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1 Resenha do quarto capítulo do livro de Lev Sémenovitch Vigotski: Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Uma contribuição à Teoria do Desenvolvimento da Psique Infantil, de Alex Nikolaevich Leontiev Fabio Pinto de Arruda Aluno Especial do curso de Pós-Graduação da UNIFESP Guarulhos - SP - Brasil Seminário de estudos avançados: Teoria da atividade e educação - 2014 Orientadora: Dr. Vanessa Dias Moretti O capítulo quatro do livro de Lev S. Vigotski (1896-1934), cujo tema refere- se à Teoria do Desenvolvimento da Psique Infantil, abordada nessa obra pelo colaborador Alexis N. Leontiev (1903-1979), psicólogo russo, aponta para o desenvolvimento do indivíduo e as mudanças que ocorrem dependendo do lugar que se ocupa no contexto das relações humanas. Nas quatro partes que compõem o capítulo, o autor descreve os principais estágios vivenciados pelas crianças no decorrer do seu desenvolvimento psíquico e as transformações de suas atividades vinculadas aos processos das relações do homem com o mundo, incluindo suas passagens pelas fases na infância pré-escolar, ensino fundamental e escola secundária. Coloca em destaque o conceito de atividade principal e as discussões sobre os aspectos que norteiam às mudanças, as transformações dos motivos, a interpretação da criança sobre os fenômenos da realidade, as ações, operações, funções e destaca, ao final, as conclusões das experiências vivenciadas durante a pesquisa. Na primeira parte o autor se refere, inicialmente, a atividade da criança na infância pré-escolar, sendo tipicamente baseada nos jogos, na percepção das ações humanas e na satisfação de suas necessidades vitais pelos adultos. Na sequência, faz-se referência a primeira mudança radical no mundo da criança, ou seja, quando é inserida na escola. Seu mundo assume uma transformação radical ao se relacionar com a vida social externa e existe certa dificuldade de adaptação com as outras pessoas (adultos, crianças e professores), pois estaria acostumada apenas com as experiências e relações vividas com a família.

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Resenha do quarto capítulo do livro de Lev Sémenovitch Vigotski: Linguagem,

desenvolvimento e aprendizagem. Uma contribuição à Teoria do

Desenvolvimento da Psique Infantil, de Alex Nikolaevich Leontiev

Fabio Pinto de Arruda

Aluno Especial do curso de Pós-Graduação da UNIFESP – Guarulhos - SP - Brasil

Seminário de estudos avançados: Teoria da atividade e educação - 2014

Orientadora: Dr. Vanessa Dias Moretti

O capítulo quatro do livro de Lev S. Vigotski (1896-1934), cujo tema refere-

se à Teoria do Desenvolvimento da Psique Infantil, abordada nessa obra pelo

colaborador Alexis N. Leontiev (1903-1979), psicólogo russo, aponta para o

desenvolvimento do indivíduo e as mudanças que ocorrem dependendo do lugar

que se ocupa no contexto das relações humanas. Nas quatro partes que compõem o

capítulo, o autor descreve os principais estágios vivenciados pelas crianças no

decorrer do seu desenvolvimento psíquico e as transformações de suas atividades

vinculadas aos processos das relações do homem com o mundo, incluindo suas

passagens pelas fases na infância pré-escolar, ensino fundamental e escola

secundária. Coloca em destaque o conceito de atividade principal e as discussões

sobre os aspectos que norteiam às mudanças, as transformações dos motivos, a

interpretação da criança sobre os fenômenos da realidade, as ações, operações,

funções e destaca, ao final, as conclusões das experiências vivenciadas durante a

pesquisa.

