, verificamos que os

sujeitos alinhavam o olhar na direção do eixo Oz, de modo que pudessem ver o

modelo no sentido de Oz+ para Oz- e observar a transparência cuja cota era z =

5. Inicialmente, quando escreveram que “no primeiro plano esta circunferência se

encontra 1º quadrante” imaginamos que estivessem se referindo ao

posicionamento da circunferência em um sistema bidimensional. Como no gráfico

que estavam olhando o centro da circunferência encontra-se no ponto C (5, 5), a

descrição parecia correta, porém, em seguida escreveram que “a cada plano vai

mudando de posição até o 7º quadrante”, verificamos que se equivocaram quanto

ao termo quadrante. Um olhar mais atento nos mostra que estavam se referindo

ao 7º octante, e não ao 7º quadrante.

Considerando que tenham invertido os termos, a descrição tornar-se-ia

mais coerente se tivessem escrito que “no primeiro plano esta circunferência se

encontra no 1º octante (as coordenadas do centro possuem x > 0, y > 0 e z > 0) e

a cada plano vai mudando de posição até o 7º octante (as coordenadas do centro

da circunferência são C (-5, -5, -5), ou seja, x < 0, y < 0 e z < 0)”.

Os sujeitos do G1 completaram a descrição escrevendo que as

circunferências sobrepostas “formam uma diagonal como se fosse uma

mangueira na diagonal e passando o centro da circunferência pela origem”.

Referiram-se assim à inclinação do cilindro oblíquo representado pela figura, cujo

corte em z = 0 corresponde a uma circunferência com centro em C (0, 0, 0).

Ao considerarmos que a diagonal de um poliedro é o segmento de reta

definido por dois vértices desse poliedro não pertencentes à mesma face, a

referência que os sujeitos do G1 fazem à figura “como se fosse uma mangueira

na diagonal” parece-nos inadequada. Mesmo que estivessem se referindo ao

formato de paralelepípedo que o modelo apresenta, nem a reta oblíqua ao plano

de base que contém os centros das circunferências, nem as circunferências,

encontram-se sobre a diagonal deste paralelepípedo.

101  

A descrição feita pelos sujeitos do G2 sugere que “imaginemos uma

função xy = ” e que “coloquemos nesta linha várias circunferências” (p. 98). De

acordo com o esboço que desenharam (indicam apenas os eixos x e y) e de

acordo com a função que apresentaram (uma “linha” representada pela função

xy = , que entendemos ser a reta que contém os centros das circunferências)

podemos observar que não estão se referindo ao espaço tridimensional, mas às

curvas de nível correspondentes à projeção das diversas circunferências em um

plano de base, cuja visão é possibilitada pela característica dos gráficos, que

foram impressos em folhas transparentes.

Observamos, ao analisar as descrições apresentadas pelo G1 e G2, que

aspectos intuitivos do objeto matemático trazidos à tona durante a atividade

prevalecem sobre aspectos algorítmicos e formais. Os sujeitos pareceram “ver” a

representação da figura, porém não mobilizaram conhecimentos formais ou

mostraram iniciativas de organizar as relações entre as informações disponíveis

na representação tridimensional em busca de uma representação semiótica do

objeto.

Notamos a ausência da componente formal quando descreveram um

objeto com formato de paralelepípedo como um “cubo”; quando escreveram

“quadrante” quando queriam dizer “octante”; quando usaram o termo “diagonal”

para referir-se a uma reta não perpendicular ao plano de base, ou ainda quando

descreveram uma “função y = x” sem informar em qual domínio se encontra,

podendo representar tanto um plano (se considerarmos que estão no R3) quanto

uma reta (considerando que estejam referindo-se ao plano bidimensional R2).

Os sujeitos do G3 descreveram o modelo referindo-se às “12

circunferências de raio 5” cujos centros variam “na medida em que percorrem o

eixo z” (p. 98). Ao analisar esta descrição percebemos que os sujeitos

conseguiram relacionar a mudança das coordenadas do centro da circunferência

à altura em que esta foi montada, embora não tenham explicitado que o valor de

z define as coordenadas do centro. Também observaram que “a diferença do

centro define tal sobreposição”, que de acordo com nosso entendimento, quer

dizer que a figura tem a forma que tem, graças à mudança dos centros das

102  

circunferências. Se nos gráficos bidimensionais as circunferências tivessem o

mesmo raio e as mesmas coordenadas x e y de centro, teríamos a representação

de outra figura. Acreditamos que esta observação pode ter sido favorecida pela

visão simultânea dos centros das doze circunferências que compõem o modelo e

que se encontram alinhados sobre uma reta oblíqua ao plano de base.

Os sujeitos do G3 cometeram um equívoco, no entanto, ao descrever o

modelo como um “plano tridimensional”. Neste caso, acreditamos que não

perceberam a incompatibilidade entre as duas dimensões do plano cartesiano e o

termo tridimensional, numa demonstração clara de como conhecimentos prévios,

neste caso conceitos desenvolvidos durante a aprendizagem de geometria plana,

podem sobrepor-se a componentes formais e algorítmicas presentes na

aprendizagem da geometria espacial.

Na descrição apresentada pelo G4 os sujeitos escreveram “em 12 planos

sobrepostos bidimensionais” referindo-se a cada representação plana que

compõe o modelo e explicitaram a relação existente entre as circunferências e o

valor de z, ao escrever que “o centro varia de acordo com z” (p. 98).

Pela descrição que fazem do 1º plano, pudemos observar que olhavam o

modelo pela parte de cima e alinhavam a visão com o eixo Oz na direção de Oz+

para Oz-, de modo a observar a transparência correspondente ao z = 5. Como

tenham encontrado as coordenadas do centro da circunferência C (5, 5, 5),

escreveram “x e y positivo”, referindo-se às coordenadas x e y do centro da

circunferência. Ao escreverem “chegando ao último onde x e y negativos”,

deduzimos que mencionavam a última transparência onde as duas primeiras

coordenadas do centro da circunferência são negativas. Ao afirmarem que “passa

pela origem”, podem ter se referido à reta que contém os centros das 12

circunferências. Se considerarmos que estavam utilizando as três dimensões

para descrever o objeto, então esta é a reta que passa pelo ponto O (0, 0, 0) e é

paralela ao vetor ( )1,1,1=Vr

, ou seja, x = y = z, conforme a representação em

perspectiva do DESENHO 22.

103  

DESENHO 22. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R3

Por outro lado, se considerarmos que os sujeitos do G4 estavam baseando

a descrição da figura pela projeção horizontal das transparências em um plano de

base, compatível com a visão de um observador que alinha o olho na direção Oz

e direciona o olhar no sentido de Oz+ para Oz-, então a reta que contém os

centros das circunferências passa pela origem do sistema cartesiano

bidimensional, conforme a representação do DESENHO 23.

DESENHO 23. REPRESENTAÇÃO DE UMA RETA NO R2

Item 1.2 - Descrição do MODELO 2

Os grupos descreveram da seguinte forma:

G1 Segue as características básicas do MODELO 1, mas neste caso a circunferência tem início no 1º quadrante e segue até o sétimo girando em torno da origem (0,0) formando uma mola no formato de espiral

104  

G2 i) Imagine uma mola ii) coloque nesta mola uma circunferência representada pela função

2522 =+ yx iii) Chegaremos a uma representação similar a (fizeram o esboço abaixo):

DESENHO 24. RESPOSTA DO G2 – ITEM 1.2

G3 O MODELO 2 segue os mesmos parâmetros do MODELO 1, o raio não muda e o que muda é o centro, comparando uma circunferência com outra. O que muda do MODELO 1 para o MODELO 2 é o desenho tridimensional de cada modelo

G4 Mesma prerrogativa do MODELO 1, começando no 1° quadrante, não passando pela origem, até o quarto quadrante, onde o centro é diferente do MODELO 1

A curva que contém os centros das circunferências do MODELO 2, quando

projetada no plano de base, pode ser descrita de forma bidimensional como uma

circunferência com centro em C (0, 0) e raio de comprimento 6 ou pode ser

descrita em três dimensões, como uma curva espiral cilíndrica, que na cota

correspondente ao z = -5 está no 7º octante e em z = 5 no 1º octante.

Ao escreverem que as circunferências “formam uma mola no formato

espiral” (p. 103) os sujeitos do G1 parecem ter analisado a figura considerando

as três dimensões. Esta impressão é reforçada pelas imagens que obtivemos da

105  

filmagem do grupo enquanto desenvolviam esta atividade, porém, ao analisar a

resposta, observamos novamente que confundiram os termos “quadrante” e

“octante”. Acreditamos que quiseram referir-se ao “octante”, visto que

apresentam uma descrição tridimensional do modelo. Também mostram ter

observado que, diferentemente do MODELO 1, os centros das circunferências

que compõem o MODELO 2 encontram-se sobre uma curva.

A descrição apresentada pelo G2 sugere que “imaginemos uma mola e

coloquemos nesta mola uma circunferência” (p. 103). Acreditamos que, a

exemplo da descrição feita pelo G1, quando os sujeitos do G2 escreveram mola

estavam se referindo à curva espiral que contém os centros das circunferências.

Ao analisar as descrições que os grupos G1 e G2 fizeram do MODELO 2,

verificamos novamente que os sujeitos descreveram a figura de forma intuitiva,

sem a preocupação em escrever sobre aspectos formais envolvidos na

representação dos objetos. Os sujeitos do G1 escreveram que a figura “forma

uma mola no formato espiral” e os sujeitos do G2 sugeriram “colocar nesta mola

uma circunferência”, mas não deixaram claro qual é tipo de mola, tampouco qual

é o tipo de espiral a que se referiram. Pareceram “ver” que a figura tem o formato

de uma “mola”, mas não se preocuparam em “visualizá-la”.

Os sujeitos do G3 apresentaram uma descrição superficial. Apesar de

explicitarem algumas características importantes, como quando escreveram que

“o raio não muda e o que muda é o centro” (p. 103), não comentaram o fato de

que no MODELO 2 os centros das circunferências encontram-se sobre uma

curva. Ao comparar os modelos, escreveram que “o que muda do MODELO 1

para o MODELO 2 é o desenho tridimensional”. Embora tenham mostrado que

conseguiram “ver” a figura representada, não apresentaram argumentos que nos

levassem a concluir que tenham conseguido “visualizar” as figuras.

Ao descreverem a figura, os sujeitos do G4 parecem não ter levado em

conta que o modelo representava um objeto tridimensional, ou pelo menos não

demonstraram isso nas descrições que fizeram, tanto do MODELO 1 quanto do

MODELO 2. Na descrição que apresentaram escreveram que as circunferências

106  

que compõem o modelo “começam no 1º quadrante até o 4º quadrante” (p. 103),

referindo-se às curvas de nível correspondentes à projeção das doze

circunferências no plano de base. Esta descrição é compatível com a visão que

se obtém quando o olho do observador está sobre o eixo Oz, com o olhar no

sentido de Oz+ para Oz-.

Quando analisamos a descrição do MODELO 1 feita por este mesmo

grupo (p. 98), não conseguimos saber se estavam se referindo ao objeto

tridimensional ou à projeção no plano de base, porém, se compararmos com a

descrição que fizeram do MODELO 2 (p. 103), podemos observar que realmente

se referiam às duas dimensões, ou seja, parecem não ter visto a figura

tridimensional, ou se viram não a descreveram, muito menos deduziram algumas

de suas propriedades formais.

Item 1.3 - Descrição do MODELO 3

As descrições que obtivemos do MODELO 3 são as seguintes:

G1 Segue as características básicas do 1º modelo. Neste caso temos uma circunferência com origem no centro e podemos notar que no 1º plano a circunferência tem raio 10 e vai diminuindo à medida que o z vai aumentado, formando um funil

G2 i) Imagine uma esfera representada pela função 100222 =++ zyx ii) Corte a esfera ao meio e separe uma metade iii) Desta metade faça 12 cortes com a mesma distância iiii) Teremos 12 circunferências com a mesma origem e variação de raio

G3 Circunferências sobrepostas, todas com centro (0,0) e raio diferente em cada uma

G4 Circunferência com centro em (0, 0) em todos os planos, variando o raio a cada plano

Para os sujeitos dos grupos G3 e G4, a figura é formada pela

sobreposição de diversas circunferências “com centro em (0, 0)”, cujo raio

107  

aumenta (diminui) a cada plano. Ao escreverem “com centro em (0, 0)” (p. 106)

observamos que são explícitos quanto a característica bidimensional de sua

descrição e que a origem a qual se referem é a origem do sistema cartesiano

bidimensional. Ao analisar as descrições destes dois grupos, G3 e G4, não

encontramos indícios de que os sujeitos tenham conseguido observar que o

modelo representa uma figura tridimensional.

Ao assistirmos a filmagem desta atividade observamos uma discussão

entre os sujeitos do G4, que identificaremos como sujeito A4 (sujeito A do G4) e

como sujeito B4 (sujeito B do G4), sobre a relação existente entre a variação do

comprimento do raio em função de z.

Sujeito A4: “Não é proporcional.” (referindo-se a relação entre o raio e o valor de z) Sujeito B4: “Como não é proporcional?” Sujeito A4: “Anota aí... 3.02, 3.16, 3.33 e 3.54.” (referindo-se aos raios de circunferências que estavam montadas sequencialmente) Sujeito B: “Então, mas para cada uma também tem o valor de z. Olha aqui... z = 11, z = 12...” Sujeito A4: “Mas eu acho que este z não interfere em nada.” Sujeito B4: “Interfere sim. Veja aqui ... quando z = 11 o raio mede 3.02... Vamos passar a limpo (referindo à folha de respostas que deveriam preencher para entregar). Todas [as circunferências] têm centro em (0,0), certo?” Sujeito A4: “Certo.” Sujeito B4: “Com o centro variando em função do z (balbucia enquanto escreve), ou não? (dirigindo se ao outro sujeito)“ Sujeito A4: “Bom, se você considerar a equação [da circunferência] pode ser que sim, mas o z não tem o mesmo intervalo...”

O sujeito B4 termina de escrever que “modifica o raio em função de z” e o

sujeito A4, aparentemente contrariado, concorda e desiste do debate.

