Resenha Teoria do Estado e Ciência Política

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  • 8/12/2019 Resenha Teoria do Estado e Cincia Poltica

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    Resenha

    Faculdade de Direito- UFPR

    Teoria do Estado e Cincia Poltica

    Prof. Dr. Fabrcio Ricardo de Limas Tomio

    Aluno: Lus Gustavo Anabuki

    Turma: Primeiro N2

    Bibliografia:

    1. BOBBIO, Norberto. Dicionrio de poltica. P. 164-69 [verbete cincia poltica].

    2. BOBBIO, Norberto. Estado, Governo e sociedade. P. 53-133.

    3. ELSTER, Jon. Peas e Engrenagens das Cincias Sociais (Prefcio e captulo I, II, III, IV).

    4. ELSTER, Jon. Peas e Engrenagens das Cincias Sociais (captulos X, XII, XIII, XV).

    5. ELSTER, Jon. Ulisses liberto. P. 11-65 e 105-117.

    Norberto Bobbio, em sua obra Dicionrio de Poltica, faz uma anlise do conceito de Cincia Poltica eapresenta suas principais caractersticas. Inicialmente, segundo o autor, pode-se conceber o termoCincia Poltica em dois sentidos: amplo e estrito. Sendo assim, em sentido amplo, ela serve para indicaro estudo dos fenmenos e das estruturas polticas conduzindo rigorosa e sistematicamente e apoiadonum amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais. Enquanto que em seusentido estrito e tcnico, corresponde cincia emprica da poltica, tratada com base na metodologia dascincias empricas mais desenvolvidas. Neste sentido, a cincia poltica se distingue ainda mais do ramoa qual convm chamar de filosofia poltica.

    Ao tratar do surgimento da Cincia Poltica contempornea, Bobbio enfatizou que fora articulado atravsdo distanciamento dos estudos polticos da tica tradicional do institucionalismo jurdico e se aproximoudos estudos comportamentalistas das outras cincias sociais. Alm disso, o autor salienta as diversastcnicas de pesquisa utilizadas por essa nova concepo do termo: A coleta de dados da documentaohistrica, a pesquisa de campo e a observao direta, por exemplo.

    Tais tcnicas forneceram ao pesquisador um aumento quantitativo dos dados disponveis, que, segundoKarl Deutsch, so nove espcies: as elites, opinies de massa, comportamento de voto, dadosestatsticos, histricos e fornecidos por outras cincias sociais, ou ainda, dados secundrios. Estes foramde fundamental importncia, pois deram base para proceder as anlises com maior rigor na execuo dasoperaes e na obteno dos resultados que so prprios das cincias empricas, como a classificao, aformulao de generalizaes e a formao de conceitos gerais. Atravs dessas operaes a cinciapoltica persegue suas finalidades, que so prescrever e explicar os fenmenos objetos de seu interesse,no se limitando apenas a descrev-los.

    Norberto Bobbio apresenta, ento, dificuldades prprias desta cincia poltica. Uma vez que umadisciplina cujo objeto de estudo se desenvolve no tempo, torna impossvel uma experimentao pratica deteorias e hipteses. Ainda, tal qual outras cincias humansticas, possui dificuldades que derivam decaractersticas e modos de agir do homem. O homem um animal teleolgico, simblico e ideolgico, ouseja, age na expectativa de um dado fim, constri smbolos para apreender o mundo e atribuir sentidos ehierarquiza esses sentidos e significados das coisas. Alm disso, existe o problema na avaliao, queseria eliminar a intruso de juzos de valor, o que corrobora para o questionamento da objetividade nascincias sociais.

    Compreender o objeto da Cincia Poltica, que so as relaes de poder entre os indivduos, implica emconhecer a noo de historicidade implcita, a noo de mudana, de modificao do objeto ao longo dotempo e de sua conscincia disso, em entender a simbologia e a hierarquia que a ela se atribui para quese possa entender como so feitas escolhas, por exemplo. Sinteticamente, a ideologia que transcorreupor todo o estudo das obras no primeiro bimestre foi: Como os indivduos agem segundo suasexpectativas e segundo suas crenas para atingir seus objetivos.

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    Posteriormente so expostos os conceitos que no devem ser confundidos com a verdadeira explicativacausal. Entre eles est o de correlao, onde um evento usualmente atribudo a outro por apresentar-seconstante, deixando de lado o mecanismo causal.

