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PALESTINA Com a morte de Arafat, a Palestina perde um símbolo, quando tudo o resto já lhe foi tirado. 4 DEZ II ENCONTRO NACIONAL AUTÁRQUICO J. FREG ST. ILDEFONSO - PORTO Nº 0 | 50 CÊNTIMOS DEZEMBRO 2004 BLOCO DE ESQUERDA MENSAL ES Q UERDA III ENCONTRO NACIONAL SOBRE DIREITOS DAS MULHERES VISEU | 27 E 28 NOV. 2004 | WWW.BLOCO.ORG II ENCONTRO NACIONAL AUTÁRQUICO CIDADANIA, DESCENTRALIZAÇÃO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO SÁBADO 4 DEZ 2004 PORTO AUD. JUNTA DE FREGUESIA DE STº ILDEFONSO R. GONÇALO CRISTÓVÃO, 187 (PERTO DO EDIFÍCIO JN) WWW.BLOCO.ORG 27/28 NOV III ENCONTRO NACIONAL SOBRE DIREITOS DAS MULHERES INST. JUVENTUDE - VISEU ORÇAMENTO Santana Lopes fez um orçamento baseado em fantasias. No fim, vão pagar os do costume. E.U.A. Mais quatro anos de Bush. Os ziguezagues democratas não foram alternativa à política da guerra. A lei do mais forte A lei do mais forte RENDAS RENDAS Paulete Matos

RENDAS A lei do mais forte - esquerda.net · pagar os do costume. E.U.A. Mais quatro anos de Bush. Os ziguezagues ... mais do que dois sal ários m ínimos. Para refor çar a estabilidade

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PALESTINACom a morte de

Arafat, a Palestinaperde um símbolo,quando tudo o resto

já lhe foi tirado.

4 DEZII ENCONTRO NACIONAL

AUTÁRQUICOJ. FREG ST. ILDEFONSO - PORTO

Nº 0 | 50 CÊNTIMOS

DEZEMBRO 2004BLOCO DE ESQUERDAMENSAL ESQUERDA

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE

DIREITOS DAS MULHERESVISEU | 27 E 28 NOV. 2004 | WWW.BLOCO.ORG

IIENCONTRONACIONAL AUTÁRQUICO

CIDADANIA, DESCENTRALIZAÇÃOE ORDENAMENTODO TERRITÓRIO

SÁBADO4 DEZ 2004PORTOAUD. JUNTA DE FREGUESIA DESTº ILDEFONSOR. GONÇALO CRISTÓVÃO, 187(PERTO DO EDIFÍCIO JN)

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27/28 NOVIII ENCONTRO NACIONAL SOBRE

DIREITOS DAS MULHERESINST. JUVENTUDE - VISEU

ORÇAMENTOSantana Lopes fez

um orçamentobaseado em

fantasias. No fim, vãopagar os do costume.

E.U.A.Mais quatro anos de

Bush. Os ziguezaguesdemocratas não

foram alternativa àpolítica da guerra.

A lei do maisforte

A lei do maisforte

RENDASRENDAS

Paul

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Prontos paradespejarProntos paradespejar

Dezembro 2004 > Esquerda 2

Ogoverno de DurãoBarroso anunciou,desde cedo, a suaintenção de refor-mar o regime doa r r e n d a m e n t o

urbano. Dois anos passaram e oque é apresentado é um pedidode autorização legislativa àAssembleia da República,acompanhado de um antepro-jecto. Apresentando uma pro-posta de lei na Assembleia daRepública, a mesma seria traba-lhada na especialidade. Pode-riam ser ouvidos inquilinos esenhorios, pessoas com conhe-cimentos práticos e teóricossobre esta matéria. Com umaautorização legislativa, tal nãosucederá.

A questão só não passou total-mente despercebida entre a dis-

cussão do Orçamento de Estado ,pois à última hora a maioriacedeu às pressões sociais e daoposição e foi agendado umpequeno período de discussão naespecialidade de propostas dealteração, que só serviram paraintroduzir pequenas correcçõese reforçar as ambiguidades.

Da reforma apresentada peloGoverno apenas escapam oscidadãos com mais de 65 anos ecujo agregado familiar não tenhaum rendimento superior a cincosalários mínimos (1.828€ em2004).

Todos os restantes inquilinos,cerca de 192 mil, de acordo comos dados do governo, serão afec-tados pelos aumentos. Mas ape-nas os inquilinos com idade infe-rior a 65 anos e com um rendi-mento familiar inferior a três

salários mínimos (1.096,6 € em2004), terão direito a um even-tual apoio do Estado.

A avalanche de aumentos e aescassez de apoios do Estado dei-xarão sem tecto centenas defamílias, afastarão outras doslocais onde construíram toda asua vida, onde têm os seus ami-gos e os seus laços, as suas refe-rências.

Mesmo os inquilinos que têmum contrato por tempo indeter-minado poderão ser obrigados amudar de casa com um mero pré-aviso de três anos, sem necessi-dade do senhorio invocar qual-quer fundamento ou motivopara tal.

Será certamente este o meioque os senhorios utilizarão paradesalojar os seus inquilinos semnecessidade de lhes pagar a

indemnização, que seria devidano caso de não chegarem a umacordo sobre o valor da rendanegociada. Será este o meio queos senhorios utilizarão paradesalojar os inquilinos que seaproximam perigosamente dos65 anos, idade a partir da qual nãopoderão ser despejados.

No entanto, o facto de os inqui-linos com idade superior a 65anos não poderem ser despeja-dos não é sinónimo de se mante-rem nas suas habitações actuais,pois aqueles cujo rendimentopermite um aumento de rendapoderão ser confrontados com anecessidade de serem eles adenunciar o contrato por impos-sibilidade de pagamento do novovalor. Não estão contempladospor qualquer possibilidade derequererem um apoio do Estado.

Sem mais casas paraarrendar

Seria de esperar medidas quecontribuíssem para a dinamiza-ção do mercado de arrendamen-to, aumentando largamente aoferta de casas para arrendar edessa forma contribuir, por efei-to do mercado, para a reduçãodas rendas para valores razoáveise não especulativos como os queactualmente são praticados.Contudo, a este nível, o Governonada faz.

Não podemos ignorar o factode que os municípios preferemuma política de construção denovos edifícios à reabilitação dosantigos, por ser essa uma das suasfontes de financiamento.

Há milhares de casas devolutashá vários anos, à espera domomento da ruína que vai permi-

LEI DAS RENDAS

O GOVERNO VAI MUDAR A LEI DAS RENDAS.

CENTENAS DE MILHARES DE PESSOAS SERÃO AFECTADAS. Cláudia Oliveira

Paul

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3 Esquerda > Dezembro 2004

tir a especulação imobiliária como valor do terreno. Se as casas nes-ta situação fossem penalizadas emsede de impostos, à semelhançado que acontece em Paris, se oImposto Municipal sobre Imóveisfosse agravado todos os anosdurante o tempo em que a casa semantivesse devoluta, muitos pro-prietários pensariam duas vezesantes de tomarem a opção de nãocolocar a casa no mercado dearrendamento.

Tal como está a Lei, os pro-prietários nunca se endividarãopara a recuperação das casas,quando a maioria dos inquilinosnão é abrangida pela reforma.Mesmo nas situações em quepode haver aumento de renda,esta não compensa o esforço queesse investimento pode implicar.Após ter pago as obras, dificil-mente o senhorio conseguirápagar uma indemnização aoinquilino, caso este venha a dis-cordar da renda proposta. Teráde aceitar a contra-proposta.Outra hipótese será a de venderaos especuladores imobiliários,que não terão problemas em pro-ceder às obras suficientes para aactualização da renda nem noconsequente pagamento deindemnizações e que rapida-mente dominarão as cidades.

Bloco propõealternativa

Como resposta a esta reforma, oBloco de Esquerda apresentou naAssembleia da República um pro-jecto de lei relativo ao arrenda-mento para a habitação.

O projecto do BE, partindo dopressuposto que cabe ao Estadogarantir o direito constitucional àhabitação, prevê um aumento dasrendas justo para os senhorios,acompanhado de diversas medi-das sociais de apoio às famílias,tornando-se dessa forma justopara os inquilinos.

O Estado comparticiparia esseaumento de rendas a dois níveis:A actualização da renda seria

suportada pelo Estado, que paga-ria a diferença aos senhorios. Estamedida aplica-se a inquilinoscom idade superior a 65 anos erendimento inferior a 5 saláriosmínimos, portadores de deficiên-cia ou com incapacidade para otrabalho, com deficientes a cargo,desempregados, ou com rendi-mento inferior a 1,5 salários míni-mos, 2 salários mínimos ou 2,5salários mínimos, consoante oagregado familiar seja compostopor 2, 3 ou mais de 4 pessoas. Osinquilinos poderiam auferir de umsubsídio que compensasse essadiferença, sempre que o valor darenda correspondesse a uma taxade esforço para o rendimento doagregado familiar superior a 10%ou 15%, consoante os agregadosfamiliares auferissem menos oumais do que dois salários mínimos.

Para reforçar a estabilidade docontrato, o Bloco propõe que setenha em conta situações dedesemprego, de deficiência ou demaior fragilidade social para obs-tar à denúncia do contrato ou aodespejo.

O projecto avançava ainda comdiversas medidas que culminamno aumento do número de casaspara arrendar, nomeadamente acriação de uma bolsa de arrenda-mento, o agravamento do Impos-to Municipal (IMI) das casasdevolutas, o estabelecimento deuma moratória à construção nosconcelhos com uma taxa de casasdevolutas superior a 10%. Algu-mas destas propostas, como a doagravamento do IMI foram recen-temente defendidas pela Associa-ção Nacional de Municípios.

O governo elogiou o projectomas não aceitou nenhuma daspropostas. Apesar de todos osesforços do governo, os cidadãoscomeçam a organizar-se paralutar contra ele. Foi o caso de umplenário, realizado no dia 15, deinquilinos de Lisboa e da manifes-tação realizada, também em Lis-boa, no dia 18.