Ao analisar este trecho da filmagem verificamos que o sujeito A4, ao

observar que não há proporcionalidade entre a variação do comprimento dos

raios (3.02, 3.16, 3.33, 3.54, etc.) e os valores de z (11, 10, 9, 8, etc.), justificou

que não poderiam estar relacionados, ou seja, que o “z não interfere em nada”,

108  

como se duas grandezas somente pudessem relacionar-se se houvesse

proporcionalidade entre elas.

Tendo em vista que os sujeitos da pesquisa são alunos do 3º Ano do

Curso de Licenciatura em Matemática, acreditamos que em sua trajetória

acadêmica tenham desenvolvido aprendizagem sobre funções do 2º grau e que

tenham verificado que, nestas funções, embora haja dependência entre os

valores da função e o valor da variável, não existe proporcionalidade entre um e

outro.

A justificativa do sujeito A4 parece indicar, no entanto, que se duas

grandezas não são proporcionais então elas não podem estar relacionadas. A

nosso ver, esta concepção pode indicar que durante a aprendizagem anterior não

tenha havido a interação entre aspectos intuitivos e algorítmicos (fazer tabelas

com valores de x e f(x), traçar gráficos da função) e aspectos formais dos

conceitos que definem as funções do 2º grau, entre os quais o conceito que

estabelece a dependência entre dois termos que não são proporcionais.

Outra possibilidade é de que o sujeito, embora tenha desenvolvido

aprendizagem sobre as funções do 2º grau e compreenda a possibilidade de

relação entre grandezas não proporcionais, não tenha conseguido mobilizar estes

conhecimentos em um contexto diferente daquele em que se deu a

aprendizagem anterior.

Acreditamos que, se houvesse tempo hábil para que entrevistássemos o

sujeito A4, poderíamos obter mais informações que pudessem esclarecer-nos

sobre suas concepções e complementar a análise desta atividade.

O MODELO 3 foi gerado a partir da equação da quádrica z

yx 10022 =+ . Os

gráficos bidimensionais que compõem o modelo representam cortes paralelos ao

plano xy. Caso representássemos a figura por meio dos gráficos bidimensionais

correspondentes a cortes feitos em planos paralelos ao plano xz ou ao plano yz,

obteríamos gráficos bidimensionais de hipérboles. Acreditamos que se o sujeito

A4 tivesse desenvolvido a visualização da figura iria perceber que o crescimento

dos raios, observável nas transparências, descreve uma hipérbole e não uma

reta e que embora as variáveis relacionem-se, esta relação não é linear.

109  

Os sujeitos do G1 também informaram que as circunferências que

compõem o MODELO 3 têm centro na origem e que “vão diminuindo na medida

em que z vai aumentando” (p. 106). Ressaltaram o formato tridimensional da

figura que, de acordo com a descrição que deram, tem forma de “funil”. Ao

analisarmos esta resposta, observamos novamente que aspectos intuitivos

parecem prevalecer sobre os demais, ou porque os sujeitos evitaram descrever a

figura a partir de suas propriedades formais contentando-se em descrevê-la como

um “funil” ou porque não desenvolveram aprendizagem que mobilizasse aspectos

formais envolvidos nesta atividade.

Ao observarmos as respostas do G3 e G4 (p. 106), novamente verificamos

que a forma tridimensional do modelo foi deixada de lado e que os sujeitos

focaram a descrição na posição do centro e no tamanho das circunferências.

A resposta do G2 sugere que “imaginemos uma esfera” de raio igual a 10

unidades, que a “cortemos ao meio”, separemos uma das metades e que

façamos “doze cortes com a mesma distância“ nesta metade, obtendo assim

doze circunferências “com a mesma origem e variação de raio” (p. 106). Esta

descrição pode indicar que os sujeitos do G2 conseguiram desenvolver a

apreensão de que o modelo que apresentamos é formado pela planificação de

diversos cortes em um objeto tridimensional (sugerem uma esfera como

exemplo) feitos a mesma distância um do outro. Este detalhe parece não ter

sido observado pelos demais grupos, ou se foi, pelo menos não foi citado em

nenhuma das descrições. Vale ressaltar, no entanto, que as doze circunferências

obtidas pela sugestão do G2, embora possuam centro na origem e embora o

comprimento do raio aumente (diminua) em função de z, quando as sobrepomos

temos uma semi-esfera e não um hiperbolóide.

No item 1.4, pedimos aos sujeitos que escrevessem sobre as diferenças

que observaram entre um modelo e outro. Seguem as respostas que obtivemos

de cada um dos grupos:

110  

G1 No MODELO 1 nós temos uma circunferência na 1ª transparência e que sai do 4º quadrante e vai até o primeiro [quadrante] passando pela origem nas demais transparências. No MODELO 2 nós temos uma circunferência do quarto vai para o 1º quadrante sem passar pela origem e passando pelo 3º quadrante. No MODELO 3 a circunferência parte da origem e conforme o valor de z vai diminuindo o raio vai aumentando

G2 A função da origem = variação de z

G3 Como podemos observar nos modelos 1 e 2, quase parecidos, apenas os centros fazem tal sobreposição, enquanto que o raio é o mesmo. No [MODELO] 3 os centros são os mesmos para todas [as circunferências] e o raio é o responsável por tal formato

G4 Em 1 e 2 o raio não modifica e não começa na origem, sendo apenas no MODELO 1 que fica na origem quando z = 0 e em 3 começa no centro e permanece no centro modificando o raio em função de z

Para os sujeitos do G1 e do G3, a principal diferença entre o MODELO 1 e

o MODELO 2 parece ser o fato de que no primeiro caso a reta que contém os

centros das circunferências passa pela origem do sistema e no segundo não

passa e que no MODELO 3 o raio varia em função de z.

Quanto à posição dos centros das circunferências, consideramos

importante observar uma das definições dada pelos sujeitos do G3 que

escreveram que nos modelos 1 e 2 “cada circunferência tem centro diferente” e

“no [MODELO] 3 os centros são os mesmos para todas [as circunferências]”.

Os sujeitos do G4 também observam esta característica e escrevem que

“no [MODELO] 3 [o raio] começa no centro e permanece no centro”.

Estas afirmações podem demonstrar que para estes sujeitos, quando os

centros das circunferências que compõem a figura estão contidos em uma reta

perpendicular ao plano de base, então os centros “são os mesmos” e quando

estão contidos em uma reta oblíqua à base, ou quando estão contidos em uma

curva, então as circunferências “têm centro diferente”. Acreditamos que, neste

caso, os sujeitos foram influenciados pela visão bidimensional dos gráficos e não

consideraram que estavam em diferentes alturas do espaço. Parecem ter “visto”,

mas não “visualizado” a figura como um todo.

111  

Ao analisarmos a descrição que deram à luz de uma abordagem que leva

em conta aspectos intuitivos, algorítmicos e formais da atividade matemática,

acreditamos que o poder coercivo de componentes intuitivas, como a visão dos

gráficos e a constatação de que nesses gráficos bidimensionais todas as

circunferências possuem o mesmo centro tenha se sobreposto à interpretação

formal da figura.

O G2 tentou resumir as diferenças por meio da frase “a função da origem =

variação de z” (p. 110). Acreditamos que se tivessem escrito mais sobre as

diferenças que observaram teríamos condições de fazer inferências mais

fundamentadas, porém, pela curta frase, parece que se referiam à relação

observável entre os valores de z (“variação de z”) e as características das

circunferências que compunham os modelos, que ora variavam a localização do

centro, ora variavam o tamanho, dependendo do valor de z.

No item 1.5, perguntamos aos sujeitos se conseguiriam imaginar qual seria

a projeção dos modelos no plano de base e pedimos que justificassem. Seguem

as respostas que obtivemos:

G1 MODELO 1 – temos uma reta crescente que passa pela origem e que em todos os seus pontos temos uma circunferência. MODELO 2 – Várias circunferências que vão formando um círculo maior. MODELO 3 – Uma circunferência menor com origem no centro (0, 0) e vai aumentando o diâmetro como se fosse um alvo

G2 Anexo desenhos

G3 Imagino que todas as circunferências estariam no mesmo plano cartesiano, pois não daria para separar cada circunferência em um plano cartesiano diferente e colocar no plano de base

G4 MODELO 1: uma espiral, escala inclinada. MODELO 2: Uma escada circular: MODELO 3: uma mola, cone

112  

Com este item (1.5), esperávamos verificar se os sujeitos, subsidiados

pela visão simultânea dos gráficos bidimensionais, conseguiriam fazer a relação

entre o registro de representação gráfico tridimensional e um dos registros de

representação gráfico bidimensional, que neste caso são as curvas de nível.

Dentre as respostas, observamos que o G1 foi o que melhor conseguiu

expressar a ideia da sobreposição das circunferências no plano de base.

Ao descreverem a projeção do MODELO 1 escreveram “temos uma reta

crescente que passa pela origem e que em todos os seus pontos temos

circunferências” (p. 111). A reta à qual se referem é a reta formada pela união

dos pontos centrais das circunferências que formam o modelo. Quando projetada

no plano de base, é uma reta crescente. Como na transparência z = -5 o centro

encontra-se no ponto C (-5, -5) e na transparência z = 6 encontra-se no ponto C

(6, 6), podemos calcular a inclinação da reta (igual a 1) e o coeficiente linear

(igual a zero).

Ao descreverem a projeção do MODELO 2, escrevem “várias

circunferências que vão formando um círculo maior” (p. 111). Considerando que

os raios das circunferências encontram-se sobre uma curva e que esta curva,

quando projetada no plano de base, corresponde à circunferência cuja equação é 222 6=+ yx , avaliamos como correta a descrição dada.

Ao descreverem a projeção do MODELO 3, escrevem “uma circunferência

menor com origem no centro (0, 0) e que vai aumentando o diâmetro como se

fosse um alvo” (p. 111). Embora tenham associado a visão que obtiveram a um

“alvo”, formado pela sobreposição das 12 circunferências concêntricas e de raios

diferentes, observamos que deixaram de expressar um detalhe importante sobre

a relação estabelecida entre a altura da transparência e o diâmetro da

circunferência. Neste modelo, gerado a partir da equação da quádrica

222 100

zyx =+ , a relação entre a altura em que a transparência se encontra e o

raio da circunferência não é linear, ou seja, se considerarmos a variação linear

entre as cotas, as curvas de nível correspondentes não obedecerão o mesmo

crescimento. No DESENHO 25 reproduzimos um alvo usado em competições de

arco e flecha e no DESENHO 26 reproduzimos as curvas de nível da figura

representada pelo MODELO 3 em alturas correspondentes aos valores inteiros

113  

de z de 1 à 10. No DESENHO 25 podemos observar o distanciamento uniforme

entre os círculos e no DESENHO 26 não. De acordo com a descrição dada pelo

grupo, não é possível inferir se observaram ou não esta relação.

DESENHO 25. ALVO PARA COMPETIÇÕES DE ARCO E FLECHA

 

DESENHO 26. CURVAS DE NÍVEL CORRESPONDENTES AO MODELO 3

O G3 escreveu que “todas as circunferências estariam no mesmo plano de

base” (p. 111). Consideramos que apesar da concisão a descrição resume, em

parte, o que ocorre quando representamos um objeto tridimensional por meio das

curvas de nível. Os sujeitos poderiam ter sido mais específicos sobre como seria

114  

a projeção dos modelos utilizados na atividade. Também poderiam complementar

a resposta e informar que as curvas são identificadas de acordo com a cota em

que se encontram. A justificativa que deram parece indicar que conhecem a

técnica envolvida na representação em curvas de nível, porém não apresentaram

detalhes que nos permitissem afirmar se seriam capazes de fazer a

representação das figuras estudadas nesta atividade. Ao analisar a descrição,

observamos que trazem à tona aspectos algorítmicos, mas parecem negligenciar

componentes formais das quádricas.

O G2 preferiu desenhar as representações das figuras em perspectiva,

embora solicitássemos que imaginassem a projeção em um plano de base.

Acreditamos que, neste caso, ou os sujeitos não entenderam que ao mencionar

as projeções planas estávamos nos referindo às curvas de nível e não às

perspectivas; ou a concepção de projeção plana que têm estava associada à

representação em perspectiva. A fim de complementar as conclusões desta

pesquisa, pretendemos posteriormente fazer uma entrevista com os sujeitos para

esclarecer-nos sobre a concepção que tinham sobre representação em

perspectiva e em curvas de nível.

Os sujeitos do G4 optaram por utilizar referências do cotidiano para

descrever os modelos. Descreveram o MODELO 1 como “uma espiral, escala

inclinada” provavelmente em referência à característica oblíqua (inclinada) do

cilindro; o MODELO 2 como “uma escada circular” aparentemente em analogia

com uma escada em formato de caracol (ou escada em espiral), como a

representada na FOTO 8; e o MODELO 3 como “uma mola, cone” (p. 111), o que

acreditamos ser uma referência a uma mola espiral em formato cônico.

115  

FOTO 8. ESCADA EM ESPIRAL

 Apesar das descrições dadas pelo G4 não se referirem a projeções

planas, conforme havíamos solicitado, pudemos observar que ao comparar o

MODELO 2 com “uma escada circular”, os sujeitos deram indicações de que a

percepção visual que tinham da figura era diferente da que nós imaginávamos

quando criamos o modelo. Nesta ocasião, diante da impossibilidade de

representar todas as características da figura, idealizamos uma representação

que pudesse reunir algumas dessas características. Para isso, simulamos alguns

cortes em planos paralelos ao plano xy e montamos estes cortes, obedecendo a

uma sequência e um espaçamento padrão, num modelo que, a nosso ver,

poderia representar a figura.

Para os sujeitos do G4, entretanto, a figura consistia em um conjunto de

“circunferências com centro em (0,0) em todos os planos, variando o raio a cada

plano” (p. 106), ou seja, consistia em um conjunto de planos bidimensionais e

não na representação de um objeto tridimensional. Esta descrição mostra que

para estes sujeitos, apenas algumas das características da figura contidas no

modelo não foram suficientes para que imaginassem a figura tridimensional que

desejávamos representar.

