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RESENHA - UMA LEITURA DO PENTATEUCO 1. FONTE Briend, J. Uma Leitura do Pentateuco, Cadernos Bíblicos, nº 03. 3º Edição. São Paulo: Paulos, 1985. 2. AUTOR Reconhecido estudioso bíblico, o professor Jacques Briend foi reitor de 1979-1988 na Faculdade de Teologia e Estudos Religiosos no Instituto Católico de Paris, foi Presidente do Conselho de Administração do jornal Le Monde de la Bible , membro da Pontifícia Comissão Bíblica 1991-2001, foi reitor do Instituto de Ratisbona, em Jerusalém 1999-2002, e atualmente é cientista-chefe BOSEB (Scientific Library Ecumênico de Estudos Bíblicos). 3. SÍNTESE DA OBRA 3.1. ISRAEL E SUA FÉ EM UMA OBRA O autor apresenta o Pentateuco (Torá) como narração da história de Israel no seu início. Ele informa que defenderá a hipótese documentária na tentativa de explicar como se deu a formação do Pentateuco. A hipótese documentária afirma que não foi Moisés quem escreveu a Torá, ela sería dividida em documentos javista, Eloísta, Deuteronômico e Sacerdotal e foram redigidos por um redator desconhecido que empregou várias fontes ao escrevê-lo. 1) O "Javista" (J), que prefere o nome Jeová. Teria sido redigido possivelmente no reinado de Salomão e considerado o mais antigo. 2) O "Eloísta" (E) que designa a Deus com o nome comum de Eloim. Teria sido escrito depois do primeiro documento, por volta do século VIII a. C. 3) O Código Deuteronômico (D) compreenderia todo o livro de Deuteronômio. Teria sido escrito no reinado de Josias pelos sacerdotes que usaram esta fraude para promover um despertamento religioso (II Reis 22:8).

Resenha Uma Leitura Do Pentateuco

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RESENHA - UMA LEITURA DO PENTATEUCO

1.      FONTE

Briend, J. Uma Leitura do Pentateuco, Cadernos Bíblicos, nº 03. 3º Edição. São Paulo: Paulos, 1985.

2.      AUTOR                  Reconhecido estudioso bíblico, o professor Jacques Briend foi reitor de 1979-1988 na Faculdade de Teologia e Estudos Religiosos no Instituto Católico de Paris, foi Presidente do Conselho de Administração do jornal Le Monde de la Bible , membro da Pontifícia Comissão Bíblica 1991-2001, foi reitor do Instituto de Ratisbona, em Jerusalém 1999-2002, e atualmente é cientista-chefe BOSEB (Scientific Library Ecumênico de Estudos Bíblicos).

3.      SÍNTESE DA OBRA

3.1.  ISRAEL E SUA FÉ EM UMA OBRAO autor apresenta o Pentateuco (Torá) como narração da história de Israel no seu início. Ele informa que defenderá a hipótese documentária na tentativa de explicar como se deu a formação do Pentateuco.A hipótese documentária afirma que não foi Moisés quem escreveu a Torá, ela sería dividida em documentos javista, Eloísta, Deuteronômico e Sacerdotal e foram redigidos por um redator desconhecido que empregou várias fontes ao escrevê-lo.

1) O "Javista" (J), que prefere o nome Jeová. Teria sido redigido possivelmente no reinado de Salomão e considerado o mais antigo.2) O "Eloísta" (E) que designa a Deus com o nome comum de Eloim. Teria sido escrito depois do primeiro documento, por volta do século VIII a. C.3) O Código Deuteronômico (D) compreenderia todo o livro de Deuteronômio. Teria sido escrito no reinado de Josias pelos sacerdotes que usaram esta fraude para promover um despertamento religioso (II Reis 22:8).4)  O Código Sacerdotal (P) é o que coloca especial interesse na organização do tabernáculo, do culto e dos sacrifícios. Poderia ter adquirido corpo durante o cativeiro babilônico, e forneceu o plano geral do Pentateuco.

