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 UNIVERSIDADE FEDERAL DE S ANTA CAT ARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS Tópi co Especial - História Econôm ica Ge ral Professor: Gustavo Henrique Soares de Souza Sartin Clarissa Co uti nh o Rosa 1 Re se nha - A Gr and e Tr ansform ação Ol i v ro  A Grande Transformação, de Kar l Pol any i , f oi pu bl icado pel a pri m ei ra v ez no an o de  1944, e não obt ev e m u ito êx ito n esta época. Apen as no fi m do sécu lo XX, começa acrescer  considera v elmente o i n te resse e a at en ção dados ao t ra ba l h o de Pol an y i. O f ato é qu e as anál i ses f ei t as  na obr a of erecem m ai or contri bu ição ao peodo demarcado en t re o f i n al do cu l o pa ssado e os dias  atuais, do qu e aos est u dosde seu próprio t em po. A obra de Ka rl Polan y i an alisa a con j u nt u ra  econ ôm i ca do sécu l o XI X, e of erec ei m port an te an álise critica do pen sam en to li bera l e an ál ise h istóri ca  da re v ol u çã o liberal do sécu l o XIX e suas con se qu encias no sécul o XX. Por em , poderi a t ambem se r   consi der ado u m a cr íti ca ao pen sam en to neoliberal, ainda qu e te n h a sido esc ri to an tes de seuadven to .  Pol an y i es creve de u m a forma que pare ce ri r das con t radições do l i bera l ismo, o qu al t eori cam en te se  su stentava n a ação da “mão inv i sível , m as que n aprát i ca precisav a de politicas altamen t e  intervencionistas para se manter.  Na pri m ei ra parte do l i v ro, Karl Pol any i apresen ta os “Cem An os de Paz” , que acont eceram no  continen t e eu ropeu entre os anos de 1815 e 1914, su stentados por quat ro insti t u ições pi l ar es: o   padrão-ouro i nt ern aci onal, o si stem a de equi bri o de poder, o Estado l i beral , e m ercado au to-regu l ável.  Dep ois, no se g un do ca t u lo, f al a so br e as déca da s de 19 20 e 1930, m ar ca n do o f i m do pe ríod o dos  “Cem Anos de Paz”, e introduzindo a ascenção do liberalismo.  No decorrer da obra, Karl Pol anyi an al i sa a f orm ação da economi a capi tal i sta ea expan são do  sistema de m erca do a to dos os âm bi t os da v ida h u m ana. Ou se j a, an al isa as etapas atraves das quais o  m ercado f oi se para n do-se dasi n st i t u i ções sociais. É u m retra t o da h i st ór ia e da ev olu ção do m er cado  au to -reg u l áv el . Se, anti g amente, o m ercado er a ape nas m ai s u m a das i n stitu i çõe s en g l oba das pel o  1  Graduanda em Relações Internacionais Universidade Federal de Santa Catar ina 1

Resenha - A Grande Transformacao-libre

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O livro A Grande Transformação, de Karl Polanyi, foi publicado pela primeira vez no ano de1944, e não obteve muito êxito nesta época. Apenas no fim do século XX, começa a crescerconsideravelmente o interesse e a atenção dados ao trabalho de Polanyi

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

Tópico Especial - História Econômica Geral

Professor: Gustavo Henrique Soares de Souza Sartin

Clarissa Coutinho Rosa1

Resenha - A Grande Transformação

O livro A Grande Transformação, de Karl Polanyi, foi publicado pela primeira vez no ano de 

1944, e não obteve muito êxito nesta época. Apenas no fim do século XX, começa a crescer  

consideravelmente o interesse e a atenção dados ao trabalho de Polanyi. O fato é que as análises feitas 

na obra oferecem maior contribuição ao período demarcado entre o final do século passado e os dias atuais, do que aos estudos de seu próprio tempo. A obra de Karl Polanyi analisa a conjuntura 

econômica do século XIX, e oferece importante análise critica do pensamento liberal e análise histórica 

da revolução liberal do século XIX e suas consequencias no século XX. Porem, poderia tambem ser  

considerado uma crítica ao pensamento neoliberal, ainda que tenha sido escrito antes de seu advento. 