116  

No item 1.6 perguntamos aos participantes se achavam possível imaginar

um objeto tridimensional a partir da projeção horizontal das diversas

circunferências sobre o plano de base. Além de responder solicitamos que

justificassem. Obtivemos as seguintes respostas:

G1 Só seria possível se fosse representado em perspectiva

G2 Sim. Com a representação com os três eixos conforme anexo gráficos

G3 Sim, pois se estivesse no plano de base todas as circunferências, seria só imaginar todas elas (circunferências) se separando cada uma em um plano

G4 Não, pois cada plano estaria paralelo

Neste item (1.6), esperávamos verificar se os sujeitos conseguiriam fazer a

conversão no sentido oposto ao que havíamos solicitado no item 1.5, ou seja, se

conseguiriam relacionar a representação gráfico-bidimensional (curvas de nível)

com o próprio objeto.

Ao analisar as respostas, consideramos a justificativa dada pelo G3 a que

melhor representa a conversão necessária entre as projeções planas e o objeto.

Após responder afirmativamente, o grupo justifica que “se estivesse no plano de

base todas as circunferências, seria só imaginar todas elas (circunferências) se

separando cada uma em um plano”.

Os sujeitos do G1, que no item anterior melhor tinham conseguido

expressar a ideia da sobreposição das circunferências em um plano de base, ao

responder este item escreveram que “só seria possível se fosse representado em

perspectiva”, ou seja, não seria possível chegar ao objeto a partir de suas curvas

de nível. A fim de investigar a aparente contradição entre o que fizeram no item

anterior e o que afirmaram nesta, recorremos à filmagem e conseguimos captar a

seguinte discussão:

Sujeito A1: “Só dá em perspectiva, porque em perspectiva você tem a noção de profundidade, agora se você desenhar assim óh (olhando o

117  

modelo por cima, com o olho sobre o eixo Oz, no sentido de Oz+ para Oz- de modo a ver todos os gráficos simultaneamente, como se estivessem projetados em um único plano), não dá não!” Sujeito B1: “Desse jeito que foi feito dá para imaginar (levantando o modelo com as mãos e mostrando-o ao sujeito A1).” Sujeito A1: “Mas na lousa?” (perguntando se devem imaginar a figura a partir do modelo ou da projeção no plano, que aqui chamou de lousa)

Sujeito B1: “A questão diz no plano. Aí concordo com você. Só dá se for em perspectiva.”

A fim de compreender melhor a concepção que estes sujeitos tinham

sobre a projeção em um plano de base, adiantamo-nos na análise e fomos

verificar o modo como desenharam as curvas de nível, solicitadas no item 3.3 da

Atividade 3 (p. 129) e no item 6.1 da Atividade 6 (p. 142).

Observamos, tanto em uma atividade quanto em outra que, embora

tenham esboçado corretamente as curvas no plano cartesiano, não as

identificaram de acordo com a cota correspondente. Auxiliados por esta

informação, acreditamos que a resposta do grupo, apesar de incorreta, se

justifique se levarmos em conta o modo como os sujeitos compreendem o que

são curvas de nível. Para estes sujeitos, como não há informações adicionais

quanto às cotas nas curvas de nível (como nos esboços que fizeram), então não

é possível imaginar o objeto tridimensional a partir dessas curvas e neste caso, a

tarefa somente seria possível se a figura fosse representada em perspectiva.

Os sujeitos do G4 também responderam negativamente e escreveram que

“cada plano estaria paralelo”. Acreditamos que, a exemplo do G1, estes não

estavam considerando a necessidade de que as diversas projeções fossem

identificadas. Ao escrever que os planos estariam paralelos, provavelmente

estavam se referindo a planos paralelos e coincidentes e nesse caso, embora

incorreta, a resposta parece ser coerente com a concepção que estes sujeitos

têm sobre as curvas de nível.

Os integrantes do G2 responderam que seria possível “com a

representação com os três eixos” e desenharam gráficos em perspectiva, no

entanto, de acordo com o enunciado da pergunta (QUADRO 1), esta resposta

118  

parece ser negativa e não afirmativa, pois referíamo-nos a projeção horizontal em

um plano de base e não a representação em perspectiva.

1.6) Você acha que seria possível imaginar um objeto tridimensional a partir da projeção 

horizontal das diversas circunferências sobre o plano de base? Justifique.

QUADRO 1. ENUNCIADO DO ITEM 1.6

Acreditamos, a exemplo do que havíamos observado no item 1.5, que, se

houvesse possibilidade de entrevistar os sujeitos do G2, poderíamos aprofundar

a análise e procurar compreender quais são as concepções destes sujeitos sobre

representações por meio de perspectivas e por meio de curvas de nível.

Pretendemos realizar esta tarefa após o término deste trabalho.

Ao apresentar esta primeira atividade, esperávamos, além de proporcionar

aos participantes um primeiro contato com o modelo de representação

tridimensional, verificar se conseguiam perceber e expressar algumas das

características que consideramos importantes para o desenvolvimento da

visualização das superfícies quádricas como, por exemplo, o fato de que nos

modelos 1 e 2 as circunferências têm o mesmo comprimento de raio e no

MODELO 3 têm raios diferentes ou que nos modelos 1 e 3 os centros das

circunferências encontram-se sobre uma reta e no MODELO 2 encontram-se

sobre uma curva.

Ao observar as respostas dadas pelos sujeitos aos itens 1.1, 1.2, 1.3 e 1.4,

verificamos que, apesar de se expressarem de maneiras particulares, alguns

usando notação matemática (“imagine uma linha inclinada cuja função é xy = ”)

(p. 98), outros usando comparações com objetos concretos do cotidiano

(“imagine uma mola” (p. 103), “como se fosse uma mangueira na diagonal” (p.

98), ou “à medida que z vai aumentando, formando um funil” (p. 106)) , em geral,

conseguiram observar e descrever as características que destacamos.

Observamos que nos itens 1.5 e 1.6, quando nos referíamos a

representações planas por meio da projeção no plano de base, os sujeitos do G2

e do G4 apresentaram respostas que envolviam perspectivas. Numa próxima

119  

atividade, talvez devamos modificar o enunciado das questões a fim de tornar

explícito que nos referimos à projeção plana e a nenhum outro tipo de

representação.

Quando concebemos o MODELO 3, imaginávamos verificar se os sujeitos

perceberiam que o tamanho das circunferências e a altura em que as mesmas

estavam relacionavam-se de forma não linear, porém, com exceção da discussão

dentro do G4 (p. 116), não pudemos obter dados adicionais que nos permitissem

verificar se isso ocorreu ou não. Numa próxima oportunidade de repetir o

experimento, talvez devamos apresentar um modelo adicional em forma de cone,

a fim de que seja comparado ao MODELO 3, que representa um hiperbolóide e

verificar se os sujeitos conseguem perceber e descrever que em um existe uma

relação de proporcionalidade entre o raio e o valor de z e no outro não.

Acreditamos que alguns grupos, em alguns itens, não tenham conseguido

obter a percepção visual do objeto a partir do modelo de representação, como na

resposta que o G3 apresentou ao item 1.2 ao descrever o MODELO 2 (p. 103) de

forma excessivamente limitada, informando que os “raios não mudavam e o que

mudava era o centro”, sem referir-se a outras propriedades da figura, como por

exemplo o fato dos centros das circunferências encontrarem-se sobre uma curva

ou sobre a forma que a figura possuía.

Outras vezes observamos que um determinado grupo, em uma

determinada atividade, conseguiu captar a visão do objeto a partir do modelo de

representação, porém não demonstrou tê-lo visualizado, como nas descrições

sobre o comportamento dos centros das circunferências apresentadas pelos

grupos G3 e G4 (p. 110), nas quais escrevem que nos modelos 1 e 2 “as

circunferências tem centro diferente” e no MODELO 3 os “centros são os

mesmos”, sem levar em conta a tridimensionalidade do objeto.

Por outro lado, alguns grupos, em alguns itens, conseguiram mostrar

indicações de procurar a visualização das superfícies quádricas, como por

exemplo, a descrição do G3 no item 1.6, em que sugerem “imaginar as

circunferências se separando cada uma em um plano” (p. 116) para ilustrar o

modo pelo qual poderíamos idealizar uma figura a partir de suas curvas de nível.

120  

5.3.2 Atividade 2

 Esta atividade tem os itens 2.1, 2.2 e 2.3.

Inicialmente, entregamos aos participantes onze transparências impressas

com representações gráficas de circunferências com centro na origem e com

comprimentos de raio que vão de 1 a 10 unidades, além de espaçadores e

hastes plásticas, similares aos utilizados nos modelos da Atividade 1.

No item 2.1, solicitamos que montassem as transparências, espaçando-as

umas das outras, de modo que ficassem sobrepostas.

Observamos que o contato que tiveram com os modelos na Atividade 1

parece ter criado a familiarização com este tipo de representação, pois

executaram sem dificuldade as tarefas práticas da montagem (ordenação das

transparências, colocação das hastes, colocação dos espaçadores, etc.).

No item 2.2, pedimos que descrevessem, com palavras, quais foram os

critérios que utilizaram quanto à escolha do tamanho das circunferências e

quanto à posição em que decidiram colocá-las.

Transcrevemos a seguir as respostas obtidas.

G1 Separamos as circunferências de raio par e as de raio impar, e montamos as de raio par e as de raio impar do maior para o menor de fora para dentro do cubo, formando duas cônicas distintas

G2 Da menor para a maior

G3 Decidimos alternar o tamanho e a posição das circunferências, colocando assim uma maior e uma menor, depois novamente uma maior e outra menor, assim por diante, formando assim um zig zag

G4 Começamos onde a circunferência tinha raio 10 (maior) e sequenciando até chegar onde o raio foi igual a zero. Sendo sua posição da maior para a menor circunferência

Nosso objetivo ao propor esta atividade e solicitar as justificativas por

escrito era verificar se os alunos conseguiriam promover a interação entre

componentes intuitivas (conhecimentos aceitos sem necessidade de

121  

demonstrações ou provas) e componentes algorítmicas (os procedimentos de

montagem) da atividade de criação de um modelo de representação

tridimensional e se conseguiriam desenvolver a visualização da quádrica a partir

desta representação.

Ao analisarmos a filmagem desta atividade verificamos que todos os

grupos, aparentemente de forma intuitiva, ordenaram as transparências em

ordem crescente (decrescente) antes de iniciar a montagem.

Observamos que os grupos G2 e G4 montaram obedecendo a uma ordem

determinada pelo tamanho das circunferências, da menor para a maior, ou da

maior para a menor, formando a representação de um cone. Os sujeitos do G1 e

do G3, no entanto, após ordenarem as transparências de acordo com o tamanho,

escolheram outros critérios de montagem.

Conforme a descrição feita pelo G1, “separaram as circunferências de raio

par e de raio ímpar e montaram da maior para a menor, de fora para dentro do

cubo” (p. 120).

Percebemos que, assim como haviam feito na Atividade 1, novamente

referiram-se ao modelo como “um cubo”. Como dissemos anteriormente, o

modelo é formado por transparências quadradas que, quando empilhadas, fazem

com que o modelo tenha a forma de um paralelepípedo reto, não de um cubo.

Apesar deste não ser o foco de nossa análise, observamos que, tanto nas

atividades desta pesquisa como em nossa prática didática e em situações

cotidianas, por vezes atribui-se a uma forma o nome de um objeto matemático

sem que esta forma possua as propriedades que definem tal objeto. Isso

acontece quando, por exemplo, os alunos referem-se a um retângulo chamando-

o de quadrado ou quando se referem a uma circunferência chamando-a de

“bola”. Nos Jogos Olímpicos de 2008, a cidade de Pequim mostrou ao mundo o

Centro Aquático Nacional, um conjunto para competições aquáticas que ficou

popularmente conhecido como “Cubo d’Água”. De acordo com a notícia de um

jornal da época, o complexo esportivo ganhou este nome por ser “um enorme

cubo formado por estruturas geométricas em forma de bolhas de água11”.

                                                            11 O local onde serão realizadas as competições de natação é um enorme cubo formado por estruturas geométricas semelhantes a bolhas de água (Folha de São Paulo, 11/11/2007 – Caderno Esporte, pag. D5)

122  

As fotos do conjunto mostram (ver FOTO 9) que, apesar de possuir uma

base quadrada, o conjunto não tem a forma de um cubo, mas de um

paralelepípedo. Ao pesquisarmos o sítio oficial da competição verificamos que as

dimensões da construção não deixam dúvidas: o conjunto possui como base um

quadrado com 178 metros de lado e 31 metros de altura12.

Acreditamos que esta contradição pode demonstrar a falta de validação

dos aspectos intuitivos do objeto pelos aspectos formais. Neste caso, a forma do

modelo de representação pode ter feito com que os sujeitos se lembrassem de

um cubo, fazendo com que estes, intuitivamente, aceitassem isso como suficiente

e descrevessem-no como um cubo.

FOTO 9. CENTRO AQUÁTICO NACIONAL DE PEQUIM

 De acordo com a descrição que fizeram, os sujeitos do G1 “separaram as

circunferências de raio par e as de raio impar” e montaram-nas da “maior para a

menor de fora para dentro”. Ao observar o modelo, verificamos que a

representação que montaram apresentava a sobreposição ordenada de

circunferências com os seguintes raios: 10, 8, 6, 4, 2, 1, 3, 5, 7 e 9.

Ao simularmos, por meio do programa de geometria dinâmica Cabri 3D,

uma das possíveis figuras obtidas pelos sujeitos, conseguimos as vistas em

perspectiva e em perfil (ver DESENHO 27) e verificamos que a figura apresenta

dois cones, com a mesma inclinação, porém com vértices distintos. Os sujeitos

do G1, no entanto, escreveram que a disposição das circunferências forma “duas

                                                            12 Official Olympics Site National Aquatics Center - http://en.beijing2008.cn

 

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124  

Embora não possamos afirmar que os sujeitos vislumbraram a figura antes

da montagem, pudemos observar, ao ver a filmagem, que os gestos que faziam

com as mãos, imitando uma onda, parecem indicar que tinham uma ideia prévia

de como seria a figura depois de montada.

