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Este trabalho aborda a passagem da reportagem exclusivamente baseada em texto para a reportagem gráfica — o uso de recursos e acessórios que dispensam a leitura do texto principal da matéria. O alvo da abordagem é Veja, a primeira revista semanal de informação brasileira e a quarta maior do mundo. Permeando o enredo, há aqui a definição das características da edição, da reportagem e do texto de revista; e também o resultado de uma pesquisa com dez leitores sobre a sua impressão a respeito de dois modelos de reportagem de Veja: o de antes e o de depois da reforma gráfica.
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A Reportagem Gráfica em VEJA
A adaptação da narrativa
impressa ao padrão visual
na maior revista semanal
brasileira
EDUARDO DE JESUS RICCI
FRANCISCO LA SCALA JÚNIOR
MÁRCIA SALLES OKIDA
MÁRCIO CALAFIORI DIAS
OSVALDO DA SILVA COSTA
UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA
FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO
JORNALISMO
EDUARDO DE JESUS RICCI
FRANCISCO LA SCALA JÚNIOR
MÁRCIA SALLES OKIDA
MÁRCIO CALAFIORI DIAS
OSVALDO DA SILVA COSTA
A REPORTAGEM GRÁFICA EM VEJA
— A ADAPTAÇÃO DA NARRATIVA
IMPRESSA AO PADRÃO VISUAL NA MAIOR
REVISTA SEMANAL BRASILEIRA —
Santos (SP)
Novembro de 2009
UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA
FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO
JORNALISMO
EDUARDO DE JESUS RICCI
FRANCISCO LA SCALA JÚNIOR
MÁRCIA SALLES OKIDA
MÁRCIO CALAFIORI DIAS
OSVALDO DA SILVA COSTA
A REPORTAGEM GRÁFICA EM VEJA
— A ADAPTAÇÃO DA NARRATIVA
IMPRESSA AO PADRÃO VISUAL NA MAIOR
REVISTA SEMANAL BRASILEIRA —
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como exigência parcial para a obtenção do título
de Pós-Graduado (lato sensu) em Metodologia e
Pesquisa do Trabalho Científico à Universidade
Santa Cecília.
Santos (SP)
Novembro de 2009
EDUARDO DE JESUS RICCI
FRANCISCO LA SCALA JÚNIOR
MÁRCIA SALLES OKIDA
MÁRCIO CALAFIORI DIAS
OSVALDO DA SILVA COSTA
A REPORTAGEM GRÁFICA EM VEJA
— A ADAPTAÇÃO DA NARRATIVA
IMPRESSA AO PADRÃO VISUAL NA MAIOR
REVISTA SEMANAL BRASILEIRA —
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título
de Pós-Graduado (lato sensu) em _____________ à Universidade Santa Cecília.
Data da aprovação: ___/____/____
Comentários dos avaliadores:
AGRADECIMENTOS
À Universidade Santa Cecília, pela oportunidade do aprimoramento; à professora
Júlia Antonietta Simões Felgar, pela compreensão e sabedoria, pela presteza; à Abril, a
Maria Celeste Mira, Marília Scalzo, Thomaz Souto Corrêa e Ulysses Alves de Souza —
seus livros, artigos e trabalhos foram de importância fundamental; aos amigos e colegas
Eduardo Rubi Cavalcanti, Fernando Cláudio Peel Furtado de Oliveira e Luiz Carlos
Teixeira do Nascimento, pelas consultas; Cibele Fernandes de Oliveira, Clecio Arrojo
Martinez, Helena de Souza dos Santos, José Alves de Oliveira, Luiz Carlos de Souza,
Marckson de Oliveira Lacerda, Maria dos Santos, Neuza Maria Felício, Vanessa Goes e
Vinícius Gomes da Penha, pela paciência e boa vontade em responder à pesquisa; e ao maior
repórter que já existiu — e ainda existe: Gay Talese.
O presente inclui o passado e o futuro.
MARSHALL MCLUHAN
RESUMO
Este trabalho aborda a passagem da reportagem exclusivamente baseada em texto para
a reportagem gráfica — o uso de recursos e acessórios que dispensam a leitura do texto
principal da matéria. O alvo da abordagem é Veja, a primeira revista semanal de informação
brasileira e a quarta maior do mundo. Permeando o enredo, há aqui a definição das
características da edição, da reportagem e do texto de revista; e também o resultado de uma
pesquisa com dez leitores sobre a sua impressão a respeito de dois modelos de reportagem de
Veja: o de antes e o de depois da reforma gráfica.
PALAVRAS-CHAVE: Revista; reportagem; reportagem gráfica; grafismo.
ABSTRACT
This study focuses on the transition from text-based newspaper stories to graphic-
based ones, i.e., the use of graphic resources and supplements that allow the public to
dispense reading the main article's text. This is exemplified by Veja, the first brazilian weekly
news magazine and the fourth biggest of its kind in the world. It is shown the definition of the
editing, coverage and text attributes, as well as the result of a research made with ten readers
concerning their impression about two models of Veja's way of reporting news: before and
after the graphic reform.
KEY-WORDS: News magazine; news coverage; graphic news article; graphism.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................8
1. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 13
1.1 Breve história da revista ........................................................................................ 13
1.2 A revista no Brasil e o texto e a reportagem de revista ........................................... 20
1.3 Veja: semanal de informação ................................................................................. 33
1.4 O processo de edição e a reportagem gráfica ......................................................... 40
1.5 A pesquisa............................................................................................................ ..... 54
1.6 Comentários sobre a pesquisa ................................................................................ 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 71
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 73
ANEXOS ....................................................................................................................... 80
A reportagem de 1982 ................................................................................................. 80
A reportagem de 2008 ................................................................................................. 84
Resposta de Carlos Neri .............................................................................................. 87
Resposta de Eurípedes Alcântara ................................................................................. 89
INTRODUÇÃO
No princípio dos anos 1990 Veja começa a transformar o modo de apresentar a
reportagem. Daí em diante, o que se verifica na revista é que a narrativa impressa adquire um
foco gráfico no processo de edição — isto é, na organização e na apresentação do conteúdo. O
que antes era exposto ao leitor principalmente sob a forma de texto, passa, agora, a buscar o
equilíbrio entre o texto e os recursos gráficos, e, mais adiante, a privilegiar ainda mais o
segundo aspecto.
O desmembramento do texto em padrões gráficos é uma exigência do leitor atual, que
se recusa a enfrentar as narrativas longas. Diante disso, a edição visual vem se intensificando
nos jornais, e, principalmente, nas revistas. A utilização dos recursos gráficos, denominado
aqui de “reportagem gráfica”, pode até dispensar a leitura do texto principal da reportagem.
Ao que tudo indica, o recurso aponta para o futuro do jornalismo impresso. Pelo menos esta é
a postura editorial da maior publicação semanal brasileira e a quarta maior do mundo — Veja.
Entrevistado para este trabalho, o diretor de redação da revista, Eurípedes Alcântara, é
contundente a respeito: “A reportagem gráfica é o presente e o futuro do jornalismo em
papel.”
O processo de instalação da “reportagem gráfica” na mídia impressa, em especial na
Veja, é analisado aqui pelo viés da história e do desenvolvimento do produto revista. A partir
do século 17, na Alemanha, esta já nasce segmentada, dirigida a uma fatia de público; e com
aspectos editoriais que imediatamente deixarão evidentes a sua diferença em relação ao jornal.
Este, primeiro se populariza pelo conteúdo editorializado, de tradição política, opinativo. É só
em fins do século 19 que começa a amadurecer os conceitos de notícia, reportagem e serviço.
De acordo com Gay Talese (2000), foram estas as características que fizeram do New York
Times o maior jornal do mundo, quando este passou para as mãos da família Ochs.
Já a revista, não. A sua natureza segmentada possibilitou o entendimento direto com o
leitor em diversos segmentos do mercado editorial, desde as publicações consumidas
exclusivamente por mulheres, ou por homens, às de interesse geral, economia e negócios,
cultura, educação e literatura, viagem, turismo e aventura, casa e decoração, saúde, lazer e boa
forma, gastronomia. Marília Scalzo diz: “[...] revista tem um foco no leitor — conhece seu
rosto, fala com ele diretamente. Trata-o por ‘você’”. (SCALZO, 2003, p. 15). Por causa da
“intimidade” é que a revista foi a primeira mídia impressa a buscar um acordo com o público
quando este começou a rechaçar as narrativas longas, apontando, assim, para a necessidade da
adoção de um novo modelo editorial, menos calcado no texto e com mais apelo nos recursos
gráficos.
A resistência à leitura — pelo menos no aspecto da leitura tradicional, no papel — é
um dos focos principais dos estudos de Marshall McLuhan quando este interpreta os efeitos
da TV na geração adolescente de meados dos anos 1960, a primeira a sofrer, de fato, o
impacto das consequências neurológicas da mídia eletrônica, processo que vai se
aperfeiçoando nas décadas seguintes até o momento atual, o da tecnologia digital. Estudioso
de McLuhan, o escritor e jornalista Tom Wolfe diz:
[...] A chamada assintonia entre gerações, como ele a diagnosticava, não era
ideológica, mas neurológica: a disparidade entre a geração formada pela imprensa e
a sua prole audiotátil, neotribal. [...] Pessoalmente, McLuhan tinha pouca paciência
com a televisão ou qualquer outro meio de comunicação eletrônico, mas ficava assombrado quando via seus filhos estudarem, assistirem à televisão, conversarem
ao telefone, ouvirem rádio e tirarem fotografias, tudo ao mesmo tempo. Segundo ele,
a nova geração estava fadada a se entendiar em salas de aula dirigidas por
professores pertencentes ao mundo da imprensa. Isso, dizia, significava que o
sistema educacional deveria ser totalmente modificado.” (WOLFE, 2005b, p. 15-
16).
No Brasil, a taxa de analfabetismo no fim dos anos 1960 atingia 33,7% da população
de 15 anos ou mais — o País tinha 90 milhões de habitantes. Se aqui o nível de leitura já era
crítico — em virtude do índice de analfabetismo e até mesmo como espelho de condições
sociais e econômicas desfavoráveis —, quando a TV inicia a sua expansão hegemônica, no
início dos anos 1970, e, logo em seguida, entra na era da cor, só resulta em uma crise maior
ainda para a mídia impressa, principalmente em relação ao jornal. Este, segundo Eric
Alterman (2008), com a disseminação da internet a partir de 1995, ficou praticamente sem
saída, incapaz de revigorar o modelo estabelecido no fim do século 19. Neste contexto, as
revistas tiveram tempo de se adaptar às exigências dos novos leitores, justamente por serem
feitas sob medida.
E o que é o novo leitor? Este agora é sujeito. Com o avanço tecnológico
proporcionado pela era digital, ele agora quer participar, quer discutir, quer fazer parte, quer
opinar e quer ser aceito e compreendido. A sua ferramenta de participação, com efeitos vários
para atraí-lo, é o computador conectado à rede mundial. A revista soube se adaptar à
rivalidade tecnologia. O fato, porém, é que para segurar a nova geração de leitores, inclusive
os que, migrando de faixa econômica, foram incluídos no mercado consumidor, a revista teve
de se adaptar e criar efeitos de leitura. Além de analisadas diante de especialistas, a eficácia
desses efeitos é testada aqui por meio de uma pesquisa qualitativa aplicada a um grupo de dez
leitores. Estes responderam a questões que perscrutam o seu relacionamento com a
“reportagem gráfica”. Como se verá mais adiante, com mais ou menos intensidade em relação
à percepção do tema, o grupo se sente mais estimulado a ler uma reportagem até o fim se esta
é acompanhada de recursos e acessórios gráficos.
Em setembro de 1968, Veja estreia como a primeira revista brasileira “semanal de
informação”. A fórmula foi inventada em 1923 pela Time. O aparecimento da revista
americana, considerada ainda a mais importante e influente do mundo, teve origem, por
paradoxal que pareça, em um fenômeno — o excesso de notícia. Mesmo submetido a uma
massa intensa de informação, o grande público foi surpreendido com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial (1914/1919). A conclusão do fenômeno é que a imprensa noticiava, mas era
incapaz de ligar os fatos, e, portanto, de fazer análises prevendo o rumo dos acontecimentos.
É partir desta constatação que nasce a Time. A sua receita de apresentar, resumir, analisar e
interpretar os principais fatos da semana foi sucesso absoluto nos Estados Unidos; e logo em
seguida na Europa. No Brasil, a fórmula só foi adotada 45 anos depois com Veja, hoje a
quarta maior revista do mundo, com mais de 1,2 milhão de exemplares em circulação, de
acordo com a PubliAbril.
Como se verá aqui, Veja teve problemas para se estabelecer no mercado em razão da
ênfase nos textos longos em detrimento da imagem, quando o público brasileiro estava
acostumado com os padrões editoriais das revistas Manchete e Cruzeiro, ambas calcadas na
fórmula texto/foto. Tradicionalmente, a grande-reportagem consagrou as revistas americanas,
conceito editorial que tende ao aprofundamento dos temas na forma de investigação,
denúncia, análise, interpretação e até mesmo emoção. Então sob o comando de Mino Carta,
Veja se propunha a debater as grandes questões nacionais e mundiais. O número de estreia
trouxe como capa a reportagem intitulada “O grande duelo no mundo comunista”, sobre a
tentativa do Kremlin, em 1968, de manter a hegemonia política da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas. Com dois mapas e fotos, a edição da reportagem não apela aos recursos
gráficos, privilegiando quase que absolutamente o texto.
O padrão da narrativa longa adotado por Veja traduz o espírito jornalístico da época,
notadamente pela influência aqui do new journalism ou novo jornalismo: a utilização da
técnica literária na construção da reportagem. Surgido em meados dos anos 1960, o new
journalism foi praticado em revistas americanas como Harper’s Baazar, The New Yorker,
Esquire, Playboy e Rolling Stone; e mais timidamente nos jornais. O mais enfático era o New
York Herald Tribune, que publicava textos provocativos e inovadores de Tom Wolfe no
suplemento dominical, o New York. No Brasil, o novo jornalismo foi adotado praticado na
revista Realidade e no Jornal da Tarde. Até o início dos anos 1980, a influência desse estilo
praticado por escritores-repórteres como Hunter S. Thompson, Gay Talese, Norman Mailer,
Tom Wolfe e Truman Capote foi fundamental na formação da moderna reportagem brasileira.
No caso específico de Veja se o seu estilo de texto não seguia exatamente a
reportagem literária, os cânones do new journalism eram mentalizados pela revista:
“construção detalhista da cena; registro completo dos diálogos; ponto de vista em terceira
pessoa; registro dos gestos cotidianos e do padrão de vida daqueles sobre os quais são
relatados nos fatos”. (WOLFE, 2005, p. 53-55). Um aspecto a ressaltar é que o novo
jornalismo requer textos longos, aprofundados e apurados rigorosamente: isso configura a
grande-reportagem, conceito editorial adotado nos anos iniciais da revista. Para o jornalista e
crítico cultural Paulo Francis (1970), a importância da reportagem impressa começa a decair
em 1969, quando a TV mostra a chegada do homem à Lua. Segundo ele, a partir desse fato a
palavra impressa perde força, superada pela narrativa da imagem em movimento.
Como já foi dito, a popularização da internet, a partir de 1995, significa, de imediato,
uma ameaça grave para o jornalismo impresso, principalmente para os jornais. Antes disso,
Veja começa a se reformular e a valorizar as imagens, diminuindo o peso do texto. A revista
Época, sua principal concorrente, surge em 1998 já com a proposta de prestigiar o padrão
gráfico e de imagem. Baseia a sua fórmula na revista alemã Focus. A publicação chegou a
causar um impacto negativo nos leitores tradicionais por causa do peso da imagem em
detrimento do texto. Demora um pouco, mas Época consegue, afinal, acertar o estilo. Hoje, é
considerada um sucesso, com aproximadamente 430 mil exemplares em circulação, a segunda
mais lida do País.
Aliada ao visual tecnológico, com o uso de infografias e gráficos, Veja se revela
conectada com os recursos atuais de edição, sem que com isso perca o padrão da revista
semanal. No entanto, a visão dos autores deste trabalho a respeito das técnicas de edição de
Veja é meramente profissional, especializada de certo modo, e, por isso, precisou ser
verificada diante do leitor. O objetivo foi analisar se a adaptação da narrativa impressa na
revista a um padrão visual — denominado aqui de “reportagem gráfica”, que valoriza menos
o texto a favor da imagem — informa com o mesmo efeito que o texto proporcionaria se lido
sem os recursos gráficos.
Por enquanto, as revistas não foram envolvidas pela crise que abala os jornais. Uma
das razões apontadas para isso, como já foi dito, é que se trata de um produto segmentado,
feito sob medida para uma fatia de público. É fato, porém, que “a reportagem gráfica” tenta se
relacionar com o leitor atual, e cada vez mais jovem, que parte irreversivelmente em direção
ao universo tecnológico/eletrônico/digital, sistema em que as linguagens se entrelaçam, mas,
acima de tudo, precisam estar em movimento. Isso quase que automaticamente elimina do
processo a mídia impressa que não recorre a outros recursos para atrair o leitor. Marshall
McLuhan diz:
O meio é a mensagem. Isto apenas significa que as conseqüências sociais e pessoais
de qualquer meio — ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos —
constituem o resultado do novo escalão introduzido em nossas vidas por uma nova
tecnologia ou extensão de nós mesmos. (MACLUHAN, 2006, p. 21).
1. DESENVOLVIMENTO
1.1 Breve história da revista
A publicação que historicamente é considerada a primeira revista surge em Hamburgo,
Alemanha, em 1663. Chamava-se Edificantes Discussões Mensais — ou Erbauliche
Monaths-Unterredungen. Foi idealizada por Johann Rusto, um teólogo. O seu formato se
parecia muito com um livro; em retrospectiva, só foi classificada de “revista” pelos estudiosos
porque além da periodicidade regular reunia artigos sobre um mesmo tema — religião —,
visando, com isso, um público específico. Portanto, a revista já nasce segmentada — ou seja,
destinada a uma fatia determinada de leitores.
Edificantes Discussões Mensais inspirou o aparecimento de outras publicações na
Europa da segunda metade do século 17: Journal des Savants (1665) e Le Mercure Galant
(1672), ambos na França; Giornali dei Litterati (1668, Itália); Mercurius Librarius ou
Faithfull Account of all Books and Pamphlets (1680, Inglaterra). De acordo com Marília
Scalzo (2003), embora não usassem o termo “revista” essas publicações consolidaram uma
novidade editorial advinda da segmentação e do aprofundamento de temas, no meio-termo
entre o jornal e o livro. Le Mercure Galant é considerada a primeira revista de interesse geral:
reunia crônicas sobre a corte francesa, anedotas e poesia.
A expressão “revista” — review — foi usada pela primeira vez em 1704, na Inglaterra,
pelo escritor e jornalista Daniel Defoe, autor entre outras obras de Robinson Crusoé e Diário
do ano da peste. Ele a utilizou para uma publicação literária: A Weekly Review of the Affairs
of France. O termo review se populariza pela Europa. Em 1731, em Londres, a The
Gentleman’s Magazine inaugura o termo “magazine”, expressão inspirada pelas grandes lojas
que vendiam de tudo um pouco. Similar às revistas atuais, Gentleman´s trazia assuntos
variados e os apresentava de “forma leve e agradável”. Segundo Scalzo (2003), é a partir daí
que o termo “magazine” passa a designar as revistas em inglês e em francês. No artigo Breve
história das grandes revistas dos grandes homens e mulheres que as fizeram, Thomaz Souto
Corrêa ressalta que a palavra “magazine” vem do árabe makhazin que, traduzido, quer dizer
“loja”: “Ou seja, numa revista — como numa loja — você escolhe não o que quer comprar,
mas o que quer ler. Daí variedade ser um componente muito importante para as revistas de
sucesso”. (CORRÊA, 2008). Em 1749, por causa do sucesso da Gentleman´s Magazine, surge
a Ladies Magazine. Ambas as publicações podem ser consideradas as ancestrais das revistas
masculinas e femininas atuais.
