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Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ciências Humanas HZ 103-A – Estágio Supervisionado em Ciências Sociais Prof.ª Dr.ª Ângela Araújo Alunos: Renato César Ferreira Fernandes RA: 035602 Rodrigo Batista RA: Resenha Caderno de Sociologia – Ensino Médio – 1ª Série – Volume 4 As situações de aprendizagem deste Caderno abordam o tema da desigualdade subdividida em três subtemas: a desigualdade de classes (Situação de Aprendizagem 1), a desigualdade racial (Situação de Aprendizagem 2) e a relação entre Gênero e desigualdade (Situação de Aprendizagem 3). De acordo com a justificativa das autoras, essas três situações de desigualdade foram escolhidas por serem as que “atingem mais intensamente a população brasileira” (2014, p. 8). A metodologia pedagógica orientada aos professores quase sempre passa por cinco fases (não necessariamente nessa ordem): a) sensibilização; b) debate; c) análise; d) conceituação; d) avaliação. Na resenha de cada uma das situações de aprendizagem, pretendemos demonstrar como essas fases são orientadas, além de realizar uma crítica de seus limites, sempre que considerarmos necessária. Todas as situações de aprendizagem têm temas, conteúdos, competências e recursos diferenciados para concretizarem seus objetivos. Além disso, as situações são

Resenha do Caderno do Professor do Estado de São Paulo

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Resenha do Caderno do Professor de Sociologia do Estado de São Paulo - 1º Ano - 4º Bimestre. Tema: Desigualdade e diferença

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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Filosofia e Cincias Humanas

HZ 103-A Estgio Supervisionado em Cincias Sociais

Prof. Dr. ngela Arajo

Alunos: Renato Csar Ferreira Fernandes RA: 035602

Rodrigo BatistaRA:

Resenha Caderno de Sociologia Ensino Mdio 1 Srie Volume 4

As situaes de aprendizagem deste Caderno abordam o tema da desigualdade subdividida em trs subtemas: a desigualdade de classes (Situao de Aprendizagem 1), a desigualdade racial (Situao de Aprendizagem 2) e a relao entre Gnero e desigualdade (Situao de Aprendizagem 3). De acordo com a justificativa das autoras, essas trs situaes de desigualdade foram escolhidas por serem as que atingem mais intensamente a populao brasileira (2014, p. 8).

A metodologia pedaggica orientada aos professores quase sempre passa por cinco fases (no necessariamente nessa ordem): a) sensibilizao; b) debate; c) anlise; d) conceituao; d) avaliao. Na resenha de cada uma das situaes de aprendizagem, pretendemos demonstrar como essas fases so orientadas, alm de realizar uma crtica de seus limites, sempre que considerarmos necessria.

Todas as situaes de aprendizagem tm temas, contedos, competncias e recursos diferenciados para concretizarem seus objetivos. Alm disso, as situaes so divididas em etapas (aproximadamente 1 aula para cada etapa), nos quais partes diferenciadas de cada tema tratado.

Uma conceituao importante que atravessa as trs situaes de aprendizagem e que base para a sociologia enquanto cincia, a conceituao de que a desigualdade (de qualquer tipo) uma construo social.

Nossa resenha est constituda de uma anlise crtica das situaes de aprendizagem, apontando os pontos fortes e os limites do trabalho orientado pelo Caderno de Sociologia. No final da resenha, teceremos alguns apontamentos gerais sobre os limites desse Caderno para o tema mais geral da Desigualdade.

Situao de Aprendizagem 1 - A desigualdade de classes

O primeiro momento da situao de aprendizagem o do estranhamento, isto , a tentativa de desnaturalizar os fatos sociais. Essa a fase de sensibilizao do tema. Nesse sentido, o Caderno orienta a resposta de trs perguntas baseada numa contraposio de imagens entre um executivo no carro e um catador de papel (Ibidem, p. 11).

A partir do debate sobre as diferenas entre as duas figuras representadas, o objetivo da aula estabelecer uma conceituao da desigualdade. A orientao inicial justamente a de estabelecer as diferenas nas condies de vida entre as duas figuras representadas.

A partir dessas diferenas e de outros exemplos sugeridos no Caderno, passa-se para uma anlise de um grfico que representa uma classificao de acordo com a renda dos indivduos. A anlise do grfico tem como objetivo demonstrar a desigual distribuio de renda no pas e sugerir um debate sobre os motivos sociais que levam a esse quadro.

A orientao fundamental dessa primeira etapa da discusso sobre desigualdade de classe a demonstrao de que a desigualdade social no uma simples questo de diferena, mas uma desigualdade pautada pela posio social e/ou a renda dos indivduos.