DESENHO 28. CORTE DE UMA FIGURA NO PLANO YZ

 Após a montagem, promovemos um momento no qual os grupos

mostraram uns aos outros os modelos que haviam criado. Nossa intenção era

verificar se os sujeitos, ao verem figuras distintas formadas pelas mesmas onze

transparências, conseguiriam perceber a potencialidade do modelo para a

representação de diferentes objetos tridimensionais, de acordo com o tamanho

das circunferências, com a posição em que seriam colocadas e com o

espaçamento entre uma e outra.

No item 2.3 perguntamos aos participantes se consideravam possível criar

a representação de outro sólido a partir das mesmas 11 circunferências.

As respostas obtidas foram as seguintes:

G1 Sim, apenas mudando a ordem das figuras

G2 Sim. Dois cones com a mesma origem, sendo um formado com as circunferências de raio par e outro com raio impar

125  

G3 Não, no meu ponto de vista não. Mas quem sabe por outro ponto de vista poderia ser feito

G4 Sim. Basta inverter as várias posições das circunferências. Esta que fizemos forma um funil. Se invertermos nos dava um cone

O G3, apesar de ter visto os modelos montados pelos outros grupos,

respondeu negativamente, dizendo que pelo seu “ponto de vista não”, porém “por

outro ponto de vista poderia se feito”. Apesar de termos recorrido à filmagem, não

conseguimos obter informações adicionais que nos permitissem entender se os

sujeitos estavam falando do “ponto de vista” matemático, em referência ao local

onde o observador se coloca para observar determinado fenômeno; ou se

estavam referindo-se ao “seu ponto de vista” como quem quisesse dizer “em

minha opinião”, “a meu ver”. Para um melhor entendimento, pretendemos

recorrer a estes sujeitos e entrevistá-los, após o término desta pesquisa.

Acreditamos que dessa forma possamos obter informações que complementem

as conclusões deste trabalho.

Dentre os grupos que responderam afirmativamente, a justificativa

apresentada pelo G4 pode apontar uma falha relacionada ao entendimento dos

conceitos matemáticos envolvidos na representação das superfícies quádricas.

Os sujeitos associaram duas figuras diferentes, um cone e um funil, a duas

figuras obtidas pela inversão da ordem de montagem. De acordo com a descrição

que fizeram, ao montarem da maior para a menor (a maior na parte de baixo)

obteriam um cone e ao montar da menor para a maior obteriam um funil (p. 124).

Ao analisar esta justificativa, pareceu-nos que, de acordo com o

entendimento do G4, em um funil as circunferências maiores estão em cima e em

um cone as circunferências maiores estão embaixo, ou seja, para estes sujeitos,

o objeto matemático que chamaram de “cone” e o que chamaram de “funil” são

diferentes.

Acreditamos que, neste caso, os sujeitos fizeram a associação direta entre

o objeto matemático e o utensílio funil, que normalmente é utilizado com a parte

maior para cima, assim como associaram o objeto matemático cone ao utensílio

de mesmo nome usado para sinalização, que normalmente está com a parte

126  

maior para baixo. Ao desconsiderar as propriedades formais que definem um

cone e associá-lo aos objetos concretos do cotidiano, os sujeitos levaram em

conta a componente intuitiva da atividade (conhecimentos prévios, aceitos sem

necessidade de demonstrações ou provas) e a componente algorítmica

(relacionada à ordem em que dispuseram as circunferências e aos

procedimentos de montagem), porém negligenciaram aspectos formais

envolvidos na representação das figuras que haviam montado.

5.3.3 Atividade 3

 Esta atividade tem os itens 3.1, 3.2 e 3.3.

No item 3.1, solicitamos aos sujeitos que montassem a representação

tridimensional correspondente à expressão algébrica zyx =+ 22 (parabolóide)

para os valores inteiros de z = 0 até z = 10, utilizando para isso as 11

transparências que lhes foram entregues.

Auxiliados pelas indicações do raio e do valor de z que estavam impressos

nas transparências, todos os participantes conseguiram realizar a tarefa sem

dificuldades, bastando que ordenassem as circunferências em ordem crescente

dos raios, respeitando uma unidade de espaçamento entre elas.

No item 3.2 solicitamos aos sujeitos que identificassem e descrevessem a

relação entre o valor de z e o comprimento do raio da circunferência.

Transcrevemos a seguir as respostas que obtivemos.

G1 A relação entre z e o raio é que o raio será sempre a raiz de z

G2 O raio é igual a nz

1016,3

...373,1

241,1

11

00

10

3

2

1

0

==

==

==

==

==

z

z

z

z

z

127  

G3 Sim. O raio é a raiz quadrada de z, porque pela expressão algébrica

zyx =+ 22 e 2rz =

G4 Sim. O valor do meu raio é dado, ou melhor, encontrado em função do valor de z, quando o centro da circunferência está na origem

Ao propor a questão 3.2, esperávamos verificar se os sujeitos

conseguiriam estabelecer a relação entre o aumento linear do parâmetro z (0, 1,

2, 3, ... , 10) e o aumento não linear do comprimento do raio da circunferência.

Os sujeitos do G2 validaram a resposta de modo empírico. Ao perceberem

que o crescimento não era linear (o aumento de 1 unidade no valor de z não

correspondia a aumentos iguais no comprimento do raio), parecem ter

encontrado familiaridade com alguns dos números que indicavam o comprimento

dos raios (1,14, 1,73, 2, etc.) e relacionaram estes às raízes quadradas de

inteiros ( 4,3,2 , etc.) por meio de uma tabela que desenharam no verso da

folha. Quando verificaram que os valores relacionavam-se e que a raiz quadrada

correspondia ao raio das circunferências em cada uma das respectivas alturas,

responderam que “o raio é igual a nz ” (p. 126).

Os sujeitos do G1 apresentaram a mesma resposta do G2, mas não

fizeram nenhum esboço nos protocolos.

A nosso ver, apesar dos grupos G1 e G2 terem respondido corretamente,

a componente algorítmica, envolvida na determinação da relação entre z e o

comprimento do raio por meio de uma tabela, prevaleceu sobre as demais.

Embora houvéssemos solicitado que justificassem, pareceu-nos que, para estes

sujeitos, foi suficiente apresentar a solução. Não encontramos indicações, seja

nos protocolos, seja na filmagem, de que tenham relacionado a equação da

circunferência com a expressão algébrica da quádrica e verificado que quanto

maior o valor de z maior o raio, ou que tenham verificado que o crescimento dos

raios em função do valor de z corresponde a uma parábola e que, por este

128  

motivo, a figura tem um formato parabólico, entre outras observações que

poderiam ter feito.

Os sujeitos do G4 responderam afirmativamente que haviam conseguido

identificar a relação entre o valor de z e o raio das circunferências, porém

justificaram que “o valor do raio é encontrado em função do valor de z, quando o

centro da circunferência está na origem” (p. 126) sem apresentar a relação que

afirmaram ter identificado. A princípio, como não explicitaram, imaginamos que

não haviam conseguido encontrar; porém, ao verificar o esboço que fizeram da

quádrica no item 3.3, pudemos observar que, além de identificarem cada uma

das curvas de nível corretamente, apresentaram indicações de que haviam

compreendido que o valor do raio é igual à raiz quadrada de z, conforme o

DESENHO 29.

DESENHO 29. ESBOÇO DO G4 – ITEM 3.3

 Os sujeitos do G3 escreveram que “o raio é a raiz quadrada de z, porque

pela expressão algébrica zyx =+ 22 e 2rz = ” (p. 126), estabelecendo uma

relação direta entre a equação reduzida da circunferência, dada por 222 ryx =+ e a expressão algébrica da quádrica apresentada nesta atividade, dada por

zyx =+ 22 , chegando à conclusão que 2rz = .

Embora não tenham comentado, com palavras, que a relação entre a cota

e o raio da circunferência corresponde a uma parábola, ou que não existe

129  

circunferência quando para valores de z negativos, a justificativa apresentada

pelo G3 foi a que mais se aproximou do entendimento que esperávamos que

tivessem desta atividade e mostra indicações de que os sujeitos conseguiram

estabelecer a relação formal entre as circunferências representadas nos cortes

paralelos ao plano xy e a figura tridimensional.

A nosso ver, a capacidade de fazer a conversão do registro gráfico

tridimensional para o registro gráfico bidimensional pode colaborar com o

desenvolvimento da visualização. Por isto propomos o item 3.3, no qual

solicitamos aos participantes que imaginassem a projeção das transparências no

plano de base e pedimos que as desenhassem em um plano cartesiano.

Os quatro grupos fizeram desenhos similares ao que apresentamos no

DESENHO 30, feito pelo G4. O G3 também desenhou as curvas com a

identificação do z correspondente, porém nos desenhos dos grupos G1 e G2 não

havia indicações que associassem as circunferências às suas respectivas cotas.

Ao analisar o esboço que os sujeitos do G4 fizeram, recorremos às

respostas que haviam escrito no item 1.6 da Atividade 1 (p. 116) e verificamos

que, naquele momento, responderam que não era possível imaginar um objeto

tridimensional a partir de sua representação plana, porém neste item (3.3)

representaram corretamente a quádrica por meio das curvas de nível,

identificando as curvas de acordo com as cotas, a partir da representação

tridimensional.

A nosso ver, a análise desta situação pode implicar uma de pelo menos

três constatações: a) os sujeitos não conseguem imaginar uma figura

tridimensional a partir das curvas de nível, porém conseguem fazer o caminho

inverso e representar a figura tridimensional por meio das curvas de nível; b) os

sujeitos desenvolveram algum tipo de aprendizagem entre a Atividade 1 e esta

atividade (Atividade 3) que os permitiu esboçar e identificar corretamente as

curvas de nível a partir da representação tridimensional da figura; ou c)

responderam a questão proposta no item 1.6 sem que houvessem compreendido

o enunciado.

130  

DESENHO 30. PROJEÇÃO DE UMA QUÁDRICA NO PLANO DE BASE

Os sujeitos do G1 fizeram o esboço das curvas de nível, porém não as

identificaram de acordo com a cota correspondente. A fim de melhor

compreender a concepção que estes sujeitos tinham sobre representações

planas, recorremos ao item 1.6 da Atividade 1 e verificamos que, ao serem

perguntados sobre a possibilidade de representação plana de uma figura

tridimensional, responderam que “só seria possível se fosse representado em

perspectiva” (p. 116). Os esboços que estes sujeitos fizeram, assim com os que

foram feitos pelos sujeitos do G2, são compatíveis com a visão que se obtêm

quando olhamos o modelo de representação tridimensional e alinhamos a visão

com o eixo Oz. Parece-nos que, ao realizar esta etapa da atividade, os sujeitos

reproduziram intuitivamente a imagem obtida a partir do modelo, sem preocupar-

se com as propriedades formais da representação e com a necessária indicação

da cota correspondente a cada curva desenhada.

Aparentemente, apenas com o olhar, os sujeitos conseguiram obter a

percepção visual das curvas de nível, mas não mobilizaram outras informações

(como a identificação das cotas) em busca de uma organização do conhecimento

que os permitisse representar corretamente a quádrica por meio de sua projeção

num plano de base.

131  

5.3.4 Atividade 4

Esta atividade tem os itens 4.1 e 4.2

No item 4.1, solicitamos aos sujeitos que montassem a representação

tridimensional de uma superfície quádrica, a partir de suas curvas de nível,

apresentadas em um plano cartesiano, conforme o enunciado no QUADRO 2.

As curvas apresentadas correspondem à representação plana de um

elipsóide.

4.1) Utilizando as 11 transparências que foram entregues ao seu grupo, monte a 

representação tridimensional correspondente à representação bidimensional 

dada no gráfico abaixo. 

QUADRO 2. ENUNCIADO DO ITEM 4.1

Todos os grupos associaram corretamente a informação do valor de z, que

estava indicada no gráfico, com a altura em que deveriam colocar as

circunferências e chegaram à representação tridimensional de um elipsóide.

No item 4.2, solicitamos que descrevessem a figura obtida.

132  

Todos os grupos, aparentemente influenciados pelo formato oval da

representação e pelas variáveis concretas envolvidas na montagem, como o

tamanho dos espaçadores, descreveram-na como um elipsóide, porém não

encontramos indicações de que tenham procurado validar a impressão visual que

tiveram após a montagem.

De um ponto de vista que considere a necessidade da interação entre

aspectos intuitivos, algorítmicos e formais na atividade, parece-nos que neste

caso aspectos intuitivos (a visão do objeto oval) e algorítmicos (as técnicas de

montagem, a feitura do objeto) sobrepuseram-se a aspectos formais.

Quando concebemos esta atividade, imaginávamos que os sujeitos

poderiam descrever a figura a partir das informações observáveis nas curvas de

nível e na representação tridimensional, elencando suas principais

características. Poderiam, por exemplo, comentar o fato de que o corte paralelo

ao plano xz ou ao plano yz pode determinar uma elipse e de que vem daí o nome

que se dá a esta figura, ou o fato de que os centros das circunferências

encontravam-se no eixo z, ou que o comprimento dos raios variava de 0 (na cota

z = 5 e z = -5) até 10 unidades (na cota z = 0), entre outras.

Ao descreverem a figura como elipsóide, os sujeitos mostraram conhecê-la

e nominá-la, reunindo em uma única palavra todas as propriedades formais do

objeto. Essa “economia”, no entanto, acabou privando-nos de argumentos que

nos permitissem avaliar se os sujeitos haviam desenvolvido a apreensão formal

sobre o objeto em questão ou se apenas sabiam o seu nome. A fim de

complementar as conclusões, após o término desta pesquisa pretendemos

entrevistar os sujeitos e obter mais dados sobre as impressões que estes possam

ter sobre a figura. Numa próxima oportunidade, ao repetir esta experiência,

devemos considerar uma mudança no enunciado, como forma de evitar a

concisão de respostas que observamos nesta atividade.

A fim de incitar uma discussão sobre a figura que haviam descrito,

chamamos a atenção dos participantes para o fato de que poderíamos ter

cortado os espaçadores em tamanho maior do que o que estávamos usando.