Mesmo osinquilinos quetêm um contratopor tempoindeterminadopoderão serobrigados amudar de casacom um meropré-aviso de três anos.

EDITORIAL | Francisco Louçã

O país está a serassaltado

Santana Lopes está finalmente legitimadono seu poder: o PSD aclamou-o em con-gresso, com uma maioria norte-coreana,quatro meses depois de uma centena de

barões e o Presidente da República o terem empos-sado como primeiro-ministro.

Pareceu uma espera longa, foi na verdade curtademais – quando acabam os ecos do congressolaranja, já o governo está esgotado e desagregado. Oministro do ambiente recusa um dia a privatizaçãodas águas e aceita-a no outro dia; o ministro da eco-nomia critica o ministro dos assuntos parlamentarespelas suas declarações no caso Marcelo; o ministrodas finanças quer alterar os escalões e não mexernas taxas, mas é desmentido pelo primeiro-ministro;Santana anuncia alterações nas taxas moderadorasda saúde, mas o ministro respectivo não sabe denada; o ministro das finanças e o da segurança socialnão se entendem sobre o que se vai passar com aspensões neste ano. Uma confusão absoluta.

O governo está isolado e enfraquecido pela confusãomas sobretudo por uma razão muito mais importan-te: é o governo mais depressa rejeitado por mais por-tugueses. A credibilidade de Santana como primei-ro-ministro é insignificante no país. Porque o país jáo conhece: quando anuncia diminuição de impos-tos, é porque quase todos vamos pagar mais e osmais poderosos que não pagam nada assim conti-nuarão. Mas os doentes pagarão mais nos hospitais,as propinas estão no máximo, os transportes aumen-tam, as rendas de casa vão disparar, criam-se por-tangens nas estradas do interior, a convergência daspensões com o salário mínimo é uma mentira. ComSantana, o país está a ser assaltado.

EFEITO DA LEI DAS RENDAS DO GOVERNOmais de 65 anos menos de 65 anos- de 5 Salários + de 5 Salários - de 3 Sal. Mín 3 a 5 Salários + 5 Salários

Mínimos Mínimos (tem direito a subsídio) Mínimos Mínimos

CÁLCULO DO RENDIMENTO: (un. = Salário Mín. Nacional)

Em 2004:(3 SMN = 1096 €) (5 SMN = 1828 €)

NNÃÃOO SSÃÃOOAABBRRAANNGGIIDDAASS

PPEELLAA RREEFFOORRMMAA(valor da rendapode aumentar

com a realizaçãode obras, como

hoje a lei já prevê)

RREENNDDAA CCOONNDDIICCIIOONNAADDAA(valor da casa àdata do arrenda-mento x 5%/12)

3 ANOS DERENDA

CONDICIONADA(valor da casa àdata do arrenda-mento x 5%/12)

33 AANNOOSS DDEE RREENNDDAANNEEGGOOCCIIAADDAA

(resulta da nego-ciação das partes.Se não há acordoquanto ao valor, o

contrato termina erecebe uma

indemnização)

3 ANOS DERENDA

CONDICIONADA(valor da casa àdata do arrenda-mento x 5%/12)

33 AANNOOSS DDEE RREENNDDAANNEEGGOOCCIIAADDAA

(resulta da nego-ciação das partes.Se não há acordoquanto ao valor, o

Quando acabam os ecos docongresso laranja, já ogoverno está esgotado edesagregado.

Dezembro 2004 > Esquerda 4NACIONAL

O BLOCO de Esquerda lançou umacampanha contra a introdução deportagens nas SCUT’s. Quandoestas auto-estradas foram criadas,um dos principais argumentos eraque elas iriam aumentar a acessibi-lidade às regiões menos desenvolvi-das. A introdução de portagens terárepercussões negativas para odesenvolvimento local e regional. A

construção duma Auto-Estradapaga obriga a existência de alterna-tivas, o que não acontece em muitosdos casos em que vão ser introduzi-das as portagens. As SCUT’s saemcaras ao Orçamento de Estado gra-ças aos “project finance” negocia-dos, que foram feitos, em geral, parasatisfazer os interesses das entida-des financiadoras.

A 29 DE OUTUBRO mais de 95%dos trabalhadores da Caixa Geral deDepósitos fizeram greve e 98% dasagências estiveram fechadas. Hámais de 15 anos que não faziamuma greve tão participada.Foi a primeira resposta dos traba-lhadores à pretensão do ministroBagão Félix de extinguir o Fundode Pensões da CGD para o integrar

na Caixa Geral de Aposentações e,com este artifício, conseguir que odéfice orçamental fique abaixodos 3%.Os trabalhadores da CGD, que des-contam do seu vencimento paraeste fundo, temem que esta sejauma forma de o governo lhes imporuma nova fórmula de cálculo depensões e assim perderem direitos.

TRABALHADORES da função públi-cavão realizar uma vigília de protes-to no dia 15 de Dezembro junto aoMinistério das Finanças em Lisboa.Os funcionários públicos, que nosúltimos anos viram os seus saláriosreais baixarem, lutam por aumentossalariais e contra a precariedade.Com os governos PSD/PP, os traba-lhadores têm vindo a ser tratados

como a desgraça da administraçãopública. A imposição dos contratosindividuais de trabalho, a perda dedireitos nos hospitais empresariali-zados, entre outras situações, geramum clima de insegurança e medo.A vigília será mais um passo na pro-longada luta que os funcionáriospúblicos vêm travando na defesados seus direitos.

MAIS UMA VEZ, uma mulher foi jul-gada por ter abortado. Desta vez,uma rapariga que abortou quandotinha 17 anos. A juíza ConceiçãoOliveira considerou que não ficouprovada a ingestão de comprimidos,que levaram à interrupção voluntá-ria da gravidez. Mesmo o MinistérioPúblico defendeu a absolvição da

arguida. A denúncia à PSP foi feitapor um enfermeiro, o que levou aoprotesto da sua Ordem, por violaçãodo sigilo profissional a que estavaobrigado. Também uma médica,que prestou declarações à polícia eforneceu o relatório médico, estásujeita a um processo disciplinar daOrdem dos Médicos.

É PRECISOrecuar ao tempo da dita-dura, com os seus “gorilas” dentrodas Faculdades, para encontrarmosalguma semelhança com o que sepassou agora em Coimbra. Depoisda intervenção da PSP na Universi-dade, que impediu a entrada dosestudantes, incluindo vários sena-dores, numa sessão do Senado, eque acabou com a agressão de um

estudante, uma manifestação desolidariedade, em Lisboa, contoucom a participação de cerca de trêsmil estudantes. A manifestação,que se realizou no dia 4 de Novem-bro, serviu igualmente para reiterara oposição dos estudantes às propi-nas. Na Universidade de Coimbra,assim como em várias faculdades,foi estabelecida a propina máxima.

REALIZOU-SE, no fim-de-semanade 12 a 14 de Novembro, o XXVICongresso do PSD. Apesar da tenta-tiva de transformar o congresso nummomento de culto da personalidadedo seu novo líder, este acabou pordeixar transparecer o grau de degra-dação a que coligação PSD/CDSchegou. Os poucos dirigentes quevieram em defesa da coligação,

como o ministro Nuno Morais Sar-mento, fizeram-no em nome da“estabilidade”, sem nunca defen-der o trabalho que o CDS tem feitono governo. Apesar deste ser o último congressoantes das legislativas, não houvenenhuma decisão sobre qualqueracordo pré eleitoral para aquelaseleições.

PSD Xeque àcoligação

Aborto Mais umjulgamento

SCUT’s Portagemé Santanagem

Função Pública Vigília a 15

Comunicação Social Para acabar com a manipulação

Coimbra Políciana Universidade

CGD95% em greve

PERANTE O “caso Marcelo”, aspolémicas em torno da direcção do“Diário de Notícias” e a demissão dadirecção de informação da RTP, oBloco de Esquerda apresentou umpacote legislativo para a área dacomunicação social.Um dos projectos retoma um ante-rior, contra a concentração da pro-priedade dos meios de comunica-ção social. Outro pretende desgovernamenta-lizar a RTP. O projecto defende quea Assembleia da República indi-que, por maioria qualificada dedois terços, o Presidente e restan-tes membros do Conselho de

Administração da RTP, para ummandato de três anos, e que apro-ve um Programa Estratégico deServiço Público de Televisão paravigorar no mesmo período. A solu-ção inglesa, que dá à sociedadecivil este papel, mostra-se inviável,tendo em conta a falta de autono-mia política e a fragilidade doassociativismo em Portugal.O terceiro projecto cria uma novaAutoridade para a ComunicaçãoSocial (ACS), que passa a ter umConselho Superior, apenas com 5membros (e não 11). O seu presi-dente passa a ser nomeado pela Pre-sidência da República. Os restantes

quatro membros são nomeados peloConselho Superior de Magistratura,Assembleia da República, jornalis-tas e associações empresariais decomunicação social. Será a ACS a aplicar sanções, a con-ceder, suspender e revogar licençasde rádio e de televisão, a dar parece-res e a autorizar, de forma vinculati-va, qualquer acto que altere a estru-tura de propriedade de empresas deComunicação Social. Todas as deci-sões são passíveis de recurso a tri-bunal administrativo.Com estes projectos, o Governo dei-xa de ter quaisquer poderes naComunicação Social.

«Concorda com aCarta de DireitosFundamentais, a

regra dasvotações por

maioria qualificadae o novo quadroinstitucional da

UE, nos termos daConstituição para

a Europa?»PERGUNTA PARAO REFERENDO ÀCONSTITUIÇÃOEUROPEIA, COMO VOTO CONTRA

DO BLOCO

«É totalmenteirresponsável, é demagógico

e é uma aventuraperigosa

querer baixar os impostos

sobre osrendimentos.»JOSÉ SÓCRATESNO DEBATE DOORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2005

Paul

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O HOMEM QUE DEU ROSTO A

UMA NAÇÃO PARTIU.