3.2.  O DOCUMENTO JAVISTA

O autor acredita que foi na segunda metade do reinado de Salomão, que o documento javista teria sido redigido, e sería derivado de tradições e escritos antigos que foram compilados na época de Davi.

O documento Javista apresenta ao povo de Israel, uma monarquia davidica, na qual Jeová cumprirá nela as promessas feitas a Abraão em Gn. 12. 1-3, sendo estas as coisas mais importantes para a compreensão do Javista.

Quanto aos limites do documento, os textos que o compõem devem ser encontrados entre Gn 2. 4b e Nm 25.

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Quanto à situação histórica, o autor faz paralelos entre a história antiga de Israel e sua situação no período davidico. Diz que a intenção do escritor javista era incutir no povo um sentimento de esperança, pois o império apresentava sinais de fraqueza, e principalmente alertar seus contemporâneos sobre a responsabilidade do soberano davidico e do seu povo no tocante aos outros povos.

O programa político e teológico do Javista está firmado principalmente em Gn 12.1-3, onde Jeová dá uma ordem a Abraão que é ao mesmo tempo uma promessa. Abre-se então uma nova etapa na história da salvação, na qual a palavra de Jeová se coloca em contraste com a situação do homem Abraão. No texto-chave citado acima, o javista mostra a obediência de Abraão, a promessa da benção, a salvação, a proteção divina e principalmente o plano divino, no qual, Abraão, que em Gênesis representa apenas um povo, será em Davi e Salomão uma grande nação, ou seja, um território politicamente organizado.

No ciclo das origens, o javista já mostra a necessidade da humanidade de adquirir a benção. Nele no javista mostra que o episódio de Babel foi uma tentativa de formar  uma grande nação, sem depender de Jeová, porém, essa nação sería iniciada em Abraão e concretizada no reinado davidico.

No ciclo patriarcal, o javista mostra Abraão como um grande amigo de Deus. Por ele Ló foi abençoado e o faraó foi amaldiçoado, confirmando o que está escrito em Gn 12.1-3.

O javista mostra ao povo do século X, que a benção atinge os povos vizinhos através da intercessão de Abraão junto a Jeová, por uma vontade de paz conforme o modelo de Isaac e por um auxílio econômico conforme o modelo de Jacó. Semelhante situação acontece com José, quando todo Egito recebe a benção. Em Moisés, o Javista mostra o mesmo Egito sendo amaldiçoado por tentar impedir os planos de Jeová.Relativo ao acontecimento no deserto, o javista quer mostra ao império davidico, que a benção está no culto ao Deus de Israel.No acontecimento como povo moabita, o javista quer mostra que a benção de Israel não pode ser revogada e faz uma referencia á apostasia do Isarael, mostrando que ela pode deixar de receber uma benção se não andar conforme os conselhos de Jeová.No final da exposição javista, o autor faz uma breve comparação entre a história de Israel e os crentes da atualidade, mostrando que estamos entre a promessa e seu cumprimento, e que devemos como Israel servir de benção para as outras pessoas.

3.3.  O DOCUMENTO ELOÍSTA

Segundo o autor, o documento eloísta tem sido posto dúvida pelos exegetas nos últimos 50 anos, pois há dificuldade em distingui-lo dentro das escrituras.

Após a morte de Salomão o reino se divide entre norte e sul. O reino do norte continua sendo governado dinasticamente, porém, passa por períodos de instabilidade, devido a mudanças freqüentes no trono.Israel fica em situação superior a Judá, no campo religioso, militar e territorial, porém, fica mais vulnerável a influência pagã dos cananeus e dos vizinhos fenícios, arameus e assírios. A influencia pagã causa a apostasia, quando o povo se divide entre Eloim e

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baal. As mudanças só passam a acontecer através da luta dos profetas Elias e Eliseu, que incitaram no povo um sentimento tribal e a fidelidade a Eloim através da tradição mosaica, recebendo autoridade religiosa maior que os reis. O autor acredita que talvez nessa época tenha sido redigido o documento Eloísta, seus limites encontram-se provavelmente entre Gn 15 e Nm 32.