Supondo isto, perguntamos verbalmente se ainda teríamos um elipsóide ou outro

objeto. Os sujeitos dos grupos G1, G2 parecem ter reavaliado a resposta que

133  

haviam escrito nos protocolos e responderam oralmente nosso questionamento,

como transcrevemos a seguir:

Sujeito do G2: “Então seria uma esfera” Sujeito do G3: “Aí sim, seria uma esfera!” Sujeito do G2: “É uma esfera. Está achatada por causa do tamanho dos canudinhos” (referindo-se aos espaçadores, que de acordo com sua argumentação são menores do que deveriam ser e fizeram com que a figura ficasse achatada)

Perguntamos então o que ocorreria se ao invés de aumentarmos,

diminuíssemos ainda mais o tamanho dos espaçadores, ao que um dos sujeitos

do G2 respondeu:

Sujeito do G2: “Ia ficar mais achatado ainda!”

A fim de eliminar o tamanho dos espaçadores como uma das variáveis que

pudessem determinar a forma do objeto, perguntamos se seria possível

identificar se a figura é uma esfera ou um elipsóide olhando apenas no gráfico

das curvas de nível, sem considerar a visão que haviam obtido a partir do modelo

de representação tridimensional.

Enquanto um dos sujeitos do G1 acredita não ser possível, um dos

sujeitos do G2 olhou novamente para o gráfico das curvas de nível e começou a

conjecturar.

Sujeito do G1: “Não. Olhando só no plano não dá!” Sujeito do G2: “O [valor de] z está subindo 5, e o [valor de] x vai até 10, então o z é menor do que o x”

Neste ponto da discussão o mencionado sujeito do G1, influenciado pela

iniciativa do G2, mudou de ideia e também recorreu às curvas de nível, a fim de

validar suas afirmações. Apesar de ter computando corretamente a altura da

figura ao falar que “o [valor de] z vai até 10, contando de -5 até + 5”, não

considerou que a “largura” corresponde ao dobro do raio e que, portanto, a

134  

variação de x era igual a 20 unidades. Como em seus cálculos a figura teria 10

unidades de altura e 10 unidades de largura, falou que “seria uma esfera, só que

aqui (no modelo de representação tridimensional) ela está achatada por causa

dos espaçadores”.

Sujeito do G1: “Eles têm razão (referindo-se aos sujeitos do G2). O [valor de] z vai até 10, contando de -5 até + 5 e a largura também dá 10. O certo seria uma esfera, só que aqui ela está achatada por causa dos espaçadores”

O sujeito do G2, que havia afirmado que a figura era uma esfera, ao

recorrer às curvas de nível, tenta obter informações a partir do gráfico, que num

primeiro olhar haviam passado despercebidas e dá sinais de conseguir organizar

estas informações em uma argumentação lógica, conforme transcrevemos:

Sujeito do G2: “Mas é o raio que é 10. O comprimento total é o dobro. Dá 20, enquanto que a altura máxima é 10, então dá um elipsóide, uma esfera achatada”

Neste ponto da discussão os sujeitos dos grupos G1 e G4 deram sinais de

concordar com a argumentação do G2, de que a figura era realmente um

elipsóide, independentemente dos espaçadores, porém o sujeito do G4 comentou

sua dificuldade em “visualizar” a figura a partir das curvas de nível.

Sujeito do G4: “Eu estou vendo circunferência atrás de circunferência. Olhando assim em 2D eu não consigo imaginar. Em três dimensões eu consigo ver a figura, mas olhando no gráfico não” Sujeito do G1, dirigindo-se ao sujeito do G4: “Você tem que “puxar” as circunferências prá cima, de acordo com o z” Sujeito do G4: “Mas esta representação aqui é bidimensional, não é tridimensional!” Sujeito do G2: “Você tem que abstrair e imaginar o z “saindo” do papel”

A análise deste trecho da discussão pode indicar aspectos importantes

quanto à concepção que o sujeito do G4 tem sobre a representação de figuras

geométricas. De acordo com o seu argumento de que “esta representação é

bidimensional, não é tridimensional”, referindo-se à sua dificuldade em visualizar

a figura por meio das curvas de nível, parece-nos que para este sujeito: a) a

135  

única maneira de acessar a figura é por meio da visão, disponível ao primeiro

olhar; b) a única maneira de representar uma figura tridimensional seria por um

modelo de representação tridimensional; c) as representações bidimensionais

serviriam exclusivamente para representar objetos da geometria plana. A nosso

ver, isto pode indicar uma dificuldade de “visualização” que não foi superada,

apesar da participação do sujeito nas atividades.

Por outro lado, esta atividade parece ter favorecido, pelo menos para os

sujeitos do G1 e do G2 que participaram da discussão, a interação entre as

componentes intuitivas, algorítmicas e formais envolvidas na representação da

quádrica. Nossa impressão é reforçada pela observação das recomendações que

deram ao sujeito do G4 (p. 134), a fim de que este conseguisse imaginar a figura

a partir das curvas de nível e pelos diferentes posicionamentos que mostraram no

decorrer das discussões. Inicialmente, descreveram a quádrica como um

elipsóide, depois consideraram a possibilidade dos espaçadores serem menores

e afirmaram, baseados apenas em aspectos intuitivos, que a figura era uma

esfera. Ao final, após mobilizarem as informações das curvas de nível,

concluíram que era realmente um elipsóide.

A nosso ver, o que distingue a apreensão sobre a figura que os sujeitos do

G1 e do G2 mostraram ter desenvolvido, relaciona-se em partes, ao fato de que

estes, quando incitados pelo nosso questionamento, diferentemente dos demais

grupos, procuraram ir além da percepção visual imediata, disponível nas

representações e buscaram reunir outras informações e organizá-las em busca

de uma representação semiótica. Parece-nos, desta forma, que conseguiram

“visualizar” a figura, enquanto que os demais conseguiram “ver” as

representações da figura.

5.3.5 Atividade 5

Esta atividade tem os itens 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4.

No item 5.1, solicitamos aos participantes que associassem a expressão

algébrica de um hiperbolóide de uma folha 222 10 zyx +=+ à expressão reduzida

de uma circunferência e que analisassem o comportamento do comprimento do

136  

raio desta circunferência em função do parâmetro z. Para tal, sugerimos que

fizessem z variar entre -4 e 4 e que registrassem as informações em uma tabela.

Todos os grupos preencheram corretamente a tabela, conforme uma

amostra dos protocolos do G4 (QUADRO 3).

QUADRO 3. ATIVIDADE 5.1 – G4

No item 5.2, perguntamos aos participantes qual a relação entre o valor de

z e o raio da circunferência. Ao propor esta pergunta, esperávamos verificar se os

sujeitos conseguiriam traduzir em palavras a relação algébrica que usaram para

completar a tabela do item 5.1.

Obtivemos as seguintes respostas a esta questão:

G1

2rz = . A relação é que ( )102 += zr G2

zr += 10 G3 Independente do valor de z ser negativo ou positivo, o valor de raio sempre será o mesmo, para um determinado z G4 O valor simétrico de z não interfere no valor do raio

A resposta do G1 apresenta uma incoerência. Ao tentar explicitar a relação

existente entre o valor de z e o raio da circunferência, os sujeitos escreveram

137  

2rz = e logo em seguida “a relação é que ( )102 += zr ”, como se uma afirmação

implicasse a outra.

Os sujeitos do G3 e do G4 observaram corretamente que tanto para kz =

como para kz −= , o raio seria o mesmo, ao escreverem que

“independente[mente] do valor de z ser negativo ou positivo, o valor do raio será

sempre o mesmo para um determinado z” (G3) e que “o valor simétrico de z não

interfere no valor do raio” (G4), porém não esclareceram se haviam entendido

que 210 zr += . Posteriormente, ao analisar as respostas que deram à questão

do item 5.3 verificamos que os sujeitos do G4 mostraram ter entendido e que os

sujeitos do G3 confundiram a relação e associaram 210 zr += .

Ao analisarmos as respostas do G1, G3 e G4 observamos que, apesar de

terem completado corretamente a tabela proposta no item 5.1, responderam

incorretamente o item 5.2 (G1) ou não explicitaram a relação entre o valor de z e

o raio da circunferência (G3 e G4). Isto pode indicar que os sujeitos fizeram o

preenchimento da tabela de modo mecânico ao substituir o parâmetro z pelos

valores inteiros de -4 até 4, conforme proposto na atividade, sem a mobilização

de aspectos formais que lhes permitissem validar seus procedimentos e

descrever o que estavam fazendo.

No item 5.3, perguntamos aos sujeitos se era possível , em algum dos

cortes da figura dada pela expressão algébrica 222 10 zyx +=+ , que houvesse

circunferências com raio 4,5 unidades e nesse caso em qual altura estaria.

Obtivemos as seguintes respostas:

G1 Sim. Colocaríamos no ponto 3,2

138  

G2

24,324,325,10

1025,205,410

5,410

2

22

2

±===

−=

=+

=+

zz

zz

z

G3 Não, porque como o 210 zr += , e substituindo o r por 4,5, ou seja,

2105,4 z+= resultará em 5,52 −=z , que dentro do R (conjunto dos números reais) não existe G4 Sim.

2,325,10

1025,2010

2

2

22

±==

=−

+=

z

zzr

Quando distribuímos a folha com as questões, o enunciado do item 5.3

trazia o seguinte texto:

5.3) Dentre as circunferências obtidas, existe alguma cujo raio tenha o comprimento 

igual a 4,5 unidades? Se existe, em que altura você a colocaria? Justifique. 

QUADRO 4. ENUNCIADO DO ITEM 5.3

 Diante da expressão “dentre as circunferências obtidas” alguns sujeitos

entenderam que estávamos mencionando aquelas que constavam na tabela,

correspondentes aos valores inteiros de z de -4 até 4. Esclarecemos que não

estávamos nos referindo exclusivamente àquelas, mas a todas as circunferências

possíveis, qualquer que fosse o valor real de z. Após este esclarecimento, os

sujeitos mostraram entender o que a atividade solicitava e deram continuidade às

tarefas. Em uma próxima oportunidade, ao repetir o experimento, devemos

considerar a modificação do texto para “Dentre os possíveis cortes paralelos ao

plano xy, existe algum que corresponda a uma circunferência com raio 4,5

unidades?”. Esta observação também vale para o item 5.4.

139  

Verificamos que os sujeitos dos grupos G1 (que no item 5.2 haviam

expressado incorretamente a relação entre o raio e o valor de z) (p.116), G2 e G4

(que no item 5.2 haviam expressado parcialmente a relação entre o raio e o valor

de z) (p.116), responderam corretamente esta questão, ao informar que seria

possível que houvesse uma circunferência de raio igual a 4,5 unidades e que

esta circunferência se localizaria na altura correspondente a 25,10=z .

Os sujeitos do G3 (que no item 5.2 haviam expressado parcialmente a

relação entre o raio e o valor de z) se equivocaram ao escrever a equação210 zr += , quando deveriam escrever 22 10 zr += , ou seja, não consideraram

que na equação da circunferência o raio deveria estar elevado ao quadrado.

Quando analisamos os protocolos obtidos após a aplicação do

questionário sobre as circunferências, observamos que o erro de maior incidência

consistia em associar uma circunferência à equação reduzida da circunferência

sem que o raio se apresentasse elevado ao quadrado. A fim de complementar a

atual análise, recorremos novamente a esses protocolos e verificamos que, ao

contrário do que imaginávamos, nenhum dos sujeitos do G3 havia cometido este

erro naquela ocasião.

A nosso ver, o erro cometido neste item pode estar relacionado aos

diferentes contextos em que se desenvolveram as duas atividades, de resolução

do questionário e de estudo de quádricas.

Quando aplicamos o questionário, concebemos questões voltadas à

análise do entendimento que os participantes tinham sobre as circunferências e

nas atividades com o modelo de representação (embora utilizemos os conceitos

envolvidos na representação de circunferências) direcionamos as tarefas para o

estudo de superfícies quádricas. O equívoco do G3 pode indicar que numa

atividade sobre circunferências estes sujeitos mobilizaram conhecimentos que

não foram mobilizados em um contexto diferente, como por exemplo, no estudo

de quádricas.

Como não consideraram que o raio de medida 4,5 deveria ser elevado ao

quadrado, algebricamente chegaram à conclusão de que não poderia existir z e

140  

que, portanto não seria possível que houvesse uma circunferência de raio igual a

4,5 unidades em nenhum dos cortes da quádrica, conforme a expressão:

5,5

5,5105,4

2

2

−=

−=

+=

z

zz

Ao observar os valores com os quais os sujeitos do G3 preencheram a

tabela, verificamos que para o valor de 4±=z o raio equivale a 1,526 ≅ e que

para o valor de 3±=z o raio equivale a 4,419 ≅ , ou seja, se considerarmos que

não há descontinuidade, 265,419 ≤≤ , então existe uma circunferência com

comprimento de raio igual a 4,5 situada entre os valores de z = 3 e z = 4 (idem

para valores de z entre -3 e -4).

O fato dos sujeitos do G3 chegarem à conclusão de que não havia

nenhuma circunferência com raio igual a 4,5 unidades entre os possíveis corte da

figura dada e apresentarem a resposta sem validá-la pode indicar que nesta

atividade, as componentes algorítmicas (preenchimento mecânico da tabela com

os valores da expressão e do raio) sobrepuseram-se a restrições formais.

Embora os sujeitos do G3 tivessem a sua disposição argumentos que

justificassem a existência da circunferência, o resultado que obtiveram

algebricamente parece ter sido suficiente para descartar tal possibilidade.

No item 5.4, perguntamos aos sujeitos se era possível que, em algum dos

cortes da figura representada pela expressão dada, houvesse circunferências

com raio 2,5 unidades e obtivemos as seguintes respostas:

G1 Não existe, pois não existe raiz quadrada de número negativo no conjunto dos reais

141  

G2 Não existe, pois o raio mínimo é 3,16.

75,3

1025,625,6105,210

5,210

2

2

22

2

−=

−=

=+

=+

=+

z

zzz

z

G3 Também não existe, como pode perceber abaixo dentro dos R (conjunto dos números reais) não existe raiz quadrada dos negativos

5,75,7

105,210

2

2

2

2

−=

=−

+=

+=

zz

zzr

G4 Não

75,3

1025,610

2

22

−=

=−

+=

z

zzr

Os sujeitos do G1 responderam que não era possível que houvesse uma

circunferência com raio igual a 2,5 unidades e justificaram dizendo que “não

existe raiz quadrada de número negativo no conjunto dos reais”, mas não fizeram

nenhuma anotação indicativa de que tenham feito algum cálculo para justificar a

afirmação.