A segunda etapa da situao de aprendizagem busca demonstrar as diversas formas com que podemos diferenciar os membros de uma populao segundo a classe econmica (Ibidem, p. 13). Nesse sentido, o debate orientado a partir de um texto jornalstico sobre a diversidade da nova classe mdia brasileira. O centro da atividade a identificao da desigualdade de classe em relao ao nvel de renda e a condio de emprego com carteira assinada (Ibidem).

A terceira etapa da situao de aprendizagem dedicada a conceituao da desigualdade a partir de dois clssicos da Sociologia: Karl Marx e Max Weber. Ambos os autores so apresentados por meio de terceiros.

No caso de Marx, a conceituao aparece por forma de trs eixos: a) a desigualdade histrica e depende do tipo de produo social de uma dada sociedade; b) a estrutura de classes modernas surge com o capitalismo; c) o elemento definidor da estrutura de classes moderna so as condies comuns, ou seja, uma relao comum com os meios de produo que leva essas pessoas a se encontrarem em idnticas condies de vida, interesses, problemas e costumes (Ibidem, p. 15). Como forma de problematizao dessa definio de classe, o Caderno orienta o debate sobre as classes mdias. Para Marx, as classes mdias ficariam entre as duas classes fundamentais da estrutura social capitalista.

No caso de Weber, o debate orienta para a combinao que o autor fez entre a ordem econmica, a ordem jurdica e a ordem social. Nesse sentido, a explicao weberiana para a estratificao social combina as desigualdades econmicas e polticas com o status.

A avaliao, proposta em cada uma das etapas, basicamente prope a retomada da problematizao passada em sala: a discusso sobre o que desigualdade, a capacidade dos alunos de trabalharem com grficos, a interpretao de texto e o aprendizado de conceitos, principalmente, em Marx e Weber. J a situao de recuperao proposta de um trabalho de pesquisa de dados que evidenciem a desigualdade social no pas.

Situao de Aprendizagem 2 Desigualdade Racial

O segundo tema do Caderno inicia novamente com uma sensibilizao a partir de uma foto. O objetivo diferenciar as cores de diversas crianas, estabelecer vnculos de identidade entre os alunos e alguma(s) da(s) criana(s) e tambm iniciar o debate sobre o conceito de raa para atingir esses trs objetivos, proposta trs questes aos alunos.

A primeira etapa da situao de aprendizagem, aps esse momento de sensibilizao, justamente as diferenas entre raa e etnia. A primeira tese a ser debatida a diferena gentica entre os diversos indivduos. O objetivo desse debate a demonstrao de que essa diferena muito pequena para determinar a existncia de raas geneticamente definidas entre os grupos humanos (Ibidem, p. 19).

Aps esse debate e por meio de um pargrafo de Brym e Lie, orientado a conceituao social de raa e etnia: a raa determinada a partir das marcas fsicas que so socialmente significativas, enquanto a etnia determinada pelas marcas culturais. A partir dessa conceituao, orientado exemplos para diferenciar agrupamentos humanos em torno dessas categorias. Essas marcas podem ser estabelecidas pelos prprios membros do grupo social ou por outros membros.

No caso do estabelecimento pelo prprio grupo, as autoras formulam como uma vantagem para a construo e a afirmao de identidades, que traria benefcios econmicos, polticos e emocionais (Ibidem, 20-21).

J o estabelecimento por outros grupos sociais de que determinados agrupamentos sociais tem as marcas de uma raa ou etnia, entendido como um esteretipo no qual so atribudas caractersticas sociais e comportamentais a todo um agrupamento humano.

Essa diviso entre a auto-identificao e a imputao de uma identidade a determinados agrupamentos nos parece vlida e didtica, mas da forma como est exposta um pouco mecnica. mecnica pois em determinados casos um desses fatores que leva ao outro, isto , a imputao de uma identidade pode levar, em alguns casos, a auto-identificao. O movimento dos direitos civis nos EUA dos anos 60, principalmente as lutas antirracistas, nos parece ter gerado esse tipo de dinmica.

A segunda etapa da situao de aprendizagem sobre o racismo no Brasil. Um primeiro momento o estabelecimento das manifestaes do racismo por meio do preconceito e da discriminao (Ibidem, p. 22).

O segundo momento da aula nos parece o mais complicado. orientado o debate sobre o racismo no Brasil a partir da ideologia da democracia racial, um tema de fundamental importncia. O problema que o contedo nos parece muito extenso para a explicao: diferenciar as relaes raciais no Brasil, nos Estados Unidos e no apartheid sul-africano no uma tarefa simples. Da forma como orientado o debate, exige dos alunos um conhecimento histrico amplo. Por fim, esse debate orientado no sentido de uma identificao histrica entre raa e cor, alm da explicao da construo sciohistrica da posio dos ndios e dos negros na sociedade brasileira.

A terceira etapa da situao de aprendizagem a anlise de dados em tabelas. O objetivo dessa etapa a interpretao desses dados e o reforo de que o racismo brasileiro se expressa em condies de renda, acesso educao, emprego, etc.