Em sua perspectiva teológica o eloísta quer mostrar a ação universal de Deus. Nos episódios entre Eliseu na figura do profeta israelita e Naamã na figura do estrangeiro, o eloísta quer mostra a Israel a superioridade do profeta, a sensibilidade do não israelita a insensibilidade do israelita(Geazí). Na passagem de Abraão e Abmeleque, o eloísta apresenta um problema moral, o pecado. Nas duas passagens o eloísta mostra que mesmo sem ser israelita, naamã e Abmeleque temiam a Eloim, enquanto Abraão teve que assumir seu erro e Geazí foi castigado por sua cobiça.

O eloísta se caracteriza principalmente pela expressão “temor de Deus”, muito bem explicita na vida de Abraão.No ciclo de Jacó e José o tema continua, sendo que em José o eloísta acrescenta o tema da salvação, aproximando o documento eloísta para uma leitura cristã da redenção.Em Moisés continua o tema do temor de Deus, representado pelas parteiras que pouparam os meninos, pela filha do faraó que adota Moisés e pelos egípcios que teriam oferecido roupas e jóias ao povo de Israel quando saíram do Egito. O tema continua no deserto, no Horebe. Mas com a subida de Moisés ao monte, o povo cai na apostasia, sendo necessária a intercessão de Moisés diante de Deus.

3.3.1 OS CONJUNTOS LEGISLATIVOS

DECÁLOGO

O autor fala da inclusão do decálogo e do código da aliança no êxodo, que provavelmente tenha acontecido na fusão do javista com o eloísta.

O autor defende a inclusão do decálogo devido a uma ruptura entre Ex 19.25 e Ex 20.1. Devido ao seu estilo o autor acredita que o texto tenha sido redigido no século X, mas não duvida que tenha sido escrito por Moisés. O decálogo interpela o homem a respeito de suas atitudes para com Deus e o próximo.

O CÓDIGO DA ALIANÇA

Quanto ao código, a informação que o autor detém é que ele foi conservado e usado no reino do norte, e que seu núcleo se liga ao período dos juízes. O autor acredita na possibilidade do código ter sido incorporado ao documento eloísta.

3.4 DEUTERONÔMIO

O autor mostra o ambiente social, político e religioso de Israel no reinado de Josias, o povo estava contaminado pelo pecado. O Rei resolve restaurar a religião, e é nessa tentativa que depara com o Livro da Lei, que segundo o autor sería um primeiro estado do deuteronômio. A teoria deuteronomista acredita que o Livro da Lei sofreu acréscimos no reinado de Josias e posteriormente sofreu sua última alteração após a junção J-E-P, na formação do Pentateuco.

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No ponto de vista jurídico, o deuteronômio em seu conjunto, é uma reflexão sobre a infidelidade de Israel, adultério espiritual que gerou a destruição do reino do norte. O código deuteronômico só atinge uma reflexão significativa após o exílio, com Neemias, pois o código apresenta um ideal de comunidade fraterna, o que Israel estava necessitando. Neemias utiliza-se do código para equilibrar a sociedade em seus principais aspectos.Os grandes eixos da reflexão teológica do deuteronômio estão sobre a força dos seus discursos e as leis que ele contém. O deuteronômio tenta manter Israel no essencial: Deus, terra, pão, lei e templo. Ele mostra Israel como povo escolhido por Deus,  um povo com uma missão.

3.5 TRADIÇÃO SACERDOTAL

É uma corrente que se filia ao profeta Ezequiel. Durante e após o exílio, os sacerdotes produziram os documentos que deram início a tradição sacerdotal. Os indícios indicam que se tratava da codificação de costumes e de praticas ligadas ao santuário de Jerusalém, refere-se à santidade de Deus (moral) e sua transcendência, pretende levar o povo a buscar a santidade.Segundo o autor o documento teria servido para reforçar a fé do povo e a esperança que Deus os livraria do cativeiro como no Egito e cumpriria as promessas feitas aos patriarcas.