Polanyi escreve de uma forma que parece rir das contradições do liberalismo, o qual teoricamente se 

sustentava na ação da “mão invisível”, mas que na prática precisava de politicas altamente 

intervencionistas para se manter.

 Na primeira parte do livro, Karl Polanyi apresenta os “CemAnos de Paz”, que aconteceramno 

continente europeu entre os anos de 1815 e 1914, sustentados por quatro instituições pilares: o 

 padrão-ouro internacional, o sistema de equilíbrio de poder, o Estado liberal, e mercado auto-regulável. 

Depois, no segundo capítulo, fala sobre as décadas de 1920 e 1930, marcando o fim do período dos 

“Cem Anos de Paz”, e introduzindo a ascenção do liberalismo.

 No decorrer da obra, Karl Polanyianalisa a formação da economia capitalista e a expansão do 

sistema de mercado a todos os âmbitos da vida humana. Ou seja, analisa as etapas atraves das quais o 

mercado foi separando-se das instituições sociais. É um retrato da história e da evolução do mercado 

“auto-regulável”. Se, antigamente, o mercado era apenas mais uma das instituições englobadas pelo 

1 Graduanda em Relações InternacionaisUniversidade Federal de Santa Catarina

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sistema social, este tornou-se depois preponderante e separado do sistema social, objetivando dominar  

o resto da sociedade atraves da transformação do trabalho, do dinheiro e da terra em mercadoria. O 

 principal ponto do argumento de Polanyi é que a ideia de implementar um sistema de mercado 

auto-regulável representou uma tentativa utópica do liberalismo. Isso porque não seria possivel implementá-lo sem ter por consequencia a destruição da sociedade que lhe deu origem. Por fim, 

Polanyi analisa o declinio do mercado “auto-regulável”, causado pela reação protetora, surgida como 

forma de defesa em relação às consequencias prejudiciais deste mercado (Teoria do Duplo 

Movimento). Foi esta reação que pôs abaixo as quatro instituições pilares que sustentavam o sistema 

de mercado auto-regulável.

Os mercados sempre existiram, segundo a análise de Polanyi, porem, no passado, a economia 

e os mercados estavam inseridos nas relações sociais. Apenas no século XIX, estes passarama regir o sistema social, no qual anteriormente estavam inseridos. Esta transformação ocorreu com o advento do 

mercado auto-regulável, com o qual ocorreu a transformação do trabalho, da terra e do dinheiro em 

mercadorias (conceito de mercadoria fictícia). A partir daí surge um impasse: o progresso deste sistema 

necessita desta transformação de terra, dinheiro e trabalho em mercadoria, enquanto esta 

transformação seria responsavel por destruir a sociedade. Assim emerge o conflito entre as forças que 

tentam manter e expandir o sistema de mercado auto-regulável, e as forças que tentam limitá-lo em 

relação às mercadorias fictícias. Estas forças contrárias à expansão do sistema de mercado 

auto-regulável surgiram na metade do século XIX, na Inglaterra, atraves de legislação social e 

movimentação da classe trabalhista. Com isso, para Polanyi, a civilização do século XIX se desfez.

Polanyi, em sua obra, não critica a existencia de mercados. Pelo contrario, ele acredita que 

estes sejam de grande importancia para as sociedades. O problema para o autor é o sistema de 

mercado auto-regulável, o qual não está inserido em uma base social. Polanyi, baseando-se em 

argumentos históricos, antropológicos e econômicos, diz que o mercado suto-regulável é uma invenção 

relativamente nova, e que anteriormente os mercados desempenhavam uma função social, a qual 

auxiliava a sociedade, ao contrário do mercado auto-regulável, que a levaria em direção à ruína. Por  

fim, Polanyi conclui que a ação e a reação formam o conceito de “duplo movimento”: o mercado 

auto-regulável sustentado por comerciantes e proprietários de um lado, e as forças sociais de outro. 

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Dentro desta “luta”, Polanyi define o primeiro lado como o lado que busca o progresso econômico, e o 

segundo lado como o que luta pela proteção da habitação. Esta reação é o que Karl Polanyi define 

como a “Grande Transformação”.

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