Os sujeitos do G2 e G4 também responderam que não era possível.

Justificaram a resposta substituindo o valor do raio na expressão 102 −= rz e

mostraram que quando o raio mede 2,5 não existe solução dentro dos números

reais, pois 75,3105.2 2 −=−=z .

Os sujeitos do G3 se equivocaram novamente, a exemplo do que haviam

feito no item 5.3, e escreveram a equação 210 zr += , quando deveriam escrever 22 10 zr += . Apesar de responderem corretamente que não existia nenhuma

142  

circunferência de raio 2,5 entre os possíveis cortes da quádrica, basearam-se em

premissas incorretas.

5.3.6 Atividade 6

Esta atividade tem os itens 6.1, 6.2 e ,6.3.

Inicialmente, apresentamos a representação algébrica 10222 =−+ zyx   e

entregamos aos participantes 11 transparências impressas com circunferências

correspondentes à 11 cortes paralelos ao plano xy da quádrica dada.

No item 6.1, solicitamos aos sujeitos que esboçassem as curvas de nível

correspondentes, em um plano cartesiano.

Os sujeitos do G1 e do G2 desenharam as curvas corretamente, por meio

de um esboço que é compatível com a visão que se obtêm quando o observador

põe o olho sobre o eixo Oz e direciona o olhar no sentido de Oz+ para Oz-.

Notamos, no entanto, que os sujeitos do G2 identificaram as curvas de acordo

com a cota correspondente, enquanto os sujeitos do G1 não o fizeram, limitando-

se a reproduzir o que conseguiram “ver” através das transparências. Ao analisar

esta atividade, parece-nos que os sujeitos do G2 procuraram mobilizar aspectos

formais a fim de validar a representação plana da figura, enquanto os sujeitos do

G1 pareceram considerar suficiente a reprodução de aspectos intuitivos do

objeto. Aparentemente, os sujeitos do G1 conseguiram, ao primeiro olhar, obter a

percepção visual da figura, porém não mostraram iniciativas no sentido de reunir

e organizar as relações entre as informações disponíveis nas representações

algébricas e gráficas que os permitissem criar, a partir desta mobilização, uma

representação semiótica da figura.

Os sujeitos dos grupos G3 e G4 não fizeram o esboço solicitado. Na

tentativa de entender o motivo pelo qual isso ocorreu, recorremos à folha que

continha as atividades propostas (ver APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O

MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL) e acreditamos ter

encontrado o motivo. O item 6.1, em que solicitávamos que desenhassem as

curvas, encontrava-se no topo da página e o gráfico onde deveriam desenhar as

143  

curvas, devido a uma falha de diagramação, ficou localizado na parte de baixo da

folha, abaixo do item 6.4. É provável que os sujeitos do G3 e do G4 não tenham

prestado atenção a este detalhe e tenham deixado de fazer o esboço solicitado.

Numa próxima oportunidade, ao repetir o experimento, devemos modificar a

localização do gráfico a fim de evitar esse tipo de falha.

No item 6.2, solicitamos aos participantes que montassem a representação

tridimensional da expressão dada usando as transparências.

Acreditamos que, neste item, tenham sido priorizados aspectos

algorítmicos da representação da quádrica. A fim de que montassem

corretamente, os sujeitos poderiam, a exemplo do que fizeram na Atividade 5,

relacionar a expressão algébrica da quádrica à equação de uma circunferência e

de acordo com o parâmetro z, determinar o tamanho do raio correspondente.

Todos os grupos conseguiram realizar esta tarefa com sucesso.

No item 6.3, pedimos aos participantes que descrevessem com palavras a

figura que obtiveram, e conseguimos as seguintes respostas:

G1 Obtemos uma figura parecida com uma ampulheta, conhecida como hiperbolóide de uma folha G2 Hiperbolóide G3 Foi formada uma figura que chama hiperbolóide. Isso porque os raios foram diminuindo e depois aumentando G4 Como se fosse um funil ou dois cones unidos pelo vértice

Observamos nas descrições dos grupos G1, G2 e G3 referências ao termo

hiperbolóide.

Neste caso, assim como havíamos observado na análise do item 4.2 da

Atividade 4 (p. 131), ao nominar a figura chamando-a de hiperbolóide

conseguimos concluir que os sujeitos conseguiram “ver” a figura por meio do

144  

modelo de representação, porém a falta de uma descrição que apresentasse

mais detalhes prejudicou a análise sobre o entendimento que os sujeitos tinham

ou que vieram a desenvolver sobre superfícies quádricas. Não conseguimos,

pelas descrições apresentadas, verificar se conhecem propriedades formais da

quádrica chamada hiperbolóide ou se sabem apenas associar o nome à

representação da figura. Pretendemos, a fim de complementar as conclusões

obtidas após o término desta pesquisa, recorrer aos sujeitos e entrevistá-los, em

busca de informações que possam nos esclarecer sobre qual é o entendimento

que esses têm sobre a figura que montaram nesta atividade.

Numa próxima oportunidade, ao repetir esta experiência devemos

considerar uma mudança no enunciado, como forma de evitar respostas tão

abreviadas como as que obtivemos nesta e na Atividade 4.

Os sujeitos do G1 escreveram que a figura é “parecida com uma

ampulheta” (p. 143) e os sujeitos do G3 justificaram que a figura é um

hiperbolóide “porque os raios foram diminuindo e depois aumentando” (p. 143),

porém não encontramos indicações de que os sujeitos tenham observado que

apesar do corte em planos paralelos ao plano xy corresponder a uma

circunferência, um corte paralelo ao plano xz (ou ao plano yz) corresponde à

representação plana de uma hipérbole.

Também não encontramos indicações de que tenham relacionado esta

atividade aos itens 5.3 e 5.4 da Atividade 5 e verificassem graficamente a

impossibilidade de que houvesse circunferências de raio igual a 2.5 em um dos

cortes paralelos ao plano xy.

Os sujeitos do G4 associaram a figura a um “funil ou dois cones unidos

pelo vértice” (p. 143). Ao escreverem “funil” acreditamos que estivessem

intuitivamente se referindo ao comprimento dos raios das circunferências que

compõem o modelo, que de acordo com o valor de z diminuem ou aumentam.

Ao referir-se à “dois cones unidos pelo vértice” os sujeitos não validaram

formalmente pelo menos dois aspectos importantes da figura: a) o crescimento

(decrescimento) das dimensões das circunferências não são lineares como são

em um cone, ou seja, não existe um constante k, tal que zkr .= ; b) inexistência de

145  

um vértice, visto que a menor circunferência, correspondente a cota z = 0 tem

raio igual a 16,310 ≅ .

Neste capítulo apresentamos a análise dos dados obtidos a partir dos

protocolos das “tarefas de reconhecimento” e das atividades desenvolvidas com

o uso de um modelo de representação tridimensional.

Desenvolvemos esta análise com base nas ideias de Fischbein (1993),

sobre a necessidade da interação entre componentes formais, algorítmicas e

intuitivas de um conteúdo matemático; e de Duval (1999), que distingue a visão

(imediatamente acessível ao primeiro olhar, porém não suficiente para

desenvolver funções cognitivas fundamentais) da visualização (responsável pela

organização das relações entre as informações obtidas pela visão, em busca da

produção de representações semióticas, de forma a desenvolver tais funções).

Apresentaremos a seguir nossas conclusões e considerações finais, que

se tornaram possíveis a partir dos resultados obtidos na presente análise.

146  

CONCLUSÃO  1: CONCLUSÕES

 Ao desenvolver esta pesquisa, procuramos verificar se uma abordagem

que envolvesse tratamentos e conversões entre diferentes registros de

representação semiótica, mediada por um modelo de representação

tridimensional, pode favorecer a visualização de superfícies quádricas.

A fim de alcançar este objetivo, apoiados pelas considerações teóricas de

Fischbein (1993), sobre a necessidade de interação entre as componentes

formais, algorítmicas e intuitivas de um conteúdo matemático; e de Duval (1999),

que distingue a visão da visualização e defende a necessidade de que os alunos

desenvolvam a aprendizagem sobre os objetos matemáticos em pelo menos dois

diferentes sistemas de representação semiótica; concebemos uma questão de

pesquisa, que reapresentaremos e responderemos ao final deste texto, após

algumas reflexões que consideramos importantes.

Os sujeitos que participaram desta pesquisa apresentam dificuldade em

traduzir em palavras as particularidades envolvidas em uma representação e

mostram descuido quanto ao formalismo necessário à comunicação dentro de

uma atividade matemática.

De acordo com Duval (1999), embora não seja uma questão simples

definir quais são os melhores registros de representação, ou qual o melhor modo

de trabalhar em cada um deles, o registro descritivo em língua natural é essencial

para um controle cognitivo e para o desenvolvimento da aprendizagem em

qualquer atividade matemática.

Ao analisar as respostas apresentadas pelos participantes, notamos pelo

menos dois problemas, que a nosso ver estão associados à dificuldade dos

sujeitos quanto ao registro discursivo.

O primeiro problema que encontramos relaciona-se ao aparente descuido

quanto ao formalismo necessário à comunicação dentro de uma atividade

matemática, ao empregar um termo que define um objeto para referir-se a outro

objeto.

Sendo a Matemática um conjunto de conhecimentos, determinado por

relações formais, logicamente estruturadas, a comunicação entre aqueles que se

147  

dedicam a estudá-la e a ensiná-la se dá por meio de uma linguagem própria,

regulada por conceitos e propriedades formais. Em uma atividade matemática,

quando nos referimos, por exemplo, a uma circunferência, estamos nos referindo

ao “lugar geométrico dos pontos do plano que são equidistantes de um ponto fixo

chamado centro da circunferência” e não a outro objeto com propriedades

distintas destas. A denominação carrega consigo as propriedades do objeto.

Apenas para citar alguns exemplos, observamos que em algumas

ocasiões, os sujeitos do G1 referiram-se ao modelo como um “cubo” (p. 98),

apesar do modelo de representação não ter formato de um cubo; referiram-se a

uma reta oblíqua ao plano de base como “diagonal” (p. 98), não porque fosse a

diagonal de um poliedro, mas por sua obliquidade; escreveram “quadrante”

quando queriam dizer “octante” (p. 98); descreveram dois cones como duas

“cônicas” (p. 120).

Os sujeitos do G3, ao descrever uma das representações, escreveram que

era um “plano tridimensional” (p. 98) quando talvez quisessem referir-se às três

dimensões do modelo, sem perceber a incompatibilidade entre as definições

matemáticas dos termos “plano” e “tridimensional”.

Para Fischbein (1993), com quem concordamos

[...] normalmente é a interpretação intuitiva baseada em uma experiência primitiva, limitada, mas firmemente enraizada, que aniquila o controle formal ou as necessidades da solução algorítmica e assim distorce ou mesmo bloqueia uma reação matemática correta (FISCHBEIN, 1993, p. 244, tradução nossa 13).

Nas descrições e respostas obtidas, percebemos a presença hegemônica

de aspectos intuitivos, remanescentes de aprendizagens anteriores, que foram

trazidos à tona e empregados sem que os sujeitos tentassem validá-los pela

mobilização de aspectos formais e algorítmicos. A nosso ver, o poder coercivo de

aspectos intuitivos bloqueou eventuais iniciativas que pudessem levar os sujeitos

à aprendizagem desejada.

Embora a identificação da interação e dos conflitos entre as componentes

formais, algorítmicas e intuitivas seja uma tarefa complexa, ao analisar o modo

                                                            13 […] usually, it is the intuitive interpretation based on a primitive, limited, but strongly rooted individual experience that annihilates the formal control or the requirements of the algorithmic solution, and thus distorts or even blocks a correct mathematical reaction

148  

como os sujeitos se utilizaram de termos próprios da geometria plana em

referência a objetos tridimensionais, acreditamos estar diante de um desses

conflitos citado por Fischbein (1993), ou seja, aparentemente as noções intuitivas

da geometria plana, mobilizadas pelos sujeitos sem a necessária validação,

mostraram-se tão enraizadas que acabaram anulando qualquer controle formal

que possibilitasse a correta interpretação da figura.

O segundo problema que encontramos, também relacionado ao registro

discursivo, está no fato dos sujeitos utilizarem termos do quotidiano para designar

objetos que possuem designação própria dentro da Matemática.

Os sujeitos do G1 se referiram ao cilindro como uma “mangueira” (p. 98);

relacionaram o formato do hiperbolóide a uma “ampulheta” (p. 143) ou a um

“funil” (p. 106). Os sujeitos do G2 descreveram um dos modelos como uma “mola

espiral” (p. 103) e outro como “funil” (p. 106). Os sujeitos do G3 disseram que

iriam montar um modelo “como se fosse um zig zag” (p. 120).

A nosso ver, os termos conseguem transmitir algumas das características

da figura e podem ser utilizados normalmente e sem restrições em situações

quotidianas, mas quando utilizados em uma atividade matemática, podem

caracterizar a ausência de aspectos formais necessários ao próprio entendimento

ou à comunicação que deve existir entre aqueles que participam de uma

atividade matemática.

O aparente descuido com a linguagem também foi verificado na concisão

com que os grupos descreveram algumas das representações. A nosso ver, isto

pode indicar que para estes sujeitos, aspectos intuitivos da figura parecem ser

suficientes para descrevê-la, ou que a visão (Duval, 1999) imediata, captada a

partir da representação, pode reunir em si as propriedades da figura.

Notamos isso ao observar como os sujeitos do G2 descreveram a

diferença entre os três modelos pela frase “a função da origem = variação de z”

(p. 110); ou como os sujeitos do G3 descreveram o MODELO 3: “circunferências

sobrepostas, todas com centro (0,0) e raio diferente em cada uma” (p. 106); ou

como os sujeitos do G3 justificam a denominação da figura hiperbolóide: “porque

os raios foram diminuindo e depois aumentando” (p. 143) ou ainda como o G4

definiu a relação entre o comprimento do raio e a cota na representação de um

149  

parabolóide ao escrever que “o valor simétrico de z não interfere no valor do raio”

(p. 136).

