Resenha - O Valor de Marx

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    O valor de Marx: economia poltica para o capitalismo contemporneoALFREDO ANTNIO SAAD FILHOCampinas: Editora Unicamp, 2011, 213p.

    Victor Hugo Klagsbrunn*

    O valor de Marx no se refere primordialmente importncia do pensamento de Marx. No livro, o autor se prope a apresentar uma interpretao da teoria do valor em Marx, fundamento da anlise marxiana do modo de produo capitalista. Alfredo Saad Filho introduz inovaes importantes no que ele interpreta como a anlise de Marx sobre o capitalismo e a prpria teoria do valor, que so descritas mais abaixo. Ressalte-se, contudo, que nem a introduo nem a concluso do livro permitem uma viso clara do que o livro contm. Elas avanam em terrenos no desenvolvidos no decorrer do texto e ampliam o alcance de seu desenvolvimento, no dando, contudo, uma ideia precisa dos pontos em que o texto avana com relao j vastssima bibliografia sobre o tema.

    O captulo I dedicado dialtica materialista, o mtodo de Marx em O capital, que teria sido deixado reticente e enigmtico, porque, com raras excees, seu trabalho no essencialmente metodolgico (ou mesmo filosfico). Ao contrrio, a obra de Marx principalmente uma crtica do capitalismo e de seus apologistas. Enumera no fim do captulo os princpios da dialtica materialista, ressaltando que as teorias dialticas materialistas so totalidades integradas. E

    * Professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF). Endereo eletrnico: [email protected].

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    segue: essa abordagem dificulta a introduo de novos conceitos [...] Os novos conceitos devem ser desenvolvidos a partir de categorias previamente existentes e sua introduo frequentemente anula ou, no mnimo, requer o refinamento das categorias anteriores (p.27-8).

    No captulo seguinte, com o ttulo Interpretaes da teoria marxista do valor, o autor apresenta uma reviso crtica de duas interpretaes da teoria marxista do valor, que seriam as mais difundidas: as abordagens do trabalho incorporado, incluindo o marxismo tradicional e a anlise srafiana (ou neorricarrdiana), e as teorias da forma do valor....

    No captulo III, Valor e Capital, Saad Filho delineia a anlise do valor desenvolvida neste livro (p.15). O autor afirma que a existncia da diviso social do trabalho assim como a do valor incontestvel. Esta afirmao no to bvia para o valor (que no passa de uma possvel explicao para os preos).

    Com Marx, o autor sublinha, com todo acerto, que o capital em sua forma geral no uma coisa ou um conjunto de coisas, mas uma relao entre duas classes no processo de valorizao do capital (p.68). No entanto, capital em geral s existe na concorrncia.

    O captulo IV dedicado questo dos salrios e da explorao. Ao lado do aspecto fsico da explorao, no nvel dito macromonetrio, o autor sublinha que a existncia dos lucros um sintoma da explorao, mas a relao lucros--salrios uma medida imprecisa da explorao (p.80). A anlise do valor permite desenvolver o processo em grande parte encoberto da explorao no capitalismo, mesmo considerando-se que haja troca de equivalentes e as mercadorias so vendidas por seus valores: tambm a fora de trabalho mesmo sendo vendida por seu valor produz um excedente que completa o valor da mercadoria produzida. O valor da fora de trabalho, como afirmava Marx nas Teorias da mais-valia, tem que ser calculado no conforme a quantidade de meios de subsistncia recebida pelo trabalhador, mas conforme a quantidade de trabalho que esses meios de subsistncia custam (p.89).

    a partir do captulo V que Saad Filho introduz algumas inovaes prprias e de terceiros na teoria do valor. O autor indica que a equalizao do trabalho e a determinao dos valores e preos resultam de um processo real em trs est-gios: normalizao, sincronizao e homogeneizao dos trabalhos individuais. Esses novos conceitos, que Marx no considerou necessrio incluir, merecem uma referncia mais detalhada.