Os Estados Unidos têm contato com os primeiros magazines em 1741 — American
Magazine e General Magazine. Scalzo aponta que até o fim do século 18 já havia mais de
cem títulos no mercado americano:
As revistas começam a ganhar os EUA na medida em que o país se desenvolve, o
analfabetismo diminui, cresce o interesse por novas idéias e a conseqüente
necessidade de divulgá-las. Novos títulos surgem e multiplicam-se — muitos
importados da Europa —, dando início ao que é hoje um dos maiores mercados de
revistas do mundo: cerca de 6 bilhões de exemplares por ano. (SCALZO, 2003, p.
20).
A partir dos anos 40 do século 19, os magazines se tornam ainda mais populares na
Europa e nos Estados Unidos. É neste período que nascem quase todas as ideias pioneiras.
The Economist — considerada até hoje a melhor e mais influente revista de economia e
negócios do mundo — é fundada na Inglaterra, em 1843. Importantes revistas americanas
femininas também pertencem ao período: a Harper´s Bazaar é de 1867; Ladies Home
Journal, de 1883; Good Housekeeping, de 1885; e a Vogue, de 1892. Todas são ainda
publicadas, mas apenas Good Housekeeping e Vogue continuam fazendo sucesso. De acordo
com Maria Celeste Mira (2001), a imprensa feminina britânica é a mais antiga do mundo.
Data do século 17.
Nos Estados Unidos, as revistas dirigidas às mulheres se fortalecem a partir da
segunda metade do século 19. Na primeira metade do 20 já superam os cinco milhões de
exemplares vendidos. Já na Itália, o consumo se intensifica após a Segunda Guerra (1939-
1945) com as fotonovelas. Mira diz que no mesmo período, marcando a disputa entre Roma e
Milão, capitais da moda, surgem revistas mais luxuosas, como Arianna ou Grazia, para as
mulheres de classe média. A imprensa feminina francesa começa no século 19. Nos anos 30
do século 20 há um surto de consumo com Confidences, correio sentimental; nos anos 40 e 50
as francesas leem as fotonovelas produzidas na Itália; ainda na França, as revistas de moda
Marie Claire e Elle, aparecem, respectivamente, em 1937 e 1945.
A feminina de maior impacto em todo mundo é a Cosmopolitan, surgida nos Estados
Unidos em 1965. É a que tem mais edições internacionais. A iniciativa de lançá-la — mas não
com este nome — foi de Helen Gurley, secretária autora do livro Sex and the single girl —
Sexo e a moça solteira. Com o sucesso da obra, ela percebeu que havia um grande tema para
ser explorado numa revista. Segundo Souto Corrêa (2008), Gurley procurou a Hearst e saiu de
lá com a tarefa de criar doze capas. Com isso, a editora queria verificar se a publicação se
sustentaria, pois pretendia lançá-la, se fosse o caso, como um produto mensal. A secretária-
escritora se saiu bem e a Hearst lhe apresentou então uma antiga revista da editora, fundada
em 1835, chamada Cosmopolitan, que deveria ser reformulada com a sua ideia.
Na segunda metade do século 19, os magazines passam a ditar moda, além de
representarem uma alternativa de aquisição de cultura sem que fosse preciso recorrer ao livro;
o público, que aumentava o seu índice de alfabetização, fazia questão de educar-se, mas
rechaçava a postura do livro, tido como profundo demais e inacessível em termos de preço.
Assim, a revista passa a ser a leitura ideal para essa parcela da população por causa da leveza
e da diversidade de temas. Quanto à imagem — elemento essencial nas revistas — a primeira
publicação ilustrada apareceu em Londres, em maio de 1842. A Illustrated London News
tinha dezesseis páginas de texto e trinta e duas de gravuras de artistas que reproduziam os
eventos da época como se fossem fotografias.
Embora anunciada em 1839, na França, o uso da fotografia ainda não estava
popularizado na imprensa; isso só ocorre a partir de 4 de março de 1880 no jornal Daily
Grafic, em Nova Iorque, quando passa a ser reproduzida por meios mecânicos. Até então, as
fotos eram raras na imprensa e sempre recriadas artesanalmente com a menção: “a partir de
uma fotografia”. A base técnica para isso era a gravura em madeira. Em 1904, o jornal Daily
Mirror, na Inglaterra, passa a usar somente fotos em suas páginas; e em 1919, o Illustated
Daily News, de Nova Iorque, faz o mesmo. De acordo com Sougez (1996), a introdução da
fotografia na imprensa é um fenômeno de grande impacto social, pois muda a visão do
público, que até então só podia testemunhar acontecimentos, mas não vê-los impressos. Já a
adaptação da fotografia à reportagem ocorre em meados da década de 1920, com a introdução
da câmera Ermanox e das películas rápidas.
Diferentemente do modelo monotemático dos séculos 17 e 18, as revistas do século 19
passam a ser multitemáticas. O formato aparece pela primeira vez na França, em 1693, com
Mercure des Dames. De acordo com Souto Corrêa (2008), a publicação trazia a crônica da
corte, poesia e também desenhos de roupas e moldes para vestidos e bordados, aspectos
pioneiros que persistem até hoje nas publicações do gênero. Ainda no século 19, entre 1840 e
1890, surgem as revistas científicas. Algumas fundadas no período ainda fazem sucesso,
como a Scientific American e a Nathional Geographic Magazine, esta também editada no
Brasil.
Antes do século 20, os magazines americanos e europeus quase não tinham
publicidade. Até 1830, eram consumidos principalmente pela elite. Na virada do século, com
o início da fase industrial, surge o conceito de consumo. Antes disso, de acordo com Renato
Ortiz, citado por Maria Celeste Mira, havia apenas a ideia de luxo. Com o estabelecimento do
consumo, os anúncios são acoplados às publicações e dão origem ao formato moderno da
revista. Referindo-se ao mercado americano, Mira explica:
[...] na virada do século XX, a economia americana deixa de ser basicamente agrícola para se tornar industrial. Durante o século XIX, ligados a temas religiosos
ou rurais, os magazines praticamente não tinham anúncios e eram sustentados pela
circulação paga. Com a distribuição nacional de produtos industrializados e o
aumento da população urbana, há um extraordinário crescimento da publicidade. Os
magazines passam, então, a ser sustentados pela publicidade, a ter circulação
nacional e podem ser vendidos a preços muito baixos, coisa de centavos. A
publicidade influencia a revista não apenas no seu conteúdo, mas também no
formato, especialmente na padronização da página e no uso da cor, vantagem que
terá sobre seus concorrentes até o advento da televisão nos anos 60. (MIRA, 2001, p.
10/11).
Com a consolidação das revistas, as mulheres passam a se identificar mais com o
produto. Mira diz que a revista é a mídia mais feminina que existe, enquanto que o jornal é
masculino. (De acordo com a PubliAbril, departamento que trata da publicidade das marcas
Abril, o público feminino supera o masculino em quase todos os títulos publicados pela
editora. A maior revista da Abril, a Veja, é lida por 55% de mulheres e 45% de homens, o que
obrigou a publicação a reformular o seu conteúdo editorial. Em relação aos outros títulos da
editora, as mulheres só perdem em nível de leitura nas revistas tradicionalmente identificadas
com o público masculino — Placar: 89% — 11%; Playboy: 81% — 19%; Quatro Rodas:
82% — 18%; Vip: 68% — 32%. No entanto, a consolidação da mulher no mercado de
trabalho e nas iniciativas empresariais começa a equipará-la aos títulos antes quase que
exclusivamente consumidos por homens. Dedicada a assuntos de economia e negócios, a
Exame é lida, hoje, por 58% de homens e por 42% de mulheres. A distância entre ambos os
públicos já foi bem maior. A revista existe desde 1971).
Uma publicação que teve repercussão imediata, e que inaugurou um formato de
sucesso, é a Reader´s Digest (no Brasil, Seleções Reader´s Digest). Surgida em 1922, foi
iniciativa do jornalista americano Dewitt Wallace e de sua mulher, Lila Bell Wallace. A
novidade é que condensava artigos publicados em revistas e jornais, oferecendo assim ao
leitor a diversificação de assuntos, debates e boas histórias — trazia até resumo de romances.
Segundo o padrão dos Wallace, o texto da Reader´s Digest deveria emocionar, ser agradável e
fácil de ler, além de fornecer uma visão otimista da vida. Os críticos apontam que com esses
conceitos a publicação pretendia vender o sonho e a ideologia americana. Entre as décadas de
1940 e 1950, chegou a vender 50 milhões de exemplares em todo o mundo. Inaugurada aqui
em 1942, a revista vendia 500 mil exemplares no fim da década de 1950. Reader´s Digest tem
menos alcance hoje em termos de venda, mas ainda assim é uma das publicações mais lidas,
com edições em 19 idiomas.
Após o advento dos magazines, o formato que revolucionou o mercado e a própria
imprensa foi o da “revista semanal de informação”. A fórmula foi inventada no início dos
anos 1920 por dois jovens jornalistas americanos, Briton Hadden e Henry Luce, fundadores
da Time. O aparecimento da revista tem uma explicação: no fim de 1910, o Ocidente já vivia
o fenômeno do excesso de notícia. Mesmo submetido a essa carga de informação, o público
foi surpreendido com a explosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A imprensa
noticiava, mas revelou-se incapaz de ligar os fatos e, portanto, de fazer análises a longo prazo
elaborando o rumo dos acontecimentos.
É com base nesta constatação que a Time surge em março de 1923. O seu objetivo era
o de sintetizar um mundo já inflacionado pela notícia. O que a revista fez de absolutamente
novo foi apresentar os principais fatos da semana, organizados em editorias, com todo o
noticiário pesquisado, checado, resumido e interpretado. A síntese representava uma das
preocupações mais insistentes de Hadden e Luce e tinha a ver com a velocidade da economia
americana: o homem ocupado não tem tempo a perder. Depois de alguns anos de prejuízo, em
1930 a Time consegue engrenar e já arrecada três milhões de dólares em publicidade.
Inspiradas em sua fórmula, em 1933 surgem no próprio mercado americano a Newsweek
(ainda hoje a segunda maior revista semanal em circulação) e a US News (a terceira maior).
Também a partir de sua fórmula aparecem a alemã Der Spiegel, em 1947; na França, em
1953, a L´Express; na Itália, a Oggi e, em 1962, a Panorama.
Em 1925, outra semanal aparece nos Estados Unidos — The New Yorker, revista de
relatos, perfis, crítica, poesia, ensaio e ficção, idealizada por Harold Ross. Ainda hoje em
circulação, ao longo de sua história a New Yorker foi responsável pela publicação de inúmeras
reportagens de impacto — algumas das quais constam na seleção das cem melhores do século
20, como “Hiroshima”, de John Hersey. Outros relatos de não-ficção publicados pela revista
como Filme (de Lillian Ross, 1952) e A sangue frio (de Truman Capote, 1965) influenciaram
um novo estilo de reportagem, incentivando o fortalecimento de uma geração de repórteres-
escritores nos Estados Unidos e também na Europa. No terreno da ficção, a New Yorker
revelou nomes fundamentais da moderna literatura americana — Dorothy Parker, John
O´Hara, J. D. Salinger, John Updike, Raymond Carver e Philip Roth. E críticos efervescentes
como Kenneth Tynan e Pauline Kael. No Brasil, a revista Piauí, fundada em outubro de 2006,
baseou o seu modelo na New Yorker.
Após a Time e da revista de economia e negócios Fortune (1930), Henry Luce tem
outra ideia genial. Usufruindo o avanço tecnológico da fotografia, inaugura em 1936 a revista
Life, “a semanal ilustrada”. A publicação influenciou a criação da Look, em 1937, e também
de uma congênere europeia: Match, que surge imediatamente na França; em 1949, passa a se
chamar Paris Match, ainda uma das revistas mais vendidas do país. A Life representa um dos
paradoxos mais intrigantes da imprensa. Com oito milhões de exemplares rodados
semanalmente, em pleno auge, começa a se tornar inviável financeiramente e morre em 1972.
Vendia então cinco milhões e meio de exemplares. O seu custo de impressão resultava em
anúncios cada vez mais caros, equiparados aos de TV. Scalzo registra:
Somando-se a isso, o custo das tarifas postais — Life era basicamente uma
revista vendida por assinatura e entregue pelo correio — havia subido 170% em
cinco anos. Os editores fizeram as contas e viram que o prejuízo seria enorme em
dois anos. A Life morreu vítima de seu próprio gigantismo. O episódio ensina muitas
coisas. A principal delas é que revista é comunicação de massa, mas não muito.
Quando atingem públicos enormes e difíceis de distinguir, as revistas começam a correr perigo. (SCALZO, 2003, p. 16).
Outra publicação importante surge nos EUA em 1933 — a Esquire, fundada por
Arnold Gingrich. No rastro da New Yorker, lançou e publicou autores como Scott Fitzgerald,
William Faulkner, Ernest Hemingway, John Steinbeck e Norman Mailer. Mas Esquire não
investia só em literatura. A sua principal missão era divulgar a moda masculina. Foi para isso
que Gingrich, estilista profissional, foi designado. A sua receita editorial era o consumo de
bom gosto: carros, gastronomia e jazz. A publicação tornou-se referência para o homem
americano. Esquire também cultivava o jornalismo literário. Em 1966, publicou o perfil de
Frank Sinatra: “Frank Sinatra está resfriado”. De autoria de Gay Talese, um dos nomes mais
importantes do jornalismo literário, o material renovou o modo de se escrever perfis,
modalidade que se propõe a fazer o retrato por escrito de alguém, famoso ou não. A Esquire
ainda é publicada, com edições em vários países.
A masculina que de fato inovou o mercado editorial americano foi a Playboy, fundada
em 1953. A proposta de seu criador, Hugh Hefner, era a de fazer uma revista que fosse a
companhia permanente de homens, que, assim como ele, não estavam satisfeitos com o
casamento. A garota que posasse para a revista deveria transmitir a sensação de que estava
nua pela primeira vez, uma garota que bem poderia “ser a sua vizinha”. Como editor, Hefner
soube captar o espírito de insatisfação sexual que tangia a sociedade americana do pós-guerra.
De acordo com Gay Talese (1980), antes da Playboy poucos homens na América tinham visto
uma fotografia colorida de mulher nua.
Para publicar o primeiro número da revista, que saiu em dezembro, Hefner conseguiu
um empréstimo bancário de 600 dólares. Ofereceu como garantia de pagamento os móveis do
apartamento onde morava com a mulher e a filha pequena, em Chicago. Desenhou-a página a
página na mesa da cozinha; isso depois de conseguir comprar por 500 dólares uma fotografia
que Marilyn Monroe fizera para um calendário, em 1949, quando era ainda uma atriz obscura.
A edição de estreia com Marilyn na capa foi para as bancas sem número, pois Hefner,
paradoxalmente, não acreditava muito no sucesso da revista. Em pouco mais de dez anos, a
Playboy tornou-se um império editorial, tendo um coelhinho como símbolo. Considerada uma
das melhores do mundo, a Playboy brasileira chegou às bancas em 1975 com o nome de
Homem. Aqui, a ditadura militar proibia o uso do título em todo o território nacional. Só em
1978 a Abril adotou o nome original da revista.
Do século 17 até meados do 20, praticamente todas as possibilidades editoriais do
produto revista já circulavam no Ocidente, consolidando a fragmentação do mercado. Da de
religião à de interesse geral e de curiosidades; da semanal de informação às científicas e de
cultura; de esporte, viagem e turismo às femininas e masculinas; das de casa e jardim as de
economia. No Brasil, as revistas mais importantes foram adaptadas de modelos já
consagrados nos EUA e na Europa. De acordo com Maria Celeste Mira (2001), a partir de
1968 quase todas as publicações lançadas pela hoje quarta maior editora do mundo — a Abril
— integravam o rol de publicações da Time Inc., holding fundada por Briton Hadden e Henry
Luce em 1922 e que deu origem à revista Time.
Hoje, o mercado mundial de revistas vive a fase da segmentação da segmentação —
ou da hipersegmentação. Um exemplo disso seria uma revista de cinema que busca atrair
outras fatias de público neste mesmo segmento, como a dos apreciadores de filmes de ficção
científica, terror etc. Portanto, cada vez mais os editores de revista se tornam especialistas em
consumidores. Diante disso, a publicação ideal seria aquela que se dirige a um único leitor. O
mercado mundial também já fatura com as revistas digitais. No Brasil, recentemente a Abril
passou a ter as suas publicações em CD ROM auditadas pelo Instituto Verificador de
Circulação (IVC).
1.2 A revista no Brasil e o texto e a reportagem de revista
Antes de chegada da família real portuguesa, em 1808, era proibida aqui a circulação
de qualquer tipo de impresso, a não ser com autorização da Corte. Do mesmo modo, as
impressoras eram vetadas e seus proprietários poderiam ser presos ou exilados. Com o
desembarque da Corte começa oficialmente a imprensa no Brasil. A revista aparece pela
primeira vez com a publicação de As variedades ou Ensaios de Literatura, fundada por
Manoel Antonio da Silva Serva, em 1812. Esta circulou em Salvador e durou apenas dois
números. A exemplo da primeira publicação surgida na Alemanha, em 1663, a brasileira em
nada lembrava as revistas de hoje. Basicamente, era composta de textos variados, numa
edição rústica.
Historicamente, o termo “revista” foi adotado no Brasil em 1828, com a publicação no
Rio de Janeiro da Revista Semanária dos Trabalhos Legislativos da Câmara dos Senhores
Deputados. Até meados do século 19, as publicações brasileiras tinham vida efêmera —
resistiam menos de um ano e muitas vezes apenas um número. Tratavam de assuntos gerais e
de literatura. Uma exceção é a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundada
em 1839 e ainda existente. A partir de 1850, as revistas passam a durar mais, notadamente as
que circulam no Rio: O Bello Sexo (1850-51); Guanabara (1850-55); Revista Mensal do
Ensino Philosophico Paulistano (1851-58?); O Jornal das Senhoras (1852-55); Marmota
Fluminense (1852-57); Ilustração Brasileira (1854-55); L´lride Italiana (1854-56). Neste
período, o escritor Machado de Assis foi colaborador de O Jornal das Senhoras e da Marmota
Fluminense.
Em 1860, as revistas cariocas já apresentam ilustrações. Aos poucos, também, uma
novidade: a fotografia, a partir de reproduções. As publicações se tornam mais abundantes e
criativas como Semana Ilustrada (1860-1876), A Vida Fluminense (1868-1875), O Novo
Mundo (1870-78), A Estação (1872-1904), O Mequetrefe (1875-93), Lanterna Mágica (1882-
1909), Revista Contemporânea (1894-1896), A Cigarra (1895-96), Revista Brazileira (3ª fase,
1895-99), Dom Quixote (1895-1903), A Bruxa (1896-98), Rua do Ouvidor (1898-1912), entre
outras.
