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O referido artigo que trata do tema "Uma Pílula para (não) viver" aborda a crescente necessidade da utilização de psicofármacos pela população contemporânea. Afirma que, desde os tempos mais remotos, algumas pessoas já recorriam às drogas para influenciar seus estados mentais e emocionais e escapar da realidade. Oferecendo distintos significados para as mais diversas situações, em diferentes momentos da história humana, a procura por essas substâncias também parece acompanhar de perto a busca do homem em tornar-se insensível aos infortúnios que a vida oferece. Utilizar-se de recursos capazes de anestesiar os sentidos não constitui uma atitude própria e única do sujeito contemporâneo. O artigo foi estruturado a partir da realização de uma pesquisa bibliográfica em psicanálise tendo como base obras de sociólogos e psicanalistas. Um exemplo muito citado é o de Freud (1930/1987), no qual em seu livro "O mal-estar na civilização", já expunha que o uso de substâncias intoxicantes era um dos recursos utilizados pelo homem contra o sofrimento decorrente da vida. As razões pelas quais as pessoas abusam das drogas são tão variadas como as pessoas o são entre si. Porém, na maioria das vezes as pessoas parecem usar drogas para mudar a forma que se sentem, ou seja, querem sentir-se diferentes. Talvez queiram escapar da dor, da ansiedade ou frustrações. Pode ser que desejem esquecer ou lembrar de algo, serem aceito ou serem sociais. Algumas vezes as pessoas usam drogas para escapar do tédio ou simplesmente para satisfazer sua curiosidade. Existem momentos durante a vida de uma pessoa em que pressões dos companheiros podem ser uma razão muito forte para usar drogas. Freud afirma que, o homem busca ser feliz e assim permanecer. Para tanto, procura obter intensos sentimentos de prazer e visa a uma ausência de sofrimento e de desprazer, propósito que barra nas fontes de sofrimento e de desprazer decorrentes do ato de viver. O médico vienense expôs, também, que a fim de suportar a vida árdua deveríamos tomar "medidas paliativas". Existiriam "três medidas desse tipo: derivativos poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraça [como a ciência, por