3.5.1 CARACTERISTICAS DA HISTÓRIA SACERDOTAL

Representado pela letra “P”, o documento utiliza um calendário diferente do monárquico, seu estilo é seco, desprovido do pitoresco  mesmo nas narrações, apresenta uma teologia consciente de si. Dá importância as genealogias com intuito de ligar a história do povo à criação.Nas narrações são inseridas várias leis que estão repartidas dentro do quadro histórico do povo: fecundidade, sábado, respeito ao sangue, circuncisão, páscoa e outros. Grande parte dessas leis e prescrições estão relacionadas ao culto e a instituição do sacerdócio do povo.O documento sacerdotal é ritmado por alianças. Com Noé Deus estabelece uma aliança de salvação com toda a humanidade, onde enfatiza o respeito à vida e ao sangue.Com Abraão, mostra que dentro da aliança com Noé, existe uma aliança particular com os descendentes de Abraão, se observarem o sábado e a circuncisão.Israel havia pecado, e por isso estava no exílio(Babilônia). O sacerdote deveria lembrar o povo do seu pecado e guiá-lo ao arrependimento.

3.5.2 A MENSAGEM DA HISTÓRIA SACERDOTAL

A história sacerdotal traz para um povo exilado, sem terra e sem pátria, com sua fé abalada e sua religião desorganizada, uma mensagem de esperança baseada na narração do dilúvio, uma esperança de retorno a sua pátria, sua terra. Em Abraão a multiplicação, em Jacó a pureza do povo e em José o inicio da realização de uma promessa(terra).

3.6 AS LEIS COMPLEMENTARES

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Pra finalizar o autor afirma que durante a saída do exílio, Israel teria recebido de Esdras, a composição final da Torá, onde o mesmo teria acrescentado as leis dos sacrifícios, a lei da pureza e as prescrições sobre festas.

4.      APRECIAÇÃO CRÍTICA

Deus preparou Moisés para escrever o Pentateuco.  Preparou o palácio do faraó, para que fosse instruído em toda a ciência dos egípcios; e fosse poderoso em suas palavras e obras cf. (Atos 7:22). Foi testemunha ocular dos acontecimentos do êxodo e da peregrinação no deserto durante os longos anos da peregrinação de Israel, onde liderou o povo, também foi legislador e profeta. Escreveu o Pentateuco através de revelações especiais recebidas de Deus.

É fato que não existe o texto original escrito por Moisés mais existem os testemunhos do povo judeu, guardião da lei, que acreditam  na autoria de Moisés, assim como a própria Bíblia atribui a ele.

Livros do Antigo Testamento que citam o Pentateuco como obra de Moisés. (Josué 1:7-8; 23:6; I Reis 2:3; II Reis 14:6; Esdras 3:2; 6:18; Neemias 8:1; Daniel 9:11-13.) Certas partes muito importantes do Pentateuco são atribuídas a ele (Êxodo 17:14; Deuteronômio 31:24-26). O escritores do Novo Testamento estão de pleno acordo com os do Antigo. Falam dos cinco livros em geral como "a lei de Moisés" (Atos 13:39; 15:5; Hebreus 10:28). Para eles, "ler Moisés" eqüivale a ler o Pentateuco (ver II Coríntios 3:15: "E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles").

As palavras de Jesus dão testemunho de que Moisés é o autor: "Porque, se vós crêsseis em Moisés,Creríeis em mim; porque de mim escreveu ele" (João 5:46; ver também Mateus 8:4; 19:8; Marcos 7:10; Lucas 16:31; 24:27, 44).

 Os arqueólogos descobriram muitas evidências que confirmam a veracidade de grande parte do livro de gênesis, enquanto que a teoria documentária não encontra apoio arqueológico que lhe dê amparo. Esses documentos existem somente nas páginas dos livros que defendem tal teoria.

O livro apresenta uma teoria sem evidencias externas de que o Pentateuco tenha sido formado por quatro documentos escritos em épocas diferentes e ofensivas à religião divinamente revelada.

O livro pode ser indicado para Teólogos e afins.