    A normalizao parte da constatao de que a produo capitalista organiza-da, integrada e mecanizada em unidades de produo com um grande nmero de trabalhadores com funes integradas, estabelecendo o trabalho mdio na produ-o. Durante a produo, tanto o trabalho quanto os insumos so transformados no produto. Portanto, a normalizao envolve no apenas trabalhos executados no ltimo estgio da produo.

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    A venda simultnea, e ao mesmo preo, de mercadorias produzidas em circunstncias diferentes mostra que os trabalhos concretos individuais so sin-cronizados com aqueles que produziram o mesmo tipo de mercadoria em outros momentos, ou com tecnologias diferentes. A normalizao explica por que o tempo de trabalho necessrio para produzir um dado tipo de mercadoria social-mente determinado, e inclui o tempo necessrio para produzir os insumos (v. seo 5.1). A sincronizao implica que esse trabalho indistinguvel do trabalho vivo e, portanto, equivale a ele (p.105).

    Neste ponto, Saad Filho introduz na determinao inicial do valor sua de-terminao pelo tempo de trabalho socialmente necessrio para reproduzir uma mercadoria (TTSNR): o valor expressa as condies de reproduo social, in-cluindo a capacidade de recomear a produo no prximo perodo; essa a base da sincronizao (p.107). S conta o TTSNR ex post expressado no valor e no preo no momento da venda.

    A homogeneizao do trabalho traduz as diferentes produtividades de valor de trabalhos mdios (normalizados e sincronizados) em cada setor em distintas quantidades de trabalho abstrato (TTSNR). Os trabalhos so homogeneizados conforme as mercadorias recebem preos, ou quando a moeda cumpre a funo de medida de valor (p.110). O valor da moeda o piv da homogeneizao dos trabalhos executados nos demais setores, e ele o parmetro da formao de preos (p.110).

    No mesmo captulo, o autor desenvolve a categoria da composio do capi-tal, apresentando os conceitos de composio tcnica (CTC), em valor (CVC) e orgnica (COC) do capital. Para Saad Filho, Marx introduz o conceito de CVC s aps as outras duas composies. A COC mede a CTC pelos valores iniciais (mais elevados) dos componentes do capital, antes de as novas tecnologias afe-tarem o valor do produto. Em contraste, a CVC mede a CTC pelos valores finais (menores e sincronizados) (p.129).

    O captulo VII do livro dedicado transformao dos valores em preos de produo, na qual a composio dos capitais em concorrncia tem uma importncia central na formao da taxa geral de lucro. Enfatiza que na passagem de valores a preos de produo trata-se de um problema qualitativo e no se refere ao clculo dos preos em si. Nem isto seria possvel, pois os preos de produo constituem uma forma mais complexa de expresso do trabalho social que o valor, porque o preo de produo reflete a distribuio do trabalho e da mais-valia atravs da economia (p.112).

    Saad Filho apresenta a forma como a moeda [mais correto seria o dinheiro, VHK] influi na determinao dos valores e dos preos e introduz o conceito novo de equivalente monetrio do trabalho EMT, que seria o valor criado em uma hora de trabalho abstrato, de tal modo que o preo de uma mercadoria produzida em cinco horas seria 5 vezes o EMT (p.152-3).

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    Discorre em seguida sobre as vrias funes da moeda e as implicaes teri-cas e concretas decorrentes de cada tipo de moeda. O papel-moeda inconversvel emitido pelo Banco Central e a moeda-crdito produzida pelos bancos comerciais so as que existem nos sistemas monetrios contemporneos.

    No que tange determinao dos valores e preos de produo, aps a trans-formao a medida de valor no mais a moeda-mercadoria, mas sim a taxa geral de lucros, que o novo piv do sistema de preos relativos [...] Os preos de produo so determinados simultaneamente, a partir da taxa de valorizao dos capitais adiantados (p.159).

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