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RESENHA 1-Alessandra Vitti

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Resenha

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  • IAU 727 ARQUITETURA E URBANISMO CONTEMPORNEOS I

    RESENHA 01.

    STIRLING, James, Ronchamp, a capela de Le Corbusier e a crise do racionalismo. 1956.

    ROGERS, Ernesto N. A arquitetura moderna desde a gerao dos mestres. Porto: CIAM, 1960

    ALESSANDRA VITTI BRUSANTIN

    O perodo ps II Guerra Mundial traz para a arquitetura a crise que perpassa

    outras artes, bem como toda a intelectualidade da poca: um sentimento de decepo

    com as antigas ideologias, princpios e utopias. At mesmo os chamados grandes

    mestres da arquitetura moderna, ainda em atuao, acabam por expressar mudanas

    em sua obra, deixando de lado um pouco da forte expresso racionalista e purista.

    Segundo Stirling, a arquitetura desse perodo tem diferentes expresses na

    Europa e na Amrica. Nesta, a explorao de materiais e o desenvolvimento tecnicista

    ainda constitui o vocabulrio arquitetural. Na Europa, o movimento parece inverso:

    com certa perda de direo da pintura moderna, bem como o menosprezo ideia de

    progresso pessoal, os arquitetos passam a voltar-se mais para a arte popular e

    arquitetura tradicional, regional, para ampliar seu repertrio.

    O texto importante para concebermos como tais mudanas aparecem na

    obra de Le Corbusier, em especfico, a Capela de Ronchamp. O autor compara a capela

    a formaes artificiais de elementos naturais Stonehenge, dlmenes. E no poderiam

    ser essas as primeiras expresses arquitetnicas (ou poticas) na humanidade?

    Passando ponto a ponto pelos aspectos construtivos, implantao e acabamento do

    edifcio, onde cada elemento quase que por acaso desempenha uma funo, porm

    sem expressar a dureza do racionalismo, o texto mostra a capela de Ronchamp como

    uma obra que pura expresso de poesia, uma grande mudana na noo

    racionalista que antes exclua o carter singular da arquitetura em troca de propor um

    espao sem hierarquia.

    Em 1956, Stirling aponta algo que ser intensamente debatido no texto

    posterior de Rogers, de 1960: uma mudana de concepo na arquitetura moderna.

    Comparando com o Maneirismo renascentista, faz a crtica: Certamente, as formas

    que foram desenvolvidas a partir da fundamentao e ideologias iniciais do

    movimento modernista esto a sofrer do efeito Maneirista e a ser alteradas para uma

    imperfeio consciente.

    Rogers faz crtica semelhante no texto do CIAM de 1960, reforando a noo de

    uma arquitetura moderna em crise. Com certo grau de pessimismo e de esperana ao

    mesmo tempo, Rogers clama por uma nova postura na arquitetura: uma continuidade

    luta iniciada pelos grandes arquitetos modernos, pelos quais tem grande admirao:

    Frank Lloyd Wright, Walter Gropius, Mies van der Rohe e Le Corbusier.

  • IAU 727 ARQUITETURA E URBANISMO CONTEMPORNEOS I

    Apesar de primeira vista evidenciarmos suas diferenas, esses quatro nomes

    tem grande coisa em comum: colocam em sua arte todas as suas aspiraes sociais,

    morais e polticas. Para o autor, sua principal contribuio a fuso de problemas

    estticos e ticos em seus trabalhos. (...) nunca distinguem os problemas de firma dos

    de contedo.

    Citando o que os mestres modernos na verdade devem sua luz a outras

    estrelas Van de Velde, Sullivan e Perret - Rogers parece querer instigar que eles

    tambm tiveram suas inspiraes, absorveram-na e se renovaram. E pede o mesmo

    aos novos arquitetos dos anos 1960: tendo os quatro mestres modernos como guia,

    que tracem seu prprio caminho.

    O autor faz a diferenciao desses quatro nomes, cada um com sua

    caracterstica mais evidente, moderna, e em comparao a outros grandes mestres das

    artes, expressando certa nostalgia pelos clssicos, colocando estes mestres modernos

    em um mesmo pedestal. Para ele, Gropius o realismo; a simpatia pelo ensino, pelo

    progresso, como melhoramento da humanidade; Alberti. Van der Rohe o

    pensamento construtivo, a pureza e a elegncia; Brunelleschi. Wright e Corbusier so

    os idealistas, seus projetos e palavras pensam para uma humanidade perfeita. Wright

    a expresso da liberdade individual. Corbusier Michelangello.

    Ainda tendo em vista a obra dos grandes mestres modernos como referncia,

    Rogers parece clamar por uma nova expresso de seu tempo, que fuja da mera

    reproduo de formalismos isso uma ameaa arquitetura moderna e resgate a

    potica, o contedo da arquitetura, como faz Le Corbusier, excepcionalmente, na

    capela de Ronchamp objeto de anlise do texto de Stirling. Segundo o autor,

    arquitetura a representao do tempo no espao. Deste ponto de vista, esclarece-se

    a dificuldade de uma expresso em uma poca de contradies, que o momento ps

    II Guerra Mundial. O autor termina ainda trazendo para sua gerao a

    responsabilidade pela manuteno da arquitetura moderna:

    Teremos administrado bem a herana dos nossos mestres e enriquecido o

    significado da sua mensagem, se tivermos dado nossa cultura arquitetnica

    uma estrutura duma sempre crescente atualidade, se tivermos explorado mais

    cabalmente numa mo o sentido da tradio, e na outra o significado do futuro,

    se tivermos purificado em particular, as perspectivas do presente para maior

    vantagem dos nossos contemporneos.

    O tratamento to valorizado herana moderna um tanto estranho, uma

    vez que o modernismo em seu cerne um movimento de vanguarda, de negao das

    tradies. O autor acaba por cair mais em um sentimento nostlgico, mesmo tendo em

    vista essa perspectiva de futuro. Porm, em uma poca que mal se conhece o

    presente, torna-se difcil falar em futuro.