Resenha de Psicologia

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O referido artigo que trata do tema "Uma Plula para (no) viver" aborda a crescente necessidade da utilizao de psicofrmacos pela populao contempornea. Afirma que, desde os tempos mais remotos, algumas pessoas j recorriam s drogas para influenciar seus estados mentais e emocionais e escapar da realidade. Oferecendo distintos significados para as mais diversas situaes, em diferentes momentos da histria humana, a procura por essas substncias tambm parece acompanhar de perto a busca do homem em tornar-se insensvel aos infortnios que a vida oferece. Utilizar-se de recursos capazes de anestesiar os sentidos no constitui uma atitude prpria e nica do sujeito contemporneo. O artigo foi estruturado a partir da realizao de uma pesquisa bibliogrfica em psicanlise tendo como base obras de socilogos e psicanalistas. Um exemplo muito citado o de Freud (1930/1987), no qual em seu livro "O mal-estar na civilizao", j expunha que o uso de substncias intoxicantes era um dos recursos utilizados pelo homem contra o sofrimento decorrente da vida. As razes pelas quais as pessoas abusam das drogas so to variadas como as pessoas o so entre si. Porm, na maioria das vezes as pessoas parecem usar drogas para mudar a forma que se sentem, ou seja, querem sentir-se diferentes. Talvez queiram escapar da dor, da ansiedade ou frustraes. Pode ser que desejem esquecer ou lembrar de algo, serem aceito ou serem sociais. Algumas vezes as pessoas usam drogas para escapar do tdio ou simplesmente para satisfazer sua curiosidade. Existem momentos durante a vida de uma pessoa em que presses dos companheiros podem ser uma razo muito forte para usar drogas. Freud afirma que, o homem busca ser feliz e assim permanecer. Para tanto, procura obter intensos sentimentos de prazer e visa a uma ausncia de sofrimento e de desprazer, propsito que barra nas fontes de sofrimento e de desprazer decorrentes do ato de viver. O mdico vienense exps, tambm, que a fim de suportar a vida rdua deveramos tomar "medidas paliativas". Existiriam "trs medidas desse tipo: derivativos poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraa [como a cincia, por exemplo]; satisfaes substitutivas, que a diminuem [como a arte]; e substncias txicas, que nos tornam insensveis a ela". Conforme Roudinesco (2000), vivemos hoje na era da sociedade depressiva. Segundo a psicanalista e historiadora, as sociedades democrticas, em nome da globalizao, tm buscado abolir a ideia de conflito social, querendo banir de seus horizontes a realidade do infortnio, da morte e da violncia, ao mesmo tempo em que procuram integrar, num sistema nico, as diferenas e as resistncias. Em decorrncia disso, pregam o culto paz e evitao do conflito. Diante dessa realidade, aquilo conhecido comumente como neurose, passa a chamar-se depresso. Ocorreu, portanto, uma mudana de paradigmas na atual sociedade. Nesse sentido, os psicofrmacos acabaram por assumir, na sociedade contempornea, um papel de destaque. Atuam aplacando qualquer indcio de conflito, qualquer coisa capaz de evidenciar o que mais prprio do humano. Em um contexto que apregoa a ausncia de litgio, os psicotrpicos apareceram como os curingas do jogo social. Atenuando aquilo que mais poderia caracteriz-lo enquanto ser nico e singular o sujeito de seu inconsciente , o homem ps-moderno v-se em meio a um discurso que procura homogeneiz-lo e tratar de seus sintomas de forma universal, sem que suas possveis significaes sejam buscadas. Filho recorre s ideias de Dubos (1996, citado por Filho, D. 2005) para falar que raramente reconhecemos que cada tipo de sociedade tem enfermidades particulares, que cada civilizao cria suas enfermidades, assim como tambm sacramenta uma prtica teraputica. O fato que ao entender que tudo aquilo que capaz de gerar um mnimo de desconforto e mal-estar pode ser explicado atravs dos nveis de determinados neurotransmissores e passvel de ser medicado, o discurso psicofarmacolgico coloca a questo dos medicamentos em uma posio central e preocupante em nossa sociedade. O problema em que medida o vidro de comprimidos usado como apagador do valor etiopatognico da palavra. Em "O mal-estar na civilizao", Freud (1930/1987) deixa claro que o que caracterizava o mal-estar, ou o desconforto moderno, era o conflito existente entre o sujeito e a civilizao. Esta ltima impunha ao primeiro que renunciasse a sua satisfao pulsional, o que implicava ao sujeito ter sua liberdade restrita pela ordem social. Nas palavras de Freud (ibidem, p. 119), o homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurana. Convm notar que devido a essa caracterstica do sujeito contemporneo como aquele que foge, que evita deparar-se com o seu desejo, e que, para tanto, frequentemente recorre utilizao de medicamentos psicotrpicos o mesmo chamado de antissujeito. Os medicamentos psicofarmacolgicos, produtos dos avanos da cincia, so hoje utilizados por indivduos que no querem ou no conseguem deparar-se com o seu desejo. O que verificamos nas sociedades ocidentais so indivduos que se entregam, em uma frequncia cada vez maior, a uma busca por um anestesiamento anestesiamento de seus desejos, anestesiamento de si como sujeitos. Atravs da vinculao da crena de que podemos curar-nos dos males da alma, por meio de um medicamento, a cincia deixa entrever a forma como passou a atuar nos ltimos sculos. Ao pregar que tudo passvel de ser alcanado e ao apagar a dimenso da enunciao, a cincia, atravs de seu discurso, traz implicitamente a sentena de que tudo possvel. Esse querer anestesiar-se frente s frustraes do dia-a-dia nunca foi to intenso como agora, de forma que revela matizes do mal-estar contemporneo. A psicanlise posta em concorrncia com essas novas formas de tratar o mal-estar, segundo Roudinesco, e convocada a se posicionar diante dos modos de subjetivao contemporneos, no s no que diz respeito elaborao de entendimentos metapsicolgicos das atuais sintomatologias, mas tambm forma de como abord-las na clnica. A principal dificuldade dos pacientes depressivos a dificuldade de enunciao. Imersos em uma gama de enunciados, esses pacientes deparam-se, na anlise, com a impossibilidade de pr em palavras o que lhes acontece. Nesse sentido, o trabalho analtico consiste em dar palavras a esses pacientes a fim de que eles possam associar. Ao dar palavra ao sujeito, a psicanlise possibilita outra forma de tratamento da depresso que no apenas a psicofarmacolgica. Contudo, no possvel, nos dias atuais, sabermos se o estado dos pacientes causa ou efeito da entorpecncia qumica que muitos vivem. E o mais curioso que isto no posto prova: o outro que fala em nome da cincia o mdico, as revistas, as pesquisas etc. sempre sabe mais sobre o sujeito do que ele prprio. A questo aqui colocada perpassa a forma de uso, e est impregnada no fato cultural de que se foi receitado pelo mdico ou foi publicado na revista, no faz mal e, logo, no prejudicial, nem, portanto, droga. Mas lembrem-se de que inmeras das drogas proibidas hoje, j foram receitadas como medicamento h vrios anos atrs e no muito longe disso. Portanto, ao anestesiar-se com um psicotrpico, como efeito co-lateral, anestesia-se tambm a capacidade de um sujeito de sustentar esta posio que, ao contrrio do que se poderia pensar, no dada de antemo.

Acadmico: Ian PatiasIX Semestre de Farmcia