Para Duval (1999) existe um ponto de ruptura entre a percepção visual e a

visualização

A representação semiótica não mostra as coisas como elas são em um ambiente 3D ou como podem ser fisicamente projetadas sobre um pequeno suporte material 2D. Este é o problema da percepção visual. A representação semiótica mostra relações, ou melhor, organização de relações entre as unidades de representação (DUVAL, 1999, p. 12, tradução nossa 14).

Ao observar as constantes tentativas de associação entre representações

icônicas (tais como “mola”, “funil”, “escada”), acessíveis ao primeiro olhar e

representações de superfícies quádricas, percebemos que diante da percepção

visual possibilitada pelas representações, os sujeitos descartaram a necessidade

de organizar as informações e analisá-las, em busca de uma representação

semiótica. Na maioria das vezes consideraram a visão obtida suficiente para

descrever a figura.

No item 4.2 da Atividade 4, notamos que um dos sujeitos do G4, diante da

impossibilidade de “ver” a figura tridimensional a partir das curvas de nível,

objetou quanto à capacidade do desenho em fazê-lo imaginá-la. Seu argumento

era de que a representação era em 2D e que a figura era tridimensional (p. 134).

Em outras palavras, de acordo com as concepções deste sujeito, se a figura

pertence ao ambiente 3D, então deveria ser representada em 3D. Neste caso,

entendemos que o sujeito refere-se à percepção visual da figura e não às

possibilidades de visualização que podem ser mobilizadas por meio da

organização de unidades representacionais (Duval, 1999), presentes tanto na

representação tridimensional como em uma representação em duas dimensões.

                                                            14 A semiotic representation does not show the things as they are in the 3D environment or as they can be physically projected on a small 2D material support. That is the matter of visual perception. A semiotic representation shows relations, or better, organization of relations between representational units

150  

Observamos, ao ler os protocolos, que os sujeitos do G3 e do G4

pareciam não relacionar as diferentes representações planas, tridimensionais e

algébricas às figuras. No item 1.5 da Atividade 1, os sujeitos do G4 descreveram

a representação do MODELO 2 como uma “escada circular” (p. 111),

possivelmente em referência aos degraus que cada um dos gráficos parecia

lembrar e no item 1.3 da Atividade 1 os sujeitos do G3 descreveram o MODELO

3 como “circunferências sobrepostas, todas com centro (0,0) e raio diferente em

cada uma” (p. 106) e os sujeitos do G4 como “circunferência com centro em (0, 0)

em todos os planos, variando o raio a cada plano” (p. 106).

No item 6.3 da Atividade 6, os sujeitos do G4 parecem ter conseguido “ver”

a figura tridimensionalmente, porém não mostraram ir além da percepção visual e

descreveram a representação de um hiperbolóide de uma folha “como se fosse

um funil ou dois cones unidos pelo vértice” (p. 143). Acreditamos que, caso

tivessem desenvolvido a visualização da figura, iriam mobilizar e organizar as

informações presentes na expressão algébrica e na representação tridimensional;

e verificar que não havia vértices e que a figura não era um cone.

Nos itens 3.3 da Atividade 3 e 6.1 da Atividade 6, solicitamos aos

participantes que desenhassem as curvas de nível a partir do modelo de

representação tridimensional. Nas duas oportunidades, verificamos que os

sujeitos do G1 reproduziram um desenho compatível com a visão que se obtém

quando o olhar do observador fica alinhado com o eixo Oz, no sentido de Oz+

para Oz-, porém não deram indicações de ter ido além da visão imediata

possibilitada pelo modelo, quando poderiam coletar outras informações e

organizá-las de modo a criar uma representação semiótica da figura. Em outras

palavras, ao reproduzir nos protocolos a imagem que conseguiram captar por

meio do olhar, mostraram que “viram”, mas não “visualizaram”.

Observamos, contudo, que em pelo menos duas ocasiões, alguns sujeitos

procuraram mobilizar outros aspectos, além dos intuitivos, e criar uma

representação semiótica da figura.

No item 3.3 da Atividade 3, ao esboçar as curvas de nível, os sujeitos do

G2 não as identificaram de acordo com as cotas correspondentes, porém, na

última atividade (item 6.1 da Atividade 6) mostraram observar outras informações

151  

da representação, além da visão captada pelo primeiro olhar e identificaram-nas

corretamente. A iniciativa de coletar e organizar informações adicionais presentes

na representação, em busca de uma representação semiótica, pode indicar que

neste caso e para este grupo, houve algum avanço em direção a aprendizagem

esperada.

No item 4.2 da Atividade 4, após todos os grupos terem respondido que a

figura representada era um elipsóide, provocamos uma discussão sobre o

tamanho dos espaçadores e verificamos que os sujeitos do G1 e do G2, depois

de incitados, recorreram à representação plana em busca de informações que

lhes permitisse validar a resposta que haviam dado, inicialmente baseada em

aspectos intuitivos (p. 133). Os sujeitos analisaram os raios, as cotas, as curvas

de nível e o espaçamento entre as transparências e concluíram que,

independentemente do comprimento dos espaçadores (que poderiam

inadvertidamente ter sido cortados em tamanho maior ou menor), a figura

representada era um elipsóide. Para estes sujeitos, esta atividade foi capaz de

promover a interação entre aspectos intuitivos, algorítmicos e formais envolvidos

na associação entre o registro gráfico de representação e o objeto matemático

representado.

Ao analisar o percurso dos participantes dos grupos G1 e G2, concluímos

que, pelo menos nesta atividade, a discussão desencadeada parece ter

provocado a necessidade de ir além da visão imediata da representação

tridimensional, levando-os a buscar outras informações. Como consideramos a

visualização (Duval, 1999) essencial para a aprendizagem em Matemática, o

processo de coleta e organização das informações, a nosso ver, permitiu, nesta

atividade e para estes sujeitos, a visualização da figura e o avanço em direção à

aprendizagem matemática do conteúdo estudado.

No entanto, para a maioria dos sujeitos, as atividades que propusemos

não foram suficientes para promover a visualização das superfícies quádricas ou

a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas envolvidas na

aprendizagem deste conteúdo. Aspectos intuitivos, frutos de aprendizagens

anteriores e fortemente enraizados, sobrepuseram-se aos demais, bloqueando

152  

iniciativas que pudessem levar os sujeitos a buscar a validação formal de suas

concepções prévias.

Concluímos, a partir da consideração de que a visualização é fundamental

para o entendimento em Matemática que, para a maioria dos sujeitos desta

pesquisa, as atividades, embora mediadas por um modelo de representação

tridimensional, não favoreceram o desenvolvimento da visualização de

superfícies quádricas que lhes permitisse criar representações semióticas destas

figuras e avançar em direção à aprendizagem esperada deste conteúdo.

Como dissemos anteriormente, a fim de alcançar o nosso objetivo,

elaboramos uma questão de pesquisa, que respondemos a seguir, subsidiados

pela análise dos protocolos e das filmagens que foram coletados durante as

atividades.

Q. Uma sequência de atividades que envolvam tratamentos e conversões de registros de representação semiótica, mediadas por um modelo de representação tridimensional, pode favorecer a visualização das superfícies quádricas?

R. As atividades que desenvolvemos foram mediadas por um modelo

de representação tridimensional e previam a conversão entre diferentes registros de representação semiótica, porém, os dados que obtivemos não nos permitem afirmar que favoreceram a visualização, ou que tenhamos observado a interação entre as componentes formais, algorítmicas e intuitivas das superfícies quádricas.

Não temos evidentemente condições de estender esta conclusão aos

demais alunos, tampouco aos demais cursos de licenciatura, porém, acreditamos

que mudanças no currículo que incluíssem a demonstração matemática como um

dos tópicos a serem desenvolvidos poderiam fazer com que os estudantes

mobilizassem, além de aspectos intuitivos, aspectos formais e algorítmicos em

busca de respostas.

153  

Além disso, ao considerar as dificuldades dos sujeitos desta pesquisa

quanto ao registro discursivo, avaliamos que as disciplinas e atividades

desenvolvidas nos cursos de licenciatura devem incentivar os futuros professores

ao uso da linguagem natural em sua futura prática docente e que, no caso da

Matemática, esta linguagem deve enquadrar-se dentro das restrições e

formalidades, próprias desta área do conhecimento.

   2: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não consideramos como pré-requisito a condição de que os participantes

não soubessem algo, como por exemplo, identificar a representação de uma

superfície quádrica e relacioná-la ao seu nome. Acreditamos, é verdade, que

quanto menos soubessem sobre as quádricas mais poderíamos inferir se houve

ou não algum tipo de avanço que pudesse caracterizar o desenvolvimento da

aprendizagem sobre este conteúdo. Salientamos, porém, que o desconhecimento

sobre as superfícies quádricas não era um pré-requisito.

Os participantes de nossa pesquisa tiveram aulas sobre superfícies

quádricas, previstas em uma disciplina do curso, dois meses antes que

iniciássemos as atividades. Não nos dedicamos em saber quão detalhadas e em

que nível de aprofundamento se desenvolveram estas aulas. Entretanto, de

acordo com a análise dos protocolos e subsidiados pelas discussões que

conseguimos filmar dentro dos grupos e entre os grupos, acreditamos que não

tenham atingido o nível de formalidade que conferisse aos alunos o domínio

sobre este conteúdo. Parecem, no entanto, ter desenvolvido alguma

aprendizagem, principalmente quanto à identificação das figuras, como por

exemplo, na Atividade 4, quando nominaram a figura obtida como “elipsóide” (p.

131), ou na Atividade 6, quando chamaram a figura obtida de “hiperbolóide”

(p.143).

Ao encontrarem um nome que resumisse todas as propriedades da figura

obtida, os sujeitos de certa forma “economizaram” outros tipos de descrições, que

poderiam nos fornecer mais argumentos para que desenvolvêssemos nossa

análise. Ao escrever que uma figura é um elipsóide, embora estivessem

nominando-a corretamente, os sujeitos acabaram privando-nos involuntariamente

154  

de material que poderia nos permitir verificar o quanto sabiam e o quanto teriam

eventualmente evoluído com a utilização do modelo tridimensional.

Devemos considerar, em um estudo que possa complementar as

conclusões desta pesquisa, desenvolver as atividades em uma turma que ainda

não tenha estudado o assunto e verificar se as descrições que dão sobre as

figuras podem ser mais detalhadas.

Ao conceber as atividades, consideramos a necessidade de que os

sujeitos já tivessem desenvolvido aprendizagem sobre circunferências.

De acordo com o conteúdo programático da universidade onde aplicamos

a pesquisa, os alunos do curso de Licenciatura em Matemática frequentam a

disciplina Geometria Analítica no 2° ano. Como o estudo das circunferências faz

parte desta disciplina e como os sujeitos de nossa pesquisa são alunos

matriculados no 3º ano, acreditamos que poderiam preencher esta condição.

Apesar disto, consideramos que fosse necessário aplicar um questionário

de revisão e propor uma retomada deste assunto, de modo que os participantes

tivessem condições de desenvolver as atividades que proporíamos. A análise

deste questionário permitiu-nos desenvolver uma atividade de institucionalização,

com o objetivo de trazer à tona os saberes envolvidos na representação de

circunferências.

Como o objetivo de nossa pesquisa relaciona-se ao estudo das quádricas,

embora tenhamos feito a análise das repostas que os sujeitos deram no

questionário (p. 73), não aprofundamos esta análise a fim de verificar se

conseguiram ou não desenvolver aprendizagem sobre as circunferências.

Acreditamos, no entanto, que os dados obtidos a partir da análise das respostas

que obtivemos indicam pontos importantes, como a grande incidência de erros

relacionados ao fato dos sujeitos associarem o raio à equação reduzida da

circunferência sem elevá-lo ao quadrado, ou ao fato dos alunos associarem um

número negativo a soma de quadrados correspondente à equação reduzida da

circunferência (p. 89). Estas constatações podem suscitar novos estudos e

pesquisas sobre o tema.

Ao elaborar a sequência de atividades, esperávamos, entre outras coisas,

explorar a capacidade descritiva dos sujeitos. Para isso, solicitamos em algumas

155  

atividades que descrevessem livremente os modelos, ou que imaginassem e

descrevessem a figura a partir da sua projeção em um plano de base.

Acreditávamos que, a partir dos registros discursivos em língua natural

poderíamos fazer inferências sobre como os sujeitos conseguiam “ver” a

representação e como conseguiam “visualizar” a representação, ou seja, como

conseguiam mobilizar e organizar as relações entre as informações vistas em

busca de uma representação semiótica da superfície quádrica estudada em cada

atividade.

Como dissemos nas conclusões da pesquisa, em alguns casos a concisão

das descrições e a brevidade das respostas não foram suficientes para que

conseguíssemos obter as impressões que gostaríamos. Em uma próxima

oportunidade, ao repetir o experimento ou ao rever os objetivos em uma nova

pesquisa, devemos considerar modificações no enunciado das questões,

tornando-as mais direcionadas e menos genéricas, eventualmente dividindo-as

em mais de um tópico, de modo a incitar nos sujeitos a reflexão e um maior

detalhamento nas descrições.

Em virtude da limitação de tempo que se impõe à produção de uma

pesquisa de Mestrado, tendo em vista que havíamos concebido: a) resolução de

um questionário de revisão sobre circunferências, b) análise das respostas do

questionário, c) institucionalização sobre as circunferências, d) atividades com

modelo de representação e finalmente e) análise das atividades; apesar de

termos previsto a necessidade de entrevistas com os sujeitos, não tivemos

condições de fazê-las e dirimir algumas dúvidas sobre as respostas que

apresentaram no decorrer das atividades.

Para citar um exemplo, no item 2.3 da Atividade 2, quando perguntamos

sobre a possibilidade de representar outra figura a partir das mesmas

transparências, os sujeitos do G3 responderam negativamente, dizendo que pelo

seu “ponto de vista não”, porém “por outro ponto de vista poderia se feito” (p.

124). Não conseguimos descobrir, pela análise dos protocolos, se estavam

falando do “ponto de vista” matemático, em referência ao local onde o observador

se coloca para observar determinado fenômeno; ou se estavam referindo-se ao

“seu ponto de vista” como quem quisesse dizer “em minha opinião”, “a meu ver”.