Na primeira parte o autor se refere, inicialmente, a atividade da criança na

infância pré-escolar, sendo tipicamente baseada nos jogos, na percepção das ações

humanas e na satisfação de suas necessidades vitais pelos adultos. Na sequência,

faz-se referência a primeira mudança radical no mundo da criança, ou seja, quando

é inserida na escola. Seu mundo assume uma transformação radical ao se

relacionar com a vida social externa e existe certa dificuldade de adaptação com as

outras pessoas (adultos, crianças e professores), pois estaria acostumada apenas

com as experiências e relações vividas com a família.

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Enfatiza, posteriormente, que após o período de reestruturação e adaptação

do caráter psíquico, o mesmo se modifica e dar-se-á início ao desenvolvimento com

sua presença na escola. Nesse sentido, descreve que a criança assimila os deveres

para com os país e professores, porém, agora a sociedade é incluída nesse

contexto. A criança agora internaliza as exigências como obrigações diferentes da

sua ocupação anterior, entretanto, se inicia uma nova forma de contato com as

pessoas, recebendo ordens e colocando em conflito as ações relacionadas ao

comportamento perante os adultos. Na análise dessa mudança, Leontiev descreve

um novo estágio de desenvolvimento na escola secundária, onde o adolescente se

envolve com outras formas de vida social e começa a se comparar com os adultos.

Essa mudança do local ocupado no sistema das relações sociais é caracterizada

pela atividade crítica decorrente das exigências, do comportamento e da qualidade

proveniente das pessoas. Inicia-se, então, uma análise do autor sobre a atividade e

como é constituída, pois a dependência do desenvolvimento psíquico abrange a

relação do indivíduo com a atividade principal.

Segundo Leontiev (2001, p.64) “[...] cada estágio do desenvolvimento

psíquico caracteriza-se por uma relação explícita entre a criança e a realidade

principal naquele estágio e por um tipo preciso e dominante de atividade”. O autor

especifica ainda que a atividade principal na criança se caracteriza por três tributos,

tendo como exemplo central o brinquedo relacionado com os processos de

desenvolvimento. Justifica, também, que a idade da criança não é a condição

determinante para o desenvolvimento de suas mudanças e sim, o conteúdo em

relação às condições histórico-sociais. Vale ressaltar que tal conclusão de Vigotski e

de seu colaborador Leontiev, torna-se conflitante com a teoria do psicólogo suíço

Jean Piaget (1896-1980), que acreditava no desenvolvimento do indivíduo do meio

interno para o externo. Finaliza a abordagem desta parte teórica explicando

resumidamente as fases, os processos, às crises enfrentadas pela criança

associadas à mudança de estágio e seus inevitáveis conflitos com o ambiente a que

se situa.

Na segunda parte da pesquisa, o autor analisa o processo a fim de

caracterizar a atividade, pois nem todos os processos são chamados de atividade a

não serem aqueles que relacionam o homem com o mundo e satisfazem uma

necessidade especial. Nesse sentido, seleciona os processos que devem se dirigir

a um objeto, ou seja, haverá sempre um “[...] objetivo que estimula o sujeito a

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executar esta atividade, isto é, o motivo” (LEONTIEV, 2001, p. 68). Na atividade, os

estímulos e as emoções ocorrem quando a relação vital está envolvida com a ação,

no entanto, podem ocorrer de diversas maneiras dependendo da motivação que o

indivíduo relaciona com a situação na qual faz parte. A ação só surgirá para o sujeito

quando aquilo para qual se dirige não é o motivo que leva o indivíduo a agir. Expõe

também o autor sobre a gênese dos novos motivos classificados em compreensíveis

e eficazes, detalhadamente exemplificado com a situação de um aluno que está

desmotivado para realizar seus deveres escolares e acaba executando a atividade

devido “[...] o resultado da ação ser mais significativo, em certas ocasiões, que o

motivo que realmente a induziu” (LEONTIEV, 2001, p. 70).

Leontiev também explica como ocorre a transformação do motivo em relação

ao significado da ação interpretado pela criança que aprimora uma nova objetivação

de suas necessidades. Nessa esteira, acredita-se que se a atividade se caracterizar

pela independência da criança e suas reais potencialidades têm-se início ao papel

da atividade principal.