    Outro conceito que no faz parte de uma explicativa causal o que o autor chama de afirmao sobrenecessitao, onde incorporado na explicao o argumento de que o evento principal iria ocorrer sobreoutras circunstncias se no tivesse ocorrido do jeito que ocorreu. Porm, como a explicativa causal temo papel de relatar o fato objetivamente, menes a essas hipteses so descartadas.

    Ainda, o autor descarta as hipteses de como algo poderia ter acontecido. Tal maneira de relatar caracterizada como contar histrias e, segundo Elster, o argumento continua o mesmo do conceitoanterior: a explicativa causal objetiva e trata do assunto somente contando o que realmente aconteceu.

    inferido, em seguida, que o relato de predio sobre determinado assunto tambm no se devecaracterizar como explicativa causal. Isso pois, de maneira geral, a predio no trata de dar explicativas,ou seja, lhe falta o mecanismo causal evidente. Desse modo, a predio no se adequa com a premissada verdadeira explicativa dos eventos.

    Em seguida, o articulista explica as aes sociais atravs da escolha racional de cada indivduo. Sendoque as oportunidades e os desejos determinaro esse mecanismo de escolha. Explicitar as cinciassociais tambm evidenciar a ao humana individual. Esse conceito a base do individualismometodolgico.

    Ento, para explicar como qualquer ao abstrata pode chegar escolha racional, o terico estabeleceque tal ao, independente de qual seja, passa por dois filtros. O primeiro concernente s coeresfsicas, econmicas, jurdicas e psicolgicas. As aes que passarem por esse filtro formaro o conjuntode oportunidades. Em seguida, o segundo filtro, o qual fazem parte a escolha racional e as normassociais, determinar qual ao das que fazem parte do conjunto de oportunidades ser executada.

    Elster reitera: O que explica a ao so os desejos da pessoa juntamente com suas crenas a respeitodas oportunidades (pg. 37).

    Para se atingir um objetivo, segundo o autor, deve-se escolher o meio de ao que levar ao melhorresultado possvel. Porm, nessa afirmao encontram-se algumas complexidades, as quais oargumentador tratar em sua abordagem expositiva.

    Diante de um objetivo, a escolha racional atua como um mecanismo instrumental, pois ela lidar emdirecionar ao melhor resultado possvel afirmando a melhor ao dentre as do conjunto de oportunidades.E as aes, por conseguinte, so tratadas apenas como meio para um objetivo, nunca como fim em simesmas.

    Entretanto, em algumas situaes onde no se tem um objetivo comum entre dois meios, o critrio queprevalece o da preferncia. O articulista exemplifica: s vezes a distino entre meio e fim parece semsentido.; Quando decido que gostaria mais de passar algum tempo com um amigo do que ficar at maistarde no escritrio, no necessrio ter qualquer objetivo comum para o qual as duas aes sejam meiosalternativos. (pg. 39).

    A escolha racional, ento, pode ser colocada como um modo de adaptao s circunstncias. Contudo,no infalvel. Isso pois a escolha depende essencialmente das crenas de uma pessoa. E as crenas,

    por sua vez, dependem dos indcios sobre algo. Assim, quanto melhores quantitativamente, mais variadose confiveis forem os indcios, maior ser a possibilidade de uma melhor escolha.

    Um fator mencionado na obra que pode obscurecer os indcios para uma melhor crena a variabilidadeda constncia dos meios. Desse modo, determinados meios de ao so dependentes da probabilidadee, assim sendo, atrapalham na hora da escolha.

    Elster afirma que a teoria da escolha racional manda empreender a ao que levar ao melhor fim.Partindo disso, o autor conclui que tal teoria no se enquadra em uma unidade de conscincia coletiva,pois cada indivduo buscar racionalmente o melhor para si mesmo, em detrimento dos outros.

    A indeterminao, caracterizada como falha da racionalidade, surge de dois difer entes problemas. Oprimeiro o que se estabelece quando as aes so igualmente plausveis para se realizar um objetivo.O outro deriva da falta de indcios para firmar um crena sobre algo, assim, a pessoa no saber ordenar

    e comparar as opes. Tal problema descrito como incomensurabilidade.