Para a avaliao orientado uma pesquisa de casos de racismo publicada na mdia. J como situao de recuperao, orientada a diferenciao conceitual entre raa e cor e a ideia do preconceito de cor no Brasil.

Situao de Aprendizagem 3 Gnero e desigualdade

Tal como as outras situaes de aprendizagem, essa inicia com uma sensibilizao por meio de imagens de uma menina brincando de boneca e de um menino brincando com carrinhos. A partir dessas imagens orientado um debate sobre os tipos de brincadeiras orientadas para os meninos e meninas. Depois do debate sobre as brincadeiras, a sensibilizao se amplia para outras caractersticas sociais dessa diviso de gnero: tipos de empregos, comportamento, etc. O objetivo da sensibilizao novamente o estranhamento: a desnaturalizao do gnero e o debate sobre sua construo social.

A etapa seguinte sobre a diferena entre sexo e gnero. Apesar de demonstrar a existncia de diversos debates sobre o tema, o Caderno trabalha com a definio de que sexo determinado biologicamente, enquanto o gnero determinado por sentimentos, atitudes e comportamentos associados a homens e mulheres.

A partir da diferenciao entre sexo e gnero, o Caderno orienta dois textos para demonstrar a construo social da desigualdade de gnero por meio das atribuies sociais relacionados ao papel da mulher na sociedade. Orienta tambm o debate sobre a discriminao de gnero. Apesar de trabalhar com a ideia da construo social, nos parece, que em alguns momentos, o texto de orientao para os professores desliza sobre conceituaes comportamentalistas, ao afirmar que as mulheres optam por cursos ou empregos mal pagos (Ibidem, p. 32).

O ltimo debate colocado nessa primeira etapa da situao de aprendizagem, sobre como resolver o problema da desigualdade de gnero. Nesse sentido, nos parece importante a recuperao que o mesmo faz sobre o papel da poltica como atividade capaz de combater a desigualdade (Ibidem, p. 33).

A segunda etapa novamente um momento de anlise de tabelas. O centro da relao a interpretao da combinao entre os dados de emprego, a desigualdade de gnero, a desigualdade de gerao, a escolaridade e a desigualdade racial. Nesse sentido, orientado o debate a partir de duas tabelas. Uma das concluses principais que orienta o debate sobre as diferenas entre o desemprego em relao ao gnero e a raa (Ibidem, p. 36).

Como forma de avaliao do tema orientado um texto dissertativo sobre o carter social das relaes de gnero e as desigualdades salarias entre homens e mulheres. Estranhamente, no orientado nenhuma situao de recuperao sobre o tema.

Concluso

Em determinado sentido, a abordagem pedaggica proposta nesse Caderno nos parece satisfatria. Satisfatria pois procura partir do conhecimento da realidade dos alunos, sensibiliz-los por meio de imagens e debates, para depois apresentar conceitos e realizar uma anlise de grficos e tabelas. Nesse sentido, ainda que a orientao metodolgica seja diferente, possvel afirmar que o mtodo proposto se aproxima da aprendizagem significativa proposta por Bridi, Arajo e Motim (2009).

Apesar deste ponto forte, a proposta tem diversos limites. Um deles no abordar a questo LGBTTs. cada vez mais forte a identificao desse tema na realidade dos brasileira e h problemas de desigualdade nas relaes de trabalho, incluso social, etc., em relao aos indivduos LGBTTs. Um dos pontos auges dessa desigualdade est nas diferenas de renda, empregos e acesso educao entre os cisgneros e os transgneros. Sabemos que, mesmo na Universidade, este um tema pouco estudado, mas j h um acmulo importante para que esse tema esteja presente no Ensino Mdio.

Um outro ponto o debate sobre as aes polticas de combate desigualdade. Sabemos que existem muitas polmicas em torno a cotas raciais e a poltica de reparao, mas ruim a ausncia desse debate poltico nas situaes de aprendizagem 1 e 2. Acreditamos que a reflexo sobre as possibilidades de diminuio da desigualdade social e racial s tem a contribuir com a compreenso e a formao dos alunos no Ensino Mdio, da mesma forma como foi proposta na situao de aprendizagem 3.

Por fim, podemos afirmar que apesar de satisfatria, consideramos necessrio corrigir essas deficincias e ampliar a reflexo sobre a questo da desigualdade. Essa ampliao fundamental, em nossa opinio, para o desenvolvimento do pensar sociolgico nos alunos do Ensino Mdio.

Bibliografia

M. I. Fini, H. H. Martins, M. M. Pimenta, S. C. Schrijnemaekers. Caderno do professor: sociologia, ensino mdio - 1- srie, volume 4. So Paulo: SEE, 2013.

M. A. Bridi; S. M. Arajo; B. L. Motin. Ensinar e aprender Sociologia. So Paulo: Contexto, 2009.