A terceira parte proposta pelo autor sintetiza os processos de mudança em

relação ao caráter psicológico das ações, isto é, o surgimento de uma ação ocorre

quando a criança percebe que seu objetivo tem relação com o motivo no contexto

que está inserido. Revela também que o discurso da criança na sala de aula se

modifica quando comparado aos fenômenos da realidade em relação à fase da

infância pré-escolar, quando o objeto era o brinquedo. Na análise da questão do

conhecimento, existe uma diferença de assimilação da criança para com o objeto

que é uma situação psicológica de estrutura diferente. Leontiev ainda analisa a

criança de sete anos que tem seu primeiro contato com a escola, onde se percebe

uma diferença ao comparar o processo de criação e a fala com seus traços típicos

psicológicos, principalmente, com relação à atitude e a habilidade.

O conceito de mudança pertinente as operações considerado por Leontiev

(2001, p.74) requer a compreensão de que “[...] uma operação depende das

condições em que o alvo da ação é dado [...]”, pois cabe a criança encontrar os

meios para executar a ação e as operações necessárias para atingir seu objetivo. A

partir dessa conclusão tem-se verificado que o hábito automático se estabelece

quando se compreende a forma da execução de uma tarefa. O autor, ainda por meio

de questionamentos, explica que a ação pode ser convertida em uma operação,

habilidade e hábito, comprovando suas conclusões através da explicação das

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etapas da atividade de um atirador e uma análise dos processos. Posteriormente,

Leontiev relata que a ação também pode ser utilizada para operações e hábitos

mentais, exemplificando alguns pontos relacionados a ciência matemática. Visando

ainda apontar como se desenvolve as funções psicofisiológicas em conexão com os

processos da realidade, o autor explica as sensações relacionadas à visão e

audição, visto que as mudanças ocorrem apenas quando as funções tem lugar

preciso na atividade. Salienta ainda que para se melhorar o desempenho da

atividade é necessário o melhor desenvolvimento das funções.

A quarta parte apresenta as conclusões do autor sobre as mudanças

observadas nos processos da vida psíquica da criança. Leontiev ressalta a

conversão da lembrança e da recordação das crianças durante a observação dos

experimentos e fraciona sua explicação tomando como base as mudanças que

foram vivenciadas no estágio pré-escolar da infância das crianças. O autor analisa,

através de um jogo, as diferentes percepções e ações das crianças de menor e

maior idade. Fundamenta que as crianças possuem assimilações diferentes em

relação à mesma atividade e que o processo não se inicia imediatamente, mas se

completa com a transição para a educação escolar. Em continuidade, o autor

destaca a efetiva concentração da criança quando sua atenção se volta para as

exigências escolares inquestionáveis, o que ocorre diferentemente quando necessita

lembrar-se de algo que precisa fazer. Para finalizar, enfatiza o aspecto processual

como fator principal de análise do desenvolvimento psíquico da criança e conclui

dando ênfase as interconexões internas para mudança na estrutura de sua

consciência.

Nessa obra, fazem-se diversos comentários sobre as relações sociais como

condição real para a criança determinar seu conteúdo e motivação, bem como, as

mudanças no desenvolvimento da atividade principal, seus estágios e os alvos em

sua consciência para formação de operações e funções no desenvolvimento de suas

novas ações.

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REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023:2002. Informação e Documentação – Referências – Elaboração. Rio de Janeiro, 2002, p.24.

_____________. NBR 10520:2002. Informação e documentação – Citações em documentos – Apresentação. Rio de Janeiro, 2002, p.7.

_____________. NBR 14724:2011. Informação e documentação – Trabalhos

acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, 2011, p.11.

LEONTIEV, Alexis N. Uma contribuição à teoria de desenvolvimento da psique

infantil. In: VIGOTSKI, Lev Semenovich et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001, Cap. 4, p. 59-83.