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    No primeiro caso, um exemplo que justifica o da dvida entre dois produtos embalado nosupermercado. No se pode ver seu contedo. Assim, no h a preferncia por um ou outro, podendoescolher um bom ou um estragado.

    J no segundo caso, o qual o prprio autor afirma que ocorre na maioria das decises cotidianas, no setem base o suficiente para decidir de forma racional. Desse modo, o critrio que prevalece o de escolhero que parece suficientemente bom, tendo assim a chance de se escolher o melhor ou o pior meio deao.

    A escolha se torna irracional quando a crena indeterminada. E a crena indeterminada quandofaltam evidncias e indcios.

    Para Jon Elster, tudo fortuito da ao. Explicar instituies sociais mostrar como elas surgemdecorrentes da ao e interao dos indivduos.

    Seguindo essa linha de contingncia da ao, outro ponto importante levantado pelo autor a questodas consequncias no-intencionais. Segundo ele, se em uma interao com vrios indivduos cada umagir de forma racional, todos podem acabar se prejudicando. Dessa discrepncia, pode-se constatar queo comportamento esperado nunca ocorre. Relativizando novamente com socilogos como Durkheim, que

    j haviam verificado e salienta que oFato Social sempre mais complexo na realidade do que na teoria.Isso, Jean-Paul Sartre chamou de Contrafinalidade . Apesar dessas consequncias no-intencionaisindesejveis, em contraposio, o contrrio tambm pode ocorrer. Isso o que defende Adam Smith,segundo o mecanismo da mo invisvel . Por vezes, uma pessoa quando se comporta de modo abeneficiar-se, pode tambm melhorar a situao de outra pessoa. Esses pequenos efeitos colaterais sochamados externalidades. Desse modo, estrutura-se a coeso social.

    Sendo assim, o que conclui Elster que para priorizar tal coeso deve-se reiterar o papel das instituiessociais. Segundo o autor, tais instituies impem restries aos indivduos para que esses ajampriorizando o bem-estar geral, tendo em mente o ponto de vista social. Essas restries so elaboradaspara que as paixes e o auto-interesse no interfiram no processor da ao, pois geralmente estesconduzem o sujeito ao melhor resultado para si mesmo em detrimento dos outros. Define-se, portanto, asinstituies como um mecanismo de imposio de regras e sanes.

    Alm disso, as instituies podem ser de dois tipos: pblicas e privadas. A principal sano na instituioprivada a expulso do grupo. J na pblica so as multas e prises.

    As normas sociais, ento, apresentam-se no estudo de Jon Elster. De acordo com seu raciocnio, a aoorientada por normas sociais no orientada por objetivos. Mas para que essas normas existam, elasdevem ser compartilhadas por outras pessoas e em parte sustentadas por sua aprovao edesaprova o (pg. 137). Tal partilha social de ideologias nominada, por Durkheim, comorepresentao coletiva .

    As tipificaes de normas sociais so variadas. Umas so como convenes, outras funcionam comocdigos de honra, enquanto um importante conjunto conduz as pessoas para cooperarem em situaesdo tipo Dilema do Prisioneiro. O autor no tem dvida que essas normas so no geral benficas, emboraalgumas pessoas usem algumas delas para racionalizar o auto-interesse. por isso que algunsestudiosos argumentam que para isso que servem: manipulao com trajes mais adequados. Outrosacreditam que as normas sociais precedam o egosmo, pois quando apelam a elas, acreditam-nas. Trata-se de uma maneira de evitar a desaprovao de outras pessoas. importante ressaltar tambm que asnormas no necessitam de sanes externas para serem efetivas. Seguindo tal concepo, vale citar aordinria interpretao que explicita uma objetividade na distino entre direito e moral. Enquanto noDireito a sano externa e institucionalizada, nas normas sociais a sano interna.

    Diante disso, ratifica-se a eficcia das instituies e das normas sociais em conduzirem os indivduos saes que levem ao melhor resultado global tendo em vista no somente o benefcio prprio, comotambm os interesses alheios.

    Visando caracterizar, ento, os motivos da restrio de oportunidades e como ela procedida, Elsterabordar em sua obra Ulisses Liberto a Teoria da Restrio, em que o conceito prevalecente de quemenos escolhas podem maximizar benefcios. de bom proveito declarar que tais motivos para alimitao envolvem uma racionalidade ao longo do tempo.