Com a estreia do século 20, o número de revistas em circulação aumenta. Aparecem
publicações célebres, longevas e populares como a Revista da Semana (1900-59) — esta
fixou o fotojornalismo no País, logo no início do século 20 —, O Malho (1902-54), Kósmos
(1904-09), O Tico-Tico (1905-59), O SportMan (depois Vida Moderna) (1906-25), Fon-Fon
(1907-58), Careta (1908-60), A Ilustração Brasileira (1909-59), O Pirralho (1911-18), Auto
Sport (1912-27), A Cigarra (1914-56), Revista Feminina (1914-36), A Maçã (1922-29), entre
outras. No Rio de Janeiro efervescente — a capital da República que, reformada no início do
século, já cansava Machado de Assis (“o Rio mudou muito, até de costumes”) —, os assuntos
dos jornais e das revistas são as críticas social e política, a buliçosa vida dos famosos, o voto
feminino, as artes e os espetáculos e até mesmo o erotismo, com as revistas denominadas de
“galantes”. Além de Machado, outros escritores, poetas, cronistas e críticos como Artur de
Azevedo, José Veríssimo, Raimundo Correia, Coelho Neto, Olavo Bilac, Graça Aranha,
Magalhães de Azeredo e João do Rio colaboram nas publicações e até mesmo tiram o sustento
disso, caso de Lima Barreto e, em determinado período, do próprio Machado de Assis.
Ao longo do século 19 e nas décadas iniciais do 20 — época em que crônica e
jornalismo significavam a mesma coisa —, a imprensa brasileira tinha uma linguagem
editorial diferente da que conhecemos hoje. Não noticiava no sentido moderno do termo:
determinar o foco principal de um fato e relatá-lo com objetividade. A imprensa opinava,
tradição que data do nascimento dos jornais burgueses, na França de fins do século 18.
Mesmo nos Estados Unidos, que no século 19 já tinha um mercado próspero em publicações,
o conceito de notícia ainda se firmava. Em 1896, ao comprar o The New York Times —
surgido em 1851 e ainda considerado o maior jornal do mundo —, Adolph Ochs teve como
principal iniciativa modernizá-lo. Gay Talese conta que os seus antigos proprietários não
tinham o senso comercial e os valores jornalísticos de Ochs: ao adquiri-lo, ele imediatamente
transformou o jornal, imprimindo-lhe um novo conceito editorial:
[...] evitou as histórias escandalosas baseadas em fofocas, expandiu a cobertura das
notícias financeiras, das tendências de negócios, das transações imobiliárias e das
atividades oficiais que, embora enfadonhas, os outros jornais da época ignoravam. Ochs queria um jornal que fosse uma testemunha, que publicasse diariamente o
registro de todos os incêndios da cidade, a hora da chegada de cada navio, o nome
de cada visitante oficial da Casa Branca e a hora exata do pôr do sol e do nascimento
da lua. Para ele, o jornal tinha de ser imparcial e completo, que não maculasse a
toalha do café da manhã. (TALESE, 2000, p.6).
No Brasil, o amadurecimento da notícia, e, consequentemente, da imprensa, também
foi um processo lento. A independência em relação a Portugal só foi noticiada 13 dias depois
pelo jornal carioca O Espelho. Já a Guerra do Paraguai (1864-1870) foi notícia nas revistas A
Vida Fluminense e Semana Ilustrada. Esta contou com a colaboração de um grupo de oficiais
do exército que enviava relatos à redação. O grupo também ficou responsável em enviar fotos
que serviam de base para as ilustrações. A própria revista ensinou os militares a manipular a
máquina fotográfica, fato que inaugura aqui a fotorreportagem. Mas nenhuma revista da
época publicou relatos sobre a Guerra de Canudos (1893-1897); o evento foi abordado por
poucos jornais, principalmente em seu final por O Estado de S. Paulo. A cobertura de
Canudos por Euclides da Cunha, enviado ao campo de batalha pelo Estado, resultou no início
do século 20 — 1902 — na publicação de Os Sertões, um dos clássicos da literatura
brasileira.
A reportagem — a técnica de investigação, documentação e contextualização do fato
— só começa a ganhar impulso nas revistas brasileiras partir de O Cruzeiro, criada em
novembro de 1928 por Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados. O primeiro
número da revista circulou com 50 mil exemplares. No início dos anos 1940, O Cruzeiro se
torna a semanal ilustrada mais lida no País. Na sua fase áurea, chegou a rodar 500 mil
exemplares por semana. A edição relativa ao suicídio de Getúlio Vargas — ocorrido em 24 de
agosto de 1954 — chegou aos 720 mil. Note-se, porém, que esses números podem não
corresponder à realidade, pois na época não existia ainda o IVC. Criado em novembro de
1961, o órgão atesta a autenticidade da circulação.
A fase mais importante de O Cruzeiro começa em 1943 — e se estende pelos anos
1950 e 1960 — com a inauguração na reportagem brasileira da dupla repórter/fotógrafo, com
David Nasser e Jean Manzon — este um francês que já tinha trabalhado em revistas
importantes e que trouxe da Europa o conceito editorial de que O Cruzeiro precisava para se
firmar. Nasser e Manzon trabalharam juntos até 1952. Foram responsáveis por reportagens
polêmicas, exageradas ou mesmo inventadas. Na época, esse estilo de “reportagem” era
praticado por parte da imprensa. O dramaturgo Nelson Rodrigues — que elogiava o estilo e as
“reportagens” de David Nasser — começou a atuar como repórter aos 12 anos de idade no
jornal A Manhã, de propriedade do pai, Mário Rodrigues. Foi ali que estreou literariamente
escrevendo histórias inspiradas no noticiário policial que ele mesmo apurava. Quando o lide
— ou lead, a informação principal que abre uma notícia, fórmula inventada pelos americanos
que deve responder às seguintes perguntas: quem; o quê; quando; onde; como; e por que —
começou a ser implantado aqui pelo jornal Diário Carioca, em 1952, o escritor desdenhou a
novidade. Nos anos seguintes, ironizava a postura ética, taxando a nova geração de jornalistas
de “os idiotas da objetividade”. Para Nelson Rodrigues, o “espírito verdadeiro” da reportagem
era a invenção folhetinesca de boas histórias.
Em 1944, Nasser e Manzon conseguiram registrar o primeiro contato do homem
branco com os índios xavantes. A “reportagem” recebeu o título “Enfrentando os Chavantes”.
O material apresenta fotos dos índios atirando flechas contra o avião em que os repórteres
estavam. Mas o fato é que Nasser e tampouco Manzon estiveram no local. Ganharam as fotos
de um major da aeronáutica que sobrevoara a aldeia, com a intenção de reconhecê-la para
uma missão colonizadora do governo. Para realçar o conteúdo da “reportagem”, a dupla se fez
fotografar, juntamente com o piloto, major Antônio Basílio, em frente ao avião. Na verdade, o
gesto foi encenado, isso quando a missão de reconhecimento dos xavantes já havia sido
cumprida. Já em 1946, Manzon fotografou o deputado federal Edmundo Barreto Pinto de
fraque e cueca. Argumentando que estava com pressa, o fotógrafo convenceu o parlamentar,
que se vestia para ir a uma solenidade, de que iria enquadrá-lo da cintura para cima. A
publicação da foto resultou em sua cassação por falta de decoro parlamentar.
O Cruzeiro fazia vistas grossas a esse tipo de jornalismo. Em maio de 1952, publicou
uma reportagem considerada uma das maiores falsificações já praticadas pela imprensa
brasileira — a aparição de discos voadores na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A dupla
responsável pela fraude foi o repórter João Martins e o fotógrafo Ed Keffel. Os “discos
voadores” eram calotas de carros, fotografadas quando arremessadas para cima. A revista
circulou com um encarte de oito páginas intitulado “Extra: disco voador na Barra da Tijuca”.
O sensacionalismo era praticado por parte da imprensa, época em que havia a pressão
da concorrência, quando a TV no País era incipiente ainda e os meios de a população se
informar eram o rádio e o jornal, este com várias edições diárias. A preocupação com o
conceito de bem informar deriva aqui dos anos 1960, período de amadurecimento e
profissionalização da imprensa, quando a notícia e a reportagem encontram o seu formato
moderno com o ingresso no mercado de uma nova geração de profissionais que começa a
definir e a estabelecer as regras do jornalismo ético. Muito contribuiu para isso a
obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício da profissão. A partir de fins dos
anos 1960 a ética e o espírito do jornalismo se aprimoram também por força da truculência
política do regime militar, período em que a imprensa se conscientiza de sua importância
como espaço público de discussão. O Cruzeiro fechou em 1975.
Uma revista que investiu na reportagem de texto foi Diretrizes, fundada em 1938 por
Samuel Wainer, jornalista e empresário que revolucionou anos depois a imprensa brasileira
com o jornal Última Hora. Diretrizes circulou até 1944, abalada pela censura do Estado Novo
(1937-1945), período ditatorial do governo Getúlio Vargas (1930-1945). Um de seus
principais repórteres era Joel Silveira, que instituiu um tipo de reportagem imitado até hoje.
Em duas delas, tratou da elite de São Paulo — em 1943 e 1944. Por causa do escândalo
provocado por ambas foi chamado por Assis Chateaubriand para trabalhar nos Diários
Associados como correspondente de guerra na Itália.
Na reportagem de 1944 — “A 1002ª noite da avenida Paulista” —, Silveira narra os
episódios que marcaram o casamento de Filly Matarazzo, filha do conde Matarazzo, um dos
maiores empresários da época, em um texto repleto de sarcasmo e de ironia, mas totalmente
baseado em fatos. Encerra a reportagem narrando a festa na casa de uma operária das
indústrias Matarazzo, que casou no mesmo dia:
A mais bela festa do Brasil, ela propriamente dita, durou precisamente dois dias,
duas noites e três madrugadas. Começou precisamente no sábado, 8, às nove e meia
da noite, quando foram realizadas as bodas civis, com apenas dez convidados, a
gente mais eleita. Lá estava a família Matinez de Hoz, lá estava o Barão de Saavedra, além de um redator especial de conhecida agência telegráfica estrangeira.
Depois da cerimônia foi o baile. À meia-noite os noivos dançaram a primeira valsa.
‘O conde tinha um sorriso de pomba nos lábios’, informou um cronista. O palácio
resplandecia, mil luzes, mil reflexos, as fontes luminosas lá fora... [...] estive na
humilde casa da Vila Romana, onde se realizou o matrimônio da moça Nadir
Figueira Ramos, operária de uma das fábricas Matarazzo, com o rapaz José
Todeschi, torneiro-mecânico. Quando voltaram da igreja, na cidade, ela de azul, ele
de marrom, encontraram o seu pequeno lar enfeitado com algumas flores de papel
crepom e outras naturais; duas cortinas brancas na janela, pão doce, goiabada,
refresco de laranja, quatro ou cinco garrafas de cerveja e algum guaraná. Os móveis
eram rústicos e ainda não estão pagos. E depois do casamento, na noite seguinte,
Nadir voltou para sua fábrica e José para sua oficina. Lua-de-mel, sim, mas depois das poderosas chaminés da Matarazzo gritarem o fim do expediente do dia.
(FUSER, 1996, p.125/127).
Para Marcos Faerman (1997), a reportagem é um método de apuração da realidade,
que tem como nervo a arte de investigar os fatos e saber descrevê-los. Já Cláudio Abramo
(1988), classifica a reportagem como uma forma narrativa que depende muito do poder de
observação do narrador. Pode-se depreender das definições que só existe reportagem quando
o repórter entra em ação. Se a reportagem é o aprofundamento do fato, a grande-reportagem é
a ampliação da reportagem, pois considera muito mais aspectos de uma questão, percorrendo
as suas contradições. Jornalisticamente, pode-se definir a grande-reportagem como um estudo
— o estudo de um fato.
Para que a reportagem e a grande-reportagem ocorram é necessário trabalho de campo
e de pesquisa e a observância do contraditório, pois uma questão sempre envolve outros
ângulos de interpretação, inclusive ideológicos. Não existem verdades absolutas em
jornalismo; por isso, uma reportagem, dependendo da importância e do ineditismo da
informação, pode abrir mão de alguns desses requisitos técnicos, mas é fundamental que o
repórter esteja em ação. No caso de “Enfrentando os chavantes”, David Nasser fez apenas um
relato. Ele não entrou em ação, não esteve presente, não testemunhou, não documentou.
De acordo com Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, a reportagem ganhou impulso
moderno nos Estados Unidos. Para exemplificar a transformação de uma notícia em
reportagem se referem a um episódio ocorrido em 30 de janeiro de 1925, no estado de
Kentucky, quando o camponês Floyd Collins entrou em uma gruta e ficou preso, com uma
das pernas imobilizadas. Em 2 de fevereiro, o repórter Skeets Miller, do Courier Jornal, de
Louisville, chega ao local e começa a pedir informações. Indaga sobre o acidente e, irritado, o
irmão de Collins responde: “Se você quer mesmo saber como vão as coisas, o buraco está aí.
Vá ver você mesmo”. (FERRARI; SODRÉ, 1986, p. 12). Miller então entra na gruta e chega
até Collins. Faz de tudo para salvá-lo e quase consegue.
As reportagens de Miller mobilizam a imprensa, o assunto ganha as manchetes e
comove os americanos. Posteriormente, o repórter do Courier Journal é laureado com o
Pulitzer, o mais importante prêmio de jornalismo e de literatura dos Estados Unidos. Muniz
Sodré e Maria Helena Ferrari salientam que o acidente envolvendo Collins poderia ter rendido
qualquer tratamento jornalístico — “notícia, crônica, artigo ou editorial” —, mas só ganhou o
status de reportagem no momento em que Miller se sensibilizou “pela extrema solidão de
Collins”, humanizando o relato: “Sem um ‘quem’ e um ‘o quê’ não se pode narrar. Na
reportagem, esses dois elementos têm de existir, mas têm, sobretudo, de despertar interesse
humano”. (FERRARI; SODRÉ, 1986, p.14).
Enquanto o jornal se caracteriza pela notícia, em razão da própria natureza do veículo,
que lida com os fatos diários, a revista tornou-se o espaço próprio para a reportagem e a
grande-reportagem, para a exploração ampla de um tema, com mais investigação, mais
personagens e mais fontes, mais histórias e linguagem criativa, mais experimentação, mais
envolvimento do repórter com a notícia; mais ângulos de informação à disposição do leitor e
também a prospecção do contraditório — o ângulo diverso. Neste aspecto, a reportagem que
só apresenta um ponto de vista corre o risco de ser confundida com publicidade.
De acordo com Marília Scalzo (2003), as revistas não têm vocação noticiosa.
Caracterizam-se, sobretudo, pelo entretenimento e pela educação. Na edição 1.845 de Veja, de
17 de março de 2004, o editor chama atenção para o fato de a revista ter acompanhado o
empresário paulistano William Adas por dezesseis meses para narrar a sua cirurgia de
estômago. A reportagem contém os elementos típicos do texto e da grande-reportagem de
revista: o drama humano, a convivência da repórter com o personagem, o aprofundamento do
assunto. Monica Weinberg parte do particular para o geral para falar da obesidade mórbida;
dois aspectos a ressaltar na reportagem são a documentação do fato e a imersão — ou seja,
além de mergulhar no dia a dia de Adas, a repórter também presenciou a cirurgia de
encolhimento do estômago. Finalmente, a narração da história:
Quando reflete a respeito do processo de engorda que o fez dobrar de peso, o
empresário paulista William Adas tem a sensação de que inchou de uma hora para
outra. ‘É como se eu fosse o mocinho de um filme de ficção científica e uma força
maligna tivesse me sugado para um mundo paralelo onde fui transformado em um
monstro. Fiquei deformado. Meu pescoço desapareceu, passei a não enxergar meus
pés sem ajuda de espelhos, parei de alcançar as costas no banho e meu órgão sexual
ficou encoberto’, conta. A maior parte das pessoas obesas vê a gordura dessa forma, como um alien que se apossa subitamente de seus corpos. (WEINBERG, 2004, p.
73).
Escrever para revista e para jornal requer posturas diferentes. Quem lê jornal quer
rapidez, informações precisas, pois não tem tempo a perder ou não quer perder tempo. Já
quem lê revista — mesmo que não saiba disso — procura um outro tipo de prazer e de
informação. Geralmente, reserva algum tempo no fim de semana para se inteirar sobre a
análise e a interpretação do que aconteceu durante a semana ou então lê a revista aos poucos,
durante o mês. Portanto, jornal requer imediatismo, condição inerente à periodicidade do
produto. Quem lê revista quer análise, opinião, emoção e entretenimento. Isso também tem a
ver com a periodicidade do produto.
Um aspecto contemporâneo na reportagem de revista é que o repórter deve também
pensar visualmente. Isso porque uma reportagem não é mais narrada só com palavras. Como
se verá mais adiante, a narrativa gráfica tem hoje grande importância, pois o leitor quer “ver”
o texto. Outra característica em relação à diferença dos produtos é que enquanto a informação
principal no jornal deve estar no lide, de forma seca e direta, dividida em blocos, na revista a
informação flui ao longo do texto, dosadamente. Um dos melhores exemplos que configuram
a diferença entre o texto de revista e o de jornal é que os títulos deste são tirados do lide. Em
revista, não — o título é retirado do “espírito da matéria”. Vejamos outro exemplo de texto e
de reportagem da Veja:
Daiane dos Santos decola de costas. Já no ar, gira o corpo de modo a ficar de frente
para sua trajetória de vôo. Continua subindo. Perto de atingir o ponto mais alto,
quando sua cabeça chega a 2,80 metros do solo — quase a altura de uma cesta de
basquete —, ela rodopia num salto-mortal com o corpo reto, como se fosse uma hélice cujo eixo passasse pelo abdômen. Já está na descendente quando repete o
giro. O efeito lembra o filme Matrix, com os truques virtuais se materializando no
mundo real. Daiane aterrissa de pé, com os braços abertos para aumentar o
equilíbrio, gesto elegantemente disfarçado em saudação à platéia. O movimento aqui
descrito em câmera lenta dura menos de um segundo. Enquanto você lia as linhas
acima, Daiane poderia teoricamente ter realizado quinze dessas dificílimas
acrobacias. Em 76 anos de competições — a ginástica feminina faz parte dos Jogos
Olímpicos desde 1928 —, ninguém nunca arriscou algo parecido. Ao que se sabe,
nenhuma outra atleta está treinando para fazer algo tão assombroso nas Olimpíadas
de Atenas, em agosto. Daiane dos Santos é a única ginasta do mundo capaz de
realizar esse salto cujo nome técnico é "duplo twist estendido". Twist porque ela
salta de costas e faz um giro de 180 graus no ar. Duplo porque por duas vezes a
atleta dá voltas no ar sem colocar pés ou mãos no chão, o que configura o salto-
mortal. Estendido porque o corpo fica reto — e é exatamente aí que reside a maior
dificuldade. No Mundial de 2003, nos Estados Unidos, Daiane já se firmara como
um fenômeno único no mundo da ginástica ao executar uma manobra altamente
difícil, porém mais simples. Foi o duplo twist carpado. Em vez de ficar reto, o corpo
se dobra durante o duplo mortal, com o tórax num ângulo de 45 graus em relação às pernas, o que facilita o giro. O movimento recebeu o nome de ‘Dos Santos’, em
homenagem a ela. O salto estendido que Daiane prepara para Atenas é ainda mais
complicado. (LIMA, 2004, p. 80).
No texto acima, o repórter descreve o salto da ginasta Daiane dos Santos; ele assistiu
ao salto diversas vezes em vídeo para poder narrá-lo com detalhes; mediu o tempo da
acrobacia e da abertura da matéria para mostrar quantas vezes Daiane poderia saltar até aquele
momento da leitura; comparou o feito da ginasta com o filme Matrix, criando assim uma
referência cultural; o repórter explica porque Daiane é importante no contexto da ginástica
olímpica; as informações no texto são apresentadas de forma a criar um elo de emoção com o
leitor; embora mais adiante vá tratar da Ginástica Olímpica Feminina, que é o verdadeiro tema
da reportagem, o texto começa e termina com Daiane. Isso é chamado de texto circular, um
recurso bastante utilizado em revista — no caso, a ginasta humaniza a reportagem;
finalmente, pode-se afirmar que o texto tem durabilidade, isso porque pode ser lido sem que
envelheça rapidamente (em sua estrutura, apenas o factual ficará defasado).