DEPOIS DE ARAFAT, UMA NOVA

LIDERANÇA LEGITIMADA NAS

URNAS É INDISPENSÁVEL. MAS

ESSA PRIORIDADE ENFRENTA A

REALIDADE DE UMA OCUPAÇÃO

COLONIAL QUE ESTÁ A LIMITAR

DRASTICAMENTE A LIBERDADE

DE MOVIMENTOS NA PALESTINA.

REPORTAGEM NAS CENTRAIS.

Derrubaro MuroPALESTINAPALESTINA

Derrubaro Muro

GLOBALJORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU

Dezembro 2004 > IIESTADOS UNIDOS

Kerrynão foi alternativa a

Bush

Quando viu asenormes filas deeleitores nas sec-ções de voto debairros popularesdos Estados Uni-

dos, o académico Timothy Gar-ton Ash lembrou-se das eleiçõessul-africanas que marcaram ofim do Apartheid na África doSul. A ânsia de derrubar umregime odiado, pensou, estaria arepetir-se agora um pouco portodos os EUA, desta vez paraacabar com o governo Bush. Asprimeiras sondagens feitas àboca da urna pareciam confir-mar esta esperança.

Mas estavam completamenteerradas. A maioria dos eleitoresfoi às urnas para votar em Bush.O candidato republicano obteveuma vitória esmagadora no votopopular. Ganhou cerca de 4milhões de votos em relação àseleições de 2000 (quando per-deu por cerca de 500 mil votos). E

ganhou, não só porque garantiua vitória nos seus redutos eleito-rais – a América rural –, mas tam-bém porque ampliou a votaçãoem sectores mais urbanos eexplorados da sociedade. Teve44% dos votos dos latinos, con-tra 33% em 2000. Até no votonegro conseguiu progredir (de9% para 11%). E cresceu tambémnos arredores pobres de muitascidades importantes – por exem-plo, da própria Nova York, deMinneapolis, de Indianápolis.“Em torno de Atlanta, cidademaioritariamente negra edemocrata, o voto republicanoaumenta à medida em que nosafastamos do centro”, observouo Le Monde(4/11).

O paradoxo desta eleição é queBush ganhou em toda a linha(ampliou a maioria no Senado eno Congresso), mesmo quandoas sondagens mostravam que aacção do governo é avaliadanegativamente por 52% dos

americanos. Como explicar estacontradição?

As ambiguidades de Kerry

Em primeiro lugar, a estratégiade manipular o medo da popula-ção parece ter funcionado. “Pre-firo que os nossos soldadossofram lá no Iraque do que ser-mos atacados em casa”, disseuma eleitora de Bush entrevista-da pela televisão. A estratégia damentira, que fundamentou ainvasão do Iraque na supostaexistência de armas de destrui-ção massiva e em inexistentesligações do Iraque ao terrorismointernacional, encontrou assimeco nos medos dos eleitores. Amaioria achou que Bush é, ape-sar de tudo, mais capaz queKerry de enfrentar uma eventualsituação semelhante à do 11 deSetembro.

Claro que a campanha deKerry contribuiu decisivamente

para este sentimento. “Emnenhum momento o candidatodemocrata discutiu de formahonesta a questão mais impor-tante que o país enfrenta: comose retirar da guerra no Iraque”,observou a revista The Nation,uma centenária publicação deesquerda. Pior: desde que votoua favor da invasão do Iraque,Kerry manteve uma políticaambígua em relação ao conflito.Acentuou as críticas à invasãodurante as primárias, para garan-tir a nomeação; mas depois,durante a campanha, adoptou apostura de valorizar as suas cre-denciais de veterano do Vietna-me para se apresentar como umchefe de guerra mais capaz queBush, dizendo muitas vezes queteria conduzido muito melhor aocupação que o presidente repu-blicano. “Não estou a falar de sair[do Iraque]. Estou a falar de ven-cer”, disse, num dos debates comBush. Para cobrir o flanco direi-

to, Kerry chegou a acusar a CasaBranca de ser branda em relação àCoreia do Norte e ao Irão. Osestrategas da campanha de Bushsouberam habilmente aprovei-tar estas ambiguidades em rela-ção à “guerra errada, feita nolugar errado e no momento erra-do” para mostrar Kerry comouma pessoa indecisa e contradi-tória.

Para piorar, os principais diri-gentes do movimento antiguer-ra, para supostamente não preju-dicarem Kerry, deram uma tré-gua durante a campanha. E dei-xaram assim escapar uma opor-tunidade de ouro de ganhar a opi-nião pública para a necessidadede uma retirada.

Mais do que uma vitória deBush, estamos assim diante deuma derrota de Kerry, que nãosoube encurralar Bush no seuponto mais fraco (o Iraque) etambém não tinha propostas quedissessem algo ao povo mais

CAMPANHA DO CANDIDATO DEMOCRATA FACILITOU A VITÓRIA DE UM PRESIDENTE DESPRESTIGIADO. Luís Leiria

III > Dezembro 2004

pobre (Bush teve 36% do votodos sindicalistas).

Bush não vai ter vida fácil

A derrota de Bush teria semdúvida representado um enfra-quecimento considerável dainvasão, e ao mesmo tempo umenorme novo impulso ao movi-mento antibélico em todo omundo. Mas a vitória tambémnão veio resolver qualquer pro-blema do atoleiro na Mesopotâ-mia. A própria ofensiva de Fallu-ja o provou: enquanto as tropasamericanas e britânicas avança-vam à força de um poder de fogoesmagador, os ataques da resis-tência multiplicavam-se na rec-taguarda, e particularmente emMossul. Às vésperas das anun-ciadas eleições iraquianas, ocontrolo no terreno da coligaçãoe do governo fantoche é mais doque precário. Bush não vai teruma vida fácil nos próximos anos.

“Sem qualquer dúvida, precisamos desarmar SaddamHussein. Ele é um ditador brutal, assassino, que dirigeum regime opressivo... Representa uma ameaça particu-larmente grave... A ameaça de Saddam Hussein com asarmas de destruição maciça é real.” (dois meses antes dainvasão do Iraque)

(Respondendo à questão se se considera um dos candi-datos antiguerra) “Sim, no sentido de que não acreditoque o presidente nos tenha levado para a guerra comodevia, sim, absolutamente. Se acho que que o presidenteviolou as suas promessas à América? Sim, acho.” (Janei-ro 2004)

“Essa vitória da guerra foi brilhante e soberba, e todosaplaudimos as nossas tropas por terem feito o que fize-ram, mas é preciso ter a capacidade de impor a lei e aordem nas ruas e restaurar os serviços fundamentais, eacredito que as tropas americanas estarão mais segurase a América gastará menos dinheiro se tivermos umacoligação mais ampla envolvida, incluindo as NaçõesUnidas.” (Maio 2004)

“O que eu quero é mudar a dinâmica no terreno. E é preci-so fazer isso começando por não retirar das Fallujas e deoutros lugares, mandando uma mensagem errada aosterroristas” (criticando a atitude de retirada depois daprimeira ofensiva sobre Falluja).

“Eu não teria apenas feito uma coisa diferente do presi-dente no Iraque, teria feito tudo diferente. Disse-o desdeo início do debate sobre a entrada em guerra. Disse: 'Sr.Presidente, não se apresse a ir para a guerra, construauma coligação legítima e tenha um plano para ganhar apaz.'” (Setembro 2004)

Mais do que umavitória de Bush,estamos diantede uma derrotade Kerry, quenão soubeencurralar Bushno seu pontomais fraco (oIraque) etambém nãotinha propostasque dissessemalgo aos maismais pobres.

ALBERTO GONZÁLEZ, indicado por Bush para substi-tuir John Ashcroft como ministro da Justiça (attorneygeneral), foi um dos maiores defensores de que os Esta-dos Unidos violassem e ignorassem os princípios daConvenção de Genebra, que ele considera “esquisi-tos”. “É um criminoso de guerra. Tem de ser processadosob as Convenções de Genebra e a Lei americana de Cri-mes de Guerra”, diz o professor de Direito da Universi-dade de Illinois Francis A. Boyle. Como conselheiro daCasa Branca, González ordenou ou aprovou o uso de tor-tura contra prisioneiros iraquianos, como em AbuGhraib, além de todos os atentados aos direitos huma-nos praticados em Guantánamo. A mensagem que estanomeação dá ao mundo não podia ser mais clara. Tra-ta-se de um “inimigo da Humanidade”, como lhe cha-ma Boyle, à frente da Justiça norte-americana.

A outra nomeação importante, a de Condoleeza Ricepara secretária de Estado, não foi propriamente umasurpresa. Curioso será ver como “Condi” vai aplicar ago-ra os princípios que sugeriu a Bush na sequência dainvasão do Iraque: “Castigue a França, ignore a Alema-

nha e perdoe a Rússia”. À frente da diplomacia dosEUA, é difícil ter ilusões de que Condoleeza altere ummilímetro que seja a política pró-Sharon na questãopalestiniana, ou que imprima uma inflexão à políticados falcões na questão iraquiana ou em relação ao Irão.

Para o lugar de Condoleeza como Conselheiro de Segu-rança Nacional foi nomeado Stephen Hadley, mais umfalcão que fez parte do grupo dos Vulcans, conselheirosde Bush na campanha de 2000 para assuntos de políti-ca externa. Entre os Vulcans estavam Cheney, Rums-feld, Wolfowitz, Perle.Antes de ser o braço direito de Condoleeza, Hadley foium grande defensor dos interesses da indústria dearmamentos e participou de um estudo que defendia odesenvolvimento de mini-armas nucleares e o seu usomesmo contra países não-nucleares.Assim, as nomeações divulgadas até à hora do fechodeste jornal parecem seguir um padrão: Bush quer umaequipa unida de falcões que não esboçarão a mínimadivergência nas actuais (e futuras?) operações deguerra.

Kerry Ziguezaguessobre o Iraque

Umcriminoso deguerra comoMinistro daJustiça

Dezembro 2004 > IV

Por tocup

Naquela segundafeira consegui-mos autoriza-ção para entrarna Faixa deGaza. No mes-

mo dia, um miúdo de 16 anos,militante da FPLP, fazia-seexplodir em Telaviv, somandonovas quatro vítimas civis àscerca de mil que, do lado israeli-ta, as estatísticas registam desde2000.

Se o miúdo fosse de Gaza, onosso dia teria sido diferente.Com alta probabilidade teríamosvisto chegar os helicópteros apa-che, de controlo remoto, descen-do sobre a casa da família dojovem, destruindo-a. A famíliapagando pelo filho. Ou teríamossido informados que os tanquesde guerra e os buldozzersestavama chegar de novo às margens docampo de refugiados de Jabalya.Vimos os efeitos da anteriorexpedição de retaliação e puni-ção, no início de Outubro: quar-teirões arrasados a bulldozer, 55famílias desalojadas num deles,160 mortos entre combatentes e

civis. Por causa das expediçõespunitivas, desde o inicio da cha-mada “segunda intifada”, trêsmil e seiscentos palestinianosperderam as suas vidas. Mais de80% eram civis. Numa popula-ção que não chega a quatromilhões, é bárbaro. Imaginem292 mil norte-americanos mor-tos no Iraque, em quatro anos, etêm-se uma ideia...

Eis, cruamente, como as coisasse apresentam: a Terra Santa estáem guerra. Essa guerra, de um ede outro lado, é feita por miúdos.Uns, ultra-equipados, perten-cem a um dos mais bem prepara-dos exércitos do mundo; osoutros, porque não têm helicóp-teros apache, nem caças F16,nem tanques, usam rockets e oque têm à mão – frequentementeos seus próprios corpos. Nestaguerra calada, assimétrica e fatal,as primeiras vítimas são os civisdos dois lados. Mas, acima detudo, o que se esvai é a esperança.É a sua ausência que alimenta adança macabra das bombas suici-das e das punições colectivas. É asua morte que faz a maioria dos

israelitas apoiar o novo muro davergonha, e a maioria dos palesti-nianos reconhecer como márti-res os seus filhos.

A asfixia de um povoPercebe-se o medo em Telaviv,

porque é imponderável a bombahumana num restaurante, nummercado ou numa espera deautocarro. Como se sente, ó sesente, o sofrimento colectivo deuma nação que vive prisioneirana sua própria terra. Medo e revol-ta, eis os condimentos do sanguederramado, os obstáculos maio-res para uma solução política.Mas, porque há um ocupante eum ocupado, só um hipócrita ouum tonto pode, ante os factosmais recentes, imitar Pilatos.

Comecemos pelo muro. Ariel Sharom justifica-o em

nome da segurança de Israel e, defacto, o número das bombas sui-cidas caiu em flecha. Sucede queandámos a visitá-lo e “aquilo”nada tem a ver com uma muralhachinesa instalada nas fronteirasda última guerra, a de 67. Os 255Km de betão e arame electrifica-

do com duplas vias internas decontrolo militar – falta ergueroutro tanto... – entram pelos ter-ritórios que Israel atribuiu àAutoridade Palestiniana. Nal-guns casos, essas incisões pene-tram 30 e 40 Km na “terra dooutro”. Noutros casos, como emAbuDis, dividem a cidade a meio.AbuDis está para Jerusalémcomo a Amadora para Lisboa.Dali vê-se a abóbada doirada damesquita de Al Aqsa. Imagineagora que a sua viatura segue pelarua principal desta periferia eque, de repente, um muro a inter-rompe. Não se perde só a vista. Derepente, na direcção de Jerusa-lém, você deixa de ter acesso aosserviços, às escolas e serviços desaúde que ficavam do “outrolado”. E as visitas aos familiarespassam a ser drasticamente limi-tadas. Se fosse uma pura questãode “maldade” compreendia-semelhor. Mas não. O Muro foicolocado naquele preciso lugarpara defender um pedaço de terraque Israel quer para um futurocolonato. Assim se cercam as cer-canias da cidade santa.

Em Qalqylia, mais a Norte, oMuro conta outra história. Elemura a cidade em volta, como naIdade Média. Mas as muralhasmedievais eram feitas pelosmoradores. A de Qalqylia, pelocontrário, foi erguida contra eles.O que ali sobrevive é uma cidade-prisão de 80 mil criaturas, deonde se sai ou entra ao ritmo mar-cado pelos carcereiros.

Qalqylia é como Gaza. Umaprisão que os carcereiros deixamentregue aos prisioneiros. Umdeles é produtor de flores. RaidHourani, 40 anos, tem a sua estu-fa junto ao Muro. Está “nas mãosde Deus”, ou seja, vende ao preçoque lhe oferecem. A cobertura daestufa parece um queijo gruyereeos soldados revistam-no e deci-dem quando pode trabalhar. Aterra que usa fica para lá do Muroe os soldados cobram sempre quea carrega. Uma encomenda para afeira de Nablus, a umas dezenasde quilómetros, pode demorardois dias a chegar. Morta, porquea vida ao ritmo dos checkpointsnão é compatível com o tempodas flores. Nem com o dos homens.

NO DIA EM QUE ARAFAT FAZIA A SPARA O HOSPITAL EM PAR

EURODEPUTADOS CHEGAVA À TNÃO OFICIAL À PALESTINA

REPORTAGEM

V > Dezembro 2004

terrapada

Contra todas as declaraçõesoficiais, a evidência mostra que oMuro não foi erguido para sepa-rar israelitas de palestinianos,mas para impedir a circulaçãodestes na sua terra. Aliás, ele nãose compreende sem os restantes703 obstáculos que a ONU iden-tificou na Cisjordânia. Tambémeles se destinam a evitar o contac-to entre palestinianos.

Seguir viagem pelas estradasda Cisjordânia é chocante. Ascidades e vilas palestinianas dis-tinguem-se, à vista desarmada.Descem pelas colinas, têm mina-retes e o seu perfil é anárquico. Oscolonatos, nos montes ao lado,ocupam os topos, são rigorosa-mente ortogonais e as suas mora-dias, todas iguais, têm, não raro,painéis solares, árvores, jardins episcina privativa. Muitas enver-gonham as do Restelo, mas não éisso que mais impressiona. O quechoca são os acessos da vila pales-tiniana à via rápida. Invariavel-mente cortados. Ou lhes abriramuma cratera à bomba ou os blo-queam com gigantescos cubos decimento.

Aos bloqueios adicionem-se60 checkpoints. Não são frontei-ras, mas barreiras internas desti-nadas a infernalizar a vida daspessoas. Miúdos e miúdas de far-da revistam e revistam e revistam.Tudo funciona ao ritmo de apre-sentação de cadernetas de dife-rentes cores, que definem ori-gens e horários de circulação. Ademocracia de Israel nos territó-rios ocupados é como a queconhecemos noutras paragens:bantustizaçãoe apartheid.

A grande depressãoHá cinco anos, 130 mil palesti-

nianos faziam diariamente o seuvai-vem entre a Cisjordânia eIsrael. Para trabalharem. Estafonte de rendimento representa-va, em 1999, 18 por cento do PIBda Palestina. Mas em 2003, o seunúmero tinha descido para 40mil e hoje deverão ser metade dis-so. 47 por cento dos palestinia-nos vive com menos de dois dóla-res por dia e quase metade dapopulação activa está no desem-prego. Os primeiros a sofrer coma bantustização foram os mais

pobres. Mas a política actual deIsrael tem por alvo principal asclasses médias e instruídas dasociedade palestiniana. Depoisdos acordos de Oslo, os territó-rios apresentaram taxas de cres-cimento anuais entre os 6 e os 15por cento. Mas de 1999 para cá, oPIB caiu 40 por cento e o rendi-mento anual per capita passoude 1483 para 925 dólares. Entrea grande depressão e o fim daliberdade de movimentos, amensagem para as classesmédias é clara: imigrem, que avossa vida, aqui, só pode ser uminferno.

Não deliro. Grosso modo, temsido esta a política de Israel emJerusalém onde, rua a rua, asfronteiras do lado judaico vãoavançando. Nas costas do HotelEmbaixador, que já se situou nolado oriental, mais uma rua foiconquistada por colonos de pati-lha enrolada. Eles hasteiam nocimo das suas moradias o que aospalestinianos é interdito: a ban-deira. Exibem-na com orgulho earrogância, como se aquilo fosse“terra prometida”.

O peso da HistóriaOs colonatos são uma inven-

ção trabalhista. Quem mais osincentivou, depois dos acordosde Oslo, foi Barak. Crescemcomo cogumelos. 200 mil colo-nos nos territórios ocupados são200 mil novos problemas paraqualquer agenda de Paz. Osnovos ocupantes não são palesti-nianos de religião judaica, des-cendentes de famílias que toda avida tivessem vivido na TerraSanta. São imigrantes de datarecente, em particular russos quechegaram a Israel depois da que-da do outro Muro. Para qualquerpalestiniano, são ladrões de terraque, ainda por cima, gozam deisenção de impostos e têm águagarantida todos os dias. Cow-boys em terra de índios, portan-to. É em seu nome que Israel faz oque acabei de descrever. E é emnome da sua sobrevivência queAriel Sharom se dispõe a deixarcair os oito mil colonos que aindatem na Faixa de Gaza. Ali, elesnão terão água por muito tempo,nem condições de sobrevivência,rodeados por um milhão e 300

SUA ÚLTIMA VIAGEM, DA MUQATAIS, UMA DELEGAÇÃO DE 14TERRA SANTA PARA UMA VISITAA E A ISRAEL. Miguel Portas

Aos bloqueiosadicionem-se 60checkpoints. Nãosão fronteiras,mas barreirasinternasdestinadas ainfernalizar a vidadas pessoas.Miúdos e miúdasde farda revistame revistam erevistam.

Dezembro 2004 > VI

POIS É | Miguel Portas

Barrosotropeça

AComissão Europeia (CE) só foi eleita à segun-da. Depois da confirmação de Durão Barroso,este procurou construir uma imagem de“homem da Europa”, hábil e menos “aço-

reano”. Em Outubro apresentou a sua equipa decomissários a audições parlamentares. Contudo, umamão cheia suscita reservas. Principalmente, Butti-glione. Quando explicou que a mulher existe parafazer filhos e que a homossexualidade é pecado, osdeputados preferiram vê-lo longe da pasta das liber-dades civis...

A 27 de Outubro, ocorre o inimaginável. Em 24 horas,Barroso revela-se como por cá o conhecíamos. Forçoua corda, confiante na pressão dos governos sobre osdeputados. E perdeu. Teve que retirar a proposta paraevitar a vergonha de um chumbo parlamentar.

Um mês depois, o Parlamento deu a uma equipa ape-nas retocada a sua aquiescência. Contra, estiveramverdes, esquerda unitária e eurocépticos. A favor, adireita, os liberais e os socialistas. Mas dezenas des-tes desobedeceram às instruções. Em particular, por-que Barroso não tocou na pasta da concorrência,onde a senhora Kroes soma tantas incompatibilida-des quantas as consultadorias e conselhos de admi-nistração de multinacionais a que pertenceu. À luz doseu curriculum, pode ser acusada de parcialidade em35 dossiers económicos...

Os sinais, contudo, não enganam: a vítima deste pro-cesso, mais do que Buttiglione, foi Durão Barroso. OParlamento disse-lhe que queria existir e os governosabandonaram-no quando deles precisou. Umamudança qualitativa na ordem institucional europeiase anuncia – a Comissão, antigo elo forte da União,transforma-se em simples staff da Europa dos gover-nos, ante o olhar desconfiado do Parlamento.

Este incidente antecipa a hierarquia de poderes doTratado Constitucional. Se entrar em vigor, o que estálonge de adquirido. Mais de uma dezena de países vaireferendar o Tratado e basta que um o chumbe, paraser arquivado. Este é o cenário mais provável e porisso começaram as jogadas. Em Portugal, a perguntaé tão absurda, que constitui um convite aberto à abs-tenção. E na União, as instituições envolvem-se nacampanha pelo Sim, à revelia de qualquer decorodemocrático: rios de dinheiro serão aplicados em pro-paganda.

Mesmo assim, a via da insubmissão cívica contra oTratado pode ganhar. Ela vai colocar na ordem do dia,não o regresso aos nacionalismos, mas um processoconstituinte para uma Europa de Paz, exigênciasocial e transparência democrática. O nosso Não, éum Sim a mais e melhor Europa.

mil palestinianos. Sharom retirapara salvar 200 mil e outros quevenham no futuro para a Cisjor-dânia.

Que Paz é possível nestas cir-cunstâncias?

Que Paz, quando em Washing-ton teremos G.W.Bush por maisquatro anos? Sinceramente não

sei. Apenas sei que não se podedesistir de tentar. A História émadrasta, está a mover-se nadirecção errada. Cada dia semacordo torna mais difícil qual-quer outro, no futuro. Mas, aomesmo tempo, não serve qual-quer acordo. Em Telaviv e emRamallah, falámos com os auto-

res dos acordos civis de Genebra,de 2003. A iniciativa só pode sau-dar-se. Num momento em queAriel Sharom dizia não existirinterlocutor na Palestina, esseshomens e mulheres provaramque havia. E fizeram-no de ummodo que a comunidade inter-nacional nunca tentara – procu-rando chegar a uma solução está-vel que proporcione segurança ehorizonte aos dois povos. Oslo eo chamado “road map” são acor-dos de processo, de caminho.Morrem antes de se afirmarem.Genebra, pelo contrário, procu-ra selar um destino e esse o seumérito. Mas, ao mesmo tempo,mostra como é difícil chegar auma Paz aceitável – e, por isso,mesmo exequível.

Também em Ramallah, falá-mos com Marwan Barghoutti,que lançou recentemente a Ini-ciativa Nacional Palestiniana,uma “terceira via” entre o Hamase a Fatah. Durante anos, coorde-nou uma rede não governamen-tal de cuidados de saúde, a únicaque no terreno procurava res-ponder à rede de serviços sociaisreligiosos que os fundamentalis-tas criaram e que a AutoridadePalestiniana não conseguiuimplantar. M. Barghoutti “correpor fora” e critica a militarizaçãoda segunda intifada. Ele subscre-veria o que nos disse Yussi Beilin,homem de Genebra e líder de umpequeno partido de esquerda noKnesset: “na violência, o Hamasserá sempre o mais forte”. Hádois anos, os voluntários evoluntárias de M. Barghouttimarcharam pacificamente sobreos checkpoints. A sua estratégia éa da desobediência civil à ocupa-ção. Mas não assinou os conteú-dos de Genebra. Na linha dosargumentos de Eduard Said, umaPaz de pragmáticos não o con-vence. Do mesmo modo, ouvi-mos em Gaza vários palestinia-nos de ONG’s valorizarem Gene-bra, acrescentando ser necessá-rio um formal pedido de descul-pas. Numa terra onde a memóriaé mais actual que os telejornais,não se pode fazer tábua rasa daHistória...

EM TELAVIV, na cave de uma pequena moradia,temos encontro com dois militares: o primeiro,engenheiro de software, foi paraquedista; o segun-do é ainda comando, com a patente de capitão.David, 31 anos e 12 de exército, com acções espe-ciais no Líbano e nos territórios ocupados, esteve“envolvido em acções indignas”. Há três anos, recu-sou obedecer a uma ordem em Gaza, acompanhadopelo seu pelotão. São dois dos 630 militares quenos últimos anos se recusaram publicamente acumprir serviços nos territórios ocupados. O seusímbolo é a estrela de David. Diferentemente deoutros refujniks, courage to refuse, é uma organiza-ção patriótica, sionista. “Dirigimo-nos ao mains-tream israelita, explicando-lhes que a nossa segu-

rança depende da retirada dos territórios ocupadose de se fazer a paz com os palestinianos”, sintetizao primeiro; “Se tivermos três a cinco mil refusers, onosso primeiro ministro passará a ter que ser mes-mo muito criativo”, ironiza o segundo. Por causadesta coragem, passam algum tempo nas cadeias,apanham com um processo em cima, vêem as suaspromoções retardadas, mas continuam no activo.Porquê? “Se fossemos expulsos, metade do exérci-to seguir-nos-ia”... Eles actuam nas guarnições, nas universidades, noskibutzes e em manifestações nos checkpoints. Vãotransformar-se num movimento aberto a civis egeneralizar a desobediência: “sem exército nos terri-tórios, não há como prosseguir a guerra”, garantem.

Courage to refuse

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O muro da Cisjordânia

OFórum Social deLondres foi a ter-ceira edição do“desdobramento”europeu do pro-cesso de Porto Ale-

gre. Na cidade brasileira conver-giram desde 2001 movimentossociais, associações, ONGs, par-tidos de esquerda. Objectivo:debater alternativas a partir detrês recusas comuns, da ditadurado mercado, da política da guerrae das discriminações. O sucessoda iniciativa arrumou o “pensa-mento único” do neoliberalismoe mostrou que “outro mundo”procura ganhar formas. NaEuropa, o primeiro Fórum Social(FSE) teve lugar em Florença,enquanto Bush e os neoconser-vadores insistiam nas mentirassobre armas de destruição massi-va e se preparavam para ocupar oIraque. Na sequência do Fórum,um milhão de pessoas tomou acidade italiana contra a guerra.No ano seguinte, foi a vez deParis. Além da ocupação do Ira-que, o FSE debateu profunda-mente o projecto do neolibera-lismo europeu, cristalizado naConstituição de Giscard d’Es-taign. A assembleia de movimen-tos sociais foi clara na recusa dotratado e marcou o debate naesquerda europeia.

De 14 a 17 de Outubro, emLondres, o FSE voltou a colocar aguerra no topo da agenda. Afinal,

foi em Londres que acontece-ram, em 2003, as maiores mani-festações desde os anos 40. Não épara menos: esta é a segundacolonização do Iraque em que oimperialismo inglês se envolve(o Iraque foi colónia britânicaapós a primeira guerra mundial etutelado por Londres até aosanos 50). Hoje, as tropas do tra-balhista Tony Blair são o terceirocontingente da ocupação, depoisdos norte-americanos e dos mer-cenários contratados, e o seu com-promisso cresce à medida que aresposta à resistência iraquianase resume à violência sem fim.

No Fórum, cujo centro sesituou no Alexandra Palace, umbelíssimo pavilhão pertencenteà Confederação de Sindicatosinglesa, participaram mais de 20mil pessoas, vindas de 70 países.Centenas de debates e conferên-cias, actividades culturais e pro-gramas paralelos que o Fórumrespeitou e soube anunciar noseu programa oficial, constituí-ram a oferta auto-organizada doterceiro FSE.

O que resulta da diversidade detemas e de realidades nacionais eregionais, é um traço comum:degradação dos direitos do tra-balho e dos sistemas de protec-ção social e ambiental. Do ladodas alternativas e da construçãode mobilizações em escala euro-peia, os resultados são limitados– faltam lutas vitoriosas. Nos

activistas da “alterglobalização”,é inevitável um certo sentimentode repetição e impotência (e, emOutubro, ainda não acontecera avitória do “mal maior” nos EUA,nem a derrota eleitoral do PT nomunicípio de Porto Alegre, capi-tal simbólica dos Fóruns, sob opeso da desilusão com o governoLula). Mas se as dificuldadesestão à vista, o FSE permitiu lan-çar algumas pistas: a assembleiade movimentos sociais dedomingo, reflectindo grandediversidade de preocupações,fez emergir o dia 19 de Marçocomo data para mobilizaçõespartilhadas: trata-se da vésperado segundo aniversário da inva-são do Iraque e da reunião doConselho Europeu em Bruxelas.

Reconhecidas as dificuldadesorganizativas e de insatisfaçõesvárias – particularmente aimpossibilidade de um debateaberto sobre a questão do “véu”islâmico, um tema de debateintenso nos países de forte imi-gração árabe e muçulmana epovoado de incidentes negativosno Fórum de Londres –, ficouclaro que o FSE continua a ser umespaço insubstituível de debatese encontros de activistas dosmais diversos campos sociais epolíticos. Para evitar a rotina –que é o segundo inimigo do“movimento dos movimentos” –importa encontrar tempo parareflexão antes do próximo

fórum, marcado para Atenas naPrimavera de 2006. Uma refle-xão sobre a organização dos

debates e dos processos prepara-tórios como sobre a própria fina-lidade do processo do FSE.

LONDRES, VIA BRUXELASA caminho do Fórum Social Europeu (FSE), 50 activistasportugueses visitaram o Parlamento Europeu a convite doeurodeputado do Bloco de Esquerda, Miguel Portas. A dele-gação assistiu a um plenário do PE, reuniu-se com o deputa-do bloquista e participou num debate com o italiano VittorioAgnoletto, eleito pelo Partido da Refundação Comunista eporta-voz do movimento popular contra o G8 (Génova,2001). Entre os participantes desta delegação, estiverammembros de numerosas organizações. Além do Bloco deEsquerda, contaram-se activistas da UMAR, PanterasRosas, da associação ambientalista GAIA, PédeXumbo (pro-motora do festival Andanças), SOS Racismo, SolidariedadeImigrante, entre outras.

A alterglobalização contra a Europa da guerraA alterglobalização contra a Europa da guerra

VII> Dezembro 2004 FÓRUM SOCIAL EUROPEUJo

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DEPOIS DE FLORENÇA E PARIS, O FÓRUM SOCIAL EUROPEU FOI PARALONDRES. E EM TERRAS DE BLAIR, A GUERRA ESTEVE OUTRA VEZ NO

CENTRO DO DEBATE. Jorge Costa

MUNDO

A GUERRA CIVIL na Costa do Mar-fim voltou a aquecer, com a guerrilhatentando dominar as rotas do cacau,de que o país é o maior produtor mun-dial. Acidentalmente ou não, a res-posta governamental atingiu basesfrancesas (5 mil soldados), causan-do nove mortos. Em retaliação, Chi-rac mandou destruir a diminuta for-ça aérea de Abidjan. Na Costa do

Marfim vivem quinze mil franceses,na maioria quadros de empresas efamiliares, que representam 240multinacionais e seiscentas socie-dades, concentrando no país 40%do produto da África ocidental. Nãoé preciso apoiar o governo de Gbabopara reconhecer que a França, parteinteressada na sua antiga colónia, émá interposição na guerra civil.

HÁ UM MÊS, Blair dizia: “nãopodemos ter milhares de pessoas amorrer e não fazermos nada”. Poisjá fez: perante a tragédia dos refu-giados do Sudão, Blair mandoupara trás os que conseguiram che-gar a Inglaterra. Entre Abril eJunho, 370 sudaneses pediram

asilo a Londres. 345 foram recusa-dos. O sentido humanitário daspalavras de Blair está à vista: obri-gado pela propaganda, agora mor-ram em África. Pelo menos cem milsudaneses terão já passado a fron-teira com o Chade, fugindo às milí-cias governamentais.

O OUTONOtrouxe más notícias paraa direita latino-americana: Os san-dinistas venceram as autárquicasda Nicarágua e a velha rotação dapresidência do Uruguai entre “blan-cos” e “colorados” foi interrompidapela Frente Ampla, de Tabaré Vas-quez. Comenta Eduardo Galeano:“Nós, uruguaios, melancólicos,

parados, que à primeira vista pare-cemos argentinos com valium,andamos bailando no ar. Tremendaresponsabilidade para os vencedo-res. Para os que foram votados, epara nós que votámos”. Parece reca-do para o Brasil, onde a acomodaçãode Lula abriu caminho à derrota doPT em S. Paulo e Porto Alegre.

HAMID KARZAI tem dupla nacio-nalidade (norte-americana e afegã)e destacou-se na administração damultinacional petrolífera Unocal.Washington escolheu-o para a pre-sidência do Afeganistão ocupado eproclamou-o vencedor das presi-denciais de Outubro. Poucos vota-ram e muitos desconfiam dos resul-tados, aliás bem previsíveis. No

país que foi dos talibãs dominamhoje os marines, além de mercená-rios, “senhores da guerra” e trafi-cantes de heroína. É a “pax ameri-cana” - a violência permanente e osaplausos do costume. O governoportuguês já anunciou que, em2005, o seu contingente militar noAfeganistão passa de vinte para130 homens.

ENTRA EM VIGORem Fevereiro umnovo regulamento que vai permitir alegalização precária de muitosestrangeiros indocumentados resi-dentes na Espanha. Para poderemobter visto, os estrangeiros têm deter entrado no país seis meses antese apresentar um contrato de traba-

lho de pelo menos seis meses.Excepto no caso do serviço domésti-co, só as entidades patronais pode-rão dar entrada do pedido de vistoem nome do imigrante. Os vistos têmvigência de um ano, e só podem serrenovados com novo contrato de tra-balho.

Espanha Nova leide estrangeiros

América LatinaSinais contraditórios

NIALL CONOLLY,Martin McAuley eJames Monaghan, cidadãos irlan-deses, estiveram detidos na Colôm-bia entre Janeiro de 2001 e Abril de2004, sob acusação de treinaremas FARC. Foram entretanto julgadose declarados inocentes pelo Tribu-nal. Mas nem por isso puderam

regressar ao seu país. O general LuísCamilo Osário – com um curriculumnegro em matéria de Direitos Huma-nos – apelou da sentença. Por causadesta situação, o Sinn Fein desen-volve uma campanha de solidarie-dade que terá o seu momento alto a14 e 15 de Dezembro em Estrasburgo.

ColômbiaIrlandeses presos

Blair Morram em Darfur

IraqueA hora de Falluja

Afeganistão Pax americana

Costa do Marfim Sob tutela

ESTÁ DECLARADA a “segunda guer-ra” do Iraque: a legitimação de umgoverno iraquiano fabricado em Was-hington, através de pretensas eleiçõeslivres em Janeiro, tem um preço desangue. E os iraquianos estão a pagá-lo. Mais de 100 mil pessoas foram mor-tas desde a invasão do país em Marçode 2003; as infraestruturas do paísforam destruídas; agravou-se a con-taminação radioactiva; os hospitaissão impotentes perante ferimentos edoenças; o centro da cidade-santaxiita de Najaf foi arrasado. O epicentro da destruição do Iraquepassou para Falluja. Em Abril passa-do, em retaliação contra a morte dequatro mercenários, esta cidade de300 mil habitantes na região (maio-

ria sunita) foi cercada e bombardea-da pela aviação norte-americana.Mais de seiscentos mortos depois,fracassado o cerco, a cidade foi entre-gue à gestão de um antigo militar baa-sista. Falluja tornou-se bastião dasresistências de vários matizes – ex-baasistas, nacionalistas, islamistas.Mas a propaganda da ocupação resu-me tudo a um nome: Zarqawi, terro-rista jordano ligado à Al-Qaeda. Istoapesar de os próprios EUA reconhe-cerem que os não-iraquianos sãomenos de 5% da resistência e de osnotáveis de Falluja, negociadores einsurgentes, desmentirem ligaçõesao grupo. Mas os estrategas norte-americanos querem aproveitar oembalo das presidenciais para um

dilúvio de fogo. Sucedem-se os cri-mes de guerra, com o bombardea-mento dos hospitais da cidade, oimpedimento da saída de refugiadosmasculinos, a execução de feridos. Aofensiva atrela alguns milicianoscurdos e xiitas do “exército iraquia-no” e persegue religiosos e políticossunitas (inclusivé o vice-presidentedo “parlamento interino”). A destruição de Falluja é o retratodesta fase da guerra: fracasso militar- enquanto esta cidade caía para oocupante, a guerrilha tomava Mos-sul, terceira cidade iraquiana – e divi-são das comunidades pelo poder quequer reinar. Quando o perigo da guer-ra civil volta a ser agitado, é bom lem-brá-lo.

"A forma como acoligação está agerir a crise de

Falluja é errada. Écomo se alguémalvejasse o seu

cavalo na cabeçapara matar umamosca que ali

tivesse pousado"

GGHHAAZZII AALL--YYAAWWEERR,,""PPRREESSIIDDEENNTTEE--

IINNTTEERRIINNOO"" IIRRAAQQUUIIAANNOOIINNSSTTAALLAADDOO PPEELLAA

OOCCUUPPAAÇÇÃÃOO..

"O que está aacontecer em

Falluja é esmagadore totalmenteinaceitável.

Achamos que aseleições sobocupação são

inúteis, osocupantes queremque tudo aconteça

segundo a suavontade.

AASSSSOOCCIIAAÇÇÃÃOO DDEECCLLÉÉRRIIGGOOSS

MMUUÇÇUULLMMAANNOOSS((SSUUNNIITTAA))

ESQUERDA/GLOBAL | JORNAL DA DELEGAÇÃO DO BLOCO DE ESQUERDA NO GUE/NGL NO PARLAMENTO EUROPEU | EDIÇÃO: MIGUEL PORTAS, MEPCOORDENAÇÃO EDITORIAL: DANIEL OLIVEIRA DESIGN E PAGINAÇÃO: LUÍS BRANCO COORDENAÇÃO FOTOGRÁFICA: PAULETE MATOS IMPRESSÃO: RAINHO & NEVES, LDA / STA. Mª DA FEIRACONSELHO DE REDACÇÃO: CARLOS SANTOS, DANIEL OLIVEIRA, JORGE COSTA, LUÍS BRANCO, LUÍS LEIRIA, PAULETE MATOS TIRAGEM: 10 MIL EXEMPLARES

Dezembro 2004 > VIII

Contas para inglês ver

A mentira sobre ocombate à fraude fiscal

13 Esquerda > Dezembro 2004

OOE 2005 incluitrês metas quenão se vão cum-prir. Primeirafantasia: o objec-tivo da inflação:

2%. A ligeira retoma interna-cional, a subida do preço dopetróleo para níveis recorde(com os devidos efeitos emtransportes e portanto emtodas as mercadorias), e oaumento da procura internavão acelerar a inflação paraníveis superiores aos dos anosanteriores. Assim, o aumentode 2% na função pública impli-ca que os salários voltam adescer pelo terceiro ano con-secutivo. E implica que osajustamentos de escalões deIRS em 2% determinam, poressa via, um aumento deimposto que contrabalança

parcialmente a redução detaxas – que aliás já sabemosque só vão ser totalmente redu-zidas na conta do contribuinteem 2006.

Segunda fantasia: diminui-ção do desemprego. O desem-prego ainda vai crescer no pró-ximo ano, como já aconteceagora – no mês de Setembro,por cada assessor contratadopor Santana Lopes (13 pordia), eram despedidas mais de40 pessoas (560 pessoas pordia).

Terceira fantasia:crescimentodo produto para os 2,4%. No anocorrente, o governo previa 1,5%;agora sabe-se que vai ser cerca demetade. Para o próximo ano, aComissão Europeia prevê muitomenos do que o governo. O défi-ce comercial, que aumentou 23%nos primeiros sete meses deste

ano, pode continuar a agravar-senum modelo que é puxado pelaprocura interna e portanto pelasimportações – o governo aban-donou o discurso sobre o modelode crescimento puxado pelasexportações. Assim, não haverá2,4% de aumento do Produto.Mas é deste crescimento quedepende a previsão das receitasfiscais e portanto do nível dodéfice. A fantasia é uma espiral: odéfice real vai aumentar, ao con-trário do que o governo afirma.

Muita demagogiasobre as reformas

O grande aumento das pen-sões para os idosos acaba porse traduzir por um ajustamentode cerca de 60 cêntimos pordia. Em 2005, no melhor doscasos, as pensões mais baixasdo regime geral chegarão a

menos de 45 contos – muitolonge dos 73 contos (o SalárioMínimo Nacional) que foramprometidos feira a feira porPaulo Portas. O objectivo daconvergência das pensõesmínimas com o Salário Míni-mo Nacional foi abandonadopor este governo depois de tersido uma das promessas maisimportantes da campanha elei-toral.

Medidas injustificadasou injustificáveis

O OE 2005 reduz a dotaçãopara as universidades, forçan-do-as a subirem as propinaspara pagar despesas correntes.Assim, voltam a subir as despe-sas para as famílias. Ao mesmotempo, há uma redução doinvestimento no ensino básicoe secundário.

O GOVERNO APRESENTOU um Orça-mento Rectificativo para 2004, justifi-cando-se com o deslize das despesasem sistemas de segurança social e nasaúde. Ao mesmo tempo, o governo ain-da não assegurou as receitas extraordi-nárias para fingir que o défice se man-tém no valor mágico de 2,944%.

Há dois anos, foram 2110 milhões deeuros de receitas extraordinárias; o anopassado foram 3100; este ano são maisde 2000 milhões. O governo ainda nãodiz o que vai fazer, mas decerto integra-rá alguns fundos de pensões de empre-sas na Caixa de Aposentações.

Entretanto, preparam-se outras gigan-tescas operações de desorçamenta-ção, como a passagem de todos os hos-pitais (excepto os universitários) para aholding SA: assim, num toque de mági-ca, as despesas correntes são financia-das como se fossem despesas de inves-timento.

Contas para inglês ver

ORÇAMENTO 2005

AS FANTASIAS DESANTANA

O ORÇAMENTO DE ESTADO DE 2005 ALIMENTA-SE DE TRÊS FANTASIAS: UMA INFLAÇÃO PREVISTA DE 2%, A DIMINUIÇÃO DO DESEMPREGO E O

CRESCIMENTO DO PRODUTO PARA 2,4%.

ESTE ORÇAMENTO é ainda uma men-tira quanto ao combate à fraude fiscal,que rouba a cada português cerca de300 contos por anos. Recusando oenglobamento de todos os rendimen-tos, que é a única forma de transpa-rência de todo o sistema fiscal, conti-nuam isenções e taxas liberatórias eespeciais, que custam ao Estado maisde 780 milhões de euros. Por outro lado, o governo anuncia queapertará as condições para a operação

dos bancos no offshore da Madeira.Mas a verdade é esta: os 3 maioresbancos pagaram uma taxa média deIRC de 11,8%, e mesmo a CGD sópagou 18,2%, apesar de a taxa legalser 25%. Por outro lado, o OrçamentoSantana exclui do controlo todos osbancos fictícios que exercem a suaactividade exclusivamente na Madeira:esses continuam a pagar 0% de IRC. O governo ainda anuncia alteraçõessobre o segredo bancário, mas que só

se aplicam aos casos em que está adecorrer uma investigação – o que fal-ta é tudo o essencial, o levantamentocompleto do segredo que permitacomparar todas as declarações de IRScom as contas bancárias, para poderidentificar quem foge aos impostos.Os trabalhadores, que descontam oIRS todos os meses na folha de salário,têm todas as razões para exigir que seaplique este princípio de transparên-cia completa.

O objectivo daconvergência daspensões mínimascom o SalárioMínimo Nacionalfoi abandonadopor este governodepois de tersido uma daspromessas maisimportantes dacampanhaeleitoral.

A mentira sobre ocombate à fraude fiscal

À HORA DA SAÍDA deste jornalestá para começar o 3º EncontroNacional sobre Direitos das Mulhe-res, promovido pelo Bloco deEsquerda. É no fim-de-semana de27 e 28 de Novembro, em Viseu. O primeiro plenário do dia assumeo debate contraditório. O tema é aprostituição, a condição e os direi-tos das mulheres que se prosti-tuem, estratégias para o combate àdiscriminação. Introduzindo apolémica estarão Alexandra Cor-

reia, Joana Amaral Dias e HelenaNeves. A composição da primeiramesa dá o tom das comunicaçõesneste terceiro encontro: experiên-cia de intervenção não-governa-mental, investigação, empenhofeminista.Na manhã do segundo dia, o tema é‘feminismos e movimentos sociais’com intervenções iniciais de AndreaPeniche, Cecília Honório, FátimaGrácio, Manuela Tavares, MariaJosé Magalhães. À tarde, estarão em

debate as respostas políticas e oapoio às vítimas da violência domés-tica, drama social com raízes pro-fundas no patriarcado português. Ascomunicações iniciais estão a cargode Dina Nunes e Elisabete Brasil. Às16:30h, encerram o encontro Hele-na Pinto e Francisco Louçã.O Inst. da Juventude, onde se reali-za o encontro, é junto ao parquemunicipal do Fontelo. A inscriçãocusta 5 euros e a pernoita na pousa-da da juventude, 10 euros.

Dezembro 2004 > Esquerda 14

O BLOCO ORGANIZOU o 1º Fórumda Água, no dia 30 de Outubro, naEscola Profissional de Salvaterra deMagos. Em debate estiveram a rela-ção da gestão da água com a protec-ção do ambiente e a privatização daágua, como bem público.O Fórum, que contou com a partici-pação de vários técnicos e respon-sáveis políticos, pronunciou-secontra a perspectiva da privatiza-ção. Registou, no entanto, as recen-tes declarações do ministro doAmbiente, que punham em causa o

modelo de privatização da Águas dePortugal. O ministro defendeu arenegociação de todo o sistema deregulação e das taxas de serviçopara os operadores.Portugal é um país rico em aquífe-ros e, no Fórum, ficou demonstradoque, mesmo em regiões como oAlentejo, há algumas condições defornecimento de água. No entanto,toda a estratégia de privatização sebaseia no fornecimento com baseem grandes massas de água armaze-nada artificialmente em barragens,

com efeitos ambientais graves egrandes investimentos. Continuando o trabalho começadona área do ambiente, o Bloco deEsquerda organiza, no dia 15 deJaneiro, a partir das 10 horas, nasala dos Mestrados da Faculdade deLetras da Universidade Clássica deLisboa, o 1º Fórum do Ambiente. Emdebate estará a esquerda e oambiente, a dependência energéti-ca face ao petróleo, as alternativasrenováveis e os efeitos das altera-ções climáticas.

BL CO

III ENCONTRO NACIONAL SOBRE

DIREITOS DAS MULHERESVISEU | 27 E 28 NOV. 2004 | WWW.BLOCO.ORG

Ambiente e água O espectro da privatização

A ACTIVIDADE DO Bloco nomundo laboral tem vindo a crescere a consolidar-se. Foi essa a prin-cipal constatação do primeiro diado III Encontro do Trabalho e Imi-gração, realizado em Lisboa noprimeiro fim-de-semana do passa-do mês de Novembro. Sindicalistas, membros de comis-sões de trabalhadores e activistas

partilharam experiências e discu-tiram formas de avançar na luta eapresentar alternativas combati-vas à política de concertaçãosocial. Um aspecto importante do debatefoi a defesa das Comissões de Tra-balhadores, um espaço de renova-ção de forças e de democracialaboral. O outro aspecto foi justa-

mente a necessidade de desenvol-ver a democracia laboral “Não háalterações no movimento dos tra-balhadores sem democracia debase e capacidade individual ecolectiva de decidir”, lia-se numdos textos levados a debate. “Pre-cisamos de uma democracia sindi-cal oposta às actuais direcçõesburocráticas”, apontava outro.

Entre as bandeiras debatidas estáa redução do horário de trabalho ea luta contra o desemprego, arevogação do código de trabalho, arejeição do pacto social.No domingo, foi a vez de os mili-tantes das organizações de defesados imigrantes e antiracistastomarem a tribuna para discutir arealização de uma grande campa-

nha pela legalização de todos osimigrantes e pela afirmação daigualdade de direitos e a sua dig-nificação. Reflectindo o cresci-mento da actividade bloquista nosector, foi aprovada a autonomiza-ção do grupo de imigração, man-tendo porém uma ligação ao dotrabalho, porque, afinal, os imi-grantes são todos trabalhadores.

COM O TEMA Cidadania, Descen-tralização e Ordenamento do Terri-tório realiza-se no próximo dia 4 deDezembro no Porto, no Auditório daJunta de Freguesia de St.º Ildefon-so, o 2º Encontro Nacional Autárqui-co do Bloco de Esquerda.Duas mesas de debate marcarão oencontro. De manhã estará emdebate o governo local e a cidadania,com intervenções específicas sobrefinanças locais, descentralização e

Agenda 21.De tarde, o debate centrar-se-ásobre os compromissos do BE e aspróximas eleições autárquicas, comintervenções sobre “A cidade quequeremos”, compromissos progra-máticos e mecanismos de coopera-ção autárquica nacional.Esta iniciativa, em que participarãoactivistas locais, autarcas, ambien-talistas e investigadores, terá a ses-são de encerramento às 17h30 com

intervenção de Luís Fazenda.A sessão de abertura será garantidapelo deputado João Teixeira Lopes.Haverá intervenções dos deputadosmunicipais Carlos Marques (Lisboa),Carlos Matias (Entroncamento),Cecília Honório (Cascais), João Silva(Sintra), Alda Macedo (Porto), JoséMaria Cardoso (Barcelos) e PedroSoares (Lisboa) e dos arquitectos Ale-xandre Alves Costa e Manuel CorreiaFernandes.

III Encontro de Trabalho e ImigraçãoDepois do crescimento, nova estratégia

II Encontro Autárquico Preparar as autárquicas

III Encontro de Mulheres Prostituição em debate

IIENCONTRONACIONAL AUTÁRQUICO

CIDADANIA, DESCENTRALIZAÇÃOE ORDENAMENTODO TERRITÓRIO

SÁBADO4 DEZ 2004PORTOAUD. JUNTA DE FREGUESIA DESTº ILDEFONSOR. GONÇALO CRISTÓVÃO, 187(PERTO DO EDIFÍCIO JN)

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15 Esquerda > Dezembro 2004

FOI FINALMENTE traduzido e edi-tado, pela Teorema, “Austerlitz”, omais importante livro de W.G.Sebald. “Austerlitz” foi o seu quar-to e último livro de ficção. Sebaldera, até agora, pouco conhecido damaior parte do público português.Em “Austerlitz”, o narrador man-tém encontros, ao longo de 30anos, com Jacques Austerlitz, his-toriador da arquitectura que viveem Londres. Crescera em Inglater-ra, filho de um pastor protestante, edescobre, no fim da adolescência,que fora adoptado, e que os seusverdadeiros pais tinham sidojudeus, presos na Checoslováquiaocupada pelos nazis. O livro revisi-ta todo o seu passado que é umavisita à história do século XX.

Austerlitzde W.G. Sebald

“REAL GONE”, o mais recenteálbum de Tom Waits, escancara asportas do abismo que o próprio játinha entreaberto em discos como“Bone Machine” ou “Black Rider”.Renunciando definitivamente aopiano, o instrumento que marcou oinício da sua carreira, Waits recorreneste álbum ao 'Human Beat Box',um processo no qual o ritmo é mar-cado por perturbantes vocaliza-ções humanas. O resultado final é aobra mais negra e apocalíptica deum autor que, pela primeira vez nasua carreira, escreve uma cançãode protesto político contra a admi-nistração norte-americana.

Real Gonede Tom Waits

DOIS ANOS após o lançamento doseu ultimo trabalho de originais -que fermentara durante 12 anos naideia do autor -, Jorge Palma regres-sa com “Norte”, nova construçãoboémia e comprometida, que pro-cura caminhos e não se demite dosdias que correm. Definido por sicomo um disco mais sóbrio (na ver-dadeira acepção da palavra), Pal-ma traz-nos 15 novos temas (duasfaixas escondidas), com poemasseus, de Al Berto e Carlos Tê. Contacom a colaboração, entre outros, deCarlos Bica, Mário Delgado, FrankMöbus e Flak, e com a produçãodaquele que é considerado o paidos melhores discos que por cá seeditaram na última década, o con-sagrado Mário Barreiros.

Nortede Jorge Palma

COM 34 ANOS, Gonçalo M. Tava-res é um dos mais promissoresjovens escritores portugueses. Oseu mais recente livro, “Jerusa-lém”, publicado pelo Circulo deLeitores, recebeu o Prémio Ler2004. O livro de Gonçalo M. Tava-res revela a cidade e o lugar mítico,que funciona como metáfora para aconstrução de uma possível (e pro-metida) terra dos homens. GonçaloM. Tavares recebeu o Prémio Bran-quinho da Fonseca da FundaçãoCalouste Gulbenkian e do jornalExpresso com a obra «O SenhorValéry» e o Prémio Revelação dePoesia da Associação Portuguesade Escritores (APE), com «Investi-gações. Novalis».

Jerusalémde Gonçalo M. Tavares

EM 1969, Willy Brant inicia a suacarreira como chanceler da Repú-blica Federal da Alemanha. GüterGuillaume é um dos seus assesso-res. Mas é também espião da Sta-si, a polícia secreta do leste ale-mão. É a revelação desta identi-dade secreta que acabará porlevar à demissão de Willy Brant,em 1974. Em “Democracia”,uma peça de Michael Frayn, estesdois homens surgem como perso-nalidades contraditórias e dividi-das, num retrato que reflecte astensões da Guerra Fria. Está noTeatro Aberto, em Lisboa, atémeados de Dezembro e regressaem Janeiro. A encenação e versãoportuguesa são de João Lourenço.

Democraciade Michael Frayn no Teatro Aberto

AGENDA

SERRALVES

PAULA REGOAté 23 de Janeiro, o Museu de Serralves, no Porto,apresenta uma selecção da obra de Paula Regoproduzida a partir de 1996, incidindo particularmente narelação entre a sua pintura e o desenho. A artistaapresenta, pela primeira vez, os desenhos preparatóriosdas suas pinturas, realizando ainda uma nova série detrabalhos. Como sempre, a mulher está no centro dotrabalho de Paula Rego. Esta exposição foi a mais vistade sempre no primeiro mês no Museu de Serralves: 50 mil pessoas.

ESTE NÚMERO DO “ESQUERDA” FOI DISTRIBUÍDO GRATUITAMENTE AOS ADERENTES DO BLOCO.O próximo será vendido pelo preço de capa (50 cêntimos). No entanto, “Esquerda” será, preferencialmente, um jornal de assinatura. A ASSINATURA ANUAL (QUE INCLUI DESPESAS DE ENVIO) SERÁ DE 8 EUROS que, no caso dos aderentes do Bloco, pode e deve ser paga no momentodo pagamento da jóia anual. Quem queira assinar antes ou não seja aderente, deve enviar este cupão juntamente com um cheque ou vale postal à ordem deBloco de Esquerda para: Bloco de Esquerda, Av. Almirante Reis, 131, 2º, 1150-015 Lisboa

QUERES FAZER SUGESTÕES, CRÍTICAS OUPUBLICAR A TUA OPINIÃO NO “ESQUERDA”?Escreve paraBloco de Esquerda - “Esquerda”, Av. Almirante Reis,131, 2º, 1150-015 Lisboa ou [email protected]. No caso dequereres ver a tua carta publicada no jornal, o texto não poderá termais de 1000 caracteres e a decisão sobre a sua publicação estásujeita aos critérios editoriais da direcção do jornal.

CUPÃO DE ASSINATURA:Nome: Aderente? (Sim/Não):

Morada:

Telefone: e-mail:

Junto cheque nº: do Banco:

Dezembro 2004 > Esquerda 16

Mudar um pouco…A direita está em recuo sobre o segredo bancário. Bagão Félix já anunciou que vai deixar de ser necessáriaa autorização de um juiz para a consulta de contasbancárias na investigação de fraudes fiscais. É umdogma antigo, de sucessivos governos, que vai para ocaixote do lixo da história. Já não era sem tempo.

...para ficar tudo na mesmaMas as mudanças agora anunciadas são umaforma de mudar muito pouco. O que propõe Bagão é o acesso às contas bancáriasDEPOIS de detectada uma fraude, para CONFIRMAR assuspeitas do fisco. Em vez de meia dúzia de autorizaçõesde juízes, como no passado, passaremos a ter dúzia emeia de fraudes detectadas pela administração fiscal.

Coragem, precisa-se!Para ser eficaz, o levantamento do segredobancário tem que ser AUTOMÁTICO e sobre todas as contas com grandes movimentos. É isso que permite DETECTAR as diferenças entre esses movimentos e as respectivasdeclarações fiscais. É assim que se pode apanhar os que mais têm e nunca pagam. O levantamento do segredo bancário deveabranger milhares de casos: afinal, trata-sede grande parte da elite económica do país,que organiza as suas declarações fiscaissegundo o seu “direito” a não pagar impostos.

CONTASCLARASJUSTIÇAFISCAL

INICIATIVA LEGISLATIVA DE CIDADÃOS PARA ABOLIÇÃO DO SEGREDO BANCÁRIO PARA A JUSTIÇA FISCAL

CONTASCLARASJUSTIÇAFISCAL

GOVERNO ANUNCIOU MUDANÇAS NO SEGREDO BANCÁRIO:

CAMPANHA

Participa na recolha das 35 mil assinaturas em www.contasclaras.net