    Para o articulista existem dois motivos gerais para a restrio: Limitar opes especficas ou limitar aquantidade de opes. No captulo 1 ele discutir apenas a restrio s opes especficas. Dentro desta,

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    separa-se novamente em duas partes, que so as ditas restries incidentais e essenciais. Tal que,caracteriza-se uma restrio como essencial se essa for sofrida pelo agente porm sem visar benefcios.Enquanto as incidentais so aquelas impostas aos agente que traro, de fato, benefcios esperados

    priori .

    Nos fundamento desses preceitos de restries essenciais encontra-se o dispositivo do pr-compromisso, que servir para impedir a interferncia dos motivos principais restrio: as paixes(como j citado na obra anterior do autor), a inconsistncia temporal e a mudana de preferncias.

    Segundo Elster, esses 3 motivos funcionam obscurecendo as escolhas do agente quando se busca umobjetivo a longo prazo, muitas vezes o destituindo de racionalidade quando se trata de escolher a aoque levar ao melhor resultado para seu objetivo.

    Partindo disso, o argumentador explica como as paixes podem deturpar o comportamento dos planos:distorcendo a cognio do agente, isto , induzindo falsas crenas sobre possveis consequncias,obscurecendo a cognio do agente, atravs da abolio da conscincia das consequncias possveis,induzindo no agente a fraqueza de vontade, fazendo com que sejam escolhidas as opes com pioresconsequncias previstas e, tambm, induzindo no agente uma miopia, alterando os pesos das suasdecises ligadas s consequncias destas.

    J a inconsistncia temporal ocorre quando uma poltica planejada para o futuro acaba no sendo amelhor opo quando este futuro chega. Pode-se acrescentar que a inverso de preferncias envolvidana inconsistncia temporal no causada por uma mudana subjetiva no agente, mas sim pelo efeito dapassagem do tempo. Para impedir essa consequncia da passagem temporal nas preferncias h ochamado desconto, onde um bem atual menos til do que um bem posterior, porm, mais prticoaceitar o primeiro em detrimento do segundo por no sofrer pela espera. Escolhe-se, portanto, a opoque trar mais benefcios, visto que a espera pelo bem futuro poderia mais prejudicar do que auxiliar oindivduo.

    Considerando a peculiaridade de cada motivo restrio, Elster se encarrega de estipular os artifciosque o pr-compromisso se valeria para impedir a interferncia tanto das paixes, como tambm dosoutros.

    Entre esses artifcios esto: A eliminao de opes, imposio de custos, definio de recompensa,criao de atrasos, mudana de preferncias, investimento no poder de barganha, induo ignorncia einduo paixo.

    Entretanto, h de se fazer a ressalva de que o pr-compromisso no sempre a melhor opo, poispode vir a tornar-se ineficaz ou ainda indesejvel. Sendo assim, para se pr-comprometer deve-seconsiderar se os benefcios sero maiores que os custos que esse ato pode acarretar.

    Em suma, conclui-se que, diante dos pensamentos tanto de Norberto Bobbio quanto de Jon Elster, atica das Cincias Sociais e do estudo das instituies recai sobre os conceitos do IndividualismoMetodolgico. Partindo da premissa relatada por Bobbio de que o objeto de estudo das Cincias Sociaisso as relaes de poder, deve-se ter uma objetividade em vencer as dificuldade que lhes socaractersticas: o carter teleolgico, simblico e ideolgico dos seres humanos.

    Sabendo que tais relaes envolvem o conceito de sujeitos de direito, infere-se a participao tanto depersonalidades como de instituies. Desse modo, sabendo que instituies nada mais so que a ao einterao de indivduos, os problemas intrnsecos natureza humana permanecem. Elster, porconseguinte, em relao superao desses problemas destacados por Bobbio, discorre sobre a aohumana individual e na interao dos indivduos. Explicaes intencionais das aes dos indivduos, queenvolvem os desejos e as crenas nas oportunidades e se valem do mecanismo de escolha racional, ecausais da interao entre dois ou mais indivduos, que tem na sua subjetividade as normas sociais e naobjetividade as restries impostas pelas instituies.

    Elster, sintetizando seu pensamento, finaliza dissertando sobre os motivos e procedimentos dasrestries que so impostas aos indivduos, seja pelas instituies ou por eles prprios, a fim de diminuirsuas oportunidades, porm, com o intuito de aumentar os benefcios globais.