Outra revista brasileira que marcou época foi Manchete, semanal fundada em 1952 por
Adolpho Bloch. A publicação dedicou-se à reportagem fotográfica, uma fórmula adaptada da
Life, da Look e da Paris Match por Justino Martins, o grande editor de Manchete. Em 1946
ele foi para a Europa, onde morou por 15 anos, principalmente em Paris. Lá, especializou-se
na reportagem de celebridades e percebeu então a importância que tinham para as revistas
ilustradas. Cobriu durante anos o festival de cinema de Cannes. Com a ideia fixa de que a
preferência de leitura dos brasileiros, além dos famosos, eram o cinema, o esporte, o crime e o
dinheiro, em 1959 levou a fórmula para a Manchete, imprimindo à revista “a beleza da
estética da comunicação”, com grandes reportagens fotográficas acompanhadas de pouco
texto. Sob sua direção, a revista chegou a suplantar O Cruzeiro e se tornou uma das mais lidas
do País.
De acordo com Maria Celeste Mira (2001), a fórmula da Manchete — e também da
Life, da Look e da Paris Match — tem relação direta com o cinema, quando a partir dos anos
20 essa indústria do entretenimento se torna extremamente popular, habituando o público à
cultura da imagem. As semanais ilustradas deram nova dimensão à fotografia. Uma das
especialidades de Manchete era a cobertura do carnaval do Rio de Janeiro. Em abril de 1960,
chegou a vender 500 mil exemplares, em dois dias, com uma grande-reportagem sobre a
inauguração de Brasília. Já fracassada, a revista deixou de circular em junho de 2000,
pressionada por problemas financeiros. No ano seguinte, quatro edições chegaram às bancas,
editadas por ex-funcionários da Bloch que se agruparam numa empresa chamada Massa
Falida da Editora Bloch. Manchete voltou às bancas em janeiro de 2002 com edições mensais
e temáticas. Hoje, só circula uma vez por ano com reportagens especiais sobre o carnaval.
Com a industrialização e a implantação do parque automobilístico no País — a era
desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) —, a Editora Abril — que
estreia em 1950 com a publicação de O Pato Donald — inicia a segmentação do mercado
nacional de revistas. De acordo com Mira (2001), as revistas que consolidam o processo, e
que servirão de experiência para tudo o de importante que a editora lançará nos anos
seguintes, são representadas por Quatro Rodas, Claudia, Realidade e Veja, cada qual pioneira
no seu segmento, sendo a última a representante da ideologia da empresa.
A publicação que inaugura o processo de segmentação na Abril, em agosto de 1960, é
a Quatro Rodas, destinada a proprietários ou compradores de carros. Inicia-se então no País a
reportagem de serviço, turismo e automóvel. A revista acompanhou — e comemorou — o
processo de nacionalização da indústria automobilística. Duas de suas seções mais lidas eram
“Mercado de Automóveis” e “Segredo de Fábrica”. Esta estreou seis meses depois do
lançamento da revista e revelava, entre outras coisas, modelos de veículos que ainda seriam
lançados pelas fábricas. Em 1973, os repórteres Nehemias Vassão e Cláudio Laranjeira
flagraram na Estrada Velha de Santos um novo modelo da Volkswagen, o Brasília, e num
Fusca perseguiram o veículo, a fim de fotografá-lo. O caso foi parar na polícia porque foram
confundidos com assaltantes.
Seguindo o exemplo de O Cruzeiro, a dupla repórter/fotógrafo da Quatro Rodas
entrava nas fábricas sem ser identificada e conseguia furos — a notícia exclusiva: do Jangada,
um modelo do Sinca de 1961, ao furo internacional sobre o lançamento da Fiat Uno, em 1982.
O primeiro diretor de redação da revista foi Mino Carta, fundador de publicações que fizeram
história na imprensa brasileira como o Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ e Carta Capital. Em
1966, a Quatro Rodas deu origem ao Guia Quatro Rodas, especializado em turismo, viagens,
hotéis, restaurantes, estradas e ruas. O primeiro hotel Quatro Rodas da Abril foi construído em
São Luís, no Maranhão, em 1967, com o incentivo e apoio do então governador do estado,
José Sarney.
De acordo com Maria Celeste Mira (2001), o aparecimento de Claudia, em 1961,
revoluciona a imprensa feminina brasileira que até então era dirigida à mulher que cuidava da
casa. Enquanto Manequim, lançada também pela Abril em 1959, se dedicava à moda — seu
público principal eram as costureiras —, Claudia foi em busca da nova mulher. A revista
inaugura um sofisticado esquema técnico e de produção, isso porque a editora teve de
importar profissionais para executar a revista nas áreas de fotografias de cozinha, decoração e
moda e em edição de arte e arte gráfica.
Partindo da fórmula das revistas femininas americanas e europeias, Claudia conseguiu
estabelecer os conceitos da culinária e da moda brasileiras. Quanto ao último aspecto,
aproveitou o surto de industrialização do governo JK, incluído aí o florescimento da indústria
têxtil, e mais adiante o chamado “milagre econômico”, entre 1969 e 1973. Uma das
características do “milagre” foi a alta do consumo, com a proliferação de redes de
supermercados e de shopping centers, fatores que a revista soube aproveitar. No aspecto
comportamental, Claudia abordava assuntos polêmicos, proibidos pela Igreja Católica.
Assinada pela escritora, psicóloga e jornalista Carmem da Silva, a partir de 1963 a coluna “A
arte de ser mulher” identificou-se com os ideais feministas de direito ao aborto, sexo antes do
casamento, virgindade, pílula, machismo. A escritora recebia em média 150 cartas por mês.
Mesmo com títulos de sucesso lançados posteriormente pela Editora Abril como
Nova/Cosmopolitan, em 1973, e Elle, em 1988, Claudia ainda é a revista feminina mais
vendida do País, com tiragem de 518 mil exemplares mensais e mais de dois milhões de
leitoras, segundo dados da PubliAbril. Até meados dos anos 1970 outros títulos femininos
entram no mercado e fizeram história: Desfile (Bloch Editores), Mais (Editora Três) e Vogue
(Carta Editorial).
Em abril de 1966, a Abril lança o que é considerada até hoje como a mais importante
revista de reportagem já feita no País: Realidade, iniciativa de Roberto Civita. Embora a taxa
de analfabetismo no fim dos anos 60 e início dos 70 alcançasse no Brasil 33,7% da população
de 15 anos ou mais — o País tinha 90 milhões de habitantes — ainda assim existiam nos
grandes centros consumidores de jornais e revistas dispostos a enfrentar e a debater as longas
narrativas. Nesse aspecto, Realidade é um dos exemplos editoriais mais bem-sucedidos. Seu
slogan era: “A revista dos homens e mulheres inteligentes que querem saber mais a respeito
de tudo”. O seu conteúdo se caracterizava por grandes temas e polêmicas culturais e sociais:
sexo, família, feminismo, ditadura militar, guerra do Vietnã, drogas. Segundo J. S. Faro
(1999), Realidade sintetiza para o jornalismo brasileiro uma espécie de modelo de toda a
inquietação cultural dos anos 1960, inovando-o com padrões gráficos avançados e também
inaugurando aqui, juntamente com o Jornal da Tarde (1966), o jornalismo literário — o new
journalism ou novo jornalismo —, a utilização dos recursos literários na reportagem.
Datado de meados dos anos 1960, o novo jornalismo deu dimensão épica à reportagem
e, consequentemente, ao texto de revista, com a introdução de diálogos, fluxo de pensamento
ou de consciência, o estilo ficcional e a observância de detalhes para compor cenas e
personagens. Como já foi dito, essas técnicas foram deliberadamente retiradas da literatura.
Este estilo de jornalismo exige, porém, o envolvimento radical do repórter, a chamada
reportagem de imersão, muitas vezes narrada em primeira pessoa. Gay Talese, um dos mais
sofisticados autores do gênero, usou a técnica de imersão no livro-reportagem A Mulher do
Próximo, como atesta o seguinte trecho:
Durante o restante daquele ano e ao longo de 1972, Talese visitou dezenas de salões de massagem, numa base regular, tornando-se socialmente conhecido não apenas
das massagistas, mas também dos jovens gerentes e proprietários. Uns poucos,
tendo-se formado em inglês ou estudado jornalismo na universidade, conheciam o
trabalho de Talese e achavam ‘emocionante’ que ele se tornasse um freguês e
aficionado dos serviços oferecidos. Aceitavam seus convites para jantar em
restaurantes, submeteram-se às suas entrevistas e permitiram o uso de seus nomes no
livro que possivelmente resultaria das pesquisas. Dois proprietários de salão
chegaram até a permitir que Talese trabalhasse como gerente sem salário. (TALESE,
1980, p. 455/456).
Capítulos da obra de Talese foram publicados na Esquire. Além dela, o novo
jornalismo se impôs, fez sucesso e se consolidou no jornal New York Herald Tribune e em
revistas como The New Yorker, Rolling Stone, Playboy e Harper’s Baazar. Quem deu
“autoridade” ao novo jornalismo foi Truman Capote. Em novembro de 1959, ele leu uma
notícia no New York Times sobre o assassinato de quatro membros de uma família numa
cidade com 270 habitantes chamada Holcomb, no Kansas. Percebeu então que o crime
poderia render uma boa reportagem: as consequências do assassinato alterando a vida da
cidade. Capote recortou a notícia e levou-a ao editor da The New Yorker, William Shawn.
Este permitiu que o escritor viajasse a Holcomb, o que ele fez em dezembro. Dois meses
depois, de volta a Nova Iorque, Capote informa a Shawn que o que tem em mãos é muito
mais que uma reportagem — é algo que deve inaugurar um novo estilo de se fazer literatura.
Para escrever a história do assassinato, que levou ao todo seis anos para ser concluída,
Capote usou a técnica da reportagem de imersão, tornando-se amigo do detetive Alvin Dewey
e dos dois assassinos, Perry Smith e Dick Hickock. A novidade da reportagem intitulada A
sangue frio — publicada em quatro capítulos pela New Yorker entre o fim de setembro e
outubro de 1965 — foi a utilização da técnica de construção do romance — da ficção —
aliada ao jornalismo. Isso não era exatamente novidade na imprensa americana, mas Capote
levou a técnica ao extremo, dando-lhe uma dimensão jamais vista. Com a obra, além de
Talese, influenciou outros escritores-repórteres como Norman Mailer e Tom Wolfe. De
acordo com a crítica americana Kathryn VanSpanckeren, a literatura que emerge a partir nos
anos 1960 nos Estados Unidos é marcada pelo entrelaçamento entre fato e ficção, romance e
reportagem, cuja tendência é mantida até hoje. Ela situa o romance-reportagem A sangue frio
como a peça-chave deste momento. A influência do novo jornalismo foi fundamental na
formação da moderna reportagem brasileira, pelo menos até o início dos anos 1980.
Amparada na técnica do novo jornalismo, Realidade se propunha a investigar a
realidade do País — por isso o nome. A revista queria unir o País por meio da reportagem.
Pautava os assuntos polêmicos dos anos 1960: aborto, drogas, família, divórcio. Seus
repórteres percorriam o Brasil de Norte a Sul. Em 1967, uma edição inteira da revista sobre a
mulher brasileira foi censurada. Em 1968, chocou ao mostrar o drama de seu enviado ao
Vietnã, José Hamilton Ribeiro, que teve a perna esquerda destroçada por uma bomba ao pisar
numa mina: “Eu estive na guerra” é um clássico da reportagem brasileira. A fase de maior
prestígio de Realidade vai até 1968. Logo em seguida, começa a pressão da censura militar —
o Ato Institucional Nº. 5 (AI-5) é publicado em 13 de dezembro — e a redação sofre o
impacto disso, inclusive com mudança de comando. Deixa de circular em 1976, quando
imprimia 120 mil exemplares mensais. Chegara a vender 466 mil. O professor Roberto Sabato
Claudio Moreira (2002) alude como hipótese ao seu declínio e desaparecimento o fato da
revista representar um dos ápices da consolidação da indústria cultural no País, cujo modelo
começa a ser superado, a partir do início dos anos 1970, com a formação de grandes
conglomerados como a própria Editora Abril — que domina o mercado com a segmentação
de títulos — e a Rede Globo. O certo é que a concorrência com a televisão, não apenas aqui,
mas também nos Estados Unidos, marca o declínio da reportagem impressa. Para Paulo
Francis, isso fica evidente em 20 de julho de 1969, quando a TV mostra a chegada do homem
à Lua. A partir deste fato, transmitido mundialmente, a palavra impressa é superada pela
imagem em movimento. No caso de Realidade, a decadência se intensifica quando a televisão
brasileira se fortalece culturalmente com a transmissão de um evento grandioso: a Copa de
1970, no México, quando o País se sagra tricampeão mundial. O tipo de reportagem em que a
revista investia é quase impensável para o jornalismo de hoje, com redações cada vez mais
enxutas, o desenvolvimento tecnológico e a pressão das novas gerações de leitores, refratárias
ao texto longo.
A Editora Abril é uma das mais importantes do mundo — a quarta maior. Foi fundada
em 1950 por Victor Civita. A partir daí, inicia a sua trajetória de sucesso no mercado, com o
lançamento de O Pato Donald, revista em quadrinhos por anos seguidos campeã absoluta de
vendas. A empresa investe também nas fotonovelas, inovando com Capricho, que passa a
publicar histórias inteiras e não em capítulos como fazem, à época, as demais publicações do
gênero. Na década de 50, Capricho chegava a vender 500 mil exemplares por quinzena. Com
O Pato Donald, Mickey e Tio Patinhas, as fotonovelas e fascículos como a Bíblia Mais Bela
do Mundo, Conhecer, Medicina e Saúde e Bom Apetite —, a Abril lança firmes alicerces no
mercado. A partir do início dos anos 1970, além das já citadas, lança títulos absolutos como
Placar, Playboy, Exame, Contigo. Saúde, Boa Forma, Superinteressante. De acordo com a
PubliAbril, são mais de 300 títulos por ano, com 180 milhões de exemplares vendidos.
Em 2007, o Brasil publicou 3.833 títulos de revistas; em 2006, 3.657. De acordo com a
Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), o crescimento do setor vem desde
2000, quando foram impressos 2.034 títulos. De janeiro a março de 2009, foram vendidos em
bancas e por meio de assinaturas 3,7 milhões de exemplares de revistas semanais — neste
segmento, o mercado tem 25 títulos, da Veja a TiTiTi. No mesmo período do ano passado,
foram comercializados 3,6 milhões de exemplares. Quanto às mensais, de janeiro a dezembro
de 2008 mais de sete milhões de exemplares foram vendidos, envolvendo os 30 principais
títulos do mercado. Para os anunciantes, o produto revista representa um segmento nobre.
De acordo com a Aner, 14% da população brasileira consome o produto revista.
Desses, 44% são homens e 56% mulheres. Do total de títulos do mercado, 60% são
publicados pela Abril, seguida, respectivamente, pelas editoras Globo, Três e Símbolo.
Segundo pesquisa da Abril envolvendo os seus principais produtos, a faixa etária que mais
consome revista é dos 20 aos 44 anos. As pesquisas da Aner apontam que as faixas etárias que
mais leem revistas estão entre 25 e 39 anos (23,56%) e dos 40 aos 59 (20,22%). Marília
Scalzo define a revista como “um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma
marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento”. E
arremata: “Nenhuma das definições está errada, mas também nenhuma delas abrange
completamente o universo que envolve uma revista e seus leitores. A propósito: o editor
espanhol Juan Caño define ‘revista’ como uma história de amor com o leitor”. (SCALZO,
2003, p. 11/12). A revista é um produto extremamente contemporâneo. A sua linguagem já foi
incorporada em grande parte pelos jornais e completamente assimilada pela televisão.
1.3 Veja: semanal de informação
Veja é a mais importante revista brasileira e a quarta maior do mundo. Segundo dados
da PubliAbril, sua tiragem alcança mais de 1,2 milhão de exemplares e 8,8 milhões de
leitores. Foi fundada em 8 de setembro de 1968, inaugurando aqui a “semanal de
informação”, ao estilo da Time, isso 45 anos depois do aparecimento daquela nos Estados
Unidos. No editorial de estreia, o publisher Victor Civita escreveu:
Onde quer que você esteja, na vastidão do território nacional, estará lendo estas
linhas praticamente ao mesmo tempo em que todos os demais leitores do País. Pois
VEJA quer ser a grande revista semanal de informação. [...] O Brasil não pode ser
mais o velho arquipélago separado pela distância, o espaço geográfico, a ignorância,
os preconceitos e os regionalismos: precisa de informação rápida e objetiva a fim de
escolher novos rumos. Precisa saber o que está acontecendo nas fronteiras da
ciência, da tecnologia e da arte no mundo inteiro. Precisa acompanhar o extraordinário desenvolvimento dos negócios, da educação, do esporte, da religião.
Precisa, enfim, estar bem informado. E este é o objetivo de VEJA. (CIVITA, 1968,
p. 20/21).
O editorial remete ao clima de integração nacional, uma das marcas do governo
militar. De certo modo, Veja passa a substituir Realidade. Enquanto paulatinamente esta vai
sendo superada pela TV, para Veja isso não significa ameaça. Na época, a grande novidade é
a sua fórmula de “revista semanal de informação”, a notícia tratada com interpretação e
análise, o diferencial em relação à TV. Maria Celeste Mira (2001) aponta que Veja e a própria
Abril cresceram no regime militar, embora a revista, em seus primeiros anos, enfrentasse
problemas e até mesmo, como o jornal O Estado de S. Paulo, tenha sofrido censura prévia.
Veja teve problemas contundentes para se estabelecer no mercado. Por pouco, não foi
fechada. A insistência inicial da revista é com a profundidade do texto e da reportagem. De
acordo com Ulysses Alves de Souza, Mino Carta instrui a redação: “Capturar o sentido mais
profundo da informação, definir o quanto ela pode ter de sintomático e significativo, alcançar,
enfim, o seu coração”. (SOUZA, 1988, p. 91). A fim de cumprir essa postura editorial é
adotada a “pauta circular”: um fato ocorrido em São Paulo, por exemplo, provoca uma pauta
que deve percorrer todas as sucursais da revista, de Norte a Sul, o que resulta em uma massa
de informação, custos desnecessários, perda de tempo e até mesmo desorientação da equipe.
Roberto Civita apontou:
Nós não sabíamos fazer a revista. A revista era complicada demais, tinha texto
demais. O texto era difícil de ler. A revista partia de todas as direções ao mesmo
tempo. Era feia visualmente e tinha problemas de execução técnica. Eu acho que
desde o início Veja tinha uma postura certa e muito interessante e também um nível
de inteligência, conteúdo e atitude da revista corajosa, liberal, aberta, moderna, acho
que estava certa desde o início. Mas entre as boas intenções e fazer uma publicação
que o leitor goste faltava um caminho longo. Então tínhamos de aprender a fazê-la, aprender a torná-la mais atraente. Não mudar-lhe o propósito, mas executá-la
melhor. (SOUZA, 1988, p. 93).
Antes do lançamento oficial foram elaborados 14 “números zero”, nenhum deles
satisfatório. A entrada de Veja no mercado teve grande publicidade. Citando Raimundo
Pereira, Maria Celeste Mira (2001) diz que por 12 minutos quase todas as emissoras de TVs
do País — “numa rede só formada anteriormente para graves declarações de chefes de Estado
brasileiros” — transmitiram imagens da gráfica e do trabalho dos jornalistas. O esquema de
distribuição também exigiu um grande esquema: “frotas de ônibus, caminhões, trens e aviões
cargueiros especialmente fretados”. Inicialmente, o projeto de lançamento prevera 140 mil
exemplares. Depois, passou para 150 mil e não parou mais, até chegar aos 700 mil do
lançamento, dos quais 650 mil foram vendidos. Mas a revista não agradou. Para piorar, três
meses depois de sua estreia é decretado o AI-5. No mesmo dia da publicação do ato, em 13 de
dezembro, a revista passa a ter um censor na redação. Mira registra que o principal motivo
para o fracasso inicial de Veja foi a frustração dos leitores, que aguardavam um produto
diferente: “O próprio nome da revista fazia supor que ela seria semelhante a Look. Tão
próximo era o título que esbarrou no registro internacional da revista norte-americana,
obrigando a empresa a mudá-lo para Veja e leia”. (MIRA, 2001, p. 81).
No entanto, o objetivo da editora, desde dez anos antes, sempre fora o de fazer algo
como a Time e a Newsweek. Veja então era uma revista baseada em texto, sem arrojo visual.
O número de estreia saiu com 132 páginas. Os anúncios eram coloridos — e mesmo assim
nem todos — e o conteúdo editorial era preto e branco. A reportagem de capa “O grande
duelo no mundo comunista” — uma análise sobre o esforço do Kremlin, em 1968, de tentar
manter a hegemonia política nos países que formavam a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas — tinha 13 páginas. Com exceção de dois mapas e das fotos — quase todas de
tamanho médio ou pequeno —, a edição não apelava aos acessórios gráficos, com domínio
quase total do texto. Os leitores também não se identificaram com o formato da revista, de
20,2 centímetros de largura por 26,6 de altura, a mesma medida da Time. A comparação
imediata era com O Cruzeiro e Manchete, ambas de formato maior e de muita aceitação entre
o público. Havia também a paulatina ampliação da cultura televisiva — incluindo a expansão
da Rede Globo —, que começava a se estabelecer com imagens tecnicamente perfeitas. Em
março de 1972, a TV brasileira entra na era da cor, o que exige ainda mais empenho da mídia
impressa.
A Veja número 1 teve 63 páginas de publicidade. Já para a segunda havia 31
anunciantes na fila, 20 dos quais desistiram. De acordo com Ulysses Alves de Souza (1988),
dos que se comprometeram com a revista só restou a Souza Cruz. A segunda edição trouxe
como capa a reportagem “Para onde vai a Igreja” — sobre o embate entre os bispos
progressistas e conservadores a respeito da definição de pecado na Igreja Católica. Trata-se de
uma edição mais radical ainda, de cem páginas, com o domínio absoluto do preto-e-branco.
Dos 600 mil exemplares, apenas 250 mil são vendidos. A revista encalha sucessivamente e
suas tiragens vão sendo reduzidas. Chega aos 40 mil exemplares e depois vai abaixo disso.
Na edição de número 19, como forma de educar o leitor, Mino Carta explica que para
a revista “o fato tem sempre que representar uma situação maior que ele e, então, tentaremos
explicar as suas razões e antecipar seus desenvolvimentos”. (SOUZA, 1988, p. 91). Cumpre,
assim, a fórmula da semanal de informação. Na edição de número 20, Mino Carta diz que não
existe objetividade em Veja, pois a publicação não busca isso. Para ele, o jornalista participa
da notícia e se emociona.
Na Veja 39, Carta anuncia as novidades que, por enquanto, reduzem as quedas de
venda da revista. A primeira delas é um encarte em oito capítulos sobre a conquista da Lua. O
último saiu com as fotos trazidas pelos astronautas americanos da Apolo 11. A outra novidade
foi a introdução das “páginas amarelas”, inaugurada com o dramaturgo Nelson Rodrigues,
entrevistado por Luiz Fernando Mercadante. Com o tempo, as “amarelas” se tornam
referência na imprensa nacional. Um caderno especial de negócios dedicado ao investidor e
um roteiro completo de diversões em sete capitais foram as outras novidades.
No início de setembro de 1969, quando a edição número 52 já estava concluída e em
parte distribuída, chegou à redação a notícia de que os ministros militares estavam no
comando do País, liderados pelo general Garrastazu Médici. O presidente Costa e Silva estava
gravemente doente e de acordo com a Constituição quem deveria assumir o cargo era o vice,
Pedro Aleixo. A distribuição da revista é interrompida e outra edição é elaborada às pressas
por uma equipe convocada de última hora, liderada por Raimundo Pereira. Ele coordena a
equipe por dez edições seguidas — da doença de Costa e Silva à eleição de Garrastazu
Médici, em 30 de outubro de 1969. Veja encontra então o seu veio. No episódio, explora a
divisão no Alto Comando do Exército e publica entrevistas e perfis de generais. De acordo
com Ulysses Alves de Souza, Raimundo Pereira consegue imprimir um novo ritmo à revista.
Não mais o da redação que depende exclusivamente das informações que chegam. Ele ia para
a rua, apurava as notícias e as implicações delas e depois redigia o texto final. A partir disso,
há uma divisão em Veja, dos partidários do estilo Time e dos que consideram que o ritmo
imposto por Raimundo Pereira é o que a revista precisava de fato.
Com o recrudescimento do governo militar, Veja continua dando prejuízo. Quem
cobre o rombo são os gibis e as fotonovelas. A esse respeito uma frase de Victor Civita
tornou-se histórica na Abril: “O pato paga”, referindo-se ao sucesso de vendas de O Pato
Donald que permitia a sobrevivência da revista. A redação é de novo reformulada e os
editores e assistentes passam agora a trabalhar também na reportagem. Mino Carta traz do Rio
o repórter Elio Gaspari. Foi ele quem passara a Raimundo Pereira informações fundamentais
sobre os bastidores da crise militar, por meio de seus contatos com o general Golbery do
Couto e Silva, articulador político e teórico do movimento político-militar. Veja começa a
investir em economia e negócios e a cobertura política agora sob fica sob a responsabilidade
do próprio diretor de redação. A censura pressiona, mais isso aumenta o prestígio da revista.
Posteriormente, Carta declarou: “O leitor encontrava em Veja coisas que não havia no resto da
imprensa. Isso a caracterizou com uma revista de resistência.” (SOUZA, 1988, p. 98).
A partir de 1971, a Abril passa a considerar a venda da revista também pelo sistema de
assinaturas, já que nas semanais de informação tradicionalmente existe a proporção de 80%
de assinantes. Mas os Correios eram um problema, isso por causa da ineficiência. O
departamento de marketing da editora estrutura o plano de assinaturas e opta pelo convênio
com os serviços especiais de entrega dos próprios Correios. Quando em outubro de 1972 se
filia ao IVC, Veja já tem 45 mil assinantes e mais 62 mil compradores de bancas, com média
de venda de 107 mil exemplares por edição. Encerra o ano com um rendimento total de 1,5
mil páginas de publicidade.
Veja começa a se consolidar como uma revista de política e economia. Usa o conceito
de semanal da Time, mas ao seu estilo. Embora ainda aposte em textos longos, e enfrente a má
vontade em relação a isso por parte dos leitores, vai acertando a fórmula. Quando o governo
Médici está próximo do fim, se posiciona ao lado de Ernesto Geisel. Com informações
privilegiadas obtidas por Elio Gaspari em uma entrevista com Golbery do Couto e Silva, e
com farto material que foi entregue ao repórter pelo secretário do general, Heitor de Aquino,
Veja prepara uma edição extra sobre a sucessão presidencial, anunciando o nome de Geisel
como sucessor de Médici e a distensão política. A revista acerta e ganha respeitabilidade.
Geisel é eleito pelo Colégio Eleitoral, derrotando o candidato do então MDB, Ulysses
Guimarães. Assume a Presidência em janeiro de 1974, para governar até 1979.
Com a eleição de Geisel, Mino Carta é instruído por Golbery a negociar a questão da
censura com Armando Falcão, que seria o próximo ministro da Justiça. A revista sempre
insistira nos assuntos que faziam parte de uma lista de proibição ditada pelos militares e
enviada às redações em 1972. Logo depois da eleição de Médici, publica em 3 de dezembro
de 1969 a reportagem de capa “O presidente não admite tortura”. A imprensa começa a
repercutir o fato e recebe um recado da censura alertando-a de que o assunto é proibido. Na
edição seguinte, de 10 de dezembro, Veja publica um dossiê sobre a tortura no Brasil, cujo
título é “Torturas”. É então apreendida. Já em dezembro de 1971, outra apreensão: desta vez a
capa é sobre o afastamento, por corrupção, do governador do Paraná, Haroldo Leon Perez. O
tema corrupção era proibido pelos militares. Em março de 1973, uma reportagem sobre a
sucessão presidencial também desagrada e, a partir disso, qualquer referência ao assunto
sucessão deve ser encaminhada para Brasília. Três meses depois, a revista sai com uma
matéria sobre a censura imposta à imprensa. Semanas depois, sai outra sobre o cantor e
compositor Geraldo Vandré, que havia sido obrigado a se exilar, ainda em 1968, em virtude
da música “Pra não dizer que não falei das flores” — ou “Caminhando” —, considerada um
hino de resistência à ditadura. Tanto num caso quanto no outro a revista foi advertida e
ameaçada de “censura prévia total”. Em 8 de fevereiro de 1974, a ameaça vira realidade em
razão de uma nota publicada na seção “Datas”, sobre a indicação do bispo de Olinda e Recife,
dom Helder Câmara, ao Prêmio Nobel da Paz. O bispo era contrário ao regime militar. A
revista é notificada, então, a submeter todos os textos ao censor Richard de Bloch.
Na reunião que Mino Carta manteve com Armando Falcão, este se posicionou
contrariamente ao processo de afrouxamento político no qual a revista apostara com a eleição
de Geisel. A partir de fevereiro de 1974, Veja passa a provocar o ministro: publica gravuras
de anjos e demônios — o que era proibido pela censura — e também “cartas” com
comentários sobre uma reportagem intitulada “O longo drama chileno” que, na verdade, não
fora publicada, vetada pelo censor. O desenhista, humorista e escritor Millôr Fernandes,
colaborador da revista desde 1968, faz a charge de um homem preso por ferros e um
carcereiro dizendo: “Nada consta”. Com a provocação, considerada grave, a revista passa a
ser censurada diretamente em Brasília. A Abril argumenta que a curto prazo o procedimento
fará com que Veja deixe de circular. Pressionado pela editora, Carta decide entrar de licença
em dezembro de 1975 — a informação oficial foi a de que tiraria férias —, mas não volta
mais. O anúncio de seu afastamento mobiliza a redação e alguns editores deixam o cargo em
solidariedade. Com a sua saída, a censura prévia na Veja é suspensa em 1976. De acordo com
Ulysses Alves de Souza (1988), a publicação encerra o segundo trimestre do mesmo ano com
80 mil exemplares vendidos em bancas e 107 mil assinaturas, se consolidando assim no
mercado. Hoje, é a quarta maior revista do mundo, com 8,8 milhões de leitores, segundo a
PubliAbril.
Como é próprio da “semanal de informação”, Veja é formadora de opinião. No seu
segmento, as principais concorrentes são a Época (Editora Globo), atualmente com 419 mil
exemplares em circulação, a IstoÉ (Editora Três), com 337 mil, e a Carta Capital (Editora
Confiança), com 33 mil. Críticos dizem que o jornalismo praticado por Veja está
comercializado e opinativo em excesso (ou editorializado). No primeiro caso, a revista faria
publicidade disfarçada de reportagem. Quanto à opinião esta é uma das principais
características das semanais de informação — a tentativa de convencimento. O colunista
Stepen Kanitz faz referência a isso no artigo “A questão do referendo”, publicado na revista
em janeiro de 2006. Leitores escreveram a ele reclamando do conteúdo da reportagem
publicada em 5 de outubro de 2005, “Referendo das armas: 7 razões para votar não”, sobre a
consulta do governo federal visando ao desarmamento da população para tentar coibir os
índices de violência e criminalidade. Na matéria, a revista faz a defesa do “não” — pois era
partidária do não-desarmamento —, sem apresentar os argumentos a favor do “sim”. Ou seja,
Veja tinha uma posição política e tentou influenciar o público. Do ponto de vista jornalístico,
o correto seria equilibrar a discussão para que o leitor avaliasse e se decidisse pelo “sim” ou
pelo “não”. Este procedimento jornalístico, que é o ético, Veja só adota na edição 43, de 26 de
outubro, quando a questão já havia sido votada, com a vitória do “não”. O título da
reportagem de capa foi “7 soluções testadas e aprovadas contra o crime”. Como já foi dito, as
semanais de informação analisam e interpretam os fatos. No entanto, existe neste processo um
viés ideológico que só parte dos leitores percebe. No artigo, Kanitz defende a posição da
revista e argumenta:
Hoje, a classe média, a grande consumidora de informação e notícias, não tem
tempo para nada. Não tem tempo para avaliar tudo o que está acontecendo no
mundo e tirar suas próprias conclusões. Depende de jornais e revistas que analisem
por ela, que tenham a mesma visão de mundo, que analisem os fatos da mesma
forma que faria alguém de sua classe. Hoje em dia, são poucos os jornais que
defendem os valores da classe média — ela é a grande esquecida de todos os
partidos políticos, a grande prejudicada de todos os governos. Um veículo que
atender a esse segmento prestará enorme favor ao leitor e terá toda a publicidade de
anúncios que quiser. (KANITZ, 2006, p.22).
O acesso à internet no País, a partir de 1995, significou de imediato uma ameaça grave
ao jornalismo impresso, principalmente para os jornais. Antes disso, no início da década, Veja
inicia uma reformulação gráfica. Daí em diante, o que se verifica na revista é que a narrativa
impressa ganha um foco gráfico no processo de edição — na organização e apresentação dos
dados. O que antes era exposto ao leitor principalmente sob a forma de texto, passa agora a
buscar o equilíbrio entre o texto e os recursos gráficos e, posteriormente, a privilegiar ainda
mais o segundo aspecto. Época, principal concorrente de Veja, já chega ao mercado em 1998
valorizando o padrão de imagem e gráfico da apresentação das reportagens, com a fórmula
inspirada na alemã Focus. Em relação aos jornais, que já vinham sendo bombardeados pela
TV desde a década de 1970, a internet teve efeito nocivo quase que imediato. O formato atual
do jornal impresso é oriundo do fim do século 19. Com o desenvolvimento do capitalismo, o
jornal também passou por transformações, mas a sua principal mudança foi no aspecto
gráfico. No caso do jornalismo americano — modelo adotado no Brasil —, os conceitos de
notícia e de serviço estão presentes desde fins do século 19 e início do 20, quando os jornais
começam a criar páginas específicas para opinião e artigos.
Veja sempre foi pressionada a mudar o padrão editorial, que era calcado no texto. Em
1968, Mino Carta discorreu sobre o que entendia por ilustração e argumentava com o leitor:
“Para Veja, cada ilustração tem de ficar dentro das intenções e do espírito que compõem o seu
norte. Isto é, a cada foto, a cada mapa, a cada desenho, ela atribui um papel definitivamente
informativo”. (SOUZA, 1988, p. 92). Em 1969, baseada em pesquisas do Ibope com
empresários e estudantes universitários do Rio e de São Paulo sobre as revistas semanais,
quinzenais e mensais, Veja pôde perceber claramente porque não era bem aceita. Foi
aprimorando o projeto, ampliando o uso da fotografia e da cor. Atravessa os anos 80 e chega
aos 90 como a principal revista brasileira. Mas era preciso ir mais longe. Em maio de 1993, a
Abril promove um ciclo de cinco palestras com o consultor em comunicação visual, o
canadense Jan V. White. Uma de suas lições é a de que a edição precisa estimular visualmente
o público, investindo em atrações gráficas que induzam a leitura. A revista segue a fórmula,
diminuindo o peso do texto e tornando o conjunto gráfico mais leve e atraente, até atingir o
estágio da “reportagem gráfica”.
1.4 O processo de edição e a reportagem gráfica
O desmembramento da reportagem impressa em padrões gráficos — a “reportagem
gráfica”, isto é, a leitura dos acessórios visuais que possibilitam dispensar a leitura do texto
principal da reportagem — se tornou uma exigência do leitor atual. Em 1972, ao tratar numa
conferência em Londres sobre o futuro do livro, Marshall McLuhan já aludia à nova postura
que o livro — portanto, a narrativa impressa — teria de representar: “...pois as novas artes
gráficas e novos processos de impressão convidam ao uso simultâneo de uma grande
diversidade de efeitos”. (MACLUHAN, 2005. p. 212).
Se observarmos a história do design, os recursos gráficos utilizados no início do jornal
— século 16, na Alemanha — se resumiam a fios e boxes, normalmente mal pensados e mal
utilizados. Com a massificação da imprensa, o design foi se aperfeiçoando e emprestando
linguagens e recursos antes só usados por artistas plásticos que se envolveram em criações de
páginas para jornais, entre eles Toulouse-Lautrec, Van Gogh e Goya, este considerado o pai
das primeiras charges e caricaturas. Com o avanço da tecnologia e o aparecimento do uso das
cores e de novas fontes tipográficas, a imprensa começa a incorporar o recurso gráfico, a fim
de aprimorar a apresentação do conteúdo. Neste aspecto, a partir de fins do século 19, as
revistas adotam o visual como linguagem. Já as revistas literárias, de acordo com Malcolm
Bradbury e James Farlane (1989), criam um “ambiente estético amplo”, que inaugura o
modernismo na linguagem editorial.
Visualmente, a revista se reveste de recursos técnicos das artes plásticas, tanto que em
alguns títulos é difícil separar o que é arte ou design. No entanto, Marília Scalzo pondera: “A
primeira lição sobre design de revistas — apesar de os chefes das equipes de design serem
chamados de ‘diretores de arte’ — é que aquilo não se trata de arte. Design em revista é
comunicação, é informação. [...]”. (SCALZO, 2003, p. 66/67). O design gráfico vem
preponderando ainda mais em razão do avanço tecnológico — que proporciona versatilidade à
produção da mídia impressa — e também por causa da hipersegmentação do mercado,
processo que induz as revistas a tentarem captar novos públicos dentro dos já formados. Este
aspecto pode até levar à postura do se não consigo ler é porque não foi feito para mim,
conceito amplamente usado nas artes gráficas dos anos 1960 e 1970 — característica do
movimento psicodélico — que entendia que a linguagem visual podia até superar a do texto,
desde que estivesse próxima ao que o público gostasse de ver. Hoje, uma revista pode ter mais
aceitação no mercado por causa dos elementos criados para cada tipo de leitor. A adaptação
da linguagem, que tem forte relação com a tecnologia e com a segmentação, leva a revista a
recorrer a identidades visuais de mídias como a internet, o cinema, o vídeo etc., como forma
de adaptá-las ao seu projeto gráfico. Esses conceitos visuais podem transformar o produto
impresso num “objeto de arte”, um exemplar de coleção. Ou seja, a revista deixa de ser de
“muitos” e passa a ser de “um”.
Do ponto de vista moderno, a edição — ou seja, organizar, criar e apresentar o
conteúdo editorial — é um dos aspectos que diferenciaram o jornal da revista. De acordo com
Jan V. White (2006), se algum aspecto da edição falhar, parecer irrelevante e pouco
envolvente será desprezado pelo leitor. Se for só em parte interessante, ele deixará aquilo para
depois, o que significa dizer que é pouco provável que venha a lê-lo. Portanto, White defende
o uso de “truques visuais” para fazer com o leitor reaja imediatamente desde a primeira vez
em que abre a sua revista.
Em 1997, num seminário da Sociedade Interamericana de Imprensa realizado no
México — encontro que discutiu o avanço tecnológico das novas mídias e a subsequente
ameaça à mídia impressa —, o escritor e jornalista Tomaz Eloy Martinez considerou que a
grande resposta do jornalismo impresso seria, naquele momento, redescobrir o ser humano
por detrás dos fatos. Isso significava, segundo ele, que principalmente os jornais deveriam
investir em histórias, em relatos que comovessem o público. Partidário e praticante do
jornalismo literário, Martinez defende a teoria de que a imprensa nasceu para contar histórias
e que parte desse impulso primal, “que era a sua razão de ser e o seu fundamento”, se perdeu.
Para reforçar a tese, cita o ensaísta americano Hayden White, para quem “a única coisa que o
homem realmente entende, a única coisa que ele de fato conserva em sua memória, são os
relatos”. (MARTINEZ, 1997).
Por razões complexas — crise de identidade e de mercado, sumiço paulatino de
leitores, enxugamento das redações e a transformação cultural e tecnológica —, os jornais e
mesmo as revistas têm investido menos nos grandes relatos. Nos anos 1960 e 1970, período
de modernização da imprensa brasileira, o repórter era a força principal de trabalho nas
empresas. A notícia exclusiva — no jargão, o furo — era ponto de honra. Os grandes
repórteres que fizeram história são oriundos dessas décadas e de antes um pouco. É
justamente a partir do início dos 1980 que a grande-reportagem começa a declinar. As
empresas passam a apostar no marketing e os departamentos comerciais iniciam o processo de
ingerência nas redações, transformando os jornais em produtos para conquistar o mercado. É
uma época de transformação política e econômica. O Brasil debate a importância da eleição
direta para presidente da República, a população se mobiliza e a Folha de S.Paulo, num
oportunismo de marketing que a consagraria, se alça como o jornal das diretas. O Projeto
Folha, de profissionalização da notícia, está em gestação desde o fim dos anos 1970 e na
entrada dos 80 é colocado em prática, pregando o noticiário objetivo e o texto enxuto.
Influencia assim os concorrentes e até mesmo abala o jornal mais influente do País até então:
O Estado de S. Paulo, que é obrigado a se reformular sob o risco de desaparecer. Noutro
aspecto, repórteres como Ricardo Kotscho, que se dedicavam às grandes histórias, começam a
sumir das redações, abrindo espaço para uma geração de profissionais menos autoral e com
pouco espaço para escrever. É esse o contexto até meados dos anos 1990, quando a
disseminação da internet e do mundo globalizado alteram radicalmente o panorama. Aqui e
no resto do mundo os jornais entram em crise, provavelmente para sempre. Eric Alterman diz:
Pouca gente acredita que os jornais, na forma impressa de hoje, tenham chance de
sobreviver. Eles estão perdendo anunciantes, leitores, valor de mercado e, em alguns
casos, o próprio senso de missão, num ritmo que teria sido difícil imaginar meros
quatro anos atrás. [...] os jornais estavam acostumados a operar como monopólios de alta margem de lucro. Por muitas décadas, publicar o jornal dominante — ou único
— de uma cidade dos EUA de porte médio equivalia a deter uma licença para
imprimir dinheiro. Mas na era da internet ainda não apareceu ninguém com uma
solução para salvar o jornal, nos EUA e no mundo. Os jornais criaram sites que se
beneficiaram da alta da publicidade on-line, mas os valores vindos dessa fonte não
cobrem, nem de longe, a perda de faturamento com a queda da circulação e da
publicidade impressa. (ALTERMAN, 2008, p.5).
Para Jan V. White (2006), são poucos os leitores atuais que se sentem motivados a
enfrentar o texto. A questão da leitura vem pressionando a mídia impressa pelo menos desde o
advento da TV, situação que ficou ainda mais aguda com o acesso à internet. Para este
trabalho, o diretor de redação de Veja, Eurípedes Alcântara, avaliou a questão também sob o
ponto de vista econômico: “Claramente os novos leitores que faziam de Veja sua revista —
em especial aqueles emergentes que mudaram de classe social com o advento do Plano Real e
a derrota da inflação — dedicavam menos tempo à leitura do que os leitores mais tradicionais
e valorizavam muito o conteúdo gráfico”. Como forma de atender ambos os públicos,
Alcântara diz que a resposta foi sendo testada a cada edição: “Até chegarmos ao conceito
atual de fazer das páginas ‘máquinas de informar’, em que texto e gráfico se combinam para
expressar o conteúdo de maneira clara e agradável.” Segundo ele, uma boa matéria de Veja
em que o conceito é bem utilizado tem três níveis de leitura, “cada um satisfatório para o
leitor a sua maneira”: “Se ele tiver tempo apenas para os gráficos já sairá da página bem
informado sobre o assunto; se ler os títulos, subtítulos e legendas das fotos também terá um
apanhado razoável do conjunto; o nível mais profundo, o terceiro, é atingido por quem lê o
texto até o fim”.
O diretor de redação da Veja diz que o leitor não valoriza a beleza gráfica sem a
contrapartida informativa: “Ou seja, ele pouco percebe as tão celebradas reformas gráficas
com seu eterno tirar e pôr de barras. Ele percebe quando o desenho da página e os elementos
gráficos se combinaram bem com o texto em uma unidade informativa sem dissonância e sem
vacilações”. Sobre o futuro da “reportagem gráfica” — como a questão foi colocada —
Alcântara avalia: “Simplesmente não se concebe mais que uma publicação eclética,
generalista e informativa como as revistas semanais tente se segurar apenas pelo texto. A
reportagem gráfica é o presente e o futuro do jornalismo em papel.”
Deve-se ressaltar que na cultura Ocidental a leitura sempre representou um aspecto a
ser superado, principalmente em relação ao livro, objeto que inaugura a cultura impressa
ainda no século 15. Já no 19, como vimos, boa parte da sociedade que havia conseguido se
instruir era refratária ao livro. Durante séculos, o Ocidente foi formado por populações
analfabetas que, próprio do período, se informavam apenas oralmente; o livro era um
instrumento de poder e de dominação utilizado principalmente pela Igreja. Em Uma História
Social da Mídia, Asa Briggs e Peter Burke descrevem o poder da imagem na Idade Média.
Nas catedrais da Idade Média, as imagens esculpidas em madeira, pedra ou bronze e
figurando em vitrais, formavam um poderoso sistema de comunicação. No romance
O Corcunda de Notre-Dame (1831-32), Victor Hugo descreveu a catedral e o livro como dois sistemas rivais: ‘Este matará aquela’. De fato os dois sistemas
coexistiram e interagiram durante longo período, como mais tarde os manuscritos e
os impressos. ‘Para a Idade Média’, de acordo com o historiador de arte francês
Emile Mâle (1862-1954), ‘a arte era didática’. As pessoas aprendiam com as
imagens ‘tudo o que era necessário saber — a história do mundo desde a criação, os
dogmas da religião, os exemplos dos santos, a hierarquia das virtudes, o âmbito das
ciências, artes e ofícios: tudo era ensinado pelas janelas das igrejas ou pelas estátuas
dos pórticos. (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 18/19).
Não é o caso de comparar a sociedade atual com a da Idade Média, mas deve-se
ressaltar que para ambas, por motivos absolutamente diversos, a imagem representou, e
representa ainda, “um poderoso sistema de comunicação”, tomando emprestada a expressão
de Briggs e Burke. Hoje, o Brasil observa a queda crescente do número de leitores do que é
impresso em papel. Desde 2001, com a aceleração da internet, o público procura outro tipo de
leitura, quando procura. De acordo com Galeno Amorim, consultor de Políticas Públicas do
Livro e Leitura, apenas um em cada quatro brasileiros acima de 15 consegue ler e
compreender textos um pouco mais complexos. Os demais são analfabetos absolutos ou
funcionais.
Para o diretor de arte de Veja, Carlos Neri, a postura do público em relação à leitura
não significa “resistência”. Isso porque, segundo ele, os recursos gráficos caracterizariam uma
linguagem direta e de mais rápida memorização, e por isso têm preferência sobre a escrita: “O
papel da infografia é justamente abrir portas para o texto da matéria. Quanto menos letras
tivermos em uma infografia, melhor. Gráfico que precisa de texto para se explicar não precisa
de gráfico”. O objetivo da edição em Veja, segundo ele, é a de deixar a escrita mais enxuta.
Em sua avaliação, não existe neste processo algo que induza o público a ler uma coisa antes
da outra, o que classifica de “edição em sua forma mais simples”: “Tudo isso é intuitivo, cabe
ao designer guiar o leitor pelas páginas. Regras básicas que às vezes teimamos em não
observar como escolher ‘a imagem’, ‘a palavra’ etc. e não várias imagens ou várias palavras
para destacar. (Quem tem dois destaques, não tem nenhum.) Assim, temos fotos, infográficos,
ilustrações, títulos, olhos e legendas que são várias portas para entender uma matéria”.
Carlos Neri se refere a uma pesquisa encomendada por uma revista alemã em que foi
desenvolvido um software que avaliava o nível de atenção da leitura. Para isso, foram
utilizados óculos especiais para mapear a íris dos leitores, de acordo com a página, cujo
desenho, também escaneado, mostrava exatamente onde o olhar parava e quanto tempo isso
durava. Ele explica: “Chegaram a esses números: imagem de abertura de matéria, 100%;
título, 98%; subtítulo ou olho, 90%; legenda, 87%; infografia, 82%; e texto principal, 15%.
Esses números para mim dizem muito do inconsciente do leitor”. De acordo com o diretor de
arte da Veja, o grafismo — como ele se refere ao que está expresso aqui como “reportagem
gráfica — não veio para substituir o texto, mas para completá-lo: “Aí está a internet e suas
páginas usando e abusando desse conceito com vídeos, animações em infografia etc. As
limitações da língua serão amenizadas por essa forma de escrita. Quanto ao leitor do futuro,
sempre estará à nossa espera, pois não vendemos formas e sim conteúdos.”
Profissionais entrevistados para este trabalho avaliam a eficácia da “reportagem
gráfica”, de acordo como é usada na Veja e em outras publicações.
1—) Sérgio Campelo, 35 anos, técnico gráfico.
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — Necessária para a compreensão da matéria.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — Acho fundamental para a compreensão da matéria, e não acho que seja
exagerado, principalmente nos dias de hoje em que a leitura tem que se tornar mais dinâmica.
O infográfico auxilia nesse processo.
Pergunta — A leitura de um infográfico pode fazer com que o leitor desista de ler
a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Sim. E sabendo disso muitas revistas se utilizam desse processo de forma
inadequada.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — Sim, mas não que seja errado. Depende da proposta do veículo.
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — Aumenta, faz-se necessário cada vez mais. E as revistas maiores como a
Veja dependem muito desses artifícios para levar o leitor a pensar segundo suas premissas.
***
2—) Wallace Vianna, 41 anos, consultor de design.
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — Tecnicamente, a infografia acompanha o desenvolvimento da tecnologia
com uso de fotos, desenhos em 3D. Conceitualmente, a mídia impressa não inovou muito,
exceto pela quantidade de informação que hoje a infografia reúne, em relação a um passado
próximo.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — O tratamento visual chega a ser subjetivo, pois infografia tem muito de
ilustração, embora seja a mesma informação escrita, representada por gráficos.
Pergunta — A leitura de um infográfico antes da matéria pode fazer com que o
leitor desista de ler a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Depende da matéria e do infográfico. Particularmente, leio o infográfico
após os olhos e boxes da matéria, para ter um panorama geral. Quando o assunto é complexo
(um acidente aéreo, por exemplo) leio o infográfico antes da matéria.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — Não, infografia é tão “texto” quanto a matéria escrita. Poderia ser até
história em quadrinho, cartum, charge...
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — Acho que a internet pode inovar com infográficos animados (motion
graphics) ou interativos; na mídia impressa acho difícil haver inovação nesta área.
***
3 —) Thalita Medeiros, 27 anos, designer gráfica de formação atuando no jornal
Diário de S. Paulo.
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — Acho que está acompanhando a tendência atual. Antes, revistas como a
Época e Isto É tinham conteúdo majoritário de textos; hoje, é necessário este
acompanhamento de gráficos, uma vez que as imagens em geral estão tendo cada vez mais
adeptos e estão transformando a maneira de “ler” uma matéria.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — É uma boa pergunta. Eu uso totalmente meu sentido da visão e funciono
melhor no entendimento da leitura quando há imagens e gráficos sendo utilizados. Acredito
que isto seja uma tendência. E quando há esta tendência, as pessoas logo se acostumam com o
novo. A questão é: até quando uma matéria composta de um grande infográfico vai satisfazer
o leitor mais tradicional?
Pergunta — A leitura de um infográfico antes da matéria pode fazer com que o
leitor desista de ler a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Acho que fazê-lo desistir de ler, não. Pode funcionar assim: o leitor vê
primeiro o infográfico, e se houver interesse no tema da matéria, ele continua a ler, senão, vira
a página. Varia de acordo com o interesse no assunto abordado na matéria.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — Isso não. Os infográficos são, por definição, uma arte do conteúdo de
leitura. Acredito que este seja o segredo de um bom e funcional infográfico.
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — Acredito que vá aumentar a qualidade da informação, uma vez que a
expressão através de imagens, fotos e grafismos fortifica mais o conteúdo de uma matéria.
***
4—) André Rodrigues, 43 anos, graduado em artes visuais e mestre em Jornalismo
pela Universidade de Navarra; editor-executivo do jornal O Popular, de Goiânia.
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — O uso aumentou bastante, ficou mais comum. Muito embora tenha [a
infografia] aumentado mais em qualidade de elaboração do que de informação. Me parecem
um tanto exageradas algumas páginas múltiplas sobre alguns assuntos que parecem existir
apenas para que a infografia exista, não por ser relevante.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — A infografia ajuda a compreender melhor um assunto e isto basta para
que ela exista. Deste ponto de vista, ela é revolucionária, mas gosto de mais “modéstia” na
apresentação. Algumas são realmente exageradas, poluídas. Têm elementos demais e cores
demais. Acho que assim não auxiliam tanto, mas o problema é de quem faz e não do recurso
em si, que é extraordinário. Quanto ao tema específico é questão de edição — quando
espetaculosa perde em propriedade, embora possa estar dentro de um tema que precise dela.
Se simples, funciona melhor. A questão é que alguns desenhistas gostam de mostrar tudo o
que sabem de uma vez só.
Pergunta — A leitura de um infográfico antes da matéria pode fazer com que o
leitor desista de ler a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Não há como resolver isso. Qualquer imagem, seja foto ou infografia,
prejudica a continuação da leitura da massa griz: o texto. Se o leitor já entendeu o que queria,
ele vai para a página seguinte. Não vejo o infográfico como um chamariz para o texto. Ele
tem outra função. Na medida em que as pessoas se interessem por um assunto, pode ser que
aumente a leitura “total”: texto, título, olho, legenda, anúncio... Mas na realidade, os
elementos de construção de uma página disputam a atenção do leitor. Nós mesmos, que
somos leitores e produtores de jornal/revista, por vezes lemos apenas o título e a legenda de
várias páginas. O lead no máximo. Se aquilo te basta, pronto. Não quer dizer que concorde
com este tipo de leitura. São os chamados light users, apenas folheam as publicações. Isto vai
acabar com o jornalismo impresso antes de qualquer outra coisa. Mas é uma realidade.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — É verdade que os recursos gráficos em excesso cansam e podem
comprometer a qualidade de um veículo. Ponto. E isto está muito comum hoje, mas não em
função de faltar espaço para a matéria. Uma matéria pode ser boa sem ser grande. E uma
maneira de “aprofundar” uma matéria é dar uma parte/versão dela em infografia. Um
problema comum é o repórter insistir em apresentar na matéria o conteúdo que está ou deveria
estar no infográfico. Por outro lado, infográficos que ocupam metade de uma página com o
desenho de um avião é um claro desperdício. Infografia deve ser a estética em função da
informação, o resto é viagem.
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — Lidamos com um público iletrado num País que não prioriza a educação.
Os jornais nacionais (a maioria) vendem menos que há 15 anos. As revistas idem. Isto é
definitivo para dizer que ninguém sabe para onde as coisas vão. Não estou muito animado
com as revistas. Uma revista semanal impressa tem de se desdobrar para ficar atualizada e
atraente na banca. Penso que para os jornais também não é moleza, mas eles têm um ar mais
fresco (pensando em notícia). Por incrível que pareça. De todo modo, os recursos gráficos
vieram pra ficar, não há como voltar no tempo. Teremos melhores trabalhos quando nos
conscientizarmos do que querem os leitores. Mas quem define não é o designer, é o mercado.
E para onde ele vai eu não faço ideia. Internet, e-paper?
***
5—) Thomas Merk, 40 anos, publicitário dono de agência (To+ Branding).
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — Acho que é uma maneira de tornar o conteúdo mais atraente para o leitor
médio, além de auxiliar na memorização da informação.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — Acho que ajuda bastante na compreensão [do texto], mas como todo
modismo está sendo utilizado em excesso. Acredito que em breve seja encontrado um ponto
de equilíbrio, onde o seu uso seja efetivamente para agregar conteúdo/entendimento e não
simplesmente para ficar como um “enfeite” acoplado à matéria.
Pergunta — A leitura de um infográfico pode fazer com que o leitor desista de ler
a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Acredito que sim, principalmente porque atualmente as pessoas têm
muita preguiça de ler e é muita informação para ser lida. Logo, um resumo feito infográfico
pode vir a calhar. Mas este efeito também pode ser encontrado nos títulos, nos subtítulos — o
objetivo é atrair a atenção do leitor, mas pode ser que alguns se sintam suficientemente
informados apenas lendo esses itens.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — Não acredito. Porque mais espaço significa apenas maior quantidade de
informação. E também para este caso, quantidade não é sinônimo de qualidade. Esta está
muito mais relacionada ao profissional que coleta/escreve a informação. E que ele tenha em
mente, quando fizer uso do recurso gráfico, que a forma não substitui o conteúdo (não adianta
ter um belo infográfico ilustrando uma matéria vazia).
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — O uso desses recursos visuais, com critério, aumenta a qualidade da
informação. Acho que no futuro haverá maior interação entre os meios impressos e a internet,
inclusive com a disseminação de infográficos interativos (como aqueles que já se utilizam de
webcam).
***
6—) Stella Maris Dauer Rodrigues, 23 anos, cursando o último ano de Design de
Interfaces Digitais no Senac; estágio em Arte na Editora Abril.
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — Acho de extrema importância, pois as matérias adquirem uma
profundidade que não era vista antes, digna de concorrer com a internet. Revistas como
Superinteressante, Aventuras na História e Época são os melhores exemplos. O conteúdo e o
visual ficam muito mais ricos com esses recursos.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — Não, acho que pode ser utilizado em qualquer coisa, pois pode ajudar
pessoas que não gostam muito de ler a compreender todo o texto de forma muito mais
simples. Recentemente, o infografista Luis Iria trabalhou com a revista Viva! Mais, para a
classe C, e inseriu um infográfico sobre o ciclo menstrual da mulher. Ficou excelente e subiu
o nível da revista sem deixá-la mais complexa para o público.
Pergunta — A leitura de um infográfico pode fazer com que o leitor desista de ler
a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Não, porque o infográfico de certa forma resume a matéria, mas acaba
incentivando o leitor a saber que outras coisas estão no texto, que sempre apresenta fatos mais
completos.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — Não acho que a qualidade da informação venha a diminuir, mas o uso
excessivo de infográficos pode acabar fragmentando demais uma matéria, e até uma revista.
Sem um pouco de texto explicativo a revista fica parecendo a enciclopédia Conhecer por
dentro, e parte das informações se perdem, deixando o leitor confuso.
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — Acho que vamos utilizar cada vez mais recursos visuais, para apresentar
diferenças com a internet. Porém, não ocorrerá o que descrevi na questão anterior, pois
evoluiremos o suficiente para investir mais nos gráficos sem quebrar o texto.
***
7—) André Reis, 26 anos, professor universitário nas disciplinas de Linguagem e
Design Editorial e Laboratório de Representação Eletrônica; especialista em design de
hipermídia.
Pergunta — Qual a sua avaliação do uso da infografia hoje em revistas como a
Veja?
Resposta — Creio que a infografia ajuda a complementar e até mesmo explicar uma
determinada notícia. Acho de fundamental importância a utilização da infografia ou até
mesmo de um gráfico simples que possa acrescentar à matéria, ou explicar algo que com texto
seria impossível de ser compreendido. Além disso, a infografia bem feita, e com um contexto,
chama a atenção do leitor para aquela página, fazendo com que o mesmo se interesse e se
aprofunde no texto.
Pergunta — O uso da reportagem gráfica ajuda os leitores de revistas a
compreender as matérias ou acredita que este tratamento visual deveria ser mais ameno
e usado em temas mais específicos?
Resposta — Sou adepto da frase, “uma imagem vale mais que mil palavras”. Não são
todos os textos que necessitam de infográfico. Existem outras formas de acrescentar a uma
notícia elementos visuais; fotos, charges ou ilustrações. Porém, se o texto da matéria é pesado,
ou se faz necessário o uso de gráficos, quadros e tabelas para explicar a matéria, então é
preciso um infográfico.
Pergunta — A leitura de um infográfico antes da matéria pode fazer com que o
leitor desista de ler a matéria inteira por achar que está informado o suficiente?
Resposta — Acredito que não. O leitor que não lê a matéria por completo é porque
não se interessou por ela. É impossível um assinante de Veja, Estadão, Superinteressante ou
qualquer outro veículo conseguir o texto na íntegra. É por isso que existe, por exemplo, a
linha fina (ou subtítulo). É um resumo e ao mesmo tempo uma introdução à matéria. Se não
me interessar, ou já li sobre aquele assunto, não preciso ler a matéria inteira, passando para a
próxima. Assim acontece com o infográfico. Se eu me interessar pelo que li no infográfico,
certamente lerei a matéria na íntegra.
Pergunta — O uso excessivo de recursos gráficos pode fazer com que a qualidade
da informação diminua, já que o espaço que ocupa poderia conter um maior
aprofundamento da matéria?
Resposta — A qualidade da informação só será prejudicada se o editor quiser. O
espaço que a matéria ocupa, muitas vezes, é menor do que se tivesse que colocar em forma de
texto tudo o que o infográfico expressa. O infográfico não substitui o aprofundamento do
texto. Ao contrário, o infográfico faz com que o leitor se aprofunde naquele texto. Ele é o plus
da matéria. Se tivéssemos uma notícia sobre o processo minucioso da produção de vacinas
contra a gripe suína, por exemplo, seria necessário um infográfico que mostre como a vacina é
produzida, para que o leigo no assunto entenda isso de forma mais fácil.
Pergunta — Como vê o futuro gráfico de revistas deste tipo? O uso de recursos
visuais busca mais a qualidade da informação?
Resposta — Vejo de forma positiva, e acredito que o infográfico será utilizado e
expandido para outras mídias. Infografia 3D, infogames, internet, TV Digital e outras. No
caso das revistas, o infográfico vai além de uma simples informação gráfica. O infográfico vai
interagir, fazer o usuário participar, como o infogame. A revista Superinteressante, numa
reportagem sobre a memória, utilizou-se deste recurso.
1.5 A pesquisa
A revista é o espaço em que o novo padrão da linguagem textual/visual tem refletido
resultados cada vez mais surpreendes, no sentido da interação com o público. Não obstante, a
investigação aqui é sobre o modelo mais tradicional de revista — a semanal de informação,
que lida com os conceitos de notícia e reportagem. Destas, das que estão no mercado, Veja
revelou-se a mais adequada. Primeiro, por ser a mais antiga em circulação no segmento
“semanal de informação”; depois, por ser a mais importante do País e a quarta maior do
mundo, agregando, segundo dados da PubliAbril, 8,8 milhões de leitores; e, ainda, por ter
enfrentado uma crise de aceitação por parte do público por pelo menos quatro anos seguidos,
a partir de 1968.
Sem abandonar o conceito que a originou, Veja foi se adaptando às exigências do
leitor, até o estágio em que se encontra hoje, o da adoção do modelo da “reportagem gráfica”.
O objetivo da pesquisa qualitativa aplicada a este trabalho foi o de investigar se a adaptação
da narrativa impressa ao padrão visual nesta revista semanal informa com o mesmo efeito que
o texto proporcionaria se lido sem os recursos gráficos. Trata-se, portanto, de um estudo
aplicado, direcionado, com o propósito de tentar obter e medir respostas, em contato direto
com o sujeito da pesquisa.
Como Veja chegou ao formato do desmembramento da reportagem em padrões
visuais?; ao organizar visualmente o texto no padrão da reportagem gráfica a revista presta, de
fato, um serviço eficiente de informação? Estas indagações permearam o presente estudo e
parte delas já está esclarecida com o posicionamento dos diretores de redação e de arte da
revista, conforme ser visto no capítulo 1.4 — O processo de edição e a reportagem gráfica,
anterior a este. Outro aspecto do trabalho foi o de lidar com o conceito do contraditório, um
dos alicerces do jornalismo. Por este conceito é possível perceber que qualquer que seja a
questão esta nunca é fechada em si. Para isso, o debate sobre a questão da “reportagem
gráfica” foi proposto a sete profissionais que lidam com o design nas áreas técnica, de
consultoria e do ensino; do jornalismo e da publicidade; e nos contextos de mídia digital e
hipermídia. O resultado disso também está exposto no capítulo 1.4.
Posteriormente, o estudo partiu para a abordagem do sujeito. O método da pesquisa
qualitativa permitiu a verificação de um conjunto de tramas e levou em conta duas
reportagens de Veja referentes ao assunto saúde — tema que sempre desperta interesse por
parte do público-leitor. Mais de 25 anos separam “Dor, como a medicina reforça seus
escudos”, publicada em 20 de outubro de 1982, e “Saúde sem neurose”, publicada em 20 de
fevereiro de 2008. Ou, como aparecem algumas vezes referidas na pesquisa, “reportagem 1” e
“reportagem 2”. Como pode ser verificado nos Anexos, a reportagem de 1982 tem sete
páginas e um tratamento visual que pouco varia em relação ao tradicional: texto, fotos, duas
reproduções de figuras, sendo uma delas de foto, e uma ilustração. Mesmo assim, trata-se de
uma matéria cujo padrão já tinha passado por modificações em relação às fases inicial e
intermediária da revista, isso por pressão do público, que exigia uma revista mais leve, menos
carregada no texto, conforme exposto anteriormente.
Já a reportagem de 2008 tem oito páginas e pode ser definida como “reportagem
gráfica”, com recursos visuais que rivalizam e até mesmo sobrepujam o texto principal. O
assunto que antes seria explorado como narrativa impressa, quase que unicamente com
palavras, é narrado com um padrão visual que muito se aproxima da tela do computador
conectado à internet, com links que remetem a quadros estrategicamente ilustrados e
coloridos, explicando o que é glicose, colesterol, pressão arterial, a eficácia de medicamentos
e até um questionário como forma de interagir com o leitor. Identificamos neste modelo de
reportagem o que o diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara, classificou de nível de
leitura em três níveis, caracterizando a expressão por ele utilizada: “máquina de informar”.
A visão dos autores a respeito do tema “reportagem gráfica” é meramente profissional,
especializada. Por isso, precisou ser testada com o leitor comum, sujeito da pesquisa. As
questões foram assim colocadas:
— Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor, justifique.
(A intenção foi a de verificar se a leitura do texto começaria pelos recursos gráficos
como linha fina, olhos, gráficos e tabelas);
— Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
(A intenção aqui foi constatar se leitura isolada do texto consegue prender a atenção
do leitor);
— Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
(O propósito foi o de investigar o confronto de nível de aceitação por um por outro
modelo de reportagem);
— Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como importante
em relação à apresentação do material nas páginas?
(Aqui a intenção foi verificar a mesma questão anterior, mas agora formulada de outro
modo, a fim de verificar alguma contradição);
— Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere? Por quê?
(Aqui, mais uma vez tenta-se confrontar o leitor em relação ao texto);
— Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente como
meio de se informar? Por quê?
(Já nesta questão a abordagem é direta, remetendo ao processo visual das reportagens,
sem chance de referência ao texto).
Para a pesquisa foram entrevistados cinco homens e cinco mulheres, com o objetivo de
tentar captar possíveis idiossincrasias da percepção da leitura em relação aos dois grupos. Do
mesmo modo, a faixa etária, a profissão e a escolaridade foram diversificadas. Com isso, a
pretensão foi identificar se existiria alguma preferência de geração em relação ao texto em
detrimento da imagem ou vice-versa. Embora os sujeitos da pesquisa conheçam a Veja não
podem ser classificados, exatamente, de leitores da revista. Isso é relevante e apropriado ao
estudo. A linha de raciocínio foi: se a revista é formadora de opinião qualquer cidadão é seu
leitor potencial. A pesquisa foi formulada em junho e realizada em julho, conforme segue:
1—) Helena de Souza dos Santos, 45 anos, ensino fundamental completo, faxineira.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Eu comecei a ler as duas reportagens pelo mesmo lugar, que foi o lide (o
primeiro ou os dois primeiros parágrafos), porque me deu a noção do que se tratam as
reportagens.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Sim, todos os textos prenderam completamente a minha atenção, pois
eles tratam de assuntos polêmicos atuais relacionados a saúde; como exemplo, a aspirina que
alivia dores, os hormônios prostaglandinas que provocam a dor; e também como controlar a
pressão, o colesterol e a glicemia.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — Eu me senti melhor informada na reportagem “Abaixo a ditadura dos
índices” porque me ensinou a melhor maneira de evitar doenças cardiovasculares, que a
maioria dos brasileiros possui; também me mostrou que é possível manter uma boa saúde em
harmonia, sem precisar ter um controle tão rígido.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — Os pontos mais importantes que eu consegui ressaltar foram: a
descoberta da aspirina, remédio que combate a febre, a gripe, inflamações, reumatismo,
derrame, catarata, enfarte; o hormônio prostaglandina, que provoca a dor; prevenção de
doenças cardiovasculares; preocupação dos médicos em orientar os pacientes sobre doenças
cardiovasculares como a pressão alta, colesterol e a glicemia.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — Eu prefiro o padrão de texto da reportagem “Abaixo a ditadura dos
índices”, porque o texto está de uma forma mais clara e objetiva.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Eu achei a reportagem mais eficiente “Abaixo a ditadura dos índices”,
pois tem uma linguagem fácil de entender; ilustrações e tabelas objetivas.
***
2 —) Luiz Carlos de Souza, 34 anos, ensino fundamental incompleto, porteiro.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Pela capa. Para saber o conteúdo importante que tem a revista.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Não. Achei que as informações deviam ser mais variadas.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — “Saúde sem neurose”. Porque nos dá algumas dicas pra cuidar bem do
coração.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — Quando fala sobre os problemas cardiovasculares.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — A que fala sobre o escudo que os remédios dão contra a dor. Porque é
criativa a idéia de uma aspirina combater a perfuração de um prego.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — As informações sobre a saúde. Porque ajudam a tirar dúvidas.
***
3—) Vinicius Gomes da Penha, 18 anos, estudante do ensino médio.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Comecei a ler pela parte central da capa “Dor”, pois o conjunto dos
desenhos e das cores maiores me chama mais atenção.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — A reportagem sobre a dor, por ser um pouco extensa, não me prendeu
completamente a atenção, enquanto a reportagem sobre a pressão arterial prendeu mais minha
atenção, não pelo tamanho, mas sim pela maneira de apresentação, com quadros e desenhos
mais comparativos visualmente.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — A reportagem sobre a dor me deu a sensação de mais informação, pois
sua quantidade de exemplos, explicando mais a fundo e claro o tema, da maneira que como
leitor realmente compreendi o que me foi apresentado sobre a dor e suas causas e maneiras de
cura.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — A reportagem sobre a dor, quando apresentou imagem, foi basicamente
sobre os pesquisadores e médicos, o que não dei tanta importância; por sua vez [a de “Saúde
sem neurose”] apresenta quadros comparativos e até um questionário para o leitor, deixando-o
mais confortável para absorver a reportagem.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — Prefiro o padrão de texto da reportagem sobre a dor, pois tem uma
sequência mais direta. As imagens não atrapalham a leitura, fazendo perder a linha de
raciocínio.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Na reportagem sobre a dor, as imagens de curiosidades técnicas e até
mesmo a da licença concedida a Bayer, em 1916, deixou mais agradável a leitura,
apresentando um visual de ideias apresentadas na reportagem. Na reportagem sobre a saúde,
os quadros comparativos ilustram de maneira mais cativante ao leitor, de modo que esses
quadros são um modo de raciocinar sobre o assunto, mesmo tendo menos conteúdo que a
reportagem anterior.
***
4—) José Alves de Oliveira, 52 anos, advogado, contador.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Comecei a ler a reportagem da Veja de 1982 pela página 72, pois dei uma
olhada na reportagem como um todo, e os trechos da página citada me chamaram mais
atenção, pois é onde está mencionado o risco, licença, fabricação e origem das aspirinas.
Achei muito interessante.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Em relação às reportagens a primeira que li, ou seja, a Veja de 1982, me
prendeu mais a atenção, uma vez que achei interessantes as histórias dos métodos, das marcas,
das fabricações dos remédios para dores. A reportagem da Veja de 2008 é muito interessante
também, pois retrata que temos que cuidar da saúde, mas não precisamos ser neuróticos com
os tratamentos, e sim manter um equilíbrio. Porém me chamou menos atenção.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — Comparando as duas reportagens, me senti informado com a reportagem
da Veja de 2008, pois o texto é claro, direto e objetivo.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — É válido ressaltar que a reportagem da Veja de 1982 preocupou-se em
mostrar fotos e retratos dos cientistas, médicos e inventores dos remédios citados na matéria.
Já na reportagem de 2008 a matéria é mais dividida, melhor desenhada e estruturada, através
de desenhos e figuras melhor elaboradas.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — Comparando as duas reportagens, prefiro o padrão de texto da Veja de
2008, pois consegui visualizar e entender melhor o conteúdo, mesmo tendo gostado mais da
reportagem da Veja de 1982.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Visualmente falando o que mais me agradou na reportagem da Veja de
1982 foi a parte da história da medicina, que eu não conhecia, curiosidades que norteiam as
nossas cabeças, às vezes, sobre a origem de coisas que só conhecemos por um simples nome,
como o do medicamento AAS. Já na reportagem de 2008, o mais me agradou foi saber que
não precisamos ser neuróticos com o colesterol, a pressão e a glicemia, pois costumamos
pensar que devemos sempre estar nos cuidando rigidamente, para fugirmos das doenças,
quando na verdade só precisamos ter um equilíbrio. A matéria me aliviou de várias dúvidas
que tinha, tais como sobre o colesterol.
***
5—) Vanessa Goes, 20 anos, estudante universitária, fotógrafa.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Através da imagem da capa.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Sim. Porque o texto mostra um assunto sério, muito comentado e com
boas ilustrações.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — A reportagem 2. Nela destacam fontes variáveis, de fácil acesso à leitura,
fazendo com que a atenção do leitor se prolongue.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — A desenvoltura do texto e o estilo.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — A reportagem 2. Porque o texto é mais direto, não é cansativo de ler, e é
bem planejado, causando boa impressão para o leitor interessado.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Na reportagem 1 o que mais me agrada é a capa, pois a imagem causa
impacto. Já na reportagem 2 o que agrada são as variações de fontes de texto.
***
6—) Cibele Fernandes de Oliveira, 26 anos, ensino superior completo, bibliotecária.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Comecei a ler as reportagens pelas capas e depois segui lendo as
manchetes de cada reportagem.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Não posso dizer que as reportagens prenderam completamente a minha
atenção. Isto porque a primeira delas, apesar do tema interessante, era muito extensa e acabou
tornando-se cansativa. Já a segunda reportagem não menciona nenhuma novidade, a não ser o
básico.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — Fiquei mais informada com a primeira matéria porque não sabia nada
sobre a história da aspirina. Na segunda matéria eu já tinha um bom conhecimento prévio
sobre o tema.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — Sem dúvida, a segunda matéria transmite um aspecto mais confortável à
leitura, principalmente para as pessoas que não costumam ler textos longos. Afinal, utilizam
alguns artifícios: uma boa diagramação do texto, cores e quadros que ajudam no entendimento
rápido da matéria.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — É certo que prefiro o padrão de diagramação da segunda matéria. Porque
com o pouco tempo de que dispomos para a leitura de revistas semanais conseguimos nos
interar de todo o assunto lendo apenas os enunciados e quadros.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Na primeira reportagem o que mais me agradou foi a própria capa. Já na
segunda foram as tabelas, porque resumem a notícia.
***
7—) Maria dos Santos, 53 anos, ensino fundamental incompleto, ascensorista.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Pelo título da matéria. Porque lendo percebo se a leitura é interessante, se
tem algum proveito ou não.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Sim. Porque os títulos hoje em dia que falam sobre a medicina são
importantes.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — A segunda reportagem, porque esclarece melhor com gravuras, desenhos
e porcentagem explicativa sobre o nível das doenças.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — Consegui ressaltar que a segunda reportagem não fica só nas
informações. Ela nos coloca os pontos positivos ou negativos e nos dá uma solução. Não fica
só na teoria [...].
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — Prefiro o texto que tem como objetivo te esclarecer ou prevenir, ou seja,
o texto que vá direto ao assunto, explicando detalhadamente.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — A maneira poética dos títulos “o sol que ofusca a dor” e também o título
“Saúde sem neurose”, o coração sorrindo, chamando a atenção para prevenir, cuidar sem
deprimir.
***
8—) Clecio Arrojo Martinez, 34 anos, ensino superior completo, biólogo/comerciante.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Pelo título e subtítulo. Se o título ou subtítulo não despertar uma
curiosidade ou interesse sobre a reportagem eu não leio! Por exemplo: “Dor, como a medicina
reforça seus escudos”. Queremos todo tipo de informação para combater a dor que sentimos
por algum motivo. A maioria das pessoas odeia sentir dor! Na minha opinião, é um bom
começo de leitura, desperta curiosidade e interesse do leitor.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Não. Textos muito longos e informações específicas demais tornam-se
cansativas e desinteressantes para nós, leigos. Nomes de médicos, onde estudaram, onde
trabalham, onde lecionam e o que fazem são exemplos que distraem o leitor. Também há
nomes específicos de remédios, em que parte do corpo atuam, que órgão afetam, que enzima
liberam, que proteína prejudicam são exemplos específicos demais que tornam-se sem
utilidade para o leigo. Para um especialista se torna muito informativo, mas acredito que a
maioria dos leitores é leiga, e não médico especialista na função. Há também texto ou frases
em língua estrangeira sem tradução. Nem todos sabemos traduzir uma palavra ou várias
palavras em inglês. Quando isso ocorre, eu, particularmente, perco todo o interesse na
reportagem. Acho até uma falta de respeito com o leitor. Em minha opinião, toda a palavra em
língua estrangeira deveria ser traduzida.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor(a)? Por quê?
Resposta — “Saúde sem neurose”. Uma reportagem com mais ilustrações, esquemas,
tabelas e gráficos que resumem a reportagem e a deixa mais objetiva e explicativa.
Reportagens com textos longos se tornam cansativas e de difícil entendimento. Até porque o
leitor tende a se distrair com mais facilidade. Já as ilustrações se tornam mais lúdicas e
interessantes para o leitor. Na minha opinião, desenhos, esquemas, tabelas e gráficos são mais
fáceis de compreender do que todo aquele texto escrito. Mas os dois são importantes! Como
na reportagem “Saúde sem neurose”.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — As ilustrações e tabelas deixam mais lúdicas e objetivas a reportagem.
São importantes para o entendimento e facilitam a compreensão do texto. Títulos e subtítulos
atraem a atenção do leitor, são importantíssimos para que o leitor leia toda a reportagem. Na
minha opinião é o chamariz da reportagem, como a capa para a compra da revista. Muitas
vezes comprei revistas pelas matérias de capa e quando as abro não são tão interessantes
como pareciam.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — “Saúde sem neurose”. Texto mais resumido e objetivo e mais ilustrações.
Excesso de informação e informações específicas acabam deixando a reportagem cansativa e
chata.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — As ilustrações, desenhos, gráficos, tabelas, esquemas são
importantíssimos para a compreensão do leitor. Quando eu era estudante e [ao mesmo tempo]
professor da rede de ensino, gostava muito de passar para os meus alunos e estudar através de
esquemas e desenhos. O resultado como estudante e como professor era satisfatório. Por isso,
acho tão importante para a reportagem ter muitas ilustrações. Facilita muito o entendimento.
***
9—) Neusa Maria Felício, 63 anos, ensino superior incompleto, auxiliar
administrativa.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Logicamente pelo começo. Apesar de uma das reportagens ser bem
antiga, é um assunto que diz respeito à preocupação maior do ser humano, que é a saúde.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Sim. Porque como eu disse anteriormente é um assunto que prende a
atenção, principalmente quando a pessoa já tem uma idade avançada e está apreensiva com o
problema das doenças.
Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor? Por quê?
Resposta — “Saúde sem neurose”. A outra já é mais antiga e do ponto de vista dos
medicamentos, já está meio superada.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — Acho que o ponto de vista de apresentação, por ter gráficos bem
coloridos, chama mais a atenção.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — Eu prefiro a da neurose. Achei um texto do ponto de vista explicativo,
melhor.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Justamente a dos gráficos, por ser mais moderna, está mais em evidência.
A do sol que ofusca a dor é mais voltada a assuntos científicos anteriores, que, a meu ver,
popularmente não vai trazer tanto interesse.
***
10—) Marckson de Oliveira Lacerda, 25 anos, ensino superior completo, publicitário.
Pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler esta reportagem? Por favor,
justifique.
Resposta — Comecei a ler a reportagem “Saúde sem neurose”. Imagem e título mais
alegres, que me despertaram mais interesse. A imagem de um prego torto ficou muito pesada,
dando a impressão de dor. O coração grande e feliz da outra capa me fez sentir que na
reportagem poderiam estar informações importantes de como melhorar a saúde do meu.
Pergunta — Em relação às reportagens, o/a senhor(a) acha que o texto prendeu
completamente a sua atenção? Sim — Por quê? Não — Por quê?
Resposta — Não. O texto de nenhuma das reportagens prendeu completamente a
minha atenção. Talvez por não sofrer de nenhum mal descrito nas reportagens, eu não tenha
ficado interessado de chegar até o final.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: em qual delas se sentiu mais bem
informado(a) como leitor? Por quê?
Resposta — A reportagem “Dor” tem muitas informações interessantes, mas a “Saúde
sem neurose” me ofereceu um vasto número de dados, que, talvez, como leitor me fez ficar
mais satisfeito e informado. Se eu fizesse parte do grupo de risco, encontraria respostas nas
páginas da segunda reportagem.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: o que consegue ressaltar como
importante em relação à apresentação do material nas páginas?
Resposta — Com certeza, o mais importante foi a utilização de tabelas, que facilitam
a leitura. Cores e formas arredondadas, junto com muita imagem, fazendo com que todo o
material da reportagem “Saúde sem neurose” fique melhor apresentável e entendido.
Pergunta — Comparando as duas reportagens: qual padrão de texto prefere?
Por quê?
Resposta — “Saúde sem neurose”: pouca caixa de texto, deixando a maior e mais
importante área das páginas para as informações prioritárias, apresentadas de maneira
simples, direta e de fácil compreensão, tirando a mesmice de ler um texto corrido.
Pergunta — Visualmente falando, qual das duas reportagens achou mais eficiente
como meio de se informar? Por quê?
Resposta — Na reportagem “Dor” me agrada o fato de conhecer os profissionais pela
foto, trazendo mais veracidade à reportagem, ainda que subconscientemente. Agora, a outra
reportagem tem mais cores, tabelas que facilitam a leitura e a deixam mais gostosa. Possui
ainda muitas imagens, inclusive, positivas, de pessoas fazendo exercícios, me trazendo
autoestima. Se tivesse sofrendo de algum mal em pauta na reportagem, com certeza essas
imagens seriam muito bem-vindas.”
1.6 Comentários sobre a pesquisa
Como não poderia deixar de ser, o grupo interpreta de forma idiossincrática o
conteúdo e a apresentação gráfica das reportagens. No entanto, a maioria preferiu o segundo
modelo, o da reportagem de 2008, que apresenta o texto combinado com recursos gráficos e
visuais, que denominamos aqui de “reportagem gráfica”.
No geral, a objetividade e a leveza visual predominaram na preferência pela
reportagem de 2008. Entre as respostas, o bom texto aliado a uma boa diagramação gerou
mais interesse na leitura da reportagem como um todo.
Ficou claro também que o interesse pelo assunto é um elemento que induziu o grupo a
ler todo o texto, incluindo a parte gráfica. “Clareza; aspecto mais confortável; texto mais
objetivo; linguagem mais fácil; ponto de vista explicativo; informações prioritárias; economia
de tempo ao ler quadros e enunciados” foram algumas expressões utilizadas pelos sujeitos ao
se referirem à reportagem de 2008.
Por outro lado, pode-se concluir pelo resultado da pesquisa que o desinteresse pelo
tema, com os sem recursos e os acessórios gráficos, influenciam para que a leitura seja
deixada de lado ou lida com desinteresse ou desatenção, conforme pode ser verificado na
seguinte resposta: “O texto de nenhuma das reportagens prendeu completamente a minha
atenção. Talvez por não sofrer de nenhum mal descrito, eu não tenha ficado interessado de
chegar até o final.”
Embora o modelo da reportagem de 2008 seja quase que plenamente aceito (“...uma
reportagem com mais ilustrações, esquemas, tabelas e gráficos que resumem a reportagem e a
deixa mais objetiva e explicativa. Reportagens com textos longos se tornam cansativas e de
difícil entendimento. Até porque o leitor tende a se distrair com mais facilidade. Já as
ilustrações se tornam mais lúdicas e interessantes para o leitor. Na minha opinião, desenhos,
esquemas, tabelas e gráficos são mais fáceis de compreender do que todo aquele texto escrito.
Mas os dois são importantes! Como na reportagem ‘Saúde sem neurose’”), a interferência de
quadros, tabelas, ilustrações e infográficos, para outro tipo de leitor, pode prejudicar a
concentração na leitura. Vejamos esta resposta, se referindo à reportagem de 1982: “Prefiro o
padrão de texto da reportagem sobre a dor, pois tem uma sequência mais direta. As imagens
não atrapalham a leitura, fazendo-o perder a linha de raciocínio.”
A ressaltar também que a primeira pergunta — Por onde o/a senhor(a) começou a ler
esta reportagem? —, muito provavelmente por não ter sido elaborada com competência pelos
autores do trabalho, gerou algumas respostas contrárias ao pretendido, conforme segue:
“Logicamente pelo começo...”.
É interessante notar que alguns sujeitos da pesquisa usaram expressões técnicas,
próprias do jornalismo: “Eu comecei a ler as duas reportagens pelo mesmo lugar, que foi o
lide (o primeiro ou os dois primeiros parágrafos)...”; “Se o título ou subtítulo não despertar
uma curiosidade ou interesse sobre a reportagem eu não leio!”.
É certo também que o ineditismo das informações ou o estilo do texto e a capa
influenciam no nível de aceitação da leitura, assim como quando a reportagem traz alguma
solução ou tentativa de solução, características que predominam atualmente nas reportagens
de revista. Isso fica evidente quanto o grupo comenta sobre o que ressalta nas reportagens:
“Os pontos mais importantes que eu consegui ressaltar foram: a descoberta da aspirina,
remédio que combate a febre, a gripe, inflamações, reumatismo, derrame, catarata, enfarte; o
hormônio prostaglandina, que provoca a dor; prevenção de doenças cardiovasculares;
preocupação dos médicos em orientar os pacientes sobre doenças cardiovasculares como a
pressão alta, colesterol e a glicemia.”; “A desenvoltura do texto e o estilo.”; “Consegui
ressaltar que a segunda reportagem não fica só nas informações. Ela nos coloca os pontos
positivos ou negativos e nos dá uma solução. Não fica só na teoria.”; “Muitas vezes comprei
revistas pelas matérias de capa e quando as abro não são tão interessantes como pareciam.”
Para finalizar, é importante notar que pelo menos parte do grupo considera o texto
longo difícil de enfrentar e até mesmo chato: “Textos muito longos e informações específicas
demais tornam-se cansativas e desinteressantes para nós, leigos. Nomes de médicos, onde
estudaram, onde trabalham, onde lecionam e o que fazem são exemplos que distraem o leitor.
Também há nomes específicos de remédios, em que parte do corpo atuam, que órgão afetam,
que enzima liberam, que proteína prejudicam são exemplos específicos demais que tornam-se
sem utilidade para o leigo. Para um especialista se torna muito informativo, mas acredito que
a maioria dos leitores é leiga, e não médico especialista na função.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos resultados da pesquisa desenvolvida neste trabalho foi possível perceber que a
adoção da “reportagem gráfica” pela revista Veja — e também por outros segmentos da mídia
impressa — funciona como método de assimilar as informações contidas na reportagem. O
drama que envolve hoje a leitura no papel é em parte resolvido com o uso dos recursos e dos
acessórios gráficos, que servem de incentivo para o enfrentamento do texto. No entanto, os
especialistas entrevistados deixam claro que este tipo de reportagem vai precisar daqui em
diante de outros recursos, até mesmo tecnológicos, para garantir o futuro da mídia impressa.
Para reforçar o prognóstico, deve-se acrescentar que mesmo a televisão, com a toda a
força e encanto que a imagem proporciona, é obrigada a recorrer ela mesma à “reportagem
gráfica” quando o assunto em pauta requer explicações e esquemas mais complexos para
proporcionar o entendimento perfeito da mensagem. Isso significa um alerta à revista. Mas no
atual contexto, o que fica evidenciado é que este produto, por enquanto, não está ameaçado
pelas exigências da nova geração de leitores. Lê-se revista, como diz Marília Scalzo (2003),
muitas vezes como forma de pertencer a um grupo ou segmento.
O fato, porém, é que a referência das novas gerações é o pertencimento, a
participação; e evidentemente mesmo apostando na “reportagem gráfica” Veja e outras
revistas não poderão desprezar mais o conteúdo correspondente na tela do computador. Para o
jornal, o primeiro desafio de rivalidade tecnológica foi a expansão da TV, embate que este
meio não soube sobrepujar até receber o choque definitivo da era da internet. Por se tratar de
um produto feito sob medida, a revista teve como se adaptar ao desafio tecnológico/digital,
mas é bom que se perceba: até quando a “reportagem gráfica” e o uso de outros efeitos
poderão prolongar a sua sobrevivência no papel?
Este trabalho tenta identificar o que poderá vir daqui em diante. A questão tanto pode
apontar em direção à adoção de recursos cada vez mais interativos, que remetam em parte o
leitor da revista para a tela do computador, ou até mesmo a migração total desta para o
computador, já que o que está em jogo, ao fim e ao cabo, é a resistência diante da leitura no
papel.
Com o trabalho foi possível perceber claramente que o atual contexto
tecnológico/digital praticamente liquida a longa narrativa na mídia impressa. Esta já vinha
sendo abalada desde o advento da televisão, quando a palavra escrita começa a ter o seu poder
confrontado pela imagem em movimento. Os grandes jornais começaram a procurar fórmulas
para tentar equalizar a concorrência. A revitalização do texto, em meados dos anos 1960, com
o jornalismo literário ou o novo jornalismo, representou uma das alternativas que
proporcionaram ao impresso uma espécie de sobrevida. Mas quando a internet entra em cena,
em meados da década de 1990, formou um novo público que traz consigo a cultura da
diversidade digital. É o consumidor a que o empresário Rupert Murdoch, citado por Alterman
(2008), se refere, que exige participar e que tem as suas idiossincrasias quando estão em jogo
a leitura e a velocidade da informação. É o leitor que lida com as possibilidades de ação do
computador. Ou então é o leitor, como diz o diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara,
que subiu socialmente e que tem outra relação com o texto impresso, até mesmo de pouca
convivência.
Satisfazer ao padrão do público pode ser interpretado como um ponto de vista
jornalístico, mas com certeza é um conceito de empresa. Veja adotou a “reportagem gráfica”.
De acordo os resultados da pesquisa aplicada, indica tratar-se de um conceito editorial que
surte efeito. Portanto, não se trata aqui de ser contra ou a favor. É mera constatação; não
obstante, a pesquisa aqui apresentada requer outros meios de identificação de eficiência da
“reportagem gráfica” que, em vista da simplicidade, o estudo não pôde proporcionar.
No tocante à aplicação da pesquisa como ponto de vista para a atuação em sala de aula
deve-se levar em conta que o uso da “reportagem gráfica” — conforme foi constatado ao
longo do trabalho — tem demanda, indica caminhos e precisa ser incorporada ao estudo da
reportagem tradicional. Para finalizar, a “reportagem gráfica” — com todos os seus elementos
e efeitos — encerra conceitos proclamados por Marshall McLuhan ao se referir ao futuro do
livro e, portanto, da narrativa impressa:
O futuro do livro reside em grande parte na ordem do livro como serviço de
informação. Em vez do livro como uma embalagem fixa, de caráter repetível e
uniforme, adequada para o mercado de vendas, o livro assume cada vez mais o
caráter de serviço, de serviço de informação, e o livro como serviço de informação é
feito sob medida e construído para o freguês. (MCLUHAN, 2005, 121).
Neste sentido, a “reportagem gráfica” positivamente pode ser interpretada como um
serviço que visa ao aprimoramento e à assimilação do conteúdo editorial, pois por enquanto se
conecta diretamente com as exigências do leitor atual.
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ANEXOS
Resposta do diretor de Arte da Veja, Carlos Neri
Re: Reportagem gráfica
De:
Carlos Neri
Para:
calafa
Assunto:
Re: Reportagem gráfica
Data:
22/07/2009 18:14
Re: Reportagem gráfica
Caro Márcio,
Desculpe a demora mas vamos ver se posso ajudar:
— como Veja chegou ao formato do desmembramento do texto da reportagem em padrões visuais
(infográficos etc.)?; tem a ver com a resistência que existe hoje em relação à leitura, principalmente
de textos longos demais?
Eu não acredito em resistência à leitura e sim que uma linguagem mais direta e de maior e
mais rápida memorização tem preferência sobre a escrita. O papel da infografia é justamente
abrir portas para o texto da matéria. Quanto menos letras tivermos em uma infografia melhor.
Gráfico que precisa de texto para se explicar não precisa de gráfico. Com todos esses dados
fora, torna o texto principal mais enxuto. Tudo isso é intuitivo, cabe ao designer guiar o leitor
pelas páginas. Não existe nada dizendo que “leia isso primeiro, depois leia isso ou aquilo” e
sim a edição em sua forma mais simples. Regras básicas que às vezes teimamos em não
observar como escolher ‘a imagem’, ‘a palavra’ etc. e não várias imagens ou várias palavras
para destacar. (Quem tem dois destaques, não tem nenhum.) Assim temos fotos, infográficos,
ilustrações, títulos, olhos e legendas que são várias portas para entender uma matéria.
— a respeito deste formato, como mede o nível de leitura e a assimilação do leitor?; o leitor aceita
melhor este formato?;
Sim, basta dizer que em uma pesquisa para uma revista alemã foi desenvolvido um softerware
para a avaliação do nível de leitura e para isso se usava um óculos o qual mapeava a iris o
leitor de acordo com a página, cujo desenho também escaneado, mostrava exatamente onde o
olhar do leitor parava e quanto tempo isso durava. Chegaram a esses números: Imagem de
abertura de matéria 100%; Título 98%; Sub ou Olho 90%, Legenda 87%, Infografia 82% e
texto principal 15%. Lógico que entre um e outro existem outras coisas que não consigo
lembrar, mas esses números para mim dizem muito do inconsciente do leitor.
— quais as perspectivas da reportagem gráfica?; ela pode garantir o leitor do futuro?
O grafismo não veio para substituir o texto e sim complementá-lo, está aí a Internet e suas
páginas usando e abusando desse conceito com vídeos, animações em infografia e etc. As
limitações da língua serão amenizadas por essa forma de escrita. Quanto ao leitor do futuro
sempre estará à nossa espera, pois não vendemos formas e sim conteúdos.
Abrs,
C A R L O S N E R I — DIRETOR DE ARTE — VEJA — 0 5 5 1 1 – 3 0 3 7 – 2 2 7 5
Resposta do diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara
RES: Reportagem Gráfica
De:
Euripedes Alcantara
Para:
calafa
Assunto:
RES: Reportagem Gráfica
Data:
22/07/2009 15:09
Caro,
se precisar mais informações é só avisar.
abrs
E.
— como Veja chegou ao formato do desmembramento do texto da reportagem em padrões visuais
(infográficos etc.)?; tem a ver com a resistência que existe hoje em relação à leitura, principalmente
de textos longos demais?
Como você notou, a apresentação gráfica ganhou vida própria em VEJA a partir dos anos 90.
A nova ênfase no visual veio da necessidade de transformar ”assuntos importantes em
reportagens interessantes." Claramente os novos leitores que faziam de VEJA sua revista --
em especial aqueles emergentes que mudaram de classe social como advento do Plano Real e
a derrota da inflação — dedicavam menos tempo à leitura do que os leitores mais tradicionais
e valorizavam muito o conteúdo gráfico. Como atender a ambos? A resposta a esse desafio foi
sendo dada edição após edição até chegarmos ao conceito atual de fazer das páginas
"máquinas de informar", em que texto e gráfico se combinam para expressar o conteúdo de
maneira clara e agradável. Uma boa matéria de VEJA em que esse conceito é bem utilizado
tem três níveis de leitura, cada um satisfatório para o leitor a sua maneira. Se ele tiver tempo
apenas para os gráficos já sairá da página bem informado sobre o assunto; se ler os títulos,
subtítulos e legendas das fotos também terá um apanhado razoável do conjunto; o nível mais
profundo, o terceiro, é atingido por quem lê o texto até o fim.
— a respeito deste formato, como mede o nível de leitura e a assimilação do leitor?;
Temos pesquisas periódicas sobre que reportagens agradaram mais e, dentro delas, qual foi
elemento gráfico mais visto e valorizado pelos leitores.
o leitor aceita melhor este formato?;
O leitor não valoriza muito a beleza gráfica sem a contrapartida informativa. Ou seja, ele
pouco percebe as tão celebradas reformas gráficas com seu eterno tirar e por de barras. Ele
percebe quando o desenho da página e os elementos gráficos se combinaram bem com o texto
em uma unidade informativa sem dissonância e sem vacilações.
— quais as perspectivas da reportagem gráfica?; ela pode garantir o leitor do futuro?
Simplesmente não se concebe mais que uma publicação eclética, generalista e informativa
como as revistas semanais tente se segurar apenas pelo texto. A reportagem gráfica é o
presente e o futuro do jornalismo em papel.