Neste caso, uma entrevista com estes sujeitos poderia esclarecer-nos.

156  

Em uma próxima oportunidade, devemos considerar um número menor de

atividades, menos abrangentes, direcionadas a um número menor de superfícies

quádricas, porém mais específicas além de prever no cronograma da pesquisa

um tempo dedicado à entrevista individual dos sujeitos, logo após a análise das

atividades, como modo de complementar as descrições por escrito.

A componente intuitiva, conforme escreve Fischbein (1993), parece, por

vezes suplantar qualquer iniciativa de formalismo. Orientados por esta

consideração teórica, procuramos desenvolver atividades que, a nosso ver,

pudessem mobilizar aspectos formais, algorítmicos e intuitivos dos conteúdos

matemáticos relacionados às superfícies quádricas.

Ao analisar os protocolos, no entanto, nos demos conta de quão coercivos

podem ser aspectos intuitivos, que nas atividades foram trazidos à tona sem a

necessária validação teórica, a bloquear eventuais possibilidades de interação

com aspectos formais e algorítmicos e a dificultar possíveis organizações de

informações em direção à visualização das superfícies quádricas. Em uma

próxima investigação, devemos considerar atividades e questionamentos

específicos, que levem os sujeitos a desenvolver uma reflexão sobre as

respostas, validando-as teoricamente por meio da mobilização de outras

componentes além das intuitivas.

Para Duval (1999)

O uso de visualização requer um treinamento específico para visualizar cada registro. Figuras geométricas ou gráficos cartesianos não são diretamente disponíveis como podem ser as representações icônicas. A aprendizagem não pode ser reduzida à treinar a construção destes registros (DUVAL, 1999, p. 14, tradução nossa 15).

Subsidiados por esta consideração teórica, acreditamos que, para que

haja aprendizagem, é necessário que os sujeitos compreendam que o acesso

aos objetos matemáticos não se dá de forma direta e imediata, como ocorre nos

casos de representações icônicas (um carro, uma casa, uma árvore).

                                                            15 The use of visualization requires a specific training, specific to visualize each register. Geometric figures or Cartesian graphs are not directly available as iconic representation can be. And their learning cannot be reduce do training to construct them.

157  

Acreditávamos que as unidades representacionais (gráficos de

circunferências, informações impressas sobre cotas, informações impressas

sobre raios, expressões algébricas, curvas de nível) presentes nos modelos de

representação tridimensional e nas atividades que propusemos, pudessem fazer

com que os sujeitos, além de “vê-las”, considerassem-nas e organizassem-nas, a

fim de desenvolver a visualização e criar representações semióticas das

superfícies quádricas. Notamos, no entanto, que, por vezes, os sujeitos se

referiam às representações como se fossem ícones, relacionando-as a “molas”,

“funis”, “alvos”, “escadas”, entre outros.

Devemos considerar, em uma próxima oportunidade, a concepção de

atividades que façam com que os sujeitos sintam-se impelidos a mobilizar outros

aspectos que não a percepção visual. A discussão que provocamos na Atividade

4 (p. 133) mostrou que é possível incitar os sujeitos nesta direção e pode servir

de referência para a criação de outras atividades.

Não tínhamos condições de filmar todos os participantes durante todo o

tempo da atividade, então optamos em solicitar ao cinegrafista que nos

acompanhou que filmasse as atividades por amostragem, ora focando um grupo,

ora outro, de acordo com as discussões que ocorriam nos grupos e de acordo

com a nossa orientação. A estratégia rendeu bons resultados, pois conseguimos

captar algumas discussões importantes, porém, o eco da sala onde realizamos

as atividades acabou prejudicando a audição de outros diálogos, que poderiam

complementar a análise. Em uma próxima oportunidade devemos considerar,

além da filmagem, a colocação de um gravador de áudio em cada grupo, a fim de

evitar esta limitação.

Terminamos esta pesquisa, mas não acabamos com a curiosidade, nem

com a vontade de investigar e aprofundar-nos sobre o assunto, pelo qual

acabamos nos apaixonando, relacionado às representações.

Acreditamos que mudanças nos enunciados das questões, na concepção

dos modelos tridimensionais e na dinâmica das atividades possam oferecer

outras oportunidades de estudo e reflexão, em busca de uma abordagem que

favoreça a aprendizagem de superfícies quádricas, para que outros, como nós,

também se apaixonem pelo saber.

158  

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CARAÇA, B. J. Conceitos Fundamentais da Matemática. Lisboa: 1978.

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159  

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(Mestrado em Educação Matemática) - Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro,

1998. 

160  

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE REVISÃO SOBRE CIRCUNFERÊNCIAS  

1) Indique qual é a expressão algébrica correspondente à representação gráfica, de acordo com a tabela abaixo, sabendo que o ponto C corresponde ao centro da circunferência:  

322 =+ yx  

 

922 =− yx  

 

922 =+ yx  

 

322 =− yx  

 

93 22 =+ yx  

 

222 =+ yx  

 

422 −=− yx  

 

222 =− yx  

 

422 =+ yx  

 

42 =+ yx  

 

  ( ) ( ) 332 22 =++− yx  

 

  ( ) ( ) 932 22 =++− yx  

 

932

22

=+yx

 

 

( ) ( ) 932 22 =−++ yx  

 

( ) ( ) 932 22 −=++− yx  

 

       

a) 

b) 

c) 

161  

2) Indique qual é a representação gráfica correspondentes à expressão algébrica:  

 

422 =+ yx  

 

 

 

   

a) 

162  

 

 

( ) ( ) 923 22 =−++ yx  

 

 

 

    

b) 

163  

3)  Indique qual é a descrição correspondente à representação gráfica:   

 i. Circunferência com centro em       

(‐3, 2) e raio de comprimento 2  

ii. Circunferência com centro em      (2, ‐3) e raio de comprimento 2 

 iii. Circunferência com centro em       

(‐3, 2) e raio de comprimento 4 

 i. Circunferência com centro em     

(0, 0) e raio de comprimento 6  

ii. Circunferência com centro em     (0, 0) e raio de comprimento 9  

iii. Circunferência com centro em     (0, 0) e raio de comprimento 3 

 i. Circunferência com centro em     

(0, 3) e raio de comprimento 3  

ii. Circunferência com centro em     (3, 0) e raio de comprimento 3  

iii. Circunferência com centro em     (3, 0) e raio de comprimento 6 

 i. Circunferência com centro em     

(2, 2) e raio de comprimento 2  

ii. Circunferência com centro em     (2, 0) e raio de comprimento 4  

iii. Circunferência com centro em     (2, 2) e raio de comprimento 4 

   

a) 

b) 

c) 

d) 

164  

4)  Indique qual é a descrição correspondente à expressão algébrica:   

( ) ( ) 1635 22 =+−− yx  

i. Circunferência com centro em     (5, ‐3) e raio de comprimento 4  

ii. Circunferência com centro em     (5, ‐3) e raio de comprimento 16  

iii. A expressão algébrica não corresponde a uma circunferência 

( ) 54 22 =−+ yx  

i. Circunferência com centro em     (0, 4) e raio de comprimento 5  

ii. Circunferência com centro em     

(0, 4) e raio de comprimento  5  

 iii. A expressão algébrica não 

corresponde a uma circunferência 

( ) 632 22 =++ yx  

i. Circunferência com centro em     (0, ‐3) e raio de comprimento 6  

ii. Circunferência com centro em     

(0, ‐3) e raio de comprimento  6  

 iii. A expressão algébrica não 

corresponde a uma circunferência 

722 =+ yx  

i. Circunferência com centro em (0, 

0) e raio de comprimento  7  

 ii. Circunferência com centro em (0, 

0) e raio de comprimento 7  

iii. A expressão algébrica não corresponde a uma circunferência 

  

a) 

b) 

c) 

d) 

165  

APÊNDICE B - ATIVIDADES COM O MODELO DE REPRESENTAÇÃO TRIDIMENSIONAL  

Atividade 1 

 

Seu grupo  irá receber  três modelos  feitos a partir de  transparências sobrepostas. Observe‐os e 

procure descrevê‐los com palavras,  fornecendo as  informações que  julgar necessárias para que 

alguém que não tenha visto os modelos consiga reproduzi‐los. 

 

1.1) Modelo 1 

 

 

 

1.2) Modelo 2 

 

 

 

1.3) Modelo 3 

 

 

 

1.4) Quais são as diferenças observadas entre um modelo e o outro? 

 

 

 

1.5) Como você imagina que seria a projeção destes modelos no plano de base? Justifique. 

 

 

 

1.6)  Você  acha  que  seria  possível  imaginar  um  objeto  tridimensional  a  partir  da  projeção 

horizontal das diversas circunferências sobre o plano de base? Justifique. 

 

 

 

 

166  

Atividade 2 

 

Seu grupo receberá 11 transparências impressas com representações gráficas de circunferências 

com  centro  na  origem  e  com  diferentes  comprimentos  de  raio.  Também  receberá  hastes  e 

espaçadores  para  que  as  transparências  possam  ser  montadas,  a  exemplo  do  modelo  que 

estávamos usando na atividade anterior. 

 

2.1) Monte as  circunferências nas hastes, de  forma que  fiquem  sobrepostas umas às outras e 

espaçadas entre si. 

 

2.2) Descreva, com palavras, quais foram os critérios que o seu grupo utilizou quanto à escolha 

do tamanho das circunferências e quanto à posição em que decidiram colocá‐las. 

 

 

 

 

 

2.3)  Você acha que seria possível criar a representação de outro sólido, a partir das mesmas 11 

transparências? Justifique. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

167  

Atividade 3 

 

3.1)  Utilizando  as  11  transparências  que  foram  entregues  ao  seu  grupo,  monte  uma 

representação  tridimensional  correspondente  à  expressão  algébrica  zyx =+ 22 ,  para  os 

valores inteiros de z=0  a z=10. 

 

3.2) Você consegue identificar alguma relação entre os valores de z e o raio das circunferências? 

Justifique sua resposta. 

 

 

 

3.3) Após  terminar a montagem,  imagine que as  transparências  sejam projetadas no plano da 

base. Desenhe as diversas projeções no plano cartesiano representado abaixo, identificando‐as. 

 

   

 

 

 

 

 

168  

 Atividade 4 

 

4.1) Utilizando as 11 transparências que foram entregues ao seu grupo, monte a representação 

tridimensional correspondente à representação bidimensional dada no gráfico abaixo. 

 

4.2) Descreva a figura que foi obtida. 

 

 

 

 

.  

 

 

 

 

 

 

 

 

169  

Atividade 5 

Diante da expressão  10222 =−+ zyx , um aluno verificou que pode isolar as variáveis x e 

y em um dos lados da equação e obter assim a equação reduzida de uma circunferência, cujo 

raio depende do valor de z. 

222 10 zyx +=+  

 

5.1) A partir das ideias deste aluno, complete a tabela e responda as questões abaixo. 

 

Valor de z  Expressão Raio 

z= ‐4   

z= ‐3   

z= ‐2   

z= ‐1   

z= 0   

z= 1   

z= 2   

z= 3   

z= 4   

 

5.2) Qual é a relação entre o valor de z e o raio da circunferência? 

 

 

5.3) Dentre as circunferências obtidas, existe alguma cujo raio tenha o comprimento igual a 

4,5 unidades? Se existe, em que altura você a colocaria? Justifique. 

 

 

5.4) Dentre as circunferências obtidas, existe alguma cujo raio tenha o comprimento igual a 

2,5 unidades? Se existe, em que altura você a colocaria? Justifique. 

 

 

 

 

 

 

 

170  

 Atividade 6 

 

6.1) Utilizando o   plano cartesiano abaixo, desenhe as curvas correspondentes à expressão 

algébrica  10222 =−+ zyx para os valores inteiros de z=‐5 a z=5. 

 

6.2) Reproduza a  figura  tridimensional  correspondente à expressão dada, utilizando as 11 

transparências que foram entregues ao seu grupo. 

 

6.3) Descreva, com palavras, a figura obtida. 

 

 

 

 

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172  

6 – Somente no final do estudo poderemos concluir a presença ou não de algum

benefício, na forma de propostas de abordagens de ensino diferentes da usual, para a

Matemática em geral e para o caso da codificação e da decodificação de representações

planas de superfícies quádricas.

7 – Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais

responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal

investigador é o mestrando Renato Mendes Mineiro, que pode ser encontrado em seu

local de trabalho, à Rua Carlos Villalva, 01 - 11º andar, tel. (11) 3779-0670 ou (11)

8509-5925, email [email protected]; e a orientadora é a Prof.a Dra. Vera

Helena Giusti de Souza, que pode ser encontrada na UNIBAN – Campus MR, à Av. Braz

Leme, 3029 – 1º andar , tel. (11) 2972-9045 ou (11) 3743-7240, e-mail

[email protected]. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da

pesquisa, entre em contato com a Comissão de Ética – Av. Braz Leme, 3029 – 1º andar

Telefones 2972-9020 / 9021, FAX: 2972-9028 – E-mail: [email protected];

9 – É garantida a liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento e de deixar

de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à continuidade de seu vínculo com a

Instituição.

10 – Direito de confidencialidade – As informações obtidas, assim como as imagens e

sons obtidos pela filmagem serão analisados no conjunto de participantes, não sendo

divulgada a identificação de nenhum destes.

11 – Direito de ser mantido atualizado – Os resultados parciais das análises serão

compartilhados, à medida que forem obtidos.

12 – Despesas e compensações: não há despesas pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua

participação.

13 – Os dados analisados serão utilizados somente para esta pesquisa.

173  

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que

foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Atividades para o Estudo de Superfícies

Quádricas, Mediadas por Modelos de Representação Tridimensional”. Eu discuti com o

mestrando Renato Mendes Mineiro a minha decisão em participar desse estudo. Ficaram

claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados,

seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos

permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas.

Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu

consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou

prejuízos ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu

atendimento nesta unidade de ensino.

Assinatura do aluno/representante legal Data

/ /

(Somente para o responsável do projeto)

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido

deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo.

Assinatura do responsável pelo estudo Data / /

 

 

174  

ANEXO B – PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA